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Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

ECONOMIA II
Cap. XI - Objetivos que não o lucro .............................................................................................. 3
Modelo Principal-Agente ......................................................................................................... 4
Mecanismos de Alinhamento de Interesses ............................................................................ 4
Cap. XII - Repartição do Rendimento e o mercado de fatores......................................................... 7
Capital ........................................................................................................................................ 7
Mercado da procura e oferta de Capitais ............................................................................... 8
Karl Marx................................................................................................................................ 8
Terra (fatores naturais) .............................................................................................................. 9
Trabalho ..................................................................................................................................... 9
Diferenças Salariais (informação imperfeita e discriminação salarial) ....................................... 10
1. Diferenças Compensatórias ............................................................................................. 10
2. Capital Humano ............................................................................................................... 11
3. Sinalização pelo trabalhador ............................................................................................ 11
4. Vencimento Transferência e Renda Económica .............................................................. 12
5. Discriminação no Mercado .............................................................................................. 12
Cap. XIII - Desigualdade e Pobreza................................................................................................ 13
Causas da Pobreza: .................................................................................................................. 13
Critérios para medir as Desigualdades: ................................................................................... 14
Critérios de Justiça ................................................................................................................... 15
Cap. XIV – Redistribuição e Tributação ......................................................................................... 16
Eficiência do Sistema Fiscal (art. 103º CRP) .............................................................................. 17
Cap. XV – Problema Ambiental ..................................................................................................... 19
Teorema de Coase ................................................................................................................... 19
Intervenção Estatal............................................................................................................... 20
Bens Públicos, Semipúblicos e Privados.................................................................................... 21
Cap. XVI – Intervenção do Estado e escolha pública ..................................................................... 23
Rent-Seeking ............................................................................................................................ 23
Teoria da Escolha Pública ......................................................................................................... 24
Teoria do Votante Mediano = princípio da diferenciação mínima....................................... 25
Mercado Político .................................................................................................................. 25
Cap. XVII – Temas básicos da Macroeconomia ............................................................................. 26
Curto Prazo e Longo Prazo ....................................................................................................... 27
Flutuações................................................................................................................................ 27
Procura Agregada e Oferta Agregada ....................................................................................... 27
Procura Agregada ................................................................................................................ 29
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Oferta Agregada .................................................................................................................. 30


Modelo da procura e oferta agregadas ............................................................................... 31

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Cap. XI - Objetivos que não o lucro


A oferta orienta-se para a maximização do lucro = Racionalidade subjacente à oferta
Não acontece assim isto devido: estruturação da empresa e distinção dos donos e da
própria empresa.

SCHUMPETER (final séc. XIX, inicio séc. XX)


Capitalismo Industrial: propriedade = gestão
 O proprietário da empresa era aquele que tomava as decisões sobre ela – existiam
grandes capitães da indústria. Ex: a Ford era o senhor Henry Ford

Por análise empírica verificou que isto evoluiu:

Burocratização da Empresa: já não se confunde propriedade com gestão – há uma evolução na


estrutura da empresa
 A gestão é feita por um profissional da gestão – hoje é CEO de uma empresa e amanhã
pode ser doutra
 Tese de Berle e Means na transferência do controlo das empresas – devido à tendência
para a sofisticação (mais visível nas de média ou grande dimensão)
o É algo que economicamente faz sentido

Porque foi burocratizada?


1. Necessidade de ganhar dimensão – colhendo capital dos pequenos acionistas havendo
uma disseminação da propriedade do capital (deixa de estar numa só pessoa)
2. Complexidade da atividade da gestão – há uma autonomia das escolas de gestão, que
se torna uma atividade especializada

Gera o problema da não sintonia de interesses entre Proprietário (que quer maximizar o lucro)
e Gestor (que pode querer seguir interesses individuais, que não são objetivamente finalidades
da empresa – ele fixa a própria remuneração e etc.) – Coesão formal não impede as tensões
internas e problemas relativos ao controlo das empresas.
 Gestor ao seguir interesses do Proprietário gera externalidades1 positivas2 pelas quais
não é recompensado devidamente.
 Gestor ao seguir interesses do Gestor gera externalidades negativas3, tem benefícios
próprios e externaliza os prejuízos para os outros. Ex: crise 2008 em que os Gestores
ganhavam prémios de curto prazo pelas hipotecas, faziam-nas a todos o que se tornou
prejudicial.

1
Externalidades – fatores exógenos ao mercado (positivos ou negativos) originado pela conduta de um
agente económico que se projeta na esfera económica de outrem, sem que esse agente tenha de pagar
pelo benefício ou indemnizar pelo prejuízo
2
Positivas: A ação de uma das partes beneficia as outras
3
Negativas: Alguém tira benefícios e externaliza custos

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Modelo Principal-Agente
Teoria da Agência
 Uma pessoa pretende certo objetivo e confia a outrem a persecução desse objetivo –
juridicamente equipara-se ao mandante/mandatário, comitente/comissário,
cliente/advogado.
Fundamento:
o Custos de Oportunidade4
o Especialização do Trabalho5 - Necessidade de especialização requerida pela
otimização da divisão do trabalho. Obrigados a confiar.

 Gera Assimetria Informativa6: o Agente é que tem a informação pois sabe quais os
melhores meios (tem o conhecimento técnico para alcançar o resultado pretendido).
Principal não domina o que se está a passar em concreto – aquele que comete a outrem
a defesa e promoção dos seus interesses e fica desprovido de meios para avaliar
eficientemente o desempenho daquele a quem a missão foi cometida.
o Quando o gestor é contratado ele tem uma preparação académica maior que o
proprietário
o Apenas o Gestor sabe o que se está a passar na empresa e o que pode ocultar
o Com base na assimetria informativa – risco moral7 – é que há uma separação
de interesses.
 Gestor sabe que o Proprietário não tem capacidade técnica para avaliar
o que ele faz – o Agente joga na assimetria informativa para retirar
benefícios

O Gestor tem margem para atuar de forma a prosseguir os seus interesses. O problema da
agência, como sistema de comando para fiscalizar o comissários, é conseguir blindar os
contratos para que o agente se cinja aos interesses do principal.

Mecanismos de Alinhamento de Interesses


Irresolução do problema de risco moral pode levar à dissolução da forma empresarial. Todas as soluções
são ineficazes.
Formas de mitigar o problema: soluções jurídicas para alinhar os interesses (Direito + Economia).
Alinhamento da empresa, diminuindo discrepâncias, através de soluções normativas dirigidas
para uma maior eficiência.

1. Endividamento da Empresa – com maior dívida, há uma melhor gestão pois há um


maior sentido de responsabilidade
 Contras: risco, redução de custos, downsizing
2. Venda da empresa ao Gestor – remuneração do Gestor depende única e
exclusivamente dos resultados (tal como os do Proprietário, cria a sensação ao Gestor

4
Valor do benefício que deixou de ser obtido – benefício que corresponde à 2ª melhor alternativa.
5
Foca-se na produção de um só bem e tem custos de oportunidade e de interdependência
6
Falha de Mercado em que uma das partes de uma transação tem mais informação que a outra e usa-a
em seu benefício.
7
“Ex Post”: é com a relação contratual já existente. Atuação negligente de um agente, por este saber que
o seu comportamento será dificilmente detetado – contraparte não detetará eficientemente essa
conduta.

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de que ele também é proprietário) – que seriam consequência direta da qualidade da


gestão.
Contrato com remuneração à peça: carta em branco onde se contrata o Gestor para
fazer certas atividades – diminui a assimetria informativa e limita o escopo da sua ação
 Contras: aversão ao risco do gestor; custos de transação (tinha que se fazer
constantemente negociações para adaptar remuneração); Gestor pode falsear
as contas para apresentar melhores resultados; quem aceitaria seriam os menos
qualificados (seleção adversa).
 Fora o caso em que o Proprietário quer que as contas sejam falseadas para
parecerem melhor no mercado e não ficarem mal vistos – prejudicando os
objetivos da empresa
3. Sistema de Incentivos – venda parcial/simulação de mercado – combinação da
remuneração fixa e uma variável conforme os resultados (ultrapassa aversão ao risco
do Gestor). Parte variável pode assimir diferentes formas e é vulgar também a
remuneração em ações8.
 Contras: num curto prazo pode ter efeito perverso. Ex: hipotecas 2008
4. Sistema de Controlo e Comando – implementação de um sistema de fiscalização,
supervisão e auditoria por uma terceira entidade que afere da conduta e das contas.
Interno: instala-se na estrutura da empresa um contratado pelo proprietário
para auditar. A relação direta e a proximidade pode levar a uma promiscuidade.
Externo: empresa externa fiscaliza. Condicionadas pela imagem no mercado
 Contras: captura do supervisor por parte do Gestor. Ex: Lehman Brothers

Conluio de Administradores e Gestores


Controlo Formal – controlo acionista – acionistas têm (são titulares) um número suficiente de
ações para a assegurar a vitória em Assembleia Geral, onde se decide o controlo da gestão e as
linhas de ação. Na maioria das vezes o controlo não é maioritário (cerca de 20%) mas já tem
força pois os restantes não se entenderam.
Controlo Informal – feita por redes de influência. Ex: máfias, relações familiares, compadrios
políticos e etc. Exercem controlo com lógica autónoma de mercado e servem interesses pessoais
e de favoritismo: gestão à medida desses amigos e contra os outros. Ex: distribuição de
dividendos oculta; veiculação de informação privilegiada

Resposta: Estado pode regular; Limitação do controlo da empresa pelo mercado:


Aquisições de domínio (takeover) – compra de uma empresa por outra empresa
sequestrada a determinada gestão
 Amigáveis – por razões económicas subjacentes que têm em vista um projeto de
fusão de empresa
 Hostis – o que está ameaçado não aceita negociar e não está disposto a ceder a
gestão
o Desistência de medidas de gestão de médio e longo prazo: como há ameaça
pendente, as de longo prazo podem não se concretizar – investem nos
retornos máximos a curto prazo

8
Podia-se remunerar o Gestor sobre a forma de stock options. Ao torna-lo acionista ele tem interesse em
que as coisas corram bem, mas pode fazer valorizar e desvalorizar as ações conforme lhe apraz (quase
inside trading)

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o Pílula Envenenada: empresa ameaçada afirma que há investimentos em


execução fidelizados aos gestores existentes e sem os quais não se realizam;
fazem perder valor de mercado; desmantelam parcialmente o seu
património
o Alteração Estatutária: staggerd board – para que os acionistas e equipa de
gestão não possam sair de uma só vez mas sim de forma fracionada (conta-
gotas)
o Paraquedas Dourado: gestores ao saírem da empresa antes do fim do
contrato têm indemnizações milionárias
o Contra-assalto/ Contra-aquisição de domínio
o Management buy-out: antecipam-se na compra maciça de ações- não há nº
de ações suficientes ara a aquisição de domínio pois os ameaçados
compram-nas.

Aquisições de domínio são a resposta mais eficiente (mercado pressiona os outros para tirar
deles o máximo partido) mas em certos caso pode correr mal:
a) Canibalização dos ativos da empresa adquirida pela adquirente de forma a solver as
dívidas – extrai-se o que há de bom da empresa para depois a extinguir do mercado
b) Anúncio de takeover com finalidades especulativas – alguém tem algo a ganhar com
isso: Green Mail – extorsão – adquirente compra grande nº de ações e apresenta a
hipótese de as venderem a preço exorbitante ou então a adquirir efetivamente o
domínio
c) Substituição de um controlo informal por outro controlo informal mas de maior
dimensão
d) Não interessam aos gestores menos eficientes

Soluções:
 Regulação setorial (dos mercados financeiros) – conjunto de normas setoriais para disciplinar os gestores
devido aos efeitos que a conduta desses gestores pode ter no interesse público.
 Autorregulação – soft law – normas criadas por si só e que estabelecem as diretrizes sobre como melhor
agir.
 Não é necessário uma regulação formal pois o próprio mecanismo do mercado é uma forma de disciplina:
se o mercado funcionar bem, os maus agentes saem naturalmente do mercado.

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Cap. XII - Repartição do Rendimento e o mercado de fatores


A participação no processo produtivo é traduzida na Remuneração.
 Equivalente ao esforço que cada um despendeu no processo produtivo.
o Terra -> Renda
o Trabalho -> Salário
o Capital -> Juros
o Organização dos Fatores/ Empresarialidade -> Lucro
 A Produção resulta em Repartição9
 Famílias = Oferta (de FP) ; Empresas = Procura

Análise Neoclássica
Participação no processo produtivo deve ser vista duma ótica de mercado.
Remuneração = Preço: apenas depende da quantidade oferecida e procurada (ex: mais oferta
de trabalho, mais baixo o salário – procura). O juro será mais ou menos elevado conforme a
procura junto da oferta (capital).
Vs. Perspetiva Institucionalista
Releva o contexto institucional que afeta a remuneração, para compreender em que medida se
influencia a quantidade oferecida e procurada.

Remuneração será tanto maior quanto mais participação (maior esforço) no processo
produtivo – racionalidade processual (sem qualquer moral)
 A justiça relativa é assegurada pelo mercado

A procura de fatores de produção (a empresa) é sempre derivada


 Determinada pelas necessidades do próprio mercado – a sua procura depende em
absoluto da procura dos bens e serviços finais que os fatores contribuem para produzir.

Capital
Sentido Económico: conjunto de bens instrumentais que não satisfazem necessidades finais
mas que são incorporados no processo produtivo com vista a produzir os bens finais10. Ex:
canas de bambu construídas em conduta para trazer água.

Tem que ser criado: pressupõe processo de criação


 Poupança
 Investimento
o Ao longo do tempo o capital perde valor porque é desgastado pelo processo
produtivo – tem que se manter as poupanças para que se consiga investir em
inovar e manter o capital.
o Um sustenta o outro.
 O capital financeiro deve corresponder ao capital real

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De onde tem que haver uma Redistribuição – necessidade de intervenção retificativa
10
Conjunto de bens instrumentais que coadjuvam o esforço laboral, potenciando-o.
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Mercado da procura e oferta de Capitais


O valor do capital varia.

Empresa: Procura
 Locação – nas decisões de curto-prazo – sujeita à lei de rendimentos marginais
decrescentes (Rm = P): parte disponibiliza a outra o usufruto de certa coisa durante um
certo período de tempo
o Unidades sucessivas de fatores vão sendo cada vez mais caras, ao serem
adicionadas, até que chega ao ponto em que Rm = P (o preço é igual ao
acréscimo de utilidade dessa adição)
Ex: aluga-se uma máquina
 Aquisição – nas decisões de longo-prazo11 - tem em conta o somatório da produtividade
do capital
o Equacionando o custo de oportunidade e o valor residual do capital (após
período de vida útil – tem em conta o valor futuro do capital ao qual aplica uma
taxa de desconto12) – Eficácia Marginal do Capital (Keynes)
 Capacidade do capital se pagar a si próprio e permitir obter
determinado lucro – tem em conta o valor presente dos ganhos
esperados e o da taxa de retorno do investimento.
Ex: procura aumenta. Faz sentido comprar a máquina. Tendo em conta que a máquina
tem vida útil de 10 anos, valerá a pena comprar essa ou outra? Tem que se saber o que
se pode fazer à máquina ao fim dos 10 anos.

Capitalista (detentor de capital): Oferta


 Venda – o capitalista passa a ser outro
 Cedência – adquire capitais para os ceder
o Longo-prazo: aquisição de novos capitais para os ceder. Ponderando o custo
total = custo marginal + custo oportunidade
o Curto-prazo: oferta global inelástica - não é possível criar mais capitais; oferta
individual elástica – cada capitalista oferece todo o capital disponível para
aquele nível de preço (onde P = Cm)
 Custo Marginal – ex: depreciação de bens, transportes, reparações,
manutenções. –
o Assume-se também um Custo de Amortização
 Com o desgaste dos capitais há uma perda de valor ao longo do
tempo. Considera os valores do desgaste poupando esse valor
para que no fim da vida útil seja possível comprar um novo – faz
com que globalmente não perda o valor. Se não fizesse reservas
de amortização, no fim de vida útil saía do negócio.

Karl Marx
 Adota uma conceção clássica do valor dos bens – o que confere valor a um bem é a
maior ou menor quantidade de trabalho nele empregue.
 CAPITALISMO: A parcela de trabalho que vai para o capitalista não é dada ao
trabalhador. O capitalista enriquece à custa da apropriação dessa mais-valia.

11
Longo Prazo – horizonte temporal em que é possível alterar todos os fatores de produção
12
Taxa de Desconto: corresponde ao valor da privação (valor da utilidade perdida)

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 DITADURA DO PROLETARIADO: Se não existisse essa parcela, o trabalhador ficaria com


a totalidade do seu trabalho. A solução é a coletivização dos meios de produção
 COMUNISMO: Deixa de existir escassez pois há uma verdadeira recompensa dos
trabalhadores. Em última instância haveria uma coletivização de todos os bens.

Críticas
 Teoria do valor do trabalho é incompleta – não explica porque é que o trabalho
qualificado vale mais que o pouco qualificado – não permite distinguir a especialização
 Há bens que ganham valor ao longo do tempo. Ex: garrafa de vinho do Porto
 Produtividade e valor do trabalho dependem da qualidade do capital – legitima a
remuneração para o detentor do Capital
 Desconsidera a organização dos fatores de produção – que é um risco, devendo ser
remunerado com o lucro

Terra (fatores naturais)


Sentido stricto senso ou entendida como matérias-primas

Inelasticidade da oferta – os recursos naturais são fixos (podem ser finitos). A produtividade
desses fatores depende do capital.
Renda depende da produtividade.
 Aceção ricardiana (David Ricardo) – Renda fundiária diferencial ricardiana
o Em função das aptidões da terra

o 1º são cultivadas as terras mais férteis (custo de produção menor)


o Como há um pressuposto malthusiano de aumento da população, haverá um
aumento da procura – tem que haver um aumento de quantidade
o Cultivam-se terras menos férteis (custo produção maior) para garantir a
subsistência
o Preço vai corresponder ao custo de produção mais elevado e no mercado
concorrencial só há esse preço
 Renda é a diferença entre o preço vendido e o custo de produção
o Depende da relação inputs e outputs – o que se investe na terra e o que dela se
retira
o Há um ganho do produtor das terras mais férteis que vai aumentando a sua
renda à medida que a população aumenta – os mais ricos ficam ainda mais ricos.

Trabalho
Fator preponderante -> maior parte da riqueza do processo produtivo é canalisada para o
trabalho: onde participa a maior parte da população.
A Empresa é encarada como “price taker”.

Procura (relacionada com a produtividade)


 Procura de trabalhadores até que a produtividade marginal iguale o custo marginal
(salário pago aos trabalhadores)13

13
Enquanto o valor do produto marginal for superior ao nível do mercado dos salários, justificar-se-ia a
contratação, devendo a procura de novos trabalhadores terminar quando o valor do produto marginal for
já inferior ao nível salarial.

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o Contrata-se trabalhadores se o que eles trazem a mais para a empresa


compensa o salário pago

 Excesso de Oferta = Desemprego : tendência para abaixamento salarial14 (acompanhada


da queda do valor do produto marginal)
 Excesso de Procura : nível salarial aumenta (que provocará um aumento proporcional
do valor do produto marginal)
o No mercado concorrencial tende para o ponto: Salário de Equilíbrio
 P=O, não entra nem sai mais ninguém
 Ajusta a oferta e a procura do fator de produção trabalho e reflete o
valor do produto marginal.

Com capitais fixos, sujeita-se à lei dos rendimentos marginais


decrescentes.
 Oferta15 rígida independente do nível de salário – só há uma certa
quantidade de indivíduos.

Nível salarial depende do valor que os indivíduos geram no processo produtivo – a base do
salário é a produtividade.
 Incremento de produtividade é que explica uma subida de salários reais, aumento do
poder de compra e um bem-estar geral.
 A remuneração acompanha o valor do produto marginal que cada um determina no
processo produtivo – rendimento das pessoas é maioritariamente fixado em função do
valor dos recursos produtivos que fornecem ao mercado.
 O que determina a produtividade é o capital (físico), capital humano e a tecnologia.

Diferenças Salariais (informação imperfeita e discriminação salarial)


Numa ótica de mercado em que cada um é remunerado de acordo com o valor da sua
contribuição marginal, porque é que uns recebem mais que outros?

1. Diferenças Compensatórias
Disparidade salarial que resulta da diversidade de características não monetárias dos diversos
empregos.
 Quando as funções dos trabalhadores são as mesmas mas as condições são tão
distintas, justifica-se o diferencial.
Remuneração associada ao próprio emprego e atribuído a todos pelas características da
atividade em si – subsídios que atenuam o desprazer causado pessoalmente pelo desempenho
de certas funções (teria pouca oferta de trabalhadores sem isto). Em função dos riscos
associados às condições. Ex: trabalhar de dia vs. trabalhar de noite; lavar janelas no rés-do-chão vs. lavar janelas
no 458º andar

Enquanto o nível salarial for inferior ao rendimento marginal, a admissão de mais trabalhadores
contribuirá para aumentar os lucros do empregador.
14
Aumento do número de trabalhadores faz, ceter paribus, descer o nível salarial que se pratica no
mercado, e isso induz as empresas à contratação de mais trabalhadores ainda. Sujeita aos efeitos da
produtividade marginal decrescente.
15
Procura: elasticidade da procura é determinada pelo carácter mais ou menos intensivo na exploração
do trabalho, substituibilidade de trabalho por capital e na procura dos produtos para os quais o trabalho
contribui.

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2. Capital Humano
Investimento na formação pessoal – trabalhador capacita-se para aumentar a produtividade
(adquire mais aptidões) – aumento da produtividade conexa com o incremento das aptidões.
 Sendo capital, pressupõe que alguém poupe e depois invista. Ex: propinas da faculdade
 Expectativa de que o que se poupou para investir, no futuro recompense16 -
compensado por incrementos remuneratórios que compensam esse investimento –
justificando os diferenciais entre trabalhadores qualificados e não-qualificados.
 Custos Direitos e Custos de Oportunidade
 Possibilidade de se ingressar logo no mercado de trabalho
 Armadilha da Subqualificação
Pode ser apelativo entrar no mercado de trabalho para se ter
rendimento, mas, no decurso do tempo haverá uma maior
concorrência pois estas menos qualificadas concorrerão com
trabalhadores mais jovens, trabalhadores migrantes e com
pessoas mais qualificadas.

As economias com qualificação mais elevada têm um maior nível económico – a qualificação
gera externalidades positivas.
 Musgrave: Bens de Mérito – saúde e educação – bens cuja provisão pelo Estado é
necessária pois os incentivos privados orientariam para o subconsumo.
o O somatório dos investimentos privados fica aquém do nível ótimo de
investimento coletivo – onde são contabilizadas as externalidades positivas que
não podem ser compensados privadamente àquele que investiu.
o Ao serem deixados à decisão de particulares seriam menos consumidos – o que
prejudicaria o bem-estar global -> contraria a ideia Smithiana de que o bem-
estar global é atingido quando cada um faz o melhor para si
 Bens cujo consumo o Estado pretende alargar, presumindo que há um
subconsumo desses bens se não o fizer.
o Ex: sem escolaridade obrigatória muita gente não ia à escola pois os pais faziam-nos
ingressar no mercado de trabalho para obter rendimento; sem vacinas obrigatórias
muitos pais iriam pensar que cuidavam bem da criança e descuravam esta proteção
(hoje ainda seria beneficiado pelas externalidades positivas de todos os outros)
o Fere a lógica basilar dos mercados da soberania do consumidor e da liberdade
que é cometida a cada indivíduo (é juiz supremo dos seus próprios interesses e
as suas preferências respeitadas sem paternalismos17) – gera-se debate sobre o
porquê do Estado pagar a escola pública em vez de dar esse valor aos pais, num
cheque-educação, para eles terem liberdade de escolher.

3. Sinalização pelo trabalhador


Veio completar a teoria do capital humano (Spence, 1974). Há sinalização = pelo esforço,
talento, acasos, injustiças, assimetrias informativas.

16
Valor presente descontado do total das remunerações futuras esperadas em função de um
determinado investimento na especialização – estudos de Schultz e Becker.
17
Bens de méritos remete para uma atitude paternalista – resposta adequada à circunstância dos
indivíduos nem sempre serem optimizadores face às opções disponíveis – remédio da racionalidade
limitada.

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Depende dos sinais que o candidato envia para se diferenciar dos outros – presença de indícios
que atestem, com aceitável grau de probabilidade e verosimilhança, a idoneidade profissional.
 Assenta na assimetria informativa – numa dimensão de estridência, o candidato pode
persuadir o empregador
o A desvantagem da assimetria informativa é para o empregador que pode fazer
uma má escolha com base na aparência da oferta – vindo do grau de iniciativa
do candidato de persuadir o empregador quanto aos seus próprios méritos.
o O período experimental serve para aferir ex-post se fez a escolha errada com
base na assimetria informativa ex-ante.

Sinalização objetiva – situações em que o empregador tenta ultrapassar a assimetria


informativa – relaciona-se, por exemplo, com a reputação da escola em que o candidato se
formou.

4. Vencimento Transferência e Renda Económica


Vencimento transferência – valor de equilíbrio para uma atividade: remuneração mínima de
certo setor de atividade e sem a qual ninguém exerce uma certa atividade18.
O que ficar acima é renda económica – relacionado com as qualidades do indivíduo.
 Situações quase-renda – diferencial remuneratório em relação ao vencimento que
tende a desaparecer no longo prazo. Remuneração paga acima do vencimento mas que,
a longo prazo, converge para o vencimento. Inelasticidade da oferta no curto prazo. Ex:
há poucos trabalhadores durante uma gripe, aqueles que estão recebem acima do
vencimento transferência
 Situações completas de Renda Económica – tudo o que o trabalhador recebe para lá
desse vencimento transferência – situação que se paga à oferta mais do que seria
necessário, para que o mesmo nível de oferta fosse alcançado (inelasticidade absoluta
da oferta) – apenas determinadas pela procura: o que o mercado está disposto a dar,
pois é insubstituível logo impõe as suas condições. Ex: salário do CR7, não há
vencimento transferência
o Depende de: querer aquele trabalhador específico (infungível); bem acessível a
baixo custo; prestação do bem é apropriável (exclui-se da fruição aquele que
não pague pelo trabalho pressuposto na sua elaboração)

5. Discriminação no Mercado
Fatores puramente discriminatórios. Ex: raça, género, política

18Vencimento de transferência – vencimento de equilíbrio no setor de atividade considerado, em termos de, uma
vez alcançado o respetivo nível, não existir incentivo para nele ingressar qualquer outro trabalhador, nem para sair
aqueles que nele se mantêm.

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Cap. XIII - Desigualdade e Pobreza


Após se estudar a Repartição dos rendimentos, atende-se agora à ideia de Redistribuição.
 Ideia retificadora de que do jogo de mercado não resulta uma justiça equitativa – há
pessoas que ficam fora do mercado pois não têm a capacidade de participar nas trocas
de mercado, mas, não devem ficar desamparadas - Retificação das leis do mercado em
nome de um “bem comum”.
 Economia Social – inscrita no tratado da EU – já vem desde o séc. XIX, reação a excessos
capitalistas, e aprofundou-se ao longo do séc. XX com a doutrina social da Igreja e as
conceções de influência socialista.

Riqueza enquanto património (estática).


Rendimento implica o gerar riqueza nova – advém do trabalho (dinâmica de acumulação de
riqueza).

Causas da Pobreza:
1. Distribuição Irregular da Propriedade – contexto da posição em que se nasce – uns
possuem grande abundância de recursos. Acesso à riqueza significa acesso ao
rendimento (criação de riqueza nova)
2. Pobreza Voluntária – perda de oportunidades: contexto que resulta de escolhas livres
em que há um desperdício de oportunidades.
3. Fatores Profundos de Pobreza Generalizada – sociedades em que estruturalmente a
população tem rendimentos muito baixos. Os fatores de pobreza podem-se perpetuar
para as gerações seguintes. Pobreza gera pobreza e alastra se não for combatida.
a. Podem haver situações que quebrem esta situação pré-determinada à partida.
Ex: dar uma máquina de costura, cria-se rendimento a partir desse capital
b. Relaciona-se com a Distribuição Irregular da Propriedade pois a sociedade é tão
desigual que estruturalmente se perpetuam as mesmas condições de
rendimento.

Trade-off (conflito de valores): Eficiência e Justiça


 Quando se privilegia um, está a sacrificar-se o outro
o Os recursos para a maximização da justiça advêm da esfera do mercado – pode
chegar a comprometer a eficiência com medidas que desincentivam o mercado
que também pode, por isso, querer fugir ao fisco
o Combate à pobreza dependerá também da ideologia prevalecente no contexto
político de que se trata.

Limiar da Pobreza: situação de carência grave – Banco Mundial estabelece situações abaixo do
limiar de pobreza para quem tem menos de 1 dólar por dia (em 1985, hoje 2 dólares por dia).
Serve apenas para Estados muito pouco desenvolvidos para distinguir mesmo os mais
miseráveis de todos. Como é influenciada e o que influencia:
 Muita solidariedade social manifesta-se diretamente e em espécie melhorando o bem-estar dos
pobres e não nominalmente o rendimento
 Rendimento pessoal varia ao longo da vida
 Mobilidade social faz com que o limiar da pobreza não seja obstáculo para o enriquecimento do
self-made man

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Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

Critérios para medir as Desigualdades19:


Reta Igualitária – reta em que o rendimento é diretamente proporcional ao total da população.
A realidade surge como uma situação que não é uma reta igualitária e os mais ricos podem
ganhar até 25 vezes mais que os mais pobres (como no Brasil).

Tendo em conta a Reta Igualitária, desenvolve-se uma Curva de Lorenz.


 Evidencia o efeito cumulativo da distribuição de riqueza – correlação entre a fração
cumulativa do rendimento e a fração cumulativa da população a que esse rendimento
cabe20.
 Começa-se pelos rendimentos mais baixos
 Traduz a distribuição efetiva do rendimento (tendo por referência a reta igualitária)
 Quanto mais se afastar da reta,
mais desigual é o país. Ex: país
B é mais desigual que A
o Quanto maior for a
Área de Concentração,
mais desigual é o país.

Coeficiente de Gini – medida numérica da área de concentração, correspondendo ao dobro


desta – varia entre 0 e 1.
 Quanto mais perto de 1, mais desigual é o país (pois tem maior área de concentração)
o Se uma curva ocupa área de 40%, calcula-se fazendo os 40/100
 Nos países desenvolvidos tende a não ultrapassar os 0,4 e média da UE é 0,3
o Permitiu aferir que a desigualdade entre países ricos e pobres tem aumentado

Curva de Kuznets
Curva em campânula – demonstração empírica da correlação entre crescimento e desigualdade.
Até certo ponto, a sociedade cresce e a desigualdade também, mas, depois a sociedade cresce
e a desigualdade diminui21.
 A desigualdade tende a agravar-se
generalizadamente à medida do
desenvolvimento global.
 Quanto mais elevada a desigualdade inicial,
maiores as dificuldades de crescimento no
longo prazo.

19
Independentemente dos motivos pelos quais há desigualdade, ela constitui um problema em si mesmo
que põe em causa a coesão, homogeneidade e subsistência da sociedade.
20
Representa graficamente. Dividindo a população em classes e verificando qual o rendimento
correspondente.
21
Pode-se relacionar com o trade off pois numa sociedade já mais eficiente consegue-se mais recursos
para a justiça

14
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

Critérios de Justiça
Ideal nivelador e igualitário esteriliza a iniciativa económica individual. Tem que se encontrar o
ponto médio de coesão sem perder o dinamismo económico.

Justiça de Resultados
1. Perspetiva Utilitarista: ao retirar-se uma parcela aos de rendimentos mais altos
(transferência de riqueza) para se dar aos mais baixos, há ganho de utilidade pois a
utilidade marginal dessa parcela nos mais baixos será maior que nos mais altos – quem
tem rendimento menor dá mais valor -> maximiza-se a utilidade total
2. Perspetiva de Rawls: a sociedade melhora quando se retifica as situações mais graves,
mesmo que se tenha de transferir rendimento. Erradica extremos de exclusão e
aumenta a coesão social. Base de autoconssentimento dos rendimentos mais elevados
ao transferir, pois não quereria estar nessa posição na sociedade -> minimizam-se as
perdas máximas22

Justiça de Meios
Ideia libertária: justiça enquanto processo – dá-se a todos igualdade de oportunidades e com
isso concretiza-se a justiça. As diferenças depois advêm do mérito de cada um: a ideia de
igualdade transfere-se do plano (desincentivador) dos resultados para o plano (neutro) das
oportunidades. A justiça é em relação ao processo pelo qual as pessoas enriquecem -> Hayeck e
Nosick

Há várias formas de se realizar a justiça: medidas de combate à desigualdade e à pobreza


1. Tributação
2. Apoios Diretos – através da segurança social23: medidas de combate direto. Ex: subsídio de
desemprego, salário mínimo. Dá possibilidade ao desempregado de procurar melhor24, mas não
perpetua a condição de desemprego por ser mais vantajoso
3. Prestação direta de serviços pelo Estado – ex: educação pública, casas sociais e etc.

Que efeitos pode ter? Armadilha da Pobreza


 Quando um agente entra no mercado de trabalho, há perda do subsídio e início da
tributação – efeito combinado do início da tributação e fim do subsídio que recai sobre
aquele que pretende ultrapassar o limiar da pobreza
 Se compensar, será mais racional não perder o subsídio
o Impede a mobilidade social: compromete a entrada de pessoas no mercado de
trabalho
o Ao excluir-se do mercado por depender do subsídio vai perdendo a sua
capacidade de reintegração no mercado.

A. Alternativa é combinar o subsídio com critérios objetivos – ex: subsídio dado atendendo ao
agregado familiar.

22
Princípio maximin – Levaria a um empobrecimento geral.
23
Segurança social – cada um contribui para os outros para ser segurado por eles. Pode ter problemas de
sustentabilidade em sociedades mais envelhecidas. Sistema pay-as-you-go depende da igualdade
corrente entre receitas e custos. Relação no combate à pobreza não linear embora seja um mecanismo
para efeitos redistributivos.
24
Pois quem não tem rendimentos, fica desesperado ao estar desempregado

15
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

B. Reduz-se a componente monetária em favor das transferências em espécie – forma mais


direta de proceder a redistribuições.
 Problema: demarcação do conjunto dos verdadeiramente necessitados – mas
comparando com pagamentos monetários há uma diminuição da fraude; atitude
paternalista do Estado que atenta contra a liberdade e dignidade

C. Introduzir gradualismo nos dois lados – integração progressiva para não se sentir tanto
impacte.

D. Imposto negativo sobre o rendimento – mitiga o efeito da Armadilha da Pobreza


 Friedman: Alastra ideia da progressividade das taxas de imposto à abordagem do
problema da pobreza
 A todos se concedia um crédito de imposto, deduzido ao imposto e que materialmente
funcionaria como um subsídio às classes mais pobres.
 Permite que ao ingressar no mercado de trabalho seja tratado como contribuinte mas
que receba na mesma o “subsídio”
 Transição suave que tira da armadilha da pobreza sendo esse crédito do imposto nada
mais que um rendimento mínimo garantido (em termos económicos)
 Para evitar situações de parasitismo indolente só seria dado aos pobres que
trabalhassem e temporariamente aos desempregados

Ex:
Pobre Médio Rico
Crédito 100 100 100
Imposto 0 80 300
Pagamento +100 (recebe) +20 (recebe) 200

Cap. XIV – Redistribuição e Tributação


Impostos: principal fonte de Receita do Estado – meios de arrecadação de receitas públicas –
vias pelas quais as entidades públicas encontram cobertura financeira para as atividades que
desenvolvem
 Função Para-Fiscal – Redistribuição e justiça
 Função Fiscal – Instrumento de obtenção de receitas por parte do Estado
o Creditícias
o Patrimoniais: resultado de vendas do Estado
o Tributários: Impostos (não têm uma afetação específica); Taxas (paga-se
sinalagmaticamente – paga-se para se obter um serviço)

Estado quer uma tributação ótima para financiar as suas atividades, mas que não seja
comprometida a eficiência (quando o valor do imposto é maior que o excedente).

Os impostos incidem:
 Rendimento – riqueza nova
 Despesa – em termos imediatos (atos de consumo) ou mediatos (valor acrescentado dos
produtos)
 Património – riqueza acumulada
 Poupança

16
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

o Tal como com o Património há uma dupla tributação: já foi tributado o


rendimento – objeto que permitiu a poupança – e agora tributa-se de novo
o Desincentivo à Poupança

A tributação das empresas incide sobre o seu rendimento real (art. 104º/2 CRP) de forma a ser
mais justa.

Eficiência do Sistema Fiscal (art. 103º CRP)


Sistemas fiscais assentam na tributação do rendimento, da riqueza nova gerada durante um
período, partindo do princípio que esse rendimento, se indicia o corrente potencial de geração
de riqueza por parte das pessoas, pode servir de indício da sua capacidade contributiva.

Eficiência do sistema mede-se pelo nível de custos nos contribuintes e pelas correspondentes
distorções de atividade económica provocadas pela não-neutralidade do imposto

Menores distorções que se introduzam no funcionamento da Economia mas que não


prejudiquem os cidadãos – não devem ser nem muito burocráticas nem híper-complexos (uma
máquina administrativa muito complexa dificulta a transparência.

Formas de Estruturar a Tributação:


1. Imposto de Capitação (imposto soma fixa) – per capita/ lump-sum taxes – cada um e
todos pagam a mesma coisa – em termos absolutos pagam o mesmo, mas ao comparar
com o rendimento do indivíduo, o mais pobre paga maior percentagem.
a. Não é Taxa Média Regressiva: carrega-se a taxa para os mais pobres. Mas no
fundo é pois à medida que o rendimento aumenta, o peso do imposto diminui.
2. Proporcional – taxa de imposto igual para todos; percentagem que é devida depois de
calculado o rendimento tributável. Ex: todos pagam 10%
a. Coincidência da Taxa Média com a Taxa Marginal (quociente entre a variação
do rendimento e a variação do tributo pago – incentivos a aumentar ou diminuir
o rendimento)
i. Não há perigo de fuga pois a percentagem é sempre a mesma quer se
declare mais ou menos
3. Progressivo – quem tem menos rendimentos paga uma menor percentagem. Introduz
maior justiça e correção, indo de encontro a uma lógica do valor da utilidade marginal
conforme o rendimento – sacrifício aumenta à medida que aumenta os rendimentos:
menos eficiente mas mais justa. Como o proporcional, pede mais aos mais ricos (não é o
único)
a. Taxa Média Progressiva: não há coincidência da taxa média e a taxa marginal.
Ex: no IRS, para cada escalão há uma taxa diferente
b. Desvantagens: saltos de escalões que podem significar um rendimento líquido
inferior ao que se tinha (semelhante à armadilha da pobreza); podem fugir a
declarar tanto pois pagarão mais
i. A classe média fica iludida que a classe rica paga mais impostos (traz
mais justiça social e fiscal). Mas muitas vezes arranjam mecanismos
para fugir ao pagar impostos.
ii. Chega-se a um certo ponto em que não aumenta mais e aí há
proporcionalidade

17
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

É regressivo ou progressivo conforme a taxa média (quociente entre rendimento total e total de
tributo pago – sacrifício suportado pelo contribuinte) aumente ou diminua com os aumentos do
rendimento tributado.

Pagam-se impostos de acordo com: Princípio da Capacidade Contributiva


 Oneração dos impostos deveria de ser distribuída de acordo com a aptidão de cada um
para suportar, com o seu rendimento, o sacrifício representado por aquela oneração.

Concretiza-se no princípio da Igualdade25 horizontal – se há uma capacidade similar, paga-se o


mesmo e se há uma capacidade diferente paga-se diferente; e vertical – pede-se mais a quem
tem mais e menos a quem tem menos.
A justiça vertical é cumprida em todas as taxas de imposto, até na Regressiva (pois
mesmo que a taxa seja mais pequena, em valor absoluto pode-se pagar muito mais. Ex:
1% de 5 mil milhões é mais que 80% de 500)

De onde vem o Princípio da Equivalência Fiscal


 Princípio do Benefício – equivalência entre o esforço exigido aos cidadãos e o que eles
recebem em troca: numa ótica liberal foi sendo mitigado mas manteve-se a Equivalência
Fiscal – pessoas devem ser tributadas proporcionalmente ao uso que fazem dos bens
públicos, o que exige que se pressuponha que é possível detetar e contabilizar um uso
privado de bens públicos. Configura justiça fiscal como reciprocidade
De onde vem a perceção da Carga Tributária – componente subjetiva: sente-se
mais o esforço se não houver uma contrapartida adequada.

Taxa plana: não entram deduções de nível pessoal. Taxa marginal invariável, sem qualquer
propósito de igualdade horizontal (não tratam de forma diferente situações diferentes, porque
não contam as deduções que os diferenciam).
Imposto de rendimento com uma só taxa.

25
Igualdade de sacrifícios pressupõe situações comparáveis o que não é realizável

18
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

Cap. XV – Problema Ambiental


Mercado ambiental – não existe, é fictício

Bens ambientais são suscetíveis de serem trocados ou transacionados no mercado.

Não se pode é atribuir um preço: não é possível determinar com rigor as preferências reveladas
pelos consumidores -> tem que se recorrer a métodos indiretos de estimativa de um valor médio
ou hipotética disposição de pagar. Ex: método dos custos de viagem, método dos preços
hedónicos.

As questões ambientais estão sujeitas a uma curva de Kuznets entre Poluição e Crescimento –
há medidas que as sociedades crescem há uma inversão.

Externalidades – situações extra-mercado que o afetam para melhor ou pior, sem ser pago um
preço ou sem haver uma indemnização.
 de Produção: Negativas (poluição); Positivas (Clusters – várias empresas concentradas num único
local beneficiam com a mais fácil troca de informação)
 de Consumo: Negativas (fumar junto de outros); Positivas (Rede – o facto de + 1 agente entrar
aumenta a utilidade de cada utilizador)

Quando existem Externalidades o nível de bem-estar social que decorre do equilíbrio de


mercado é afetado.
o Positivas: benefício social > benefício privado; custos privados > custo social
o Negativas: benefício social < benefício privado; custo privados < custo social
 Mas nem sempre o equilíbrio de mercado assegura o bem-estar.
 O funcionamento do mercado produz externalidades que afetam o bem-estar social e aí se
repercutem.
 Tem que se conviver sempre com uma externalidade – para diminuir o custo de bem-
estar social não se elimina a externalidade mas sim assegura-se um nível ótimo dessa
externalidade. Ex: carros poluem, mas ao eliminar os carros há custos para o bem-estar
social. O que se pretende, então, é que os carros poluam menos (não se elimina a
externalidade, mas garante-se o ótimo social)

Teorema de Coase
Ronald Coase percebeu que o problema das externalidades é bilateral: só existem porque há
um externalização recíproca26 (um causa o problema e outro ao sofrer com ele, externaliza-o)
Muitas vezes as soluções podem estar do lado da vítima e não do externalizador.
Em muitas situações minimizam-se os efeitos pela mera negociação. A solução mais eficiente
é a da negociação direta entre externalizadores e afetados pela externalidade. É uma solução
que segue a lógica do mercado e não requer a intervenção do Estado.

Teorema de Coase – verificados direitos de propriedade/apropriação bem definidos e zero custos


de transação, o melhor resultado possível é alcançado no mercado pelas partes através da
negociação.

26
Bilateralidade das relações, pois ambos são externalizadores e um pode sê-lo pelo simples facto de
existir. Da interação é que se pode identificar a externalidade em si mesma.

19
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

 Direitos de Apropriação: só se pode contratualizar detendo algo juridicamente. Aceção


de propriedade como que tem a ver com o próprio. Ex: saúde, bem-estar e etc.
o Há menos custos sociais quando, em função da negociação, os direitos de
propriedade ficam nas mãos daquele que lhes dá mais valor – situação ótima de
eficiência (numa apologia de funcionamento do mercado e menos intervenção
do Estado)
 Baixos custos de transação: torna-se mais fácil negociar entre as partes.
o Custos de Transação – todos os custos relacionados com o processo de trocas e
de negociação ou associados à realização de contratos.
 Tudo pode ser um custo de transação (1º custo de informação de
determinar o preço, 2º custo associado à negociação, 3º custo de
fiscalização do cumprimento).
 Com custos de transação muito elevados a afetação inicial dos
recursos27 é decisiva, pois as afetações posteriores poderão implicar
custos muito superiores, impossibilitando a negociação e inviabilizando
a solução.

Na versão original do Teorema de Coase exigia-se a Concorrência Perfeita – seria inevitavelmente com
baixos custos de transação, portanto, como isto é já dito no teorema, exclui-se a situação da concorrência.

No caso das externalidades ambientais é muito difícil atribuir responsabilidade ou mesmo saber
qual o agente causador da externalidade – bem como a determinação do afetado é imprecisa.
 Torna-se difícil tomar uma posição para fins de negociação – o que leva a elevados
custos de transação, pois o tal consenso é difícil de se atingir e é quase impossível
unificar uma solução.
 Nestas circunstâncias, a solução de mercado pode não ser a mais viável. A existência de
elevados custos de transação, de efeito de boleia ou falta de direitos de apropriação
exige uma alternativa à negociação. Deve haver intervenção do Estado.

Intervenção Estatal
Razões: Estado tem uma legitimidade representativa e democrática, agindo seguindo os
interesses coletivos e não segundo interesses particulares. A forma de solução é única (devido
ao seu poder de coerção – impõe materialmente a sua decisão com recurso à força: evitando,
no entanto, que tal imposição leve a uma situação de subprodução ou abandono do agente
externalizador do mercado) e tem a sua posição própria, o que reduz os custos de transação
associados à negociação.

Formas do Estado Intervir:


1. Expropriação – Estado substitui-se ao agente externalizador
2. Regulamentação – Regulação da atividade económica com vista a assegurar um bem-estar
social, impondo condições ao externalizador.
 Princípio da precaução – na dúvida, não existindo claros efeitos sobre as consequências
da atividade económica, esta não deve ser desenvolvida. Ex: OGM

3. Políticas de Incentivos (e desincentivos) – Estado deixa os produtores produzirem aplicando


depois consequências. Daqui surge:

27
Num mundo sem custos de transação, as afetações iniciais de quaisquer recursos são irrelevantes.

20
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

 Impostos Pigouvianos – impostos ambientais/ taxa ambiental – aquele que polui, como
causa dano à sociedade, também deve compensar a sociedade (Princípio do poluidor-
pagador). Existe uma taxa sobre cada unidade produzida em montante igual à externalidade
marginal causada.
o Visa internalizar externalidades negativas.
o Impostos que não provocam a perda de bem estar nem desviam do ótimo social.
Impostos definidos na orientação para o ótimo social – à partida podem
desaparecer, se desaparecer a externalidade negativa.
o Duplo benefício/ Duplo dividendo – permite obtenção de receita mas não gera
uma perda de bem-estar (como os impostos fazem). Essa receita é usada para
compensar o custo social marginal, aumentando o bem-estar. Forma de
internalizar uma externalidade: uma parcela que era custo social passa a ser
custo de produção, logo, os preços serão mais elevados.
o Corrige a subprodução: pode falhar na determinação do nível ótimo do imposto
 Se for muito baixo: internaliza o custo e não muda o comportamento
 Se for muito elevado: pode levar ao cessar da atividade

 Regime de quotas tributárias – Quotas Negociadas – “Cap and Trade” – Coase percebeu
que imposto pigouviano = preço da poluição; se há um preço, há mercado –> criou-se o
Direito a poluir, que aumenta o bem-estar
o Estabelece-se limite máximo de poluição. Abaixo disso pode-se negociar, mas
do volume total de poluição há diversas cotas e nunca se ultrapassa o limite. Ex:
define-se 1 bolo, dá-se uma fatia a cada um. Se apenas comer metade, posso
vender a minha metade a quem comeu a sua toda e precisa de mais. Mas será
sempre num só bolo.
 Cada Estado tem um teto e se quiser poluir mais28, vai comprar a outros
que não estejam a utilizar as suas respetivas quotas – quem não utiliza
a cota atribuída à poluição (porque polui menos), vende a quem precisa
(porque vai poluir mais) dessas cotas não utilizadas.
o Criaram-se direitos bem definidos e com baixos custos de transação – indo as
quotas para aqueles que lhes dão mais valor.
o Funcionam bem enquanto for possível a transação no mercado (custos de
transação 0) – necessária uma atualização regular para adaptar o teto.

 Regime baseline and credit: relacionado com a eficiência energética

Bens Públicos, Semipúblicos e Privados


Distinguem-se por:
1. Suscetibilidade de exclusão – capacidade para excluir de forma eficiente alguém do
acesso a um bem ou serviço
a. Há exclusividade no uso do bem
2. Rivalidade no uso – utilizador não sai prejudicado por mais pessoas acederem a esse
bem, extrai na totalidade a utilidade desse bem

Privados – preenchem os dois requisitos

28
Nem sempre os países mais ricos são os mais poluidores -> Curva de Kuznets ambiental

21
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

Públicos – não preenchem os dois requisitos


 Pode gerar efeito de boleia (retira benefícios da existência sem ter que suportar os
custos correspondentes) e uma sobre-exploração desse bem
 Sendo de todos, ninguém está disposto a produzi-lo para dar a terceiros: risco de
subprodução (Estado terá que assegurar a produção)
Semipúblicos – um preenchido e o outro não (não ter uma dá origem a outra)
 Recursos Comuns: sem suscetibilidade de exclusão mas rivalidade no uso. Ex: barco a
pescar em águas internacionais, todos podem aceder, mas quem chegar depois já tem
menos peixe para pescar; baldios
o Não há considerações sobre a sustentabilidade do bem
o Gera efeito de boleia
 Inércia Descordenadora: contraria Adam Smith
 Monopólios Naturais/Bens de Clube: suscetibilidade de exclusão sem rivalidade no uso.
Ex: vou ao estádio de futebol, tenho acesso porque pago, mas, uma vez lá dentro,
consigo ver o jogo de todos os lugares.

22
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

Cap. XVI – Intervenção do Estado e escolha pública


Há muitas situações em que o Estado se vê confrontado com a sua atuação – na estreita conexão
entre ciência política e análise económica.
Razões para a intervenção do Estado:
1. Promoção de eficiência
2. Correção de disparidades eficiência e bem estar social
3. Correção – bens de mérito são subproduzidos, faz sentido o Estado intervir quer no
abuso de consumo (sobreconsumidos) ou na pouca produção

Problema do Monopólio Natural: Situação não ultrapassável e com custos marginais decrescentes
com a produção a uma escala de produção elevada. Justificam-se por garantia de acesso ao mercado,
liberdade de acesso, necessária nos contextos de monopólio natural (derivam da estrutura de mercado
em que um agente satisfaz todo o mercado antes da escala mínima de eficiência – daí ser necessário uma
entidade reguladora para neste contexto não agir como monopolistas). Conjunto de medidas que não
afetam o bem-estar:
 Subsídios (para se praticar preços mais próximos do monopólio natural)
 Apropriação estadual/nacionalização (é bom ou mau dependendo do preço aplicado. Se o
desempenho for mau o Estado pode ter que reprivatizar)
 Privatização (bom se trouxer um preço mais baixo)
 Regulação (há risco de corrupção ou captura do regulador)
 Desregulação (para revelá-lo como um monopólio protegido)

Rent-Seeking
(Tullok e Keveger) Contexto de concorrência imperfeita29 com transferência do bem-estar do
consumidor para o do produtor (a partir do aumento de preços e não diminuição dos custos; não há
incentivos para a melhor eficiência) –> quem tem esta situação tem interesse em que esta mesma
situação se mantenha para ter uma renda assegurada: análise pressão do lobbying
 Transfere-se recursos de atividades produtivas para atividades não produtivas
o Compra de direitos exclusivos (em vez de usarem a renda obtida na própria
produção, usam-na para obter mais renda)
o Atividades protegidas por barreiras anti-comerciais
o Pressão sobre poderes políticos (lobby e corrupção)
 Procura de regulação favorável a manter a situação existente

Teoria das falhas de mercado legitima a regulação, que deve ser orientada para a prossecução
do interesse público.
 Não é possível determinar o que é o interesse público
o Assume-se: regulador clarividente e benevolente que age altruisticamente para
prosseguir tais interesses, contexto de mão-reguladora
 Teoria do Rent-Seeking: regulação fundamentada pelos interesses privados
o Mercado da Regulação – mercado especial onde há procura e oferta de
regulação. Certos agentes económicos querem regulação e os políticos e
burocratas dão a regulação especializada a troco de favores.

29
Tende a causar o desvio de meios para fins improdutivos. Essa captação de renda pelos produtores
acaba por se agrupar em confederações de informação estratégica (lobbies) que lhes garantem aquela
renda líquida

23
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

 Pode haver captura do regulador30 com origem na assimetria


informativa – pois as informações dependem das entidades que
querem regular; devido à especialização contratam pessoas que já
trabalharam no setor.

Teoria da Escolha Pública


Anos 50 e 60 – análise económica do processo político das democracias: influência dos processos
democráticos no comportamento dos mercados.
 Processos democráticos têm falhas pois os eleitos podem não ser os melhores a gerir a
coisa pública

Buchman e Tullock: O decisor público não sabe até que ponto o que a comunidade realmente
quer e como agir pelo bem comum devido ao seguinte:
 Rigidez e complexidade da estrutura
 Dificuldade dos agentes do Estado em ultrapassar o ciclo eleitoral dos 4 anos
 Lei de Wagner – tendência para o crescimento das despesas públicas31 (num efeito de
cascata)
 Influência de interesses particulares – racionalidade duma maximização de vantagens
dos envolvidos
o Soft budget constrained – como a estrutura é grande e o gasto é dificilmente
sentido32 + impossibilidade de insolvência = pouca pressão para fazerem o que
deviam fazer para gerir melhor a coisa pública.

Public Choice vem afirmar que há falhas de intervenção devido à politics33 feita em que
os interesses privados se sobrepõe ao bem-estar coletivo. Já se pressupõe que o
decisor não é clarividente nem benevolente.
Os grupos de interesse também influenciam as decisões das maiorias.

Das decisões surgem custos


1. Custos Esperados da Decisão Coletiva
 Decisões tomadas por unanimidade não têm custos económicos para ninguém
(decidem todos o mesmo)
 Decisões tomadas por maioria acarretam custos económicos: há agentes que
beneficiam e outros que não
o Deve-se otimizar as regras de decisão
o Atenuar os custos da decisão através da negociação persuasiva

30
Sempre que no mercado da regulação a oferta seja menos atomística do que a procura e por isso seja de esperar
dela maior eficiência na pressão e no aliciamento, na substituição de votos por financiamentos dos políticos e dos
burocratas reguladores.
31
Cujas soluções seriam: imposto negativo (lógica crédito-imposto); regime transitório; micro-crédito
32
Assenta na Assimetria Informativa do Risco Moral
33
Policy – conjunto de normas básicas de aceitação de vários valores e regras procedimentais. Pacto
fundador do quadro estruturador.
Politics – domínio das opções concretas (resultado das forças que ocupam o poder e os seus interesses e
influências)

24
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

2. Custos Associados ao Processo Decisório


 Quanto maior o conjunto de partes, maiores os custos
o Tem que haver um maior conjunto de negociações para se consertar posições
divergentes.
Ex: é difícil haver uma revisão constitucional pois é necessária uma maioria qualificada
 Quanto menor for o conjunto de indivíduos com os mesmos interesses, mais fácil a
sua organização
o Há menores custos de transação
Há eficiência na escolha pública quando os benefícios da produção pública superam o total dos
custos de interdependência.

Teorema da Impossibilidade de Arrow


 Se a decisão for binária, não se coloco a indecisão
 Se não for, nenhuma preferência terá maior expressão
o As preferências coletivas dificilmente são hierarquizáveis

Teoria do Votante Mediano = princípio da diferenciação mínima


O que decide as eleições são os votantes do centro
 Os extremos anulam-se: são contrários um ao outro
 Eleitorado flutuante decide as eleições
o Não são fieis a partidos e que estando no centro votam tanto para um lado
como para outro
 Os partidos que os querem conquistar, não podem ser radicais e as
propostas não podem divergir muito
 Demonstra que, em situações de heterogeneidade de interesses, a
decisão coletiva está inteiramente exposta a manipulação e distorção
de incentivos
o Tem que se evitar intervales de decisão que permitem a captura do eleitor
mediano pelo partido concorrente.

Mercado Político
Procura: eleitores e lobbies
Oferta: políticos (eleitos) – incentivo de atuação é a maximização dos votos e a reeleição;
burocratas (não eleitos e com cargos no tecido empresarial do estado e da administração
pública – incentivo de atuação é o aumento das respetivas dotações (mais para as suas
estruturas).
 Oferecem atividades em troca de obtenção de vantagens.
o Grupos de interesses investem neste mercado pois captam renda (em
detrimento do interesse geral) na medida que o poder político possa agir
concedendo-lhes benesses e oportunidades de ganho.

Como fazem para se aprovar medidas que individualmente não teriam aprovação?
Log rolling – troca de votos entre políticos para aprovação de propostas de cada um. Ex: aprovo-
te x se me aprovares y
Pork-barrel – junta-se numa mesma proposta vários interesses e objetivos, acabando por se
obter a aprovação publicitando-os.

25
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

Cap. XVII – Temas básicos da Macroeconomia


Obra de John Maynard Keynes como percursora da análise macroeconómica.

Estudo dos grandes agregados económicos – resultados dos processos produtivos todos
combinados, numa escala nacional e lógica de valores agregados.
 Aspetos cuja compreensão deve ser em massa
 Fenómenos sujeitos à lei dos grandes números
 Agregados entendidos a nível geral. Ex: no meio das árvores vejo árvores; se estivesse acima via as
árvores e que era uma floresta

Resposta intelectual à Grande Depressão dos anos 30


 Contexto de quebra de consumo

Lei de Say: tendência para o reequilíbrio automático



Keynes: analisou o contexto de crise, negando a mão invisível34 e pôs em causa as teorias dos
ciclos económicos (lógica fatalista de inevitabilidade)
Legitima a intervenção do Estado – com um suporte técnico bem estruturado35
 Intervenção Temporária: enquanto o mercado não se regenerasse (circunscrição
temporal)
 Pode existir défice e o Estado deve endividar-se nestas alturas de crise. Não como hoje
em que os Estados funcionam sempre em endividamento.
o Lógica de contraciclo – endividamento nas crises; recuperação e acumulação
nos períodos sem crise.
o Utilização da política fiscal com finalidade de obtenção de resultados
económicos.

Efeito multiplicador e Efeito acelerador – relação entre investimento e rendimento nacional


 Se houver investimento de 100 e no final há 1000, há sempre na economia um efeito
multiplicador.
o Estímulo da procura agregada – gera despesas e re-despesas
o Nas crises o Estado deve substituir-se aos privados e investir.
o Parábola da Garrafa: até as tarefas inúteis têm efeitos económicos positivos

Samuelson (pós-Keynes, anos 50): Síntese neoclássica – arsenal de modelos matemáticos e


estatísticos para suportar muitas estruturas.
Reação das Teorias Monetaristas (associadas ao neoliberalismo)
 Única intervenção legítima do Estado é na massa monetária – feito com previsibilidade
(determinado)
o Política monetária do BCE – garantir a estabilidade dos preços, controlando a
massa monetária.

34
Mesmo “que a bonança venha depois da tempestade, não é razão para aceitarmos passivamente a
tempestade”
35
Políticas keynesianas num contexto de economias fechadas.

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Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

Curto Prazo e Longo Prazo


Contexto de curto e longo prazo produzem decisões diferentes – planos de análise diferentes pois
o longo não é o somatório dos curtos.

 Longo Prazo: análise estrutural;


 Curto Prazo: análise conjetural – relevância prática da ciência económica pois equilíbrios
eventuais de longo prazo não são soluções nem resposta para os problemas reais que
ocorrem no imediato.
Macroeconomia orienta-se para a compreensão e correção das decisões do curto prazo. Keynes:
“no longo-prazo estamos todos mortos” – as soluções devem ser dirigidas para o curto-prazo.

Flutuações
Perspetiva analítica contextual – perturbações de curto-prazo que contrariam a tendência (do
longo-prazo36)
 Medida única das flutuações: PIB – valor de todos os produtos transacionados ao longo
de um ano.
PIB Nominal: calculado pelos preços correntes – pode não se alterar a quantidade
transacionada dos produtos mas sim os preços, que vão variando. Variação em temos
monetários e calculado a preços correntes.
PIB Real: calculado pelos preços constantes – valor ajustado à inflação. Deduz-se
acréscimos monetários. Conjuga-se preços e quantidades transacionadas – avalia-se por
preços de um ano-base. Variação da produção em temos físicos e calculado a preços
constantes.

Fases de Expansão, Transição e Recessão (quebra do PIB real em 2 trimestres sucessivos –


economia a abrandar como um todo)

Procura Agregada e Oferta Agregada


Interação de planos Real e Nominal.

1. Relevância do curto-prazo – Perspetiva de flutuações (diferença entre PIB potencial e PIB real)
Keynes: maior relevância da procura agregada que da oferta
 PIB Potencial: quantidade máxima de bens e serviços possível de produzir tendo em
conta os recursos existentes – alcance máximo da expansão da economia. Relacionado
com o PIB real, até que ponto está próxima ou afastada do seu potencial produtivo. É
evolutivo – FPP ao nível agregado (pode expandir – natural; ou retrair – ex: guerras)
Abel Mateus: a economia portuguesa está a aproximar-se perigosamente do PIB
potencial – que reflete a própria evolução tecnológica da sociedade (por onde ela cresce
e se expande)
 Taxa natural de desemprego: desemprego de pleno emprego – em relação ao fator
trabalho é impossível toda a gente estar empregada – há uma massa de trabalhadores
entre emprego e desemprego (emprego ficcional). Haverá sempre algum nível de
desemprego que convive com o pleno emprego, onde há aproveitamento máximo de

36
Tendência do crescimento das economias – perspetiva estrutural do longo prazo. A longo prazo a
economia tenderá para equilíbrios e no curto prazo é que há disparidade entre PIB real e PIB potencial,
taxa efetiva e taxa natural de desemprego.

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Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

recursos – 0% seria imobilizado no tempo e no espaço (numa economia dinâmica há


empresas a serem criadas e outras a desaparecerem).
Difere da taxa real de desemprego37.

2. Não neutralidade da moeda – instrumento geral de trocas, medida comum de valores e reservatório
de valores.
Existência de mais ou menos moeda em circulação altera perceções e incentivos dos agentes
económicos.
 Moeda tem papel determinante no condicionamento de incentivos básicos de
produtores e consumidores.
o Pode estar a transacionar-se a mesma quantidade de bens, mas a preços mais
elevados – havendo impulso da procura.
 A manipulação monetária, da quantidade oferecida, tem relevância real e é suscetível
de provocar mudanças – valores nominais têm que se adaptar.
o Flutuações podem ser devidas a perturbações que a utilização de moeda induz
na perceção dos agentes dos valores reais que envolvem as trocas (através do
instrumento nominal – moeda).

3. PIB pode enganar-nos com as suas variações nominais e deve ser corrigido de forma a chegar
a uma variável nominal.
Índices de níveis gerais de preços
A. Deflator do PIB – variação média do preço de todos os bens e serviços: vê-se apenas o
que variou ao nível do preço
B. Índice Preço do Consumidor (IPC) – cabaz de bens que corresponde a consumos típicos
da generalidade dos consumidores (ex: não entram iates de luxo pois não são
expressivos na variação do preço)

𝑽𝒂𝒍𝒐𝒓 𝒄𝒂𝒃𝒂𝒛 𝒏𝒐 𝒂𝒏𝒐 𝒂 𝒄𝒐𝒏𝒔𝒊𝒅𝒆𝒓𝒂𝒓


Índices de base deslizante38 IPC = x100
𝑽𝒂𝒍𝒐𝒓 𝒄𝒂𝒃𝒂𝒛 𝒏𝒐 𝒂𝒏𝒐 𝒅𝒆 𝒓𝒆𝒇𝒆𝒓ê𝒏𝒄𝒊𝒂

201439 2015

Valor Cabaz 5000 5150

IPC 100 103

37
No longo-prazo a taxa efetiva e a taxa natural de desemprego vão coincidir – razão dessa previsão é a
coincidência do PIB Potencial e do PIB Real
38
Daqui calcula-se a inflação que é a diferença entre um e outro. Também se calcula o PIB nominal. Variação média
dos preços tendo em conta os bens do cabaz.
39
2014 é o ano de referencia logo tem base de índice 100 (pois 1/1 x 100 = 100)

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Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

Procura Agregada
Tudo o que é despendido sob várias formas no mesmo intervalo de tempo e no mesmo espaço
nacional
Correlação inversa preço-quantidade – resposta em termos de quantidade procurada de PIB às
variações dos preços.

Engloba:
1. Consumo – bens e serviços que satisfazem necessidades finais;
 Efeito de Pigou: preços aumentam, há menos rendimento disponível, logo há
menos procura e menor quantidade consumida. | Descida nível de preços,
aumento riqueza dos detentores de moeda (adquirem mais bens e serviços),
aumenta bens de consumo
2. Investimento – capital (necessário para a satisfação final);
 Efeito de Keynes: preços aumentam, procura de moeda aumenta (com a
mesma quantidade de moeda fazem-se mais transações), menos moeda nos
bancos, taxas de juro mais altas, investimento diminui. | Descida nível de
preços, aumenta consumo e investimento, reserva-se parte para investimento,
aumentam fundos no mercado, diminuem as taxas de juro (muita gente usa
contas à ordem, o juro baixa pois há muito, se não houvesse, os bancos
aumentavam o juro para as pessoas depositarem e eles terem moeda)
3. Exportações líquidas – consumo do exterior, relação entre a exportação e a importação
 Efeito Mundell-Fleming/Efeito Cambial: preços aumentam, investimento
diminui, moeda menos atrativa (os investidores preferem investir noutro lado),
desvalorização da moeda, maiores exportações (pois com menos dinheiro
adquirem mais) | Diminui nível de preços, aumenta consumo e investimento,
diminuem taxas de juro, há incentivos a fugas de capital para taxas de juro mais
apelativas, moeda estrangeira valoriza-se (atrativa de capitais), moeda nacional
desvaloriza, exportações são mais facilitadas aumentando e importações
diminuem.
4. Despesa pública – de consumo ou investimento;
 Não tem efeitos associados pois não é típica nem previsível – depende de
opções políticas e tem pouco peso.

Deslocações ao longo da curva: resposta a variações do preço;


Deslocações da curva: resposta a qualquer outra razão que não o preço
 Contrações e expansões ditadas por outros fatores e derivam da decisão dos
consumidores face à alteração dos seus hábitos de despesa (desemprego, expectativas,
investimento tecnológico) + decisões políticas (em relação a impostos, despesas
públicas diretas) + efeitos externos (a partir do contexto internacional, variações
cambiais, aumento ou diminuição do rendimento nos países estrangeiros).
o Expande-se quando expetativa de aumento de rendimentos futuros, aumento
dos lucros, quebra de impostos e taxas de juro, aumento massa monetária,
aumento despesa pública, quebra das moedas estrangeiras.
 Em espelho, retraem.
o Se estiverem encostados ao pleno emprego não se expandem.

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Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

Oferta Agregada
Tudo o que é produzido no espaço nacional durante um intervalo de tempo.
Correlação direta preço-quantidade.
Longo Prazo: variável nominal não interfere com a real – reta vertical
 Independentemente do nível de preços as quantidades não se alteram -> PIB real
coincide com o potencial logo não há desperdício de recursos e uma economia está no
máximo e produz sem desperdícios.
o Oferta absolutamente inelástica – está no máximo da sua potencialidade (em
cima da FPP e a Economia não reage – situação em que há taxa de desemprego
natural)
o Se algo acontece (influências internas ou internacionais) e a FPP se expande,
tenderá para essa verticalidade no longo prazo (situação de bloqueio).
Curto Prazo: há disparidade entre o nível e preços que vigora e o que corresponderia a
expectativas dos agentes (não há neutralidade da moeda – preços aumentam, maior quantidade
oferecida)
 Ilusão monetária: perceções equivocadas (Pigou) – variação do nível geral dos preços
induz os produtores a aumentarem a quantidade produzida (percebem que o preço
aumentou e isso incentiva-os a produzir mais para aumentarem a sua margem de lucro).
Antes de se aperceberem que os preços dos fatores também vão variar (rapidamente a
margem de lucro deixa de existir).
 Viscosidade dos salários: teoria dos salários rígidos (Keynes) – ao contrário da
adaptação rápida, o enquadramento institucional do preço do trabalho demora mais
tempo a ajustar-se. Preços baixam, produtor não pode baixar salários (convencionados
contratualmente e estabelecidos médio ou longo prazo), têm que suportar esse custo
prescindindo de outros recursos, o que vai diminuir a produção.
 Viscosidade dos preços: teoria dos preços rígidos – às vezes os preços também são
difíceis de ajustar e há custos de ajustamento. Podem ser custos tais que preferem
manter os preços, única forma de ter lucro é vender mais, logo a quantidade oferecida
vai ser maior. Ex: no supermercado teria que se alterar muito rapidamente as etiquetas
de todos os bens e todo o sistema por detrás do código de barras.
Os choques schumpeterianos40 são responsáveis pelas expansões da curva da oferta.
A expansão da oferta implica que se vai transacionar maior quantidade a preços mais
baixos.

Contração da Oferta e Estagflação


Choques exógenos pode fazer retrair a curva da oferta, que interceta a procura num ponto que
corresponde a uma quebra generalizada de produção e aumento do nível geral dos preços:
combinação de recessão e inflação – estagflação.
 Conjuga inflação e desemprego – contra o crescimento económico. Surpresa41 nos anos
70 devido ao crescimento dos “30 anos dourados”

40
Ênfase no paradigma tecnológico em que se trabalha e incentivo a inovar para se diferenciar da
concorrência e ter lucros extraordinários.
41
Keynesianos concebiam os problemas 1 de cada vez. Não viam retração da oferta agregada como uma
verdadeira possibilidade – que veio de um fato externo (crise da OPEP que racionou o petróleo a exportar)
e diminuiu a oferta

30
Sebenta Economia II – 2015/2016 DNB

 Esperavam que vencidos erros e viscosidades o efeito real da recessão desaparecesse


no longo prazo e a oferta agregada recuperasse.

Soluções:
1. Estado ajuda a resolver do lado da procura42 – demand side economics (Keynes) – dão
dinheiro à procura agregada e com isso estimula-se a oferta (aumento produção -> emprego de
fatores -> menos inflação)
Critica de que ao estimular procura criam inflação e que pode levar a uma situação de
subsistência no longo prazo de uma solução de inflação.
2. Incentivos do lado da oferta – suply side economics – não com dinheiro mas com criação de
redes de infraestruturas, desregulamentando: criação de conduções para uma maior produção
e menor inflação

Modelo da procura e oferta agregadas


Cruz Marshaliana
Chegamos às variáveis através do PIB real e do PIB nominal.
 Preço = PIB nominal -> IPC e Deflator
 Quantidade = PIB real

Interceção curva procura agregada e curva oferta agregada (preço e quantidade) num ponto de
equilíbrio (combinação no ponto IPC-PIB)
No longo prazo o nível de produção é dado pela oferta e no curto prazo pela procura agregada.

Objetivos da política keynesiana é abater as flutuações de curto prazo: Hiatos de


Produto/Output Gap
 Hiato inflacionista – PIB real acima do potencial:
aumento da curva da procura agregada mais rápido
que a expansão da curva da oferta (ponto de equilíbrio
acima ao de pleno emprego). Economia a funcionar
além das suas possibilidades.
 Hiato deflacionista – PIB real abaixo do potencial:
aumento da curva da procura mais lento que a
expansão da curva da oferta (ponto de equilíbrio
inferior ao de pleno emprego). Economia a funcionar
aquém das suas possibilidades.

O que determina estas flutuações é o facto de os agentes económicos não se adaptarem


instantaneamente ao potencial produtivo que, em cada momento, uma economia representa.
Solavancos de inflação e deflação.

42
Influência da procura é muito mais decisiva em termos de política macroeconómica: decisões políticas
tendem a centrar-se na gestão da procura agregada (mais consumo, incentivar investimento das
empresas) -> aumento do rendimento das famílias que vai despoletar crescimento económico.

31

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