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Uma Mãe para A Herdeira Do Bilionário - Renata Gon
Uma Mãe para A Herdeira Do Bilionário - Renata Gon
A vida de Gabriela nunca mais foi a mesma desde que passou por
uma cirurgia de retirada de útero, que a deixou impossibilitada de
conceber um filho. Enquanto ela lida com as emoções e os desafios dessa
jornada, o destino reserva uma surpresa: o encontro com Bernardo, um
homem que carrega suas próprias cicatrizes emocionais.
Bernardo, por sua vez, carrega a dor da perda de sua noiva, que
estava grávida quando tragicamente faleceu. Desolado, ele decide fazer
uma vasectomia, acreditando que nunca mais terá a chance de ser pai.
Entretanto, o destino os coloca frente a frente, e a pequena filha de sua
falecida noiva se torna um elo inesperado entre eles.
Há nove meses, Laís descobriu que estava grávida de seu grande amor.
Tudo aconteceu tão rápido e, ao mesmo tempo, foi lindo. Ela já sonhava com o
vestido branco. Por decisão dos dois, resolveram se casar, mas o sonho seria
realizado próximo ao nascimento do bebê que já era tão amado. Faltando um
dia para a chegada do bebê, eles se casariam e passariam a lua de mel no
hospital, aguardando a chegada do novo membro da família.
— Ainda acho isso uma loucura. Você está com apenas três meses de
gestação. Por que esperar tanto tempo? – perguntou a mãe de Laís, indignada
com a decisão.
— Mãe, eu quero passar minha lua de mel com ele e nossa filha. Então,
chega desse assunto – respondeu Laís, encerrando a conversa.
Bernardo mimava a noiva mais do que tudo, prestes a se tornar pai e CEO
da empresa da família, uma grande empresa de tecnologia, o mesmo lugar onde
ele conheceu a tão sonhada namorada.
— Sua pressão está alta. Controle o consumo de sal, ou poderá ter sérios
problemas na gestação – alertou o médico.
Laís saiu de lá com a cabeça cheia de preocupação. O que ela faria para
não prejudicar o bebê?
Meses depois, chegou o grande dia. Após enfrentar dias difíceis com a
pressão descontrolada, Laís finalmente se casaria e logo seguraria a pequena
Brenda em seus braços.
— Ligue para o Bernardo e diga que não estou me sentindo bem – insistiu.
— Onde ela está? O que está acontecendo com minha noiva? – perguntou
Bernardo, em estado de choque.
explicou o doutor. Bernardo caiu de joelhos no chão, o choro era mais forte do
que ele.
— Conseguimos salvar sua filha. Ela está na UTI neonatal, mas poderá ir
para casa daqui a três dias – O médico se afastou, deixando a família desolada.
— Quando Brenda completar cinco meses, poderá assumir, mas até lá,
cuide de sua filha. Nada faltará para você. Você é um homem privilegiado, filho –
— Como pode dizer isso depois do que aconteceu? Eu perdi minha mulher
– disse o filho, indignado.
— E ganhou uma filha. Não reclame da sorte, filho. Existem pessoas que
passam por coisas muito piores e ainda mantêm a cabeça erguida – concluiu o
pai, enquanto o filho se afastava, deixando-o falando sozinho
Capí
tulo 1
Dez anos depois
— Filha, coma devagar, ou vai acabar como eu, com câncer no intestino –
— Eu tenho que ir, vou pegar o ônibus ainda, pai. Qualquer coisa, me ligue.
– falo pegando meus livros que estavam em cima da mesa.
— Está bem, estou atrasada. – dou passadas largas até o ponto de ônibus.
— Atrasada de novo?
Seu Francisco é amigo do meu pai. Ele sabe o que enfrento todos os dias
para estar aqui de pé pela manhã. Eu não conheço minha mãe. Ela foi embora
quando eu tinha dois anos. Papai foi quem me criou. Estou com vinte e três anos
e não faço mais questão de conhece - la. Até agora, isso não me afetou. Depois
de uma hora no ônibus, finalmente chego à escola. Dou aulas em uma escola
particular. A mãe de uma amiga me arrumou esse trabalho. Não é o trabalho dos
sonhos, mas pelo menos não passamos necessidade.
Xingo.
Ela entra na escola e o carro se vai. Entro na escola também e vou para a
minha sala. Hoje de manhã, tenho duas aulas seguidas de biologia e, depois,
uma de física. À tarde, tenho que fazer o cronograma escolar. Hoje o dia será
longo.
Vejo a menina que chegou no carro que passou bem perto de mim.
— Você?
— Eu?
Pergunto.
— Muito prazer, Brenda. Meu nome é Gabriela, e vou dar aula de biologia
e física para você. Espero que se sinta bem aqui conosco. – falo e volto a ficar
atrás da mesa.
— Sentiu - se bem?
Pergunto.
— Sim, foi uma das melhores aulas que já tive. – ela fala animada.
— Você...
Ela me interrompe.
Terminei minhas aulas e fui para a sala dos professores. Meu celular
começou a tocar, peguei rapidamente com medo de ser algo relacionado ao meu
pai.
— Passe aqui quando estiver indo para casa. Vou levar um bolo para o meu
pai e te dou carona.
— Sua idiota.
— Tchau, beijo.
Desligo o celular assim que vejo o professor Samuel entrar. Ele é muito
bonito, mas infelizmente é casado. Fazer o quê se os melhores partidos são
casados?
Olho para o relógio e já passa das duas da tarde. Meu estômago reclama
da falta de alimento. Já perdi três quilos em uma semana e meia. Não tenho me
alimentado bem. Meu pai não sai da minha cabeça, e isso tira meu apetite.
Tenho tanto medo de receber a notícia de que ele se foi. Como não consigo
pagar alguém para cuidar dele, minhas vizinhas me ajudam. Maria sempre está
lá, preparando a comida para ele, e a Nice me ajuda com a casa. Dou aula três
vezes por semana de manhã e duas vezes por semana à tarde. Amanhã será à
tarde.
Termino o que estava fazendo, junto meus materiais, pego minha bolsa e
saio da sala dos professores.
— Cheguei – aviso.
— Até que enfim. Pensei que tinha ido embora – ela fala vindo me abraçar.
— Você sabe que eu nunca iria rejeitar essa carona – ela me olha feio e
depois sorri.
— Nossa, amiga, cadê aquele corpinho seu? Está ficando muito magra. –
Fui líder de torcida por dois anos seguidos, mas saí quando descobri minha
doença. Felizmente, meu caso teve cura, mas meu pai não teve a mesma sorte.
Ainda espero por um milagre.
—Vamos?
Falo, desviando meus pensamentos para algo melhor. Não gosto muito de
pensar sobre meus problemas passados. Isso não vai afetar minha vida. Sempre
penso nisso quando acordo.
C
apítulo 2
Chego à empresa e entro. Todos os funcionários fingem que não me veem
e sigo para o elevador. Ele se abre e duas funcionárias saem gargalhando. Assim
que me veem, elas param de rir e desviam o olhar. Entro no elevador e aperto o
botão do vigésimo andar. Leva alguns minutos até a porta se abrir.
A interrompo.
Tiro meu paletó, afrouxo a gravata, pego o uísque e sirvo uma dose no
copo. Sento na cadeira atrás da mesa e ligo o computador.
— Pode sair, Ester. — Meu irmão fala por trás da garota assustada.
— Evitando que você faça besteiras, seu infeliz. — Meu irmão me enfrenta,
e a garota sai correndo da minha sala.
Esbravejo.
— Meu querido irmão mais velho e mais sem noção. A garota não fez nada
para você descarregar sua raiva nela. — Ele fala e senta na cadeira, ficando de
frente para mim.
— Deveria procurar alguém, isso deve ser falta de sexo. — Ele fala, e eu me
sento na minha cadeira.
— Eu não sou como você, seu pervertido. Agora saia da minha sala, que
tenho muito o que fazer. — Ele faz pouco caso.
Bruno fica ali como se eu não tivesse dito nada. Às vezes, o jeito dele me
irrita muito, mas finjo que ele não está aqui. Não preciso de mais um motivo
para ficar com raiva pela manhã.
Ele fica até dizer que está com fome e vai embora. Quando já passa das
onze e meia, saio para almoçar.
O garçom logo traz a conta. Pago e saio dali. Fica um pouco longe da
empresa, mas gosto de caminhar até aqui.
Chego à empresa e vou direto para a minha sala. Como sempre, todos vão
embora, e eu fico sozinho na sala. As luzes já foram apagadas, exceto as da
minha sala. Continuo digitando o formulário de inscrição para novos aprendizes.
Aqui na empresa, temos um programa para contratar cinco novos aprendizes.
Fazemos isso uma vez por ano e temos vagas para vinte pessoas, mas apenas
cinco serão selecionados para trabalhar aqui. Eu adaptei essa ideia na empresa e
achei muito boa. Há muitas pessoas inteligentes que não são reconhecidas.
Vou para o meu quarto, tomo um banho e deito na cama usando apenas
uma cueca boxer. Logo adormeço.
Capítulo 3
Já faz um mês desde que Brenda entrou na minha turma, e ela está
se adaptando bem. Agora ela se tornou minha amiga. Meu pai teve uma
piora recentemente e está no hospital. Então, tenho alternado meu tempo
entre a escola e o hospital. Hoje, temos uma reunião de pais e professores.
Ele sai e fecha a porta. Respiro fundo e fecho o notebook que ganhei
de presente da Sandra.
— Ótimo. Não pago tanto nessa escola para que ela tenha um
desempenho ruim. — Ele fala de forma arrogante.
Merda.
Chego em casa e vou direto para o banheiro. Hoje não terei tempo
de visitar meu pai antes do trabalho, mas à noite, vou dormir lá. Hoje vou
trabalhar à tarde e amanhã será no turno da manhã, então já levo minhas
roupas e fico lá mesmo.
— Ai, pai. Espero que você me dê esse trabalho por bastante tempo
e forças para continuar. — Falo, pegando as roupas que vou levar para o
hospital.
Sorrio.
— Vai dar tudo certo, menina. Agora vá, filha, para o seu trabalho. —
mando um beijo para ela e sigo para o ponto de ônibus.
Maria se tornou uma mãe para mim. Ela esteve ao meu lado nos
momentos mais difíceis, assim como Sandra, que sempre me apoiou.
Maria não teve filhos, seu marido era estéril, e eles não conseguiram
adotar uma criança porque não tinham uma boa casa e uma renda
suficiente. Seu marido faleceu há cinco anos. Ele trabalhou por trinta anos
em um frigorífico, enquanto ela cuidava da casa devido a um problema na
coluna. Quando minha mãe me abandonou com meu pai, que era
mecânico na época, ela se ofereceu para cuidar de mim enquanto ele
trabalhava. Ele não ganhava muito, mas conseguia pagar um pouco a ela
com parte do seu salário. Geralmente, ele pagava em alimentos, pois era a
forma como ela aceitava.
Ela e seu marido faziam as refeições na minha casa, e era assim que meu
pai se sentia bem, sem achar que estava devendo algo a eles.
— Tudo bem. — ainda bem que ela não levou isso a sério, embora
ela pudesse considerar o aumento. Mas isso não depende dela, e sim do
governo.
— Mas, senhor...
Ele vem até a porta e a abre para mim. Coloco meus óculos escuros e
desço do carro, arrumo meu paletó e respiro fundo. Ouço algumas
mulheres suspirando ao olhar para mim.
A interrompo.
— Ela com certeza tem grandes chances de se sair tão bem quanto os
outros. Ela é muito esforçada e inteligente. — ela fala sem graça.
— Ótimo, não pago tão caro nessa escola para ela ter um péssimo
desempenho. —falo arrogante.
— O que falou?
— Falei que é ótimo ver um pai preocupado com a filha. — ela faz
um sinal engraçado com as mãos.
Fico olhando para ela de cima a baixo. Não consigo evitar ter
pensamentos impróprios sobre ela. Não vi nenhuma aliança em seu dedo.
A diretora encerra a reunião. Antes de sair da sala, consigo ouvir a
diretora chamando o nome dela. Saio da sala e fico observando-a de longe.
Nossos olhares se cruzam e ela rapidamente desvia o olhar.
Durante o dia, comi apenas uma barra de cereal. Tive duas reuniões
por videoconferência. Quando a última reunião acaba, desato o nó da
gravata, respiro fundo e me encosto na cadeira. Aquela mulher ocupou
meus pensamentos o dia todo. Desde a morte de Laís, nenhuma outra
mulher teve espaço em meus pensamentos. O que há de diferente nela?
Apesar de as duas terem alguma semelhança, com cabelos castanhos na
altura da cintura e olhos perfeitamente desenhados, além de corpos bem
esculpidos, Laís tinha alguns quilos a mais, o que tornava seu corpo ainda
mais bonito. Como sinto falta dela. Olho no relógio e já passa das cinco.
Sem pensar duas vezes, junto minhas coisas e saio da empresa. Hoje,
quero jantar em casa.
— Não vou precisar dos seus serviços hoje. Pode descansar. — falo e
saio do carro.
Entro em casa, e Brenda está sentada no tapete da sala com os
cadernos em mãos. Assim que ela me vê, abaixa o olhar. Parece ter medo
de mim.
— Já jantou? — pergunto.
— Ainda não está pronto. Assim que jantar, vou me deitar. — ela fala,
de cabeça baixa.
— Filha — ela olha para mim, apreensiva — Por que está assim? —
pergunto.
Sempre fui muito distante da minha filha. Até mesmo chegar em casa
mais cedo causa medo nela.
— Sério?
Me aproximo dela e coloco uma mecha de seu cabelo atrás da
orelha. Nossa, como ela se parece com a mãe.
Subo para meu quarto e vou direto para o banheiro. Tiro minha
roupa e entro debaixo do chuveiro. A água morna deixa o box embaçado.
— Ela me pediu para chama-la pelo nome. Disse que não gosta de
formalidades. O nome dela é Gabriela Kepner.
Ela fala, de cabeça baixa. Uma das coisas que exijo da minha filha é
que sempre trate as pessoas pelo sobrenome. Foi assim que minha mãe
me educou, então tento transmitir isso para minha filha.
Acalmo ela.
— Meu pai terá alta amanhã, mais cedo do que eu esperava. Então
sim, amanheci de bom humor. — falo.
— Que coisa boa, espero que ele fique bem. — ele fala e sai da sala.
— Sério?
— A mulher dele não bate muito bem da cabeça. Ela vê coisas que
não acontecem. — ela fala e pega a bolsa.
— Farei o possível para me afastar dele. — falo, pensando na
possibilidade disso acontecer. Não seria nada bom para minha imagem.
Malabarismo nunca foi meu ponto forte. Sem falar que até mesmo
um copo de café eu derrubo facilmente. Estou andando devagar e olhando
para as minhas mãos quando, sem querer, acabo batendo de frente com
alguém. Todo o café cai no meu corpo. Sinto o líquido quente queimar
minha barriga.
— Tá quente, tá quente.
Solto todos os livros no chão e, sem pensar duas vezes, tiro minha
blusa, ficando apenas de sutiã.
Ele fala de uma forma sexy. Se eu não fosse virgem, com certeza eu
me entregaria facilmente a ele.
— Eu estou bem.
Me abaixo para pegar meus materiais. Alguns dos trabalhos que fiz
ficaram perdidos por causa do café que caiu neles. Terei que passar mais
duas horas para imprimir tudo. Minha impressora está uma porcaria, e
tenho que passar duas horas para conseguir trabalhos sem defeitos.
— Aproveite, senhorita Kepner, e vá ver seu pai. Soube que ele terá
alta amanhã.
— Está liberada hoje, senhorita Kepner. Não tem nada a fazer aqui.
— a diretora fala e sorri para o senhor Lumière.
— Ok. — falo, arrumo minhas coisas, vou para a sala dos professores
e entro no banheiro.
Mas um homem do seu nível nunca iria querer algo comigo. Então, o que
ele quer insistindo em me levar para casa?
— Isso com certeza vai deixar uma cicatriz. Nossa, como dói.
Algumas lágrimas escorrem do meu rosto. Ainda bem que aqui tem
um chuveiro. Termino de tirar minha roupa e entro debaixo da água fria. A
água alivia um pouco a ardência, mas ainda não para de doer. E eu não
posso me dar ao luxo de pedir alguns dias de folga, porque pode ser
descontado do meu salário.
— Vamos? — me assusto.
— Não preciso de ajuda, estou bem. Agradeço por não ter feito
nenhuma reclamação com a diretora. Já foi o suficiente.
— Eu vou te levar para casa, e não diga que não. — ele fala, com o
maxilar travado.
Seus olhos estão fixos nos meus. Por mais que eu tente, não consigo
desviar a atenção dele. E, sem falar que, apesar de ser um ogro, senhor
Lumière é muito bonito. Não posso deixar de notar isso.
Ele abre a porta do carro para mim, e eu olho mais uma vez para ele.
Será que ele vai me matar e me jogar numa vala? Merda, eu deveria ter
ficado mais tempo dentro da sala dos professores. Talvez ele tivesse
desistido e ido embora. Agora a merda já está feita, então não tem como
fugir. Se esse for meu destino, então pronto.
Capítulo 6
Finalmente consegui convencê-la a aceitar a carona, o que não foi
fácil, posso garantir.
— Não tenho muito o que falar, e para ser sincera, o que você quer
comigo? — ela pergunta de forma seca.
Ela me interrompe.
— Não, mas não quero mais dividir o mesmo espaço que você. — ela
me olha com raiva.
— Estar perto de pessoas como você não faz bem para ninguém. —
ela fala e olha para o outro lado.
Ela não fala mais nada. No início da viagem, ela tinha me dito onde
fica sua casa, e eu coloquei no GPS. Sua casa é bem longe da escola em
que ela trabalha, com certeza ela demora muito para chegar ao trabalho
de ônibus.
— Será que não entendeu que não quero dar motivos para fofocas
entre meus vizinhos? Por isso pedi que me deixasse lá atrás. — ela suspira,
parecendo aliviada por ter falado.
Bato as mãos no volante, porque ela tinha que ser tão teimosa? É
apenas uma carona.
Faço a volta com o carro e sigo para a empresa. Pego meu celular e
vejo três chamadas perdidas da minha mãe. O que ela quer dessa vez?
Disco o número dela e coloco no viva—voz.
Desde que conheço minha mãe, sei que se eu não for a esse jantar,
ela irá na minha casa me buscar.
—Não consegui evitar, senhor. Tem uma pessoa esperando por você.
— ela fala, baixando o olhar.
— Pensei que, como CEO, você chegasse mais cedo para dar bons
exemplos. — meu sogro fala, olhando-me de canto de olho.
— Quero saber como está minha neta. Ela nunca vai à minha casa. —
ele fala.
— Tenho certeza de que você não está aqui apenas para saber como
está minha filha. Sei que você não se preocupa com ela. — digo de forma
seca.
— Você tem razão. Vim cobrar minha pensão. Afinal, minha filha
morreu porque você a engravidou. — eu me aproximo dele com raiva,
pego seu colarinho, mas minha raiva é tão grande que, assim que recobro
minha consciência, lembro-me de que não vale a pena sujar minhas mãos
com esse desgraçado.
— Saia da minha sala, seu filho da puta. Você nunca mereceu ter
uma filha como Laís. — falo com raiva.
Eu sei que não devo nada a ele pela morte da minha mulher. Foi uma
tragédia. Eu não sabia que ela estava passando por problemas de saúde.
Naquela época, eu estava trabalhando tanto para cuidar da empresa que
nem sequer a acompanhava nas consultas médicas. Eu não sabia que sua
pressão estava alterada e nem que ela corria o risco de ter uma eclâmpsia.
Foi tudo tão rápido para mim. Mas eu não sabia que ela já vinha sofrendo
em silêncio com aquilo. Eu pago a ele e à mãe de Laís uma boa pensão
todos os meses, mesmo que os dois sejam de classe média. Só não quero
que digam que os deixei na mão. Acredito que ela ficaria agradecida. De
qualquer forma, eles são os avós da minha filha.
— Não é da sua conta, mas ela se queimou por minha causa. Ela
passou por uma situação constrangedora porque eu estava distraído. Por
isso, quero poder mandar alguns medicamentos para que ela se recupere
logo.
Não sou um psicopata, mas depois que Laís morreu, não senti
atração por nenhuma outra mulher. Claro, fiquei com muitas mulheres
depois disso, mas foi apenas uma relação casual e nada mais. No entanto,
com Gabriela é diferente. Confesso que sinto muita atração por ela e quero
poder conhecela melhor.
Capítulo 7
O pai da Brenda só pode ser louco, não consigo encontrar uma
explicação melhor para o que ele fez.
— Estou bem. Como foi a noite com seu pai? Ele está melhor?
— Está sim. Se tudo der certo, amanhã ele terá alta. — falo animada.
Faço o mesmo, entro em casa e está tudo tão arrumadinho. Não sei
como agradecer tudo o que ela faz por mim e pelo meu pai. Se minha mãe
não fosse tão egoísta, seria ela quem estaria aqui cuidando de nós.
Entro no banheiro e tiro minha roupa. Deixo a água fria lavar meu
corpo. Sinto—me tão cansada. Essa correria está me desgastando. Se eu
pudesse, ficaria apenas cuidando do meu pai. Mas não posso me dar ao
luxo de sair do trabalho só para ficar com ele. Onde nós dois iríamos
morar? Quem pagaria nossas contas e colocaria comida na mesa? Apenas
o salário dele não seria suficiente.
Tenho que pensar nisso com calma. Posso tentar ajustar meus dias
de trabalho pela manhã. Vou ver o que posso fazer para dar certo.
— O que você pensa que está fazendo, sua idiota? Ele nunca será um
homem para você. — falo alto.
Como não tenho nada para fazer, decido ir para o hospital passar
mais tempo com meu pai. Visto uma calça jeans e uma blusa branca
folgada, para não atrapalhar a pomada que acabei de aplicar. Pego uma
bolsa e coloco alguns livros e uma roupa. A diretora disse que eu poderia
ficar em casa amanhã, então vou aproveitar para trazer meu pai para casa.
— Vá com Deus, filha. — é assim que considero ela, uma mãe para
mim. Ela faz coisas por mim que minha mãe nunca fez.
Vou até ele e lhe dou um beijo na testa. Meu pai está cada dia mais
magro. A alimentação por sonda não sustenta como a comida pela boca.
Depois dessa doença, meu pai ficou tão magro. É doloroso vê-lo assim, mas
sou egoísta demais para aceitar que Deus o leve. Farei tudo o que estiver
ao meu alcance para que ele permaneça comigo.
— Fui liberada mais cedo, então vim ficar com o senhor. — ele não
precisa saber que me machuquei.
— Filha, você tem que arrumar alguém. Eu não vou durar muito
tempo. — ele fala e eu suspiro.
— Filha, eu preciso deixar você bem antes de morrer. Quero ver você
feliz. Que merda. — ele xinga.
Levanto frustrada.
— Quem vai querer uma mulher como eu, pai? Sou infértil, não
tenho útero. Qual homem aceitaria isso, ficar com uma mulher que nem
mesmo pode lhe dar um filho? Quem pai?
— Esqueça isso, pai. Só não me cobre mais, por favor. — falo — vou
tomar um pouco de água. — digo e saio do quarto.
Meu celular toca no bolso, pego o aparelho e vejo o nome do meu pai na
tela.
— Você ficará um pouco na casa da sua avó. Eu vou ter que sair, mas logo
chego, ok? — ela assente com a cabeça.
Deixo—a na casa dos meus pais e vou para o hospital. Não demora muito
até eu chegar lá. Estaciono o carro e vou para dentro do hospital.
— Pai?
— Deixei ela na sua casa e vim para cá. Onde está a mamãe?
— Ela está lá dentro. Se cortou com a faca e teve que levar alguns pontos.
— ele fala sério.
Ficamos calados por alguns segundos. Vejo uma pessoa que me parece
familiar.
— E quanto está?
— Eu não posso te ajudar dessa vez. — ele fala, pondo a mão em seu
ombro.
— Filho, sua mãe já está bem. Podemos ir. — ele fala, e olho para ele.
Assinto com a cabeça e, quando começo a caminhar para o lado oposto em que
ela está, paro e olho mais uma vez para ela.
Olho intrigado para o senhor Josef. Ele é amigo de longa data do meu pai,
mas nunca gostei muito dele. Se mete onde não deve. Ao ver o que ele acabou
de fazer, só me deixa ainda mais raivoso. Hanna é sua filha mais nova. Ela está na
Europa e estuda música, está se tornando uma violinista profissional. Sei bem
sua história. Nossos pais faziam jantares onde nós dois éramos obrigados a estar.
Ela me falou algumas vezes sobre esse sonho. Hoje ela está com trinta anos, mas
nós dois nunca tivemos nada. Sei que meu irmão é apaixonado por ela, e com
certeza ele ficou feliz ao saber que ela virá para cá nesses dias.
— Não preciso me casar para ser bom no que faço. E acho que Brenda não
quer uma madrasta, não é mesmo, filha? — olho para Brenda, e ela assente com
a cabeça.
— Não deveria perguntar esse tipo de coisa para uma criança. Pode deixa-
la confusa. — ele fala.
— Ela tem que aceitar uma madrasta. Afinal, ela fará parte da nossa
família. Não quero que minha filha passe por certos tipos de coisas. — falo e
levo um pequeno pedaço de carne à boca.
— Os rumores com o seu nome não são nada bons. Acha que sua empresa
se dará tão bem quando for questionado publicamente sobre sua sexualidade?
Ela levanta da mesa sem falar mais nada e vai em direção às escadas.
Certifico—me de que ela não está nos ouvindo e ponho o garfo no prato.
— Isso mesmo, pai. Ele está tendo um caso com a secretária, que é vinte
anos mais nova que ele. Posso garantir que, além de não ser gay, não traio
minha esposa, porque não tenho uma. — falo, cruzando os braços.
— Não levante o tom de voz. Isso deixa sua culpa ainda mais nítida. Se
controle, volte a comer e nunca mais fale sobre esse assunto comigo. Não sou
obrigado a casar por causa da sociedade. Ofereça sua filha a outra pessoa que
queira ela. — levanto da cadeira e olho para meu irmão, que está com um
sorriso no canto da boca. Vou para o segundo andar, onde minha filha
provavelmente está.
C
apítulo 9
Finalmente estou levando meu pai para casa. Não sei como vou fazer para
pagar minha dívida, mas vou conseguir.
Ficamos conversando e dando risada com as coisas que meu pai falava
sobre as enfermeiras. Eu me sinto tão bem vendo—o assim sorridente. Com
certeza, ele é meu presente. Às vezes, acho que não foi Deus que me mandou
para ele, mas sim ele que mandou meu pai para mim. O presente maior fui eu
quem ganhei.
— E que flores são aquelas? — Maria pergunta, olhando para o buquê que
ganhei do Senhor Lumière. Olho de relance para todos ao meu redor, os olhares
estão todos em mim.
— Mas esse buquê é de uma paquera, e parece ter sido muito caro. — o
marido de Nice fala.
— Foi de uma aluna. Ela foi pedida em namoro e disse não, então eu
peguei o buquê. Ele é tão lindo. — minto na cara dura.
Eles me olham por um tempo. Eu já estava prestes a dizer que era mentira
quando Maria olha para mim e fala.
— Nossa, que idiota ela é. — ela fala e logo engata em outro assunto.
Suspiro aliviada.
— Te amo, pai. — vou para meu quarto, pego minha roupa e toalha, e
depois vou para o banheiro.
Assim que tiro minha roupa, vejo que a queimadura está bem melhor.
Talvez seja a pomada que ele mandou. Mas ainda assim ficará uma marca.
Termino meu banho, me seco e depois passo a pomada. Meu pai já está
deitado, então apago as luzes e vou me deitar também.
Acordo ao som do despertador, levanto e vou até a cozinha. Passo um
pouco de café e vou tomar banho. Visto uma calça jeans e uma blusa branca
social. Calço minha sapatilha e solto meus cabelos. Passo um gloss nos lábios e
pego minha bolsa.
— Bom dia, filha. Já tomei todos. E você está linda. — ele me dá um beijo
na testa e volta para o quarto.
Eu sei que está cansativo para ele. Meu pai não come alimentos sólidos,
toda a comida é ingerida por sonda. Isso o deixa muito estressado. Às vezes acho
que ele deixa de tomar os remédios de propósito. Será que ele não entende que
eu preciso dele? O que farei quando ele se for? Ele foi pai aos vinte anos, muito
cedo para quem queria montar a própria oficina. Isso dificultou um pouco os
planos dele. Logo minha mãe nos abandonou, e ficamos apenas nós dois.
Deixo tudo arrumado para ele e, por fim, saio de casa. Maria já está
limpando a frente de sua casa. Dou tchau para ela e vou pegar o ônibus. Dessa
vez não me atrasei, sento um pouco no banco do ponto de ônibus, e poucos
minutos depois, lá vem ele.
— Está bem melhor. Já está em casa. Senti sua falta ontem no jantar de
boas—vindas dele. — falo.
— Eu tive um compromisso e não pude ir, mas vou visita-lo ainda hoje. —
ele fala e dá partida no ônibus.
— Não vou mentir que esperei sua ligação. — ele fala, me olhando nos
olhos.
— Eu não... bom, eu agradeço pelo presente que mandou para mim, mas
eu não tenho nada a tratar com o senhor fora daqui. Nosso assunto se refere à
sua filha, e ele pode ser tratado aqui mesmo na escola, como qualquer outro
pai. Agora, se me der licença, eu tenho que trabalhar. — dou as costas para ele,
mas antes que eu possa me afastar, ele segura meu braço, me fazendo olhar
para ele.
— Você mesma falou sobre ele aquele dia, com a diretora. Se não me
engano, ele iria sair ontem do hospital, certo?
Me perco em seus lábios por algum tempo. Ele é tão lindo, o cheiro
amadeirado de seu perfume exala no ar. Tenho certeza de que a mulher que
ganhar seu coração será a mulher mais sortuda do mundo. Retomo minha
sanidade assim que ouço o sino tocar.
Volto para o carro e dirijo até a empresa. Assim que entro na minha sala,
vejo meu irmão Bruno sentado mexendo no celular.
Eu percebi que ele não gostou muito da forma que eu falei sobre a Hanna.
— Ela não é um objeto. Ela é uma pessoa. — ele fala, me olhando sério.
— Deveria ficar feliz. Eu dispensei sua amada. Agora você tem o caminho
livre com o pai dela. — falo, lançando um sorriso de canto para ele, que sai
bufando da minha sala.
Algo surge em minha mente. Isso talvez dê certo. Pode ser uma ponte
entre nós dois. Logo colocarei meus planos em andamento.
— Feche meu escritório. Estou indo viajar e amanhã não irei chegar a
tempo das reuniões na parte da manhã. Então, desmarque. — falo para minha
secretária. Ela anota tudo em uma caderneta.
— Minha querida, quanta falta você me faz. Sei que, se pudesse me dizer
algo, seria para eu seguir minha vida e amar nossa filha incondicionalmente.
Mas sem você aqui, é tão difícil. Eu sinto tanto a sua falta. — passo o dedo
indicador em sua foto.
— Até outro dia, meu amor. — saio do cemitério e vou direto para minha
casa. Pego a mala que pedi para a governanta preparar para mim.
— Sim, amanhã à noite estarei de volta. O motorista vai levar você até sua
avó. — falo, dando um beijo em sua cabeça.
— Me leve até o aeroporto e, depois, leve minha filha para a casa dos
meus pais. — falo para o motorista.
— Não falei aquilo para te ofender. — falo, sem tirar a vista do tablet.
— Você nunca faz as coisas por mal, Bernardo. Esse é seu problema. —
Bruno fala.
— Eu sempre soube do seu amor por ela. Só quis mostrar para o pai dela
que eu não estava e não estou afim de arrumar uma mulher. E achei a ocasião
perfeita para deixar o caminho livre para você. — falo.
— Se você fosse tão esperto assim, saberia que eu não a quero e que já
estou com uma pessoa. — ele fala e olho para ele.
— Está namorando?
— Espero que dê certo. Pensei que ficaria solteiro para sempre. — falo.
— Olha quem fala. Parece que a Laís levou sua alma com ela. — ele fala,
sem se importar se isso seria doloroso para mim ou não.
— Pode me trazer uma salada de frutas, por favor. — ele fala e olha para
mim.
— Uma dose de whisky puro, por favor. — meu irmão me lança um olhar
de reprovação.
Faço de conta que não ouvi. Meu whisky chega e tomo tudo de uma vez.
Bruno me fuzila com os olhos.
— O que são quarenta e cinco minutos para quem ficou quatorze horas
dentro de um avião, não é mesmo? — falo, sarcástico.
— Verdade. Vou recompensar vocês por isso. Não precisa nem discutir o
negócio. Eu vou ser sócio na nova filial de vocês. Sei que são ótimos garotos,
então sei onde meu dinheiro vai entrar e o retorno que terei dele. Me dê os
papéis que vou assinar. — olho para Bruno, que me olha confuso.
— Também, mas tem muito mais coisas que precisam de oxigênio. — falo,
andando pela sala.
Eu gosto de ver eles interagindo. Fico feliz porque sei que estão
aprendendo.
— Queria saber o que você faz para deixar todas as crianças assim. —uma
das professoras pergunta, olhando para meus alunos sentados.
— Diálogo. Faço com que eles se sintam bem na minha aula. Você deveria
aderir. — saio da sala, dando espaço para ela dar a aula de espanhol dela.
O dia para mim já está encerrado. Agora é ir para casa e cuidar do meu
pai.
Meu celular começa a vibrar no bolso.
— Estou te esperando.
— Ah, que saudade que eu estava de você. — ela vem até mim e me dá
um abraço apertado.
— Sente só o cheiro dessa delícia. — ela fala e senta perto de mim. Sandra
tira uma fatia de bolo e coloca em um prato para mim.
— Obrigada. — falo.
— Ele é irmão de um ex-namorado meu. Aquele que te falei que viu uma
pessoa no hospital e se apaixonou. — ela fala e bebe um gole de suco.
— Lembro que você ficou muito mal por causa dele. — falo.
— Já vou indo. Preciso fechar a loja. Passa lá amanhã. — ela fala, olhando
para mim.
Fecho a porta e vou para meu quarto. Meu pai já foi deitar. Os remédios
deixam ele muito sonolento.
SEMANAS DEPOIS
Essas duas semanas que passaram foram tranquilas. Hoje recebi meu
salário, então vou começar a pagar a conta do hospital. Termino de tomar banho
e seco meus cabelos com a toalha.
Fico alguns minutos esperando o ônibus chegar. Como vou para o centro, o
ônibus que vou pegar é outro. Demora mais do que o esperado. Pego meu
celular e começo a navegar na internet. Uma notícia me chama a atenção.
"Bernardo Lumière é visto entrando em um hotel luxuoso acompanhado
da Miss de Londres."
— Até parece que alguém como ele sairia com alguém de classe baixa. —
resmungo revirando os olhos.
Vejo o ônibus vindo, levanto e aceno com a mão. O ônibus para e entro
nele.
Ela liga para ele, e poucos minutos depois ela se dirige a mim.
— Ele está bem. Vim resolver aquele nosso assunto. — falo e ele aponta a
cadeira para mim.
— Que assunto?
— Sobre as despesas do meu pai. Eu recebi meu salário e vim ver como
vão ficar as parcelas. — falo, já abrindo a bolsa.
— Nossa, eu não sabia disso. Que sorte. — falo, não conseguindo conter as
lágrimas. Eu estava com tanto medo de ter que procurar outra casa para mim e
meu pai morarem porque eu não tinha todo o dinheiro do aluguel. Tantos
pensamentos se passaram por minha cabeça.
Bruno
— Oi, não esperava você aqui hoje. — ela fala com um lindo sorriso no
rosto.
— Claro que não. Venha, acabei de fazer um bolo de framboesa, quero que
experimente. — ela fala, me puxando pelo braço.
Não tenho palavras para expressar o quanto fiquei feliz ao ouvir essas
palavras.
Puxo-a para perto de mim, fazendo seu corpo encostar no meu. Passo
meus dedos por sua nuca e trago seu rosto para perto. Meus lábios encontram
os dela, e nosso beijo se intensifica.
— O que você vai fazer mais tarde? — pergunto, sem afastar muito nossos
lábios.
— Preciso ver uma amiga. Já te falei sobre ela. — ela fala calmamente.
— Não tem como não gostar. Está perfeito. — falo, e ela sorri
animadamente.
Bernardo
Não sei por que esse sentimento de que algo está faltando dentro de mim.
Já faz algumas semanas que não vejo Gabriela, e isso está me deixando confuso.
Os enfermeiros vieram e tiraram ela dos meus braços. Tentei ir até onde
eles estavam levando—a, mas fui barrado.
Desde aquele dia, não soube mais nada dela. Não sei se ela está viva ou se
aquela foi a primeira e última vez que a vi. Depois disso, terminei com a menina
com quem estava namorando. Me apaixonei por Laís e ela acabou me deixando.
Acho que esse tal de amor não é para mim.
Saio dos meus devaneios assim que ouço meu telefone tocar.
— Lumière. — falo.
— Sobre a diretora da escola, ela está disponível hoje à tarde. Ela disse que
estará à sua espera.
— Minha filha entrou aqui há pouco tempo, e acho que seria bom para ela
ter uma professora de reforço. — falo, cruzando os braços.
— Isso está a seu critério. Se quiser colocar uma professora de reforço para
sua filha, então depende de você. — ela fala.
— Como assim?
Sugiro.
— Olha, senhor Lumière, eu não sei que tipo de pessoa o senhor acha que
eu sou, mas não posso aceitar suborno. Agora, se o senhor me dá licença, tenho
muito o que fazer. — me levanto da cadeira e vejo um bloco de notas em sua
mesa.
Pego uma das folhas e uma caneta do meu bolso. Escrevo o valor da
doação que faria para a escola e meu número.
— Olha diretora, eu acho que a senhora não está sabendo, mas estamos
enfrentando uma crise, não podemos fornecer a verba para a reforma da escola,
sinto muito.
— Como assim? Os pais estão reclamando da escola, a tinta está
desbotada, o piso está estragado, já faz um bom tempo que não fazemos
reforma.
— Assunto encerrado.
— Vazamento?
— Sim, uma das alunas que viu. — saí andando rapidamente até o
banheiro.
Eu não posso demitir a professora Gabriela, ela é muito boa no que faz e o
que eu falaria para ela? E se ele for rude com ela?
— Precisamos conversar.
Desliguei o celular, espero não está sendo equivocada demais, mas se por
acaso esse trabalho que ele quer dar para ela não der certo, ela sempre vai ter
espaço aqui, irei fazer o possível para que ela não passe sufoco, Gabriela é uma
professora como nenhuma outra aqui nessa escola.
Eu não sei o que ele viu nela, Gabriela é apenas uma moça simples que
cuida do pai doente, quando ela veio me pedir um trabalho, eu gostei dela logo
de início, nunca demonstrei muito isso, afinal eu sou a diretora e não posso
demonstrar afeto pelos meus subordinados, não em uma escola particular.
— Para não dar muito na cara, eu vou conversar com ela semana que vem,
vou falar que peguei o número dela com a senhora. — ele falou e apenas
afirmou com a cabeça.
Saí da sala dele ainda com o peito apertado pelo que eu fiz, minha vontade
mesmo é voltar na sala dele e falar que não vou fazer isso e ele pode colocar o
dinheiro dele onde o sol não bate.
Vou direto para a escola, não sei como vou falar isso para ela. Passei na
sala em que ela está dando aulas e fico por um tempo apenas observando a
forma como ela trata os alunos.
— Venha, estou apenas explicando um pouco de física para eles, mais está
quase na hora de irem embora. — ela falou olhando no relógio de pulso.
— Passe na minha sala por favor, temos um assunto para tratar. — falei e
fui direto para minha sala, sentei e fiquei pensando no que dizer.
Gabriela
Eu fiquei um pouco nervosa com o que ela falou, mas continuei olhando
para as crianças que estavam todas sentadas, apenas esperando o sinal bater.
— Muitos pais vieram até mim. Eu até tentei amenizar a situação, mas foi
impossível. O incidente com o senhor Lumière veio à tona, e os pais ficaram
sabendo que a senhorita tirou sua blusa na frente dos alunos. — ela falou, e me
lembrei daquele dia.
— Tudo bem, eu não vou insistir. Vou pegar minhas coisas hoje mesmo. —
falei e levantei da cadeira. Dirigi-me até a porta, e assim que segurei na
maçaneta, ela falou.
— Algo melhor está por vir. Aqui foi apenas o seu ponto de partida. — ela
falou, e não fiz questão de olhar para ela. Saí da sala, e meus olhos derramaram
as lágrimas que tanto tentei segurar.
Capítulo 13
Seria até irônico dizer que eu não estou arrasada. Eu não sei como
vai ser agora. Eu ajudo meu pai nas despesas da casa.
— Tudo bem, agradeço. — falo e ele pega alguns livros das minhas
mãos.
— Minha casa fica logo ali abaixo. — falo, olhando para a casa onde
moramos.
Sorrio pelo jeito bobo dele. Se ele não fosse comprometido, talvez eu
pudesse investir nele... Nossa, o que estou pensando? Agora só posso
pensar em procurar um emprego para mim.
Pego todos os livros com a ajuda dele e deixo tudo na sala. “Depois
organizo isso.” Esses dias não vou ter trabalho mesmo, apenas ficar em
casa e procurar um trabalho. Sei que não vai ser nada fácil, mas por sorte
eu guardei um pouco do dinheiro que recebi e não vai faltar nada esses
dias.
— Sabe que não é o fim do mundo, né? E que nada vai faltar para
nós. — ele fala confiante.
Nada é impossível. Sei que as coisas vão se resolver e logo vou achar
algum trabalho para poder oferecer coisas melhores para meu pai.
Durante o resto do dia, fiz uma bela faxina na casa, joguei tudo o que
não tinha utilidade fora, separei algumas roupas para doação. Sempre que
posso, faço doações para orfanatos e dou roupas para pessoas em situação
de rua. Eu tento fazer a minha parte como cidadã.
— Pai, você sabe que não pode ficar perto do fogo, aquece o seu
corpo. — falo, repreendendo-o.
— Tá bom, pai. Mas se cuida, por favor. — falo, pegando o prato. Ele
preparou ovos mexidos e uma torradinha que estava uma delícia.
Sei que ele só quer me ver bem, mas ainda não estou pronta para
entrar em um relacionamento. Como vai ser quando eu encontrar alguém,
isso é, se eu encontrar? "Eu preciso te falar que não tenho útero e nunca
vou ter filhos. Então... está nessa comigo ou não?" Ou será que falo: "Olha
aqui... " —aponto para minha barriga— "nunca vai gerar um filho seu."
— Nada, pai. Obrigada pelo lanche. Vou terminar aqui. — falo e viro
as costas para ele.
— Como você não para com nenhuma secretária, eu tenho que fazer o
trabalho. A reunião já começou e só falta você. — ele fala sério.
— Vamos dar início à reunião. — meu irmão fala e vai até o telão.
— Sim, ela nos mostrou uma proposta muito boa, então iremos assinar o
contrato. — Bruno fala.
— Mas essa empresa não tem nem um ano de existência. Como já quer
investir um valor tão alto nela?
— E se ela não der retorno? Esse dinheiro sairá dos nossos bolsos. Você
arcará com os custos? — um acionista questiona.
Ela está tão linda. Gabriela está usando um short jeans e uma blusa regata.
Os cabelos estão soltos. Ela está de uma forma como eu ainda não tinha visto.
Entro na casa de Gabriela. É tudo tão simples, mas ao mesmo tempo muito
organizado. Vejo algumas caixas e sacos em um canto. Meu coração falha
algumas batidas com o pensamento de que ela possa ir embora.
— Tenho certeza de que não veio aqui apenas para me dizer isso. — ela
fala, cruzando os braços.
— Gosto do seu jeito. Você vai direto ao ponto. — falo, cruzando os braços
também.
— Não sei se o senhor já sabe, mas eu não sou mais a professora da sua
filha. Então, tenho certeza de que não temos nenhum assunto para tratar. — ela
fala.
— Minha filha comentou sobre isso, e é por isso mesmo que vim aqui. —
minto. Ela senta na poltrona em minha frente e cruza as pernas. Gabriela apoia o
queixo em uma das mãos.
— Continue. — ela fala, sem parecer muito interessada no que vou dizer.
— Tenho um trabalho para lhe oferecer. — falo.
— Do que se trata? Vai me dizer que tem uma escola também? — ela fala
irônica.
— Olha, senhor Lumière, eu não tenho interesse, porque eu sei bem que
tipo de trabalho o senhor quer me oferecer. Eu não sou dessas que o senhor
imagina. Meu pai me criou com muito esforço para eu ser alguém de respeito.
Então, eu não quero o seu emprego. E por favor, vá embora da minha casa. —
ela fala, com constrangimento no olhar.
— Eu não sou desse tipo. — ela fala, e só aí percebo que ela está
realmente constrangida. Será que ela é...
— Boa tarde. Filha, você não me falou que teria visita. —O pai dela fala de
forma engraçada.
— Não seja mal educada. Venha, rapaz, vou fazer um café para nós. — o
pai dela fala, e ela olha com repreensão para ele.
— Pai, o senhor não pode ficar perto do fogão assim. — Gabriela parece
estar ainda mais constrangida com a situação.
— Por favor, senhor, não precisa do café. Na verdade, vim aqui oferecer
um emprego para sua filha. Mas ela ainda não me deu resposta. — falo, olhando
para ela.
— Quero que ela seja minha secretária. A empresa paga vale-refeição, tem
um bom plano de saúde que cobre qualquer doença e cirurgias, tem
valetransporte, auxílio-moradia e paga um bom salário. Também pagamos horas
extras, ao todo uns vinte mil dólares. — deixo bem claro sobre o plano de saúde.
Quero que ela aceite minha oferta, se não for por ela, mas tenho certeza de que
aceitará pelo pai.
— Vou pensar com calma sobre isso. — Gabriela fala, olhando para o
cartão.
— Já estou de saída então. Foi um prazer conhecer o senhor. Me perdoe
pela falta de educação. Meu nome é Bernardo. — estendo a mão para ele, que
pega logo em seguida.
— O prazer foi meu, rapaz. Meu nome é João. — ele fala com um sorriso
calmo.
— Filha, você não ia levar essas coisas para o orfanato hoje? — o pai de
Gabriela pergunta.
— Pai...
— Pai...
Gabriela olha para o pai, ainda sem acreditar que ele falou.
Capítulo 15
Eu não sei o que fazer com o meu pai. Ele quase me jogou nos braços do
senhor Lumière.
— Sim, vire à direita e logo você vai ver o orfanato. — falo séria.
— Não precisa ficar com essa cara amarrada. — ele fala, e olho para ele.
— Cara amarrada?
— Sim, desde que saímos da sua casa você está assim. — ele fala
naturalmente.
— Minha filha gosta muito de você. Até pensei em pedir que fosse
professora de reforço dela, mas eu estou precisando de uma secretária com
urgência. — ele fala e olha para mim. Seus olhos carregam um misto de solidão e
tristeza.
— Então, aceite trabalhar para mim. Assim poderá vê-la algumas vezes. —
ele fala e me lança um olhar.
— Sabe que faço isso com todo carinho. Quero que essas crianças tenham
um futuro promissor. — olho as crianças se alimentando. Isso aquece meu
coração.
— Por favor, passe o número da conta. Quero fazer uma doação. Quero
que compre roupas, brinquedos para eles e mais mantimentos. Vou depositar
uma quantia todos os meses para eles. — senhor Lumière fala, olhando as
crianças. Ele está tão lindo. As mãos nos bolsos da calça social, ele está sem o
paletó, o que o deixa ainda mais atraente.
— Obrigada mais uma vez. E venha sempre que quiser nos fazer uma
visita. — ela fala.
— Sempre que eu puder, vou passar aqui para ver as crianças. — falo.
Assim que ele para o carro, vem até o meu lado e abre a porta para mim.
— Eu posso sair sozinha. — falo, saindo do carro. Ele me olha por alguns
segundos, e, incrivelmente, vejo um pequeno sorriso se formando em seus
lábios.
Assim que o elevador se abre, ele passa por mim. Saio do elevador e me
encanto com a grandiosidade do lugar. Tudo tão bem arrumado. As cores cinza e
nude se destacam nas paredes. Os móveis parecem ter sido feitos especialmente
para aquele lugar.
— Se vier trabalhar para mim, você terá uma sala só para você. Venha, vou
lhe mostrar. — passamos por uma recepção, e depois ele me leva até uma sala.
Os tons branco e lilás definem que apenas mulheres ocupam aquele espaço.
Viro para ele, que me olha atento a cada movimento que faço.
— Se... eu disser "se" eu aceitar trabalhar para você, eu realmente vou ter
um bom plano de saúde? — pergunto, e ele cruza os braços na altura do peito.
Ele volta para a minha futura sala e depois vai para a recepção. Nós dois
seguimos para o elevador.
Bernardo
Não tem como eu negar minha felicidade por ela ter aceito a minha
proposta. Vendo por fora, eu pareço ser obsessivo, mas eu não me considero
assim. Algo nela me chama a atenção, e eu posso estar indo longe demais com
isso, mas eu a quero perto de mim. Quero saber onde ela vai, com quem ela
anda, se tem alguém em sua vida ou se eu posso ter algo com ela, nem que seja
uma noite.
— Eu não vou sair da casa em que moro. Gosto dos meus vizinhos, e elas
me ajudam muito a cuidar do meu pai. —Ela fala, olhando pelo vidro do carro.
— Isso está fora de questão. Não vou sair da minha casa, e assunto
encerrado. — ela fala e cruza os braços.
O trânsito hoje estava bem agitado. Demorou mais do que o esperado para
deixa-la em casa. Não que eu tenha achado isso ruim. Muito pelo contrário.
Andar de carro nunca foi tão bom.
— Obrigada, amanhã estarei lá. — ela sai do carro e logo entra em casa.
Apenas seu perfume me resta dentro do carro.
— Quero que disponibilize um carro da empresa para a minha secretária.
— falo para meu irmão, que é quem fica responsável por essa parte.
— Você nunca se importou com isso, por que só agora? — Ele pergunta.
— Ok, ok, mas você sabe se ela tem carta de motorista? — Bruno
pergunta, cruzando os braços.
— Se ela não tiver, dê um jeito. Compre uma carteira, faça qualquer coisa
do tipo. — falo e bebo um gole de whisky.
(Dia seguinte)
Dou três voltas no quarteirão, olho no meu relógio e já são seis e meia da
manhã. Sigo para casa, e assim que entro, vejo minha filha sentada no sofá.
— Hoje tenho aula de balé na escola e depois aula de piano. — ela fala,
passando a mão nos olhos.
— Logo você conhecerá uma bem melhor. — falo, querendo fazer uma
surpresa para ela.
Passo pela recepção e vou a passos largos até a sala onde Gabriela irá
ocupar. Assim que abro a porta rapidamente, vejo ela. E algo dentro de mim se
suaviza. Só aí percebo que estava com medo dela não ter aceito o trabalho.
Medo de que ela não estivesse aqui.
— Bom dia, senhor Lumière. Eu cheguei um pouco mais cedo e já olhei sua
agenda de hoje. Está tudo anotado e as reuniões confirmadas. — ela fala de
forma calma.
— Ok, pode me acompanhar até minha sala. Enquanto isso, pode falar
sobre a minha agenda. — falo, fingindo descaso, e vou para minha sala.
Capítulo 16
Já faz um mês que estou trabalhando para o senhor Lumière, e até
agora estou adorando. Já recebi um adiantamento, o que me ajudou a
comprar novas roupas para mim e para o meu pai, alguns utensílios que eu
estava precisando e outros para facilitar a vida do meu pai. Eu não deixo
ele chegar perto do fogo. Tenho medo de algo acontecer, de ele se
machucar ou desmaiar perto do fogão. Várias coisas passam pela minha
cabeça.
— Bom dia, senhorita Kepner. Pode vir até minha sala? — senhor
Lumière fala e entra para a sua sala. Me apresso a ir até lá.
— Pode repetir? Acho que não entendi. — falo, pondo uma mecha
de cabelo atrás da orelha.
— Desculpe, vou ser mais específico. Temos uma reunião em São
Francisco, na Califórnia, e preciso que a senhorita me acompanhe. Iremos
hoje e voltaremos no domingo à noite. — ele fala, e engulo em seco.
Eu não vou mentir e dizer que não fiquei chateada com isso, porque
fiquei. Assim como fiquei zangada quando, no meu segundo dia de
trabalho, ele apareceu na minha sala falando que tinha um carro disponível
para mim. Eu não tenho carteira de motorista. O que eu iria fazer com um
carro?
Tento voltar para o quarto sem ser notada, mas assim que a bolsa
que eu estava carregando bate em uma mesinha de canto, um porta-
retrato cai, e os dois me olham.
— Filha...
— Eu não sabia que você estava aqui. Você deveria estar no trabalho
a essa hora. — ele fala, visivelmente desconfortável.
— Eu volto outra hora. — a mulher fala. Só aí que meus olhos recaem
sobre ela. Não tem como negar que ela é muito bonita. Os cabelos
castanhos na altura do ombro, a pele morena. Mas o que me chamou a
atenção foram seus olhos. Poderia facilmente dizer que nós duas nos
parecemos.
Eu não acho tão estranho meu pai estar com uma mulher. Apesar de
ter um câncer, ele ainda pode levar uma vida normal. É irônico pensar que
eu sou virgem às vezes.
— Pode ir tranquila, meu amor. Vou ficar bem. — ele ainda está
estranho. Talvez seja vergonha por eu tê-lo pego no flagra, mas acho isso
normal.
Por que ele tem que ser tão bonito e sexy? Deveria ser proibido
alguém com tamanha beleza.
Capítulo 17
Olho para ela saindo da minha sala, claramente insatisfeita com o
que falei. Ligo o computador e a observo através da câmera de sua sala.
Gabriela balbucia algo que imagino ser vários xingamentos direcionados a
mim, mas isso não me afeta. Sei que não sou o melhor chefe, mas preciso
estar perto dela nesses dias.
Para ela, é apenas uma viagem a trabalho. Para mim, é uma chance
de descobrir quem é realmente Gabriela Kepner.
— Nossa. — ela fala, olhando para o meu jato particular. Nós iríamos
de helicóptero, mas o piloto precisou fazer algumas verificações e não
estava apto para uma viagem tão longa. Afinal, são seis horas de viagem.
— Vamos? — pergunto, e ela me olha. Como ela pode ser tão bonita
e, ao mesmo tempo, tão simples? Já faz um mês que ela trabalha para
mim, e mesmo nos dias em que estou estressado, ela me suporta sem
reclamar. Talvez seja apenas por causa do plano de saúde, que é muito
bom para seu pai, ou pelo salário, que não é nada mal em comparação ao
que ela recebia antes. Não sei quais são seus motivos, mas espero que ela
tenha muitos para não querer sair de perto de mim.
— Como assim?
— Não teremos tempo para isso. — ela fala, e lembro que não estou
levando-a para um passeio, mas sim a trabalho, pelo menos é isso que ela
pensa.
Continuo fazendo minhas anotações, mas, vez ou outra, olho para ela
dormindo. Gabriela tem um jeito simples e calmo. Acho que é por isso que
ela era professora. Durante esse mês que ela está trabalhando para mim,
me perguntei várias vezes se foi certo o que eu fiz. A pessoa que segue a
profissão de professora de crianças, com certeza, tem o dom para isso. Não
é qualquer pessoa que consegue essa dádiva.
Logo depois do que aconteceu com a minha falecida noiva, fiz uma
vasectomia. Além do medo de que isso acontecesse com outra pessoa que
eu amasse, frequentemente vinha à minha cabeça que poderia ter filhos
com qualquer um dos meus casos. Não preciso de outro filho ou filha. Não
consigo sequer ter uma boa conversa com a minha filha. Imagina ter
outros? Gabriela é uma mulher jovem, com certeza tem planos para o
futuro, como formar uma família, educar os filhos e ensiná-los o que é
certo e errado. Ninguém da minha família sabe disso, nem mesmo meu
irmão, que é meu confidente. Não preciso de pessoas para me criticar. E
eu, em minha plena consciência, sei que eu e Gabriela nunca seremos mais
do que patrão e funcionária.
Apesar da viagem ter sido longa, não estou com sono. Minha cabeça
está cheia de pensamentos inconvenientes. Sento—me na varanda do
quarto e tomo um gole do meu whisky. A noite está bonita, com uma lua
cheia que deixa o céu com uma visão perfeitamente linda. Meu quarto fica
ao lado do quarto de Gabriela. Meu subconsciente está travando uma
batalha com o meu eu interior para não ir até seu quarto. Preciso me
controlar, preciso fazer algo que me faça esquecê-la. Por que a trouxe para
essa viagem? Esse seria o momento perfeito para afastá-la de mim.
Com muita persistência, depois de tomar mais um pouco da minha
bebida, decido deitar e tentar dormir.
C
apítulo 18
Meu corpo está tão leve, como se tivesse dormido em uma nuvem. Abro
os olhos e percebo que não estou em casa, e para falar a verdade, nunca estive
em um lugar tão lindo. O quarto é enorme, tudo bem arrumado, com paredes
claras, móveis perfeitamente alinhados e combinando com o ambiente. Só não
me lembro de como vim parar aqui, acho que sou sonâmbula.
— Me desculpe, eu...
Paro de falar quando vejo o homem à minha frente. Ele é alto, forte e
muito, muito bonito. Uma beleza dessas só encontrei em uma pessoa, que
provavelmente está querendo me matar agora.
— Tudo bem, vejo que a senhorita está com pressa. — ele fala com um
lindo sorriso no rosto.
— Bom dia, senhorita Kepner. — senhor Lumière fala, e olho para ele.
— Não se preocupe com isso, dormiu bem? — ele pergunta e aponta uma
cadeira para mim.
— Tome seu café, peça o que quiser. — ele fala, e me pergunto o que mais
eu queria, a mesa está repleta de coisas, uma mais gostosa que a outra.
— Não precisa. Pela manhã, eu não como quase nada. — então pego
apenas uma pera. — não estamos atrasados para a reunião?
Pergunto, e ele me olha. E que olhada, poderia dizer que senti minha
calcinha se encharcar só com esse olhar.
— Eu já fui à reunião, não se preocupe. — ele fala, fazendo—me engasgar.
— Não, não tinha nada que a senhorita pudesse fazer, então deixei que
dormisse e fui sozinho. — ele fala e toma um gole do que parece ser um café.
— Nossa, que prazer rever a senhorita. — ele fala, e senhor Lumière nos
olha.
— Não. — falo.
— Jamais faria algo contra a vontade dela. — ele fala e senta perto do
senhor Lumière.
Faço que sim com a cabeça e viro para sair. Assim que dou alguns passos,
ouço a voz do senhor Lumière.
A frase que o senhor Lumière falou não sai da minha cabeça. O que ele
quis dizer com "Você não é homem para ela"? Será por causa da minha conta
bancária, que não chega nem perto da deles? Aquilo me deixou bastante
chateada.
Como pensei, não tem ninguém no quarto. Separo uma roupa e vou
pentear meus cabelos. O reflexo que vi dele era tão real. Será que estou
enlouquecendo?
— Por que não me contou que estava indo para San Francisco? — ela grita
do outro lado da linha.
— Desculpa, amiga. Foi tudo de última hora, não tive tempo de fazer nada.
— E como é aí?
— Ainda não saí do hotel, mas a vista da varanda é linda. Tem um mar bem
em frente. O hotel é muito sofisticado, e só faltou você aqui.
— Aí, amiga, precisamos nos ver para colocar os assuntos em dia. Depois
que foi trabalhar para esse cara, que não lembro o nome, você não tem tempo
de nada.
— Ainda não sei. Você poderia ir ver meu pai para mim?
— Claro. E o que acha de, quando você voltar, fazermos um jantar na sua
casa? Quero apresentar meu namorado para seu pai, e ele está louco para te
conhecer.
— Vou deixar você fazer suas coisas. Me liga quando quiser. — ela fala e
desliga logo em seguida.
Senhorita Kepner
Assunto: Relatório
Estou precisando que venha até meus aposentos. Estou com dificuldade de
entender um dos seus relatórios da última reunião. Fica ao lado do seu quarto.
Atenciosamente:
Bernardo Lumière
CEO LUMINI TECK”
Meu coração falha algumas batidas quando vejo que ele está usando
apenas uma calça jeans e sem camisa.
— Tudo bem, senhorita Kepner. Não precisa ficar assim. — ele fala
normalmente.
— Eu não estou... O senhor poderia vestir uma camisa? — ele não fala
nada por alguns segundos.
— Pode olhar agora. —ele está usando uma camisa polo branca.
— Tudo bem, não imaginei que te deixaria constrangida. — ele fala e senta
em uma poltrona. Seu quarto é bem parecido com o meu. — sente-se, por favor.
Vou mostrar a parte que não entendi. — ele procura algo no notebook,
enquanto eu fico apenas observando seu rosto.
Minha vontade é questioná-lo sobre o que ouvi mais cedo, mas não tenho
coragem.
Expliquei para ele o que tinha acontecido na hora da reunião. Ele estava
um pouco distraído e não viu quando dois acionistas estavam discutindo por
causa de um investimento que não deu muito certo. Alguns perderam uma boa
quantia, quantia essa que eu não precisaria trabalhar nem tão cedo. Mostrei os
números que caíram um pouco devido à compra de um dos produtos lançados
esses dias. Não tivemos um bom alcance de vendas, e isso desestabilizou a
equipe de sócios.
— Ok, vou resolver isso assim que chegarmos. — ele fala e coloca o
notebook em cima da mesinha de canto. — já está com fome? Percebi que não
comeu nada no café.
— Estou um pouco. — falo sem graça. Na verdade, estou com muita fome.
Bernardo
Mais cedo, quando vi a forma como o Erick olhou para ela, minha vontade
foi de jogá-lo dentro de uma panela de água fervente. Porém, jamais faria algo
do tipo.
Ela seguiu para seu quarto enquanto eu trocava de roupa. Vesti uma calça
de lavagem escura, uma camisa social e um sapato preto. Passei meu perfume e
arrumei o cabelo.
(Horas antes)
Bernardo teve uma pequena reunião com Erick, dono do hotel. Assim que
a reunião acabou, ele decidiu passar no quarto de Gabriela. Sua intenção era
chama-la para um almoço com ele e tentar se desculpar pelo ocorrido mais
cedo. A porta do quarto de Gabriela não estava fechada, o que o deixou
preocupado, levando-o a adentrar no cômodo sem anunciar sua chegada.
Bernardo viu que ela não estava no quarto e seguiu até o banheiro, que
também estava com a porta destrancada. No entanto, ele não podia imaginar
que ela estivesse tomando banho. Mesmo com o box do banheiro embaçado
pela fumaça do chuveiro, Bernardo pôde ver perfeitamente o corpo nu de
Gabriela. Seu pensamento naquele momento era entrar ali e agarrar aquela
mulher que vinha tirando seu sono. No entanto, seu respeito por ela era maior
do que seu desejo carnal.
Assim que percebeu que ela o havia visto, Bernardo saiu rapidamente dos
aposentos de Gabriela e seguiu para seu quarto. Sem conseguir se segurar, ele se
aliviou lembrando da imagem do corpo nu dela.
C
apítulo 19
— Podemos ir. — ela fala, me tirando dos meus devaneios.
Eu estava envergonhado de ter visto ela nua mais cedo, porém ela não
precisa saber que eu a vi. Não quero sair nessa história como um pervertido.
— Não sou muito boa com bebidas. — ela fala, parecendo lembrar de
para.
Aluguei um carro para levá-la a alguns lugares, já vim aqui várias vezes a
trabalho, e sempre me perco na beleza desse lugar.
Fecho a porta assim que ela entra e vou para o outro lado, entro no lado
do motorista e dou partida no carro.
— Vou levá-la a um restaurante muito bom, sei que não vai esquecer desse
lugar nunca mais. — falo, olhando para ela.
Levo o garfo até a minha boca. A massa é uma delícia. Escolhi um prato
bem típico, uma massa italiana ao molho branco.
— Acho que nunca comi uma massa tão deliciosa na minha vida, que meu
pai nunca fiquei sabendo disso. — ela fala e sorri, mas ao mesmo tempo seu
sorriso fica triste. Acho que não deveria tê-la trazido para essa viagem, sei que a
saúde do seu pai é instável.
— Como ele está? — pergunto.
— Está levando. Tem dias que está melhor, outros já nem tanto, obrigada
por ter me dado essa oportunidade, o plano cobre tudo que eu não poderia
pagar. — ela fala e toda a dúvida que eu tinha de ter feito ela ser demitida
evapora.
— Olha senhor Lumière, tem outra garrafa aqui. — ela fala levantando
uma garrafa de vinho.
Abro a garrafa e pego duas taças que estavam na pequena mesa de canto.
— O meu copo secou. — ela fala e se aproxima para pegar a garrafa que
está ao meu lado.
Quando ela começou a derramar o líquido na taça, a mesma caiu por cima
de mim, me molhando completamente.
— Tira... tira sua camisa para que eu possa lavar, ou vai manchar tudo. —
ela fala ainda sorrindo.
— Nossa... que forte. — ela fala e toca seus dedos em meu abdômen.
Tomo seus lábios em um beijo feroz, levanto seu corpo e a faço sentar no
mármore do banheiro.
Minha mão vai para debaixo dos seus cabelos, desço o beijo até seu
pescoço. Gabriela joga a cabeça para trás, tiro sua blusa e tenho a visão
maravilhosa dos seus seios.
Toco seus seios devagar por cima do sutiã, ela geme baixo.
Continuo beijando seus lábios, minha mão direita acaricia seu seio direito.
Com a mão esquerda, abro seu sutiã, fazendo seus seios ficarem totalmente
expostos.
Olho para seu rosto que está vermelho, não sei dizer se é de vergonha ou
por causa da bebida. Espero que ela peça para eu parar, mas ela não faz. Então
me abaixo um pouco para sugar um de seus seios. Ela joga a cabeça para trás e
geme mais alto do que antes.
Mordo seu seio devagar enquanto acaricio o outro. Pego Gabriela pela
cintura e a levo até a cama.
Termino de tirar sua roupa e tiro minha calça junto com a cueca boxer.
Observo cada detalhe do seu corpo. Algo me chama atenção, mas não faço
perguntas sobre isso. Estou prestes a penetrar meu membro em sua intimidade
quando ela fala algo que me faz paralisar.
— Você o quê? — pergunto, olhando seu rosto ficar ainda mais vermelho.
Não que pra mim isso seja um problema, de forma alguma, mas eu não
posso fazer isso com ela. Eu nunca vou ser o cara que ela merece.
— Me desculpe, senhorita Kepner, não deveríamos ter feito isso, foi um
erro. — ela senta na cama e puxa uma coberta para seu corpo.
Sinto a bebida sair do meu organismo, já posso ver as coisas de forma mais
lúcida.
— Saia, por favor. — ela levanta e segue para o banheiro. Vou atrás, mas
antes que eu entre, ela fecha a porta.
Ouço seu choro baixo, meu coração dói só de saber que a fiz chorar.
Passei a noite sem dormir. Liguei para o restaurante para saber se ela
comeu algo e eles disseram que não. Minha vontade mesmo era ir até seu
quarto para saber se está tudo bem, mas sei que ela não quer me ver. Então
achei melhor ficar aqui.
C
apítulo 20
Sento no chão do banheiro ainda sentindo as lágrimas escorrendo pelo
meu rosto. Será que ele não quis ficar comigo apenas pelo fato de eu ser
virgem? Ou ele percebeu que realmente era um erro?
— Isso, achei. — falo vendo uma passagem disponível ainda hoje, mas
agora são nove horas da noite, e o voo só sai depois de meia-noite.
— Boa noite, você poderia entregar isso para o senhor Lumière? A essa
hora, ele já está dormindo e eu não quero incomodá-lo. — falo, entregando um
papel para a recepcionista.
Eu não merecia passar por algo assim. Sei que fui culpada por ter deixado
tudo aquilo acontecer. Eu deveria ter parado quando começou, mas eu deixei
continuar. E agora cá estou eu, me sentindo um nada.
— Pois não?
— Desculpe incomodá-lo, mas sua secretária pediu que entregasse isso ao
senhor. — ela me estende um pequeno papel.
"Me desculpa senhor, mas tive um imprevisto na minha casa e tive que ir
embora. Espero que me entenda.
Ass: Gabriela"
Você é um tremendo idiota, Bernardo. Por que você tinha que fazer isso
com ela? Você desejou tanto aquela mulher, e agora você comete a maior
burrice da sua vida. E se ela pedir demissão? Se quando eu chegar no escritório
segunda ela não estiver lá?
Não consegui prestar atenção em nada que Erick falou. Seu pai estava
presente na reunião e percebeu que eu não estava muito bem.
— Acho que já podemos encerrar por hoje, qualquer dúvida nós ligaremos
para você. — ele fala levantando. Só aí prestei atenção neles.
— Vamos, pai. — ele dá as costas e começa a caminhar, mas antes que saia
da sala ele me olha. — pelo que descobri, ela não tem namorado, e depois da
minha viagem em Nova York, o status dela pode mudar. — ele fala e antes que
eu fale algo, ele vai embora.
— Arrume o jato, estou indo para Nova York. — desligo o celular e ponho o
mesmo no bolso onde estava.
(Segunda de manhã)
— Já mandei tudo para o seu e-mail. — ela fala e volta a digitar algo no
computador.
Ele desliga e eu me levanto para ir até sua sala. Bato na porta e ouço um
"entre".
O interrompo.
— Eu peço que o senhor pare, por favor. — olho para ele com raiva. Ele ia
mesmo repetir que aquilo foi um erro? Já não basta o que ele me fez passar,
ainda ia me humilhar mais uma vez? — o senhor não precisa se desculpar, assim
como o senhor falou, aquilo foi um erro e jamais voltará a se repetir. Então, se o
senhor ainda precisar dos meus serviços como secretária, é melhor pararmos
essa conversa por aqui. — falo e ele engole em seco.
— Pode ir para sua sala. — dou as costas para ele e vou para minha sala.
— Já passa das seis e meia. A essa hora, você já deveria estar em sua casa.
— ele fala.
Eu o tive tão perto de mim. Eu o desejei de uma forma que nunca desejei
homem nenhum. E ele me disse que aquilo foi um erro. Como ele pode me
tratar daquela forma?
— Faça como quiser. — ele sai da sala, me deixando sozinha e ainda mais
confusa. O que ele realmente quer? Me confundir? Eu não sei se ele me tratou
bem apenas para me levar para cama ou se ele apenas queria me humilhar. Isso
está me deixando louca.
Quando cheguei em casa naquele dia, meu coração estava tão apertado.
Eu nunca senti nada parecido com aquele sentimento. Minha cirurgia de retirada
do útero foi um baque muito grande para mim, mas o que Bernardo fez comigo
me deixou tão arrasada. Eu me senti uma mulher baixa. Pude sentir minha
autoestima ser jogada do vigésimo quinto andar. Sentir ele me desprezando
quando estava prestes a ser dele me deixou de tal forma que não sei se ainda
tentarei ter alguma coisa com outro homem, pelo menos não enquanto eu
lembrar do que ele me fez.
Pego minha bolsa e saio da minha sala. Todos já foram embora desse
andar. Talvez tenha mais alguém trabalhando. Sempre vem o rapaz da faxina a
esse horário. Vou para o elevador e quando as portas se abrem, adentro o
pequeno transporte. Desço e passo pelo hall da empresa. Vou para a saída e
respiro o ar puro. Estamos na primavera e o vento traz o cheiro das rosas.
Respiro bem fundo, trazendo toda a fragrância para minhas narinas.
— Fica ainda mais linda desse jeito. — ouço a voz e tomo um baita susto.
— Senhor Lumière... O que faz aqui? — pergunto assustada. Pensei que ele
já estivesse em casa ou sei lá onde.
— Eu esqueci uma pasta lá em cima. Meu motorista foi pegar. Aceita uma
carona?
Meu coração fala que sim, mas meu cérebro, que é mais inteligente, grita
que não.
— Eu insisto. Está muito perigoso andar a essa hora com qualquer pessoa.
Me deixe levá-la até sua casa. — merda, o que estou fazendo?
— Tudo bem. — falo sem graça. Eu sei que ele não vai desistir fácil, então é
melhor aceitar logo e acabar com isso de uma vez.
Percebo que ele dá um sorriso de lado, mas faço de conta que não vi.
Quando ele quer, consegue ser bem irritante e persistente.
— Deveria ter aceitado o carro. É perigoso andar com qualquer pessoa por
aí. —ele fala mexendo em algo no tablet.
— Realmente é muito perigoso. — falo com desdém.
— Não citei nomes. Por favor, volte ao que estava fazendo. — falo e olho
para as luzes dos postes que passam rapidamente.
— Deveria medir suas palavras, senhorita Kepner. Acha que já esqueci que
me chamou de troglodita? — olho para ele rapidamente.
— O senhor ouviu?
— Claro que sim. Minha família tem uma ótima audição, não esqueça
disso. — ele volta a mexer no tablet e fico olhando fixamente para ele.
Ao contrário do que eu queria, ele não desceu do carro para falar comigo.
Apenas deu partida no carro e foi embora.
Não posso negar que pensei que ele desceria do carro para falar algo, mas
agora vejo que realmente somos totalmente diferentes. E agora percebo que foi
melhor não termos tido nada aquela noite.
C
apítulo 22
Não foi apenas porque não queria que ela fosse para casa sozinha, mas sim
para que eu pudesse ter mais tempo com ela. Esses dias têm sido uma tortura
desde o dia em que ela voltou de San Francisco. Não parei de pensar o quanto
fui burro. Não deveria ter iludido ela daquela forma e depois dizer que aquilo
tinha sido um erro.
Dias depois
— Organize tudo, ela merece uma boa comemoração esse ano. — semana
que vem é o aniversário de onze anos da Brenda. Não costumo fazer festa nem
nada do tipo, apenas o presente e pronto. Mas este ano, sinto—me um pouco
mais leve, e acho que ela ficaria feliz.
E como preciso. Ela não imagina o quanto eu preciso dela. Isso está me
consumindo. Todas as noites, estou bebendo para tentar dormir. Ela está tirando
minha paz, e nem sequer sabe disso.
— Não, apenas de você. — olho para ela com o meu melhor olhar.
Gabriela engole em seco, sua postura falha por alguns segundos. Eu posso ver
que ela me deseja, assim como eu a desejo.
Desligo meu notebook, levanto e pego meu paletó. Saio da minha sala e
ela está escrevendo algo no celular.
Entramos no elevador. Ela parece estar mais nervosa do que o normal. Sei
que posso ser bem intimidante às vezes, mas com ela eu me perco dentro de
mim mesmo. Meu sentimento por ela parece que só aumenta, e tenho medo de
que isso possa machucá-la assim como aconteceu com Laís. Eu não suportaria
perder outra pessoa que amo.
— Também estou com saudade dela. — olho para ela, que está com o
pensamento longe e um pequeno sorriso no rosto.
Parece que ela realmente gosta da minha filha. Por que não aproveitei a
oportunidade que tive de tê-la naquele dia? Como sou burro. Ela seria uma
ótima amiga para minha filha. Mas vou mudar essa situação. Vou tê-la para mim
e não vou deixá-la sair da minha vida fácil assim.
— Oi Sandra.
Boate?
Ela não diz nada, e isso me deixa furioso. Ficamos apenas os dois em
silêncio. As portas do elevador se abrem, saímos e seguimos até meu carro.
Abro a porta para ela, que me olha de forma engraçada. Vou até o lado do
motorista e entro. Ligo o carro e dou partida.
Ela está em silêncio. Não sei o que falar agora, então apenas ligo o som
baixinho. Começa a tocar uma música (Chord Overstreet).
— Obrigada. A música foi um refúgio para mim. — ela fala, e percebo que
ficou triste ao lembrar de algo.
Desço do carro e vou até o lado dela, abro a porta e estendo a mão para
que ela segure. E, por incrível que pareça, ela fez, segurou minha mão e desceu
do carro.
Tradução:
(Senhor Cassano, que prazer revê-lo. Fiz uma reserva hoje cedo para duas
pessoas.)
Tradução:
Tradução: (obrigado)
Reservei a mesa mais afastada e a que tem a melhor vista. Além de ver
todo o aquário de um lado, do outro dá para ver toda a cidade ao longe. O
restaurante fica um pouco longe da cidade, não muito, digamos que a meia hora
de carro.
— Obrigada. — Gabriela senta, e vou para a cadeira que fica de frente para
ela. Pego o cardápio e abro.
— Não, eu queria conversar com você, e sabia que você não aceitaria.
Então tive que fazer isso. — falo e olho para ela. Gabriela parece estar furiosa.
Capítulo 23
— Estou esperando que diga algo. Afinal, eu a forcei a vir aqui. — ele
fala, me olhando de uma forma sexy.
— Sim. — ele faz sinal para um dos garçons, que logo chega à nossa
mesa.
O interrompo.
— Não se sinta mal por minha causa. — ele fala e despeja vinho na
minha taça.
— Merda, está tendo uma reação alérgica. — ele vem até mim e me
pega no colo.
— Como assim?
— Eu não sabia que você era alérgica a Lagostas. — ele fala, e respiro
aliviada.
— Logo o médico vai passar aqui e te dar alta. Seu rosto ainda está
um pouco vermelho. — coloco as mãos nas minhas bochechas.
Harry, o nome dele. Ele fez minha cirurgia e cuidou de mim quando
tive complicações no pós-operatório. Lembro que uma vez eu estava
sentada em um corredor onde chegavam pessoas do trauma. Eu vi um
rapaz muito bonito, e estava cantarolando uma música aleatória. Quando
levantei minha vista, escureceu. Senti que meu corpo estava caindo, e
antes que tocasse o chão, alguém me segurou. Não consegui ver mais nada
até acordar no dia seguinte.
Ele me levou até em casa. Dessa vez, eu aceitei que ele me deixasse
na porta da minha casa.
— Sério? — pergunto.
— Boa noite, senhor Kepner. — ele fala, estendendo a mão para meu
pai.
— Boa noite, senhor Lumière. — meu pai fala, apertando sua mão.
— Não, obrigado.
— Filha, por que não faz aquela sua deliciosa lasanha? Comprei os
ingredientes hoje. — meu pai fala, e olho para ele séria.
— Ele saiu. — papai fala, e não consigo não ficar triste ao saber que
ele foi embora. Mas o que eu estava pensando? Que ele ficaria para comer
uma simples lasanha, quando ele pode comer as melhores comidas?
— Oi, amiga.
— Oi, só liguei para dizer que hoje não vai dar para ir na boate.
— Tudo bem.
— Tchau, te amo.
Procuro algo para beber. Acho que suco natural cairia bem. O pai dela
também não pode ingerir álcool, então acho que suco natural é a melhor
opção.
— Veremos onde isso vai parar. — falo, olhando para mim mesmo.
Saio do carro e vou até a porta. Abro devagar e entro. Gabriela está
cantando. Vou até a cozinha, de onde vem o som de sua voz.
Seu pai está olhando a filha cantar. Ele está encostado no batente da
porta, e ela está de costas para ele. Assim que me vê, ele faz sinal para não
fazer barulho.
Ela está cantando "Hold On". Sua voz sai tão suave. Poderia ficar
horas e horas escutando o som de sua voz. Assim que ela vira e nos vê
olhando para ela, Gabriela toma um susto e deixa uma xícara cair no chão.
A mesma se quebra em vários pedaços. Me aproximo rapidamente para
ajudá—la a catar os cacos de vidro.
Gabriela olha para mim, e eu olho para ela. Por que seu rosto me é
tão familiar? Vendo—a assim tão perto, Gabriela parece muito com a moça
do hospital, mas não poderia ser ela. Aquela moça parecia tão frágil, e
Gabriela, apesar de passar por tanta coisa, é forte até demais.
— Poderia levar os copos para mim, por favor? — faz que sim com a
cabeça, e ele sai.
— Bom, é ótimo estar com vocês aqui, mas tenho uma partida de
xadrez na casa do Francisco. — o pai dela fala, pega um casaco e sai de
casa, deixando apenas nós dois.
— Desculpe, meu pai, por favor. Ele adora jogar xadrez. — ela fala.
— Sim, mas eu fui muito feliz. Eu sempre tive meu pai ao meu lado.
— Gabriela fala, e sorri.
— Essa é a melhor parte, saber que ele sempre esteve ao seu lado,
independentemente das dificuldades. — falo.
— Tudo bem, me perdoe. Não achei que você ficaria assim. — falo, e
pego minhas chaves que estavam na mesa.
— Tudo bem, é o que mais desejo para você. Que esqueça tudo o que
passou e que siga sua vida. — ele me abraça, e então olho para ele.
— Eu não vou namorar. — ele faz "shi" e empurra minha cabeça contra seu
peito. Sorrio com o gesto.
Termino de me arrumar e saio de casa. Sandra insistiu para que eu vá para
a balada com ela e seu namorado hoje. Ainda não conheci formalmente o
namorado dela, embora ela fale muito sobre ele. Na verdade, nem sei o nome
dele ainda. Resolvi comprar algo mais especial para essa noite. Conheço bem
minha amiga, e mesmo sabendo que odeio festas, ela vai me arrastar de
qualquer forma. Não basta ficar em um lugar barulhento, ainda vou ter que ser a
terceira roda.
Não é porque ela está tendo sei lá o que com meu pai que nós duas
teremos algum vínculo. Não sou mal-educada, pelo contrário, só não quero
muita aproximação. Se ela fizer meu pai sofrer, ela se verá comigo. É melhor
manter uma certa distância.
Olho meu corpo dentro do vestido, e ficou perfeito. Não sou uma mulher
para ser descartada. Deveria me valorizar um pouco mais, tentar arrumar um
namorado. Quem sabe ele me aceite como sou. Hoje em dia, adoção é tão
normal. Muitas mulheres preferem adotar em vez de arruinar o corpo com uma
gravidez. Vou pensar nisso.
— Vou levar esse. — falo, e a mulher sorri carinhosamente. Nossa, essa
mulher é um pouco esquisita.
Passo no salão e arrumo meu cabelo. Não podia ter essas regalias antes,
mas depois que comecei a trabalhar para o senhor Lumière, minha vida
melhorou. Não preciso mais me preocupar com plano de saúde. Agora, meu
dinheiro sobra um pouco para eu comprar roupas e ter outras regalias. Assim
que entro no salão, uma moça vem me atender.
Ela pergunta, e explico o que quero fazer. Há algum tempo, queria mudar
um pouco o visual, clarear meus fios.
— Você vai ficar deslumbrante. — ela fala e me leva até uma cadeira.
— Gabriela?
— Diretora. — falo.
— Vejo que seu trabalho está lhe fazendo muito bem. — ela fala com uma
pitada de sarcasmo.
— Sim, nunca me senti tão bem. Mas como sabe que estou trabalhando?
— pergunto.
Passo em mais algumas lojas, mas não compro nada, apenas olho mesmo.
Sigo para casa, entro, e meu pai está sentado no sofá, lendo um livro.
— Oi, filha. — ele olha para minhas sacolas e depois para meu cabelo.
— Que maravilha! Você tem que aproveitar. E ficou lindo seu cabelo.
Inclusive, a Sandra me ligou, disse que te chamou para uma festa e perguntou se
eu deixava. — ele solta uma risada engraçada.
— Porque ela me pediu, como se fosse eu quem não deixasse você sair.
Filha, é você quem não gosta de sair. — ele fala, e balanço a cabeça em negação.
— Eu trouxe um presente. — falo, indo até onde ele está.
— Não precisa ficar gastando dinheiro comigo. — ele fala, mas finjo que
não ouvi.
— Pegue. Seu aniversário está perto, e quero que você fique sempre
conectado. —entrego a sacola para ele, que me olha e depois olha para a
caixinha dentro da sacola.
Ele pega o aparelho, feliz da vida. Fico ainda mais feliz em vê-lo assim.
Farei qualquer coisa para ver esse sorriso em seu rosto, porque ele fez tudo o
que podia por mim. Agora, só quero retribuir, nem que seja um pouco.
— Pai, eu esqueci de falar. Vi aquela mulher que estava aqui com o senhor.
Ela trabalha em uma das lojas do shopping. — falo, e ele me olha.
— Filha, eu não quero que você se aproxime dela. Aquela mulher não
presta. — ele fala, e fico observando. O que ele quer dizer com isso? Por que ele
a trouxe aqui em casa, e estavam se beijando? Será que ela o traiu?
Não vou dizer que não fiquei com uma pulguinha atrás da orelha, porque
sim, fiquei e muito.
C
apítulo 26
Chego em casa depois de uma corrida matinal e vou direto para meu
quarto. Tomo um banho e visto um moletom preto. Coloco uma camisa regata e
depois desço para a cozinha.
Verdade, hoje não vou para a empresa. Me dei uma folga, pelo menos por
hoje.
— Oi, Bruno.
— Você sabe que não gosto dos mesmos eventos que você.
— Você é o irmão careta, mas eu vou sair com minha namorada e ela vai
levar uma amiga. Queria que fizesse companhia para ela.
Sorrio.
— Eu não sou quebra-galhos, obrigado pelo convite, mas dispenso.
— Você não vai fazer nada, então o que custa me fazer esse favor? Depois
você leva a garota para casa e acabou.
— Não.
— Bom dia, Matilde. Hoje você está de folga, o que faz aqui?
— A Brenda está aqui, então vim fazer o almoço dela. — ela fala.
— Eu vou levá-la para almoçar fora, não se preocupe. — Matilde então vai
embora depois de me fazer um imenso questionário. Eu a considero da família,
ela é mais que uma governanta, é uma figura materna para minha filha.
— Tá bom, papai. — ela levanta e vai rapidamente para seu quarto. Subo
para meu quarto também, e meu celular começa a tocar.
— Bruno.
Aquela foi uma das besteiras que fiz na minha vida. Tirei a virgindade de
uma mulher, e o pior, ela é minha prima. Depois do que aconteceu, acabei
contando para o Bruno, e agora ele está usando isso contra mim, só para me
fazer ir a uma festa.
— Vamos? — pergunto.
Sei que não sou um bom pai para minha filha. Não temos muito o que
dialogar, e às vezes sou mais grosso do que deveria. Sei que a ausência da mãe
dela nos afastou, e já deveria ter me conformado com isso, mas ainda dói
lembrar dela. Talvez o que me afaste da minha filha seja a semelhança entre as
duas. Não estou querendo justificar minha falta de atenção com minha filha. Só
queria que fosse mais fácil.
Aperto sua mão rapidamente. Ele nos direciona a uma mesa. Eu e Brenda
fazemos os pedidos e ficamos esperando.
— Venha, vou comprar um presente para você. — falo, e ela sorri ao ver o
logotipo da loja.
— Sério?
Respiro fundo e a vejo indo escolher seu celular novo. Cancelamos a festa
de aniversário de onze anos dela. Minha filha preferiu ganhar uma viagem para
outro país em vez da festa.
Deixo minha filha na casa da minha mãe e sigo para a empresa. Tenho
algumas coisas para fazer lá antes de ir para casa.
Coloco uma calça jeans de lavagem escura, uma camisa preta de gola polo
e um sapato casual. Passo meu perfume e, por último, coloco meu relógio no
pulso.
Saio de casa já passando das nove da noite. Não demora muito para
chegar à boate para a qual meu irmão me obrigou a vir.
— Ainda estamos aqui fora. Pode falar normal. — falo, fazendo careta
para ele.
— Eu nem queria vir aqui. Não faço questão de conhecer sua amiga. —
falo e me sento na poltrona. Bebo uma dose de Vodka.
— Bernardo, Bruno, que prazer tê-los aqui. — Júlio, o dono da boate, fala
ao entrar no camarote.
— Amor, não sabia que estava com amigos. Vou descer. — olho para a
mulher que fala e me surpreendo.
Capítulo 27
Olho mais algumas vezes até reconhecer a pessoa.
— Sandra?
— Diga que estou dormindo. Não quero ver ninguém agora. — falo.
E assim minha mãe faz, e isso se repete por alguns dias, até que não
aguento mais aquela situação e coloco um ponto final na relação. Falei
toda a verdade para ela, e ela aceitou numa boa o fim do namoro.
Mas agora, vendo-a e meu irmão juntos, me faz rir da situação. Não é
deles, é das voltas que o mundo dá. Agora ela está com meu irmão.
— Sim, lembra do cara que me deixou por uma miragem? Pois bem,
é ele, seu irmão. — solto uma gargalhada.
— Aí, Gabriela, você não tem jeito. — Sandra sai em disparada atrás
da amiga, e eu fico atônito.
— Bernardo!
— Merda!
— O que pensa que está fazendo, seu babaca? — sua voz está
arrastada por causa do excesso de álcool.
Assim que ela olha para mim, sua expressão muda.
— Ele só me tirou de lá... porque ele é meu chefe. — ela fala com a
voz arrastada.
— Sim. — falo.
— Cala a boca, sua louca. Você só pode estar muito bêbada mesmo.
Amanhã ela vai ficar morrendo de vergonha. — Sandra fala.
— Tudo bem, eu vou indo. — vou até onde ela está e a ajudo a se
levantar.
— Não faça nada com ela, ou eu mesmo vou te matar. — Sandra fala,
olhando para mim.
Ajudo Gabriela a descer, e seguimos para meu carro. Ela fala coisas
aleatórias que não faço questão de entender.
— Quer saber... não me leve para casa. Meu pai vai ficar muito,
muito mesmo, com raiva de mim. E eu não quero ver o olhar de decepção
dele para mim de novo. — paro de andar e olho para ela. Gabriela está
com o pensamento longe, talvez lembrando de algo.
— Por que ele faria isso? Seu pai parece sentir muito orgulho de
você!
Ela tentou tirar a própria vida? Por que ela faria isso? Será que foi
quando a conheci no hospital?
— Fala aí.
— Oi, Bernardo.
— Ela pediu para não a levar para casa. Estou levando-a para minha
casa. Se puder, traga uma roupa para ela amanhã cedo.
— Você está na minha casa, então acho que essa pergunta deveria ser feita
por mim em outras ocasiões. — ele fala e deixa uma bandeja ao lado da cama
onde estou.
— Como vim parar aqui? — pergunto. Ele me estende a mão, com dois
comprimidos em sua palma. Olho para ele e ele faz sinal para que eu os pegue.
— Não faça mais aquilo. É arriscado para sua vida. — ele fala e vai até a
cortina, puxando as costuras e abrindo as grandes janelas de vidro.
— Sua amiga vai te contar. — ele fala e sai do quarto. Forço-me a levantar
da cama para segui-lo. Como assim minha amiga vai me contar?
Ele para de andar e olha para mim. Seus olhos descem até minhas pernas.
Olho para minhas vestimentas e coro freneticamente. Estou usando uma
camiseta que provavelmente é dele.
— Me... me desculpe por ter feito o senhor passar por isso. — falo,
envergonhada.
— Não tem o que agradecer. Sua amiga trará roupas para você. Por
enquanto, essa está perfeita em você. — ele fala e se vira, dando as costas para
mim.
— Ah, por favor né, Gabi. Se você estivesse sóbria, teria visto a forma
como ele te pegou no colo. Sabe, como um cachorro bem valente marcando
território. Foi bem isso. — ela fala.
— Essa é uma conversa particular, Bernardo. — ela fala, e ele sorri de lado.
— Sim, amiga. Esse foi o babaca que me deixou por uma miragem no
hospital. — Sandra fala, e fico olhando de um para o outro, sem saber o que
dizer.
— Sim, por mim tudo bem. — falo, sem querer ser mal educada.
— Ótimo, Brenda vai ficar muito feliz em te ver. — ele sai do quarto, e
pego as roupas que Sandra trouxe para eu usar.
Vou até o banheiro e visto a roupa. Ela trouxe um mini short jeans.
— Desculpa, amiga. Você sabe que minhas roupas são todas assim, e você
é bem mais magrinha que eu. Então foi o único que achei que poderia servir em
você. — ela tenta se justificar.
— Com que cara eu vou chegar lá embaixo com uma roupa dessas? —
pergunto, indignada.
— Aquela camisa que você estava usando ficará perfeita com esse short.
— ela fala e dá uma piscadinha de olho para mim.
— Amiga, aproveita. Ele está caidinho por você. Se fosse eu, não iria
dispensar, assim como não dispensei o Bruno. — ela fala, e balanço a cabeça em
negação.
— Sua pervertida. Eu não vou ficar com meu chefe. Nossa relação
certamente será bem mais simples assim, do jeito que está. — visto a camiseta
que eu estava usando, e até que deu certo.
— Vamos. Ouvi eles falando sobre churrasco e banho de piscina. — ela
fala, e olho confusa para ela.
— Sim, sei lá. — ela faz sinal com as mãos. — só acho que ouvi isso. — ela
caminha para fora do quarto, enquanto eu fico olhando para ela.
— A casa dele é muito bonita. — falo para Sandra, que olha ao redor.
— Você não sente nada por ele? — pergunto, como quem não quer nada.
— Claro que não. Eu nem gostava tanto assim dele. Mas eu amo o Bruno.
— ela fala, e dá um sorriso de lado.
— Para, amiga. Você só tem que deixar alguém entrar em sua vida. Você é
linda e precisa superar seus traumas. — ela fala, olhando para mim.
— Talvez um dia. — falo, e ela nega com a cabeça.
— Aqui está, pode temperar para mim? — pergunto para meu irmão,
que está acendendo a churrasqueira.
— Viu? Quem cala consente. — ele diz por fim, dando um sorrisinho
de lado.
— Eu não sei o que sinto por ela. Só não quero coloca-la na confusão
que é minha vida. — falo.
— E se ela quiser entrar na confusão? O que você vai fazer? — ele
pergunta, me encarando.
— Eu não sei. Só sei que gosto de estar perto dela. Gosto de vê-la
falando, gosto quando ela passa por mim e seu cheiro fica exalando no
meu nariz. E detesto quando vejo algum homem olhando para ela. — falo,
com o pensamento longe.
— Aí, que bonitinho. Você está apaixonado por ela. — saio dos meus
devaneios e olho para ele.
— Cala a boca e prepara logo essa carne. Ela deve estar com fome. —
falo, e ele continua me provocando.
— Eu sei. Você foi um mal maior, me largou para eu poder ficar com
seu irmão, que é bem mais bonito que você. — ela fala, e Bruno gargalha.
Reviro os olhos.
— Amiga, você quer beber algo? — ela pergunta para a amiga que
está em pé apenas nos observando.
— Isso mesmo. Ela já até aceitou, não é mesmo, Gabi? — ela olha de
mim para a amiga, e Gabriela confirma, desviando o olhar de mim.
Dou as costas para eles e vou para dentro de casa. Entro no meu
quarto e quebro um dos porta—retratos da cabeceira.
— O quê? — não deixo ela falar mais nada e a puxo para um beijo.
Sentir seu gosto novamente me deixou excitado tão rapidamente.
Ela passa uma das mãos em minha nuca, mostrando que ela também
anseia por isso. Faço ela se prender ao meu corpo e a levo até a mesa do
meu escritório. Jogo todas as coisas no chão e a ponho sentada, sem
desgrudar nossos lábios. Minha língua explora sua boca, suas unhas fazem
uma trilha em meu pescoço, me fazendo arrepiar. Paramos o beijo quando
o fôlego nos falta.
— Não vá a esse encontro. Eu não suportaria ver outro te tocando.
Me deixe te levar a um encontro, só nós dois. — suplico.
— Me desculpe por aquele dia. Sei que fui um idiota com você. — ele diz,
ainda abraçado a mim.
— O que você está fazendo comigo? — ele pergunta, roçando sua barba
em meu pescoço.
— S—sim, claro. É melhor você ir primeiro. — ele fala, e dou as costas para
sair. Mas antes que eu passe pela porta, ele fala.
— Eu poderia ficar aqui o dia todo com você. — ele fala entre o beijo.
— Talvez, mas você tem visitas na sua casa, então isso não é possível. —
dito isso, me afasto e saio do escritório.
— É... sim, está tudo resolvido. — falo, olhando para Sandra, que me lança
um sorriso perverso, como quem sabe o que aconteceu lá dentro.
— Sério que você vai abrir sua garrafa de Domaine Leroy Musigny? —
Bruno pergunta, e eu olho para a garrafa. Esse é um dos cinco vinhos mais caros
do mundo. Olho confusa para Bernardo, que exibe um grande sorriso no rosto.
— Então, abra logo essa garrafa, homem. Não sabe quanto tempo eu
desejei esse vinho. — Bruno fala, nos fazendo sorrir.
O almoço foi legal. Conversamos, Bruno e Bernardo falaram sobre suas
infâncias. Bernardo perguntou a Sandra como ela abriu o próprio negócio, e ela
contou tudo. Ele disse que, se ela precisar, ele pode se tornar um sócio da sua
pequena empresa.
Sandra, como uma boa CEO de sua pequena empresa, aceitou de cara,
mas pediu uma avaliação primeiramente.
— Eu vou para casa. Meu pai deve estar preocupado. — falo, levantando.
— Não, fique aqui. Está seu irmão, sua filha e Sandra. Eu posso ir sozinha.
— falo.
— Eu vou ficar bem. Por favor, me deixe ir sozinha para casa. Não somos
um casal de namorados adolescentes. — falo baixo, para que apenas ele ouça.
— Gabi, deixa o papai te levar. Acho bem fácil ele te seguir até a saída. —
Brenda fala, me fazendo corar.
— Tudo bem. Brenda, poderia vir também, conhecer meu bairro. Não é
nada chique como esse, mas é um bom lugar. — falo, e ela sorri.
— Sim, venha com a gente. — ele fala, e seguimos para a garagem. Ele
entra em uma SW4 preta, e entramos também no automóvel.
— Eu moro aqui, Brenda. — falo, assim que Bernardo para o carro.
— Nossa, você andava tudo isso até chegar na escola? — ela pergunta,
surpresa.
— Filha, tchau para ela. Amanhã, Gabriela trabalha cedo. — ele fala, e
Brenda me olha.
— Tchau, Gabi. Eu estava com muita saudade de você. — ela fala, e dou
um beijo em sua bochecha.
Desço do carro e vejo os dois irem embora. Assim que entro em casa, ouço
a voz daquela mulher do shopping falar.
— Ainda não está na hora. Esse assunto precisa ser conversado com
delicadeza. — meu pai fala.
— Ela tem que saber. Já fazem dois meses que você só fala nisso. Ela
precisa saber a verdade. — a mulher rebate.
Bernardo
— Filha, o que você acha da Gabi? — pergunto, como quem não quer
nada.
— Eu gosto dela. Acho ela uma pessoa verdadeira, sincera e muito gentil.
— Minha filha fala, sorridente.
— Pai, eu tenho dez anos. Eu sei que hora ou outra você vai namorar
alguém, e sei também que gosta da Gabi. Eu quero uma figura materna como
ela, mas você não pode fazer burrada com ela. — minha filha fala, me deixando
de boca aberta.
— Calma, Brenda. Não é simples assim. Eu nem mesmo sei se ela gosta de
mim. — falo.
— Pai, ela te olha com um brilho nos olhos. Ela está apaixonada. E, por
favor, não estraga isso!
— Claro que vi. Eu acho que nunca vi ele daquela forma, nem mesmo com
Laís ele tinha aquele sorriso. — ele fala.
— Ela também gosta dele. Espero que ele seja um bom partido para ela.
Minha amiga merece! — comento, sorrindo ao imaginar.
— Bernardo está cada dia mais suave. Eu nunca o ouvi gritar com ela. As
outras secretárias não suportaram ele nem duas semanas. — sorrio só de
imaginar.
— Agora eu quero saber. Eu não vou falar nada, prometo. — ele faz bico.
—Tá, eu vou falar, mas primeiro me ajuda aqui. — ele abre a porta para
mim, e entramos.
— Pega esses ingredientes para mim. — falo, e ele vai até onde estão os
ingredientes.
Falo sobre tudo que aconteceu com minha amiga no passado. Bruno fica
de boca aberta a cada frase que falo.
— Ela não pode saber que eu te disse isso. Ela tem medo, insegurança. Ela
passou mais de um ano fazendo terapia, e até hoje ela é insegura com seu
corpo. — falo.
— Ela não parece ter passado por isso. Gabriela é tão extrovertida. — ele
fala.
Como era final de domingo, eu não quis chamar meus funcionários. Eles
não são obrigados a trabalhar no domingo. Então, fiz tudo praticamente sozinha,
porque Bruno se encostou no balcão e dormiu.
Guardo tudo nos freezers, que ficam apenas conservando, e vou até onde
Bruno está.
— Vamos para casa! — ele entra no carro e já vai logo pegando no sono.
Sigo direto para minha casa. Acho que meu relacionamento com Bruno está
avançando mais rápido do que imaginávamos. Ele só dorme na minha casa, suas
roupas já estão ocupando espaço no meu guarda—roupa, e acho que não
consigo mais me adaptar a ficar sem ele em casa.
Gabriela
— Filha, fala alguma coisa! — olho para os dois que estão na minha frente
e sorrio nervosamente, ou com raiva, não sei qual sentimento estou
experimentando agora.
— Você não tem o direito de me chamar assim, não depois de tantos anos.
— falo, sentindo lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
— Não fala isso, deixa eu explicar! — passo as duas mãos no rosto e
respiro fundo.
— Onde você estava quando eu caí pela primeira vez de bicicleta? Meu pai
não tinha tempo para me ensinar porque ele precisava trabalhar para me
sustentar. Onde você esteve quando eu concluí meu ensino fundamental? Meu
pai estava lá, ou melhor, onde você estava quando eu precisei fazer uma
histerectomia? Porque a essa altura você já sabe, não é? — pergunto com tanta
raiva que nem mesmo me importo se ela sabia ou não.
A mulher à minha frente chora como um bebê que perdeu sua chupeta
preferida.
— Ele estava lá, meu pai esteve comigo. Então, depois de mais de vinte
anos, não venha querer tentar amenizar a situação. Não agora. — falo e saio da
sala, indo direto para o meu quarto.
— Filha, vem aqui. — meu pai vem logo atrás, mas pela primeira vez na
vida, bato a porta em sua cara.
Deito na cama e deixo o choro vir com força. Já senti muitos tipos de
sentimentos: dor, tristeza, arrependimento, fraqueza, mas esse sentimento
agora é algo bem diferente. É raiva, e sei que não é um sentimento bom. É algo
que toma conta do seu corpo, trazendo uma energia negativa, e eu não quero
isso, não para mim, não agora, depois de tudo que passei.
Não consigo sair do quarto naquela noite. Sinto meu rosto bem inchado do
choro prolongado. Ao amanhecer, que para mim foi uma bela virada de noite
acordada, levanto assim que meu celular desperta e sigo para o banheiro. Ligo o
chuveiro e deixo aquele sentimento de amargura ser levado pela água. Não sei
como vou encarar meu pai agora. Ele sabia que ela estava por perto e não me
contou. Ele trouxe ela aqui na nossa casa!
Visto uma calça jeans de lavagem escura e uma blusa social branca. Coloco
um blazer preto por cima e pego minha bolsa. Saio de casa antes que meu pai
acorde. Não quero falar com ele, não agora.
— Senhor Lumière já chegou. Pediu que fosse até lá assim que chegasse.
— Miranda fala, apontando para a sala do chefe.
— Tudo bem, obrigada meninas. Eu não vou almoçar com vocês hoje, tá.
— falo e me afasto delas, vou até a sala do Senhor Lumière e bato duas vezes.
Ouço um "entre" e então adentro a sala.
— Bom dia, linda. — ele fala, me puxando para junto de seu corpo.
Minha vontade era poder tocar seus lábios em um beijo quente como o de
ontem, mas os acontecimentos de ontem à noite não me fizeram ter outra
reação a não ser chorar contra seu peito.
— O que houve? Está chorando? — Bernardo não tem outra reação a não
ser me abraçar forte contra seu peito.
Levo-a até o sofá, e ela se senta. Vou até o frigobar e pego uma garrafa de
água. Volto até onde ela está, que agora tenta secar as lágrimas. Abro a
garrafinha e sento ao seu lado. Gabriela pega a garrafa da minha mão e beberica
alguns goles de água.
— Não estou preocupado com isso. Quero saber o que aconteceu para
você estar assim. — falo.
Fico calado por um tempo. Eu não sei o que aconteceu em sua família,
então não posso dar palpites. Se ela quiser se abrir, eu estarei aqui para ouvir e,
se puder, aconselhar. Mas, na verdade, não sou a melhor pessoa para dar
conselhos, principalmente quando se trata de família. Além disso, tenho uma
filha de dez anos e nem sei o que falar para ela às vezes.
— Obrigada. Agora eu vou voltar para minha mesa! — ela levanta e sai da
minha sala a passos largos. Me pergunto se deveria contratar alguém para
descobrir mais sobre essa mãe dela. Afinal, como Gabriela falou, ela foi embora
já faz um bom tempo. Ela não voltaria assim do nada, sem querer algo em troca.
Volto a analisar alguns papéis, enquanto a ideia de falar com Lúcio não sai
da minha cabeça.
Eu e Gabriela não tivemos nenhum tempo a sós. Ela saiu para almoçar com
as colegas, e eu pedi para que ela trouxesse algo para mim. Tive duas reuniões
com acionistas pela manhã. Já passa das cinco da tarde, e ainda estou ocupado
com alguns assuntos. Logo, Gabriela irá embora, e não terei tempo de beijar
seus lábios hoje.
Eu fiquei preocupado com ela quando a vi daquela forma, mas sei que não
poderia fazer nada. Não sou um bom exemplo de pai e tampouco de filho.
— Acho melhor às oito! — ela fala sorrindo. Já passa das seis e meia da
noite, e não percebi que se passou tanto tempo assim.
— Eu insisto. — digo.
— Aceite o carro. Facilitaria muito sua vida, até mesmo para a locomoção
do seu pai. — falo depois do beijo. Ela fica em silêncio.
— Porque você não está sendo favorecida com nada. Aqui, vários
funcionários usam carros da empresa. Eu não estou querendo te favorecer,
apenas te ajudar. — falo.
Pego minhas coisas e saio da empresa. Hoje vou oficialmente pedir ela em
namoro. Se ela aceitar, vou na casa dela pedir a seu pai. Eu sou um homem das
antigas, gosto das coisas certas, e pretendo fazer isso com o nosso
relacionamento. Se ela aceitar o fato de eu ser estéril.
C
apítulo 33
Desço até a garagem segurando a CNH, um dos seguranças me
acompanha até o local onde estão estacionados os carros.
— O que a senhorita quiser, mas acho que esses não fazem seu estilo.
— Ele fala e começa a andar para outro lado da garagem.
— Pode pegar ele, acho que combina mais com o seu estilo. — Ele fala,
olhando o carro.
— Tem algum carro simples aqui, que eu possa usar sem chamar
atenção? — Pergunto, ficando impaciente.
Sandra me ensinou a dirigir. Ela disse que um dia eu teria o meu próprio
carro e precisaria saber o básico para tirar minha carteira de motorista.
Graças ao poderoso Bernardo, eu não vou precisar.
Saio da garagem, e algumas pessoas olham para o carro. Sei que não
posso me achar por causa desse carro, afinal, ele não é meu, mas eles não
precisam saber disso.
Assim que entro na rua da minha casa, as pessoas param para olhar o
carro. Dirijo devagar até chegar em frente à minha casa. Assim que paro o
— Filha? O que faz nesse carro tão chique? — Ele pergunta, me olhando
com uma grande interrogação na testa.
— O que está querendo dizer com isso? Anda, fale logo! — Meu pai
parte para cima dele.
— O que você está fazendo, Gabriela? Não foi para isso que eu te criei!
— Ele fala, e percebo que suas falas anteriores foram apenas para tentar calar
a boca dos fofoqueiros da rua.
C
apítulo 34
Sorrio sem nenhum humor.
— Não, pai. Espero que sua consciência esteja tão limpa quanto a minha.
Mas antes que fique sabendo por terceiros, hoje eu tenho um encontro!
Fecho a porta atrás de mim e vou até minha cama. Essa pequena discussão
com meu pai me desgastou muito. Eu não quero decepcioná-lo, mas estou muito
triste por ele ter trazido aquela mulher para cá. Eu a vi aqui, e ele nem sequer
me disse quem ela era. Isso me deixou decepcionada com ele. Não esperava
isso, não vindo dele.
Depois de alguns minutos pensando, ouço batidas na porta. Sei que é ele,
e que certamente vai se desculpar. Eu conheço meu pai, sei como a mente dele
age, principalmente depois de nós dois nos desentendermos.
— Não, está tudo bem. Só queria vir te ver. — Ele começa a rodear.
— Ele parece ser um bom homem. Só peço que não se perca no meio de
tudo isso. Ele é muito rico, e as pessoas ao redor dele esbanjam luxúria. Não se
esqueça de onde veio. — Ele fala, e suspiro.
— Ela é sua mãe, meu amor. Vocês precisam conversar. — Ele fala, e
levanto da cama. Vou até a pequena janela e olho para fora, na esperança de
não magoar meu pai com palavras.
— Ela foi a mulher que me colocou no mundo, mas ela não é minha mãe.
Você foi pai e mãe. Ela não esteve comigo em nenhum momento. Ela não faz
parte da minha vida. Não tente fazer eu ter nenhuma proximidade com ela, por
favor, pai. — Falo, e ele balança a cabeça em concordância.
—Obrigada!
Saio do banheiro e vou para o meu quarto. Sequei meus cabelos. Ainda
não me acostumei com a cor deles. Achei muito lindo, mas foi a primeira vez que
fiz algo tão radical. Essa cor é novidade para mim.
Visto o vestido que separei para usar essa noite. Ele é preto, longo e tem
uma fenda na perna direita. Nos pés, coloco um salto médio na cor nude. Deixo
os cabelos soltos e passo uma maquiagem leve. Pego minha bolsa de mão e me
olho no espelho. Nunca tive condições de comprar roupas e calçados bons. Eu
não acho que seja pecado eu poder usufruir um pouco do que ganho. O
tratamento do meu pai está indo bem, nosso aluguel não atrasa mais, sempre
compro presentes para ele. Não falta nada para nós. Será que é tão ruim assim
eu aproveitar um pouco dessa luxúria?
— Oi.
— Já estou saindo.
Bernardo desce do carro, e meu coração erra uma batida. Ele está vestindo
um terno de linho, perfeitamente ajustado em seu corpo. Suspiro e olho-o de
cima a baixo. Seu perfume exala em meu olfato.
— Está perfeita, meu amor. — Eu poderia facilmente dizer que tive um
mini-infarto ao ouvi-lo falar a palavra "meu amor".
C
apítulo 35
Termino de me arrumar e me olho no espelho. Pego uma pequena
caixinha aveludada que está em cima da mesinha de cabeceira e olho mais uma
vez a pequena joia. Passo o perfume que mais gosto. Acho que já faz mais de
vinte anos que uso essa mesma fragrância.
No caminho para casa, pensei muito sobre isso. Quero que ela seja
oficialmente minha namorada. Quero poder apresentá-la à minha família e
levála para os melhores lugares. Mas tem coisas sobre mim que não sei se ela
está pronta para saber. Coisas do meu passado que ainda não se apagaram da
minha vida, e isso me assombra. Será que ela vai aceitar algumas coisas que
carrego comigo?
Desço até a garagem e procuro o carro que vou usar hoje. Escolho minha
Ferrari, faz alguns meses que não ando nela.
Vejo Gabriela saindo de sua casa, e meu coração falha uma batida. Ela está
linda. Seu jeito me encanta a cada dia mais. Posso dizer para o meu
subconsciente que sou louco por ela, mas poucas pessoas precisam saber disso.
— Está perfeita, meu amor. — As palavras saem naturalmente, não são
forçadas nem muito menos sem querer. Vêm de dentro de mim. E olhando a
forma como ela me olha de volta, sei que o sentimento é recíproco. Depois de
alguns minutos em silêncio, ela finalmente resolve falar, mas não o que eu
queria ouvir.
— Bernardo, precisava vir com um carro desse porte? — Ela pergunta,
visivelmente zangada.
— Sabe o que meus vizinhos vão falar? Na verdade, eles já estão falando,
que estou sendo garota de programa. E se eles me virem saindo com você nesse
carro, aí é que serei alvo de críticas. — Ela fala e suspira. Talvez eu devesse ter
vindo com um carro um pouco mais simples. Mas minhas intenções com ela são
as melhores. Quando a vi pela primeira vez, pensei que apenas uma noite com
ela seria suficiente para me satisfazer. Mas quando ela me falou, com toda a
pureza do mundo, que era virgem, soube que ali seria diferente. Tentei não
pensar nela, mas foi impossível. Ela chamou minha atenção de uma forma
inexplicável. E ao saber que ela era a mulher dos meus sonhos, soube que, se
Laís partiu para outra dimensão, é porque meu caminho e o dela tinham que se
cruzar. Hoje, não abro mão dela.
— Me perdoe, não foi intencional. — Tento me redimir.
— Desculpe a minha falta de educação, hoje o dia não foi muito fácil. —
Ela fala, e parece envergonhada por seu pequeno surto de raiva.
— Vamos? Tenho um lugar especial para te levar!
Ela sorri de lado, e vou até o outro lado do carro. Abro a porta, e ela se
apressa em entrar.
Dou a volta e entro pelo lado do passageiro. Dou partida no carro, e
seguimos para o local onde farei a surpresa para ela.
— Seu pai está bem? — Pergunto, ao perceber que ela está muito quieta,
olhando pela janela do carro.
— Sim, ele está bem!
— Está pensativa. Aconteceu alguma coisa?
Ela fica em silêncio por um tempo e depois me olha e sorri.
— Eu não sei se foi destino, se foi acaso ou algo do tipo. A única coisa
que sei é que gosto de você e que, se você permitir, posso te fazer feliz!
Ele fala com a voz calma. Seus lábios são tão atraentes. Não penso
muito e colo meus lábios aos seus. Bernardo põe uma mão em minha
cintura, e aos poucos, o beijo que foi uma resposta de aceito se torna algo
avassalador. Algo que meu íntimo não consegue controlar.
— Namora comigo? — Ele fala entre o beijo. Sinto uma coisa na
minha barriga e, quando desvio a atenção para essa coisa, é um lindo anel
de ouro branco com uma pedrinha de diamante.
— Meu Deus, Bernardo!
Falo, colocando as mãos na frente da boca.
— Seja minha, Gabriela. Não tenha vergonha de mostrar para o
mundo o que sentimos. Aceita ser minha namorada?
— Sim!
Falo, e ele sorri.
Ele se afasta um pouco e, depois de segundos, me estende um lindo
buquê de tulipas vermelhas.
— É lindo!
Falo, e ele segura minha mão direita. Bernardo desliza a pequena joia
em meu dedo, selando nosso compromisso.
— Quero o consentimento do seu pai também. As minhas intenções
com você são as melhores!
Sorrio e seco algumas lágrimas que escorrem dos meus olhos.
Aceitar esse pedido dele significa que logo terei que falar tudo para ele.
Que não posso formar uma família com ele. Que nunca poderei dar filhos a
ele e muito menos irmãos para Brenda.
Capítulo 37
Desço do carro e vou abrir a porta do passageiro para ela.
— Tem certeza? — Pergunto assim que ela sai do veículo.
— Sim, não quero acordar meu pai. Amanhã de manhã, eu vou
embora. — Ela fala, e assinto com a cabeça.
— Tudo bem, fique à vontade. — Falo, abrindo a porta da minha
casa.
Quando saímos do restaurante, já passava das onze da noite.
Gabriela disse que não queria acordar o pai, que toma remédio para
dormir. Então, sugeri que ela viesse para cá. Seus planos eram ir para a
casa de Sandra, mas sei que meu irmão está ficando mais lá do que em
casa.
— Acho que vai chover. O tempo está bem fechado. — Gabriela fala,
olhando para o céu mais escuro que o normal. Alguns relâmpagos
iluminam, mostrando nuvens carregadas.
— Espero que Brenda esteja bem. Ela tem medo de trovões. — Falo.
— Eles são aterrorizantes. — Ela fala, e percebo que não é apenas
minha filha que tem medo.
— Quer beber algo? — Pergunto.
— Só uma água, por favor!
Ela senta no sofá, e vou até a cozinha. A essa hora, todos os
funcionários já estão dormindo. Pego a água e volto para a sala. Depois
que o céu se ilumina novamente, vem o estrondo. Gabriela solta um grito
e se encolhe no sofá. Vou até ela o mais rápido possível e, sem pensar
duas vezes, a tomo em meus braços, na intenção de protegê-la de
qualquer coisa. — Calma, já passou. Está tudo bem! — Falo enquanto ela
está encolhida em meus braços.
— Vou levar você para a cama! — Falo e me levanto do sofá com ela
nos meus braços. Subo as escadas e penso se deveria levá-la para o quarto
em que ela dormiu da outra vez ou se a levo para o meu quarto. Outro
estrondo faz os vidros da janela estremecerem. Ela se agarra ainda mais ao
meu corpo. Então, tenho a resposta de que ela não pode ficar sozinha.
Abro a porta do meu quarto e a levo até minha cama.
— Deite-se aqui. Só vou fechar a porta do quarto. — Ela deita e se
encolhe no meio da cama.
Vou até a porta e fecho. Volto para a cama e deito perto dela.
Gabriela está deitada, segurando as pernas. Ela ainda está com os saltos.
Sento na cama e retiro as sandálias de seus pés, colocando—as ao lado da
cama. Me deito novamente ao seu lado.
Gabriela se vira e fica de frente para mim. Ponho meu braço direito
em seu corpo.
Outro trovão faz com que ela feche os olhos.
— Não precisa ter medo. É apenas um trovão! — Falo.
— Eu sei, mas todo esse barulho me apavora. — Ela fala.
— Abra os olhos. — Falo.
Ela me olha nos olhos, e fico observando suas pupilas.
— Você é tão linda, Gabriela. — Falo e selo nossos lábios.
Desejo-a como um lobo selvagem. Minha vontade é devorá-la com
meu desejo. Vê-la gemer e gritar meu nome enquanto goza em meu
membro. Mas, ao mesmo tempo, minha vontade é apenas admirá-la. Ver
suas reações em cada momento do dia, nos dias felizes e nos tristes
também. Poder acalmá-la como fiz agora pouco. Dizer o quanto ela está se
tornando especial e essencial para mim.
— Me faça sua, Bernardo. Me faça sua mulher hoje. — Aquelas
palavras me tocam como uma das melodias mais belas de ser ouvida.
Não sei se conseguirei controlar o desejo que tenho guardado dentro de
mim. — Você tem certeza?
— Não me pergunte de novo, e não pare no meio do caminho, por
favor. — Gabriela, em um ato de pura rapidez, sobe em cima de mim. Seu
vestido atrapalha um pouco, mas não o suficiente para diminuir o desejo
que está me consumindo.
Tento várias vezes descer o zíper do seu vestido, mas são tentativas
em vão. Puxo o tecido, fazendo-o se rasgar. Ela não protesta, apenas me
olha com desejo. Retiro o vestido de seu corpo e o jogo ao lado da cama.
Passo a mão em sua barriga e costas.
Gabriela retira o sutiã, me dando a visão de seus belos seios. Deito-a
na cama e faço uma trilha de beijos do seu pescoço até seu seio direito,
mordendo levemente o bico rosado. Ela geme baixo, e meu membro lateja
dentro da calça.
— Por favor... Bernardo.
Sua voz sai rouca e arrastada. Sei que ela quer isso tanto quanto eu.
— Sim, meu amor. Eu vou te dar tudo o que você quiser. — Falo e
retiro a calcinha de renda que ainda está em seu corpo.
Retiro minha roupa e olho mais uma vez seu corpo. Deito
lentamente sobre ela, sem quebrar nosso contato visual. Mais uma vez, o
fato de ela ser virgem me vem à mente. Vou até a gaveta do meu criado-
mudo e pego um lubrificante. Quero que ela se sinta o mais confortável
possível. Despejo um pouco em meu membro e faço movimentos de vai e
vem, deixando-o completamente lubrificado. Ela morde o lábio inferior, e
me ajeito novamente entre suas pernas.
— Qualquer coisa, me fala, por favor. — Falo, e ela confirma com a
cabeça.
Me encaixo devagar em sua entrada. Ela aperta a mão no lençol.
Tento ser o mais carinhoso possível. Assim que estou todo dentro dela,
espero alguns segundos para que ela se acomode. Gabriela solta alguns
gemidos involuntários.
— Continua, por favor. — Ela pede, olhando para mim.
Faço o que ela pede e começo a me movimentar dentro dela. Nossos
movimentos viram uma bela sincronização. Gabriela geme baixo enquanto
faço os movimentos, aumentando um pouco mais as estocadas.
— Você é ainda mais gostosa do que imaginei. — Falo.
Tomo seus lábios em um beijo feroz. Gabriela está totalmente
entregue a mim, assim como estou a ela.
Paro os movimentos e saio de dentro dela. Gabriela me olha sem
entender. Puxo-a, fazendo-a ficar por cima de mim. Ela se encaixa em cima
do meu membro e começa a se movimentar. Seguro sua cintura enquanto
ela cavalga em mim. Tomo um de seus seios na boca, e ela geme alto,
mostrando que eles são seu ponto fraco. Conheço a minha mulher ao
ponto de esquecer meu próprio prazer e apenas dar prazer a ela. Estou
conhecendo os pontos fracos de Gabriela para proporcionar-lhe prazer
sem fim.
Enquanto ela se movimenta, ponho as mãos em suas nádegas e sugo
um de seus seios. Ela geme e fala alguns palavrões.
— Que boquinha suja essa sua. — Falo, e ela me olha. Sua pele está
corada, talvez pelo que eu disse ou talvez pelo que estamos fazendo.
Sugo o outro seio, não demorando muito para que ela dê indícios de
que vai gozar.
— Goza para mim, meu amor. — Falo e mordo seu seio.
Ela geme e chama meu nome. Não consigo me controlar e chego ao
ápice junto com ela.
Capítulo 38
Abro os olhos devagar e sinto meu corpo mais cansado que o normal,
mas as lembranças da noite passada fervem em minha mente.
Olho ao redor e não o vejo no quarto. Sento na cama e passo a mão
no rosto. Levanto e vou para o banheiro.
Assim que entro no cômodo, lembro do sexo que tivemos na
bancada da pia e dentro da hidromassagem. Tomo um banho e escovo os
dentes com a escova que ele me entregou durante a madrugada. Nunca
imaginei que fazer sexo seria tão bom.
Saio do banheiro usando apenas um roupão. Será que ele vai se
incomodar se eu pegar uma camisa dele? Afinal, não trouxe roupa e a
única que tinha se rasgou.
Caminho devagar até o closet, que fica do outro lado do quarto.
Assim que chego à porta do closet, admiro a beleza de seus ternos, todos
organizados e separados por cor. Talvez as camisas fiquem ali. Como ele é
bem maior que eu, serviriam como um vestido. Antes que eu possa abrir a
porta, ele segura minha mão.
— Ai, que susto. — Falo, olhando para ele. Seu semblante está
diferente.
— Não abra essa porta. — Ele fala, e abaixo minha mão que estava
parada no ar.
Sinto algo ruim percorrer meu corpo. Há algumas horas atrás, eu
estava sendo dele, e agora ele fala assim comigo. O que aconteceu?
— Me... me desculpa, eu só queria uma camisa. — Falo sem graça.
— Como assim?
Pergunto, cruzando meus braços na mesa.
— Eu pago o triplo se quiser. Gostei de...
— Se afaste dela!
Ouço Bernardo falar em alto e bom som.
— Bernardo, o que faz aqui?
Erick pergunta com ironia.
— Pelo visto, vim salvar minha namorada de ser assediada por você!
Ele fala, fazendo a boca de Erick se abrir em um "o", e minha reação
com certeza não foi diferente.
— Na-namorada?
Erick pergunta, olhando de mim para Bernardo.
Bernardo, com seu instinto que eu ainda não conhecia, mas bem
visível, ciúmes, se aproxima rapidamente e fica ao meu lado. Ele põe sua
mão direita em minha cintura e me puxa de lado, deixando nossos corpos
bem próximos.
— Sim, namorada!
Ele segura minha mão e levanta, mostrando claramente o anel em
meu dedo.
— Pelo visto, você tem um belo gosto, não é mesmo, Bernardo?
Erick pergunta com sarcasmo.
— O que faz aqui? Tenho certeza de que não deixei negócios
inacabados com você!
Bernardo fala, e percebo que sua voz está carregada de raiva. Será
que foi o fato de ele encontrar Erick aqui? Ou o fato de eu ter saído da
casa dele daquela forma? Ou pode ter sido por eu ter vindo trabalhar
quando ele tinha planos para nós dois.
— Vim deixar esses documentos que meu pai pediu, e não poderia
deixar de admirar sua linda namorada. — Bernardo trava o maxilar, e sua
respiração está pesada. — Minha proposta ainda está de pé. Vou deixar
meu cartão. — Ele põe o cartão na mesa, e preciso segurar firmemente o
braço de Bernardo para que ele não vá para cima de Erick.
— Eu não quero seu cartão. Acho melhor ir embora. — Ele sai da
minha sala com um sorriso no rosto.
— Quem esse cara pensa que é?
Bernardo esbraveja, batendo a mão na minha mesa.
— Fica calmo, tá? Ele só queria te provocar!
Falo, e sento na cadeira novamente. Sinto seu olhar em mim, mas
finjo que ele não está aqui.
— O- o que ele queria com você? Que proposta ele te fez?
Ele pergunta, tentando disfarçar.
Cruzo os braços e olho para ele.
— Ele me ofereceu o triplo do salário que você me paga. — Falo.
— Filho da mãe, e o que você disse?
Percebo que ele está com medo de que eu acabe aceitando.
— Se esse fosse o caso, eu já teria ido embora, principalmente
depois do que aconteceu mais cedo. Porém, eu amo o meu chefe, o que
deixa a situação um pouco mais complicada. — Falo, e ele abre a boca
várias vezes para dizer algo, mas nada sai.
— Vo-você disse... disse que me ama?
Ele pergunta, ainda atônito.
— Se eu não te amasse, acha que eu estaria com você? Você duvida
do que eu sinto?
Pergunto, e ele se aproxima de mim. Levanto, e ficamos nos olhando.
— Claro que eu não duvido, só não esperava ouvir assim, dessa
forma. — Ele fala, e sorrio. Me aproximo dele, e nos beijamos.
Capítulo 40
— Eu amo você! — Gabriela fala enquanto estamos os dois deitados
no sofá da minha sala. Ela está deitada sobre meu peito. Não conseguimos
conter nosso instinto e fizemos sexo ali mesmo.
— Você me faz uma pessoa diferente — falo. Essa é a mais pura
verdade. Ela me torna diferente de quem eu era alguns meses atrás.
Meu celular começa a tocar, e pego o aparelho que estava no chão.
— Sim?
— Senhor Lumière, Rebeca. Estou responsável pela organização do
seu evento.
— Ah, sim. Pode falar.
— Quero mais alguns detalhes do que o senhor está pensando para a
decoração, onde será realizado e o buffet.
— À noite, irei mandar uma lista. Agora estou muito ocupado.
— Ok, estarei esperando!
Desligo a ligação e coloco o celular novamente no chão.
— Seu pai irá na festa? — pergunto.
— Ainda não sei. Ele não me deu a resposta. Amanhã ele tem uma
consulta. Irei me atrasar um pouco amanhã. — Ela fala, olhando para mim.
— Tudo bem. Tire a manhã livre. Se ainda não tiver comprado sua
roupa, aproveite e vá logo. Só não quero que faltem!
— Por que toda essa vontade de me ter lá? — ela pergunta,
sorrindo.
Brenda
Vejo Gabi entrar, e levanto rapidamente do sofá. Gabi me abraça e
fala o quanto eu cresci nos últimos dias. Gosto que os dois estejam juntos.
Meu pai merece ser feliz. Acho que ele passou muitos anos de solidão,
talvez por minha causa. Não sei bem o motivo, mas acho que eu era um
deles.
Sinto algo estranho na minha intimidade quando eles olham para
Matilde, que está entrando na sala. Olho para o meu short jeans, que
agora tem uma mancha vermelha nele.
O que é isso?
Saio correndo para o meu quarto. Ouço a voz do meu pai, mas não
faço o mínimo esforço para saber do que se trata. Entro no quarto e vou
logo ver o que é isso.
— Brenda? Está tudo bem?
Ouço a voz da Gabi e as batidas na porta.
Abro um pouco a porta, e ela me olha preocupada.
— O que houve? Está tudo bem?
— Entra!
Ela passa pela porta, e eu fico sem jeito de falar.
— Gabi, eu não estou bem. Acho que estou morrendo!
Falo, já sentindo minhas lágrimas descerem. Uma dor se espalha pela
minha barriga.
— Espera, como assim?
Gabriela se aproxima de mim, e sento na cama.
— Eu estou sangrando lá embaixo!
Falo.
— Lá embaixo? Aonde?
Faço sinal com a cabeça para indicar do que estou falando, e ela logo
entende.
— Meu Deus, sério?
— Gabriela?
— E-Eu preciso tomar um ar. — Saio do quarto e vou direto para o
jardim.
C
apítulo 42
Saio atrás dela, eu sei que é demais para ser assimilado. Talvez eu devesse
ter alertado ela. Todos esses anos, nunca deixei outra pessoa tocar aqui, a não
ser eu mesmo. Achava que as pessoas que vissem o que tem aqui poderiam me
tachar de louco ou obsessivo. Talvez eu até possa ter sido assim todos esses
anos. Mas agora que a Gabriela está em minha vida, eu devo isso a ela. Eu quero
poder me libertar desse sentimento que mantive por ela todos esses anos.
Gabriela precisa saber que o que eu sinto é verdadeiro, e agora eu quero que ela
me ajude a me libertar para que possamos seguir em frente.
Saio à procura dela, e quando penso que ela tinha ido embora de vez, a
vejo perto da piscina. Caminho devagar até onde ela está, seu pensamento está
longe.
— Não pensei que ficaria assim!
Falo, e ela me olha.
— Eu não sei se consigo te ajudar. Aquilo foi mais do que eu pensei!
Ela fala de forma seca, talvez eu realmente tenha assustado ela de
verdade.
— Eu entendo se não quiser me ajudar. Só pensei que ao lado da mulher
que amo seria mais fácil!
Ela me olha com brilho nos olhos.
— O que você falou?
Ela pergunta.
— Falei que ao lado da mulher que amo seria mais fácil!
Repito sem entender o motivo.
Gabriela se aproxima de mim e me olha nos olhos.
— Chegamos!
Ela fala, assim que paro em frente à casa dela.
— Estava louco para sentir seu cheiro. Enquanto seu pai falava das
suas travessuras, eu só ficava imaginando o que fizemos há duas noites.
Sinto minhas bochechas corarem.
— Bernardo! — O repreendo.
— Não estou mentindo. — Ele beija meu pescoço, e todos os pelos
do meu corpo se arrepiam.
Fico mole em seus braços. Não imaginei que alguém pudesse me
fazer ter essas sensações.
— Eu quero te proporcionar ainda mais prazer. Quero te mostrar
todas as formas de prazer possíveis.
Ele fala, e morde o lóbulo da minha orelha esquerda.
— E-eu preciso... tomar um banho.
Me afasto um pouco dele e respiro fundo.
— Eu posso ir com você?
Ele pergunta, e faço que sim com a cabeça. Seguimos para o
banheiro dele. Bernardo tira a roupa sem pudor algum, enquanto eu ainda
sinto vergonha de me despir na frente dele.
— Não precisa sentir vergonha de mim. Eu venero o seu corpo, suas
curvas, seus seios. Tudo em você me deixa fascinado.
Ele fala, se aproximando de mim.
— Bernardo...
Sussurro seu nome, sentindo suas palavras me atingirem em cheio.
Até mesmo a forma como ele fala comigo me causa mil e uma sensações
diferentes.
Bernardo segura o meu corpo e me levanta, me pondo sentada no
mármore da pia. Suspiro, e ele abre a minha blusa de botões.
Provavelmente é mais uma peça de roupa que não irá servir para concerto.
Ele tira a minha blusa e se afasta um pouco do meu corpo. Bernardo
analisa os meus seios, ainda dentro do sutiã de renda branco. Eu não
amamentei, então os meus seios são durinhos, o bico é rosado e pequeno.
Provavelmente, se eu tivesse sido mãe, teria dificuldade para amamentar.
— Você é tão linda.
Ele beija meus lábios e depois beija o meu pescoço. Já sinto minha
intimidade ficar extremamente excitada. Solto gemidos baixos, e ele desce
até os meus seios. Bernardo desabotoa o meu sutiã, e seguro um dos meus
seios. Suspiro com o seu toque. Ele abocanha um enquanto faz uma
deliciosa massagem no outro. Bernardo sabe trabalhar muito bem com as
mãos. Ele suga o meu seio direito, e a sua mão desce até a minha calça. Ele
abre o botão com uma só mão. Seus dedos entram pelo pano fino da
minha calcinha e alcançam a minha intimidade. Bernardo começa a me
estimular.
Jogo minha cabeça para trás, e ele suga o meu outro seio.
— Eu vou...
— Pode gozar, meu amor.
Ele fala, e logo sinto meu orgasmo se aproximar. Não demora muito,
e estou gozando em seus dedos.
Capítulo 44
A organização do aniversário da Brenda está linda. Ela parece uma
princesa com um vestido rodado. Bernardo olha radiante para a filha. Fico
feliz em vê-los mais próximos. Sei que ele está aprendendo agora a ser pai.
Falando nisso, meu pai está aqui. Apesar de não poder comer essas
comidas, ele fez questão de vir prestigiar a pré—adolescente.
— Está linda, meu amor!
Bernardo fala, se aproximando de mim. Ele está de uma forma
diferente, parece estar radiante. Quando o conheci na escola, ele tinha
uma expressão muito dura, aparentava ser um homem muito rígido. Hoje,
não o vejo mais daquela forma.
— Você também está perfeito.
Falo, arrumando a gravata estilo borboleta.
— Ela está perfeita!
Falo, olhando para Brenda.
— Sim, está. Eu praticamente nem vi minha filha crescer. Hoje, ela já
é uma mocinha.
Ele fala, e posso ver a emoção em suas palavras.
Estávamos distraídos olhando para Brenda conversando com alguns
amigos, até que uma pessoa chega, chamando nossa atenção.
— Bernardo, vejo que conseguiu superar a morte da minha filha!
Uma mulher de cabelos castanhos fala, parando em nossa frente.
Muito elegante, por sinal, mas nem um pouco educada.
— Ah, sim. Ele já aguarda a senhorita. – Ela fala, e então me dirijo até
a sala dele.
— Boa tarde, doutor! – Falo, entrando.
— Boa tarde. Sente-se, por favor! – Ele fala, e me sento de frente
para ele.
— Eu queria saber como está o meu pai. Ele disse que fez alguns
exames, e que estava tudo bem, mas fiquei preocupada mesmo assim. –
Ele me olha com um olhar de desentendido.
— Como assim? Ele não veio à consulta. Inclusive, ele ligou
desmarcando, disse que você estava doente e não poderia acompanhá-lo.
Ele fala, e parece que uma tonelada de preocupação e raiva caiu
sobre minha cabeça.
— Mas, doutor, ele disse que o senhor ligou um dia antes, e ele veio
consultar. Inclusive, fez exames, e o senhor disse que está tudo bem.
Falo, ainda sem acreditar que meu pai mentiu para mim.
— Eu sinto muito, ele não veio. – Ele fala, e levanto da cadeira.
— Obrigada pelo seu tempo. Eu vou resolver isso. – Falo, e saio do
consultório dele.
Sigo para minha casa. A raiva que estou não está escrita. Não sei o
que falar quando eu o vir. Como ele pode fazer isso?
Chego em casa e já vou logo entrando.
— Pai? – Chamo, e ele não responde.
— Pai, eu sei que está aí. Pode sair e me explicar essa história de não
ir à consulta. – Falo, indo até o quarto.
Assim que chego na porta da sala, vejo um médico conversando com ela,
Gabriela chora compulsivamente, percebo seu corpo caindo e vou até ela,
consigo segurá-la antes que seu corpo se choque contra o chão.
Olho para o doutor que apenas balança a cabeça em negação para mim,
entendo o que ele quer dizer.
— Eu sinto muito. – Ele fala e olho para minha mulher deitada em meus
braços, seu rosto está pálido.
— Eu sinto muito, meu amor. Não consegui fazer você não sentir essa dor.
– Falo segurando a mão dela.
Já faz duas horas que ela está sem se mexer, os médicos aplicaram um
sedativo no soro.
— Minha amiga, eu sinto muito. – Uma mulher na base dos seus quarenta
e poucos anos fala se aproximando.
— Se afaste de mim e do meu pai, você não tem o direito de estar aqui,
não tem o direito de se despedir dele. – Ela fala e levanto também, ela apoia a
outra mão na cadeira.
— Ela não tem o direito, onde ela estava quando ele cuidou sozinho de
mim? Quando ele deixou de cuidar de si mesmo para cuidar de mim? Não me
chame de filha, a única pessoa que teve esse privilégio está aqui. – Ela põe a
mão no caixão. – Morto, ele está morto. – Ela grita, fazendo todos olharem ainda
mais para a cena.
Essa semana foi bem complicada. Gabriela está de licença, tento animá-la
todos os dias, mas está difícil. Insisti para que ela fosse para minha casa, mas ela
não quis. Até que Sandra conseguiu convencê-la a ir para sua casa. A dificuldade
agora é fazê-la comer e sair de casa. Hoje ela me disse que um advogado iria
vêla, Gabriela ainda não sabia do que se tratava, então perguntei se poderia
estar presente nessa visita dele. Ela aceitou de boa.
— Ela está se recuperando, só não sei quando ela voltará ao trabalho. Peço
que segure as pontas por enquanto. – Falo e ela confirma com a cabeça.
— Estou bem!
Sei que é mentira. Gabriela perdeu cerca de cinco quilos essa semana. Já
conversei com Sandra sobre o que devemos fazer, mas nada dá certo. Ela precisa
sair do luto, e isso demora mais do que o esperado.
— E o advogado?
— Ele me ligou agora pouco, já está chegando. – Ela fala.
— Sim, a Sandra fez um sanduíche para mim antes de sair, estou bem. –
Ela fala sem me encarar.
— O que acha de passar alguns dias na minha casa? A Brenda gosta muito
de você. – Tento.
— Talvez na semana que vem, por enquanto aqui está bom. – Ela fala.
— Obrigado!
Ela olha para nossas mãos e depois olha para mim, as lágrimas já começam
a descer dos seus olhos, e faço o máximo para deixa-la desabafar essa dor.
— Eu sinto muito. – Ele fala e ela faz que sim com a cabeça.
— Seu pai deixou um testamento. – Ele fala e ela olha confusa para ele.
— Meu pai não tinha nada, por que ele deixou um testamento? – Pergunta
confusa.
— Ele não queria que a senhorita soubesse, mas ele deixou, uma boa
quantia em uma conta, e duas casas no centro da cidade. Ele também deixou
essa carta para a senhorita, onde explica tudo. Poderia assinar esse documento,
por favor?
— Fique à vontade!
Ele me entrega o papel e verifico linha por linha. Realmente, ele deixou
uma boa quantia para Gabriela no banco e dois imóveis em um lugar bem
centralizado.
— Está tudo correto. – Entrego o papel para ela, que olha para mim e
confirmo com a cabeça. Gabriela assina os papéis e o advogado entrega as
cartas.
Ele então vai embora e ela olha para mim.
Capítulo 46
(Carta 1)
Sei que se está lendo esta carta é porque já não estou mais ao seu
lado. Deve estar com raiva de mim, eu entendo, mas peço que me
compreenda. Nos últimos meses, meu corpo deu sinais de que estava
piorando. Eu não te falei porque sabia que ficaria triste assim como está
agora. Até algum tempo atrás, eu fazia o uso da medicação e mesmo
assim não estava me sentindo bem. Apenas na sua frente, para você ficar
feliz. Sentia muitas dores quando me alimentava e quando me deitava
para dormir. Me perdoe, filha. Eu fui fraco e hoje não posso mais te
proteger, mas eu vou cuidar de você onde quer que eu esteja. Vou te contar
uma história sobre sua mãe que nunca te contei. Eu e ela nos conhecemos
na oficina onde eu trabalhava. Eu vi aquela menina ali, tão linda, e fiquei
deslumbrado por tamanha beleza. Ela também não parava de me olhar,
então começamos a namorar escondido. Eu era alguns anos mais velho
que ela, e ela uma menina ingênua. Até que casamos porque ela descobriu
a gravidez. O que eu não sabia era que ela era prometida a um rapaz de
família rica. Ela tentou ao máximo esconder de mim, mas depois eu
descobri. Foi então que a família do rapaz fez ameaças a ela, pois o seu avô
devia dinheiro a eles. Ela não teve outra alternativa a não ser casar. Então
ela me deixou você, o melhor presente que eu poderia ter ganhado em
minha vida. Quando soube que ela teve uma filha e foi casada por alguns
meses, o rapaz a humilhou e rejeitou ela. Sua mãe não teve coragem de vir
atrás da gente, então ela se afastou. Ela não teve escolha, minha querida.
Não carregue essa mágoa por toda a sua vida. Perdoe quem te ama e seja
feliz.
(Carta 2)
Visto uma roupa um pouco mais quente e saímos. Ele segura minha
mão e começamos a andar pelas ruas de Nova York. Parece que faz séculos
que não saio de casa. Talvez eu só precisasse dessa carta para me voltar à
vida. Sei que não vai ser fácil, haverá dias em que não vou querer sair de
casa, haverá outros em que estarei disposta a viver. Mas também virão os
dias de saudade agonizante, que parecerão dilacerar meu peito. Nessas
horas, eu não vou me importar em magoar as pessoas, então vou preferir
não encontrar ninguém.
— Ainda assim, você é linda. – Ele fala e olha para um ponto fixo
atrás de mim.
— A Brenda, que está louca para ver você! – Ele fala, e solto o ar que
estava preso em meus pulmões.
— Que bom que está bem, menina. Estou fazendo um jantar especial
para vocês. – Matilde fala, e Gabriela agradece.
Brenda
Eu e Gabi sentamos no sofá. Meu pai sobe as escadas e
provavelmente vai tomar banho.
— Brenda, sabe que ainda é nova para pensar nisso, seus estudos
são fundamentais para você. – Gabriela fala.
Sei que sou nova, afinal só tenho onze anos, mas não faz mal achar
um menino bonito. Isso não quer dizer que eu já vá me apaixonar e casar
com ele.
— Obrigada. – Falo.
— Não me leve a mal, mas você sabe que eu amo você. Não estou
falando isso porque... enfim, só quero ter você perto, poder te olhar todas
as noites, sentir seu corpo perto do meu todos os dias. – Bernardo fala, me
fazendo abrir um pequeno sorriso com suas palavras bonitas.
Não reluto em aceitar sua ajuda. Seguro suas duas mãos e forço um
pouco meu corpo a levantar.
Eu sei que ele está excitado. Eu mentiria se dissesse que não estou.
— O que acha de nós dois tomarmos banho? E depois irmos os dois
deitar? – Falo, e ele sorri de lado.
— Acho que você ainda não está pronta, que deveria ir deitar um
pouco, e depois nós dois podemos conversar. – Ele fala, e sei que está
fazendo a mesma coisa que fiz ontem, usando o lado racional das coisas.
Caminho devagar até chegar onde meu pai está sepultado, às vezes
não damos valor quando temos em vida, nesses onze meses eu vim aqui
muitas vezes, perdi a conta, mas olhando os outros túmulos, quase
ninguém se importa em vir aqui, passar alguns minutos conversando ou
até mesmo trazer uma flor, digamos que é muito triste além de perder, não
se importar em vir visitar às vezes.
— Oi pai. – Falo passando a mão na lápide onde contém uma foto
dele sorrindo, seu nome e a data de nascimento e a data da sua morte. –
Espero que esteja bem, o senhor não imagina o quanto me faz falta aqui. –
Para mim, esse lugar virou minha segunda casa, quando eu não estou
no trabalho, eu estou aqui, acho que às vezes eu deveria ficar alguns dias
sem vir, por mais que eu diga para mim mesma que estou bem, sei que é
uma mera ilusão, eu não estou bem, eu nunca vou ficar bem, ele era meu
tudo, e hoje a única forma que posso falar com ele é em um cemitério, ou
em casa, nas minhas orações. Deixo a pequena rosa branca que trouxe e
me levanto.
— Nenhum dos dois, mas que bom que achei você. – Ele fala e paro
de frente a ele.
Vou para minha sala ainda com aquela frase, é impossível isso
acontecer, Gabriela não faria isso! Assim que vejo ela voltar para sua sala,
ligo para ela.
— Sim, só estou ficando resfriada, nada demais. – Ela fala e vou até
ela.
— O-o que? Por que está perguntando isso? – Ela pergunta nervosa.
— Estou indo aí. – Ela desliga antes que eu possa dizer que não.
Levanto e tomo um banho antes que ela chegue. Pego alguns remédios
para gripe e procuro o que faz efeito mais rápido. Tomo um deles e me sento
no sofá.
— Eu não sei, eu vim fazer o teste aqui, estou com medo do resultado. –
Ela fala.
— Se der positivo, fique feliz, tá? Tenho certeza de que o Bruno vai
amar! – Falo, tentando confortá-la.
— E então? – Pergunto.
— Abra essa porta, por favor Sandra, me fala o que aconteceu. – Falo
batendo na porta.
— Me perdoa, amiga, eu não deveria ter vindo assim. – Ela fala, e olho
para ela.
— Amiga, estou com começo de gripe, não estou a fim de sair. – Falo.
— Por favor, amiga, você foi a primeira a saber, vai ser a madrinha e
deveria me acompanhar. É perigoso uma grávida sair sozinha. – Ela fala, e olho
para ela com os olhos estreitos.
— Por nada. – Falo, e assim que olho mais à frente, reconheço o carro
do Bernardo. Ele realmente falou que viria aqui, tinha me esquecido.
Sigo para dentro de casa, a porta está aberta, ele deve ter chegado há
pouco tempo.
— Agora está agindo como se não soubesse? Acha que não sei que está
tentando me dar o golpe da barriga? Eu pensei que você fosse diferente. –
Sorrio sem humor, surpresa com o que ele pensa. Quero ver até onde ele vai,
sem saber que eu não posso ter filhos. – Estava só esperando completar um
ano de namoro para tentar me dar o golpe? – Ele pergunta com raiva, punho
fechado.
— Eu nunca faria isso, nem com você nem com qualquer outra pessoa.
O que está me falando só prova o que eu pensei todos esses anos, todos os
homens são iguais. – Falo com raiva, sem acreditar no que estou ouvindo.
— Então, o que é isso? – Ele joga o teste que a Sandra fez em cima de
mim.
— Se tem tanta certeza de que não é seu, então deve ser de qualquer
outro. – Falo com raiva. Eu nunca imaginei que ele faria isso comigo.
— Ainda está querendo dizer que é meu? Isso é impossível, eu fiz
vasectomia logo após a morte da mãe da Brenda. – Ele fala, e suspiro cansada.
Minha cabeça está doendo, meu corpo está cansado, e minha mente
agora está perturbada assim como meu coração. Saber que ele pensa isso de
mim está me doendo muito, mas não vou demonstrar fraqueza na frente
dele.
— Tudo isso que você falou, se fez de amiga da minha filha, e agora está
querendo me dar um golpe. – Ele fala, e vejo seus olhos vermelhos como
brasa, sei que ele está com raiva.
— Vai embora, por favor, e aproveita e leva seu carro. – Falo, saindo de
perto dele, mas meus olhos estão fixos no chão.
Eu não falei para ele sobre eu não poder ter filho porque, quando ele
me acusou no começo da nossa discussão, eu quis saber até onde ele
confiava em mim. Ele sequer me deixou falar algo, ele deduziu tudo. Então,
tenho plena certeza de que ele não confia em mim. Do que adiantaria eu falar
que sou estéril? Ele acharia que eu estava mentindo também.
Assim como a porta bate no portal, meus joelhos batem no chão. Perdi
a força totalmente e o choro foi inevitável.
Capítulo 50
Faz exatamente uma semana que não vejo Gabriela. Se está fácil?
Nunca foi tão difícil. Por mais que esteja com muita raiva dela, esses dias
eu não consegui fazer nada. Não consegui me concentrar no trabalho, nem
mesmo fazer minhas caminhadas matinais. Por enquanto, apenas a garrafa
de whisky está me consolando.
Esses dias estou sem usar o celular, sem contato com ninguém. Não
quero nem mesmo ouvir o nome dela. E se Bruno está aqui, tem a ver com
ela.
— Vai embora, Bruno, não quero falar com ninguém. – Falo, mas ele
insiste.
Bruno continua batendo na porta várias vezes, mas finjo que não
estou ouvindo.
Quando terminei com Gabriela, saí de lá e liguei para ele. Falei que
ela tinha pedido demissão e disse para ele cuidar de tudo, inclusive da
empresa nesses dias. Eu preciso desse tempo para mim. Mas agora ele está
incansavelmente na porta do meu quarto, gritando.
Não aguento mais ouvi-lo bater na porta e levanto da cama.
— Fala logo o que você quer! – Digo com raiva e bebo mais uma dose
de whisky.
— Ah, Bruno, por favor. Veio aqui só para me ouvir falar? Que
Gabriela engravidou de outro, eu fiz vasectomia, Bruno, e ela está grávida.
Como me explica isso?
— Cara, você está louco, só pode. Chega até ser engraçado você falar
isso. – Ele fala, e vou até ele com ódio.
— Está vendo algum palhaço aqui? Sai daqui antes que eu faça
alguma besteira. – Falo, empurrando-o.
A bebida já está em um nível mais alto do que o normal.
— Falei que o filho é meu. Aquele teste era da Sandra, não da Gabi.
Parabéns por ter sido um idiota mais uma vez. – Ele fala, me empurrando
para trás.
— Por que não vou conseguir? Onde ela está? – Pergunto, sentindo
minha respiração falhar.
— Onde ela está? Por que está falando isso? – Pergunto, com medo
da resposta.
— Ela foi embora. Pelo pouco que sei, ela vendeu uma das casas e foi
embora do país. Nem Sandra sabe para onde ela foi. – Sinto meu peito
apertar, algumas batidas falharem, e sem esperar, as lágrimas brotam em
meus olhos.
— Por que você está assim, jogando tudo isso na minha cara?
Meu coração parece querer saltar da boca todas as vezes que lembro
dele. Fui à empresa um dia depois, assinei minha demissão, entreguei o
carro e saí de lá de cabeça erguida. As palavras dele ainda estão bem vivas
na minha cabeça.
— Para, amiga, vai ser muito bom para mim, e não precisa se
preocupar. – Falo, na intenção de acalmá-la.
— Eu sei que hora ou outra Bruno vai perguntar, então não vou falar
para onde eu vou, mas saiba que vou fazer bom uso da minha vida. Não se
preocupe. Quando eu estiver melhor, eu volto. – Falo.
Ando devagar pelas ruas de Nova York. Não posso dizer que não vou
sentir falta daqui. É doloroso pensar na partida, mas sei que é o melhor
para mim. Estou de coração partido ao lembrar da Brenda. Ela não tem
culpa dos meus problemas com o pai dela, mas talvez já esteja sabendo de
tudo que aconteceu e não queira me ver. Eu conheci os pais dele, mas não
tive nenhuma relação afetiva com ambos. Essa parte não me incomoda.
Mas ao lembrar da Brenda, meu peito dói. Acho que foi a sensação que
minha mãe sentiu ao ter que me deixar com meu pai. A vida fora da vida
deles é difícil, mas sei que não será impossível. Acho que serviu de
exemplo para mim não esconder mais a minha história.
"Meses depois"
Já estou bem instalada e me adaptando a uma nova vida. Nesse meio
tempo de trabalho, estou escrevendo um livro sobre minha vida. Meu
chefe, que é um ótimo presidente, me indicou fazer isso após eu ter falado
sobre minha vida. Ele já é um homem maduro e muito sábio. Sua esposa é
ainda mais legal que ele. Estou trabalhando como secretária. Fiz um curso
de especialização em secretária, o que me ajudou muito.
Posso dizer que estou levando uma vida bem tranquila. Não arrumei
namorado nesse tempo. Não consegui esquecer o Bernardo. Talvez ele já
esteja com outra, e isso me incomoda, mas sei que não poderemos mais
ficar juntos.
— Ok, pode ir. Ainda tenho uma reunião hoje, mas não vou precisar
de auxílio. – Ele fala, e desligo o telefone.
Pego minhas coisas e saio da minha mesa. Aqui eu não tenho uma
sala como tinha antes, mas gostei daqui e da equipe também.
— Eu não posso deixar você ir embora de novo, não assim. – Ele fala,
e sinto meu peito apertar.
— Naquele dia eu não falei tudo. Eu não falei que te amo. Eu apenas
fui um babaca que se arrepende amargamente de tudo que disse naquele
dia.
– Ele fala, e sorrio com a garganta trancada pela vontade de chorar.
— Eu... – Aperto o botão sem que ele perceba. Assim que o elevador
para onde vou descer, me afasto dele.
— Ótimo. Quero que conheça minha secretária. Você vai adorar ela.
Com toda certeza, vou adorar a secretária. Eu pude ver o crachá que
ela tinha pendurado no pescoço com o nome "Secretária do Presidente".
Então, sei que amanhã vou encontra-la.
— Oi, filha.
— Pai, por favor, não volte sem ela. Gabriela ama o senhor, e estou
sentindo falta dela. Ela nem me deu parabéns no meu aniversário.
— Te amo, filha.
Assim como nas outras noites, não durmo. Apenas ela vem à minha
mente. Estava tudo indo tão bem, até que ouvi aquelas meninas falarem
que eu teria outro herdeiro. Eu fiquei tão cego que nem sequer percebi. Eu
e Gabriela passamos um ano juntos, e ela em nenhum momento ficou
menstruada. Laís sempre ficava menstruada até o momento que
engravidou da Brenda. Eu fui tão burro e tão precipitado.
Gabriela
A noite foi mais longa do que o normal. Ver ele me deixou atordoada.
Eu não esperava encontra-lo aqui na Itália. De tantas empresas que
existem aqui, ele tinha que ser sócio do senhor Monteiro. Apesar de que
eu não liguei bem os pontos. Ele tem negócios com o pai do Erick, não
seria difícil ele ter negócios com o tio dele também. Merda! Como vou
trabalhar amanhã? Ele com certeza irá na empresa.
Levanto assim que o dia está claro. Vou ao banheiro e faço minha
higiene pessoal. Aproveito e tomo meu banho matinal. Opto por um
vestido tubinho preto e um blazer na cor nude. Calço meu scarpin também
na cor nude e pego minha bolsa. Saio de casa e vou direto para a cafeteria
onde sempre compro meu café da manhã.
— Sarò sempre così dopo che ci saremo sposati. (Serei sempre assim
depois que nos casarmos).
— Já deixei claro que somos apenas amigos. – Falo, e ele faz careta.
Erick se aproxima de mim. Sua mão vai até o lado direito do meu
rosto. Erick tira uma pequena mexa de cabelo do meu rosto e põe atrás da
minha orelha.
— Eu não sou como todos. Eu sou melhor que ele. – Tiro sua mão
suavemente de perto do meu rosto.
— Por favor, Erick. Seu tio já deve estar à sua espera. – Falo, tentando
quebrar o clima chato que se instaurou no ambiente. Erick então adentra a
sala do tio, e ficamos apenas eu e Bernardo.
— Erick? A mim trata como senhor Lumière, a ele trata como Erick?
– Bernardo pergunta se aproximando.
— Não faz isso comigo. Você não imagina o quanto foi difícil esses
meses sem você. – Meu coração palpita algumas vezes. Eu imagino sim,
porque estou passando pelo mesmo, mas eu não posso voltar para alguém
que só confia em mim porque descobriu por outra pessoa a minha
fidelidade.
— Por favor. – Tiro a mão dele do meu braço. – Siga sua vida e
esqueça que um dia tivemos alguma coisa. – Falo e vejo seus olhos
marejados.
— Como fala para mim te esquecer depois de tudo que vivemos? Das
nossas viagens, das nossas noites quentes, enquanto sussurrava no meu
ouvido o quanto me amava. – Bernardo fala se aproximando de mim. –
Ele fala.
— O que tínhamos para conversar já foi conversado. Agora, por favor, siga
sua vida. A minha já está seguindo. – Me afasto dele e saio sem mais delongas.
Entro no banheiro feminino, lavo meu rosto incansáveis vezes para aliviar a
vontade constante de chorar.
Respiro várias vezes, mentalizando tudo que ele me disse naquele dia.
Pensar nisso só me mostra que não devo voltar com ele. Se nós dois
pudéssemos gerar uma vida, será que ele teria feito a mesma coisa comigo? Dito
na minha cara que não era o pai do bebê?
Depois de ficar alguns minutos ali no banheiro, apenas meditando e
relembrando tudo que aconteceu, finalmente me sinto pronta para voltar ao
trabalho.
Bernardo já não está mais aqui. Isso me deixa mais aliviada, mas sei que o
que nos separa é apenas uma parede. Sento na minha cadeira e volto a digitar
alguns arquivos no computador. Meu coração está apertado. Sei que não deveria
ter sido tão dura com ele, mas eu só quero viver minha vida, e espero que ele
viva bem a dele. Nesses meses, conversei quase todos os dias com a Sandra. Ela
me falou que ele não estava bem. Aquilo me doeu, mas eu não posso ficar com
alguém que, a qualquer momento, pode duvidar do meu amor por ele. Eu não
posso passar por isso de novo.
Passaram-se algumas horas desde que ele entrou. Eu não sabia o que os
dois conversavam lá dentro. Só queria não estar sentindo esse mar de sensações
que estou sentindo agora.
— Gabi, você viu o quanto aquele cara que entrou é lindo? Eu preciso de
um desses em minha vida. – A outra menina que trabalha no RH fala, sentando
perto de mim.
Minha vontade mesmo era dar uma famosa voadora em seu tórax, mas fiz
o de sempre, respirei fundo e dei o meu melhor sorriso.
— Sério que achou tudo isso dele? – Pergunto com a cara cínica.
— Claro que sim! Nossa, eu acho que vou pedir o número dele. Será que
ele é solteiro? – Ela pergunta, mordendo o lábio inferior.
— Nossa, calma, você sabe quem é ele? – Ela pergunta, e bufo de raiva.
— Eu posso fazer isso. – Falo, pegando os papéis da mão dela. – Pode ir,
devem estar precisando de você. – Falo.
— Pede o número dele para mim, por favor. – Ela fala e vai embora.
Fico fazendo caras e bocas para não xingá-la e a próxima geração dela.
— Esperava que ficasse mais alguns dias aqui conosco. – Senhor Monteiro
fala.
— Não, eu vou voltar para Nova York amanhã cedo. – Ele fala, e meu
coração parece dançar dentro da minha cavidade torácica. Ele já vai embora
amanhã?
— Espero que volte logo. Podemos marcar algo. – Senhor Monteiro fala,
dando um tapinha no ombro de Bernardo.
— Acho que não. Estava pensando, e acho que nossos negócios, a partir de
agora, só serão tratados por e-mail ou videoconferência. Viagens como essas são
cansativas. – Bernardo fala, e meu peito aperta. É como se alguém tivesse
apertado entre os dedos.
Como ele sabe sobre mim e Bernardo? Então ele perguntou de propósito?
O restante do dia foi mais longo do que o normal. Parecia que o dia não
tinha fim. Assim que deu meu horário, tratei logo de avisar ao senhor Monteiro
que estava indo embora.
Mas sei que isso é só pelo fato de eu saber que não vou vê-lo tão cedo.
Meu celular começa a tocar. Vou até onde ele está e vejo o nome da Sandra.
— Oi, amiga.
Meu coração acelera ao ouvir essa voz novamente. Ela está com a voz
chorosa.
— Brenda?
— Por favor, Gabi, perdoa ele. Não fica mais longe de mim.
— Fica calma, Brenda. Como você está?
Meu coração está apertado, e não consigo evitar o choro. Eu amo essa
menina, e saber que ela está chorando por culpa minha me parte o coração.
— Olha, não fica assim, tá bom? Eu preciso desligar, tem uma pessoa
batendo na minha porta.
Chego no hotel onde estou hospedado e subo para meu quarto. Meu
celular começa a tocar, e atendo.
— Filha, ela não me quer mais. Gabriela falou para mim que não me
ama mais.
— Eu não posso fazer mais nada, filha. Ela falou com todas as letras
que não me ama mais.
— Filha, Gabriela não me quer mais. Talvez até já tenha outra pessoa
na vida dela.
— Eu não me conformo.
Ela desliga o celular, e sorrio pela forma como ela age às vezes. O
temperamento dela, sem dúvidas, puxou a mim.
Pensar nela só me deixa ainda mais arrasado. O que vou fazer sem
ela? Como vou seguir minha vida sem sentir seu cheiro, seu calor, suas
carícias depois de termos feito amor?
— Desculpa vim assim. – Quando ela termina de falar, puxo ela para
um abraço.
Não quero soltá-la, por mim ela não sairia de perto de mim nunca
mais.
Ficamos assim por alguns minutos. Só queria sentir ela perto de mim
novamente. Esses meses foram perturbadores.
Gabriela quebra a única distância que existia entre nós e seca minhas
lágrimas.
— Não fala isso, Bernardo. Olha para você, pode ter alguém muito
melhor em sua vida, uma mulher da alta sociedade. Quem sou eu para
você? – Ela pergunta de forma simples.
Falo sinceramente.
Bernardo então suspira, e olho para ele. Seu pensamento está longe.
— Em como foi difícil ficar sem você esses meses. – Passo o dedo
indicador em seu lábio.
Não falo nada, apenas fico admirando seu rosto. Bernardo então olha
para mim.
— A Brenda vai ficar muito feliz quando ver você. Em todos esses
meses, ela não parou de falar em você, nem sequer uma vez. – Bernardo se
vira um pouco, e ficamos um ao lado do outro.
— Eu não vou voltar com você para Nova York! – Falo. Bernardo me
olha de forma preocupada e confusa.
— Como assim? Quer dizer que não quer voltar para mim? – Ele
pergunta, e então me sento no sofá.
— Então você não quer ficar comigo porque estou aqui? – Pergunto.
— Eu não disse que não quero ficar com você. Só disse que não vou
voltar agora para Nova York. – Falo, e ele põe a mão no meu rosto.
— Então você vai voltar para mim? – Ele pergunta, e confirmo com a
cabeça.
— O que é isso?
—Eu também vou, mas farei o possível para vir logo te ver. – Falo,
tentando encaixar essas viagens em minha agenda mental.
— Poderemos conversar todos os dias. – Ela fala, e me afasto um
pouco para olhar em seus olhos.
— Eu vou até o fim do mundo por você. De Nova York para a Itália é
um pulo para mim. – Falo, e ela me mostra seu melhor sorriso.
As horas passaram rápido até a hora de ela sair para almoçar. Acho
que é por causa do fato de eu ter que voltar para Nova York hoje. As horas
estão passando tão rápido.
Visto meu terno preto, passo meu perfume e então saio do hotel.
Acho que já vou fechar logo a hospedagem, e de lá mesmo vou para Nova
York. Não vou mentir dizendo que é fácil não leva-la comigo, mas acho que
esse tempo será bom para que possamos amadurecer ainda mais. Quando
Gabriela finalmente voltar para nossa casa, vou agilizar nosso casamento o
quanto antes. Não quero que ela fique longe de mim, não mais.
— Fez sim. Olha como você está vestido. As mulheres aqui são todas
loucas por um CEO, e você ainda vem assim!
— Por favor, senhora Monteiro, não chore. Eu não vou embora agora.
Ainda ficarei alguns meses com vocês. – Gabi fala e estende a mão para a
senhora.
— Eu agradeço por suas palavras. Realmente, o que fiz com a Gabi foi
incoerente e irresponsável. Acho que não tenho muitas definições para o
que fui. Mas prometo, de agora em diante, apenas trazer alegria para ela. –
— Boa viagem, meu amor. Me ligue assim que chegar. – Gabriela fala,
soltando-me do abraço.
— Sim, estou ansiosa para isso, e com receio do que as pessoas vão
achar, mesmo que a prévia tenha sido muito bem recebida. – Falo.
— Eu amei sua história, seu livro me inspirou muito. – Uma moça fala
e me estende o livro para que eu autografe.
O dia foi bem longo e cansativo, mas foi maravilhoso. Nunca imaginei
que daria tantos autógrafos assim em minha vida.
— Estou muito feliz. Não imaginei que meu livro faria tanto sucesso.
– Falo, olhando para o livro em minhas mãos.
— Já terminou aqui?
— Sim, mas meus planos hoje com você são outros. – Ele fala,
arrancando um sorriso meu.
— E o que seria?
— Sério?
— Baixa a bola, tá? Eu gosto sim dessa banda, mas tenho certeza de
que não veio aqui só por isso. – Falo, e ele me puxa para seus braços.
Falo.
— Não vai precisar cruzar mais nada por mim. – Falo, e ele senta
rapidamente, com a expressão séria e preocupada ao mesmo tempo.
— O-o que você quer dizer com isso? – Bernardo pergunta, com a fala
entrecortada.
— Eu não vou deixar você, não mais. – Falo, e ele me agarra, e nós
deitamos novamente, só que ele está por cima de mim.
Capítulo 58
Finalmente chegou o dia de eu voltar para Nova York. Bernardo não
pôde me esperar, porque ele teve uma reunião de emergência sobre uma
das empresas. Infelizmente, foi descoberto um grande roubo por parte de
um dos sócios, mas ele levou a maioria das minhas caixas.
— Você vai fazer falta aqui. – A senhora Monteiro fala, sorrindo entre
algumas lágrimas.
— Claro que sim. Nós que trabalhamos com esse tipo de negócio
estamos sujeitos a tudo. – Concordo com a cabeça.
— Não, eu vou voltar a fazer o que amo. Vou voltar a dar aulas,
continuar minha trilogia de livros e tentar ter um bom relacionamento com
o Bernardo. – Falo, decidida.
— Fico feliz com sua decisão. Acho que todo esse tempo que você
trabalhou como secretária te fez infeliz. – Ela fala, e penso em meu trajeto.
Procuro meu nome entre as plaquinhas e não vejo, até que uma me
chama a atenção. Um sorriso escapa dos meus lábios, apresso meus passos
até estar diante daquela pessoa que se tornou tão especial para mim.
— Não fique assim. Eu sei de toda a história. Eu estou feliz que você
está aqui. – Brenda fala, secando meu rosto.
— Dessa vez, eu vou cobrar. – Ela fala, fazendo-me sorrir entre meio
às lágrimas. — Vamos para casa? Alguém está louco para te ver!
— Eu gostei sim, mas estava faltando vocês comigo. Por mais que eu
tentasse, a saudade era constante. – Eu estava receosa de que ela não
quisesse mais falar comigo ou algo do tipo, mas ao vê-la no aeroporto,
meu coração se encheu de alegria.
— Aqui não foi muito fácil. Na sua ausência, meu pai bebeu por
meses, não se concentrou no trabalho e bateu de carro uma vez. Fora isso,
foi tudo normal. – Ela fala tranquilamente.
— Não deixe mais ele, por favor. Meu pai sofre de bipolaridade. –
— Fique aqui no carro. Quero dar um susto no meu pai. – Ela fala com
olhar travesso. – Ou melhor, venha e fique escondida para ver a reação
dele. Ponha seu celular no silencioso, ele vai ligar.
— Sim, eu já liguei, mas ela não atendeu. Pai, eu acho que ela não
quer mais ficar conosco. – Ela fala, fazendo cara de choro.
— Eu não te largo mais. – Falo, e ele segura meu rosto com as duas
mãos.
— Esperei o convite formal, mas como ele não veio, decidi por conta
própria. – Ele fala, e abro os olhos.
Não demora muito, e logo sinto seu jato quente dentro de mim.
Saímos de casa já passando das sete horas. Bernardo fez uma reserva
em um restaurante italiano não muito longe de sua casa. Assim que
chegamos, meus olhos não conseguem se desviar da praia. O restaurante
fica de frente para ela, o que deixa o ambiente ainda mais lindo.
— O que é, papai?
Bernardo fala, olhando para o vinho em sua taça. – Conversei com algumas
pessoas experientes e vi que isso ajudaria muito nossa cidade e os bairros
mais pobres. Confesso que já estou curiosa. – Eu vou abrir uma escola para
crianças carentes. Meu coração palpita forte no peito.
Eu sei quantas crianças crescem sem estudo por causa das condições
de seus pais. Então, para mim, é uma felicidade imensa saber que ele está
montando esse projeto, mesmo não sendo a área em que ele trabalha. Ver
o quanto de esforço ele está fazendo para trazer algo tão importante só me
mostra o quão grande é o coração dele.
— Eu quero que você seja a diretora dessa escola. Sei que, para isso,
você terá que fazer algumas especializações, mas eu conheço o seu
potencial. – Bernardo fala, me fazendo olhar para ele confusa.
— Tudo bem, eu vou ser a diretora da escola, mas apenas por pouco
tempo. Quero voltar a dar aulas. – Falo, empolgada.
— Eu sei que você ama dar aulas, e sei também o quanto nosso
governo é falho quando se trata de educação. Então, eu só uni o útil ao
agradável. Você poderá dar aulas, e as crianças poderão ter um bom
ensino.
– Bernardo fala.
— Por você, eu faço qualquer coisa, Gabi. Ver você e a Brenda felizes
me faz feliz. Me faz um homem realizado. Esse tempo que ficamos
afastados foi tão doloroso. Eu não imaginei que sentiria por alguém o que
sinto por você, e te fazer feliz é o que eu mais quero. – Abraço seu corpo,
me sentindo em paz.
— Bernardo, vamos com calma, está bem? Isso tudo tem que ser
planejado. Não podemos fazer tudo de uma vez. Eu sei que você quer uma
família maior, eu também quero, mas temos que ter um pouco de calma.
Adotar uma criança é complicado. Precisamos conversar com a Brenda
sobre isso também. Precisamos de um pouco mais de tempo. —Falo,
mesmo sentindo meu coração bater rápido com tudo isso.
Adotar uma criança sempre esteve em meus planos, com ou sem ele.
Mas temos que ter um pouco de paciência para tudo isso. Não quero
magoar a Brenda com isso. Ela sempre foi a prioridade, e talvez ela possa
ficar triste com tudo isso de uma vez.
— Tudo bem, acho que foi muito repentino. Mas se você quiser,
podemos nos casar semana que vem. – Sorrio e dou um tapa em seu braço.
Viro a cadeira de frente para os acionistas e olho para ele. – O que passou
pela sua cabeça quando pensou que eu não descobriria? – Pergunto, e ele
sorri de lado.
— Você está ficando louco. Isso é tudo armação sua. Quer me tirar
da empresa e armou isso. – Ele fala, despretensioso.
— Por favor, Josef, não piore sua situação. Todos aqui sabem da sua
ganância. Deveria ter tido mais cuidado. – Falo.
— Isso é por causa desse seu amor platônico por aquela garota. Ela
só quer te usar. Talvez tenha sido ela que te roubou. – Levanto para dar um
soco nesse bastardo filho da mãe, mas os outros acionistas me seguram.
— Sim, e isso não tem nada a ver. Apenas respire, você precisa ficar
calmo. Seu casamento está chegando, cara!
Bruno fala, e mesmo estando com raiva, foi inevitável conter o
sorriso de lado.
— Sim, nós vamos casar, cara. Ela aceitou casar comigo. Falo, todo
bobo.
— Se fosse eu, não teria aceitado. Mas tudo bem. – Dou um soco em
seu braço.
— Ainda não. Você poderia ir comigo. Falo, e ele faz uma careta.
— Não, obrigado. Estou indo para casa curtir minha filhota. Ele fala e
sai do meu escritório.
— Tudo bem, Bernardo. Então somos apenas nós. Falo para mim
mesmo.
— Bernardo?
— Eu vou te ajudar!
— Ai. – Falo, e puxo ela pela cintura. – Estou sentindo sua falta à
noite. Falo, e Gabriela sorri de lado.
— Brenda estará nos esperando na casa dos meus pais. Ela vai conosco,
e eu achei bem legal. Poderemos ter momentos especiais juntos.
—Ok, eu vou terminar de arrumar minha mala. – falo e me afasto um
pouco dele.
— Por que todo esse mistério? Não vai estragar a viagem se me falar
para onde vamos! – tento mais uma vez.
— Você vai gostar. Será uma bela surpresa para você e para a Brenda. –
— Vou ter que tirar meu salto, meus pés estão doendo muito. – falo, e
Bernardo então se abaixa na minha frente.
Bernardo então beija meu pescoço e depois meus lábios. Forço seu
corpo a deitar na cama, e eu fico por cima dele.
— Você não viu nada, senhor Lumière. – falo, e então ele sorri de lado.
Pego nas barras do meu vestido e puxo para cima, tiro a peça de roupa e
jogo no chão. Bernardo trata logo de tirar meu sutiã.
— Bernardo! – esbravejo.
Bernardo continua a fazer sexo oral em mim, sua língua quente penetra
minha entrada úmida, me fazendo contorcer de prazer. Ele então introduz um
dedo em minha entrada e começa um movimento de vai e vem. Solto um
gemido mais alto.
Ep
ílogo
Um ano depois
— Sim?
— Está ali na frente. – ela fala, e saio correndo para a frente da escola.
Assim que chego lá, vejo uma menina de aproximadamente três anos
sentada na calçada. Me aproximo devagar dela. Ela está toda suja e descalça.
— Eu não sei. Minha mamãe disse que eu sou um estovo. – ela fala de
forma engraçada, mas entendo bem o que ela disse.
— Oi, princesinha!
— Eu não sei direito. Ela estava na frente da escola, então trouxe ela aqui
para descobrirmos. – falo.
— Então vamos entrar. Talvez ela tenha se perdido dos pais. – ele fala.
Abrimos o processo de busca pela mãe dela, e, apesar de ser uma cidade
tão grande, conseguimos encontrar a mãe dela depois de avaliar as câmeras de
segurança da escola. Ela deixou a menina no mesmo lugar onde ela estava
quando Samanta a encontrou.
Ficamos o dia todo ali até obtermos uma resposta clara sobre por que ela
deixou a menina na rua. Assim que os policiais levaram uma mulher de
aproximadamente vinte e cinco anos, percebemos que era ela.
— Eu não tenho condições de criá-la. Eu não queria deixa-la lá, mas eu não
tenho trabalho. Estou morando na casa de uma amiga e, recentemente, descobri
um tumor no cérebro. – ela fala, e vejo uma lágrima escorrer de seus olhos.
— E o pai da criança? Não tem nenhum parente que possa ficar com ela?
O policial pergunta.
— Não, meus pais já morreram. O pai dela não é uma boa pessoa, está
envolvido com tráfico. Não quero isso para ela. Prefiro que ela vá para um
abrigo. – ela fala.
Ligamos para nosso advogado, e logo ele apareceu com os papéis. Talvez
dê certo.
Pergunto.
— Por que uma mulher tão jovem como você quer adotar uma criança
como ela? Você não vê que ela não vem de bons pais e está toda maltrapilha,
você pode ter seus próprios filhos. – ela fala.
— Eu não posso ter filhos. Fiz uma cirurgia quando tinha quatorze anos
que me impossibilitou de ter filhos. – falo.
— Sim, sua história é, sem dúvidas, tão triste quanto a minha. – ela fala. –
Eu dou a guarda dela para você. Não quero nada em troca, só peço que cuide
bem dela. – ela fala.
— Ela terá um futuro brilhante com vocês. Infelizmente, não poderei vê-la
crescer. – ela fala, e lembro da conversa dela com o delegado.
— Obrigada por querer cuidar da minha filha. Espero que ela seja tão boa
quanto você. – ela fala, e me levanto, saindo da sala. Assim que vejo Bernardo,
ele vem até mim, me puxa para um abraço, e deixo as lágrimas saírem dos meus
olhos. Nunca senti isso. É um sentimento tão diferente de tudo o que já
experimentei. Talvez seja o sentimento de ser mãe, o medo de não poder
protegêla, a insegurança de que algo possa acontecer com ela.
— Claro, quero que tudo seja feito corretamente. Não quero correr o risco
de perde-la. – falo, secando algumas lágrimas.
— Vem cá. – puxo-a para perto de mim, abraço Brenda de lado e sorrio.
— Obrigada por ter voltado para o meu pai. Eu não conheci minha mãe,
mas conheci você. Faz tempo que queria perguntar... posso te chamar de mãe?
— Claro que pode, meu amor. Você não imagina a felicidade que é te ver
me perguntando isso. – falo.
—Obrigada, mãe. – ela fala, e algumas lágrimas escorrem dos meus olhos.
A campainha toca.
— Bom dia! – Bernardo fala assim que abre a porta, e vemos a assistente
social com Liz nos braços.
— Obrigada. – falo.
— Espero que ela se adapte bem a vocês. Fico feliz quando uma criança
encontra uma família para receber amor e carinho. Já vou indo. – ela fala e vai
até a porta. Bernardo a acompanha e abre a porta. Nos despedimos dela, e eu
me sento no sofá com Liz no colo.
— Você quer conhecer seu quarto? Tem muitas bonecas nele. – falo.
Passo Liz para ele, e seguimos para o quarto da Brenda. Ela entra primeiro,
e depois Bernardo, com Liz no colo. Depois de mostrar o quarto da Brenda,
seguimos para o nosso. Mostramos quase toda a casa para ela. A piscina ainda
precisa ter algumas medidas de segurança tomadas, mas já está tudo combinado
para que eles venham cercar toda a área.
FIM
Agradecimentos
Hoje, um dos meus sonhos está se tornando realidade: meu primeiro
livro está sendo publicado! Eu e toda a equipe envolvida nesse projeto
maravilhoso nos dedicamos intensamente para alcançar este momento.
Gostaria de expressar minha gratidão à minha família e amigos, que me
incentivaram incansavelmente a tornar esse sonho realidade.
Este livro foi escrito com imenso carinho e esforço, com o objetivo de
alcançar o coração de cada um de vocês. Agradeço a todos que reservaram
um tempo para conhecer essa história.
Sobre a autora
Renata Gonzaga estava pronta para compartilhar com o mundo sua
inspiração e o que a impulsionava diariamente a escrever histórias de
romance. Aquela seria uma jornada emocionante, capaz de despertar os
corações dos leitores.
@grupofenix.assessoria / fenixassessorialiteraria.com