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Sobre uma Experiéncia Pessoal com W. R. Bion Liz Alberta Py ‘Meu primeiro contato com as idéias de psiquistrice ¢ montar colegas, um con! ia para a Sociedade de Psica le conhecimentos que me per: nitisem trabalhar de forma competente, Du: ante oda, eu me encontrava com pessoas que ‘onfiavam em mim, que iam ao meu consultb- Sociedade de Psicanzlise, a moradia, alimen: ‘ado e tudo 0 mals. Eu tinka muito interesse em ofrecer umn bom servigo a essas pessoas. primeiras lies de psicandlise me Psicanasta sso parece Sbvio, mas, com otex- ’o, fai descobrindo que no era bem assin, Ea estudava, lla muito, prestava atengio nas au las, aprendia a evolugio do pensamento fre zendo. Freqientemente me pergur poderia fazer para perceber 0 que era incons- ciente para meus clientes. CCostuma me sentir como te estivesse ten tando ebater uma bola, como um jogo de te ‘ou pingue-pongue. O cliente falava,e eu procu ava responder com uma interpretagio, Aid fea que as interprtagées com que retructva ‘mos a fala do analisando seriam curativas ~ como se fossem uma medicagio - desde que ‘tomssemos consciente ose inte, ten ddo como referencia sistem fica a transferéncia ‘Aransferdncia, eico de nosso wabalho, era entendida como a possibilidade de referenciar ‘Wédico-psicanaise didata da Sociedade Brasliza de Psicanilise do Rio de Janeiro, 56 oawoe.zivemun & pessoa do analitta tudo ou quate tudo que o cliontefalasse durante e sessio. Assim, se dis: sesse, por exemplo, que se sentia roubado pelo guardador de carr que The cobrava muito caro, \doveriamce responder - interpretar~ que exts ‘vase sentindo roubado por nés, Se dissesse que pretendia enganar o guardador, deveriamos en tender e interpretar estava querendo nos enga nar Se dissesse que estava com raiva da namo- rada que no o compreendlia, deviamos lhe di 2er queele estava com raiva do analista porque achava que nfoo compreendia.E, principalmen. nocessariamente & relidade psiquica de meus clientes. O mais diffi era suportar o sentimen: to de ridiculo que me impartunava permanen: temente,além de senti eadavez com mais la reza, que essa atividade pouco os ajudava, Foi quando se mudou para So Paulo 0 psicanalista inglés Frank Philips, diseipulo de ion, Sua chegada efetuou uma radic: Tormagéo em meu deser sistir @ alguns semindrios com Philips, proc tei-o para supervisio, encantado com a abor Philips me deu uma outra idéia do fen’- meno transferencial, Mostioume que, de acor- do com o pensamento de Bion, sempre havia uum clima emorional presente entre duas pes soas que encontravam regularmente sozinhas Nossa tarefa como a clementes derea relaga seria perceher of fe, Sua proposta era entender o signifi ‘ado do encontro entre o analista e seu anali- sando. Aprondi com Philips que a observacio da transferéncia nfo era meramente uma teans- posiglo direta do diseurso da analisando para a relagio analitica, ms ‘ouvir as mot vvagBes que levariam nosso cliente adizer cada palavra e tomar cada aitude, em cada momen. to especifico da sesso de anslise. Ou seja, em verde entender que nosso cliente se sentia rou bbaulo por nés pelo merofato de chegar no con jo s2 queixando do carro, tentariamos entender 0 que o levava a optae por fazer tal queixa em vez de qualquer outra coisa que ppoderia estar dizendo. A pergunta que passe 8 me fazer era: “O que sera que faz com que esta pessoa saia de sua casa para vie agai me falar de sua carros que ela acha que et Quando passei a prestar atengio nesses aconteceram coisas suspreendentes ‘a perceber qua au © Raion perguntvamos: “0 que estamos fazendo aqui?” “O que real mente esth aeontecendo entre n5s2”, Descobri que no sabia o que estava far ‘endo em meu préprio consultétio. Percebia «que tinha uma infiuéncia na vida de meus cien- tes, que eles, como eu, nio sabiam bem qual cra, mas mostravam estar valorizando, pois voltavam as sessées, rabalho com meus a A fenendo aqui 6 saudavel?” Aprendi que Bion questi isto com que n6s, analis pusme ame despir da postara autoritiia € denuuncié-la aos meus clientes, ques- mnando sua tendéncia a aceitarem de forma ssubmissa meu pretenso saber sobre seus in- conscientes. O resultado dessa mudanga em ‘minha pestura trouxe uma dificuldade para meus clientes, pois privowos do recurso de fe entregarem para mim e dizerem para si rsabilidade de a jo era algo v (quando uma pessoa toma um Gita que aqueles dois comprimidos que o dou. tou vao fazer com que ele fique bom. ‘com que os a indos iam paraa praticava uma mégica que funcionava razoa- , gragas & autosugestio dos clien- ccomecei a quest ana andlise,ocorreu uma interessante trans- ormagio: eles passaram a assumir a respon lade de sepatar 0 joio do tigo tiode como analistafezia para analis ‘ equipamento utllizado por ele e com poricionava ante sex: Dique era importante para evolusi trabalho que eu vol lugdo em vez de simplesmente me dedicar a estudar a mente doente de meus clientes. Data dessa época minha ojeriza pela idéia de cha mar os analisandlos de “pacientes” eo trabalho afimaava que a terminclogia médiea havia con- taminado negativamente a psicandlise Durante uma sessio com uma paciente, ‘ex respondi a algo qn falar dizendo: mais. Mi aqueci oi eu: “Vocd sugere.”eme respondeu reendente entusiasmo: “Ah! Fu sugi- Jocé aha cue eu estou sugeriad? At ue eu até poderia te dizer mais HloN-paTeoRAAPRATICN ST Iitico, Ou soja, em vez de passivamente fore ‘eebi que podia contar com a colaboragao de ‘mus clientes, Eles nfo eram meros fornece- ores de material, eventualmente poderiam ddesempenhar o papel de psicanalistas. E mais, ‘compreendi que a psicanslises6 seria bem-su ccedida na medida em que eles fossem capazes de desenvolver sua capacidade psicanalitica, a ceapacidade de interpretarem o que sentiam. Dito de outra forma: em ver dec cliantes ape rnas contarem seus soaho, eles, estimulados por minha nova postura, passaram a contar 0 sonho e suas interpretagoes, suas opinides so- bre ele. [ss0 certamente era muito stil pars becas, Parece dbvio, mas me custou muito tem- pode esforgo, de trabalho, de sofrimento. Na 0s e psicéticos, Achei que fazia sentido mededicar aalgo {queme ajudaste a fancionar melhor como.ana- em ver de tentar acumular co- na esperanca de queisso profissional, entendi que dar atengio a0 processo de podia ser m fo mentre aparece’ {que meu compromisso devia sar parar para ser uma pessos mais bem eapacite 58 canbe. zimenman 6 que me lembra da hora que ext tenho que vir para ci, Eu sou uma pessoa muito bi me esquego das col da hora da costurei ii pensando o que dizer... lembra- lembrar nao lembra, ela esta precisando que lembrasse as coisas pra ela, que.eu era que ". Mas nesse momento eu estava ji ido da idéia de no me agarrar & primei- rpretacio que me ocorresse e me permi- rocurar um pouco mais e esperar. Real- afta, angustiada por estar ali comigo. Flat aha que me falar qualquer coisa para nfo ficar fem siléncio, para nés nao ficarmos em silén- idade a ela, Eu Ihe disse que achava que ela sentia necessidade de dar umna funcio, lade para mim espondeu: “Ah! Isso é birutice sua.” Respondi: “Quando eu ndo cumpro a fun- que vocé quer dar para mim, ou sea, a de © aos poucos ficou claro que aquela situagao psicanalitica era muito dificil para ela supor diferente, as joyens deveriam se irgens até o casamento, Ela recebera tedo um aprendizado de que essas emogoes sissem ali, iam ser mui ela, la ndo deixava surgit Fomos capazes, a partir de entao, de conversar sobre essas ques tes, Algo que era um empe tho se tornou uma forga a pois, a0 ver essas coisas ‘como uma melhor compreensio do que se pas: sava dentrode si mesma he taziaalivio, Tam- bém foi um progressoa diminuigao de sua pro ‘ocupagio e tensio em relagio is questées se- uals. Cada vez mais en percebia que tinha a capacidade deme deixar abandonar eque con twula alguma coisa a partir daquela situagio de descontragio, de relaxamento, Assim lindo wma postura pessoal como psica- Percebi que estava num bom camino, fabalho melhorou de qualidade, e os ‘que, na década de 50, Bion es- crovera uma série de artigos sobre andlise de psiedticos e desenvolvera idéias bastantes ori ginais sobre a origem do pensar. Descobri que nos limos ance vinha se dedicando a uma reflexdo sobre a atividade do analista, Era um ‘enfaque nave, Bion oprava por dar atengio aos processos mentais do analista em vez de estw- dar os processes mental sando, como mandava a tadigéo psicanall que, para poder melhor 0 analista devia tenta ativamente se abster delangar mio de sua meméria e procurar ev sando. Ele alirmava que nosso desejo cbscure- ia nossa capacidade de parceber as sutilezas de sigificades contidos na comunicagio (ver: ‘al ou corporal) do analisando, e que de seus proprios sentimentot libertav lista para melhor observar a realidade ps cade seu cliente, A cxperiéncia de tentar evitar desejo e meméria durante o trabalho era fascinante. Meu treinamento tinha sido no sentido de pro- curarlembrar o que acontecia em cada: as anteriormente, A propesta de Bion tava o analista de tais preocupagies, Ele co eatava que a meméria tem um cardter de per sovas percepgoes, © que ajudaa perceber oque fea cada momento na relagdo emocional entre analista e analisando. Aomesmo tempo, Iibertar-se do desejo significa estar live para poder apreciar 0s acontecimentos sem se sen- fir obrigado a intervir. Deixando a meméria (0 passado) € 0 desejo (0 futuro) de lado, eu por ‘me coneentrar em viver plenaments 2 ss analtica (0 presente). Bion afirmava que s6 podemas nos encontrar com nossos noagui e agora de eada momento de sho, pois 0 passado jé ndo existe, e 0 futuro ainda nio chegou. (© mais importante para mim, no entan bom ser humano tem melhores possibilidedes de ser um bom analista do que um erudito. Nossa meta seria em primeiro lugar a sabedo- ria, e nd0.0 simples saber Essa preocupagio com o ser do analsta, fem vez do seu saber, eu ja havia encontrado antes em um analsta argentino. Emilio Rodrigué esceevera sobce a “cozinha” da interpretasio, interessadono processo de funcionamentomen- tal do analista que o toma mais apto para diver algo proveitoso para seu cliente. ‘A partir de Bion, o proprio conceito do ue seria proveiteso de ser dito para meu cliente passou a ser mais e mais complexo. ‘Acs poucos, fui levado a questionar todos os G40 ou ficarealado. Na época, 20 ser indaga- do por um colega sobre que leituras psicana- BION DATEORAA primica 59 Titicas eu recomendava, respondi aconselhen- do Dostoiévski e Shakespeare. Em 1973, Bion veio pela primeira vez 20 il, tendo proferido uma séiie de oito pa Bi lestraz em Sa0 Paulo. Seu contato inicial com ‘os brasileiros dou-se através de uma fébula, disfarceda de relato hist tério Real de Ur ‘como “O Pogo da Morte’, e li, ssuas melhores roupas e adornados de rica as, tomaram uma droga em pequenos copes, que depois foram encontradas junto a cada corpo. Quatracentas anos depois, sem qualquer publicidade, a tumba foi saqueada. Diz Bion ue esse assalto foi um ato de eoragem, pois 0 lugar estava santificado pela morte e pelo en real, Segundo ele, o jatronos do método cient ‘que guardavam a tumba. Dos variados simbolos dessa pequena his- t6ria, que inclui mortes, maldicées, drogas, religicsidade, etc, Bion utlizoucs sacueadores para enfatizar seu ponto de vista de que os ps ‘canalistas precisam de coragem para se apro- ‘ximarem de seu objetivo, oinconsciente, guar dado por miltiplos e terveis fantasmas. {de como umassunto fecindo. Adiante, na mesme conferéncia, Bion rossegue: Em cada consult, deveria mats preci- ‘o paciente¢ 9 pricnalista. Se néo fo, entiaseria o care de se perguntar

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