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Irmãos Vitteleno Scarlett Castello
Irmãos Vitteleno Scarlett Castello
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Epílogo
Ele acredita que foi enganado por ela.
Ela decide manter sua gravidez inesperada em segredo!
Aos 37 anos, Louis Vittileno chegou no momento mais crucial
de sua vida: assumir a liderança da empresa da família. Um típico
italiano arrogante que sabe seu potencial para os negócios e para as
mulheres, mulherengo e conhecido por nunca ter relacionamentos
duradouros, Louis acredita que as mulheres só se interessam por seu
dinheiro e que nunca conseguirá encontrar um grande amor.
Bianca Baptista, é a mais nova secretária do futuro presidente
das indústrias VITTILENO. Tímida desde pequena, nunca conseguiu
se relacionar com outros rapazes ou se permitir viver uma paixão, o
bullying que sofreu ainda adolescente machucou seu coração e a
encheu de inseguranças.
Ao se conhecerem na festa da empresa, um não faz ideia de
quem o outro seja, a atração explosiva resulta na primeira vez de
Bianca e em um coração partido ao acordar no dia seguinte e ver um
bolo de dinheiro no lugar que Louis deveria estar.
A convivência entre os dois na empresa é insuportável, Louis
não confia em Bianca, e ela não consegue o perdoar por humilhá-la.
Mas a química entre eles falará mais alto e quando o casal parece
estar aceitando os sentimentos que nutrem um pelo outro, uma
reviravolta coloca tudo a perder.
Bianca é acusada de traição.
Louis, com o seu cargo como futuro presidente na empresa
ameaçado.
Com a rejeição e o coração partido, ela esconde dele que
engravidou e vai embora sem olhar para trás. Quando Louis se
depara com a verdade e percebe os perigos que os rondam, não tem
outra alternativa a não ser manter a mulher que ele ama longe para
que ela fique segura. Sem fazer ideia de que ela espera sua filha,
quando descobre a verdade ele terá de reconquistá-la enquanto ela
nega que a filha é sua.
Uma gravidez inesperada seria o suficiente para acabar com as
mágoas e unir o jovem casal que nunca vivenciaram o amor?
Prólogo
— Eu sei — rosno.
— Nunca mais.
— O bebê não é seu, não tem motivos para você continuar aqui,
vá embora. — Desvia o olhar, ela pode estar vermelha de raiva, mas
a emoção na sua voz não me engana.
— Foi por isso que você disse: “Deve ter sido por isso que
Fernando fez aquilo com você, ele já sabia desde o início a puta que
você era.” — O gelo em seus olhos ao recitar minhas palavras me
quebra e não consigo mais segurar o choro. — Você sempre achou
que eu era uma puta, pois fui lá e me tornei uma, transei com um
qualquer e engravidei.
vontade de rir pela fofura que é o Lorran falando errado, sua língua
ainda trava nas palavras com “N” e ele se esquece de como terminar
as que são muito grandes.
— Não é assim, Lorran, o certo é “andiamo a fare una
passeggiata[8]. — Pego no colo, sua roupa está toda bagunçada e fora
da calça.
A babá italiana não aceitou vir para o Brasil conosco, pois ela
tem família e não iria deixá-los, o que é bastante compreensível. Só
de imaginar vir para cá sem meu piccolo já me parecia um pesadelo.
Sou muito apegado à nossa família, cresci assim e herdei isso da
minha mãe. Nosso pai sempre esteve fora viajando, mas nunca
perdeu uma data comemorativa, aniversário ou premiações e
apresentações na escola, ele foi presente mesmo em sua ausência.
Todas as noites fazia chamadas com cada um de nós antes de dormir
e fazia questão de saber como foi o nosso dia.
Eu tinha certeza de que Levi seria desse jeito, de nós três ele
sempre foi o mais apaixonado, dedicado à sua arte e aos momentos
em família, a tragédia em sua vida mudou meu irmão e agora não sei
mais o que fazer para que ele volte a ser quem era. Terapia não
funciona, pois ele não faz, tenho que pensar em algo, Lorran precisa
do pai e eu do meu irmão.
— Andiamo. [9]
— Lorran pula e bate palmas, empolgado para
sair.
Vou aproveitar que hoje é meu último dia antes de iniciar na
empresa e passar com meu sobrinho. Dou banho no Lorran e o deixo
arrumado na sala assistindo desenho, enquanto vou para o quarto do
Levi, o encontro deitado na completa escuridão, são quatro horas da
tarde, mas ele faz parecer como se fosse meianoite.
— Estou saindo com o Levi, vamos? — Bato em sua perna,
fazendo-o acordar.
— Você vai me deixar em paz se eu for? — A voz rouca e baixa,
ele passou o dia chorando novamente.
— Deixarei pelo resto da noite.
— Cazzo — reclama, mas ao menos sai da cama.
Uma vitória para o Brasil, na Itália eu não conseguia retirá-lo da
cama sem uma boa briga antes. Deixo-o se arrumando e vou fazer o
mesmo, pretendo levar o Lorran ao shopping e depois vamos jantar
com o meu pai. Para a minha surpresa, quando chego à sala vejo Levi
olhando Lorran brincando com seu iPad, fico escondido no corredor
observando a cena, os olhos do meu irmão se enchem de lágrimas e
ele os cobre com as mãos. Lorran percebe o pai nesse momento e o
vê chorando, a cena que se desenrola à minha frente me deixa
emocionado.
Lorran segura a mão de Levi e o faz se abaixar, coloca o iPad
na mão do pai e liga uma musiquinha para crianças e começa a
dançar e bater palminhas, Levi sorri para o filho e com lágrimas em
suas bochechas, ele começa a bater palmas também e balançar a
cabeça. Levo minha mão aos meus olhos e enxugo as lágrimas que
insistem em descer, em dois anos essa é a primeira vez que vejo Levi
sorrir para o Lorran, do mesmo jeito que é a primeira vez que Lorran
se preocupa em fazer o pai parar de chorar. Não sei o que ele pensou
o dia todo, mas espero que esse momento não seja uma raridade e
que o Levi esteja, finalmente, começando a querer voltar a viver.
— Vamos? — Levi estende a mão para o Lorran, que a segura
sorrindo para o pai, meu piccolo só quer o carinho e atenção de seu
progenitor.
— Levi, você tá bien? — pergunta, os olhinhos preocupados.
— Sim, e você? — responde, mas não para de chorar.
— Tambum, não clhola, eu te dou popolate. [10]
— Pega um
bombom que ele guardou em cima da mesa da sala e estende para o
pai.
— Obrigado, já me sinto melhor. — Levi desembrulha o doce e
come metade a outra ele dá ao Lorran.
— Zio! — grita, me chamando, enxugo meu rosto para que eles
não vejam que eu estava escondido, presenciando o momento deles,
e entro na sala.
— Vamos passear?
— Bolha. — Pula animado, segura a mão do pai e depois a
minha e nos puxa para a porta.
Levi engole o choro quando saímos do apartamento. Vamos
para o shopping e a união entre pai e filho dura só até Lorran se
maravilhar com o espaço para crianças. Meu sobrinho começa a
correr e a pular, Levi fica calado, observando o filho brincar, mas não
interage mais com ele, é como se tivesse se transformado em um
fantasma. O deixo quieto, já foi muito o avanço de hoje e vou brincar
com o Lorran nas máquinas de jogos e de pegar ursinhos, ele fica
louco por um elefante e me faz gastar quase cem reais com a
máquina que suga meu dinheiro até eu conseguir pegar a pelúcia.
Após uma tarde divertida, vamos encontrar meu pai em um
restaurante de culinária italiana. Podemos sair da Itália, mas a Itália
nunca sairá do nosso paladar. Ele nos espera em uma mesa
reservada, Lorran ao ver o avô se joga em seus braços e fica sentado
no colo dele. Temos uma refeição tranquila e calma, conversamos
pouco sobre a festa de amanhã, quando serei apresentado,
oficialmente, como o sucessor do meu pai a mídia brasileira.
— Levi — meu pai o chama —, em São Paulo existem muitas
galerias de arte fantásticas, você deveria passar para conhecê-las
depois.
— Sim — responde sem entusiasmo, pela forma inquieta que
ele se mexe na cadeira sei que quer ir embora. A fim de manter a paz
do dia, encerramos o jantar e voltamos para nosso apartamento.
Na manhã seguinte, acordo cedo e faço meus exercícios
matinais, enquanto meu acionista de investimento na bolsa de valores
me passa por videochamada como estão indo as ações do dia e em
quais deveria investir e retirar investimento. Todos os dias faço isso,
é importante ter uma noção ampla do mercado de ações. Deixo o
Lorran aos cuidados do Levi, rezando a Deus para chegar em casa e
ambos estarem vivos. Preciso de uma babá urgente, mas não consigo
achar uma que fale italiano e possa entender meu sobrinho e irmão.
E não tive tempo ainda de matriculá-lo na creche, pedi ao Levi para
fazer isso hoje e o lembrei antes de sair, rezo para que ele o faça.
O caminho para a empresa é enfadonho, o trânsito de São
Paulo é caótico, na melhor das definições, agora entendo o motivo do
meu pai só se locomover usando o helicóptero, não achei que fosse
tão ruim assim e cheio de congestionamentos. Demoro quase uma
hora e meia para chegar, sou cumprimentado por todos durante o
caminho para a minha sala, pego o elevador presidencial e ajeito
minha gravada, tenho uma reunião com os acionistas em vinte
minutos, mas antes vou falar com meu pai.
No lobby, encontro a Marta, secretária do meu pai, e uma bolsa
em cima da mesa da minha secretária, mas sem sinal dela.
— Bom dia, senhor Vittileno — Marta me cumprimenta com um
sorriso.
— Bom dia, Marta — aponto para a minha mesa —, minha
secretária?
— Ela foi ao almoxarifado pegar uns documentos para o
relatório que o senhor pediu sobre a venda dos tecidos para o exterior.
— Certo, quando ela chegar, peça que passe em minha sala
para sermos apresentados.
— Sim, senhor.
A contratação da minha secretária foi feita por meu pai, ainda
não a conheci e estou bastante curioso para isso. Enrico teceu tantos
elogios sobre a jovem que despertou meu interesse no mesmo
instante, trabalhar com uma profissional competente é tudo que eu
poderia querer.
— Bom dia, Enrico — o cumprimento ao entrar em sua sala. No
trabalho nos tratamos formalmente.
— Bom dia, Louis — aperta minha mão —, vamos nos preparar
para a reunião com os acionistas.
— Sim, senhor.
E assim passamos o resto da manhã, em reuniões e fazendo
os preparativos para a troca de presidentes e o anúncio na festa que
teremos de noite. Minha secretária acabou passando mais tempo do
que previ no almoxarifado e juntando ao fato de que estive mais fora
do meu andar do que lá, nos desencontramos e, infelizmente, não
consegui encontrá-la hoje.
Estou indo para a última reunião do dia quando a vejo,
caminhando em direção ao banheiro enquanto segura pastas,
tentando não cair do salto alto que deve estar esmagando seus lindos
pés. Não sei quem é essa mulher, se é uma funcionária da
VITTILENO ou uma visitante, mas fico atraído por ela com facilidade.
Os cabelos presos em um rabo de cavalo, a maquiagem leve poderia
ser facilmente confundida com sua beleza natural. O corpo esguio
com seios medianos, quero apertá-los e morder sua carne, até
enlouquecê-la gritando meu nome. Ela tenta passar uma imagem
confiante com os ombros e a coluna eretos, mas vejo pela forma como
suas íris castanhas desviam de todas as pessoas que passam perto
dela que, na verdade, ela é tímida, os lábios rosados recebendo
mordidas discretas, as pastas sendo apertados em suas mãos.
Porra, aperto minhas mãos na tentativa de controlar o animal
selvagem que habita dentro de mim, as tímidas são minhas
preferidas. As pessoas se enganam que pelo meu jeito dominante e
sem-vergonha que gosto das mulheres mais atrevidas e que se jogam
aos meus pés, no entanto, essas eu tenho aos montes. Mas nada se
compara com uma tímida, aquelas que seduzo aos poucos, com
toques e beijos e num piscar de olhos tudo que elas pensam é em
mim. A entrega na cama, o rosto vermelho, ah, minhas preferidas. E
você, meu dolce[11], em breve vou te provar inteirinha, hoje à noite na
festa da empresa vou te procurar e ter você na minha cama até o final
da noite.
Capítulo 4
Estou atrasada!
Tipo muito atrasada!
Meu chefe vai arrancar minha cabeça por não chegar na hora
durante a festa de sua nomeação como o novo presidente da
empresa VITTILENO. Pulo no meu quarto, tentando calçar meu salto
fino. O vestido verde-musgo soltinho deixa minhas costas nuas, com
amarração no pescoço. Pego minha bolsa e confiro mais uma vez
minha maquiagem no espelho. Por sorte a bruma fixadora que uso é
muito forte e mantém tudo no lugar ou eu estaria parecendo o próprio
coringa.
Passei o dia no almoxarifado procurando os documentos que
me foram solicitados, só essa parte teria sido fácil de resolver, mas
acontece que eu achei uma coisa estranha em todos os envios e
precisei verificar todos os arquivos desde que a empresa foi fundada
para saber onde começava aquela falha. Uma empresa fantasma
está comprando tecidos por um preço extremamente baixo e
recebendo o triplo do que é pedido, isso não está certo e se meu faro
me levar ao que imagino, a VITTILENO está sendo roubada por um
de seus acionistas. Eu só não descobri qual ainda.
Sou uma secretária iniciante e na minha primeira semana de
trabalho já me deparo com um pepino desse tamanho. Será que o Sr.
Vittileno estava desconfiado de algo e, por isso, me pediu para olhar
justamente esses carregamentos? Mas não acaba por aí,
investigando mais a fundo descobri que podem existir mais empresas,
se eu conseguir localizar quando isso começou e quais os acionistas
que estavam responsáveis por esses envios, consigo chegar ao
culpado. Só peço que não seja alguém grande o suficiente para fazer
a minha cabeça rolar.
Por enquanto preferi não dividir com ninguém as minhas
suspeitas, na segunda quando o Louis Vittileno e eu formos
oficialmente apresentados e ele me perguntar sobre o relatório que
me pediu via e-mail eu compartilho minhas informações. Eu quero
agradar meu chefe e fazer com que ele reconheça meu potencial, por
isso passei horas naquela sala abafada e cheia de arquivos
empoeirados, espirrando, tossindo e morrendo de sede sem nem ir
ao banheiro, pois fiquei obsessiva com minha busca, a ponto de
perder a hora e sair daquele lugar às 20h. A festa iniciava às 19h
Demorei mais uma hora para chegar em casa, obrigada metrôs
superlotados de São Paulo, eu odeio vocês na mesma precisão com
que amo, mais meia hora só no banho tirando a poeira dos cabelos,
nem morta eu apareço suja desse jeito na frente de toda aquela gente
importante. Por sorte demorei somente 20 minutos fazendo minha
maquiagem, somente o básico, demorei mais cinco brigando com
meu sapato, meia hora para secar o cabelo e prendê-lo em um meio
coque alto. Simplificando, são exatamente 22h30 e ainda vou levar
quase uma hora para chegar ao lugar da festa, estou muito atrasada.
Por minha sorte sei que o evento vai demorar no mínimo até a
meia-noite para ser encerrado, pelo que ouvi da Marta a previsão é
que acabaria às 04h, pois o atual presidente quer comemorar muito a
promoção do filho. Sem mais delongas, chamo minha irmã que ficou
de me dar uma carona e saímos para o hotel que acontecerá a
celebração.
— Você vai chegar na hora, não se preocupe — Olivia tenta me
acalmar, não paro de bater o pé no assoalho do carro.
— Como pode dizer isso? Já são quase 23h, eu deveria ter
chegado às 19h! — tento manter a calma, o medo de ser repreendida
é enorme.
— Se explicar a situação seu chefe vai entender, quer uma
dica? — Olivia fala com tanta calma que tenho vontade de socá-la,
ela não tá entendendo meu desespero.
— Diga de uma vez. — Suspiro, aceitando a derrota, vou ser
repreendida, não tem escapatória.
— Fique nos cantos, se fizer isso pode dizer que chegou na
hora, mas que ninguém te notou, pois você não estava no centro ou
no meio da multidão.
— Acha mesmo que isso dá certo? — Fico em dúvida, mas
tentada a aceitar.
— Tenho certeza, você é tímida, as pessoas não vão ter
motivos para duvidar de que preferiu não chamar a atenção. — Nisso
ela tem razão.
— Se isso der errado eu te mato. — Minha ameaça não serve
de nada, além de fazer a Olivia rir.
— Se der certo você fará minha mudança no sábado. — Sorri
para mim, convencida e sabendo que pegou no meu ponto fraco.
— Não, me recuso a aceitar que você está saindo de casa. —
Faço bico.
— É melhor para mim, você sabe que nos últimos tempos tenho
discutido muito com o pai e agora com meu emprego no outro lado
da cidade, não posso gastar duas horas por dia para me locomover,
pegando dois metrôs e um táxi. Vai embora metade do meu salário só
de transporte.
— Eu sei, mas vou morrer de saudades. — Fico chorosa.
Foi a Olivia quem me criou, por diversos momentos a vi mais
como uma mãe do que somente uma irmã mais velha, imaginar ficar
sem ela parte meu coração. Minha irmã sempre foi meu porto seguro,
mesmo com a insegurança que, às vezes, sinto por saber que ela é
mais linda do que eu, por ver como é sociável e amigável com as
pessoas. Sempre quis ser assim, mas nunca consegui. Olivia
conversa com qualquer um, encanta e conquista sem dificuldades,
ela é a melhor pessoa que já conheci, a que mais amo e agora vou
ter de ficar sem ela por perto, isso me mata.
— Ainda vai poder me visitar todos os dias. — Aperta minha
mão. O resto do caminho deixamos a melancolia de lado e
conversamos sobre a sua mudança na próxima semana.
Chego ao hotel, entrego meu convite aos seguranças e entro,
tentando não chamar a atenção. Ao ver as pessoas arrumadas,
percebo que fiz certo em escolher um vestido na altura do joelho
soltinho e alinhado. As pessoas aqui gritam luxo e poder. As mulheres
com maquiagens tão pesadas que me pergunto quanto tempo elas
levaram fazendo isso no salão e quantos milhões deve ter custado.
Tento não me sentir um patinho deslocado no meio de tanta gente
cheia de grana, ao ver outras pessoas que trabalham na empresa
respiro melhor, não sou a única que está aqui como funcionária.
Não é difícil fazer como a Olivia disse e ficar nos cantos
observando o salão sem chamar atenção, aperto minha bolsinha,
sentindo o desconforto por estar rodeada de tantas pessoas e não
conhecer ninguém. No fim, foi uma bênção chegar atrasada, estou
me corroendo por dentro querendo ir embora, esse espaço é opressor
demais, não gosto disso.
Me movo devagar pelo salão, procurando pelo Sr. Enrico
Vittileno, vou me apresentar a ele e ao seu filho para depois ir embora,
não quero ficar aqui mais um segundo, os burburinhos, alguns olhares
em minha direção me fazem achar que as pessoas estão falando mal
de mim, da minha roupa e aparência. Vejo uma rodinha de homens e
entre eles o Sr. Enrico, atrás dele vejo a Marta com outras secretárias,
elas parecem tão à vontade umas com as outras, será que iriam
gostar se eu me metesse entre elas? Há quanto tempo será que se
conhecem? Não devem querer uma novata intrometida em sua roda
de conversa.
— Boa noite. — Uma voz grossa com sotaque carregado
chama minha atenção, viro-me de costas e preciso de cinco segundos
para absorver o homem que está à minha frente.
— Boa noite — digo baixinho, coço a garganta a fim de
recuperar a voz.
Olho para os lados e para ele, é difícil encará-la. O homem mais
lindo que já tive o prazer de ver pessoalmente está parado a poucos
passos de mim e não faço ideia do que fazer para puxar conversa
com ele. Ele é bem mais alto que eu, por isso tenho que levantar a
cabeça para encará-lo, seus olhos são azul-claros profundos,
marcantes, um olhar decidido, os cabelos loiros e bem cortados na
lateral com um topete bastante arrumado, as costeletas terminam em
um maxilar marcante e proporcional ao queixo. Nariz, boca e olhos
são de um contorno tão preciso que parece que foram desenhados.
Os lábios rosados e cheios. O pescoço grosso e os ombros largos, o
peitoral poderia ser esmagado pelo seu terno se não fosse de um
corte perfeito.
O terno nas cores cinza com a camisa branca e uma gravata
prateada tem um caimento perfeito em seu corpo, o Rolex no pulso
chama a minha atenção e me deixa mais intimidada com a sua
presença. O que alguém como ele que grita beleza, sofisticação e
dinheiro iria querer comigo que estou quase me fundindo na parede
de tanta vergonha por estar nesse lugar?
— Ainda não tinha te visto. — Sua voz volta a preencher meus
ouvidos e arrepiar o meu corpo.
— Eu... estive aqui o tempo todo — minha voz sai um oitavo
mais alta e coloco a mão na boca. Merda, não queria levantar
suspeitas sobre meu paradeiro e agora dou uma bandeira dessas.
— Certamente — dá um risinho e estende a mão para mim —,
eu sou o Lo...
Minha atenção sai completamente dele quando um som de taça
quebrando ecoa alto no salão junto de uma jovem gritando com o
garçom.
— Ele não tem culpa, coitado — lamento pela cena que se
desenrola.
— Concordo, pelo visto ela quem bateu nele — volto minha
atenção para ele —, sabe quem é aquela mulher?
— Não. — Na verdade, eu sei, é a filha de um dos acionistas,
lembro-me de ter esbarrado com ela e seu pai no elevador da
empresa e seu nariz em pé me dizia que eu deveria manter distância
e agora ao ver como ela tratou o garçom, sei que uma simples
secretária como eu não teria chance.
— É filha de um acionista da VITTILENO. — Então ele a
conhece. — Pessoas como ela, que por nascerem em berço de ouro,
se acham melhor que as outras me enojam.
— Não são das mais agradáveis — concordo com ele, mas
ainda com medo de expressar minha opinião e o afastar —, você
parece vir de uma família como a dela, importante.
— Sim, mas recebi uma educação exemplar dos meus pais,
nunca me portaria de tal forma. — Seus olhos me prendem e ele me
analisa. — E você, nasceu em berço de ouro?
— Não. — Sorrio, nunca tive vergonha das minhas origens. —
Meu pai é segurança particular e trabalhou muito para que eu e minha
irmã conseguíssemos nos formar, tenho orgulho da minha história. —
Empino o nariz, meu pescoço começa a reclamar por ter que olhar
tanto para cima.
— Faz bem — alisa meu queixo e se abaixa um pouco —,
pessoas como aquela mulher deveriam ser proibidas de vir aos
eventos, elas não sabem se portar. — Percebo um tom de sarcasmo
em sua voz e me divirto.
— Concordo. — Sorrio para ele. De repente esse lugar se
tornou menos opressor.
— Bom, estou feliz de ter te encontrado. — Dessa vez, ele pega
no meu braço, puxando-me mais para perto e sinto minhas
bochechas pegando fogo e minhas pernas bambearem.
— Por quê? — sussurro quase sem voz, seu perfume
masculino e forte invadindo meus sentidos.
— Gostei do que vi — arqueia a sobrancelha —, quer sair daqui
comigo?
— Você..., mas nem nos conhecemos. — Fico intrigada e
balançada com sua oferta.
Dificilmente, encontrarei outro homem como ele, quais seriam
as chances de ele dar em cima de mim nessa festa? Seria uma
punição por ter chegado atrasada? Me bato mentalmente, prometi
parar com a insegurança e ser mais confiante. Não tem motivos para
isso ser um joguinho, não tenho inimigos na empresa. Ao menos uma
vez na vida vou me permitir acreditar que ele não está me iludindo.
— Podemos nos conhecer em outro lugar, mais calmo — ele
alisa minha bochecha —, percebi que você não estava gostando de
estar no meio de tantas pessoas, tenho acesso à área superior do
hotel, achei que iria gostar de respirar um ar puro.
Ele percebeu? Então... ele prestou atenção em mim quando
achei que ninguém estava me vendo.
— Somente conversar? — pergunto como uma boba.
— Sim, vamos?
— Vamos.
Ele segura na minha cintura e tremo, desequilibrando-me e, em
seguida, caio por cima de seu peito, seu aperto aperta ao meu redor
e com delicadeza ele me ajuda a me firmar. Nunca passei por uma
situação assim, achei que o meu atraso pudesse ser o meu fim, mas
parece que me garantiu uma nova oportunidade, algo pelo qual ansiei
por toda a minha vida. Deixo que ele nos leve pelo salão e saímos por
uma porta na lateral que dá acesso às escadas, subimos sem
conversar nada, meu coração quase saindo pela boca. Quando acho
que vou morrer de tanto caminhar, ele abre as portas e entramos em
um elevador. Nosso destino é uma área com piscina e árvores,
estamos no terraço.
— Sente-se melhor? — pergunta ao me ajudar a sentar em uma
mesa de frente para a piscina, ele se senta ao meu lado e seu braço
rodeia meus ombros.
— Sim, obrigada.
— Ótimo, agora me conte mais sobre você. — Sua mão acaricia
meu rosto e tenho certeza de que a última coisa que ele quer é saber
sobre mim.
— Não é isso que você quer — sussurro, sua boca se
aproximando da minha, seus olhos mirando meus lábios.
— E você quer o que eu quero? — sopra sedutoramente contra
meu rosto, fecho os olhos me deixando envolver pelo momento.
— Quero.
Não precisamos de mais palavras, seus lábios pressionam
contra os meus, que se abrem para receber sua língua. Ele me invade
com delicadeza, puxando meu rosto contra o seu e aprofunda o beijo.
Meu coração bate tão rápido que sou capaz de ouvir suas batidas.
Ele exige mais, tornando sua língua mais dominante, seus dentes
prendendo meus lábios e suas mãos me puxando para seu colo. Eu
não tenho outra opção, a não ser deixar que ele me domine.
Essa noite não começou como imaginei e, com certeza, terá
um desfecho surpreendente. Não sei o que acontecerá, mas estou
ansiosa para descobrir.
Capítulo 5
— É bom. — Suspiro.
Ele volta a descer para minha intimidade e sua boca ataca meu
clitóris enquanto bombeia seus dedos. Estou molhada e agora ele
desliza facilmente, a ardência desaparece. Me entregar aos seus
estímulos é fácil, ele sabe o que faz, onde morder, chupar e lamber,
estou delirando em sua boca novamente, meu corpo ardendo em
chamas, gemo não aguentando mais a sensação esmagadora que
me preenche e, então, tudo se desfaz e me desmancho em
pedacinhos.
Não que eu conheça muitos paus para comparar, mas não tem
como aquilo ser pequeno, sua extensão toca seu umbigo e sua
grossura, com certeza, eu não conseguiria segurá-lo de mão fechada,
pois seus próprios dedos o bombeando mal se fecham ao seu redor.
— Tá bem.
Decido confiar nele, até agora tudo que tem feito foi me dar
prazer, ele não teria motivos para mentir.
— Jura?
Ela disse ser virgem e agiu como tal, mas a prova de sua
virgindade não existiu. Não tinha sangue na camisinha, nos lençóis
ou entre suas pernas. Quando terminamos eu a chupei com vontade,
mulher alguma saí da minha cama sem gozar feito louca, mas não
encontrei nenhuma gota de sangue, no banheiro olhei a camisinha e
não vi nada, no quarto o lençol da cama continuava branco e ela se
escondeu no banheiro como uma desculpa de se limpar.
A safada disse que não era mais virgem e por isso não tinha
se casado, pois ninguém a queria, depois de muita insistência e de
encontrá-la aberta para mim no quarto de hotel que eu ficava, acabei
comendo aquela boceta. Foi quando percebi que, na verdade, a
mulher era virgem, o sangue como evidência em todo o lençol e
camisinha. Para conseguir escapar de seu pai que exigia o
casamento tive de ceder e dar a ele 10% da empresa, parte a qual
ele usaria para a lavagem de dinheiro. Mas eu sou mais esperto que
todos aqueles velhos. Apenas com três meses após a negociação
entreguei evidências à polícia de que estavam usando minha
empresa para lavagem de dinheiro e como as ações foram
compradas de forma legal, não saí prejudicado.
Até hoje eles tentam me matar por isso, mas minha equipe de
segurança é forte e competente. Escapei de todos os atentados e
desde então vivo em pé de guerra com a máfia siciliana. No mundo
de gente grande não temos espaço para picuinhas de crianças, se
eles querem me dar um golpe eu darei outro, se me ferirem, eu
machucarei todos de volta. Trazer o Levi e o Lorran foi uma medida
de segurança, nunca permitirei que meu sobrinho seja usado como
moeda de troca e em breve essa guerra vai acabar, firmei aliança com
o filho do consigliere e em troca da paz estou financiando sua tomada
ao trono. É assim que eu vivo e por isso fui esperto para perceber o
golpe da falsa virgem daquela mulher.
Merda, a foda mansa por achar que ela era virgem, me deixou
cheio de tesão, por debaixo da mesa aperto meu punho, controlando
meus instintos, não vou perder o controle no trabalho.
— O quê? Te foder?
— Não sou uma puta — fala tão baixinho que quase não a
escuto, ela se abaixa para pegar a agenda de novo e enxuga os olhos.
— Sou sua secretária. — Me encara mesmo sem conseguir conter o
choro.
— Sim, senhor.
Eu nunca beijei e não vou fazer isso com o irmão do Felipe, ele
é asqueroso, malvado e adora puxar meu cabelo quando passa por
mim, as chances de ele querer ficar comigo são as mesmas que tenho
de pegar o Luan Santana, inexistentes. Isso só pode ser outro plano
dele. Não aguento mais sofrer isso todos os dias, é humilhante,
doloroso e acaba com minha vontade de viver.
— Isso é o que vale o seu beijo, dois reais, espero que nunca
se esqueça isso e se prepare, vou pegar todos os seus beijos
enquanto eu tiver notas na minha carteira — ele diz e vai embora
assobiando.
Mais uma vez fui tratada como uma puta que recebe dinheiro
para ficar com os homens, mas diferente do Fernando que me forçou
a ficar com ele, Louis me seduziu, me fez acreditar num príncipe
encantado enquanto me usou ao seu bel-prazer e depois jogou fora
como um pedaço de lixo.
Foi humilhante ficar naquela sala o dia inteiro com ele, tendo
que suportar a forma como ele me olhava, suas palavras duras e
lembrar que a minha maravilhosa primeira vez com esse homem foi
manchada com a lembrança daquele dinheiro. Queria estar com o
maldito envelope dentro da bolsa para poder devolver a ele, mas
nunca imaginei que aquele homem pudesse ser o vice-presidente da
VITTILENO, seu pai sempre teceu elogios sobre o filho mais velho,
mas aposto que ele não faz ideia do crápula que criou.
— Olha como fica feia toda borrada e inchada, se for pra chorar
que seja em casa onde ninguém pode te ver.
— Louis tem sofrido pressão dos acionistas, pode ser que seja
por isso que anda mal-humorado. — Ela também se levanta e pega
uns documentos. — Achei isso, pode ser que ajude vocês.
— Ótima ideia.
Louis está com sangue nos olhos, se posso definir assim, ele
está prestes a abrir aquele bocão que só sabe reclamar quando seu
celular pessoal toca. Aprendi a diferenciar o toque do de trabalho com
o pessoal, sempre que o segundo toca ele fica uma pilha de nervos
pior ainda e sou eu que sofro. Caminho silenciosa para sua mesa,
enquanto ele vai para a varanda atender ao chamado.
— Como esse infeliz esqueceu o Lorran?! — Seu grito me faz
tremer e me sento quietinha, não quero chamar sua atenção, ele está
mais furioso do que nunca.
Não sei o que está acontecendo, mas a forma como ele anda
de um lado para o outro e xinga em italiano me diz que tem algo de
muito errado. Meu celular toca e me apresso para atender, é minha
irmã.
— Sim.
— Preciso que você avise a ele que estou com seu sobrinho, o
pai não veio buscá-lo e nem o motorista, preciso saber onde é a casa
dele para deixá-lo lá, na secretaria o pai deixou somente o número
dele para contato, mas não atende as ligações e o endereço ele ficou
de trazer depois e não o fez.
— Minha nossa, deve ser por isso que o Louis está uma fera.
— Seu sobrinho está com minha irmã — digo rápido antes que
ele possa abrir a boca e me xingar.
— O que disse?
É a primeira vez que vejo medo e alívio nos olhos do Louis, ele
deve se preocupar muito com o sobrinho, pois nem me responde, só
pega o celular da minha mão e fala com ela.
— Meu irmão não está bem, mas vou providenciar que isso não
volte a acontecer, obrigado.
Olha só, ele sabe falar obrigado, pena que nunca escutei essa
palavra vinda de seus lábios, mesmo me esforçando feito uma
condenada com esse relatório e ainda tendo que aguentar suas
grosserias.
O telefone da sala toca e sei que pode ser a Marta para saber
o que está acontecendo, o som continua sendo emitido pela sala,
enquanto Louis xinga e chuta as coisas. Ele vai destruir tudo se
continuar assim. O ar falta em meus pulmões e começo a ter um
ataque de pânico, se ele me atingir com sua fúria ele vai me matar,
meu Deus, eu serei morta nessa sala.
Puxo o ar, mas não consigo, não vem. Minha cabeça começa
a ficar zonza e minha vista a nublar, meu pulmão queima sem
oxigênio, o coração bate tão rápido que posso escutar as batidas.
— Sim.
— Eu estou furioso com meu irmão, não deveria ter feito aquilo
com você aqui dentro. — Acredito em suas palavras, seus olhos não
mentem.
— Você sabe sim — sua voz retorna ao tom severo que ele
costuma usar comigo —, e agora me questiono se teve mesmo um
ataque de pânico ou só queria que eu te beijasse.
Louis está perto demais, sua respiração toca meu rosto e dessa
vez minhas pernas ficam bambas por um motivo diferente.
— Uma maldita mentirosa — segura meu pescoço me trazendo
para mais perto —, que não consigo esquecer a porra do beijo.
— Meu irmão não está bem, mas vou providenciar que isso não
volte a acontecer, obrigado.
— Não vai mesmo ou vou denunciar seu irmão por maustratos
com o filho!
— Sim.
Eu preciso dela.
— Obrigada.
— Eu estou furioso com meu irmão, não deveria ter feito aquilo
com você aqui dentro — ela merece a verdade, então por um segundo
vou baixar meu escudo.
— Pode parecer que não, mas não teve um único dia em que
eu não lembrasse da nossa noite e não odiasse o rumo que as coisas
tomaram, eu já fui enganado dessa forma tantas vezes. — Leva
minhas mãos à sua testa e para a minha surpresa o Louis soluça. —
Eu não consigo confiar em outras mulheres, descontei minhas
frustrações em você e criei um cenário que não existia.
— Como assim?
— Safado!
— Não faz isso, não vou aguentar ser rejeitada mais uma vez.
— Ah, Louis.
Louis bombeia forte contra mim, seu quadril bate contra o meu
e empurra meu corpo num vai e vem gostoso. Seu pau me preenche
e ensandece, agarro seus ombros, puxando o paletó para trás,
preciso dele sem roupas para mim. Ele agarra a camisa em ambos
os lados e os puxa, fazendo os botões voarem no meu rosto, enfinco
minhas unhas em seus ombros e o puxo para mim, mordendo sua
carne para abafar meus gritos. Isso só faz Louis rosnar e gemer no
meu ouvido, segurando minha cintura ele a suspende e começa a
socar ainda mais rápido.
Ainda estou dentro dela, sei que gozei sem camisinha, tenho
de perguntar se ela toma algum anticoncepcional ou pedir que tome
a pílula do dia seguinte para não engravidar. Me abrir com a Bianca
ajudou a aplacar a fúria em meu coração e, finalmente, pude ser
sincero com meus próprios sentimentos. Estar com ela é bom, gosto
de sua companhia e mais ainda de quando fazemos sexo. Essa
rapidinha foi perfeita para acalmar o monstro dentro de mim, mas
ainda quero mais, eu preciso de tudo que ela possa me dar.
— Ou morder — rimos.
— Ele se apegou a minha irmã, acha que vai dar certo o que
ela propôs?
Ainda não acredito na ideia que a Olivia teve, mas torço para
que aquilo seja benéfico para o meu sobrinho e irmão, a relação deles
nunca esteve tão fragilizada quanto agora.
— Sim, senhor.
— Ele não diz nem a metade do que quero fazer com você. —
Aperto sua cintura e nos coloco de pé. — Antes vamos jantar.
— Eu dormi a tarde toda? — Enxuga os cantos dos lábios.
Bianca fica molinha em meus braços e sei que ela adoraria que
eu a curvasse contra a minha mesa e socasse fundo em seu interior.
Contudo, antes disso preciso garantir que ela vai ter forças para me
aguentar. Arrumamos nossas roupas e pegamos nossas coisas, a
levo ao térreo do prédio onde meu helicóptero me espera.
— Não tem que ter reserva para jantar nesse lugar? — ela
pergunta quando coloco os fones em seu ouvido.
— Não quando se é o dono.
— Pode dizer.
Retiro sua blusa botão por botão, arrastando meus dedos pela
sua pele sedosa. Escuto seu arfar, a pele morena ao meu dispor e
deleite, puxo a barra de dentro da saia e deslizo o tecido em seus
ombros, beijando e mordiscando sua pele. Adoro sentir a maciez de
Bianca com minha boca, o gosto da sua carne, ouvir seus gemidos
enquanto a torturo com pequenos beliscões com meus dentes. Ela
sobe o quadril, facilitando a remoção de sua saia, a meia transparente
até a coxa com a cinta-liga presa ao elástico na cintura.
Ela acena que sim, seus olhos nunca deixam os meus. O prazer
queima em suas feições enquanto ela me engole, a boca molhada e
gulosa me recebendo até o fundo da sua garganta, e sofrendo com a
ânsia, mas minha garota gulosa não desiste do que está fazendo, ela
permanece me engolindo e aumentando o desespero em minhas
bolas pesadas para gozar.
O que ele não faz ideia é de que além dos presentes e sexo
que fazemos, Louis me enche de carinho e palavras que derramam
amor. Na empresa mantemos nossa relação profissional, mas quando
estamos somente os dois aqui respiramos aliviados e tranquilos, é
somente eu e ele e nada para tirar nossa paz.
— Sim, mesmo após todos esses anos o amor que eu sinto por
ela parece que cresce cada vez mais.
— Por quê?
Após quente, percebo que o bife está divino, Louis nunca fez
uma refeição queimada ou que ficasse duvidosamente ruim. Seus
pratos são perfeitos, terminamos de jantar e deitamos no sofá para
assistir um filme enquanto bebo uma taça de vinho e ele seu uísque.
— Sério que ainda tem quem caia em golpe do baú em pleno 2023?
— pergunto não acreditando na trama do filme.
— Eu quase caí uma vez — ele diz e fico surpresa, paro o filme
e me viro, esperando-o falar mais. Louis suspira e começa a contar.
— Eu transava fixo com uma italiana, e sempre usei camisinha até
quando ela me chupava. — Faço careta, não gosto de saber desse
detalhe. — Desfaz esse bico.
— Eu sei, a máfia!
— Vou garantir que ele receba uma lição por isso tudo. — Beija
o topo da minha cabeça e vai para o banheiro.
Tenho de passar em casa mais tarde, mas meu pai tem estado
uma pilha de nervos por conta da minha nova rotina em que mal fico
em casa, ele sabe que estou me envolvendo com alguém e
desaprova que ainda não o apresentei, e mais ainda por não dormir
em casa quase nenhum dia deste mês. Cansada das brigas, tenho
me refugiado mais ainda no apartamento.
— O que eu tenho?
— Como você pode estar fazendo isso comigo? Dei duro para
te criar e na primeira oportunidade você joga seu futuro no lixo por
causa de um homem qualquer que não tem nem a coragem de te
assumir. — Sua voz penetra meus ouvidos e fico com ódio por ter
verdade em suas palavras. — É assim que você me paga? Se
tornando a vadia de alguém!
Me viro para ele, seus olhos injetados de fúria. Meu pai nunca
teve papas na língua para machucar alguém, é por isso que ele e a
Olivia vivam brigando, ela não aguentava seus abusos, mas eu
sempre fui o contrário, me retraía e tentava fazer de tudo para
satisfazê-lo. Ledo engano achar que isso o faria confiar em mim e não
me machucar com suas palavras.
— Como não? Acha mesmo que eu não sei que tem dormido
na casa de outro homem? Se ele fosse seu companheiro já teríamos
sido apresentados! Você não me engana, Bianca Baptista, está sendo
feita de vadia de alguém da empresa, se bobear é do seu próprio
chefe — aperto os punhos, meu corpo ainda cansado pela doença e
a mente fraca para ouvir seus insultos —, esse homem só quer te
comer e te usar, acorda!
— Você não sabe o que está falando — digo com a voz
embargada —, ele não é assim!
— Sim?
— Você diz isso já tem duas semanas e até agora não passou.
— Odeio ver como ela fica pálida depois de vomitar, enxugo sua testa
e a levo para o sofá. — Estou ficando preocupado, Bianca, você
precisa se cuidar.
— Sim, senhor.
Ela sai e um pressentimento ruim me acompanha, desde o
início Bianca tem sido a pessoa em quem mais confiei nessa empresa
e é a mulher que eu amo. Se algo acontecer com ela, vou me culpar
para sempre, mando um segurança segui-la de longe e ficar de olho
para que nada de ruim aconteça com ela.
— Sim, com certeza, você está grávida, acha que não percebi
que o perfume das minhas flores a deixaram enjoada desde que você
passou por essas portas? Posso estar velha, mas ainda sou
inteligente para essas coisas, afinal, tive cinco filhos.
— Eu tô com medo.
— Sim, mas estou com medo, não sei como será a reação do
Louis quando descobrir.
— Nunca o enganei.
— Deve ter sido por isso que Fernando fez aquilo com você —
ele empurra um punhal em meu coração com suas palavras e o ar me
falta —, ele já sabia desde o início a puta que você era. — Ele
empurra meus ombros e volto a cair contra o sofá.
— Como você vai provar isso? Olhe o tanto de coisa que tem
contra você, até mesmo sua assinatura nos arquivos e sua voz no
áudio. Não ache que serei feito de idiota só por que te amo. — Ele
solta minha mão e pega um arquivo o jogando na minha cara igual
como fiz quando joguei o dinheiro nele. — É sua assinatura, Bianca!
— Eu não sou aquelas mulheres! E ele vai saber disso nem que
eu tenha de gritar em sua cara.
— O quê?
— Sim, quem é?
Por mais que doa como caminhar em brasa ficar longe dela,
dos seus beijos e de acordar e dormir olhando as feições tranquilas
dela deitada em meu peito, ou ao meu lado. Eu não vou me
arrepender, posso ter jogado sujo ao falar sobre o Fernando sabendo
o mal que ele a causou, mas não voltarei atrás. Ontem foi a última
vez que nos vimos e eu vou arrancar esses sentimentos do meu peito
nem que precise fazer um transplante de coração.
Ele sai e vou atrás, mas a porta bate na minha cara e não
consigo abrir a fechadura. O maldito realmente me trancou aqui
dentro. Ando pelo escritório com vontade de destruir tudo, recusome
a fazer o que ele disse. Já li esse arquivo e sei, exatamente, o que
tem aí dentro, reler não vai me ajudar a descobrir nada de novo.
— Já achou o culpado?
— Deve ter sido por isso que Fernando fez aquilo com você,
ele já sabia desde o início a puta que você era.
— Vire-se de costas.
Faço o que ele diz e quase choro aliviada, quando ele pressiona
mesmo onde mais machuca, fazendo a dor dar uma trégua tal qual o
aperto em meu peito.
— Posso te contar algo que eu sei que você não quer saber,
mas acredito que precisa. — Olivia se deita ao meu lado e seus olhos
me dizem que não vou gostar de suas palavras.
— Melhor não.
— Tenho sim, o Lorran às vezes dorme com o tio e diz que ele
passa a noite chamando pela “dolce” e “Bianca”. Até aquele bebê de
dois anos e meio sabe que o tio está sofrendo por amor.
Ouço vozes ao meu redor, mas não entendo o que elas falam,
meu peito arde como se tivesse sido perfurado por barras de ferro
quente, tento abrir os olhos e não consigo, aos poucos a escuridão
me acalenta novamente. Desperto e sou capaz de abrir os olhos, o
claro do cômodo me cega e fecho mais uma vez as pálpebras, com
cuidado abro devagar a fim de me acostumar com a luz do dia.
Chamo por ela, não a avisaram que estou no hospital? Ela viria
se soubesse? Por que diabos estou em um hospital?
— Bianca não pode saber disso — Levi diz —, você tem que
se afastar dela se não quiser que ela seja machucada no fogo cruzado
e acabe morta.
Fico em choque com suas palavras, não posso me manter
longe, não agora que descobri a verdade por trás do caixa dois, ela
tem de saber que limpei seu nome e que me arrependo por ter
duvidado.
— Seu irmão está certo, se você ama essa mulher deve manter
distância e deixe que Castanhare acredite que você suspeitou dela e
não estão mais envolvidos, caso contrário as consequências podem
ser inimagináveis.
— Digo o mesmo.
— Bianca.
— Besteira! — grito.
— Se você pensa que qualquer merda que sair da sua boca vai
me fazer esquecer suas palavras naquela noite está completamente
enganado. — Puxo meu braço e viro para o painel do elevador, ainda
estamos no mesmo andar e aperto o botão de abrir as portas, preciso
fugir daqui.
— Não sou capaz de esquecer o que te falei, não espero que
você faça isso.
Ele me segue pelo corredor, não sei para onde estou indo, mas
agradeço quando vejo a porta das escadas, entro e começo a descer
devagar para não me machucar, posso sentir minha pressão subindo
e a tontura querendo atacar.
— Não quero ouvir — digo, lutando para que ele não perceba
minha voz embargada.
— Foda-se.
— Continue — digo.
— Eu sei — rosno.
— Nunca mais.
— O bebê não é seu, não tem motivos para você continuar aqui,
vá embora. — Desvia o olhar, ela pode estar vermelha de raiva, mas
a emoção na sua voz não me engana.
— Foi por isso que você disse: “Deve ter sido por isso que
Fernando fez aquilo com você, ele já sabia desde o início a puta que
você era.” — O gelo em seus olhos ao recitar minhas palavras me
quebra e não consigo mais segurar o choro. — Você sempre achou
que eu era uma puta, pois fui lá e me tornei uma, transei com um
qualquer e engravidei.
— Meu dolce. — Tento tocar seu rosto, mas ela rosna e cai
contra o peito da Olivia, chorando em desespero.
— Certo.
— Não vou dizer quem é o pai da bebê, pois isso cabe a Bianca.
— Calma, filhinha, esse chato já, já vai embora, ele tem que
gerir o império dele — converso com ela, alisando onde a bebê chuta.
— Você não seria capaz, fez tudo aquilo para ficar com a
empresa.
Louis pisca para o médico e bufo, não creio que ele foi
comprado facilmente.
— Pode falar.
— Nos dois perdemos nossas mães cedo demais — tento
controlar a emoção na voz —, e fomos abençoados com nossa
menina. — Coloco suas mãos na minha barriga. — Eu quero chamá-
la de Cecília Eduarda, a junção do nome da sua mãe e da minha.
— O que aconteceu?
Lira vai entrar comigo, quero minha irmã ao meu lado no lugar
de nossa mãe.
— Aceito.
— Aceito.
— Com certeza, faz tempo que não sei o que é ser comida com
gosto. — Ataca minha boca em um beijo que me deixa sem ar.
FIM
“Vou proteger seu coração como você aceita o meu cheio de cicatrizes.”
Levi Vittileno viu o seu mundo ruir ao perder sua esposa em um acidente
trágico. Agora, 2 anos depois, ele precisa voltar a viver e conquistar o amor do seu
filho Lorran, que não o enxerga como pai.
Ele só não imaginava que um furacão em forma de mulher iria surgir para
fazer seu coração cheio de cicatrizes voltar a bater.
Olivia Baptista, sempre sonhou em ser mãe, mas após tantas decepções ela
decide que terá seu filho sozinha e não mede esforços para que isso aconteça, já
que não acredita que exista um amor para si.
Lorran Vittileno em seus 2 anos de vida nunca viu em Levi um pai, cresceu
aos cuidados do tio e agora depois de uma mudança de pais, se encanta por Olivia,
fazendo assim com que ela seja contratada para ser sua babá.
AVISO
SUMÁRIO
EPÍGRAFE
PROLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
EPILOGO
OBRAS DA AUTORA
UMA FILHA PARA O BILIONÁRIO ITALIANO (IRMÃOS VITTILENO)
LIAM : A OBSESSÃO DO BAD BOY (BULLDOGS YALE)
SIGAM A AUTORA
Vai ser difícil de superar, e você jamais esquecerá, mas acredite que, com o
tempo, tudo ficará melhor. Pois o tempo trará serenidade e aceitação, e então, só
restará a saudade, mas, para combatê-la, você terá as lembranças que guardará
para sempre.
Desconhecido
Levi
3 ANOS ANTES.
— Estamos atrasados amor — Blanca chama da sala.
— Só um minuto.
Quando conheci Blanca eu sabia que ela seria a mulher da minha vida. Não
demorou três meses para que eu a pedisse em casamento. A escolha mais certa que
fiz, foram anos de felicidades e realizações.
Com o nosso pequeno a caminho, eu não poderia desejar mais nada, além de
a ter comigo para sempre.
Quando a imagino ninando nosso menino, correndo atrás dele pela casa,
brigando comigo por colocar a frauda errada, ou achando fofo quando eu o colocar
para dormir. Os primeiros passos, o choro pelo dentinho crescendo. Pensar em
todos esses momentos que teremos juntos, me enche de felicidade.
— Você nunca reclama quando eu tiro a roupa, por que faz quando a visto?
— Belisco a ponta do seu nariz e ela gargalha, enquanto me bate no ombro.
— Só vou poder olhar, enquanto Lorran não nascer, nós não teremos mais
diversão de adultos. — Gargalho da sua escolha de palavras
Sou grato ao Louis, meu irmão mais velho, por ser o próximo herdeiro da
VITTILENO, graças a isso pude estudar moda e me especializar naquilo que eu
amo fazer.
Não assino com o meu nome para não atrair mais atenção da mídia para mim.
Apesar de tudo, sou uma pessoa reservada, que prefere manter a vida privada.
O assédio que sofro por ser um Vittileno me incomoda desde pequeno. Ser
bonito não ajudou muito, herdei a beleza da minha mãe, igual aos meus irmãos.
Temia um dia encontrar uma mulher que me quisesse por ser um Vittileno, ou
devido à minha aparência.
Blanca apareceu como um presente dos céus, alguém que me ama por eu ser
quem eu sou. Minha beleza e dinheiro nunca a impressionaram, é ao meu coração
e minha alma livre que ela ama.
A conheci em um dos desfiles da minha grife. A modelo mais linda, que usou
a peça-chave da coleção, no primeiro momento ela me dispensou por ser um dos
Vittileno, e seu patrão.
Eu insisti, todos os dias, por mais de um ano. No fim, três meses depois do
nosso primeiro encontro, o amor venceu, e hoje estamos aqui, casados e esperando
nosso primeiro filho.
Encaro a minha esposa sentada no banco de trás, ao meu lado no carro que
nos leva ao evento. Seguro seu queixo e ela me encara sorrindo. Uma luz forte
ilumina o seu rosto. A buzina do nosso motorista explode. Olho para a frente e fico
cego pelo clarão.
****
— Blanca? — pergunto.
— Vai ficar tudo bem — ele beija minha cabeça, e a dor causada por seu ato,
me faz revirar os olhos e me afastar dele. — Vou chamar o médico — ele se afasta,
me deixando sozinho.
A tontura faz com que eu tenha ânsia de vômito. Preciso saber o que
aconteceu com a minha mulher e meu filho. Tento mexer a perna direita, e a dor é
excruciante, corta da ponta do pé a minha coxa, inclino a cabeça tentando ver o que
me prende, e sou forçado para trás pela tontura.
— Quero vê-lo.
— Por enquanto ele dorme no berçário, quando você receber alta eu te levo
lá — Louis segura minha mão, fazendo carinho.
Aliviado, por saber que ambos estão vivos, eu cedo a tontura e desmaio.
Recebo alta duas semanas após o acidente de trânsito, a primeira coisa que
peço, é para ver minha esposa, mas as visitas estão restritas, para garantir que ela
não tenha uma infecção.
Arrepios sobem pelo meu corpo ao lembrar que a minha mãe faleceu da
mesma forma.
Rezo aos céus para que o destino dado a minha mãe não seja o mesmo da
Blanca.
Tento ser otimista, e acredito que tudo ficará bem, que ela vai sair dessa e
voltar para mim, e o nosso filho. Todos os dias em que ela continua dormindo, e
perdendo aos poucos as funções dos órgãos, são agulhadas enfiadas no meu
coração.
Por falta de bolsas de sangue AB positivo, ela teve falência do fígado e rins,
e agora, outros órgãos estão em risco de falência.
acidente.
Perdão, Blanca.
Um ano se passou desde que eu perdi o amor da minha vida e a razão pela
qual eu seguia em frente. Minha mãe morreu quando eu ainda era jovem, em um
acidente de carro, e agora... anos depois, outro acidente levou a mulher que eu mais
amei, e sonhava em passar a vida ao lado dela.
Briguei com a Lira, minha irmã mais nova, quando ela me fez ir ao psicólogo
semana passada, e eu não quis o tratamento, passei uma hora sentado em silêncio,
enquanto o psicólogo me fazia perguntas sem respostas. Explodi com ela, por me
fazer passar por aquilo, e com lágrimas nos olhos, minha irmã voltou aos Estados
Unidos, destruída, sem conseguir assistir a minha autodestruição sem fazer nada.
Meu filho me lembra a todo instante quem eu perdi, olhar para ele é como
ver o futuro que eu tinha, se desmoronando na minha frente, dia após dia.
Quanto mais essa sensação se afunda em meu peito, mais eu fujo dele, não
querendo contaminar um anjo indefeso com a minha podridão.
Meu pai?...
Minha irmã?...
Afasto a mão, não posso contaminar meu filho com a minha escuridão. Ele
é um anjo de luz, não vou permitir que um demônio como, eu manche sua vida e o
amaldiçoe com uma morte precoce.
Nunca mais pessoas que eu amo irão morrer por fazerem parte da minha
vida, vou proteger o Lorran, meu pai, minha irmã, e irmão, do destino cruel.
Perdão, Blanca.
Sou um fantasma que só tem causado incomodo para todos ao meu redor.
Louis não trabalha direito, meu pai não para de se preocupar. E mandei
embora minha irmã mais nova, que só queria o meu bem, eu sou uma praga que
deve ser exterminada.
— Lorran tá chorando — o soluço que achei ter ouvido do meu filho, sai da
minha garganta — vá ajudar ele.
— Não é o Lorran, Levi — Louis segura meu rosto — é você. Vamos tomar
um banho.
Desde que nossa mãe morreu, é o Louis quem tem ajudado nosso pai a nos
criar.
Eu não tenho o direito de impedir a vida adulta do meu irmão, sou um estorvo
para ele e todos ao meu redor.
— Claro.
— Prometa Louis — agarro seus ombros o fazendo me encarar nos olhos —
nunca deixe o Lorran sozinho, cuide do meu filho, seja o pai que eu não consigo
ser.
— Não tenho salvação Lou — saio de seu abraço, olho para meu filho no
berço que brinca com o ursinho. — Cuide bem do garoto, você será um pai melhor
do que eu.
Abro a porta do quarto, vou para o closet, e vejo a corda que deixei
pendurada entre os fortes cabideiros. Roupas que não foram usadas desde que a
Lira as comprou, quando toquei fogo nas minhas, não tem sentido serem usadas.
Perdi a paixão que tinha pela moda, não crio mais nada, não vivo, só passo
um dia pelo outro bebendo, dormindo e me enchendo de remédios, buscando o
esquecimento.
Ela se foi, e eu continuo preso nesse inferno de mundo, a alma morta por
dentro, tendo de seguir em frente ao corpo que insiste em permanecer respirando.
Meu coração podia simplesmente parar, os pulmões não enviarem mais ar, tudo
podia desaparecer.
Perdão, Blanca.
Estou morrendo.
Eu só quero desaparecer.
— Nunca mais faça isso, me ouviu? — Louis me aperta forte contra ele,
como se fosse capaz de tirar a minha dor.
— Eu não consigo mais continuar — digo com a voz rouca e falha, a garganta
arde como se tivesse engolido areia.
— Não posso.
— E se não passar?
Meu irmão nunca mentiu para mim, e por ele, eu vou tentar, só mais um
pouco.
Perdão, Blanca...
Dias atuais.
— Eu preciso ir para o Brasil, Levi, venha comigo — Louis pede.
— Fazer o quê? — viro, procuro pelo relógio no quarto e vejo que já são
vinte horas e cinco minutos, não lembro se acordei hoje, ou estou dormindo desde
ontem.
Sua voz mansa e baixa, acho que ele não quer acordar o Lorran. Me sento na
cama, e esfrego o rosto sem saber o que fazer. Brasil ou Itália, meu purgatório será
o mesmo. Abandonei mais uma vez a terapia, não consigo me comunicar com os
estranhos, que querem que eu fale da minha vida e de Blanca, da dor que me
atormenta.
Desde então, o Louis tem ficado no meu pé, e tomando cuidado para que eu
não ingira bebidas alcoólicas.
Me levar para o Brasil, vai garantir que ele possa continuar me vigiando e
impedindo que eu me mate, sei que prometi nunca mais fazer isso, mas o
pensamento não saiu da minha mente, nem por um segundo, desde aquele dia.
— Vou com você, mas não espere que eu me comunique com ninguém —
franzo o nariz — deixa ao menos eu beber um dia por semana, ceda em algo,
também.
— Sem bebidas para você — diz levantando — arrume sua mala, partimos
de manhã.
****
Ainda não processei que acordei, e fui colocado em um avião com o Louis e
meu pai, em direção ao Brasil. Louis tem perdendo a paciência comigo, e sei que
a culpa é minha, pelas brigas que tivemos devido à bebida no último mês.
Não o culpo.
Prometi ao Louis e ao meu pai que não tentaria o suicídio novamente, que
me manteria firme, pelo Lorran. A bebida, misturada aos remédios, tem sido meu
conforto quando o mundo ao meu redor escurece. A temperatura cai graus, trazendo
um frio de gelar os ossos, e as lágrimas brotam incessantemente.
Trancando nesse avião, encaro o Lorran brincar com seu ursinho, fazendo
sons de bebê. Ele é tão lindo, um pequeno anjo, iluminando a escuridão da minha
vida.
É injusto a Blanca não poder ver como ele fica lindo com os dentes
preenchendo a boquinha rosada e pequena. As bochechas protuberantes e os olhos
inocentes, astutos, prestando atenção ao redor como um mini falcão.
A mão treme ao esticar para pegar o bichinho, e tento não deixar ele perceber.
Lorran começa a fazer sons de cachorro empurrando sua pelúcia contra a minha,
em uma pequena briga. Aproveito que ele está sentado de frente para mim, preso a
cadeira, e fico movendo o gatinho no ar, fugindo do seu ataque.
Ele sorri como poucas vezes o vejo fazendo para mim. Tenta pular no acento,
querendo alcançar o gatinho, faz bico por não conseguir. Um riso tímido escapa
entre meus lábios e grunhindo eu esfrego o gatinho no Lorran, que se desmancha
em gargalhas.
Deixo o gatinho ao seu lado e removo meu cinto de segurança, corro para o
banheiro enquanto as cadeiras do avião vão sendo tomadas, uma a uma pela
escuridão.
Entro na cabine e a fecho, acendo a luz, e ela não responde. As mãos tremem
ao buscar o celular no bolso e ligar a lanterna. A densa escuridão devora a
iluminação proveniente do aparelho. Me encolho no chão e prendo a cabeça entre
as pernas, o ar escasso nos pulmões.
Ele é o pequeno anjo que a Blanca deixou para iluminar o mundo, e eu...
Além da destruição.
****
Não sei quanto tempo passei na cabine, as costas doem pela posição
encolhida, os olhos ardem, e a garganta arranha. Evito encarar o meu reflexo no
espelho, lavo o rosto e abro a porta.
— Filho — meu pai chama com o tom de voz preocupado, que faz eu odiar
cada segundo, por causar sofrimento a ele pelo meu estado.
A mão áspera agarra meu pulso e sou puxado para um abraço. Nunca fui bom
em controlar as lágrimas, e quando recebo o calor do meu pai, derretendo o gelo
em meus ossos, eu soluço.
Eu não tinha o direito de o preocupar desse jeito. Louis não deveria parar de
trabalhar para ficar checando se eu me matei, ou se não expus o Lorran a uma
situação deplorável.
Agulhas perfuram meu peito por saber que o Lorran nunca soube o que era
ser olhado com amor paternal, como o meu pai faz por mim.
Uma das terapeutas que tive, disse que isso era um efeito da depressão. O
mundo perdendo a cor, tornando-se frio e indesejável de se viver, quando nos
perdemos dentro de nós, incapaz de encarar a realidade e enfrentar os problemas.
Já faz dois anos que a Blanca morreu, ainda não superei a sua perda, e vivo
em um eterno luto.
Não estou pronto para encarar a realidade: um mundo em que a Blanca não
existe, e que eu deveria ser o pai para o pequeno anjo que não me vê como tal, por
consequência das minhas ações. Se eu sumir agora, ele não sofrerá como eu sofri
com a morte da minha mãe.
****
Levo as mãos ao rosto, evitando que o Lorran perceba meu choro, o peito
queimando pelo desespero.
Mãos pequenas seguram as minhas, e relutante eu deixo o Lorran me fazer o
encarar. Meu menino coloca o Ipad na minha mão, impedindo que eu tampe o rosto
novamente, dá play numa música infantil, italiana, e começa a dançar e bater
palminhas. As nuvens vão embora, sendo iluminadas pelos raios que o meu
pequeno provoca.
Rio da sua dancinha, deixo o aparelho de lado e começo a bater palmas com
ele, que gargalha gostoso quando percebe que estou brincando junto.
Forço a voz para responder, não quero que ele se preocupe. Embora, não
consiga controlar o choro.
— Sim, e você?
Talvez ele tenha observado escondido a minha interação com o Lorran. Louis
acredita que um dia eu serei um pai para o pequeno. Preciso poder acreditar
também, ou nunca poderei olhar para o Lorran sem medo de o contaminar.
— Bolha[2] — pula animado, ainda segurando a minha mão ele pega a do tio
e dispara para a porta.
Eu sei que não tenho o direito, mas por um segundo eu anseio ser um pai
para o Lorran.
Olivia
Foi paixão à primeira vista.
O desejo de ser mãe surgiu cedo em mim, após cuidar da minha irmã mais
nova, Bianca, após nossa mãe morrer de câncer, quando eu tinha 6 anos.
Guardo lembranças preciosas com ela no meu coração, e tentei ser tudo que
a Bianca precisava enquanto crescia.
Eu levantava a Bianca, dava de comer a ela, beijava sua testa, a do meu pai,
e depois saia para a escola.
Tinha acabado de iniciar a alfabetização, e a escola ficava a duas ruas de
distância.
Desde então, tem sido mais presente e cuidadoso, não deixando faltar nada.
Eu me ressinto com meu pai, não tive uma infância, cuidei dele, da minha
irmã, e quando adolescente, precisava ouvir o quanto era importante eu me manter
pura. Brigávamos muito, e em algumas dessas brigas, cheguei a jogar na cara dele
que era um péssimo pai, por ter nós abandonado quando nossa mãe morreu.
Naquele dia, ele entendeu a dor que carreguei durante anos. Nunca deixei a
Bianca saber como eu me sentia, quero protegê-la de tudo e todos, inclusive dos
sentimentos ruins que guardo dentro do peito.
Foram longos anos até a Bianca se tornar independente, hoje ela se formou
e conseguiu um emprego estável em uma grande empresa. Não poderia estar mais
orgulhosa da minha menina.
Sou namoradeira desde a adolescência, nunca fui muito fundo com os caras
que conhecia, a maioria se mostravam babacas que não mereciam o meu tempo. E
o medo de transar e engravidar jovem, me apavorava a alma.
Passei anos virgem, mesmo gostando de dar uns beijinhos em carinhas
bonitos. Todos faziam por onde partir meu coração, e como uma boba, continuei
acreditando no amor, que alguém cuidaria de mim, veria minhas feridas e beijaria
todas com paixão.
Daquela vez eu estava certa: ele era o cara, o homem da minha vida,
casaríamos e teríamos uma família. Me entreguei a paixão sem pensar duas vezes,
eu tinha certeza da pessoa ao meu lado, não existiam motivos para recusar suas
investidas, transamos muitas vezes, apaixonados, eu sentia que ele era o meu porto
seguro. Éramos um casal que se amava.
Desnorteada, fui até ele, sua expressão não se abalou, me apresentou como
uma amiga do curso, e nada mais.
Fiquei sem chão, as mãos suando frio, a vista embaçada. Travei o choro,
cumprimentei aquelas pessoas, e quando ficamos em fila para entrar com os
padrinhos, eu me agarrei ao meu pai e escondi o rosto em seu ombro. Sem dizer
mais nada, ele segurou minha cabeça, beijou minha testa e disse o quanto me amava
e estava feliz pela minha conquista.
Sem arrependimentos ele me disse; ... “Eu nunca te pedi em namoro, não foi
minha culpa se você se iludiu”.
Mais uma vez, o “amor à primeira vista” tornou-se “ilusão à primeira vista”.
Após o Roberto, não consegui me relacionar com outros homens de forma afetiva,
o medo de me machucarem persistia enraizado na minha alma. Aceitei que nasci
para cuidar, e não ser cuidada.
Busquei os meios legais que poderia fazer isso e fiz o meu cadastro para a
adoção, também procurei por meio de inseminação artificial, mas com o que ganho
no momento, não conseguiria pagar o procedimento.
Faz dois anos que entrei no cadastro de adoção e fiquei perplexa quando me
perguntaram qual o tipo de criança que eu queria, se era branca, negra, menina,
menino, olhos azuis ou marrons, e todo o tipo de pergunta absurda.
É injusto que o sistema de adoção tenha uma seleção ridícula como essa. A
moça ficou feliz pela minha resposta, e disse que quando uma criança com o perfil
que escolhi aparecesse, eu seria chamada, e depois seguiríamos o processo de
adoção.
Amar alguém sem esperar nada em troca, criar uma pessoa, ser o seu ponto
seguro, a felicidade, o mundo de uma pequena parte minha. E esse pequeno ser que
nascerá de mim, vai me amar incondicionalmente, e quando eu ficar velhinha, serei
cuidada, amparada, e finalmente poderei descansar em paz.
— Sim?
— Precisamos da sua ajuda — Ela olha a sala e depois a mim — pode ir até
a direção, eu fico com eles.
— Certo.
Tenho minhas desavenças ideológicas com meu pai, mas ele nunca deixou
de me amparar por brigarmos e pensarmos diferente. Bato na porta da diretora, e
quando entro, levo um segundo para processar o homem a minha frente.
Louro dos olhos azuis. Alto e magro, ao ponto de a roupa ser folgada. Os
ombros encolhidos, e a expressão desolada, com olheiras negras e olhar quebrado.
— Foi a confusão pela tradução do idioma — sorrio para ela — quando ele
vier amanhã deixar o Lorran pegaremos o contato.
— Pode deixar.
Levi
Fico intrigado pela cara de idiota do Louis.
Já faz mais de uma hora que ele retornou da empresa, após o segundo dia de
trabalho, e continua encarando a tela do notebook sem digitar uma palavra no
arquivo aberto, ou mudar a página.
— Nada, por quê? — sacode a cabeça e bate no rosto, sinal de quando ele
precisa manter o foco.
— Já faz mais de uma hora que você encara esse notebook sem fazer nada
— aponto a tela — sei que não sou a melhor companhia dos últimos tempos, mas
se quiser conversar — dou de ombros.
— Corta o papo furado e diga logo o que aconteceu. Aproveite que estou
mostrando interesse.
São raros os dias em que realmente tenho vontade de conversar com o Louis.
Após matricular o Lorran, me sinto mais disposto a fazer alguma coisa, além de
ficar trancado debaixo das cobertas.
— Alguns — dou de ombros, não me importo muito com essa parte. — Que
diferença isso faz?
— TODA — Exclama abrindo os braços. Fico surpreso por sua reação, Louis
tende a ser calmo e calculista.
— E se ela não estiver mentindo? Não conheço a moça, mas sei que nem
toda primeira vez é igual.
— Não, isso é uma regra — bate na mão irritado — toda mulher na primeira
vez sangra em algum momento, durante ou depois. Mas não tinha nada que
provasse que ela era virgem!
— Ela usou a cartada da virgindade para me fazer ser delicado com ela, criar
apego — morde o lábio, enraivecido — ela me paga, vou fazer com que confesse
que mentiu para mim.
— Ele não vai ficar sabendo de nada — me encara com seu olhar de águia
— e você vai continuar calado sobre isso.
Simulo um zíper sendo passado na boca e jogo a chave fora. Louis suspira,
sentando-se ao meu lado novamente.
— Faz tempo que não reclamo de mulher com você — bate na minha coxa
— obrigado por me ouvir.
— Manda.
— Talvez ela não tenha mentido. Não sabemos ao certo como a virgindade
é tratada no Brasil, vai que ela fez algo para esconder o sangue.
— Até da camisinha?
— Não tem como eu ter errado, pensei em todas as possibilidades para essa
situação. — Pega o notebook e se levanta — vou fazê-la confessar que tentou me
enganar.
Vai embora resmungando sobre nunca ser feito de trouxa. Enquanto eu me
apaixonei somente por uma mulher, o Louis nunca experimentou o sentimento.
Sempre correndo, buscando realizar com perfeição os estudos, encargos na
empresa, e atento a todas com quem se envolvia.
A dor de perder quem ama é excruciante. Desejo que meu irmão nunca passe
por tal sentimento.
Percebendo que não está sozinho, Lorran trava no lugar e os olhos arregalam
de susto. Enfia o resto da barra de uma vez na boca, e desvia a atenção para a janela
da sacada. As mãos rapidamente vão para trás do corpo.
Lorran faz bico, os olhos ficam vermelhos e o choro irrompe como uma
represa sendo aberta.
— Não tem motivo para chorar — falo, e ele grita, intensificando o choro.
— Stronzo! — Grita.
— Zio! — Lorran soluça indo para os braços do tio — Levi bligo imo[3].
— Você tem razão — Louis encara o Lorran — não pode comer chocolate
antes das refeições, Lorran.
Peço, saio da sala, o caminho para o quarto é tomado pela escuridão. Abro a
porta e a fecho com um baque, não conseguindo ouvir as vozes que chamam meu
nome.
****
Desperto com o som do celular tocando, meio grogue, me arrasto pelo quarto
até encontrar o aparelho em cima da mesa. Um aviso toca na tela “deixar o Lorran
na creche” o efeito dos remédios de ontem ainda impregnado em meu organismo.
Ele prefere ficar lá do que no apartamento comigo, mas por qual razão ele
iria preferir a mim? Não passo de uma praga em sua vida.
— Vamos — chamo.
Ele se levanta e vai para a porta sem esperar por mim. Descemos em silêncios
no elevador e permanecemos assim durante o trajeto para a escola.
Louis não confia em deixar o Lorran sozinho com um segurança o buscando
e trazendo dos lugares, tem medo que algo de ruim aconteça, e que o Lorran precise
de um responsável para o socorrer.
— Lorran — chamo seu nome, com medo dele ser machucado — o que você
quer fazer hoje? — Tento uma conversa, qualquer coisa capaz de o manter a salvo.
— Combinado.
Não penso muito quando ignoro o carro e ando sem rumo pela cidade.
Olivia
Lorran se joga nos meus braços quando o pai vai embora. Divido a atenção
entre o pequeno sorridente, e o homem de ombros curvados e expressão
desesperadora.
Ele parece a ponto de pular de um penhasco, não sei explicar, mas tenho o
impulso de querer o segurar.
— Sou a Zia Olivia — seguro sua mão e o coloco no chão — vamos conhecer
seus colegas de classe?
Lorran acena em positivo, pede colo novamente, e fico com vontade de ceder
ao seu pedido. Me controlo quando a mãe da Suzana chega trazendo a linda
menina, negra de cachos esvoaçantes, que parecem uma coroa ao redor do rosto
redondinho e bochechudo.
Acho muito fofo ele me chamar de “vivia” em vez de Olivia ou de Zia, como
me apresentei. Seguro o fofinho e sorrio para a Suzana e a mãe dela, Carla. Ambas
sorriem ao me ver, e a menina pula no colo da mãe, querendo o abraço que dou em
todos os meus alunos ao recebê-los na porta da sala.
— Bom dia, Carla, e Suzana — beijo a mão da Suzana e sorrio para Carla.
— Que menino mais lindo — Carla pega na mão do Lorran e ele se derrete
sorrindo para ela, dengoso. — Que fofura, meu Deus! — A voz dela fica um oitavo
mais alta, chamando a atenção das mães que estão no corredor — ele é brasileiro?
— Ele lai ser nosso toleguinha? — Suzana pergunta, a língua embolada para
falar, ela tem dois anos e quatro meses, e é a minha gostosa, sou apaixonada por
todos os meus alunos, e quando eles falam em bebenes preciso me controlar para
não morrer de amores todas às vezes.
— Sim, vai ser amiguinha dele? — pergunto a ela que acena em positivo e
estende a mão para o Lorran.
— Ele não fala português ainda, Suzana — a mãe dela fala — seja boazinha
com ele e o ajude, assim como a mamãe te ensina a falar, combinado?
— Sim mamãe.
— Até mais.
— Lorran, seu pai colocou as coisas que pedi na sua mochila? — pergunto
em italiano e ele dá de ombros.
O coloco no chão e pego sua bolsa para guardar na estante junto da mochila
dos outros alunos. Abro e vejo que a lista dada ao Levi ontem foi cumprida à risca,
toalha para banho, escova de dentes, troca de roupa, e frauda, lençol para dormir o
sono da tarde, dentre outras coisas, tudo bordado com o nome dele na ponta.
— Sì zia Vivia — senta ao lado da Suzana que sorri para ele, e Lorran faz o
mesmo.
Inicio a aula, e tudo corre bem, noto que algumas crianças se divertem mais
do que outras, aprendendo italiano, e ficam repetindo as palavras até acertarem a
pronúncia correta da cor no outro idioma.
— O Levi?
E esse pouco se torna em mais uma hora, já são 19 horas e nem sinal do Levi
aparecer. Fico com o Lorran na sala da diretora, que preocupada tenta contato com
Levi e nada.
Vejo o menino que dorme no sofá, tentando encontrar uma solução, olho na
folha de contatos e o nome Vittileno se destaca e um pensamento me ocorre.
— Preciso que você avise a ele que estou com seu sobrinho, o pai não o veio
buscar, e nem o motorista, preciso saber onde é a casa dele para o deixar lá, mas o
Lorran não sabe, e na secretaria o pai deixou somente o número dele para contato,
ao qual não é atendido as ligações, e o endereço ele não soube dar, ficou de o trazer
depois, e não fez.
— Minha nossa, deve ser por isso que o Louis está uma fera. — Bianca
exclama, e quase posso a ver colocando a mão no peito preocupada.
Tenho vontade de socar o Louis por fazer minha irmã ter medo, contudo, no
momento, preciso manter a calma e garantir que Lorran possa voltar para casa em
segurança.
O homem é uma escavadeira me dando ordens sem nem dizer “oi” primeiro.
O sangue ferve pela sua grosseria, e o estresse causado pelo Levi faz com que eu
não consiga segurar a língua.
O homem suspira do outro lado e fica mudo por breves segundos, estou
pronta para uma briga.
— Meu irmão não está bem, mas vou providenciar que isso não torne a
acontecer, obrigado.
Sou surpreendida por ele abaixar o tom e agradecido. Ao menos se tocou que
não sou seu saco de pancadas.
Ele desliga
— Sim, ele me pediu para o acompanhar até em casa, vou aproveitar e pegar
o endereço e contato do Louis, caso algo assim aconteça novamente.
— Não sei — pego o Lorran no colo e coloco a mochila nas minhas costas
— mas espero que o Louis grite muito com ele.
— Não se meta nessa briga, Olivia, você é a professora do Lorran, não passe
dos limites.
Saio da sala não querendo ouvir mais nada, fervendo de raiva pela
irresponsabilidade do Levi, e por ouvir gritos do Louis.
Esses dois italianos que se preparem, eles vão conhecer o quanto uma
brasileira pode ser esquentada quando mexem com uma criança indefesa!
Levi
Antes que o segurança possa me seguir, eu entro em uma lanchonete e vou
para o banheiro. O horário de pico facilita que ninguém me incomode. Tranco a
porta e me sento na privada, vejo as horas e decido que vou esperar meia hora aqui
dentro, ou até alguém precisar usar o banheiro.
Não conheço muito da cidade de São Paulo, vim aqui poucas vezes para
desfiles dos meus modelos, durante o São Paulo Fashion Week.
Não sei por quando tempo perambulo sem rumo, dobrando as esquinas,
passando nas fachas de pedestre.
Como é possível estar rodeado por tantos corpos e sentir o frio gelando
minha alma, sozinho. O desespero para fazer besteira se implanta na minha mente,
após muitas estações, e o metrô vagar, eu desço em uma, no bairro Vila Olímpia.
Tem bares por todas as partes, mesas sendo abertas do lado de fora, ocupando
parte da calçada. Fito o céu que ganha um tom alaranjado enquanto o sol de põem,
trazendo a todos como é o meu mundo.
Faz um mês que não bebo, geralmente o faço escondido do Louis, e hoje,
minha boca seca de vontade por uma gota de álcool.
Entro no lugar e vou direto para uma mesa, perto do bar. Os garçons se olham
e me fitam, antes de um deles vir me atender com um sorriso no rosto. Não tenho
vontade de retribuir, pego o cardápio e vejo as opções de bebida, por sorte entrei
em um que tem uísque.
— Uma garrafa — falo em português, fingir que não falo o idioma não vai
servir nesse momento.
— Pagamento no dinheiro ou cartão?
— Volto em um instante.
Ela nem tentou esconder a vontade que teve de questionar quando a outra
disse que eu só falava italiano. E muito menos o quanto ver o Lorran a deixou feliz.
Por que eu não consigo sentir o mesmo pelo meu filho? Ela abriu os braços com
facilidade para ele, sorriu e o cumprimento.
Lorran se jogou nos braços dela com alegria, eles nunca tiveram contato
antes, e meu filho ansiou mais pelos braços de uma estranha do que os meus. Eu
sou um bosta que não deveria sentir inveja da desconhecida. Me corrói saber o
quanto eu não sou importante para o Lorran, queria o proteger da escuridão que me
cerca, me afastando e o mantendo a salvo, mas ao invés disso estou me tornando
invisível para meu filho.
— Qualquer coisa — peço só para não pensar que estou aqui somente para
encher a cara.
— Volto logo.
Ele sai e pego o copo, enchendo-o com o líquido âmbar, a língua saliva de
vontade. Levo a bebida a boca com a mão tremendo pela ansiedade de me
embebedar, após um mês de abstinência. O uísque desce queimando pela garganta,
tomo a dose em um único gole, e bato o copo a mesa, apreciando o ardor causado
no corpo, finalmente o frio começa a ir embora.
Como essas pessoas conseguem ficar felizes, sair com outras e rirem sem
preocupação? Nunca, perderam alguém querido ou tiveram o seu mundo
desmoronando, elas não sabem o que é ter um filho, e ser incapaz de desenvolver
vínculos com ele, de ter medo de o machucar, e o fazer chorar, e mesmo assim
sofrer por perceber que não significam nada para eles.
Ninguém nesse lugar entende a minha dor, o quanto a alma em meu corpo é
queimada diariamente. Bebo sem moderação, algumas pessoas me olham torto,
inclusive os garçons, devem ter medo de que eu faça alguma merda ou incomode
os clientes, eu só quero ficar bebendo isolado em meu mundo.
Quando a garrafa termina peço outra, a cabeça nubla, e não sinto bem meus
dedos, quando pego o cartão e o aproximo da maquineta. O bipe da compra
aprovada, recolho o cartão e acho que o guardo na carteira, não tenho certeza.
Gotas deslizam pelo canto dos lábios e os limpo com um gesto brusco. A
cabeça pesa dez quilos a mais, com lentidão, deito o braço na mesa e apoio a cabeça
nele. Aos poucos o entorpecimento que eu buscava chega e tudo ao meu redor para.
Não entendo o que acontece ao meu redor, só que sou amparado por braços
fortes. As pernas viram gelatinas, e com muito custo consigo me firmar em cima
delas.
Quem me carrega?
Acordo ao ser puxado novamente, dessa vez consigo ver que estou na
garagem do prédio em que moro. O caminho para o apartamento é feito entre
clarões e apagões da minha mente entorpecida. Passamos pela porta, e o raio de sol
que vi mais cedo me encara do sofá com as mãos na cintura.
— Vá se foder — digo, não tenho motivos para aturar essa merda de uma
estranha — sua piranha — aponto o dedo na sua cara.
Ela bate na minha mão, não sinto nada pelo seu toque brusco e rio da sua
cara. Que mulher fraquinha.
— Fracoteeeeeeeeeeeee — cantarolo.
— Não grita ou o Lorran vai acordar — pede fazendo gestos com as mãos.
— Me perdoa Lorran.
Peço, me solto do segurança e tento chegar perto do meu filho, ele corre para
os braços da professora, e isso era a estaca que faltava ser enfiada no meu coração.
O que eu esperava que ele fizesse? Eu não mereço esse garoto, nunca tive o direito
de me considerar um pai.
Cambaleio com a garrafa de uísque para o quarto, bato a porta atrás de mim,
e bebo o líquido até apagar jogado na cama.
— Não foi uma briga — me sento no sofá com ele no meu colo — seu pai
não está bem, discutimos porque ele não foi te buscar na escola. O Levi sente muito
por agir errado.
Quando chegou, estava bêbado e devastado, mas quando viu o Lorran foi
como se algo dentro daquele homem fosse atingido por um raio, e o choque o
fizesse ver pela primeira vez a realidade toxica em que ele obriga a criança a viver.
Lorran não merecia crescer com um pai como esse por perto, a falta da mãe
já é motivo o suficiente para a criança crescer traumatiza, insegura, e sentindo que
falta um pedaço do ser dela em todos os instantes do seu desenvolvimento.
Foi assim durante a minha vida, cresci sem uma mãe presente, e com um pai
afundado em depressão.
Não vou permitir que o Lorran saiba a dor que a falta dos pais causa. Nem
que eu tenha de abrir a cabeça do Levi ao meio para o fazer compreender o mal
que está fazendo ao Lorran e que ainda dá tempo de remediar a situação se ele se
esforçar.
— Sim, bem aqui — toco no coração do Lorran — a gente não consegue ver,
mas dói dentro dele, vamos fazer o papai melhorar? — Lorran sorri para mim, e
beijo suas bochechas.
Eu não deveria me intrometer, mas quem pediu a minha ajuda foi esse
pequeno anjo, e não posso ignorar a ligação que se formou entre nós nesses poucos
dias.
Ele nem o considera como um pai, o quanto a relação deles dois foi
quebrada?
— Sim.
Lorran desce do meu colo e pega uma máscara de dinossauro, me entrega e
depois corre pela sala. Visto a máscara e o persigo fazendo sons de dinossauro
enquanto ele grita feliz.
Antes que eu possa o parar, Lorran corre pelo apartamento, entra no corredor
e some por uma porta, vou atrás e estanco quando vejo o Levi deitado na cama com
uma garrafa de uísque derramando no chão.
Levi se vira derrubando o Lorran na cama, que começa a rir mais alto quando
o pai faz cócegas em sua barriga simulando mordidas na pele. Não tenho certeza
se ele entende o que faz com o filho, mas observo o momento com um nó na
garganta.
Talvez ele não tenha desistido do Lorran, só não sabe como ser um pai para
o pequeno.
— O que faz aqui pequeno ouro? — Levi pergunta com a voz arrastada e a
língua presa.
— Cuida dele para mim? — Para a minha surpresa, Levi fala em português,
ele me encara com lágrimas grossas escorrendo pelas bochechas — não deixa a
escuridão tirar o brilho dele — desliza a mão pela cabeça do filho e beija seus
cabelos. A cabeça pende para o lado e percebo que ele dorme.
— Levi? — Lorran chama e cutuca a bochecha do pai — mimiu.
Esse desgraçado que atormenta a minha irmã no emprego e não cuida direito
do irmão depressivo e do sobrinho.
— Zio!!! Alvo do dinussuro [6]— Lorran comemora que não consigo o pegar,
e admitindo a derrota, eu me jogo no chão.
— Sei un piccolo molto intelligente [7]— Sorrio para o neném e ele se joga
em meus braços novamente.
— Vuoi di più [8]— pula, e preciso tomar cuidado para que não caia.
— Vai a giocare un po ', ho bisogno di parlare con tuo zio [9]— o coloco no
chão, e o Lorran vai para os brinquedos. Aperto os punhos quando me viro para o
Louis, a vontade de falar mais do que posso na frente do Lorran.
— Eu sinto muito, o Levi deveria ter ido buscá-lo, não sei o que aconteceu.
— Tenta se explicar, como não sabe o que aconteceu? Deixou uma criança na
responsabilidade de um incapaz! É o que tenho vontade de gritar, mas por respeito
ao desenvolvimento do Lorran eu me contenho.
— Que isso não se repita — aponto o dedo na cara dele, querendo fazer
muito mais — amanhã, se ele for esquecido de novo, vou ligar para o conselho
tutelar e fazer uma denúncia contra o seu irmão e você, por abandono parental.
— Já disse que isso não irá se repetir — vejo como ele se controla para não
gritar comigo, a forma, como aperta os punhos, e os lábios são prensados em uma
linha de tensão.
— Assim espero, e contrate uma babá que fale italiano, o Lorran se sente
sozinho quando você não está.
— Eu falo italiano muito bem e cuido dos meus alunos em horário de aula.
Eu e você devemos ter uma conversa séria sobre o Levi ser o responsável do
Lorran, mas considerando que o dia já foi bastante estressante eu vou embora.
— Você não viu nada — pego minha bolsa, quase deixando escapar que não
sou tão passiva quanto a minha irmã. — Anota o número do seu celular, caso eu
precise te ligar novamente — estendo o celular para ele que o pega, e faz o que
pedi.
— Boa noite professora Olivia — fala pausado, arrebito o nariz para ele.
Em casa, organizo umas coisas do trabalho antes de ligar para a minha irmã.
— Bianca, vamos sair — peço antes que ela possa dizer “oi” — topa um
espetinho?
Não espero ela responder, sei que vai recusar. Desligo a ligação e me visto
rápido, chamo um táxi, e muitos minutos depois desço em frente à casa do meu
pai. Um aperto comprime meu peito ao ver a casa em que cresci, desde que fui
embora, sinto muitas saudades de falar com minha irmã todos os dias, e até das
brigas com o meu pai.
— Não me diga que perdeu sua chave — ouço uma voz grossa atrás de mim,
viro e vejo meu pai com seu uniforme de segurança dentro do carro que usa para
trabalhar.
— Sua irmã trabalha cedo, não a leve para beber a essa hora! — lá vem as
reclamações.
— São nove horas, vamos jantar — finjo não me importar com sua
alfinetada. Ele é sempre assim, acusa antes de perguntar.
— Não demorem.
— Não comecem — Bianca pede — vou sair para jantar com a minha irmã,
sei das minhas responsabilidades, pai — beija a bochecha dele e o homem derrete.
Bianca é sempre assim, nunca o enfrenta.
— Traga um espeto de bacon com alho para mim — pede a ela, que
concorda.
— Ele acha que fingi que era virgem! — As bochechas dela ficam vermelhas,
apesar da raiva ela fala baixinho para as pessoas não ouvirem.
— Deve ser de família, o irmão tem uma relação tão ruim com o filho que o
Lorran nem o chama de pai.
— Isso é pesado, eu soube que ele tem depressão desde que a mãe do Lorran
morreu, logo que ele nasceu.
— Uma merda — bebo o resto da cerveja e peço outra — você deveria ver
o menino, é muito carismático e apaixonante — suspiro.
— Não se envolva demais Olivia — Bianca segura minha mão — sei que
você quer ser mãe e pode acabar se apegando demais ao Lorran.
— Eu sei.
Pelo resto da noite, bebemos e falamos mal dos irmãos italianos que estão
tirando a nossa paz.
Levi
Acordo com uma puta ressaca, a cabeça partida em duas. As janelas do
quarto são abertas, e a claridade me cega. Uma figura alta se projeta na minha
frente. Pisco tentando entender quem é.
— Hoje você vai tomar um rumo na sua vida! — A voz grossa, raivosa. Só
pode ser o Louis.
Deito-me para o outro lado e cubro a cabeça com as cobertas, sem paciência
para os gritos dele.
Louis espuma de raiva, eu vejo seu braço subindo, a mão fechando, e o punho
vindo na minha direção. Não esforço para desviar do soco no estômago, perco o ar
e caio de joelhos tentado recuperar o folego.
— Nunca mais fale essa merda, a partir de hoje você vai voltar a viver.
— Não seja ridículo, Louis, sabemos que já estou morto por dentro há muito
tempo. Você que não me deixa partir.
— Você vai ter uma rotina agora, todos os dias — ele me ignora — vamos
malhar juntos, depois vai levar o Levi para a creche enquanto eu trabalho, e você
vai para a terapia. Já achei um terapeuta brasileiro que vai falar em italiano com
você já que se recusa a usar o português.
— Vai ser a mesma merda de sempre. — Desvio a atenção dele, odiando esse
plano.
— Quando sair da terapia, você vai se ocupar com qualquer merda que seja,
nem que eu tenha de te fazer ficar ao meu lado no trabalho. Depois vai buscar o
Lorran na creche, e aí vai ter um tempo com o seu filho.
As palavras do Louis machucam mais do que o soco e o tapa que ele me deu.
Lorran aprendeu a falar “zio” e “nonno”, porque ele foi ensinado pelo meu
irmão e pai, a os chamar dessa forma. Eu nunca passei tempo o suficiente com meu
filho enquanto ele cresce para o ensinar a me chamar de “papà”. Ele escuta a todos
me chamando de Levi, e imitou, nem meu nome eu fui capaz de o ensinar.
Não sei de onde vem a dor que me assola ao imaginar meu irmão desistindo
de mim. Não posso perder a única pessoa que luta por mim quando eu sou incapaz
de fazer isso.
— Prometo tentar Lorran — beijo sua cabeça com cuidado para não o
machucar. Ele parece tão delicado, e poderia quebrar a qualquer momento pelo
meu toque.
— O qule? — me olha com as irises azuis, cheio de curiosidade. Como ele
pode não me odiar quando sou tão nocivo?
— Ser um pai para você — aliso sua bochecha e ele franze a testa, não
entendendo o que quero dizer.
O farei descobrir como é ter um pai ao seu lado. Vai ser um caminho longo
e doloroso, como tem sido diariamente, mas eu vou tentar.
A Blanca morreu.
Eu continuo aqui.
— Levi tá englaclado.
Acho graça de como ele fica fofinho embolando as palavras e trocando o “r”
pelo “l”. Reflito pensando se alguma vez eu percebi o Lorran falando dessa forma
e o achei fofo, não consigo lembrar se já aconteceu.
Encaro o meu filho analisando seu rostinho redondo, com as bochechas
proeminentes, os cabelos louros brilhando a luz do sol, e o corpinho pequeno
jogado em cima do meu.
Uma criança inocente que precisa de um pai em sua vida... uma criança, que
perdeu a mãe no momento de seu nascimento... uma criança com dois anos, em
que todos os seus aniversários, eu passava bêbado, chorando a perda da minha
esposa.
— Me perdoa? — peço.
— Polque?
— Vamos irmão?
— Sim — aceno em positivo.
Vou para o banho e não me olho no espelho, imagino que devo parecer um
zumbi. Tomo banho, e pela primeira vez, penteio os cabelos sem ser obrigado pelo
Louis ou meu pai.
Faz anos que não tenho vontade de limpar o corpo e arrumar os cabelos.
Acho que finalmente aceitar a dor que causei no meu filho, e que devo buscar
ajuda e melhorar, foram um estopim para poder começar a cuidar de mim mesmo.
Tomo café com meu irmão e filho, Lorran brinca com a comida, e não sei
como o fazer comer sem ficar todo sujo. Observo enquanto o Louis passa o babador
no pescoço dele, e com uma mão, leva a comida a boca do Lorran e a outra a sua
própria. Eu nunca fiz isso e não sei se conseguiria agora.
— Já tentei, mas não consegui nenhuma — suspira — até quando vai ficar
fingindo que não fala português?
— Eu sei que você é fluente, lembre-se que fui eu quem te ensinou. Não
consigo entender o motivo dessa birra com o idioma.
— Você me arrastou da Itália para cá — a irritação ferve no meu sangue —
não espere que eu seja totalmente receptivo — jogo o guardanapo na mesa, sem
paciência para continuar aqui — vamos Lorran, hora da creche.
Pego o menino e vamos para o carro. Lorran fica assistindo desenhos em seu
Ipad enquanto eu encaro a janela, o dia começa a ficar nublado, e não sei se é
resultado da minha depressão ou se o tempo mudou.
— Lorran como você está lindo! — O menino fica todo risinho, com as
bochechas vermelhas enquanto corre para os braços dela — dormiu bem?
— Sì — acena e a abraça.
Eu tenho de seguir em frente para que meu filho seja capaz de me abraçar e
beijar com a mesma felicidade que ele fez pela professora.
— Desculpe por ontem — peço a ela que me olha atenta — eu não tenho
como justificar meu comportamento, mas o incidente me fez perceber o que estou
fazendo de errado — encaro o Lorran — vou tentar melhorar, mas enquanto isso
não acontece, me ajuda a cuidar dele?
— Só continue sendo boa para ele — seguro a mão do Lorran — até mais
tarde, hoje eu te busco no horário.
— Celto.
Lorran desce do colo da professora e corre para a sala de aula, vejo quando
ele cumprimenta os amigos com sorriso, e é bem recebido por eles.
— Não vou.
Não sei se prometo isso a ela ou a mim, mas vou fazer o possível para
cumprir com a minha palavra.
Saio da creche decidido a procurar por um psicólogo, não consigo sair desse
poço sozinho. Prova, é a vontade de beber rondando minha cabeça, e a necessidade
pelos remédios que me trazem o esquecimento.
Pelo Lorran eu vou tentar uma última vez, com mais afinco do que em todas
as outras.
Uma voz sussurra ao meu ouvido, busco por outra pessoa dentro do carro, e
só vejo o segurança que mantem o olho no lado de fora. Acho que estou realmente
enlouquecendo, passei a ouvir coisas.
A voz tem razão, das outras vezes eu não queria melhorar, ainda me sinto no
fundo do poço, rondado por escuridão. Tenho de ser forte e sair desse carro, falar
com o psicólogo, e buscar pela melhora, é a vida do Lorran que está em jogo, não
somente a minha.
Meu celular toca e vejo o nome da minha irmã, faz tempo que não nos
falamos.
— Oi — atendo.
— Senti que você precisava de mim — Lira tem a voz doce e chorosa —
Louis me contou que vocês estão no Brasil e imaginei o quanto deve ser difícil para
você se adaptar.
— Ah, meu irmão — ela soluça — você não faz ideia do quanto me deixa
feliz saber que finalmente quer procurar tratamento. Eu estava errada da outra vez,
não podia ter te forçado, aquilo só te machucou.
Lira chora do outro lado e fica difícil entender o que ela fala entre os soluços.
Usando minha irmã de força, eu saio do carro e entro no prédio, com ela na linha,
como se estivesse segurando a minha mão. Pego o elevador até o quinto andar,
quando as portas se abrem, a Lira para de chorar e funga.
— Certo.
Desligo e faço a minha ficha com a atendente, menos de meia hora depois
sou chamado na sala do psicólogo.
O homem é mais jovem do que eu esperava, deve estar na casa dos seus trinta
anos. Sentado na poltrona, ele aponta o sofá para que eu me acomode.
Aos poucos o ambiente vai ficando mais na penumbra, e agradeço por isso.
A sensação de ser observado como uma presa prestes a ser abatida ameniza, sempre
me senti assim com os outros psicólogos, como se eles estivessem me julgando em
vez de ajudando.
— Você quer que eu faça isso? — a penumbra impede que eu veja seus olhos,
mas sei que a cabeça dele está abaixada, não me analisa enquanto ando feito um
louco.
Ele pausa e me sento, prestando mais atenção nele. Dessa vez o homem
inclina o rosto para cima e me encara, não que eu consiga ver muito de sua
expressão.
— Você quer ajuda com a dor que as outras pessoas não podem ver o
ferimento, e não vou cutucar a ferida. Esse é um espaço seguro Levi, só falaremos
do que você estiver pronto, e sem cobranças, cada pessoa tem o seu ritmo, aos
poucos... descobriremos o seu.
Espero pelas perguntas, mas ele não faz nenhuma. Respeita o meu tempo de
descanso entre uma fala e outra.
— Buscar a cura pelo Lorran é uma mostra de que você também quer se
curar Levi, e encontrou no seu filho, a força para buscar ajuda.
— Quando você busca para si a melhora, é como abrir uma porta que esteve
fechada durante anos em um segundo, nada passa por ela, no outro, tudo
transborda, arrombando as dobradiças e exigindo que sejam vistas.
— Boa forma de pensar — pondero em silêncio por mais tempo — sou
viciado em álcool e remédios.
— Ele te impede?
— Veja a situação por outro ângulo, você esqueceu seu filho, e ela ficou
preocupada. Talvez ela não tenha te julgado, mas como professora, percebeu o risco
em que a criança foi exposta, e quis evitar que acontecesse novamente.
— Não, mas posso analisar a situação por fora, entendendo a posição de uma
pedagoga, e a sua.
— Eu sumi para beber — admito — nem pensei duas vezes antes de fazer
isso com o Lorran, eu sou um merda — escondo o rosto nas mãos.
— Temos muitas coisas para falar, ao que posso perceber. Quer começar por
uma, e depois vamos a outras? Separar as dores, e ir tratando os machucados por
vez pode ajudar de maneira mais eficaz.
— Pode ser — deito-me no sofá, me sentindo cansado — não sei por onde
começar.
— Qual a que te incomoda mais agora?
— Ter esquecido do Lorran por ter ido beber. Eu queria sumir, fazer a dor
passar, e fugi sem que percebessem, não me importei com ninguém além de mim.
— Não é uma boa opção, isso aumenta a compulsão para fazer o que não te
permitem. Você pode usar um elástico, sempre que sentir o desejo pelo álcool
estrale o elástico no seu pulso, o ardor na pele vai te ajudar a enfrentar a compulsão.
— Você disse que quer melhorar pelo seu filho, tente passar um tempo com
ele, nem que seja somente o olhando, ou brincando, conversando, passeando. Você
acha que conseguiria evitar beber na frente dele?
— Faltam 10 minutos para a sessão acabar. Quero te ver três vezes por
semana. Agende as consultas do mês inteiro quando sair daqui, e te vejo na
próxima.
O Lorran merece que eu tente por ele, não me sinto bem, pelo contrário a
escuridão ainda caminha ao meu redor as quatro da tarde, quando vou buscá-lo na
creche. Mas nunca mais a deixarei me vencer sem lutar, ontem foi a última vez que
me entreguei.
Olivia
— Hora da filinha para esperar os pais — digo, e todos correm para a parede
ao lado da porta e ficam alinhados esperando serem chamados.
Abro a porta e fico surpresa ao ver o homem louro parado do outro lado. Ele
está diferente de ontem, os cabelos arrumados, a barba feita, e usando um perfume
forte.
— Eu sei que você fala português — queria ter soado menos arisca, mas não
consegui controlar a língua.
mentira.
O safado vai realmente fingir que não fala português após ter se comunicado
comigo ontem? Fico na dúvida se ele lembra a conversa que tivemos. Minha
atenção é desviada para as mães que param no corredor e ficam encarando o Levi
com a mão na boca, surpresas pela beleza dele.
— É hora de ir para casa com o seu papai — Lorran aumenta o bico mais
ainda — amanhã a gente se ve cedinho, e passa o dia na creche, combinado?
— É uma pena que você não queira ir comigo — Levi fala, noto que ele se
agachou ao meu lado, e com as mãos tremulas toca o braço do filho, chamando a
atenção — queria te levar para comer muito popolate com sorvete.
— Muito? — Tenho vontade de rir como o Lorran muda de ideia fácil quando
o assunto envolve doce.
— O tanto que você quiser — Levi olha no relógio no pulso — mas temos
de ir rápido, ou vai dar a hora da janta e você não poderá mais comer sorvete com
chocolate.
— Zia vivia vai? — e então entendo, Lorran não quer sair da creche por
minha causa.
Alguns deles já insistiram em não voltar para casa ou me levar para sair,
como se fosse parte de suas famílias.
Nenhum deles perdeu um dos pais, ou passa por problemas em casa, não
entendem o pedido do Lorran e o quanto o menino se diverte quando está comigo
aqui na creche.
Ele deve querer repetir a brincadeira de ontem e o cuidado que tive com ele,
quando chegamos a sua casa e o dei banho e janta, o colocando para dormir antes
do Levi chegar fazendo zoada.
O coração grita para pegar o pequeno nos braços e o levar para casa, dar
banho, vestir sua roupinha e dar sua janta. Brincar um pouco antes dele dormir, e
depois o ninar nos braços até que o sono o domine.
Isso é algo que somente uma mãe faz, e eu não sou a mãe dele, ou muito
menos sua família.
— Sì — ele nem olha para o pai quando corre para se sentar no tapete.
—
— Certo — percebo o tom arisco em sua fala, acho que ele não esperava a
reação do Lorran, nem eu, mas não posso fazer muito se o menino prefere ficar
comigo do que com o pai ausente.
Levi entra na sala e se senta perto do Lorran, ambos calados, esperando todos
os alunos serem entregues aos seus pais. As mães curiosas tentam puxar assunto
querendo saber o que aconteceu, e quem é o “bonitão louro”, sorrio educada para
elas e digo que é assunto de família.
Tenho quase certeza de que estou estragando algum plano dele com o filho.
— Lorran — chamo sua atenção — a zia não pode sair do trabalho com os
alunos, é proibido.
— Foi uma situação especial porque eu não podia te deixar sozinho enquanto
seu pai não chegava.
Ele expulsa o pai sem pensar duas vezes, e preciso me controlar para ele não
perceber que achei engraçado seu jeitinho fofo e simples de falar.
Dói perceber o quanto Lorran não se importa e não reconhece o Levi como
pai. Eles não têm nenhum laço afetivo, e a relação entre eles é inexistente, tenho
vontade de fazer com que ambos possam se entender melhor.
— Lorran — Levi o chama — vamos embora comigo, prometo que vai ser
divertido.
Eu sei que não posso ceder à chantagem do Lorran, ele só tem dois anos, e
faz birra querendo que sua vontade seja cumprida. Mas ver os olhinhos tristes, os
lábios tremendo, e as mãos cruzadas, mexe comigo, não consigo ignorar o quanto
o emocional dele pode ter sido machucado.
— Lorran fofinho — seguro seus braços — eu não posso ir com você hoje,
vou te esperar amanhã na creche para passarmos o dia junto de seus colegas, agora
você precisa ir para casa com seu pai.
— Segura a minha também, Lorran — Levi pede, posso jurar que senti um
pouco de ciúmes na voz dele.
—
Lorran solta minha mão relutante, faço o caminho até a secretária e sou
parada por meus colegas, querendo saber o que foi a comoção na minha turma.
Omito deles parte da situação, é comum às vezes os alunos se apegarem demais, e
eles entendem isso, mas nunca cedemos a vontade dos pequenos, posso acabar
sendo demitida por me envolver demais.
Do lado de fora, vejo Lorran e Levi em frente a uma SUV preta, esperando
por mim, vou até eles sem chamar a atenção dos meus colegas que saem, dou a
volta e entro no carro, agradecendo pelos vidros negros.
Estou me sentindo uma fugitiva por toda essa situação, não posso continuar
agindo impulsivamente, ou terei problemas no trabalho.
— É por isso Lorran — Levi chama a atenção do filho — que não podemos
pedir que a Olivia nos acompanhe nos passeios depois da creche.
— Não posso, hoje será uma exceção por que vamos tomar sorvete, e você
ainda não tinha entendido, mas agora que já sabe, não vamos repetir essa saída,
entendeu?
— Sì — fica cabisbaixo.
— Quelo.
— É assim que eu gosto, sorridente — toco em seu nariz, e ele sorri para
mim, do jeitinho que derrete meu coração.
Lorran pede colo e o carrego nos braços, Levi vai para o balcão e montamos
os sorvetes, Lorran se esbalda no sabor de chocolate.
— Tá.
Nos sentamos, e o Lorran insiste em ficar no meu colo, deixo meu sorvete
de frente a mim, e coloco o do Lorran entre mim e o Levi.
— Aproveita que ele tá de frente para você, segura a colher com pouco
sorvete ou ele vai se sujar mais do que comer, acho que é isso, não tem segredo.
— Certo.
Acho curioso como ele esfrega as mãos uma na outra parecendo se preparar
para uma grande batalha.
— Adolo popolate — acho graça do jeitinho fofo que ele fala, e cheiro sua
cabecinha.
— Você se envolve assim com todos os seus alunos? — tem aspereza na voz
dele, fico empertigada por seu tom de voz duro, estou ajudando na relação dele
com o filho, e se acha no direito de me julgar?
— Nenhum dos meus alunos se negam a sair com os pais, para que eu precise
intervir entre eles — digo em português.
— Parlare in italiano — rebate, ele continua fingindo que não entende o que
eu digo.
— Seu arrogante — sorte dele que o Lorran está em meus braços, e não quero
que ele entenda as ofensas ditas contra seu pai — você falou comigo em
português ontem, não tente me enganar se fingindo de idiota.
— Sì.
Ela só pode ter feito alguma coisa para o Lorran se apegar a ela daquela
forma, não é normal que o menino faça birra diariamente quando tenho de ir buscá-
lo na creche.
Justo agora que estou buscando tratamento e tentando ser um pai de verdade,
o Lorran me rejeita, mas a culpa não é dele. É somente minha que o abandonei
desde o seu nascimento, mesmo morando debaixo do mesmo teto.
Foi isso tudo que a bebida e os remédios me tomaram: uma vida com meu
filho.
— Quelo zia vivia! — ele continua cantando enquanto roda pela casa em
protesto.
É a primeira vez que eu paro para cuidar do meu filho, é normal ser um idiota
que não sabe o que fazer, certo?
— Não, só eu e você.
Passo a mão no rosto sem saber mais como barganhar com ele para o
convencer a parar de birra. Não faz nem dez minutos que chegamos da creche, e
estou me coçando para poder o deixar sozinho e fugir dessa perturbação na minha
cabeça.
Eu sou um idiota fraco e covarde, como pude pensar que de uma hora para
outra ele iria me aceitar? Se não tivesse a interferência daquela mulher maldita,
isso não estaria acontecendo, e eu poderia me comunicar com o Lorran sem todo o
estresse.
Lorran se aproxima com um bico maior ainda, pega a colher da minha mão,
e me abaixo para ele poder pegar o sorvete. A colher sobe acima de sua cabeça e
desce com velocidade no pote de sorvete, que balança na minha mão e acaba caindo
no chão.
O encaro incrédulo pela rebeldia, a cara fofinha dele explodindo em raiva
acumulada. Os braços cruzados fortemente na frente do corpo.
— Zia vivia! — grita na minha cara e depois sai correndo jogando tudo que
ele pega no chão.
O sangue ferve nas minhas veias e tenho ímpeto de gritar para o Lorran se
aquietar. Abro a boca e puxo o ar pronto para reclamar com ele. As mãos pequenas
pegam o Ipad em cima da mesa e o arremessa no chão com força enquanto ele grita
com toda a força pela Olivia.
Ele me encara surpreso pela forma que falei com ele, e abre a boca ainda
mais, berrando alto.
A ignoro fingindo que não entendo seu idioma, ela é idiota ou o quê? Acha
mesmo que estou deixando o Lorran fazer essa zona na casa de propósito? Eu só
não sei que merda fazer com ele, se o Louis estivesse aqui saberia como acalmar o
Lorran, e o convencer de que não pode ficar com a professorinha dele direto, aquela
maldita!
Vai roubar meu filho de mim sem nem me dar a chance de lutar para que ele
possa ser meu.
O tremor nas mãos aumenta a cada dia que fico sem beber, e sem os
medicamentos que usava para me dopar. Estou ingerindo uma nova medicação, e
ela ajuda a controlar a ansiedade melhor que a antiga, contudo, não afastou as
nuvens negras que se espalham ao redor.
Esse moleque!
— Não.
Meu peito aperta tão forte que o ar me falta, e corro para a varanda tentando
respirar.
Inspiro e expiro tantas vezes que o dia começa a escurecer e o céu ser coberto
pela lua, enquanto o Lorran continua revirando a casa, e a governanta vai embora,
não conseguindo lidar com a situação.
O Louis vai conseguir lidar com essa situação melhor do que eu, tenho
certeza.
— Quer morar com sua professora? Pois peça ao seu zio! Eu desisto dessa
merda.
Ainda sou incapaz de fazer tudo sozinho, mas isso não significa que não
posso chamar pelo meu irmão para me ajudar. Calço os sapatos do Lorran quando
ele se acalma, deve achar que o tio concordara com a vontade dele, como sempre
fez.
Fecho as portas atrás de mim e puxo o elástico no meu pulso, o ardor na pele
começa a me ajudar a me acalmar.
Quando consigo respirar sozinho, eu saio da sala e vejo que o Lorran sumiu.
Levo as mãos a cabeça entrando em desespero quando portas são abertas, e Louis
surge com fúria no rosto, e o Lorran em seu colo escondendo a cabeça na curva do
pescoço do tio.
Fico com raiva por perceber o quanto ele muda quando está na presença do
meu irmão. Comigo ele não quer conversa, mas com o Louis, fica mansinho.
— O bonito do seu sobrinho cismou que quer morar com a professora dele,
estava fazendo um escândalo em casa quebrando os brinquedos. Não consegui
controlá-lo e disse para ele pedir isso a você, quem sabe assim ele perceba que é
loucura querer morar com a professora! — atropelo as palavras uma na outra, a
fúria correndo quente em minhas veias.
— Lorran, você não pode morar com sua professora — ao contrário do que
o Lorran esperava, o Louis não apoia sua maluquice, e agora Louis ve o que eu
estava passando quando o Lorran começa a chorar e esperneia nos braços dele.
— Sim.
— Posso ligar para ela vir, conversar com o Lorran, e o acalmar. — Ela pega
o telefone, a Olivia tem uma irmã que trabalha com o Louis?
Louis caminha para sua sala e o seguimos, sem que ele diga nada.
A mulher que imagino que seja sua secretária, liga para a Olivia e a observo
de perto, e o jeito que meu irmão a encara. É ela quem esse idiota acha que o
enganou sobre a virgindade? Só de ver os ombros curvados, a voz mansa, e o jeito
que ela o encara pelo canto do olho, percebo a timidez da moça.
Não sei o que aconteceu entre eles, mas tenho certeza de que essa coisinha
indefesa seria incapaz de enganar alguém como o Louis. Ele com seu ego
gigantesco tem se enganado sozinho.
Como essa mulher pode ser irmã da professorinha? A outra parece a porra de
um furacão, devastando tudo por onde passa, enquanto ela é mais como uma rosa
em meio a primavera.
— Com licença — a voz doce chega aos meus ouvidos, olho para a porta e
ela entra, ainda usando o uniforme da creche.
— Zia vivia! — Lorran fica afoito no colo do Louis, e desce correndo para
os braços da professora, com um sorriso no rosto.
O elástico estrala mais uma vez no meu pulso quando eu vejo o sorriso dela
para ele, os olhos cheios de carinho e o abraço, envolvendo Lorran, caloroso como
o de uma mãe. Eu sou um imbecil por pensar por um segundo em ficar com raiva
pelo Lorran a preferir, sou o pai dele há dois anos e nunca olhei, ou abracei meu
filho com tamanho amor.
Minha língua saliva, querendo beber, e a cabeça implora pelos remédios que
me jogam no esquecimento.
Olivia
Lorran chora.
Levi chora.
Bianca chora.
E eu seguro como posso as lágrimas para que o Lorran não me veja chorando,
e pense que é por culpa dele.
— Zia vivia eu quelo fica com ocê — soluça e meu coração fica do tamanho
de uma uva.
— Num golto de fica cum o Levi — soluça — fica comligo zia vivia.
— Você podia tudo na sua depressão — digo em português para que o Lorran
não entenda — menos causar dor no menino dessa forma, seu imbecil — mordo a
língua querendo dizer muito mais.
— Olivia — Louis chama em tom firme — não julgue o Levi sem saber pelo
que ele passou.
— São com justificativas assim que crianças como ele crescem com traumas
e abandonadas pelos pais — aperto o Lorran em meus braços — se Levi fosse
responsável o suficiente para sofrer sem magoar o filho, essa situação não
aconteceria. Não é errado sentir a dor da perda, mas a transferir, e fazer outras
pessoas a sentirem, é cruel. Você impôs aos outros aquilo que te machuca para não
sofrer sozinho.
Travo os lábios ao sentir a eminência do choro.
— Levi vai entrar em contato com a creche pedindo para que eu não seja
demitida por aceitar o emprego de babá de um dos meus alunos, e explicando a
situação peculiar que envolve o Lorran. Ele vai passar o dia na creche, e depois
fico com ele em casa até que durma, Levi vai assumir responsabilidade como pai
de todos os dias, dar o café da manhã dele, e o levar e buscar na creche — arrebito
o nariz — e quero um bom salário para aguentar o escroto do seu irmão no
processo.
— Você fez muitas exigências — posso ver a veia saltando na testa do Louis,
ele não esperava por alguém que o contrarie.
Mastigo a bochecha tentando evitar uma briga pior, meu sangue ferve.
Mexam com tudo que puderem nesse mundo, mas não façam uma criança chorar
que eu me revolto e jogo pedras antes de perguntar o crime.
— Vocês dois cuidarão do Lorran o dia todo, não podem se matar dessa
forma — Louis continua — Olivia, suas exigências serão atendidas, o que acha de
um salário de três mil?
— Bom, mas se seu irmão me tirar muito o juízo, você vai pagar extra por
cada vez em que eu não o matar.
— Eu que deveria receber — Levi levanta apertando os punhos — por ter de
lidar com você, sua desaforada!
— Irresponsável!
Não parece o homem que se debulhava em choro segundos atrás. Talvez, seja
disso que o Levi precisa, para acordar e perceber que precisa ser um pai de verdade
para o Lorran. De alguém que o jogue nos limites, e o faça sentir outra coisa além
da tristeza profunda, e se esse italiano continuar me irritando, pode ter certeza de
que eu serei essa pessoa.
Não o deixarei em paz um segundo da sua vida enquanto eu não ver o Lorran
o chamando de pai, e feliz por ter sua presença na vida dele.
— Você pode sentir raiva, mas não deve descontar nas pessoas — olho o
Levi de rabo de olho — ou nos objetos. Para que você não esqueça que isso é
errado, vai ficar sem novos brinquedos por um mês.
— Até meu iiiipad? — puxa o som do “i” e preciso me controlar para não
morder essa fofura.
— Zia vivia — quer começar a fazer manha, e encaro com seriedade. Ele
murcha e dá de ombros, aceitando que não vou ser manipulada pela sua birra, como
o pai e o tio.
— Agora vamos tomar sorvete, por que foi um dia cansativo, não acha
fofinho?
— Vamos — viro de costas e abro a porta saindo, não chamo o Levi, ele vem
atrás da gente, e percebo que ainda aperta o elástico contra o pulso. Entramos no
elevador, e Levi fica perto demais, fico empertigada quando ele aproxima a boca
do meu ouvido.
— Você é um diabo — ele fala baixinho para que o Lorran não escute, e
pequenos arrepios correm pelo meu corpo, a voz um tom mais grave causa um
rebuliço dentro de mim.
— Fatie em pedaços menores — ela pega a faca da minha mão, deve ter
sentido minha intenção homicida. — Presta atenção! — exclama, desvio o olhar
do rosto dela, e vejo as fatias minúsculas que ela corta as cenouras.
— Fica quieto — ela suspira sem paciência. — O acordo foi você ficar
observando calado, e não zoando feito uma gralha!
— Uma, o quê?
— Uma ave barulhenta — revira os olhos e me afasto, antes que eu cometa
um assassinato contra essa mulher.
— Não sei como você pode ser professora do jardim de infância com uma
atitude ridícula dessas.
— Você que não sabe ouvir nada do que eu digo, é pior que os meus alunos,
e olha que eles só têm entre dois e três anos!
— Seu asno!
— Asno! — Uma voz fininha fala atrás da gente, e me viro para ver o Lorran
dando risada da nova palavra descoberta.
— Lorran fofinho — ela se abaixa ficando na altura dele — não pode chamar
ninguém de asno, a zia vivia disse uma palavra feia — abanda a mão na frente do
rosto, e o Lorran dá mais risada.
— Sì zia vivia.
Faz três dias que a Olivia é a babá do Lorran, e nunca vi meu filho sorrir
tanto enquanto eu enlouqueço. Nem tenho tido tempo para ficar triste com esse
furacão devastador me dando ordens o tempo todo.
— Podem ir tomar banho, vocês dois — ela diz — vou terminar o jantar.
— Vamos Lorran — estendo a mão para ele, a tremedeira tem aumentado
conforme os dias sem beber e meus medicamentos vão aumentando.
Ficar mais tempo com o Lorran ajuda, não quero expor meu filho a esse
comportamento nocivo, mas tenho medo de acabar me irritando com ele por
besteira e o fazer me odiar mais ainda.
Lorran parece em paz com a Olivia em sua vida, e por mais que eu odeie
essa mulher, não teria a coragem para acabar com o relacionamento deles, ou
manchar a paz que meu filho tem tido.
— Blora? — Lorran puxa minha mão, não tinha percebido que fiquei parado
encarando o teto como um idiota.
— Sì.
— Olivia — chamo e ela se vira para mim — a... a-a — pigarreio tentando
não gaguejar tanto — água deve... — me calo, ela suspira pesado, com pena.
— O ensine a lavar o pintinho — ela diz — ele não sabe fazer isso ainda, e
não consegui demonstrar apropriadamente como faz.
— Tá bem.
Imagens de quando meu pai me ensinou como lavar meu pênis surgem na
minha mente. É a lembrança mais antiga que tenho com ele, não imaginei que o
Louis não tivesse ensinado isso ao Lorran ainda, meu irmão não deveria ser um
superpai que sabe fazer tudo melhor do que eu?
Talvez ele só tenha feito tudo esse tempo todo, sem ensinar ao Lorran como
ser independente de cuidados externos. Mordo a bochecha para transferir a dor do
peito para a carne, eu fui ausente e relapso por anos com o Lorran, não posso querer
recriminar o Louis por não fazer algo que era a minha obrigação.
No banho tiro a roupa do Lorran e olho o corpo do meu filho pela primeira
vez, ele é tão pequeno e branquinho, os cabelos se fossem louro-branco, deixariam
Lorran um albino, por sorte ele puxou meu tom, e o cabelo é como ouro brilhante
e cheio de vida. Checo à temperatura da água e o Lorran aprova quando coloca a
mão na banheira.
— Não — acena em negativo e bate as mãos na água jogando gotas por todos
os lados, molho a camisa e a tiro.
— Vou te ensinar, presta atenção no que faço e você repete em si, certo?
Tiro a roupa e entro na banheira com o Lorran, e o ensinando como lavar sua
parte intimida. Ele dá risada quando deixo o sabonete cair na água, mas com
paciência ele se limpa sem se machucar.
— Eu sou adulto, tudo meu é maior comparado ao seu — encosto sua mão
na minha.
— Verdade — exclama e abre a boca como se tivesse descoberto um
momento único. — Eu vou flicar glandão?
— Verdade?
— Quelo clescel lolgo — se esforça para falar com a língua travando nas
consoantes.
— Não tenha pressa — aliso sua cabeça — acho que tenho de lavar seu
cabelo, feche os olhos para não cair shampoo.
— Celto.
Lavo o cabelo do Lorran com cuidado para não machucar sua cabeça e não
arder seus olhos. Quando termino, o enxugo e a mim, saio com a toalha enrolada
no quadril, e imito o mesmo no Lorran, que acha divertido.
Vamos para seu quarto e estanco na porta quando vejo a Olivia separando a
roupa dele na cama, ela me nota, e os olhos travam no meu corpo desnudo, as
bochechas ganham um tom de vermelho muito forte enquanto ela desvia o olhar
para qualquer canto no quarto que não na minha direção.
— Vai com a Olivia para ela colocar sua roupa, Lorran — o coloco no chão
e ele corre para ela.
Quando o Louis não age como um prepotente arrogante, ele se torna um cara
minimamente descente. Ainda não sei o que minha irmã vê nele, eu percebo o
jeitinho envergonhado que ela fica quando está na presença dele, as bochechas
vermelhas e como olha para ele querendo muito mais do que ele dá.
Até uns dias atrás eu queria o mandar enfiar o ego no meio do rabo dele, mas
a Bianca passou por uma situação difícil, e que eu não poderia a proteger, e o Louis
fez isso no meu lugar.
Preciso lembrar de demonstrar minha gratidão por cuidar dela quando não
pude. Vou levar um porrete comigo, para o agradecer, e depois ameaçar, que ele
não pense que pode partir o coração da Bianca, ou eu que o partirei em dois.
Até ontem, quando o imbecil se trancou no quarto e pelo visto não saiu mais.
Ele sofreu muito em seus poucos anos de vida, em vez de meu futuro filho
ser um obstáculo para Lorran, vou fazer com que sejam melhores amigos.
Checo meus e-mails e redes sociais no caminho, e vejo que uma colega de
faculdade casou e anunciou a gravidez.
Eu lembro de quando ela conheceu o namorado, ele era do curso de CIT e
muito charmoso, sempre a buscava na sala de aula, e as meninas o chamavam de
piegas, enquanto ela dava a língua para todas e sorria feliz, por encontrar o amor.
Como será que é amar alguém e ter a confiança de que aquela é a pessoa
certa? Eu não consigo acreditar que outros homens, serão capazes, de serem
diferentes dos meus ex que machucaram meu coração. Ninguém ama outra pessoa
eternamente, somente enquanto ela está presente.
Paramos no prédio e olho para cima, naquele lugar tem um homem que amou
tanto uma mulher que após a sua morte, entrou em depressão profunda, ao ponto
de esquecer do próprio filho. Realmente é amor o que ele sente, ou somente a falta
da presença dela, e o que ela significava em sua vida? Nunca parei para entender
as razões do Levi ser dessa forma, eu o julgo baseado na minha situação que se
assemelha ao do Lorran.
Entro no elevador e quando saio ouço os gritos do Lorran, ele parece que
brinca com alguém, pelas gargalhadas. Bato na porta e ela é aberta pelo Louis, com
o sobrinho pendurado em seus ombros, Lorran usa somente uma cueca, com os
cabelos totalmente bagunçados, verifico a hora e temos menos de meia hora para
sair de casa e chegar a tempo na creche.
— Por que ele não está arrumado? — rango os dentes, a consideração que
eu tinha adquirido pelo Louis indo embora em um passe de mágica!
Um homem que nunca esqueceu o amor pela esposa, lembro com um suspiro
antes de beijar o Lorran e o levar para um banho apressado, enquanto peço a
governanta para preparar o café dele.
Lorran come sem fazer bagunça e vamos para a creche, quando estamos
saindo escuto gritos profundos da dor do Levi. O som parte minha alma, eu já o vi
chorando, mas nunca foi forte como nesse momento.
****
— Levi num vem janta? — pergunta, quando coloco outra colher de arroz
na boca dele.
A culpa é minha por confiar nas outras vezes em que o Lorran pulou em cima
do Levi e ele não fez nada com o menino, no fundo, tive a pequena esperança que
ele fizesse como da outra vez e abraçasse o filho. Aquele desgraçado vai ver que
não se mexe com uma criança.
— Não pula mais em cima do Levi quando ele estiver daquele jeito, certo?
— peço encarando seu rostinho choroso, e ele funga antes de assentir.
— Levi tá dodói?
— Sim, bem aqui — passo a mão no peito dele — mas um dia ele vai ficar
bom.
— Polmete?
Odeio fazer promessas que não posso cumprir, e essa ao Lorran, me deixa de
coração na mão com medo de decepcionar o pequeno. Levi pode nunca superar a
depressão, e viver o resto de sua vida desse jeito, recluso, triste, com dor, e
causando no pequeno.
Demoro mais do que o normal para fazer Lorran dormir, e percebo como ele
olha para o quarto do pai com medo, talvez, de que ele saia de lá e grite novamente.
Quando finalmente o coloco para dormir, eu decido que Levi vai aprender
que mesmo na dor dele, não pode machucar as pessoas ao seu redor. Lorran não
vai crescer como eu cresci, e as chances de que eu seja demitida pelo que estou
prestes a fazer são poucas, afinal, Lorran não me deixaria ir embora, e o Louis faz
tudo o que puder para que o sobrinho seja feliz.
Encho o balde com água, e com cuidado vou para o quarto do Levi, não
quero que ele escute o que estou prestes a fazer. Abro a porta e ele ainda dorme
embolado nas cobertas, aproximo, e com cuidado eu consigo subir na cama para
ficar acima de sua cabeça, posiciono o balde e viro o conteúdo encharcando o Levi.
— Fala baixo que acabei de colocar o Lorran para dormir — deixo um dedo
em riste na frente da boca e desço da cama, ainda o olhando por cima — você,
nunca mais grite com o menino, ou eu juro que da próxima vez, a água vai estar
pegando fogo.
— A pessoa, que não vai, aceitar que você continue sendo um bosta de pai
— jogo o balde nos seus pés e ele pula no lugar — chega dessa merda de depressão
e de ficar magoando o Lorran.
— Mas eu sei o que o Lorran sente — devolvo, Levi é uns bons centímetros
mais alto do que eu, e preciso empinar o nariz para o encarar nos olhos.
— Amanhã à noite se prepare — digo a ele — você vai sair dessa maldita
cama e aprender a viver a vida.
Saio do quarto sem esperar a sua resposta, pego minha bolsa em cima do
sofá e deixo o apartamento, do lado de fora me escoro contra a porta pensando o
que diabos eu acabei de fazer.
Merda, intimei o Levi a ir em um encontro comigo e nem sei direito o motivo
de ter feito isso.
Levi
Essa mulher é o cão.
Satanás deve ter tido medo dela e a expulsado do inferno, para ela vir me
punir pessoalmente por todos os pecados que cometi sendo um pai relapso para o
meu filho.
A água que jogou em mim, ainda pinga no piso do quarto enquanto eu fico
como um idiota encarando a porta do quarto por onde ela passou faz uma meia
hora.
Passei o dia sentindo uma dor dilacerante no meu peito lembrando do dia do
meu casamento com Blanca, e do nosso último aniversário junto, até essa
desgraçada vir me molhar, e falar essas merdas na minha cara, quem diabos ela
pensa que é?
Encaro a minha cama sem saber onde vou dormir agora que tudo ficou
ensopado. Tiro a roupa e me enxugo para vestir uma seca e vou para o quarto do
Lorran, não percebi que tinha brigado com ele até a Olivia chamar a minha atenção,
quando fiz isso?
O encontro dormindo dentro do berço, e me aproximo com calma, para não
perturbar seu sono. Lorran se mexe quando toco em sua testa e os olhos abrem
sonolentos, fechando em seguida e tornando a abrir quando ele me vê.
— Desculpe ter gritado com você — o pego no colo e beijo sua cabeça,
inspirar o cheiro do Lorran ajuda a acalmar a tormenta em meu peito — não percebi
que tinha gritado.
Não sei ao certo como agir com o Lorran agora, se o deixo dormindo no
berço ou faço alguma outra coisa, já são 21 horas da noite e sei que ele dorme cedo.
Mas o segurar no braço me trouxe uma calma que eu não posso perder agora, a
segurança de que tudo ficará bem se eu continuar o apertando firme em meus
braços.
— Sì — boceja.
Minha cama ficou ensopada e o sofá não é uma boa opção, olho ao redor e
não vejo um lugar confortável para mim e ele. O Louis já chegou em casa? Vou
para o quarto dele e vejo a cama arrumada indicando que ele não ficou por aqui,
parando para pensar, meu irmão tem dormido pouco em casa nos últimos dias, o
que será que tem acontecido com ele?
Entro e me deito na cama com o Lorran, que só agora percebo, que ainda
tem a pelúcia do gato agarrada em seus bracinhos. Ele se encolhe entre os lençóis
e dorme em dois instantes, apesar de ter passado o dia recluso na cama, estou
sentindo muito sono. Entro debaixo das cobertas e fico observando o pequeno
rostinho dele, até ser vencido pelo sono.
Acordo com Lorran saindo da cama sozinho, sem fazer barulho, os pezinhos
tocam o chão na ponta dos dedos enquanto ele fecha a porta atrás de si. Me levanto
e vou atrás dele, sem fazer barulho ou deixar que ele me perceba, Lorran entra na
cozinha e abre a geladeira, se esticando para conseguir pegar alguma coisa dentro.
Pairo acima dele e vejo que ele quer uma garrafa de água, a pego, e depois o
levanto, colocando-o em cima do balcão de mármore, e sirvo a água em um corpo
de plástico. As mãos pequenas agarram o copo e o levam a boca, lá fora o tempo
está nublado e prometendo uma chuva forte, a governanta aparece na cozinha,
acena para mim e vai preparar o café da manhã.
É a primeira vez em que reparo na Olivia, ela tem olhos verdes e cabelos
castanho escuro, o rosto redondo com bochechas que ficam cheias sempre que ela
sorrir para os alunos, os dentes brancos e bem alinhados. Pescoço longo, ombros
pequenos, e uma cintura marcada pelo cinto da calça, que cobre a barra da camisa.
Ela é bonita, e eu nunca parei mais do que três segundos para analisar a sua
existência.
Por que ela me toca de maneira diferente dessa vez? Ontem eu queria matá-
la quando me tirou da cama, a dor me consumia em carne viva, e então o ódio fez
tudo desaparecer, e desde que dormi com o Lorran, tenho sentido uma estranha
letargia, nem dor e nem paz, algo como ficar flutuando em um limbo. Por um
segundo a depressão parece que me deixa em paz, e o frenesi por beber começa a
acalmar.
— Sério? — ela tenta não deixar que ele perceba o quanto fica chocada, mas
eu noto o franzir de sua sobrancelha e o olhar em descrença — e como foi isso?
— Eu te pego as 19h, já disse ao Louis que ele vai cuidar do Lorran — Olivia
chama minha atenção, e coço a cabeça, sem saber como proceder.
Não existe a menor possibilidade desse encontro dar certo, eu não quero me
envolver com a Olivia. Amo a Blanca com a mesma intensidade de quando ela
estava viva, e nunca seria capaz de sentir tal coisa por outra mulher ou de trair a
imagem da minha esposa.
Entro no carro e lembro que hoje eu não fiz os exercícios com o Louis,
mando o segurança me deixar na empresa, talvez meu irmão possa me dar um
conselho sobre essa maluquice da Olivia, que eu nem sei o que é ainda.
Minha consulta com o psicólogo é somente as 14 horas, e ainda tenho muito
tempo sem nada para fazer enquanto enlouqueço.
Chego na empresa e não vejo a secretária dele do lado de fora, a do meu pai
sorri para mim e não fala nada, além de um cumprimento. Abro a porta da sala do
Louis e entro, o som de algo caindo chama a minha atenção, e vejo meu irmão entre
as pernas da Bianca enquanto o porta caneta foi ao chão.
Me sento no sofá e cruzo uma perna em cima da coxa esperando o que eles
vão fazer. A calça dele está perfeitamente arrumada, e sei que não deve ter o pinto
para fora, por isso só viro o rosto para o outro lado enquanto escuto sussurros e a
Bianca deixa a sala com um sorriso envergonhado.
— Com certeza — digo e sorrio para ele — é essa a garota que você achava
que tinha mentido sobre ser virgem só para te fisgar?
— Sim — coça a cabeça — eu estava errado, a Bianca não fez isso, e fui um
asno por ter pensado mal dela.
— O grande Louis Vittileno admitindo que foi um asno, com certeza é o fim
dos tempos — debocho, e ele tem um olhar suave quando me encara.
— Tem certeza de que você quer isso? — pergunto sério, sei o quanto o
Louis pode ser desconfiado com as mulheres e para ele se entregar tem de ter um
motivo.
— Tomei um banho ontem à noite e dormi com o Lorran, acho que renovou
minhas energias — omito sobre a Olivia, ainda tô achando estranho, o estranho
limbo em que acordei.
— Desde quando um banho tem tamanho poder de mudança? Você fala como
se fosse um porco que nunca vê água — debocha, e rio.
Pela primeira vez em muitos anos eu realmente sou capaz de abrir a boca e
gargalhar. Meu Deus, o que está acontecendo comigo, e por que me sinto assim?
Cheio de endorfina.
— Não é da sua conta, papai — brinco e o Louis fica mais desconfiado, antes
que ele possa fazer outras perguntas eu vou embora.
— Tchau!
Não sei o que aconteceu comigo, mas pela primeira vez em dois anos, eu
quero aproveitar um dia nublado em vez de me esconder debaixo dos travesseiros.
Inspiro fundo e vou para a academia, e depois, a minha sessão no psicólogo, em
que passamos horas falando sobre como me sinto estranho no estado de limbo.
— Esse pode ter sido o seu ponto de vira Levi — ele diz.
— Certo.
Não posso prever o que acontecera hoje, mas sei que estou animado para
descobrir, pela primeira vez em dois anos, não quero só dormir, me dopar e beber.
Meu estomago dá cambalhotas, e só pode ser sinal de fome, não existe outra
razão para isso acontecer além da necessidade por comida, afinal, não me alimento
desde a hora do almoço.
— Para onde, exatamente? — fecha a porta atrás de si e sou atingida por seu
cheiro almiscarado.
— Você vai ver — dou meia volta na direção do elevador, aperto a bolsa sem
entender ao certo a ansiedade causada pelo nosso encontro.
— Espero que não esteja me levando para uma balada — resmunga — devo
ter ficado louco em concordar em sair com você.
— Você não está errado — empino o queixo, não querendo dar o braço a
torcer — e vou continuar te julgando enquanto não sentir que você se tornou um
pai para Lorran.
Não é uma pergunta, ele já percebeu que não tenho paciência, ou papas na
língua, para ser delicada com quem julgo que não merece.
— Vamos andando — digo a ele quando o vejo parado, olhando para os lados
como se esperasse o motorista — não é muito longe.
Levi fica ao meu lado, coloca as mãos no bolso da calça e encara o céu, como
se ele visse algo que eu não fosse capaz. As estrelas acima da nossa cabeça brilham
com algumas nuvens cinzas ao redor. É uma bela noite para um passeio, caso não
chova, se acontecer, estou preparada com minha sombrinha.
— Tem dia que fica pior, já tentou andar no metrô? — apresso o passo
quando o sinal fica vermelho para o pedestre, e ele me segue, acho fofo como ele
anda com as mãos dentro do bolso.
— Uma vez, quando fiquei bêbado, entrei no metrô sem destino. Não me
lembro ao certo o que fiz enquanto estava dentro dele.
— Por que você sumiu naquele dia? — pergunto, faz um tempinho que
queria saber o que houve.
— Hum — ele pondera — se eu contar vai te fazer me detestar menos?
— Com certeza não — dou de ombros — mas irei te julgar menos, caso eu
compreenda o motivo.
Levi se cala, ele encara ao redor como se estivesse pensando se deve ou não
continuar me contando o que aconteceu.
— O Lorran tem um brilho ao redor dele que sempre afasta as sombras, mas
eu tenho medo de que elas o machuquem e manchem sua alma, como fizeram
comigo. Quando eu te vi naquela manhã, você brilhava igual ao Lorran — ele evita
me encarar — na minha mente confusa eu achava que ele ficaria melhor com você,
que era um raio de sol, do que comigo, envolto em trevas, por isso sumi e fui beber,
desesperado por um alívio no meu tormento.
— Sim — ele vira o rosto para que eu não o veja, mas consigo visualizar
suas orelhas vermelhas — para de me encher com isso.
— Pode me usar como seu raio de sol quando a escuridão te atormentar, faça
o que for preciso para conseguir melhorar e ser um pai para o Lorran.
A forma dele me enxergar como uma luz faz meu coração amolecer para a
sua dor, e quero o ajudar mais do que o julgar.
— Eu não quero um relacionamento com você, amo a Blanca e isso não vai
mudar.
— Não estou oferecendo que tenhamos uma relação amorosa Levi — o puxo
mais ainda, encostado nossas testas uma na outra — somente que use minha luz
para clarear sua escuridão. — O solto — e eu não quero namorar com você — o
encaro de cima a baixo — você não é o meu tipo — me tremo, simulando que a
ideia de me relacionar com ele me dá nojo.
Não acredito que deixei esse idiota amolecer meu coração com o papo de
raio de sol!
— Uma deusa, ao contrário de você que mais parece uma rata! — tira as
mãos do bolso e as abre apontando para mim.
— A depressão me fez agir como louco por dizer isso, sua rata!
Seguro a bolsa com força e bato em seu ombro três vezes sufocando gritos
de frustração antes de me recuperar e começar a andar. Levi não perde tempo e
vem atrás de mim calado e bufando de raiva. Entramos na Rua Pedro João e depois
na Avenida Paulista em silencio total, quero esganar esse italiano arrogante, como
ele ousa me chamar de rata e supor que não sou bonita?
Eu sou linda, e não preciso que esse italiano diga algo para eu saber disso.
Foram anos cuidando da minha autoestima e percebendo como as pessoas reagem
a mim para poder me olhar no espelho com confiança e dizer que sou bonita, não
é ele que vai me fazer pensar minimamente diferente.
— O Museu de Artes de São Paulo — aponto — vai ter uma exposição hoje,
e achei que ela poderia te ajudar.
— Fica perto de mim para não se perder — peço a ele, Levi acena em
positivo e se posiciona ao meu lado.
— Vamos achar a saída juntos — seguro sua mão e o puxo para andarmos
mais rápido, entramos em um corredor e nele tem neve por todo o lado, as pinturas
são de paisagens cobertas pelo gelo, e da pessoa que estava na cabana andando por
cada uma delas, se curvando quando fica difícil caminhar, e chorando em
desespero, olhando para o céu em busca de uma saída.
— Vamos descobrir.
Envolvo meu braço no dele, percebendo que Levi perdeu a força nas pernas,
diante do cenário que expõem a sua dor. Eu sempre julguei o meu pai por ter
abandonado a mim e a Bianca quando minha mãe morreu, e ter sucumbido a
depressão, fiz o mesmo com Levi, suas lágrimas nunca fizeram meu coração
amolecer.
Torço para que nossa vinda até aqui não seja em vão, e que no final, Levi
possa enxergar o caminho dele mesmo para a luz.
Levi
Estou exposto naquelas pinturas, não conheço o autor, nunca o vi, não sei se
é homem ou mulher. Mas essa pessoa conseguiu pegar a forma da minha dor e a
jogou nessas paredes, com uma precisão que assusta a minha alma, e faz com que
eu trema por dentro por encontrar o reconhecimento do que me aflige em outra
pessoa.
A primeira ele está com medo de sair de sua cabana, fica olhando o lado de
fora com desejo por mais, na segunda, ele dá um passo para fora, e na terceira, ele
sai, e dessa vez o céu que ele encara não é frio e sombrio, mas repleto de luz azul
e amarelo, com flores do lado de fora por onde ele passa.
O abismo que ele encarava em dúvida de pular, se transformou em uma
cachoeira com muitos passados voando ao redor, quase posso sentir o calor que
emana desse lugar.
— É quentinho aqui — Olivia diz ao meu lado e lembro que ela estava junto
comigo, mergulhei na representação artística que acabei me esquecendo da sua
presença, e não notei as pessoas ao redor, imersas no que a obra transmite.
— Sim, quase inacreditável que passamos por aquela sala antes — digo.
****
Eu olhava da janela da minha casa, e não entendia como aquilo podia ter
acontecido.
Minha esposa nunca me perdoaria por deixar o jardim dela daquele jeito.
Quando terminei meu jardim, eu percebi que não podia o abandonar, ou ele
voltaria a ser destruído.
Não é errado sobreviver, não é errado sentir dor, não é errado olhar uma
flor e sentir-se feliz.
Os que se foram não tem mais o poder de julgar o que é certo e errado no
mundo dos vivos.
Obrigado por vir aqui, conhecer a minha dor e ver a minha superação.
****
Enxugo o rosto e noto que Olivia também tem lágrimas nas bochechas. Levo
a mão ao seu rosto, amparando a gota no meu polegar e Olivia me encara, com os
olhos verdes brilhantes de felicidade, mesclado com tristeza e compreensão.
— Pode continuar olhando para o seu raio de sol — a voz meio embargada,
tiro a mão de sua pele como se levasse um choque.
Por que ela ocupa essa posição na minha vida? Eu não a conheço, nunca a
tinha visto, antes de chegar naquela creche, e agora... saímos juntos, e ela pôde
encontrar algo para fazermos, com força suficiente para tocar a minha alma.
— Eu tinha seis anos quando fiz meu café da manhã pela primeira vez e
acabei me queimando com a manteiga quente — ela desabafa — ia para a escola
todos os dias com as vizinhas me acompanhando porque iam deixar os filhos.
Quando o Dia das Mães chegava, eu sempre ficava triste, a minha não podia mais
ir, e eu era excluída de todas as dinâmicas, mas precisava ficar lá, vendo as mães
brincando com os filhos.
Encaro a Olivia e a vejo mordendo os lábios com força, deixando a pele fina,
branca pela pressão imposta.
— Claro que não, você é homem — me olha como se eu fosse um ET, que
não entendeu o que ela quis dizer — para mim o desespero foi a menstruação, para
o Lorran o que você acha que será? Quando ele acordar e perceber que ejaculou
dormindo, e ficar morto de vergonha, ou quando não conseguir controlar o pênis
ereto durante a puberdade. Já parou para pensar que se ninguém o ensinar, ele
nunca vai saber lidar com esses momentos? Com a voz mudando, e ele sentindo
receio de que o ridicularizem.
— Exatamente, você esteve dois anos perdido na dor do luto, e não parou
para idealizar como seria o futuro com o seu filho, só enxergou a si mesmo. Use a
oportunidade que você está tendo agora de se tratar e aprender a cuidar do Lorran,
para criar um verdadeiro laço com ele, que o faça te chamar quando quiser falar
sobre como controlar o pênis, ou compartilhar o quanto é estranho a mudança de
voz, e quantas outras coisas homens puderem passar.
— Tudo bem errar, o que você não pode, é continuar caído — ela levanta —
vem — estende a mão para mim e a pego — promete para mim que vai tomar mais
cuidado a partir de agora, e ser um pai para o Lorran? Não o faça recorrer ao tio
para tudo, como eu tive de buscar ajuda nas minhas tias.
— Prometo — aperto a mão dela — você vai me ajudar? Sei que pode soar
ridículo...
— Ei — ela me corta — não é ridículo pedir ajuda, Levi, sei que podemos
continuar nos matando, porque você ainda me tira do sério, mas vou te ajudar,
quando tiver alguma dúvida, me pergunte, pode ser pessoalmente ou por mensagem
de texto.
— Obrigada Olivia.
— Eu falo, mas se você se abrir sobre sua mãe e seu pai comigo — ela
também carrega dor em seu coração — compartilhar nossas dores pode ser útil.
— Ganhei uma stalker? — brinco, e ela me empurra com o ombro, noto que
ainda estamos de mãos dadas e estranhamente não sinto vontade de me afastar,
interessante.
— Você poderia ganhar muito vendendo essa informação, nunca vou dizer.
— Para quem eu venderia? — pisca as pálpebras como uma boneca inocente.
— Sei de cabeça uns 10 jornalistas que iriam adorar saber que sou o
VITTILENO.
— O Lorran não vai conseguir convencer o tio dele a manter a babá que fará
a empresa da família perder ações de investimento por descobrirem que sou o
VITTILENO, e que nos últimos dois anos, outro estilista assumiu a marca por que
não consegui criar um único designer.
— Vamos mudar isso — ela me solta e sinto falta do seu calor — faça um
modelo para mim — Olivia posa na minha frente com uma mão na cabeça e outra
na cintura, a perna para frente meio dobrada e a de trás totalmente esticada,
gargalho pela sua pose ridícula — pode chamar ela de: Olivia o raio de sol!
Pela primeira vez em dois anos eu pude gargalhar sem peso no coração.
Olivia
Levi me tem em seus braços, enquanto gargalhamos da minha pose ridícula.
Não sei o que me deu para agir desse jeito com ele, mas percebo, que essa foi a
primeira vez em me divertir nos braços de um homem, sem medo de que ele quebre
o meu coração, ou esperando que me dê mais do que está disposto.
Eu não sinto atração pelo Levi, não o amo, e nem o vejo como um potencial
relacionamento amoroso.
Ele é somente o Levi, pai do Lorran, que precisa de uma ajuda para conseguir
sair da depressão e poder ser um ser humano melhor, capaz de cuidar do filho, e
não causar mais traumas nele.
— Então, você estava me falando sobre sua lembrança mais feliz com a
Blanca? — pergunto como quem não quer nada, me afastando um passo ele.
Tem riso na sua voz e eu adoro como seus olhos ganharam um pouco mais
de vida, comparado à quando o encontrei mais cedo. Sua mão continua em minha
cintura, e aos poucos ela desliza até me soltar, enquanto a que agarra meu punho,
segura minha mão e entrelaça nossos dedos, quando ele nos conduz em uma
caminhada.
— Eu tenho certeza de que você disse como uma chantagem para que não
revele que você é o VITTILENO.
Não me surpreende que seja ele o estilista dos modelos que vi, de alguma
forma, eu soube que tinha a essência do Levi naquelas peças. Todas são
deslumbrantes, carregando com elas uma história em cada corte, e os momentos
em que poderiam ser usadas.
— Acho que é você quem está usando de chantagem comigo — ele ainda ri,
e eu amo o som da sua risada.
— Talvez..., funcionou?
— Ela não teria coragem de fazer isso — fico chocada com a ousadia — é o
mesmo de ficar vendo seu ex com a atual, só para falar mal dela.
— Analogia interessante — ele ri gostoso — quando se é estilista, você não
consegue olhar uma peça de roupa, sem pensar no que poderá fazer para a deixar
melhor. É compulsório.
Ele me solta, e não consigo me virar ainda, aconteceu algo nesse pequeno
espaço de tempo que mexe comigo, e não estou pronta para analisar emoções
supérfluas.
Faz um bom tempo desde que estive com um homem, e sinto falta do carinho,
e contato do sexo oposto, Levi só tocou no meu ponto fraco, a qual é a pele das
minhas costas, nada de mais, posso lidar com o arrepio na coluna.
— Quer dizer que eu não chamo a atenção? — viro para ele, incomodada.
— Não, eu disse que quando nos ocupamos olhando para dentro de nós
mesmo, o mundo exterior desaparece — Levi vira o rosto observando os arredores
— já contei cinco caras diferentes que quase perderam o pescoço virando para te
ver passar.
O cara realmente parece nervoso, ele é mais novo, posso ver por suas feições
jovens e com espinhas no nariz. Aproveito para observar os arredores, e Levi tinha
razão, realmente chamamos a atenção das pessoas que passam ao redor, muitas
mulheres perdidas na beleza dele.
Tenho vontade de compartilhar com o Levi o que irei fazer amanhã, não
contei nem mesmo para a minha irmã, mas a ansiedade que sufoca meu peito, faz
com que eu queira me abrir com ele.
— Posso te contar uma coisa e promete não me julgar?
— Esquece — reviro os olhos e ando — não sei por que achei que poderia
conversar com você.
— Ei, estava brincando — segura meu cotovelo e nos leva para um banco
— pode falar.
— Quando você não está sendo um escroto, até que é legal — observo.
— Já faz um tempo que estou na fila da adoção, e hoje de manhã, liguei para
saber se tinha tido algum progresso, e a atendente me falou que continuava na
mesma. Que a fila para adoção era extensa demais, e que quando chegasse a minha
vez, eu seria informada.
— Não sei o que é maior, as filas de adoção ou as crianças que esperam para
serem adotadas — ele pontua.
— Basicamente, penso como você — abro a mão e encaro o Levi, ele observa
o céu. — Com o emprego de babá, agora eu posso tentar outro método para ter um
filho.
— Qual? — me encara.
— Não tenha um filho sem amar o pai da criança, Olivia, isso é deprimente.
— Eu amo a Blanca, e para sempre vou tê-la em meu coração, meu problema,
é não saber lidar com o fato dela não estar aqui — confessa baixinho — quero ser
um bom pai para Lorran, e por isso estou tentando o meu melhor, não posso esperar
te agradar, quando não é com você que eu me importo.
— Isso não importa, eu vou ter o meu bebê, independe de como seja.
— Você me julga por ser um pai ausente, mas estar tendo um filho por
inseminação artificial, vai fazer o seu bebê crescer sem um pai, e no futuro vai
contar a ele que nasceu de uma proveta?
— Ao contrário de você, eu vou fazer com que meu filho de proveta saiba
que é amado. — Bufo — fui uma idiota por achar que poderíamos ter ao menos
uma amizade.
— Não, Olivia — ele se levanta — você só está irritada demais para perceber
que me julga sem olhar as minhas feridas, mas quando jogo sal nas suas, você se
ofende, como se eu estivesse te esfaqueando.
— Essa foi a melhor ideia que você teve — ele ferve em raiva.
Odeio admitir, mas eu realmente julguei o Levi por uma situação, em que eu
só vi a como eu me sentia pelo Lorran e do meu passado. Odeio o fato dele ter
falado sobre a minha ideia com insensibilidade, e como se eu fosse inconsequente
que não pensa nas coisas.
— Como quiser — rosna — desde que você saiba como se portar com outras
pessoas.
Se eu ficar na ponta dos pés, conseguirei sentir o sabor da sua boca, lábios
finos que eu encaro mais do que deveria. Meu estômago dá uma cambalhota, e viro
de costas, mexida, ele consegue me enlouquecer de raiva em segundos.
Antes de ter meu bebê, preciso aliviar a tensão sexual dos últimos meses sem
um companheiro, ela é a única razão pela qual achei a boca do Levi minimamente
atraente.
— Vamos embora.
Começo a andar, e ele vem atrás de mim sem falar mais nada.
— Desculpe pelo que falei — fico surpresa com suas palavras — sua
situação é completamente diferente da minha, tenho certeza de que se a Blanca
pudesse, ela estaria aqui com Lorran, e eu não seria esse bosta de pai. É diferente
do seu bebê ser gerado por inseminação artificial, você vai estar presente em cada
momento e o amar, não duvido que possa explicar a situação do concebimento dele
sem dificuldades.
Ele coça a cabeça e eu me desarmo, o caminho todo ele ficou refletindo sobre
o que aconteceu entre nós?
Levi não espera pela minha resposta e entra no prédio. Fico atônita na
calçada, processando o que acabou de acontecer. Ele realmente pediu desculpas, e
foi capaz de me entender?
Sorrio.
Levi ainda tem salvação e poderá ser um pai incrível para o Lorran.
Levi
— Vamos Lorran, hora de acordar — o sacudo pela bunda, e ele continua de
cara nos travesseiros, babando.
— Hoje é domingo, e vamos almoçar com seu zio e seu nonno, levanta —
puxo seu quadril, obrigando-o a sentar, e ele coça os olhos antes de abrir a boca e
gritar com toda a força.
— Ei! — ralho com ele — baixa o tom que não estou fazendo nada de errado!
Vou atrás deles sem dizer nada, se o Louis acha que vai poder cortar minha
autoridade como pai, está enganado. No passado as coisas podem ter acontecido
assim, mas agora é diferente, e eu vou dar o banho no Lorran.
Pego meu filho de seus braços e o encaro de rosto fechado, ele pensa em me
responder por dois segundos, antes de franzir a testa. O deixo no meio do corredor
e vou com o Lorran para o banheiro.
— Você não pode continuar fazendo isso, Lorran — falo com meu filho, o
coloco no chão, e me agacho, ficando na altura dos seus olhos — sei que eu não
cuidava de você antes, mas agora as coisas estão diferentes, e eu quero fazer melhor
— seguro sua mão — me ajude para que eu possa ser um pai para você, certo?
A dor irradia do meu coração para meu corpo, percorrendo cada centímetro
de pele, sinto-a na ponta dos dedos das mãos e minhas pernas, que fraquejam. Não
vou permitir que a realidade de como o Lorran me ve, faça com que eu fraqueje,
estou determinado, e permanecerei até meu filho ser capaz de me ver como pai.
— Não, Lorran, eu sou o seu pai. — A voz embarga e ele franze a testa, como
se fosse estranho pensar em mim assim.
— E mi madre? — noto as lágrimas nos cantos dos olhos dele, nunca falei
da Blanca para o Lorran, e hoje me arrependo disso. O que se passava na cabeça
do meu filho durante todos esses anos? Pensava que não tinha os pais, e que eu era
somente um conhecido que morava com ele?
— Sua mãe morreu quando você ainda era bebê — engasgo com as palavras,
seguro os braços dele e o trago para meu colo — eu sou o seu pai, e a Blanca a sua
mãe, ela te amou desde que descobriu que estava grávida de você.
— Beijo a testa dele quando o Levi começa a chorar. — Não chora anjinho.
— Não tem como, ela foi para o céu — o aperto contra mim — quer ver uma
foto dela?
— Quelo.
— Não, ela virou luz — aliso seus cabelos, percebendo que o brilho que
enxergo ao redor dele se intensifica. — Sempre que você olhar para o céu, vai ver
a luz do dia ou da noite, e saberá que sua mãe olha por você.
Dois anos, lembro a mim mesmo, foram dois anos sendo chamado de Levi,
e não reconhecido como pai. Não posso ter pressa, e deixar que aconteça quando o
Lorran estiver pronto para isso.
Ele faz bico novamente e faço cócegas em sua barriga. O ajudo a escovar os
dentes, e depois dou seu banho.
Louis mexe no celular na sala enquanto dou café ao Lorran, noto como ele
tem andado mais sorridente ultimamente, principalmente quando está com a cara
enfiada no aparelho, e fica de risinhos.
— Minha nossa — cubro os olhos — quase fico cego com sua felicidade
saltando ao seu redor.
— Acho que ela é a mulher certa — encaro o Louis e ele tem uma expressão
decidida.
— O que você quer dizer com isso?
— Lembra quando você me disse que iria se casar com a Blanca, no segundo
dia em que se conheceram?
— Vai fundo.
— Faz cinco meses que estamos juntos, e eu amo aquela mulher — levanta
animado.
— Já se passou todo esse tempo desde que chegamos ao Brasil? Não tinha
percebido.
— Você anda ocupado brigando com Olivia para notar algo ao seu redor.
— Verdade, já tem o quê? Uns três meses, que não a vejo querendo te
assassinar?
— Como assim? — Louis se senta ao meu lado novamente — você saiu com
ela?
— Algo do tipo — não quero falar com ele, por algum motivo estranho, fico
com vergonha de admitir.
— Levi, me conte isso agora — Louis engrossa a voz, o que me faz lembrar
o nosso pai quando dava suas ordens.
— Faz uns meses que a Olivia me levou a uma exposição de arte, sobre
depressão e luto, e como o artista conseguiu superar. Eu já vinha me sentindo
melhor antes disso, e ver como um simples girassol o ajudou a voltar a enxergar o
mundo e querer viver, me fez perceber que eu já tenho o meu girassol, e que se não
cuidar dele, vai se tornar um jardim devastado.
— E a vontade de beber?
— Vocês ainda brigam tanto — Louis suspira — às vezes acho que vou
enlouquecer quando escuto você pedindo ao Lorran para ele fazer algo, e os gritos
começam.
— Lorran não me via como pai — admito — e não sabia que tinha uma mãe.
Não consigo imaginar a dor que causei no meu filho ao longo desses últimos dois
anos.
— Eu disse a ele uma vez que a mãe dele estava no céu — Louis admite com
tristeza — ele deve ter esquecido, ele mal tinha um ano.
— Hoje eu mostrei uma foto da Blanca a ele, acho que vou mandar fazer um
quadro dela, com várias fotos para que ele possa ver a mãe sempre que quiser no
quarto dele.
— É uma ótima ideia.
— Eu espero — suspiro.
A campainha toca e fico intrigado com quem poderia ser, a Olivia não
trabalha aos domingos. Já faz um mês que dei esse dia de folga a ela, consigo me
manter mais estável nos cuidados do Lorran, e decidi que esse seria o meu dia com
o meu filho.
Louis pula do sofá depressa e vai abrir a porta, pelo tamanho do sorriso dele,
imagino que seja a Bianca. Ela entra acompanhada da irmã, Olivia veste um
shortinho desfiado, e uma blusa de magas, colada a suas curvas, com um casaco
leve caído nos ombros. O rosto carregado de maquiagem como nunca a vi usar
antes.
É a primeira vez que observo aquela mulher, ela é linda. Olivia tem peitos
fartos no decote singelo, coxas grossas, e panturrilhas torneadas. Os cabelos presos
em um meio coque, realçando a beleza de seu rosto redondo, e os olhos verdes
parecem duas esmeraldas enfeitando sua face.
— O capeta não pode deixar seus súditos sem a sua presença, ou eles choram
pedindo punição — ela devolve com um sorriso no canto dos lábios.
— Cruzes — Bianca leva a mão ao peito e encara a irmã horrorizada — isso
é jeito de se referir a você mesma, Olivia?
— Maluca — devolvo.
— Vocês não param — Louis ralha — vamos sair logo, quem sabe em
público eles se comportem bem.
— Você que deve se comportar bem — Olivia devolve — ainda não aprovei
seu relacionamento com a minha irmã.
— Olivia! — Bianca fica uns dez tons mais vermelha — para com isso.
— Sua irmã, que deveria ser aprovada por mim — digo a ela que me fita
furiosa — não sei se te quero na minha família — aponto para ela — sua selvagem.
— Fica quieto Levi — ela joga uma almofada em mim e a pego, rindo.
— Zia vivia! — Lorran pula no sofá, e se joga no colo dela — tava cum
saldade! — ele sorri e tenho vontade de me estapear, por o Lorran não ter essa
reação comigo.
— Não sei se posso confiar em você — ela me olha de cima a baixo — vai
que enlouquece e come, a refeição do menino.
O que fiz de errado para merecer esse castigo? Não consigo ter um
relacionamento saudável com um homem sem terminar de coração quebrado, a fila
da adoção nunca anda, e o meu nome não é chamado, consegui dinheiro suficiente
para pagar pela inseminação artificial, e os testes continuam dando negativo.
Já fiz duas tentativas, o médico avisou que isso poderia acontecer. E agora
me encaro diante do meu terceiro fracasso.
Em cada um dos procedimentos, escolhi homens diferentes, para garantir que
pudesse ter uma maior chance de acerto, mas ao contrário do que imaginei, só estou
tendo decepção em cima de decepção.
Qual foi o meu maldito pecado para ser castigada com o desejo ardente de
ser mãe, e nunca conseguir engravidar ou adotar? Se ao menos um desconhecido
filho da puta me engravidasse, mas nem essa maldita sorte eu dou, pois não tenho
coragem de me relacionar com caras que não conheço, e quanto mais espero, mais
o tempo passa, e meu sonho se torna uma realidade nublada de pesadelos.
Ao menos hoje, quero desaparecer e não olhar a luz do sol. É assim que o
Levi se sente? Como ele conseguiu continuar vivo com uma dor como essa,
assolando seu coração e caminhando no mundo sem cor?
Eu devia ter pegado mais leve com ele quando nos conhecemos.
Ele não é má pessoa, só alguém com depressão que precisou de ajuda para
se erguer, e poder formar laços com o filho. Lorran, meu pequeno anjinho de sorriso
lindo, ser a babá dele é uma benção e um tormento, eu o tenho para mim ao mesmo
tempo que não.
Limpo minhas lágrimas e lavo meu rosto, preciso ir trabalhar, e não posso
deixar que minha tristeza interfira na forma como cuido dos meus alunos, todos
eles precisam de atenção e cuidado, e não de alguém com o coração quebrado pelas
sucessivas decepções da vida.
Eu fiz todos os exames, o médico me garantiu que meu útero era saudável e
estava apto a gerar um bebê, então por que eu não consigo? Soluço, a água do
chuveiro se mesclando com o meu choro.
Evito tomar o café para não enjoar mais do que já me sinto, caminho para
fora, e vou para a creche, uso o tempo andando para tentar limpar a minha mente.
Minha poupança foi quase zerada com o tratamento, preciso juntar grana
novamente para poder fazer outro tratamento, e isso vai demorar no mínimo uns
três meses. Ainda tenho contas no cartão para pagar do último tratamento, e não
sei se consigo aguentar mais uma falha, por enquanto, vou focar em colocar a
cabeça no lugar.
Chego na creche, e percebo que estou atrasa, quando vejo a inspetora que
está recebendo meus alunos, e conversando com as mães, avisando que não sabe o
motivo do meu atraso.
— Imagino, ficar o dia todo com essas crianças e depois ser babá — a crítica
em sua voz não me passa despercebida — se eu soubesse que podia te contratar,
teria oferecido antes.
Mordo a bochecha com o sangue fervendo para não ser grosseira com ela. A
Sofia é a mãe de um dos meus alunos, e devo sempre sorrir e ser gentil,
independente das idiotices que falem.
— Eduardo tem uma ótima babá — digo, por fim — ele não precisa dos
meus cuidados.
— Não seja esnobe, Olivia — ela me encara com fúria e arrogância — passe
na minha casa mais tarde e vamos acertar os termos.
— Não percebe que está sendo inconveniente? — Ele continua, não sei como
a Sofia ou a inspetora reagem. Estou focada demais em como meu ventre aperta ao
ver a masculinidade do Levi, a mandíbula travada, os olhos enraivecidos, e as
feições fortes e sexy, enquanto ele me defende.
Ser cuidada, e sentir como se pudesse confiar em alguém e nas atitudes dele,
e que tudo dará certo. O calor que preenche meu peito, e faz meu coração disparar,
ansioso para saber quais serão suas próximas palavras, é resultado de saber que
tem alguém lutando por mim sem que eu peça ajuda?
Como seria me jogar em seus braços e deixar que ele me envolvesse igual
como faz com o Lorran? O pequeno também faria isso por mim, certo? Mordo a
bochecha tentando frear o descontrole emocional que me acomete, estou
fragilizada pelos negativos de hoje de manhã, e imaginando coisa onde não tem.
Pois pensar que Levi possa ter sentimentos por mim, para me defender, abre
brechas no meu coração que não poderia acontecer. Ele ama a esposa falecida, tem
se esforçado para criar vínculos com o filho, e nunca me olhou de outra maneira
que não seja com deboche, raiva, ou diversão, nunca o vi agir com carinho ou
proteção comigo, como nesse segundo.
— Agora entendo o motivo dela ter aceitado ser babá, com um homem como
você por perto — Sofia empina o nariz, e fico envergonhada por ela insinuar que
aceitei o cargo pelo Levi.
— Olivia aceitou ser babá porque o meu filho precisava dela, sua
amargurada. Não sabe nada sobre a minha família, ou a mulher que você quer
ofender, continue falando essas barbáries e irei te processar por insinuar que a
Olivia e eu temos um caso, a desmerecendo.
— Sofia, por favor, não faça comentários desse tipo sobre mim — peço — a
diretora sabe que sou babá do Lorran, e concordou, ela, ao contrário de você, está
ciente da situação da criança.
— A culpa não é sua, pode ir que eu tomo conta das coisas agora — agraço
a ela com um sorriso forçado.
— Isso foi uma cantada? — pergunto em baixa voz, ele me envolve em uma
bolha de calor que alivia a dor em meu peito.
— Uma boa ideia — aceito, e dessa vez preciso conter o sorriso que insiste
em ganhar caminho no meu rosto.
“Casa” soa diferente agora que foi pronunciado pelo Levi com carinho.
— Tchau Levi — Lorran manda beijinho para o pai que retribui e vai embora.
Levi tem costas largas, e uma bunda avantajada. Meu rosto queima por
perceber o quanto esse homem parece atraente, ele tem ganhado peso desde que
passou a malhar com o irmão, e isso cai bem nele. Traz vida a quem, antes, era só
um zumbi. Levi começou a viver, em vez de somente existir, e sou feliz por ele
conseguir isso.
O dia termina, e vou com o Lorran para o SUV preto que nos espera na porta
da creche, lá dentro, Levi está sentado, usando uma calça branca e camisa bege,
noto o relógio prateado no pulso, e o sorriso em seu rosto.
— Pronta para sairmos juntos? — pergunta quando retorno ao carro, após ter
trocado de roupa.
Desgraçado.
Ele não quis dizer isso, noto só pelo jeito que engole em seco, e como seu
olhar desvia para o lado.
— Claro.
Levi
Aquela mulher maluca me tira do sério mais vezes do que sou capaz de
contar, e ainda assim, anseio a encontrar todos os dias de manhã com um sorriso
no rosto para receber o meu filho em seus braços, e depois no apartamento, onde
fica, horas brincando com ele e brigando comigo. Eu gosto das nossas discussões,
de ver como ela fica vermelha, com os olhos em chamas, decidindo se me bate com
as mãos ou com uma panela.
Provocar a Olivia me faz sentir vivo, torna a dor que rasga meu peito pela
morte da Blanca, mais fácil de lidar. O medo não vai embora, e volta a ganhar
espaço na minha mente, quando penso que posso ser o causador de alguma tragédia
para a Olivia, por se envolver comigo.
Meu psicólogo tenta com afinco fazer eu perceber que não tive culpa no
acidente da minha mãe, e no da Blanca, que foi um acaso do destino que elas
tenham morrido.
Não consigo me convencer disso com a facilidade que ele o faz, e gostaria
de comentar sobre, com o Louis, nunca o deixei saber que me sinto culpado pela
morte delas. Ele também perdeu a nossa mãe, posso ouvir sua voz me questionando
como seria minha culpa se eu não estava naquele carro, e não era motivo dela voltar
para casa.
— Oi — atendo.
— Te acordei? — Lira não está bem, percebo pelo seu tom de voz rouco, e o
fungado em seu nariz.
— Pode ser.
Ela desliga, e dou inicio a uma chamada de vídeo, ligo o abajur para que ela
possa me ver, e quando o rosto da Lira aparece do outro lado, eu tenho vontade de
pegar um avião para Los Angeles e poder quebrar a cara de quem machucou a
minha irmã.
Por ser branca e loura, como eu e Louis, Lira quando chora, fica parecendo
um pimentão e quando ela se transforma em um pimentão inchado, significa que
alguém partiu seu coração.
— Você parece tão bem — ela soluça e volta a chorar — eu quero ir para
casa, mas não posso abandonar a filmagem no final, vem ficar comigo Levi?
— Você sempre diz isso. Lira — suspiro, já perdi a conta de quantas vezes
ela se apaixonou à “primeira vista”.
— Não, e o pior de tudo, é que ela é legal — suspira — eles que são
estranhos juntos, parece que estão fazendo aquilo forçado.
— Por que você acha isso?
— A Candice sempre sorri para todo mundo e dá bom dia, traz café, e nunca
reclamou quando a mando repetir a mesma cena 300 mil vezes — funga se
preparando para um novo choro — mas quando ela fica no mesmo ambiente que
ele, é como se a alma da mulher fosse sugada para marte, e dá para perceber que
eles não se suportam, mas ficam se abraçando e se beijando no estúdio.
— O casamento deles pode estar em crise — Lira fica com fúria no olhar.
— Arruma outro homem e faz ele ver vocês juntos. Aposto que deve ter
algum ator bonito querendo pegar a diretora deles.
— Você já fez isso antes. Lira — a lembro — é a sua principal arma para
poder fazer um cara perceber que ele não tem importância na sua vida.
— Desgoste!
— Você fala como se fosse fácil — volto a ver seu rosto — me conta alguma
novidade para me distrair? O Louis não atende o telefone, e você sempre foi ótimo
em me fazer sentir melhor.
Pela próxima hora relato para a Lira como foi o meu envolvimento com a
Olivia, e como a terapia tem me ajudado a entender meus sentimentos, e poder
colocar a cabeça no lugar.
Confesso para ela o medo que sinto de colocar a Olivia em perigo, e que
ainda acho que posso acordar qualquer dia com a dor dominando minha alma
novamente, e me excluindo da vida que construí para mim.
Falo sobre o Lorran, que estou determinado a fazer com que ele me veja
como um pai.
— E é isso — dou de ombros, olho para a janela e vejo o sol nascendo, não
dormi nada, e daqui a pouco vou preparar o café do Lorran.
— Levi você não faz ideia do quanto é bom saber que voltou a viver.
Lira tem os olhos menos inchados, e parou de chorar já tem uns 45 minutos.
— É estranho para mim — admito — eu ainda amo a Blanca, não posso têla,
porque ela morreu, mas não sinto que estou a traindo. Acho que estou aceitando
que ela realmente se foi, e não poderemos mais ficar juntos.
— A Blanca foi uma das pessoas mais legais que conheci — Lira sorri — eu
amava passar as noites conversando com ela e tomando sorvete, enquanto você
estava ocupado no ateliê, desenhando sua próxima coleção.
— Pode dizer.
— A Olivia parece amar muito o Lorran e você gosta dela, talvez essa seja
a chance de você voltar a amar, e do Lorran ter uma mãe. Não estou dizendo que
ele não tenha uma, mas sem a Blanca, ele vai crescer sentindo falta desse carinho
— Lira desvia o olhar da tela — às vezes eu queria que o nosso pai arrumasse uma
madrasta, somente para eu poder ter uma figura feminina para me ajudar na
adolescência. Se eu a tivesse, agora estaria buscando conselhos maternos, ela
saberia o que fazer com aquele filho da puta.
— Pega outro na frente dele — digo e ela gargalha — o pai nunca, escolheria
alguém ruim, deve ser por isso que não se apaixonou de novo.
— Você podia conversar com ele, de um viúvo para o outro, saber o que ele
pensa sobre se relacionar novamente.
— Estou aqui para quando precisar, e Levi — Lira sorri — você não tem
culpa da morte da nossa mãe ou da Blanca, a mamãe estava voltando para casa,
e a Blanca teria ido naquele desfile, com, ou sem você. Se privar de viver uma nova
experiência com a Olivia fará você não viver o amor novamente, e o Lorran
crescer sem uma mãe, dá uma chance para ela, significa uma segunda
oportunidade para vocês dois.
— Você sempre foi assim — ela ri — lembra que ficou um ano pensando em
diversas formas de conquistar a Blanca, ao mesmo tempo, em que achava que ela
iria te dar um pé na bunda diferente, para cada nova ideia que você tinha.
— Eu estava certo em todas, ela massacrou meu coração — é gostoso falar
da Blanca com a Lira.
— Deixe de ser dramático, você tinha uma fama de galinha maior que o
Louis.
— Nossa mãe ficaria decepcionada por como os três filhos dela tinham fama
de galinhas.
— Feito.
Eu já queria fazer isso, vou usar como um pretexto para que a minha irmã
possa superar o babaca que a faz sofrer.
— Venha me visitar.
— Lorran só terá férias daqui a uns meses para podermos viajar, enquanto
isso, venha ficar conosco quando as filmagens acabarem.
— Tchau Lira.
Desligo, e me sinto mais leve, o sono bate e decido dormir um pouco, antes
de acordar o Lorran.
Olivia
— O que vamos fazer? — Lorran fala devagar cada palavra para acertar a
pronúncia.
— É lindo — comento quando nos sentamos, Levi sorri para mim e acomoda
o Lorran antes de se sentar na cadeira de frente.
— Com certeza essa foi uma ótima aposta — sorrio para ele.
— Você tem um ótimo aspecto — sorrio por que acho que é a única coisa de
que consigo fazer no momento — por que me chamou para sair? É realmente sério
o que você disse no carro? — desvio a atenção para o Lorran, que assiste um
desenho no seu Ipad.
— Sim — ele estende uma mão e toca a minha por cima da mesa — eu passei
os últimos dois anos em depressão profunda, e sei que ainda não estou recuperado,
às vezes ainda sinto as trevas tomando conta da minha mente, e quando isso
acontece, eu olho para o Lorran ou para você, e a calma retorna.
Seus dedos acariciam os meus.
— Talvez eu esteja sendo um escroto por usar você para me sentir melhor,
mas eu quero isso, Olivia — seus olhos brilham pela sinceridade em suas palavras
— poder me sentir vivo novamente, e ter sentimentos por outras pessoas, por você.
— Eu sempre amarei a Blanca — me magoa a certeza com que ele diz isso
— ela é a mãe biologia do Lorran e a minha primeira esposa, é a mulher com a
qual eu tive maior envolvimento amoroso e me casei, eu quis uma vida com ela —
tento puxar minha mão e ele não deixa — não nos separamos porque o amor
acabou, ou porque um magoou o outro, ela morreu, e eu continuo aqui.
Uma lágrima escorre pela sua bochecha e ele se apressa em a enxugar com
a mão livre. Minha garganta trava com a vontade de chorar, o amor à primeira vista
não existe para mim, e nenhum outro tipo.
— Você também não é flor que se cheire, e como um maldito viciado que
sou, quero continuar cheirando a flor que me deixa louco de raiva em uma
proporção mais forte do que o voo de um foguete.
Gargalho e ele faz o mesmo, Lorran nos encara rindo, e começa a rir também.
— E garanta que vai me levar ao hospital depois, ainda quero ser o pai do
Lorran.
— Todo esse discurso e você ainda não me ama? — finjo de ofendida e ele
dá de ombros, fazendo uma carinha fofa.
— É mais ódio do que outra coisa, tenho uma veia masoquista bem aqui —
aponta para a cabeça.
— Promete que será sincero comigo, e não vai me rejeitar? Não sei se
aguento outro golpe.
— Eu juro — ele beija meus dedos — vou proteger seu coração, igual a
como você aceita o meu cheio de cicatrizes.
— Vamos pedir?
— Claro.
Ele chama o garçom, e quando o homem se aproxima, eu fico em choque ao
ver Roberto, com a roupa branca e o avental preto, segurando um cardápio, vindo
até nós.
— O-Olivia — gagueja.
— Não sabia que você tinha casado — Roberto encara o Lorran e o Levi,
com um sorriso amarelo no rosto — e teve um filho!
— Sim, senhor.
Roberto vai embora e respiro aliviada por me ver livre de sua presença.
— O que ele fez com você?
— Até agora não, acho que preciso de uma nova musa — seu olhar esquenta,
e meu ventre revira.
— Não sei se conseguiria me concentrar — ele analisa meu busto com fome
— você tem curvas tentadoras para um artista olhar, e não tocar.
— Preto — ele diz com seriedade — como a exposição que vimos, vou
contar uma história através das roupas.
— Não, será raio de sol — puxa minha mão para a beijar novamente.
— Vou ganhar porcentagem por ser sua modelo? — arqueio a sobrancelha,
e ele morde minha pele.
Levi gargalha, e o Lorran acompanha o pai sem entender a piada, ele gosta
de quando rimos.
— Tenho de fazer valer meus dotes — aponto um ombro para ele — quero
ao menos 50%
— Não seja gananciosa, Olivia — ele enxuga o canto dos olhos, e limpa a
boca com o guardanapo.
Levi tem lábios beijáveis, daqueles que quando se olha a distância, eu tenho
o ímpeto de chegar perto do homem, e testar se são realmente macios como eu
imagino.
— Vamos fazer isso com muito cuidado — fica em pé e pega o filho no colo,
estendendo a mão para mim — acho que precisamos de outra babá para o Lorran
— diz em português — quero me aproveitar da dele.
— Você acordou a fera, é sua obrigação saciar a minha fome — ele tem
desejo pungente em seus olhos.
— Como quiser.
— Sei que queremos ir com calma — ele encosta a testa na minha — mas
estou louco para te beijar.
— Então beija.
O solto devagar, encarando seus olhos azuis que brilham como dois
diamantes, eu mordo seu lábio inferior e me afasto um pouco.
Ele me espera entrar, e depois vai embora. Ainda com um sorriso bobo, eu
entro no meu andar, tenho o coração jogado ao chão ao ver a Bianca no chão da
minha porta, dormindo.
Deito Bianca com a cabeça no meu colo, e faço carinho em seus cabelos.
Opto por não contar a Bianca sobre o meu relacionamento com Levi, e deixar
ela acreditar que ainda o detesto.
A Bianca, de coração partido pelo Louis, poderia até ficar feliz por mim e
pelo Levi, mas eu sei que ela ficaria preocupada sobre ter de encontrar o Louis,
quando eu e Levi estivéssemos juntos, ou em jantares de família, e tudo isso partiria
o coração da minha irmã.
Sei que vou estar a enganando ao fazer isso, mas no momento, é o melhor
caminho.
Tenho de pedir ao Levi para manter nossa relação recém iniciada em segredo,
Louis é um babaca de ego gigante, não sei se ele apoiaria o irmão, ou se tentaria
me demitir para evitar ver minha irmã, e ouvir minha opinião sobre essa merda que
aconteceu entre eles.
— Depressivo? Tente mais para implicante, até uma mamadeira que eu faço
para o Lorran ele se mete, dizendo que estou fazendo errado. Juro que estou por
um triz de bater na cabeça dele com um pau.
Ligo para uma ambulância, e a levo ao hospital, lá descubro que minha irmã
está grávida do idiota que partiu seu coração, e a acusou de algo terrível.
Acho que quando se é para ser mãe, acontece fácil assim, Bianca engravidou
enquanto tomava anticoncepcional, e o pai do bebê, e ela, estão separados,
enquanto eu tento de mil formas ter um filho e não consigo.
Sufoco o sentimento ruim em meu peito, devo ser forte e apoiar Bianca, ela
precisa de mim e a colocarei em primeiro lugar, quantas vezes forem necessárias.
Levi
— O Louis é um asno — digo ao meu pai.
— Vai contar a ele do seu envolvimento com a Olivia? — meu pai pergunta.
— Não, deixa ele pensar que ainda a detesto, não quero que fique ressentido
com a Olivia, ou comigo.
— Fico feliz por você encontrar o amor novamente — ele toca meu ombro.
— Não é amor... ainda — decido ser sincero — eu tenho carinho pela Olivia,
e gosto dela, mas não posso afirmar que é um amor, principalmente depois do que
vivi com Blanca.
— Existem vários amores na vida, Levi, o seu e o da Blanca foi épico, digno
de cinema. Sua relação com a Olivia não precisa ser assim, pode ser a calmaria,
conforto, e confiança que ambos precisam.
— Eu tive uma vida ao lado da sua mãe, terminamos porque ela morreu, e
nunca senti que precisava de mais depois que ela se foi. Nenhuma outra mulher me
fez sentir como a Cecília, não sei como será no futuro, tive meus casos de uma
noite ou duas, mas nenhuma me fez querer continuar voando com elas.
— E dos grandes.
Saio do escritório e vou para a sala, onde encontro a Olivia com o Lorran.
— É fácil fingir isso — ela diz entre beijos — você me tira do sério.
— O que eu posso fazer se você não consegue ficar longe de mim? — Morde
meu pescoço, e aquilo causa uma reação direta no meu pau.
— Ai! — ela grita quando bate a cabeça na mesa, e puxo uma almofada para
o meu colo. — Seu idiota — bate na minha coxa.
— Por que me chamou fofinho? — ela pergunta, levantando e indo até ele,
os olhos fervendo de raiva, com certeza serei punido por tê-la jogado.
— Olivia!
— Desalmada!
— Tem certeza de que quer isso? — tem um pouco de dúvida e medo na sua
voz.
— Eu quero você.
— Eu também — ronrona.
Ela demora mais do que o normal, e levanto, no corredor vejo quando a porta
do escritório do Louis é aberta, e Olivia o encara.
Louis parece mais decidido do que quando entrou, deve ter percebido o erro
que cometeu. Ele ignora a Olivia e vai para o quarto dele, ela volta para o sofá e se
senta ao meu lado, colocando o Lorran em cima dela.
Passo um braço ao redor de seus ombros, e cheiro sua cabeça, sei que a
vontade dela era de o xingar muito mais, agradeço por não fazer isso.
Ele também já foi magoado, e tem seus motivos para ser desconfiado quanto
a outras mulheres, mas não podia ter descontado na Bianca as frustrações passadas.
— Por enquanto o Louis tem de tomar uma atitude, foi ele quem magoou a
Bianca, não vou fazer nada enquanto não tiver a certeza de que ele a ama.
— Estou indo para a suíça — Louis passa como um tornado pela sala.
— Viu — digo a ela — desesperado para arrumar a bagunça que ele fez.
— Certo.
A ajudo a levar o Lorran para o quarto dele, e quando fecho a porta atrás de
nós, eu pego a Olivia no colo e calo a sua boca com a minha.
Olivia puxa meus cabelos e rebola o quadril contra minha barriga. Seguro
sua bunda com ambas as mãos, e cambaleio pelo corredor, até chegar ao meu
quarto.
Minhas bolas pesam dentro da cueca, tiro minha camisa com um braço, antes
de baixar as calças e subir em cima dela.
Fico afoito, com as mãos tremendo enquanto tento tirar seu sutiã. Sem
paciência, Olivia segura o feche e o tira, liberando os seios que pulam na minha
cara. Desço o rosto, segurando ambos nas mãos, e os cheiro, com um inspirar
profundo me embriagando pelo aroma sexy dela.
— Vou te comer com minha boca e meu pau — a solto e deslizo o dedo em
sua calcinha molhada — não acorde o Lorran com seus gritos.
— Convencido — geme quando penetro meu dedo em seu calor, com força,
indo o mais fundo que posso nela — nunca me faria gritar — ela diz isso com a
voz entrecortada.
— É o que veremos.
Tiro sua calcinha, e arreganho suas pernas para mim, a bocetinha brilhando,
molhando os pelos ralos em sua pele. Desço o rosto de encontro a sua carne e
abocanho, me deliciando no gosto de seus fluidos.
Mordo seu clitóris, enfiando dois dedos em seu interior, e Olivia tem
solavancos no colchão, movendo o quadril feito louca, fazendo seu clitóris escapar
de meus lábios.
— Deixa de falar e vem logo — agarra a barra da minha cueca e puxa meu
membro para fora, duro feito aço — você é enorme, porra, não vai caber em mim.
— Acho que eu não tenho uma — Olivia parece que vai me matar com um
olhar.
— Fica aí, vou pegar uma do Louis — beijo seus lábios e pulo da cama.
Enrolo uma toalha ao redor do quadril e vou para o quarto do Louis, acho
um pacote na gaveta e volto.
— Me come gostoso que eu gemo — ela abraça meu peitoral, e busca por
minha boca.
Meto meu pau na sua boceta, e sou abraçado pelo calor esmagador da Olivia.
Porra, ela é apertada, e ferve por dentro. Levo uns segundos me acostumando com
seu interior, antes de começar a socar forte, até sentir minhas bolas batendo em sua
bunda.
Meto mais duas vezes, antes de gozar na camisinha e desabar contra seu
corpo.
— Liga para ela, se estiver tudo bem, você fica comigo — passo um braço
por cima de seu estomago e prendo sua perna com a minha.
— Ele vai ficar bem — ele segura meus ombros, me fazendo sentar —
respira Levi — pede. Acompanho seus movimentos de inspirar e expirar por longos
segundos, até me sentir calmo o suficiente.
— O que aconteceu?
— Não sei — aperta os punhos — quando descobrir vou matar o infeliz que
atentou contra a vida do meu filho.
— Ele foi para a Suécia investigar o desvio de dinheiro na VITTILENO, só
pode ter sido a pessoa responsável pelo roubo que tentou o matar. — Concluo. —
Desconfio disso também.
Ele não pode morrer, não agora. Ele estava bem, saudável, amando uma
mulher que o amava, e era maravilhosa, e agora toda essa merda aconteceu.
Vou perder meu irmão mais velho, o único que nunca me abandonou, e
aguentou minha pior fase. O Lorran nunca vai conseguir superar a perda do tio,
isso não pode acontecer.
Não.
Não.
Não.
Alguém me chama, não consigo ouvir o que fala, meu corpo sacode para os
lados, o mundo começa a ficar fora de foco. A respiração falta, e uma dor
insuportável irradia no meu coração. Ponho a mão em cima e arfo, tentando respirar
sem sucesso.
Apago.
Desperto, e a claridade do quarto me incomoda.
— Lira?
— Sim — sua mão alisa meus cabelos, e consigo focar no rosto da minha
irmã, inchado pelo choro — você ficou tão lindo, ganhou peso, e um aspecto de
vida — ela sorri e me abraça forte.
Envolvo o corpo de minha irmã, e inspiro seu cheiro doce de flores, faz muito
tempo que não a vejo.
— O pai me contou que acha que você está finalmente namorando a babá do
Lorran, não ouse mentir — aponta o dedo para mim.
— Quando ele me ligou para falar sobre o atentado que o Louis sofreu, eu
larguei as filmagens e corri para cá. Ele foi ficar com o Louis, enquanto eu cuido
de você.
— Foi tudo bem na cirurgia? — me sinto um pouco lento, e com muita sede.
— Sim, ele não corre perigo, ao menos não hospitalares — me entrega uma
garrafa de água — usaram um sedativo em você para te acalmar.
— Vem cá — ele a chama, e minha irmã se encolhe na cama com ele, sem o
machucar — Bianca?
— Não avisamos a ela filho — meu pai diz — pode ser perigoso envolver a
moça no que vai acontecer daqui em diante.
— O que houve comigo? — Lira sai de perto dele, e tomo o lugar dela,
segurando seu ombro, o fazendo focar em mim.
— Bianca não pode saber disso, você tem de se afastar dela se não quiser
que ela seja pega no fogo cruzado, e acabe morta.
— NÃO! — Esbravejo com ela — você — aponto para o meu pai — sabe a
dor de perder quem você ama, o buraco que fica dentro da gente que nunca será
preenchido, por mais que encontre outro amor — encaro o Louis — EU DARIA
TUDO PARA TER A BLANCA DE VOLTA, EM MEUS BRAÇOS, e você que
diz amar a Bianca, quer mesmo a colocar em perigo e correr o risco de ela morrer?!
Não suporto continuar olhando para o Louis, e saio do quarto, antes de iniciar
uma briga com meu irmão. Como ele pode ser tão idiota? A vida humana não é
como um prato que você quebra e joga os restos no lixo sem se importar, depois
que a pessoa dá o último suspiro, ela nunca mais volta, e quando isso acontece só
resta a dor para os que permanecem.
O pensamento é como uma epifania em meu cérebro, e sei aonde devo ir, e
o que preciso fazer.
— Levi, espera — Lira puxa meu cotovelo — vamos conversar, não faça
besteira.
— Toma cuidado — ela beija minha bochecha e corro para o lado de fora.
Chamo um táxi, pela hora, a Olivia e o Lorran estão na creche ainda, deve
ser o momento do sono da tarde das crianças. Chego ao prédio, e os seguranças
liberam minha entrada após confirmarem que sou o pai do Lorran.
— Se continuar me batendo vai ser preza por agressão — belisco sua barriga,
e ela se encolhe com fúria no olhar.
— O que diabos? — ela me analisa bem, fico parado sorrindo para ela, tenho
vontade de deixar o mundo inteiro perceber o quanto essa mulher me faz bem.
Seguro seu rosto com delicadeza e a trago para perto de mim, beijando sua testa
inúmeras vezes.
— Eu. Quero. Viver. Com. Você — digo cada uma das palavras entre beijos
em sua face.
— Você é um louco que vai custar meu emprego — passa os braços ao redor
do meu pescoço e me abraça — tenho de controlar sua loucura antes que faça uma
besteira.
— Foi um; ... Eu vou caminhar ao seu lado enquanto estivermos vivendo.
A abraço e inspiro seu cheiro de sol e calmaria. Feliz por conseguir chegar
ao topo do poço em que vivi durante os últimos dois anos.
Ao meu filho eu devo muito mais do que beijos e palavras, que ele não
conseguirá compreender.
— Vem me buscar?
— Meu anjo — perco a força nas pernas e caio no chão, segurando o Lorran
forte em meus braços, inspirando seu cheiro de bebê, como pude ficar tanto tempo
o negligenciando? — Eu te amo tanto.
É, acho que ainda vou ter de continuar mostrando que sou o pai dele, até ele
se acostumar a me chamar assim.
Não consegui acreditar quando Levi parou na porta da creche, sem o Lorran,
e disse que deixou o filho com o avô para que ele pudesse ter uma noite de solteiro
comigo!
— Hoje eu posso ser tudo — me puxa para o seu colo dentro do carro.
Agarro seus cabelos e mordo seus lábios me deliciando com o fogo que
consome sua íris.
— Louis sofreu um atentado, como você sabe, e isso me fez gritar com ele
quando insistiu em ir atrás da Bianca. Ele é louco por a querer por perto, sabendo
que tem um alvo em suas costas, enquanto eu brigava com ele, fui percebendo o
valor que temos de dar a vida, e a quem está ao nosso redor.
Seus olhos brilham, e minha garganta trava ao perceber que ele está se
declarando
— Lorran e você tem sido o meu centro nos últimos meses, e eu quero que
continuemos seguindo em frente, nós três — beija minha bochecha — eu amo o
meu filho, e vou ser o pai que ele merece, e você... — Levi me observa como se
não acreditasse que eu sou real — você não é a Blanca, e eu não sinto por você o
que sentia por ela.
Meu coração murcha dentro do peito como se estivesse sendo esmagado por
uma pedra de dez mil toneladas. Tenho ímpeto de sair do seu colo, mas ele me
segura firme, impedindo a minha fuga.
— Não fuja, me deixe terminar de falar — bate na minha bunda, e pulo pelo
susto.
— Fique quieta, estou me abrindo para você — firma meu quadril sobre os
eu — como eu dizia, você não é a Blanca, ela não é você, e eu não sou mais o
Levi que viveu com a Blanca. Aquelas duas pessoas vivem em um passado
de dois anos atrás, e nunca mais poderão encontrar a nós dois no presente.
— Levi faça mais sentido, por favor — peço, minha cabeça começando a dar
nós.
— O que eu quero dizer é; ... O Levi de hoje, quer estar com a Olivia, a
mulher que foi capaz de me ajudar a perceber o quanto eu perdi do mundo me
escondendo na escuridão, e a única que trouxe calor para o meu mundo frio. É
você, e somente você, Olivia, que eu quero para mim. — Ele beija meu nariz, e
forço os olhos a não chorar. — Você me aceita quebrado, amando uma pessoa que
ficou no meu passado de dois anos, e disposto a ter um presente e futuro com você?
— Vamos para uma balada? — ele pede quando enfim solta meus lábios,
olho para fora, e vejo que estamos na frente do meu prédio.
— Não, hoje quero me divertir muito com você — beija meu pescoço.
É um suplício ficar longe dele, quando tudo que eu quero, é me jogar em seu
colo e beijar muito a boca rosa que me encara, mordendo os lábios ao ponto de
ficarem brancos. Chegamos, e corro para meu apartamento. Bianca assiste à tevê
comendo um pote de coxinha, com refrigerante.
— Você não deveria comer isso — a alerto — lembra o que sua nutricionista
falou?
— Sim — as bochechas cheias — é desejo do bebê, não posso fazer nada —
engole mais uma coxinha.
— Sei — vou para o banheiro sem prolongar o assunto, meu italiano espera
por mim do lado de fora.
— Vai para onde? — Bianca pergunta, ela ainda come suas coxinhas.
— Sair com umas amigas — pego o celular, e meu cartão — vai ficar bem
sem mim?
Levi espera dentro do carro, e quando me vê, fico orgulhosa de mim mesma
pela produção que fiz, capaz de deixar um dos homens mais lindos que já vi de
boca aberta, com uma pequena baba escorrendo. Estico a mão e limpo o canto de
seus lábios.
— Por um tempo eu tive, quando minha mãe morreu — seu olhar cai ao
encontro do meu — fiquei três meses sem conseguir andar de carro, e me
locomovendo de metrô ou bicicleta. Com a ajuda da Lira, eu fui me acostumando
novamente ao veículo, mas não consigo dirigir.
— Se um dia você quiser tentar de novo pode me chamar — toco sua mão
— não dirijo regulamente porque não tenho carro, embora seja uma ótima
motorista.
— Obrigado — beija minha palma — você não deveria ter falado sobre ser
boa motorista — morde minha pele, e arrepios cortam minha carne — agora estou
imaginando como seria gostoso te comer dentro desse carro.
O carro para, e sou salva do ataque das mordidas do Levi. Observo que
estamos em um restaurante.
Uma droga não irmos direto para o quarto dele, em público é vergonhoso
ouvir ele falar sobre a minha boceta, mesmo que seja em italiano.
— Por você eu faço tudo — diz em português, e meu ventre contrai com o
sotaque carregado dele.
— Sim — murmuro querendo mais do que nunca um quarto para ficarmos
sozinhos.
— Boa noite — uma moça fala e nos soltamos, Levi ostenta um sorriso lindo
em seu rosto, o imito, deixando de lado a vergonha.
Nunca fui muito de beber, e sei que ele é alcoólatra, e faz de tudo para se
manter sóbrio, só de estarmos em um ambiente como esse, pode ser uma tentação.
— Se você confiar em mim para te ajudar — seguro sua mão — posso ser
sua guia.
— Eu vi que você não bebeu, obrigado por isso — beija minha mão com
carinho — quando sentir que estou pronto para tentar, eu te digo, mas por enquanto,
quero me manter sóbrio por anos.
— Vamos?
— Sim.
Ele quer dançar e lembrar que está vivo, e nada nesse mundo impediria o
Levi de ser feliz essa noite, e fazer o que ele deseja.
Acho que finalmente consegui encontrar o homem que vai me amar e me dar
a família com a qual eu sonho há anos.
Olivia
Chegamos à boate, e o lugar parece ser ótimo, a julgar pela fila de pessoas
que tem, esperando para entrar, as vibrações da música chegam a nós no lado de
fora, e Levi segura a minha mão, me conduzindo com confiança para a entrada.
Seguimos a mulher, que nos leva as escadas e depois a uma sala VIP, com
um barman, uma parede de vidro mostrando a pista de dança, e o palco. Quando a
porta se fecha atrás de nós, a música é interrompida, e tudo fica em silêncio,
observo os sofás vermelhos e a pista de dança, com luzes piscando. Com um aceno
de cabeça, o barman começa a preparar drinks.
— O barman vai preparar nossas bebidas e depois sairá por aquela porta, nos
dando privacidade total.
— Ele espera que você consiga um lugar para ele na empresa — arqueio a
sobrancelha.
— Ela é incrível!
— E você vai, amanhã durante o almoço, agora ela está cuidando do Louis,
e eu estou sendo o irmão irresponsável que só vai gritar com ele por ser idiota.
— Você fez certo — beijo sua testa — não quero o Louis perto da Bianca
agora, ela precisa descansar, e poder se recuperar do coração partido.
— Acho melhor não contarmos que estamos juntos por enquanto, eles podem
ter pensamentos de que quererem usar a gente contra o outro, seja para o bem ou
mal.
Levi gira o quadril, e me joga no sofá, ficando entre minhas pernas. Seu
membro duro na calça pressiona o meu centro com força, e eu vejo pequenas
estrelas, quando suas unhas arranham a pele desnuda de minhas costas, misturada
as mordidas em meu queixo. O quadril empurrando contra o meu, causando uma
fricção deliciosa em meu centro.
— Levi — suspiro o puxando para mim e moendo meu centro contra ele.
Os tremores se espalham por meu corpo cadenciadamente, panturrilhas,
coxas, ventre, braços, até desaguar em minha cabeça. A jogo para trás e deixo Levi
morder a minha pele do jeito que ele quiser, molhando onde passa a língua, e o
ardor delicioso. Prendo seus fios de cabelo com as mãos, e o puxo, precisando que
ele me beije.
O medo de ser pega fazendo sexo evapora quando os dedos dele se enfiam
em meu short, e o frio da ponta de seu dedo toca meu clitóris, me fazendo esquecer
do mundo.
— Geme meu nome Olivia — ele manda e eu obedeço, delirando nos giros
rápidos em minha carne, que me encharca com o estímulo. Luto contra meu quadril
para o manter quieto enquanto Levi continua me torturando com o volume de sua
calça, metendo na minha entrada coberta, e os dedos apertando meu grelinho, como
se fosse uma gelatina.
— Por toda a eternidade — beija minha testa, e mete o dedo fundo em meu
interior, roubando o ar de meus pulmões quando faz isso, e como um gancho, puxa
para fora arranhando minha parede em um lugar perigoso, que me faz ejetar
líquidos loucamente, enquanto gemo quente.
As células entram em ebulição, e todos os meus músculos tensionam quando
sou jogada no orgasmo delicioso. O mundo fica silencioso, e quando relaxo os
músculos eu volto aos poucos para a realidade.
— Posso colocar seu creme no meu drink? — Pede e faz “ploc” ao tirar o
dedo da boca — melhor ingrediente que já provei.
— Eu? Você que gozou gritando meu nome, e nem tirei sua roupa — ele
cheira meu pescoço — vou te comer naquele vidro, sobre todas aquelas pessoas.
— Ninguém poderá nos ver do lado de fora — ele me puxa para seu colo —
e você vai enlouquecer com a sensação de ser vista.
— Tem certeza de que ninguém vai ver a gente? — observo todas aquelas
pessoas do lado de fora, dançando e muitas com o rosto para cima.
— Ele... — fixo o lugar onde ele estava, e realmente não tem ninguém lá,
além dos drinks no balcão.
— Gostou de imaginar que ele estava vendo-me te enlouquecer — Levi me
coloca no chão e vira de frente para os vidros — vamos fazer aquelas pessoas
ouvirem seus gritos? — Ele levanta minha perna, a apoiando na balaustra que fica
na altura do meu joelho.
— Sente-se — ordeno.
Caminho rebolando até o Pole dance, e Levi aperta um controle, que permite
que a música da boate preencha o ambiente. Para a minha sorte toca uma batida
sensual.
Agarro o Pole, ficando de frente para ele e me abaixo, dando uma visão
ampla de minha bunda a ele, e recebendo um tapa em resposta, retorno devagar,
mexendo o quadril aos poucos.
Giro ao redor da barra, a prendo com minhas pernas, e deixo que reparta
meus seios, ficando de frente para o homem, com o pau para fora das calças, ereto
como um tronco batendo em seu umbigo.
Não percebi quando ele ficou pelado, me delicio com a luxúria exalando dele
e batendo no meu corpo.
Ele fica em pé segurando o membro pela base, e vem até mim, com passos
lentos. Sem que ele precise falar, eu abro a boca e recebo sua grossura em meus
lábios. Levi é enorme, e não consigo cobrir nem metade dele, agarro firme o que
não consigo engolir, e coordeno os movimentos de minha cabeça com as mãos,
enquanto o meu homem abre a boca, e deixa gemidos deliciosos escaparem.
Faço como o Levi diz, e seu pau desliza em minha garganta, a ânsia vem
forte, me fazendo engasgar. Levi puxa para fora, limpando a baba no canto de meus
lábios antes de voltar a meter novamente, dessa vez ele desce mais, e juro que vou
vomitar, e, ao mesmo tempo, morrer de tesão com a delícia que é ter esse homem
entrando fundo na minha boca, e gemendo gostoso enquanto faz isso.
— Porra de garganta profunda, aguenta meu gozo amore? — ele pede aquilo
como se estivesse me oferecendo água.
Sou incapaz de falar com sua grossura em minha língua, a mantendo cativa
de seu quadril, e pisco os olhos, molhados pela ânsia, tanto quanto minha vagina,
melada de desejo.
— Ah, Olivia — desliza o polegar em meu rosto, e volta a enfiar seu
cumprimento na minha garganta.
Paro de respirar, sua pélvis bate no meu nariz, e não sei como infernos
consegui o ter todo na minha boca. A garganta completamente dominada, engulo
em seco, desesperada para respirar, e bato em sua coxa o pedindo para sair.
Levi fecha os olhos e puxa o pau despejando seu jato quente e salgado na
minha boca, engulo tudo antes de começar a arfar, querendo vomitar.
— Boa menina — alisa meu rosto e me puxa para cima, beijando as lágrimas
que desceram por minha face. — Engoliu tudinho, como a boa putinha que você é.
— Sim.
— Vou te deixar escolher aonde vou te chupar, contra aquele vidro ou nesse
sofá.
Não preciso analisar as opções, tomada pela luxúria eu sei onde quero ser
devorada. Aponto a janela com a cabeça e Levi me pega no colo como uma pluma.
Ele me deixa escorada contra o vidro, e fica de joelhos, os olhos fixos nos
meus enquanto ele segura minha perna, a colocando em cima de seu ombro, e puxa
minha calcinha em direções opostas rasgando o tecido encharcado.
O rosto desce contra meu centro cheirando minha virilha e intimidade, como
se ele estivesse me comendo com o nariz.
A língua quente, sugando meus líquidos enquanto ele bebe com ferocidade
no olhar. Bato a cabeça no vidro e grito ao ser mordida em diferentes lugares, até
sua boca se aquietar na minha entrada e ele enfiar a língua.
Ele morde minha entrada, e esse é o meu fim, despejo líquidos em sua boca
aberta, que engole em grandes goles tudo que tenho, a oferecer, sugando até mesmo
a minha alma.
Levi se certifica de ter me limpado toda com suas sucções e volta para cima,
metendo o pau dele, deslizando fácil em meu interior.
Ele segura minhas coxas e faz com que circule sua cintura com elas. Sua
boca chega perto da minha, e meu cheiro invade meus sentidos em um beijo,
misturando o sabor de ambos, animalesco, enquanto sou fodida contra o vidro em
investidas fortes e cruéis, de tão prazerosas.
— Olha para trás, Olivia — faço como ele manda — todas essas pessoas lá
embaixo e elas não fazem ideia de como eu estou comendo a boceta mais quente
desse lugar! — Rosna contra minha cabeça, a respiração quente em meu rosto.
— Gosta de ser comida com força? Posso quase sentir seu útero na cabeça
do meu pau.
Levi geme gostoso contra mim, e mete fundo mais uma vez antes de esporrar
no meu interior. Desabo completamente contra seu corpo, e ele cai no chão, me
deixando em cima do seu peito, arfantes, suados, e completamente satisfeitos.
— Não hoje, mas pelo resto dos nossos dias — beija minha cabeça, e sorrio
contra o seu peito.
Suas promessas são tudo o que eu mais quis ouvir de caras errados.
Demorou, chorei e me machuquei, no caminho para encontrar o homem que me
aceita, e que nunca seria capaz de me magoar.
Olivia
— Por favor, Olivia! — Louis continua implorando enquanto eu finjo que
não o escuto.
— Não vai chegar perto da minha irmã enquanto não resolver essa situação!
— Bato a colher de madeira em cima da bancada — tem um maluco querendo te
matar, e você quer ver a Bianca? Nem pensar!
— Eu já disse que amanhã será o fim dele — Louis suspira — vou expor
seus crimes, e em seguida ele será preso.
Não aguento mais o Louis enchendo meu saco declarando o amor dele pela
Bianca, eu entendo que seu coração foi machucado muitas vezes no passado, e tudo
que ele falou, o que me fez ter um pouco mais de empatia pelo italiano arrogante.
Minha irmã já tem passado por uma barra difícil com a gravidez de risco,
devido à pressão alta, e tenho medo de que a qualquer segundo ela passe mal e
perca a bebê, ou algo de pior aconteça com ela.
— Olivia! — ele branda e pisco — já que você não quer me ajudar ainda —
frisa bem a palavra — quero sua opinião em outra coisa, vem comigo rapidinho?
— Não sei quanto ao segundo, mas boa sorte — dou tapinhas em seu ombro.
— E você vai me ajudar — saímos no andar de cima, e vamos para um
apartamento vazio — o que acha daqui?
— Quero morar aqui com a Bianca e construir uma família com ela — noto
como a voz dele assume um tom mais sério — vou falar com seu pai, e fazer tudo
direito, mas você me dá a usa benção?
A Bianca não quer ver o Louis nem pintado de ouro. Grávida, e com pressão
alta, precisando de remédios, a situação piora a cada dia pela dor que ela sente, por
não o ter por perto.
Vou ajudar o Louis a reconquistar Bianca, não por causa dele ou dela, mas
porque ambos estavam vivendo uma história de amor, antes de serem separados.
Assim como não é certo, Levi continuar vivendo no luto, e esquecendo das pessoas
ao redor porque a esposa morreu, o Louis e a Bianca não devem continuar sofrendo
devido a outra pessoa.
— Quando eu sentir que ela está pronta, a trarei até você, enquanto isso,
continue respeitando o tempo que ela precisa.
— Farei isso — Louis pressiona as mãos inquieto — deixa eu cuidar dela
sem ela saber? Posso aumentar seu salário para ajudar na situação financeira de
vocês.
— Faça isso. — Mordo a bochecha, quase deixando escapar que ele vai ter
uma filha, e permanece alheio a essa situação.
Dou meia volta antes de fazer qualquer besteira, e deixo o apartamento que
ele comprou para viver com minha irmã. É isso que homens apaixonados fazem,
planejam um futuro, falam que amam, e querem viver com a pessoa a vida toda,
como o Levi tem feito comigo.
Bianca poderá em breve voltar aos braços do homem que ela ama, enquanto
eu continuo descobrindo meus sentimentos em relação ao Levi, que crescem a cada
dia, quase não cabendo no meu peito.
*****
Levi
— Você não se meta — Olivia aponta o dedo na minha cara.
— Vocês vão brigar muito? — Lira coloca a cabeça na sala e sorri amarelo.
Após finalizar as filmagens, ela decidiu vir ficar um tempo conosco, até
precisar voltar para a organização do novo seriado que o estúdio quer que ela dirija.
Pelo jeito que minha irmã chegou, e na tristeza em seus olhos, suspeito que ela
esteja fugindo do cara que tem enchido seu saco.
— Lorran! — Lira exclama — eu disse para não deixar seu pai e a Olivia te
verem comendo doce antes do jantar.
— Você fez isso? — ralho com ela que se esconde atrás da Olivia, mas nem
imagina que o verdadeiro perigo é a mulher, com fogo nos olhos, e não eu.
— Que num polde — fala baixinho, fazendo bico e mexendo os pés. Tenho
quase vontade de rir, se não fosse pela Olivia com as mãos na cintura o encarando
seria.
Porra, essa mulher fica um tesão quando séria, poderosa, dando ordens e
reclamando. Adoro quando ela me bate durante o sexo, e assume o controle em
nossos jogos de dominação.
Estremeço só de lembrar que ontem ela me bateu com uma régua enquanto
me punia por ser levado, e não a deixado gozar na minha língua.
Eu estou viciado, ensandecido, e louco pela Olivia, de uma forma que nunca
me senti antes. Ela entrou nas minhas veias e seria o inferno viver sem ela ao meu
lado, mandando, risonha, gostosa, carinhosa, um misto de emoções que a tornam a
mulher mais preciosa desse mundo.
Olivia se tornou meu raio de sol, e os poucos, tem ganhado mais e mais
espaço no meu coração. Às vezes penso que estou amando, mas tenho medo de
confundir o sentimento, e acabar magoando a mim, ou a ela.
Ir com calma é a melhor opção para nós dois. Não podemos correr o risco de
nos magoarmos novamente.
— Sim! — Lira fica estática como uma vara, e depois corre para trás de mim.
Seguro sua cintura e a coloco de frente para a Olivia.
— Você gosta mesmo dessa mulher? — ela me pergunta com medo — ela
me apavora.
— Lorran vá guardar o pirulito, e jogue o que você está comendo fora, não
pode quebrar as regras.
Giro a Lira no ar como costumava fazer quando éramos mais novos, e ela
gargalha feliz.
Uma batida alta na porta, e o Louis entra com a Bianca desmaiada em seus
braços. Solto a Lira, e Olivia corre para ver o que aconteceu com a irmã.
— A Bianca não pode sofrer graves estresses, ou isso vai prejudicar o bebê.
Meu irmão fica de joelhos, segurando o peito enquanto tenta respirar. Merda!
Não fazia ideia de que a Bianca escondia uma gravidez, corro até Louis e o apoio,
ajudando que ele sente enquanto processa o que acabou de descobrir.
— Não era meu dever contar — ela fala pressionando as unhas, e vejo o
quanto ela tem ficado aflita em esconder a gravidez da irmã.
— Não ouse levantar a voz para a Olivia — o ameaço — você que partiu o
coração da Bianca, e se a Olivia escolheu não dizer nada, não pode descontar a
raiva que sente de si mesmo nela.
Louis tem os olhos azuis em chamas, ele bate no meu braço e vai para o
— Vou falar com o pai do bebê — o médico diz — pela fúria dele dever ser
o que entrou. Se ele estressar a paciente, eu mando os seguranças o expulsarem.
— Percebi — a puxo para meus braços — é por isso que você ficava ouvindo
as lamentações do Louis, sem querer arrancar a cabeça dele por magoar sua irmã?
— Basicamente, desde o início, eu sabia que eles se amavam, e não era justo
ficarem separados devido a outra pessoa. Queria ter certeza de que a Bianca estava
segura antes de fazer alguma coisa para eles se resolverem.
— Não consigo imaginar o quanto foi difícil para você cuidar da Bianca e
não poder falar nada — beijo a cabeça dela, ficando mais calmo — não acredito
que o Louis vai ser pai.
— Eu quero tudo que pudermos ter juntos, Levi, um dia você vai poder saber
como é trocar uma frauda, mas por enquanto, se contente em fazer o Lorran não
comer doces escondidos.
Rirmos juntos.
Olivia tem razão, perdi anos preciosos com o Lorran. Me lamentar por causa
disso não vai trazer de volta o tempo perdido, somente mais tristeza para nossas
vidas, e nunca mais quero ficar envolto de escuridão.
Minha irmã está a alguns passos de perdoar o Louis, e eu sei que em breve
ele fará a jogada final, que derreterá o coração dela, e os dois poderão voltar a ser
o casal apaixonado que eram, antes de tudo desandar, e eu e o Levi poderemos
assumir que estamos juntos.
Eu não tenho motivos para me sentir mal, tenho ao meu lado um homem que
eu amo, minha irmã tem sido cuidada, e recebido tudo que precisa na gravidez.
Meu pai deixou de ser babaca com a Bianca e comigo, ele se limita a uma
convivência normal, Lorran é meu pequeno fofinho, que eu amo ficar perto, cada
dia mais o quero grudado comigo.
Não existem razões para meu coração ficar me incomodando com uma
dorzinha sempre que vejo Levi mostrando fotos da Blanca ao Lorran, e falando
sobre a mãe dele. Ela é a mãe do Lorran, não deveria me incomodar como a palavra
“mamãe” sai com facilidade de seus lábios, e não deveria me deixar triste, como o
Levi tem se esforçado para fazer Lorran reconhecer somente a Blanca como mãe
dele.
Sou a mulher que o Levi gosta e quer viver junto. E a que vai cuidar do
Lorran enquanto ele cresce, se um dia eu me casar com Levi, seremos uma família,
e Lorran terá irmãos.
Ele poderá considerar meus filhos como irmãos e querer bem a eles? Não
pensará que são crianças tomando o seu lugar, e vivendo o que o pai dele não viveu
com ele, isso nunca acontecerá, certo?
Pensamentos assim tem nublado minha mente nos últimos tempos, e tornado
meu coração pesado. Ontem recebi uma ligação informando que minha situação na
fila de adoção continua a mesma, e outra perguntando se vou querer fazer outro
processo de inseminação artificial.
Eu ainda quero ter filhos, por mim já teria engravidado do Levi, mas exceto
pela vez que ele esqueceu a camisinha na balada, não transamos mais sem o
preservativo.
Seria um indício de que ele talvez não queira filhos comigo, ou não esteja
pronto para ser pai, enquanto constrói a relação com o Lorran?
— Olivia! — Viro o rosto e o vejo deitado do meu lado, com o Lorran entre
nós, percebo estar encarando a página do livro enquanto me perdia em
pensamentos.
— Sim?
— Pode repetir?
Meu marido.
Meu filho.
— Com certeza, ele não perderia o aniversário do Lorran. E pelo que ele me
disse, vai trazer a Bianca para ver como ficou o quarto do bebê.
— Eu sei, podemos pedir para ele levar ela no dia do aniversário do Lorran,
e depois eles vinham cantar os parabéns.
— Ser mãe.
— E você deseja... — travo com medo de perguntar — ser o pai dos meus
filhos?
Fungo com os olhos ardendo, e viro de costas, não conseguindo sustentar seu
olhar afiado.
— Esquece — digo.
— Vamos conversar lá fora — ele pede, e nego com a cabeça, Levi suspira
e puxa as cobertas novamente, ele segura minhas pernas, e minha cabeça, me
levando em seu colo para o lado de fora.
— Eu quero ser mãe — aperto meu punho escondendo o rosto em seu peito
— e posso ter confundido meu trabalho como babá.
— Não acho que seja errado você começar a pensar no Lorran de outra forma
— Levi segura meu queixo e puxa para cima, fecho os olhos firme, acovardada
para o encarar.
— Não posso fazer isso — tento sair de seu colo e sou presa mais forte.
— Claro — sua mão desliza em minha coxa — bem antes de estarmos juntos,
eu via como o Lorran se apegou a você. Não tenho dúvidas de que se eu pedisse
para ele escolher entre mim e você, ele correria para seu colo sem pensar duas
vezes. É você a figura materna que o Lorran tem, não a Blanca, e isso me preocupa,
porque ela teria sido uma mãe incrível, e eu não quero que ele esqueça dela.
— Seja claro quanto ao que você quer me dizer — peço, sentindo meu
coração ganhando esperanças que só poderão me machucar no futuro.
— Deixa o Lorran decidir se quer te chamar de mãe, quando ele fizer isso,
eu vou aceitar com um sorriso no rosto. — Ele hesita, e me preparo para as palavras
que podem partir meu coração — só não o deixe esquecer quem deu à luz a ele.
Lorran pode ter duas mães, e sei que Blanca iria querer alguém amando e cuidando
do filho dela como você faz.
— Não chora meu amor — Levi segura meu rosto, beijando minhas
lágrimas, e o encaro. As feições relaxadas e sem peso, certo da decisão que tomou.
— Você pode pedir para ele te chamar de “mãe”, mas deixa só ele conhecer mais
um pouquinho da Blanca?
Eu o amo.
— Você já é incrível com o Lorran, e sei que será uma mãe ainda melhor —
beija meu nariz e meus lábios, engolindo meu choro — só pega leve no doce ou
ele vai te odiar.
— V-você..., a-acha?
— Com certeza, já viu o bico que ele faz quando você tira um doce dele?
— Ele vai superar isso — digo rindo, mais do que chorando, e Levi me beija
com intensidade, a língua preenchendo minha boca e dançando com a minha. Sua
mão desce por minha coxa, subindo e descendo, em um carinho gostoso, finalizo
o beijo com um selinho e descanso a cabeça em seu ombro.
— Desde que nos conhecemos eu sei que você quer ser mãe — ele alisa meus
cabelos — fiquei com medo de que estivesse ressentida comigo por não tentar te
engravidar ainda.
— Confesso que pensei a respeito.
— Não consigo acreditar que você me quer como pai dos seus filhos — Levi
me enche de beijos fazendo cócegas em minha barriga.
— Certo.
Eu poderia ter falado antes para o Levi como me sentia, e tirado o peso das
costas que tem me enchido de preocupações.
Não tem mais hesitação em meu coração, Levi é o homem que será meu
marido e pai dos meus filhos, e quando Lorran estiver pronto, serei quem ele
chamará de mãe.
Levi
Lorran fica de boca aberta quando vê os macacos no zoológico, brincando
de pular de um galho para o outro, e interagindo entre eles.
Eu tenho feito tudo que pude para conseguir sorrir hoje e aproveitar o dia
com o meu filho e a Olivia.
Sempre a visitei em seu ano de morte, e pensar em não o fazer dessa vez,
abre um buraco enorme em meu peito.
Reunimos a família hoje, Olivia, meu pai. Lira, e o Louis, que disse que
poderia ficar um pouco, antes de ir buscar a Bianca para ficarem juntos e descerem
para a festa de aniversário do Lorran.
Ele já mostrou o apartamento a ela, e conseguiu permissão do médico para
ela vir para a festa, passará só uma hora, e depois voltará ao hospital.
Meu irmão está feliz com a mulher que ama, e vão se casar após o nascimento
do bebê.
Eu tenho meu filho em meus braços, que finalmente me chama de pai mais
do que de Levi, pulando feliz ao ver os animais no zoológico.
A Lira parou de chorar pelo vacilão que a fez sofrer, e voltou a sorrir, e tem
sido uma ótima amiga para a Olivia.
Meu pai se aposentou, e tem vivido feliz, passando todas as tardes para
brincar com o Lorran e babar a Bianca, esperando a netinha dele nascer.
Há uns dias, prometi a Olivia que seria o pai dos filhos dela, e que o Lorran
poderá a chamar de mãe. A única pessoa que ele deveria chamar assim, morreu, e
em breve fará 3 anos da partida dela, ele nunca saberá o que é ser segurado pelos
braços calorosos da Blanca, ver o sorriso dela, que trazia vida ao mundo, sentir o
cheiro doce de sua pele.
Lorran nunca foi segurado pela mãe, e agora eu penso em colocar outra no
lugar dela? Como pude me deixar viver nessa mentira, e arrastar todas essas
pessoas comigo.
— Vem com o nonno Lorran — ele se joga nos braços do meu pai que o leva
para perto das girafas.
— Quer conversar? — Olivia pergunta baixinho, nos separando do grupo.
— Não tem nada acontecendo — evito a encarar, sei que vou achar seu olhar
cheio de amor por um homem que não merece.
— O dia, de hoje, é difícil para você — não é uma pergunta, ela passa os
braços ao redor do meu pescoço, e tenho vontade de a afastar — tudo bem sentir a
falta dela e querer que ela estivesse aqui.
— Não volte para o passado, Levi — ela pede com a voz embargada — você
precisa continuar vivendo no presente, comigo e com o Lorran, somos sua família
agora, lembra?
Não posso a culpar por pensar assim, foi, eu que dei essas esperanças, e agora
queria poder retirar todas elas, e fazer com que a Olivia nunca tivesse se
apaixonado por mim.
Para ela não ter de sofrer com os dias sombrios que povoam minha mente e
escurecem meu coração, não deixando espaço para ela ficar nele.
— Certo.
O que eu preciso é beber e esquecer que a merda desse mundo existe, e que
a Blanca se transformou em cinzas no jazido de sua família na Itália.
Eu nunca mais a verei, e passarei o dia da sua morte longe dela, é esse o tipo
de ser humano desprezível que me tornei, alguém que abandona quem ele ama, e
coloca outra pessoa no lugar.
— O quê?
— Não joga fora tudo o que você conquistou nesse último ano. Eu sei o
quanto você fica deprimido e irritado nas semanas que antecedem a data do
aniversário da morte da Blanca, mas não faz isso com você e com a Olivia.
— Mas querem ter — Louis cutuca meu peito — você voltou a viver, e não
é errado, pode sorrir e comemorar o aniversário do seu filho com a mulher que
você gosta. A Blanca nunca te julgaria por isso, não se torture.
— O Louis tem razão — A voz da Lira surge por trás do meu irmão — eu e
a Blanca éramos amigas, e eu também perdi alguém que amava naquele dia — Lira
passo os braços ao redor da minha cintura — ela te amou por cada segundo em que
respirou. E eu tenho certeza, de que se ela te visse agora, puxaria o seu cabelo e
mandaria você deixar de ser idiota, por estar perdendo o aniversário do Lorran.
— Você não está sozinho, irmão — Louis segura meu ombro — se quiser,
podemos ficar conversando a noite, depois da festa.
— Eu posso ficar com você — Lira sobe à cabeça encontrando meu olhar —
vamos fazer uma festa do pijama, e mandar a tristeza embora.
— Sempre vou ser infantil perto de vocês dois — ela se estica e beija minha
bochecha. — Seja sincero sobre seus sentimentos com a Olivia, ela vai entender, e
evitará discussão futura entre vocês por isso.
— Seja capaz — Louis me encara — de fazer aquela mulher feliz, e você vai
ser merecedor.
— Você tem de ver os tilgles papai — ele encosta a testa na minha, falando
concentrado.
— Não acredito que tem tigres aqui — forço a voz a parecer espantada.
— Bora.
Aperto os punhos, e encaro a Olivia, ela respeita meu silêncio, embora seu
rosto grite mil perguntas. Hoje eu fui um completo idiota com ela e com meu filho,
jogado em dores do passado que perturbam a minha mente e me fazem esquecer
do que realmente é importante, o presente.
Ajudou poder conversar com meus irmãos, e pelo resto do dia no zoológico
eu foco em manter Lorran feliz, conversando sobre os animais, e em fazer a Olivia
não se sentir deixada de lado. A ruga em sua testa não desaparece quando
chegamos, em casa, mas ela relaxa quando sorrio.
O que se passa pela cabeça dela ao ver a irmã mais nova gravida e de
casamento marcado, enquanto eu não estou pronto para construir a família que ela
precisa.
— Você tá enolme — ele olha abismado para a barriga dela, e dou risada
pela primeira vez no dia.
Meus olhos são atraídos pela Olivia no canto, perto do sofá, olhando a irmã
com um desejo enorme de ser ela a pessoa grávida com quem o Lorran conversa,
querendo que o bebê nasça para brincar com ele.
Pode ser a escuridão falando mais alto hoje, mas nesse segundo, eu decido;
... Não posso continuar com a Olivia e a fazendo mal, ela merece alguém completo,
e não um despedaçado como eu.
— Vamos cantar os parabéns! — Meu pai entra na sala com o bolo e a vela
acesa, Lorran fica em pé, e todos iniciamos a cantiga.
— Para o papai.
A garganta trava e os olhos ardem, como ele consegue amar alguém como
eu? Seguro o prato com as mãos tremendo, e abraço o corpinho pequeno do meu
filho, inspirando seu cheiro e buscando forças para continuar em frente, e poder
voltar a ser feliz como nos últimos dias.
Não quero perder a felicidade que conquistei, mas se as coisas não mudarem,
só terei um destino a seguir.
Olivia
Cecilia Eduarda, o nome é uma homenagem à mãe do Louis, Cecilia, e a
minha mãe, Eduarda.
Ele ainda se sentia bem quando fez as pinturas na parede, e mentiu para o
Louis, falando que eu o tinha desafiado dizendo que ele não conseguiria.
Parte meu coração ver como ele perdeu o brilho e a cor que ganhou nos
últimos dias.
É difícil fazer ele sair da cama e ir para a terapia, Louis que tem se
preocupado com a noiva e a filha, não consegue cuidar do irmão direito, e tem
atingido outro nível de cansaço.
Resta somente a mim, Lorran, e ao Enrico, pai dele, para cuidarmos do Levi,
e o fazer ao menos se alimentar. Quando ele quis se ajudar e sair do fundo do poço,
Levi conseguiu sozinho, mas agora ele se entregou a dor por achar que merece
sofrer pela Blanca estar morta e ele vivo.
É errado e injusto, ele parou de viver e ficar com as pessoas que ele se
importa, para retornar ao passado.
Fico louca querendo fazer algo para o ajudar, e não consigo pensar em nada.
Ele me expulsou, eu bato com uma marreta em suas paredes e não consigo
causar rachaduras. Se ele me amasse, eu deveria ser suficiente, capaz de colocar
sorrisos em seu rosto machucado, Lorran é o único que quando fala, Levi escuta,
ele ama o filho e quando amamos, fazemos de tudo por aquela pessoa.
Não é certo eu achar injusto minha irmã ter se tornado mãe antes de mim.
Bianca nunca quis isso, tinha medo de ser uma mãe ruim, e agora aqui está ela,
conquistando tudo o que eu sempre quis e abdiquei para cuidar dela.
Não tive infância, vivia ocupada cuidando da casa e da Bianca, brigando com
meu pai, não pude viver minha adolescência, sempre preocupada com o bullying
que a Bianca sofria. Minha vida adulta passa diante dos meus olhos enquanto a
dela desabrocha em um mar de realizações.
Fui eu que escolhi abdicar de tudo por ela, deveria me sentir feliz e realizada
por conseguir fazer isso direito. A inveja rasga meu peito junto da incerteza sobre
Levi.
Não poderei ser a mãe do Lorran, com a sombra da Blanca pairando em sua
cabeça, e no dia que Levi terminar comigo, e não gostar da minha presença
cuidando de seu filho, eu serei descartada como um pedaço de papel velho.
Eu quero tanto uma família, ser amada e amar na mesma intensidade. Por
que a vida é tão injusta comigo e me impede de ter o que anseio? Coloca um homem
quebrado no meu caminho que me deu esperanças de que tinha encontrado tudo o
que eu sempre quis, só para arrancar meu sonho de meus braços e aumentar a ferida
em meu coração.
— Quando quiser falar estarei aqui para ouvir — Bianca segura minha mão
e sorri para mim.
Ela alisa meus cabelos, e sinto as pernas de minha sobrinha, sendo apoiadas
na minha cabeça, para minha irmã conseguir me dar conforto.
Nunca procurei o colo dela, teria sido mais fácil se eu tivesse dividido as
responsabilidades com a Bianca, ao invés de abraçar a todas?
— Você foi bem Olivia — Bianca tem a fala macia. — Conseguiu me criar
direito, e eu sou grata por tudo o que você abdicou por mim. Quando nossa mãe
morreu, eu ainda era muito pequena e tenho poucas lembranças com ela. Nunca
vou me esquecer de quando acordei na manhã seguinte ao falecimento dela, e te vi
na cozinha, passando manteiga em seu dedo por que tinha se queimado fazendo
um ovo para eu poder comer.
— Estava horrível e queimado — digo soluçando.
— Foi o ovo mais gostoso que provei na minha vida, ele foi feito pela irmã
que sufocou a dor dela, para poder cuidar da minha. Você sempre fez isso, esteve
lá, lutando todas as minhas batalhas enquanto eu te assistia, esquecendo de cuidar
de si mesma. Hoje eu estou feliz, e tenho a minha família, uma filha que eu amo,
e um noivo que sou loucamente apaixonada.
— Tenho orgulho de você — beijo sua perna, usando sua pele para limpar o
molhado do meu rosto.
— E eu de você, e me parte te ver triste dessa forma pelo Levi, não adianta
esconder, eu já percebi que você gosta dele, e ele de você. Mas Levi tem dores
profundas, e não sei se você conseguirá alcançá-lo. Não se sufoque mais por outra
pessoa, Olivia, ou você vai acabar morrendo por dentro.
É assim que eu me sinto, morrendo por dentro, quando o vejo sofrendo por
outra que ele amou com a própria vida, enquanto eu continuo batendo com uma
marreta na porta dele, sem conseguir causar impactos.
— Vai, sim, você esteve radiante nos últimos meses, e fez o que pode para
esconder de mim e não me magoar. Mas eu nunca ficaria triste por você ser feliz,
te ver alegre e com os olhos brilhando, me deu forças para continuar em frente.
Agora a única coisa que eu preciso de você, é que possa cuidar de si mesma e sorrir
novamente, você pode ser feliz Olivia. Não se prenda mais a dor de outra pessoa.
Bianca começa a chorar e ela se mexe na cama. Seus braços puxam os meus
para cima, e encaro o rosto banhado da minha irmã. Cecilia foi colocada nos
travesseiros ao lado dela. Bianca alisa minhas bochechas e beija a minha testa.
— Não aguento mais ver o quanto você sofre sem conseguir fazer nada, se
eu pudesse surrar o Levi até ele acordar para a vida. Não sei qual será a sua escolha,
mas eu vou te apoiar incondicionalmente no que decidir. Não abandone seu sonho,
ou o coloque em espera, por ninguém, pela primeira vez viva a sua vida, Olivia.
Abraço Bianca e deságuo a dor do meu peito no colo dela. Minha irmãzinha
tem razão, eu nunca vivi para mim mesma. Deixei Levi entrar, acreditando que
com ele seria diferente, suas palavras, ações, desde o início eu sabia que ele sofria
por outra pessoa, e que seria difícil ter espaço em sua vida para mim.
Ele sabe que estou aqui por ele e escolheu não me deixar entrar. Agora eu
vou ter de escolher a mim mesma.
Meu coração será partido de uma forma, ou de outra, ao menos dessa vez eu
vou me permitir escolher como acontecerá.
Fico com a Bianca pelo resto da tarde, e quando Louis retorna, carregando o
Lorran dormindo no colo, eu pego meu pequeno fofinho e o levo para a sua casa.
O ambiente frio nos recebe em meio a escuridão, e lembro de quando fui
com Levi a exposição no museu, quando se abriu para mim sobre a dor em seu
coração.
Meu instinto grita que preciso dar mais uma chance a ele, e meu coração
magoado se prepara para mais uma rejeição. Quando estava com a minha irmã eu
me convenci de que conseguiria cuidar e me priorizar. E aqui, eu queimo querendo
fazer isso por ele.
Deixo Lorran em seu quarto e respiro fundo, vou tentar somente mais uma
vez, se o Levi me expulsar, eu vou embora da sua vida e voltarei a ficar sozinha,
lutando para ter um filho.
Caminho pelo corredor e bato na porta dele, baixinho, acho que ele não vai
ouvir. Bato com mais intensidade e pouco tempo depois ela se abre. O homem que
eu amo tem os olhos vermelhos, o peito desnudo, e os lábios inchados como se
tivesse passado horas mastigando a pele.
— Entra.
Só uma última vez. — Sussurro para mim como uma viciada prestes a usar
drogas após decidir que iria parar.
— Você não está pronto para nós, Levi — soluço, a dor irradiando por meu
corpo como um veneno.
— Eu quero estar — ele beija meu pescoço — quero ficar com você, e voltar
aos dias em que estar junto não causava dor.
— Você nunca fez isso, eu que sou a fonte da dor — ele beija minhas
lágrimas. — Deixa eu tentar acertar as coisas, só mais uma vez? Por favor.
— Eu sei — encosta os lábios nos meus — eu também quero ser feliz, Olivia.
— Por favor, não faz isso comigo, eu não aguento mais ser insuficiente.
Levi me beija pela primeira vez em semanas, tristeza espalha do seu corpo
para o meu a cada toque. Ele desliza as mãos para baixo, tirando minha roupa, e eu
deixo, ao menos mais uma vez eu quero me sentir amada como nos últimos meses.
Entrego meu corpo a ele sem reservas, arranho suas costas quando ele me
preenche sem o preservativo, o sentindo inteiro dentro de mim. Suspiro em seus
lábios, o beijo, desesperada, sabendo que essa é uma transa de despedida.
Não existe mais espaço para mim em sua dor, e não posso continuar
abdicando de meus sonhos por ele. Nunca mais colocarei a mim em segundo plano.
Quando terminamos, Levi não me deixa ir embora, e agarra meu corpo com
força, adormeço em seus braços com as lágrimas caindo, e o coração desfeito.
Olivia
Entro na clínica com as pernas bambas de ansiedade. Vou fazer novamente
outra inseminação artificial.
Nos últimos três dias eu senti que Levi estava se despedindo de mim, e que
não poderíamos ter um futuro juntos.
Não é comigo que ele quer estar, não são pelos meus beijos que ele procura,
e todo o fogo que queimava entre nós dois se dissipou, como o vento, ao bater em
uma parede.
Vou continuar tentando engravidar sozinha, e quando tiver meu bebê em meu
ventre, a dor vai amenizar, não tem como o sofrimento durar para sempre e se
prolongar, transformando os meus dias felizes em uma bolha de sofrimento.
Vou romper sozinha essa barreira e serei feliz, custe o que custar.
— Senhorita Olivia Baptista? — A recepcionista me chama — pode ir fazer
o teste de gravidez agora. — Ela aponta a sala ao lado. — Depois o doutor te
atenderá.
— Certo.
Eu não engravidei, tenho certeza disso, mas antes dos procedimentos preciso
fazer o teste, principalmente por ter uma vida sexualmente ativa.
— Nada de diferente — não quero mentir, ao menos com ele, anseio ser
sincera.
— Faz tempo que você não vem aqui, as coisas com o namorado estão indo
bem?
— Não muito — dou de ombros — ele foi casado, e quando a esposa morreu
entrou em depressão. Esses últimos dias tem sido difícil, e percebi que não tem
lugar para mim no coração dele.
— Estou aqui para ser a sua ajuda — ele segura minha mão — vamos ver o
resultado do teste, e depois damos início ao procedimento.
— Não mais — suspiro — enquanto ele não largar o fantasma da esposa, ele
nunca me dará uma chance.
— Olivia, preciso que você me ouça com atenção agora — ele se levanta e
se senta na cadeira ao meu lado — você é uma moça adorável, e será uma mãe
fantástica, sortudo é o Lorran por ter você com ele. Independente do seu namorado
não querer mais você perto do menino, sei que conseguirá um jeito de ficar com
ele.
— O tio dele pode fazer isso, acho que o Louis não teria coragem de me
afastar do Lorran.
— Como assim? — fico assustada, ele não pode tirar isso de mim.
— Sim, parabéns.
Vou ter um bebê! Um filho para amar e ser amada, ninguém poderá tirar ele
de mim, e nunca mais estarei sozinha. Meu maior sonho se tornou realidade e
ninguém poderá apagar a felicidade que estou sentindo.
— E você a mãe, não deixe o momento perder o brilho por causa desse
homem, você finalmente conseguiu!
Eu realizei meu maior sonho, e não vou deixar a tristeza pelo meu
relacionamento ofuscar esse momento.
Levo a mão ao ventre e baixo a cabeça, encarando minha barriga lisa que em
breve ficará enorme.
— Acha que é uma menina? — ele pergunta brincalhão. — Mal soube que
será mãe e já previu o sexo.
Sorrio.
****
Levi
— Quelo um tilgle papai. — Lorran pede.
Hoje é o dia em que a Blanca morreu e tenho me agarrado ao Lorran como
um bote salva-vidas, para não correr para o bar e beber até apagar, e esquecer o
meu nome.
Tenho feito mal a ele com o meu afastamento e magoado a Olivia. Apesar de
ela não ter terminado comigo, eu sinto que a afastei e coloquei uma barreira entre
nós.
Sou um lixo que a usou todas as noites para não ficar sozinho, sentindo a
falta da Blanca, e que tem feito amor com ela buscando por outra pessoa.
A Olivia não é idiota, ela percebeu que faço isso, e tem deixado, não entendo
como ela pode aguentar um merda como eu sem me mandar embora.
Nossa relação está por um fio e a culpa é inteiramente minha. Não sei como
consertar o que se quebrou dentro de mim e na nossa relação. A única coisa que
consigo fazer, é pintar o quarto do Lorran com os animais que ele tem me pedido,
e rezar para que a Olivia tenha a coragem de ir embora.
Sou um fraco idiota, incapaz de a afastar por precisar dela ao meu lado, me
fazendo esquecer a dor da perda.
Não é justo com ela, não é certo fazer isso comigo. Antes dos dias sombrios
chegarem, eu estava com ela e me sentia bem, nunca pensei em a ter usado como
uma substituta, ela é o meu raio de sol, que perde a luz devido à minha escuridão.
Eu tenho ciência das merdas que estou fazendo e não consigo impedir.
Continuo a procurar como um maldito viciado, enquanto rezo para que ela me
deixe e pare de machucar a si mesma com esperanças de que um dia eu vá mudar.
Não tem como eu ser diferente do que sou agora, Blanca deixou um vazio
dentro do meu peito que nunca será preenchido, e quando o vazio doer, eu não
poderei fazer nada além de me entregar a ele, deixando que consuma toda a
felicidade que eu não sou digno de receber.
— Se ficar grande demais, os outros animais vão ter medo dele — digo, sem
coragem de apagar e fazer outro.
— Você não fez nada — rio e ele passa a mão na testa enxugando um falso
suor.
Erro a tromba do elefante cinco vezes. Irritado, jogo o lápis no chão e saio
do quarto, vou para a cozinha e paro na porta quando vejo o Lorran em cima do
balcão e a Olivia esfregando o nariz no dele enquanto riem juntos.
Aperto os punhos com raiva do que vejo. Ela não tem o direito de se infiltrar
na vida do Lorran e o tratar com o carinho de uma mãe.
Os olhos dela nublam, trinca o queixo para que eu não perceba a tremedeira
que se espalha pelo seu corpo.
— A mãe do Lorran morreu há três anos, hoje é o dia mais triste da minha
vida, e só quero passar ele com o meu filho e tentando não morrer de tanta dor —
me aproximo dela com raiva na voz — não ouse pensar que você pode roubar o
Lorran de mim ou da Blanca. Você é a babá, nada mais!
— Vou embora. — Ela fala em um fio de voz e sai sem olhar para trás.
Eu destruí seu coração, quem sabe agora ela perceba que não sou o certo para
ela e se mantenha distante. Ninguém vai roubar o Lorran de mim novamente, ou
apagar a imagem da Blanca.
Volto para o quarto e o Lorran tem as mãos cheias de tinta passando elas nas
paredes.
— Patinha dos bilcinhos — noto que ele só marcou na parte em que fica a
pata dos animais.
A Olivia foi embora, a afastei antes de tornar sua vida um inferno pior por
continuar comigo. Eu só preciso do meu filho para sobreviver ao hoje, e nada
mudará isso.
Ela pode ser feliz sem mim em sua vida.
Olivia
Cada célula, músculo e articulação do meu corpo dói.
Enquanto me afogava na dor, decidi que não irei contar a ele sobre o bebê,
esse filho é somente meu, e quando perguntarem, eu digo que a inseminação
artificial deu certo.
Eu fui jogada na lama como um rato morto, alguém que não adianta lutar ou
ficar ao lado.
Desprezada.
Rejeitada.
Sem amor.
Me dedicando mais do que recebo em troca.
Essa foi a história da minha vida, por que acreditei que seria diferente com
Levi? Logo ele, um homem depressivo, marcado por um grande amor.
Fui uma idiota pôr o deixar entrar no meu coração, por ter esperanças e me
iludido. Não posso culpar a ninguém além de mim, os sinais de que acabaríamos
assim sempre estiveram ali, eu só me recusei a ver.
A Bianca vai casar-se daqui a umas semanas, ela conseguiu tudo o que eu
sempre sonhei.
Um homem a amando.
Um casamento.
Um filho.
E eu recebi mais uma vez a rejeição e o desprezo, palavras cruéis ditas por
lábios que fingiram gostar de mim, e me usaram. Não tem mais volta, o Levi nunca
me amou, e não amara o nosso filho.
Meu bebê não vai saber o que é ser odiada, se sentir insuficiente e sozinha,
eu vou cuidar dela, serei uma mãe perfeita, e nunca a deixarei sentir a falta de um
pai na sua vida. Eu serei suficiente.
Meu fofinho.
Faz sete dias que não vejo Lorran, e a saudade vinha comprimindo meus
pulmões, chegando a ficar difícil respirar, sem pensar nele e no quanto o queria
comigo.
As palavras do Levi foram um aviso claro; ... Eu não sou a mãe dele e não
tenho o direito de ficar perto.
Levi não me encara e desvia o olhar para o lado oposto. Lorran estica os
braços e o pego no colo, inspirando seu cheirinho de bebê que aquece meu coração
magoado. Entro e fecho a porta, não quero ver o pai dele.
— Com certeza fofinho — vou com o Lorran para a cama e deito com ele ao
meu lado, tenho medo de ficar o segurando com a bebê em meu ventre.
— Vamos pla casa? — Ele alisa meus cabelos e beijo sua mãozinha.
— Sì, senti sua falta zia vivia — ele se agarra ao meu pescoço. — Num deixa
eu.
— Amo a zia vivia — ele aperta mais meu pescoço, escondendo a cabeça,
tentando se fundir a mim.
Nem que eu tenha de tirar o Lorran do Levi, nunca mais cometerei o erro de
pensar em ficar longe dele.
— Polmete?
— Não! — O ignoro — Lorran vai dormir aqui, depois eu ligo para o Louis
vir buscá-lo, pode ir embora.
— Eu tenho de falar com você Olivia — ele fala com pesar na voz, não o
encaro. Ele não tem o direito de partir meu coração quando está depressivo,
e depois vir com o rabo entre as pernas tentando me fazer voltar com ele.
— Saia da minha casa. — O encaro com fúria, e opto por falar em português
para o Lorran não entender.
Levi não tem a expressão de quem quer pedir desculpas ou qualquer merda
que justifique seus atos. Todos que me magoaram nunca me pediram perdão, ou
voltaram, atrás, ele não será diferente, eu que serei.
— Então seja esperto, e não tente me irritar, agora saia. — Não o deixo
terminar de falar suas mentiras, ficar perto do Levi arde em meu coração.
— Eu vou para a Itália, vim deixar o Lorran para passar uns dias com você.
— Fuja o quanto quiser.
Ele deixa uma mala ao pé da porta, e depois vem até o Lorran, que estende
os braços para o pai e beija a bochecha dele, enquanto se despedem. Levi diz que
passara somente uma semana fora, e pede ao Lorran para se comportar, reviro os
olhos sem acreditar em como ele pode ser frio após partir meu coração.
— Papai sentiu sua falta — Lorran se esforça para falar correto, depois que
o pai vai embora.
— Eu vi — ele sobe no meu colo e deita a cabeça em meu peito — ele ficava
olando sua foto dileto, e clolava.
****
— Você sabe o motivo dele ter ido a Itália? — Louis diz quando entrego um
Lorran dorminhoco em seus braços.
— Não defenda seu irmão, ir para outro continente depois do que ele fez não
vai mudar nada. Levi escolheu dizer cada uma das palavras que me magoaram, e
nada mudará isso.
Amanhã o verei e serei obrigada a ficar na mesma casa que ele durante os
preparativos, o casamento e os dias seguintes a festa acontecerem.
Não serei boba novamente, por mais que eu ainda o ame e sofra com a
distância, ninguém pisará em mim.
Embarcamos sem dificuldade, e fico com o Lorran ao meu lado, ele se estica
direto para ver a prima no colo da Bianca, e eu tenho esperança de que um dia ele
tenha a mesma felicidade para brincar com a irmãzinha dele, que cresce em meu
ventre.
O Lorran não tem culpa de nada, e consigo imaginar o quanto ele seria um
irmão maravilhoso e apaixonado.
Pelo Lorran eu escolho contar a verdade sobre a paternidade da minha filha,
somente quando eu me sentir forte para aceitar que terei de conviver com Levi
como pai dela, sem sermos um casal. Lorran não merece pagar, novamente, pelas
idiotices do pai.
E sendo a mãe da irmã dele, talvez Lorran possa me ver como a mãe dele
também.
Meu pequeno fofinho criou raízes poderosas em meu coração, quero ser a
mãe dele, independe de ter uma filha gerada no meu ventre.
Levi
Dias antes
Já faz três dias que terminei com a Olivia e não tenho notícias dela. Acabou,
não a faço sofrer o luto que me atormenta. Não traio mais a Blanca colocando outra
em seu lugar e impedindo que o Lorran reconheça quem é a única e verdadeira mãe
dele. Envolver com outra pessoa foi um erro e um pecado, nunca poderei pedir
perdão o suficiente a nenhuma das duas reparando o erro cometido.
Quero que meu filho entenda que não podemos mais continuar com a Olivia
em nossas vidas. A raiva com a qual ele joga os talhes no chão e grita a plenos
pulmões pedindo pela Olivia reforça o que eu já sabia: o Lorran se apegou a ela
como um filho a sua mãe, o amor entre eles não vai trazer felicidade e somente
tristeza. É a Blanca que ele tem de amar, não a Olivia.
— Lorran — seguro seus ombros e ele morde meu dedo. — Para filho, eu já
disse que a Olivia precisou ir embora, não chama mais ela.
— Eu sei. — Soluça.
— Sí.
— Por que chama pela Olivia? É a sua mãe quem você deve querer.
Eu a tive por meses ao meu lado e não consegui dar valor a mulher incrível
que ela era enquanto me perdia no luto pela mulher que eu amei com a vida. Foi
preciso meu filho de três anos chorar me dizendo que a mãe dele foi para o céu e
que a Olivia estava com ele para que eu pudesse perceber a merda que eu fiz.
Eu afastarei o Lorran da única mulher que ofereceu a ele o colo de uma mãe.
Afastei de mim a única que foi capaz de me fazer ver a luz. Perceber a
burrada que fiz não ajuda a amezinhar como me sinto. Estou confuso sem saber o
que fazer. Aceitar a Olivia na minha e na vida do Lorran é deixar a Blanca para trás
e eu não consigo fazer isso, não importa o quanto tente. Mas não se trata mais de
mim, o Lorran precisa da Olivia e eu devo pensar nele.
Com o Lorran, meu único filho que chora implorando pela Olivia eu vou
fazer o que é certo, só preciso de coragem.
— Como?
Ele dorme e o levo para o quarto comigo. Puxo o celular do bolso e a foto da
Olivia salta na tela de proteção. Ela e o Lorran brincando de pintar o rosto um do
outro na páscoa na creche. Abro a galeria do meu celular e vejo as inúmeras fotos
que tirei dela e do Lorran, dela comigo e do meu pequeno em meus braços. Vejo
os vídeos na galeria até o sono me nocautear.
— Eu gosto da Olivia e não consigo aceitar meus sentimentos por achar que
estou traindo a Blanca. O Lorran ver a Olivia como a mãe dele e eu não quero isso
com medo dele esquecer quem é a Blanca e estou sendo egoísta e um desgraçado
por agir dessa maneira com o Lorran e a Olivia. Preciso conversar com a Blanca
ou as cinzas dela. Não aguento mais viver nessa indecisão machucando as pessoas
que são importantes para mim.
— Uau.
— Não precisa falar o que eu já sei. Antes de encarar a Olivia preciso resolver
as coisas com a Blanca, cuida do Lorran pra mim?
— Não.
— O que?
— Você estava construindo uma família com ela seu stronzo se eu pudesse
arrancava suas orelhas fora. Certifique-se de explicar bem ao Lorran sua viagem e
resolva de uma vez por todas o seu passado.
Louis deixa o escritório e aliso meu braço atacado. Pego o celular e aviso
que vou usar o avião amanhã para uma viagem a Itália. Deixo o Lorran o dia com
a prima e de noite o levo para casa, dou a janta e deito com ele na minha cama.
— Filho.
— Sì papai.
— Amanhã eu vou voltar para a Itália por uns dias e vou te deixar com a
Olivia, tudo bem por você?
Chegamos ao prédio em que ela mora, bato na porta e Lorran chama pela
Olivia. Ela abre a porta o pega no colo e fecha sem me deixar a ver direito. Fico
irritado com sua reação, fecho o punho pronto para bater novamente e recuo, não
tenho o direito, ela tem razão em não querer me ver. Retorno para meu apartamento
e arrumo as minhas malas e a do Lorran, vou deixar lá e ela terá de falar comigo.
— Não! — ruge — o Lorran vai dormir aqui depois eu ligo para o Louis vir
buscar ele, pode ir embora.
— Eu tenho de falar com você Olivia — fico triste ao ver como ela tem
bolsas negras embaixo dos olhos, o cabelo prezo em um rabo de cavalo
emaranhado e parece mais magra.
Ver o resultado do meu egoísmo faz com que eu tenha mais certa: devo
resolver de uma vez por todas o meu passado para poder seguir em frente.
— Saia da minha casa. Eu te deixei entrar e você pisou em mim sem pensar
duas vezes ou considerar o quanto me faria mal. Eu aguentei a sua dor e suprimi a
minha, enquanto você foi um egoísta miserável que só pensou em si mesmo. Vá
embora, quando eu estiver com o Lorran você ficará longe. Se tentar me afastar
dele eu juro que faço o Louis tirar a guarda dele de você.
— Lorran é meu filho! Não vou perde-lo e por isso... — tento explicar a ela
o que acontece dentro da minha cabeça, mas é em vão, ela não vai me ouvir.
Olivia fecha a porta e encaro a madeira com vontade de falar muito mais,
não tenho o direito e sei que ela não vai me escutar. Eu não ouço ninguém e
continuo fazendo idiotices.
Levi
A fazenda da Beatrice fica na zona rural da Itália.
Ambas sofreram muito nas mãos dos genitores, e parte do motivo da Blanca
recusar ficar comigo, era porque os pais dela não apoiavam um estilista como
namorado da filha, preferiam um político.
Por ser a mais velha, Blanca deveria casar-se antes da Beatrice, e a mais nova
não podia ser envolver com homens, ficando reclusa dentro de casa, ou somente
saindo quando a irmã a levava junto.
Ser uma modelo foi a forma encontrada pelos pais delas para que Blanca
fosse exposta a homens poderosos, que pudessem se interessar em um
relacionamento com ela.
Quando descobri, tirei Blanca e Beatrice de casa, dei a Bea a fazenda que ela
queria, para viver em liberdade, com os animais que ela ama.
Acho que Lorran puxou da tia o carinho por animais, todas as pelúcias que
ele tem de bichinhos, foram presentes da Bea.
Quando Blanca morreu, os pais dela entraram na justiça querendo que a filha
fosse enterrada no jazido da família, enquanto eu e Beatrice, decidimos a deixar
descansar na fazenda, lugar em que ela se sentia confortável, e uma vez pediu a
Bea que quando morresse fosse enterrada lá, perto da irmã, e onde ela amava, um
lugar que eu e nossos filhos pudéssemos a visitar sem o peso da família por perto.
A equipe de segurança foi algo que eu não abri mão após a morta da Blanca,
mesmo em meio a depressão, me preocupei de que Beatrice conseguisse ficar em
segurança, sem os pais a incomodando devido ao túmulo da Blanca ser na fazenda.
Entramos, e após passar pela enorme plantação de vinho, o carro estaciona e
eu desço.
Bea espera por mim com um sorriso e os braços abertos. Os olhos azuisclaro
brilham, e o cabelo louro voa por seu rosto, enquanto ela tenta os controlar e manter
os braços abertos me recebendo. Com três passos chego a ela e envolvo seu corpo
em um abraço, sentindo o cheiro que me lembra a irmã.
Beatrice é poucos centímetros mais baixa que Blanca, o cabelo louro escuro,
e a pele bronzeada. Ao contrário de mim, a Beatrice grita felicidade e vida, com a
pele e o corpo. A solto, e ela encara meu rosto com carinho.
Conto a ela tudo o que aconteceu desde que coloquei o pé no Brasil, e quando
parti o coração da Olivia no dia da morte da Blanca.
Encaro seus olhos azuis, e a boca em bico, respirando devagar para que eu a
siga.
— Eu sei como é sofrer pela morte da Blanca, Levi, não fique ansioso
comigo. Acho que sou a única pessoa que poderá te ouvir sem te julgar, ou exigir
uma reação de melhora de você, então vamos devagar, certo?
— Todos os dias, mas isso não me impede de viver. Eu lembro dela com
felicidade, por ter uma irmã maravilhosa. Blanca por anos, foi minha pior inimiga
e melhor amiga, devido à relação tóxica que nossos pais criaram entre a gente. Mas
ela nunca desistiu de mim, e somente por causa dela hoje eu sou livre.
— Blanca não ficaria feliz se me visse perdendo tudo o que ela me deixou.
Me afogar no luto iria trazer tristeza a memória da minha irmã, e, eu não seria,
capaz de viver sabendo que a magoei. Eu continuei seguindo em frente, e fiz da
saudade a força para cuidar dos meus animais e dos negócios. Transformei o amor
que eu sentia por ela em vida, em um amor saudoso, do tipo em que eu ainda posso
a amar com todo o coração, mas nunca sentir que não poderei viver sem ela comigo.
— Foram anos com sua irmã, jurando amor e lealdade, ficar com a Olivia
começou a me trazer um sentimento de traição, que se ampliou na semana de morte
da Blanca. Senti que estava apagando a imagem da minha esposa, e sendo infiel, a
traindo, e pior... fazendo outra pessoa cuidar do filho dela. Na minha cabeça, o
Lorran não pode crescer sem amar a Blanca, em minha insanidade, eu sabia o que
estava fazendo, e queria aquilo, que a Olivia fosse embora e nunca mais voltasse.
Que o Lorran tivesse somente a mim e a Blanca.
— Você sempre foi um homem justo, e agia com base nas suas emoções,
magoou a Olivia por não pensar na sua ação, somente no que te atormentava. Eu
consigo ver em seus olhos que você mudou de ideia sobre substituir a Blanca, o
que aconteceu?
— O Lorran, meu filho, que ama a Olivia como uma mãe, e não consegue
ficar sem ela. Ele me disse que a mãe dele estava no céu, e a Olivia com ele. Só
percebi o que estava tirando dele, quando entendi que a Blanca pode ser a mãe
biologia dele, mas é a Olivia quem dá amor, carinho, e cuida do Lorran como um
filho.
— Para aquele pequeno se apegar a ela assim, a Olivia deve ser uma mulher
incrível. Não acho que a Blanca sentiria ciúmes da Olivia, quem sabe tenha sido a
minha irmã que mandou essa mulher para cuidar do filho dela, já pensou nisso?
— Nunca.
— A Blanca amou você e ao Lorran com a alma dela, não sabemos o que
acontece no, pós-morte, e nada impediria que uma alma guiasse vocês até aquela
creche, e fizesse você ver brilho na Olivia, quando só via isso no Lorran. Gosto de
acreditar que a Blanca continua cuidando de vocês, e mexendo com o universo para
que o homem da vida dela continue vivo, e possa ser feliz, e para que o filho dela
tenha a chance de ter uma mãe.
— Eu traí a Blanca, não acho que isso possa ser verdade — coço a cabeça
incrédulo demais para acreditar na teoria da Beatrice.
— Não Levi, você foi fiel a ela enquanto a Blanca respirava, os votos de
vocês terminaram no dia em que ela morreu. Continuar vivendo com medo de ser
infiel, ou de magoar a Blanca, tem causado mais danos do que uma traição. Você
realmente acredita que Blanca ficaria feliz em ver você e ao Lorran sofrendo?
— Não, ela nunca ficaria bem com isso — cutuco minhas unhas.
— Qual é o seu verdadeiro medo, Levi? Olhe para dentro de si, e perceba o
que te atormenta. Você falou sobre ter se sentido culpado pela morte da sua mãe e
da Blanca, depois disse estar traindo a Blanca ao colocar Olivia no lugar dela, mas
você não percebe a verdade. A Blanca morreu, sua mãe morreu, e você não tem
culpa no acidente que levou ambas, nascemos com dia, hora, e lugar, morremos da
mesma forma, e ninguém pode controlar isso.
— Se aquele caminhão...
— Se o caminhão não tivesse perdido o controle, se a chuva não estivesse
molhando a estrada, se eu não tivesse irritado a pessoa errada, se eu fosse uma
pessoa melhor, se a doença não existisse... — Beatrice segura meu braço e chega
perto do meu rosto. — Estamos sempre procurando motivos para justificar a morte,
e não aceitamos que ela é natural. Nascemos com um dia marcado para a nossa
morte, e não existe crença ou religião que possa impedir alguém de morrer. Você
pode ter uma morte pacífica, com idade avançada enquanto dorme, como pode
morrer brutalmente assassinado por um membro da máfia. Mesmo quando é
cometido um suicídio, não tem como ter a certeza de que aquilo vai levar ao fim
da pessoa.
As palavras da Beatrice batem forte dentro de mim, e o muro que ergui nos
últimos anos desaba, deixando uma dor antiga jorrar para fora do meu corpo
enquanto um desespero novo se aproxima. O medo de perder quem continua vivo,
por ter me apegado a quem estava morta.
Corro para o lugar que fica o túmulo da Blanca com o sol se ponto no
horizonte. A euforia por ter uma certeza, e um objetivo, pela primeira vez
dominando o meu peito.
Fico de joelhos de frente para ela, pela primeira vez que venho aqui, não
tenho vontade de chorar, somente de sorrir.
— Oi, meu amor, desculpe ter demorado a vir esse ano, acho que temos
muito o que conversar. Eu consegui me comunicar com o Lorran, e agora estamos
mais próximos. Ele cresceu tanto, você consegue ver ele do céu? Nosso menino
ficou enorme, e fala tanto, ele puxou a minha mãe o gosto por chocolates.
— Será que é verdade a teoria da Beatrice, que foi você quem me guiou a
Olivia, para que ela pudesse cuidar do Lorran e me fazer sentir vivo de novo?
— Eu te amo Blanca, sempre vou te amar, sou grato pela nossa história de
amor, e por você ter me dado o Lorran, mas agora eu preciso ir atrás da Olivia. É
com ela quem eu quero ficar e ser feliz, você consegue me dar a sua benção amor?
— fecho os olhos, o vento se torna mais forte contra meu rosto, como um carinho
suave — é você, não é? Sempre falou que voltaria com o vento quando eu estivesse
perdido, e me mostraria a direção certa.
— Eu sempre irei te carregar em meu coração, mas agora estou pronto para
deixar outra pessoa entrar. Você aceita dividir espaço com ela? — mais uma vez o
vento ricocheteia contra meu rosto, bagunçado meus cabelos — estou enrolando
demais, é isso que você quer dizer? — como se me respondesse, uma rajada me
joga no chão e gargalho — eu entendi o recado, essa é a última vez que te chamarei
assim e falarei essas palavras.
— Adeus, amor.
****
— Você não desiste — ela suspira — vou arrumar as minhas coisas, espera
aqui.
— Vou subir para meu quarto, você vai ver o que aconteceu. — Ela já tem o
costume de ficar aqui conosco, e sobe rapidamente as escadas.
Olivia vira para mim, e o medo atravessa sua íris, mais rápido do que consigo
processar, o fato dela ter engravidado.
— Falarei a verdade. Eu queria ser mãe, e consegui, não tem mais nada a ser
falado.
— Por que você não pode ser como a Bianca, e ter engravidado de um
homem que te ama, e estivesse disposto a casar com você? Ter esse bebê em um
lar saudável.
— E você acha que alguém me ama? — Olivia não consegue mais segurar
as lágrimas que deságuam de seu rosto pequeno. — Eu devo ser um ser humano
horrível que nunca pôde encontrar o amor de um homem, nem você me amou pai
— o nariz dela escorre, e os soluços fazem seu peito tremer — eu tenho 27 anos e
nunca te ouvi dizer um “eu te amo” para mim, por que você não pode me amar? —
Não seja idiota, é claro que te amo — ele fala baixando a guarda.
Meu peito comprimi com uma nova dor tomando consciência do dano que
causei na Olivia.
— Não, não ama. — Ela olha ao redor, e seu olhar encontra o meu. — O
homem que eu amava me disse no dia do meu aniversário, que eu e ele não
poderíamos ficar juntos, e que eu não tinha o direito de querer ser a mãe do filho
dele. Ele era a minha última esperança de amar e ser amada.
Nos últimos dias, eu aprendi que somente a morte tem o poder, de colocar o
ponto final em uma história. Pode demorar 10 ou 50 anos, farei com que a Olivia
me perdoe, e se ela quiser, teremos a nossa família e serei um pai para o seu bebê,
como quero que ela seja a mãe do Lorran.
Olivia
Eu não queria que eles soubessem, mas não consegui evitar, o enjoo que
passei a tarde, pirou quando jantamos.
Meu pai desconfiou, e Bianca perguntou. Eu sabia que era questão de tempo
até a minha barriga começar a crescer, e eu ter de explicar quem era o pai do bebê.
Optei por mentir para eles até decidir como contar sobre a gravidez ao Levi,
meu pai foi cruel em suas palavras, e eu queria machucá-lo, é injusto eu ser a única
ferida.
Quando vi o Levi, ele parecia bem, sem bolsas debaixo dos olhos, o cabelo
arrumado e o rosto mais rechonchudo. Ele estava bem, enquanto eu me acabo em
sofrimento devido à rejeição dele.
Corro para fora da cozinha, e ouço passos atrás de mim, acelero na direção
do jardim, não quero ver ou falar com ninguém. Atravesso as portas de vidro, e em
meio a corrida eu tropeço na grama, indo ao encontro do chão, braços fortes
rodeiam minha cintura impedindo minha queda.
— Vamos conversar, por favor — meu pai pede beijando minha cabeça e não
o encaro, sento-me no chão de costas — como você pode pensar que eu não te amo
Olivia?
Ele alisa o topo dos meus cabelos, e me puxa contra seu peito, afagando
minhas costas. Não tenho forças para continuar lutando contra ele ou qualquer
outra pessoa, cheguei ao meu limite emocional, e não sei o que fazer para me sentir
bem novamente.
— Vamos por parte, certo? — a voz dele fica mais grave — quando conversei
com a Bianca e percebi estar sendo injusto com ela, eu comecei a lembrar do
passado, e a notar que fiz o mesmo com você, fui duro demais na criação de ambas,
e causei feridas que vão para além da nossa relação.
— Não importa mais — sussurro — não tem mais o que ser perdoado.
— Tem sim — sinto o nariz dele deslizando em minha cabeça — quando sua
mãe descobriu a doença, foi um choque para ambos, eu a amei com a minha alma,
e sem a Eduarda, respirar era dolorido. Quando você e a Bianca nasceram, eu senti
que estava sendo abençoado com anjos como resultado pelo meu amor e o da Duda.
— Você esqueceu fácil disso — acuso, querendo o fazer sofrer como eu, que
seu peito seja despedaçado e rasgado.
— Eu prometi a Eduarda que iria cuidar de vocês, mas quando ela deu o
último suspiro, eu fui com ela, uma parte minha morreu, e a que ficou não sabia
como continuar. Me afoguei no luto e na bebida.
— Igual ao Levi, eu fui uma grande idiota por achar que ele seria diferente
de você — percebo, a relação tóxica que tentei fugir do meu pai, foi reproduzida
no Levi, e com isso o resultado foi o mesmo; ... Destruição.
— Não conheço o Levi, e não vou falar por ele, somente por mim. Eu não
conseguia ver nada ao redor pelos meses que se seguiram a morte da Eduarda. Em
uma manhã, eu acordei e você já tinha sete anos, vestia o uniforme da Bianca, e
dava de comer a ela, o resto de um pão velho. Você segurou a mão dela, quando
Bianca terminou de se alimentar, e a levou para escola, sem reclamar da fome.
— Era final de mês e nossa tia não tinha enviado a cesta básica que ela dava
para nos ajudar enquanto você sofria, e eu não quis pedir as vizinhas, já fazia três
dias que me alimentava somente da merenda da escola, para que a Bianca não
passasse fome.
Pela primeira vez em anos eu escuto o meu pai chorando. Os braços dele
tremem ao me redor, enquanto ele tenta recuperar a respiração. Lembrar da infância
traz um gosto amargo, eu era pequena e precisava de proteção, mas ele não
conseguia me ver.
— Não consigo reparar o erro que cometi naquela época, quando vi aquilo,
eu me dei conta de que você e a Bianca continuavam vivas, e eu tinha de voltar a
trabalhar para sustentar a casa. Arrumei o primeiro emprego que consegui como
segurança, e usei o cartão para fazer a feira, quando você chegou, seus olhos se
iluminaram ao ver a comida, e eu te fiz uma promessa naquele dia, você lembra?
— Você só tinha sete anos, e a Bianca 4 anos, eu nem sei como você tinha
conseguido a matricular em uma creche.
— Denise não me contou, e ela será a próxima a quem vou agradecer por
cuidar dos meus anjos quando eu não pude.
— Eu fiz Olivia, mas você não lembra por que era pequena demais, o que se
instaurou no seu coração foi a dor. Quando vocês chegaram naquele dia, você
chorou ao ver os armários cheios, e a Bianca correu para o meu colo, eu me ajoelhei
na sua frente e prometi que não deixaria mais vocês passarem fome, e iria cuidar
novamente de ambas.
— Não — murmuro.
— Você.
Não tem como ser verdade, eu não consigo me lembrar da conversa com ele,
mas sei que depois que voltamos da escola naquele dia, o meu pai tinha voltado a
cuidar da casa e da gente.
Eu achava que ele tinha acordado para a vida e era somente isso, sem
conversar, sem se explicar ou pedir desculpas.
Bato no peito dele com os pulsos, ele não tem esse direito, após anos, não é
justo que me conte somente agora o que aconteceu naqueles dias sombrios.
Ele nunca cuidou da gente, não pode ser verdade, porque se for, eu passei a
vida presa na mágoa, e não abri meus olhos para o que acontecia ao meu redor além
do que imaginei.
— Eu fui duro com você e com a Bianca, não vou negar isso, me entristecia
te ver pulando de namorado em namorado, e saber que as vizinhas falavam mal da
minha menina, por como ela se comportava. Eu sabia que você estava presa a
mágoa que te causei na infância, mas eu não podia deixar que você continuasse
sendo vista como uma vagabunda, brigamos e discutimos mais vezes do que sou
capaz de lembrar.
— Você não pode fazer isso — bato no peito dele com força enquanto grito
frustrada — não é justo me dizer isso tudo quando explodo, você partiu meu
coração — berro, caindo contra o peito dele, sem forças para continuar alimentando
o ódio.
“Sem dizer mais nada, ele segurou minha cabeça, beijou minha testa e
disse o quanto me amava e estava feliz pela minha conquista.”
Eu tinha saído para uma festa com minhas amigas, e já era quase três horas,
os pais delas buscaram a todas, e a minha carona não aconteceu, porque a mãe da
Julia foi de moto e eu fiquei sozinha.
Meu pai estava trabalhando, eu liguei para ele e depois ele chegou para me
pegar no carro do patrão. O caminho para casa foi com ele brigando e me chamando
de irresponsável.
Ele sabia que podia ser demitido, e foi me buscar. Ele cuidou de mim e eu só
absorvi as reclamações.
Era Dia das Mães no colégio, eu e Bianca estávamos tristes, e ele nos levou
para uma viagem ao sítio da família, passou o dia conosco e a tristeza foi apagada
pelos momentos em que estivemos juntos.
Ele não deixou que ficássemos magoadas pela ausência da nossa mãe.
— Me perdoa por ser duro com você, quando soube do bebê, e que você fez
inseminação, fiquei louco, preocupado em como você criaria a criança sozinha.
Você nasceu para amar e ser amada Olivia, seu filho deveria ser concebido com
amor, e não por sua obsessão de ser mãe. O carinho que você procura em um filho,
você sempre o teve ao seu redor, minha menina, só estava cega para perceber.
Sem forças, eu me encolho contra o carinho dele, e choro até meu corpo
desidratar e o ar entrar com dificuldade por meu nariz entupido. Sinto como se
tivesse chegado ao fim de uma maratona.
— Não vou falar pelo Levi, mas talvez, existe a possibilidade de ele ter feito
o mesmo que você, se afogado no ódio, não conseguindo enxergar o amor que ele
tinha ao redor.
— Acredita nisso?
— Sim — beija minha testa — conversa com ele, sem a mágoa obscurecendo
seus pensamentos, Olivia, você já sabe como é viver com o ódio no coração, te
impedindo de ser feliz. O ouça com o coração, e não com a mente, depois você
decide o que fazer.
— Quando estiver pronta estarei aqui para te oferecer colo e muitos beijos
— enche meu rosto deles. — Vamos nos deitar, o sol está quase nascendo.
Não somente por um filho, mas por um marido, um amor que pare de me
magoar, e possa me fazer ser feliz. Vou escutar o Levi somente uma vez, para
decidir o que fazer em seguida.
Olivia
— Você é a minha madrinha e não pode continuar evitando o padrinho! —
Bianca bate o pé.
Já se passaram uns dias que conversei com o meu pai, e o Levi tenta chamar
a minha atenção para podermos resolver nossas pendências.
Estou em dúvida se quero dar uma segunda chance a nós dois. Meu coração
continua apaixonado, e sem a mágoa pelo meu pai obscurecendo meus
pensamentos, tem se tornado, mais difícil, continuar firme, e longe do Levi, sem
vacilar quando me encara com os olhos cheios de arrependimento, e a boca aberta
para falar o que me recuso a ouvir por medo.
Estou com medo de abrir meu coração para o Levi novamente, me entregar,
e acabar do mesmo jeito, rejeitada.
— Quando formos entrar a gente se fala — dou de ombros.
— Não — bate o pé — você vai conversar com ele agora, e chega de fugir.
— O filho que você espera é dele? — ela pergunta, mas vejo certeza em seu
olhar. Aceno em positivo e Bianca suspira — eu sabia, você nunca foi boa
mentirosa, e se o Levi acreditou naquilo, é um tapado. Você viu o quanto eu sofri
ao tentar esconder do Louis a paternidade da Cecília, e o quanto fui feliz após o
aceitar novamente. Viver com a mágoa só vai gerar mais sofrimento, Olivia.
— Minha irmã que sempre quis ser amada e ter um bebê. Seu momento
chegou, você conseguiu engravidar, e tem um homem desesperado, querendo te
dar amor e uma família. Não passe mais um único segundo sofrendo por medo ou
raiva, sentimentos ruins nos destroem de dentro para fora, o amor cura todas as
feridas, trazendo uma felicidade que transborda.
— Tá — aceno.
O dia passa rápido e mal posso registrar os momentos com a minha irmã,
correndo de um lado ao outro com os preparativos.
Quando a noite chega, sentamos a mesa para jantar, e o Levi vem na minha
direção, quando é puxado pela Beatrice, que eu descobri ser a irmã da Blanca,
indiretamente e sem que eu tenha pedido, ela ajuda a manter o Levi distante.
Ela parece entender que estou fugindo, e que preciso respirar antes de o
encontrar, e podermos conversar para decidir sobre a nossa vida.
Já aceitei que vou contar a verdade sobre meu neném, não a privarei de ter
um pai devido à minha mágoa. O Lorran será um irmão maravilhoso, e meu peito
aquece só de imaginar ele brincando com ela.
— Zia vivia — Lorran corre para mim e o pego no colo — é veldade que
você vai ter um bebê?
— Sim, meu anjinho — beijo seu rosto e o sento ao meu lado para jantarmos.
Lorran não saberia guardar o segredo, e o Levi não pode saber por outra
pessoa além de mim que será pai, tenho medo da reação dele.
— Sì — sorri e beijo sua bochecha — como ela entrou aí? A Zia Bibi não
me disse como a Cecilia entrou e saiu dela — faz bico e mordo sua bochecha o
fazendo rir.
— Eu desejei muito por um filho, e meu pedido foi atendido — aliso seus
cabelos — quando ela nascer, te conto como foi, combinado?
— Sí!
Fecho a porta antes que o Levi consiga chegar até mim. Só mais um dia para
acalmar o meu coração, é disso que preciso.
— Sim.
— Vamos nos resolver Olivia e tudo vai ficar bem — o sinto no outro lado
da porta.
— Vai imblola papai — Lorran pede rindo — zia vivia vai mimi com eu.
— Não me troca Lorran — Levi pede, e o filho gargalha mais, sem entender
a situação.
— Num to tolcando, só quero mimi com a zia vivia. Boa noite, papai.
Na cama, Lorran deita a cabeça em meu peito e fica alisando minha barriga,
enquanto faço carinho em sua cabeça para pegar no sono.
— Sim, fofinho.
— Eu quero muito ser a sua mãe Lorran — sussurro sem conseguir conter as
lágrimas, e o encho de beijos, ouvindo a gargalhada gostosa do meu menino —
meu Lorran, meu filho — beijo sua bochecha até ele ficar vermelho, quando cesso
meu ataque e as lágrimas param, com o coração explodindo fogos de artifício como
no dia em que descobri que teria a minha menina.
— Mamãe — enche a boca para falar e repete a palavras várias vezes, rindo
enquanto o beijo.
— Meu filho!
— Vamos contar ao papai? — pergunta com tanta fofura que tenho vontade
de o morder.
Essa é uma felicidade, e momento dele, se ele quer compartilhar, eu não vou
impedir. O sigo pelo corredor até parar de frente a porta do quarto do Levi.
— Oi?
Tenho saudade de ser beijada por sua boca rosa, carnuda, de ser chupada por
sua língua, e me sentir protegida em seus braços fortes. De dormir ouvindo o som
da respiração dele, e recebendo carinho dos seus dedos. De ficar eu, ele, e o Lorran
na cama, o pequeno dormindo entre nós, enquanto deixávamos nossos pés
entrelaçados.
Eu o quero.
Meu peito sangra desde que ele foi embora, a ferida não consegue cicatrizar
pelo medo de uma nova rejeição, e vai continuar aberta enquanto eu o mantiver
longe.
— Claro que tem — Levi fala sem entender o que o filho quis dizer. Ele não
vai me aceitar como a mãe do Lorran, dou um passo à frente, querendo calar o
pequeno, e paraliso — a Olivia é sua mamãe na terra, e a Blanca sua mamãe no
céu.
— Sì — Lorran comemora.
E eu vou ao chão.
Com as mesmas palavras que ele usou para me quebrar, ele fechou a ferida
aberta. Me aceitou como a mãe do Lorran, sem que eu falasse nada, sem que o
Lorran dissesse ou me chamasse assim.
Levi me aceitou.
Eu fui realmente rejeitada naquele dia ou o Levi estava cego pela dor, como
eu passei a vida toda?
Vejo pés na minha frente e levanto o rosto, uma mão estendida para mim.
— Vamos colocar o Lorran para dormir, quando você estiver pronta falamos.
— Certo.
Tremo ao segurar sua mão na minha, ele me puxa rápido e bato em seu peito.
Lorran aperta meu pescoço e o do pai.
— Somos uma família Olivia — Levi sussurra em meu ouvido e beija meu
ombro — não chore mais, você tem tudo o que sempre quis, estarei ao seu lado
durante o percurso. Você me aceitando ou não, como seu, o Lorran continua sendo
seu filho.
Levi não fala mais nada, enxuga as lágrimas no meu rosto, e puxa minha
mão para o seu quarto.
O sigo em silêncio, nos deitamos na cama com o Lorran entre nós, e seu
braço estica acima da cabeça do filho, alisando meus cabelos, as pernas
entrelaçadas enquanto pego no sono, presa nos olhos azuis.
Ele me aceitou como a mãe do Lorran, não tenho mais dúvidas quanto a
contar a verdade sobre a paternidade da minha menina.
Olivia
Acordo antes do Lorran e do Levi, observo pai e filho dormindo lado a lado,
e não consigo impedir o cenário na minha mente, do Lorran segurando a irmã nos
braços, e dela encostada no peito do Levi, dormindo tranquila, protegida pelo pai.
— Eu falhei com você Olivia. — Se senta devagar, passa por cima do Lorran,
apoia um braço de cada lado da minha cintura, e vem sobre mim, enquanto me
afasto, encostando a cabeça no travesseiro. — Fiquei cego em meio a dor do luto,
e não percebi a felicidade nos meus dias, causada por você e pelo Lorran — seu
nariz desce ao encontro do meu, e o coração dispara ensandecido — você aceitou
o meu filho como seu. — Desliza carinhos pelo meu rosto, fecho os olhos não
aguentando a ansiedade causada pela sua presença. — E se você me rejeitar, e me
mandar embora, eu vou ser teimoso e não partirei. Você pode não querer, recusar,
me bater, e me xingar. Continuarei aceitando sua filha como minha — a mão dele
repousa em meu ventre — eu vou ser o pai dela, e do Lorran, você vai ser a mãe
deles, estando juntos ou separados. Nada, nunca, poderá mudar isso.
— Você tem um ano — decido — prove que mudou com ações e não
palavras, e considero a sua proposta.
— Um ano é muito tempo para dois corações que se amam — ele serpenteia
os lábios perto dos meus, e arfo baixinho, abrindo a boca.
— Você passou três anos sofrendo pela Blanca, como vou confiar que não
me afastará novamente quando sentir a falta dela? Não posso me entregar sem ter
certeza Levi.
Eu o quero de volta, quero seu amor e sua paixão, me sentir amada em seus
braços. Mas não posso entrar em uma nova relação com mágoas em meu peito que
me farão duvidar dele, e não conseguir ser sincera quanto aos meus sentimentos,
por medo da rejeição.
— Eu quero que você seja feliz Olivia, quero te amar e te deixar fazer
perceber que eu pertenço a você, e você a mim — segura minha mão a levando ao
seu peito — eu te amo Olivia, esse coração bate por você, e continuará assim para
sempre.
Ali estão elas as palavras que ansiei ouvir feito uma louca desesperada para
ser amada. Engulo em seco, ele podia ter dito isso antes de me machucar com
crueldade.
Não posso o aceitar ainda, e não quero continuar longe, infligindo dor a mim
mesma. Não sei o que fazer ou qual caminho seguir, fecho os olhos inspirando
fundo e decidindo:
— Não será do seu jeito — ergo o queixo — vou te usar como eu quiser e só
te terei quando eu estiver pronta.
— Pode usar do jeito que preferir — sua coxa desce entre a minha perna,
tocando meu ponto sensível — vou adorar ser seu bichinho de estimação — beija
meu pescoço — me maltrate ou me ame, mas não me mande embora.
— Seu desgraçado — soluço, agarrando forte seus ombros — você não vai
ser nada além do meu brinquedo, ouviu?
— Sim senhora.
Ainda temos muito o que conversar, as mágoas não foram cicatrizadas por
completo. E ainda tenho medo de me magoar, vou usar esse ano para ter a certeza
de que Levi mudou, enquanto conversaremos sobre tudo o que aconteceu entre nós.
Por enquanto, vou aproveitar a felicidade de ter meu menino, e saber que
ainda pode existir um futuro, em que eu esteja junto do pai dos meus filhos.
— Bom dia meu filho — beijo sua bochecha — vamos tomar banho?
— Sì — estica os braços.
Levo o Lorran para o banho, e descemos para tomar café. O cheiro de
queimado chama nossa atenção, e corremos para a cozinha, onde o Levi coloca
uma frigideira na pia enquanto a Beatrice tem as mãos na cabeça.
— Você não pode chegar perto do fogão — Levi ponta para a mesa — vá
sentar que eu faço isso.
— A Beatrice tentando colocar fogo na mansão — Levi ralha — ela não sabe
fritar um ovo!
— Oi — digo tímida, se essa mulher é a irmã da Blanca, ela pode não gostar
de ver o sobrinho me chamando assim.
— Estou fazendo isso — digo rindo, e aliviada, ela tem carinho no rosto.
— Como... sabe?
— Ele passou os últimos dias na minha fazenda, curando a alma, e se
despedindo da Blanca, para poder libertar o coração dele do medo, da dor, e da
perda, para existir somente você. Eu te garanto, o coração dele só tem você — me
abraça novamente — quando estiver pronta, aceite a felicidade.
— Certo.
É o que respondo.
Então foi isso que ele fez nos últimos dias? Deu adeus a Blanca para
continuar comigo? Não sei o motivo, mas ouvir isso dá Beatrice, alivia
mais meu coração, do que escutar do Levi.
Entendo o motivo da Lira se sentir atraída, eu também ficaria assim com esse
homem me devorando com o olhar, como ele faz com ela.
— E educado, gentil, com um cheiro — revira os olhos e abana o rosto —
enfim, eu tenho um dedo podre para homens, e não quero fazer besteira, me ajuda?
— Com o quê?
— Sonda ele para saber quais são as intensões dele, flertando comigo desse
jeito.
— Tá, me dá um segundo.
— Bom te conhecer — olha para a Lira — diz a ela que se quiser falar
comigo terá de vir pessoalmente.
— Sim.
Seguro seu braço e sou embriagada pelo seu cheiro, exalando pelo paletó
cinza, abraçando suas curvas perfeitamente.
Beatrice conversa cheia de sorrisos com o Cowboy, filho do senhor que cuida
da nossa casa de primavera, não o conheço bem, mas vou ficar de olho nesses dois.
— O que você quer fazer? — ela rosna, e eu me tremo de vontade de ter essa
mulher de volta para mim.
Espero com expectativa por sua resposta, mas Olivia me frustra levantando-
se e indo embora. A sigo como um cachorrinho precisando da atenção da dona para
ser feliz.
Eu fiz muita merda e a magoei, e farei o dobro de merdas para ser capaz de
me perdoar e volte a ser minha. Vou mostrar a Olivia que eu sou um novo homem,
a farei me amar novamente, e nunca mais a deixarei partir.
— Claro que importa, não quero ver o meu amor passando mal e
prejudicando nossa menina — beijo seu pescoço, a fazendo se encolher em meus
braços — eu estava apavorado Olivia, por isso eu fiz aquela merda.
— Cala a boca — pede com a voz embargando e enfiando mais doce na boca.
A giro em meus braços, e pego o pedaço do docinho que ela estava
mordendo, com meus dentes, beijando sua boca empanturrada com a minha.
Mal consigo deslizar minha língua em sua boca, e ela apoia as mãos em meu
peito, não me afasta e não me puxa, só me deixa ficar assim a beijando, sufocado.
— Não quero saber — ela luta para sair, e a mantenho presa entre mim e a
mesa, até suas forças minarem e ela esconder o rosto em meu peito.
— Mas precisa, eu vivi no luto por tempo demais, e quando comecei a sair,
eu tive uma epifania de felicidade que me fez ignorar todos os outros sentimentos.
Quando eles retornaram, foi intenso, e me fez perder a razão, agindo como um
maluco amargurado e magoando os que estavam perto de mim, e eram a razão por
eu ser feliz. A culpa consumiu a minha alma com força, devorando tudo o que
existia de bom.
Mostrar a ela que não vou mais chorar e lamentar pela Blanca ter morrido.
— O que mudou? — Olivia chora baixinho contra meu peito, e beijo a cabeça
dela.
— Quando você saiu, eu não me senti aliviado como achei que ficaria. Doeu
mais do que pensei te mandar embora. Ardeu na minha alma como nunca, a dor de
perder a Blanca acabou comigo, mas a de te fazer sofrer — inspiro controlando as
lágrimas por lembrar como é ruim ficar sem ela — te mandar embora com os olhos
gritando desespero, aquilo foi como ter o ar deixando meus pulmões, e depois
daquele dia, não consegui respirar direito.
— E depois? — Ergo a cabeça, ela toca meus cabelos, e apesar das lágrimas,
consigo ver o olhar dela aliviando.
— Você tem certeza? — ela soluça forte, e fico em pé, segurando seu rosto
em minhas mãos.
— Como ar que entra em meus pulmões. Nunca mais vai existir Blanca entre
a gente Olivia, você é a única mãe que o Lorran terá, e se me permitir, serei o pai
de todos os seus filhos.
— Vá com calma, rapaz — uma voz grossa fala atrás de nós, e vejo o
Marcelo segurando a Cecilia nos braços — antes de casar-se com a minha filha, eu
terei de dar a minha benção, você a fez sofrer demais — antes eu que consiga evitar,
sinto a dor do chute que ele dá em minha bunda, e me encolho.
— Para pai — Olivia pede com riso na voz — eu vou torturar ele o suficiente
por nós dois.
Pelo visto eles fizeram as pazes, e minha garota voltou a exalar raios de luz.
— Você vai dormir no seu quarto — bate no meu peito e sai rebolando.
— Não sei, espero que a Beatrice — ela fala de volta — o Daniel parece ser
um cafajeste.
— Como é?!
— Com certeza.
Já bati tanto nele por isso, que estou com calos nas mãos.
Não transamos ainda, é tudo recente, e quero ter a confiança de que não vou
me magoar se o deixa ficar em meu coração.
Por enquanto, temos mantido essa dinâmica, é bom, ele está perto,
respeitando minhas barreiras e me enchendo de carinho e confiança. Não sei se
conseguirei aguentar muito mais com a distância, ou escondendo que a minha
menina é filha dele.
— Hora da diversão — ele tira a camisa animado com fogo nos olhos.
— Vai ser a melhor massagem da sua vida, sua mulher infernal — morde
minha panturrilha, e me tremo.
Levi despeja o gel na minha perna esquerda e começa uma massagem lenta
em meu tornozelo, estralando as vértebras e aliviando a dor na sola do pé.
— Amanhã eu tenho um ultrassom...
— Que horas saímos? — ele nem me deixa terminar a frase, e rio. — Lorran
vai querer ir junto, vamos levá-lo?
— Qual o seu plano de saúde? Vou te trazer para o meu, e ter acesso a um
melhor.
— Certo.
— Vou pintar todos no quarto que será dela — seus dedos deslizam na borda
da calcinha, e esqueço do que estávamos falando — algodão-doce, ursinhos, e
alguns gatinhos. Podemos comprar tudo amanhã, depois do exame.
Ele continua falando, e eu fecho os olhos, me entregando a carícia do seu
dedo deslizando sobre minha intimidade encharcada, por cima da calcinha.
Levi força a penetração pelo tecido, e eu me tremo, prendendo sua mão com
minha coxa. Ele desce o rosto ao encontro do meu, e beija meus lábios, até que eu
relaxe e solte sua mão.
Com mais liberdade, ele tira a peça de roupa e desce beijando meu corpo. Eu
queria ter mais forças, e poder resistir, mas o evitar só vai me causar dor interna, e
pode parecer que se passou pouco tempo, mas sinto como se estivéssemos a uma
eternidade separados, sem sentir um ao outro.
— É só sexo — digo ao ter minha camisola retirada, e quando ele fica nu,
colocando o pau enorme para fora.
As paredes da minha vagina ardem pelo seu tamanho, encolho meus dedos,
agarrando seus ombros, o sentindo todo dentro de mim, e com uma saudade
enlouquecedora, agarro sua bunda durinha, forçando que ele me coma com mais
força.
Levi estabelece um ritmo lento entre nosso quadril, com os olhos travados
no meu e a boca pairando sobre a minha, gemendo como um maldito macho alfa.
Ignoro seu pedido, não vou ceder enquanto ele me fode. Belisco sua bunda,
e perco o ar, atingindo o clímax.
Sua mão desliza em minha barriga, e ele beija meu ventre, com um sorriso.
É a primeira vez que o deixo me tocar dessa forma.
— Eu sei — beija meu ventre — sou o pai dela, quando decidi que seria os
pais de todos os seus filhos — encontra nossos lábios um no outro.
— Não Levi — embargo, não pretendi contar agora. Ao ser envolta no amor
dele, e pelo sexo gostoso que fizemos, baixei a guarda... e não foi ruim fazer isso
— eu menti sobre a inseminação, não fiz o procedimento enquanto estávamos
juntos ou depois.
O rosto dele se ilumina, e Levi me enche de beijos até o ar faltar em meus
pulmões.
Levi tem um sorriso enorme no rosto, e fala para todos, que viemos a
primeira consulta da nossa bebê, juntos, já que a outra, eu realizei quando descobri
sobre a gravidez e não foi aprofundada como a de hoje, em que poderemos ouvir
os batimentos do coração dela.
— Bom dia, mamãe e papai — ela se senta na cadeira perto de mim — e esse
menininho, é o filho de vocês?
— Nos seus registros não consta que você já teve filhos — ela analisa uma
prancheta — acho que devemos atualizar ele.
— Ele não nasceu de mim — digo — a bebê será a primeira que vou dar à
luz.
— Que família feliz! Vamos logo ver como está a irmãzinha dele — passa o
gel em meu ventre e coloca o aparelho.
Meu plano não garantiu um ultrassom 3D, por isso foi a normal, e tenho um
pouco de dificuldades em entender as imagens na tela, mesmo a médica me
explicando sobre o tamanho da bebê.
Levi me encara e ergue a sobrancelha como quem diz “eu te avisei” dou de
ombros.
Preenche a sala, e eu choro feliz por escutar o som da vida da minha filha em
meu ventre. Levi me beija, com o Lorran pendurado entre nós, as lágrimas dele
misturadas as minhas, e o Lorran deita a cabeça em meu peito.
Eu tenho uma família comigo e não abrirei mão dela, nunca mais serei
infeliz.
****
3 meses depois
Meu bebê já tem 24,5 centímetros, e após o ultrassom 3D, conseguimos ver
melhor o formato do corpinho dela, ainda não tivemos a confirmação do sexo, mas
ela segue saudável e bem, dentro de mim, e meu coração que estava obscurecido
por tristeza ganhou a luz do amor, e a felicidade fez morada nele.
No último mês ele montou um ateliê para ele perto do apartamento, e tem
passado bastante tempo por lá, criando sua próxima coleção. Ele não me deixou
ver nada, e Lorran é seu principal cúmplice nas peças.
— O gatinho te arranhou?
Já avisei para aquela diaba de menina não deixar o gato dela vir para a nossa
varanda. Vou mandar colocar uma tela de proteção que impeça a vinda do animal,
dificilmente deixo o Lorran ficar na varanda, fecho as portas, e tenho certeza de
que não abri elas.
— Celto.
Visto uma roupa no Lorran, e o pego no colo, evitando seus pés perto do meu
ventre. Na sala, vejo que a governanta está limpando a varanda com as portas
abertas.
— Santo Deus, menina, que susto — coloca a mão no peito. — Sai rapidinho
para buscar mais água na cozinha, por quê?
É isso que ele faz, ele cuida da gente sem que precisemos falar nada. Eu amo
esse homem, e estou pronta para abandonar a dor e viver o amor.
Olivia
3 meses depois
— É uma menina! — a médica fala feliz, e Levi grita, comemorando. —
Demorou, mas finalmente conseguimos ver o sexo.
A Bianca e o Louis, estão quase morando lá, e o Daniel assumiu como CEO
da empresa no Brasil. A Lira terminou semana passada o filme da adaptação de um
livro famoso, e em breve sairá em tour na divulgação da obra.
Beatrice, que tem mantido contato por vídeos, chamadas com o sobrinho e
comigo, vai estar presente, e eu tenho quase certeza de que o maior motivo, é por
ela querer ver o Dante.
O Cowboy não sai da cabeça da Beatrice, assim como o Daniel não para de
povoar os pensamentos da Lira.
— Você estava certa — Levi beija minha testa — vamos ter uma menina.
— É uma menina!
Ele comemora e bate na mão do Levi, ambos fizeram as pazes, e desde que
passei a morar aqui, o meu pai tem me visitado para brincar com Lorran, e
conversar comigo e com o Levi.
Partimos para a Itália, e quando chegamos lá, Bianca corre para me abraçar
e perguntar tudo sobre a gravidez. Não escondo nenhum detalhe, e logo a Lira e a
Beatrice se juntam a nós.
— Bom, eu estou grávida — Lira joga isso como uma bomba, e dá de ombros
— já contei ao Louis, e vou falar com o Levi ainda, não vou dizer quem é o pai —
o medo nos olhos dela arde tanto quanto o ódio — eu tentei contar três vezes a ele
sobre o bebê, e o babaca sempre desliga na minha cara, achando que estou sendo
grudenta, então ele que vá se ferrar.
— De quantas semanas? — pergunto ainda absorvendo o impacto da
informação.
— Tem certeza de que não quer contar ao pai do bebê? — pergunto com o
coração apertado, pelo que ela deve estar passando.
— Estamos aqui — Bianca segura a mão dela — para o que precisar, como
o Louis disse ontem.
Levi vai surtar quando souber, e considerando que o Daniel veio para cá,
acho difícil o segredo continuar por muito tempo.
— Você sabe que é provável que ele descubra hoje, né? — pergunto baixinho
a abraçando.
— Ah, eu estou bem — ela continua procurando pelo Dante com os olhos.
Lira chama o Levi para conversar, e eles somem por quase duas horas, depois
retornam, e ele tem a expressão de quem vai cometer um assassinato a qualquer
instante.
Duas histórias de amor se desenrolam diante dos meus olhos, e não sei por
qual estou mais ansiosa para assistir.
Nos recolhemos no quarto, e o Levi não perde tempo ao me puxar para ele,
me coloca sentada na cama e fica de joelhos na minha frente.
— Você me deu um ano para provar que eu te amava e estava pronto para
viver ao seu lado — segura minhas mãos — mas eu sou apressado demais, e não
consigo mais não te chamar de minha esposa, ainda precisamos de um ano?
Levi me puxa em seus braços com amor, beijando todos os lugares que ele
encontra. Os lábios afoitos não me deixam respirar ou rir, enquanto sou devorada
por ele.
— Vamos — gargalho.
Fazemos amor a noite toda, e no dia seguinte, ninguém fica surpreso com a
notícia do casamento, pelo contrário.
— Sim — gargalho.
— Vamos usar o cenário para o nosso casamento — Levi diz — Dante, traga
um padre, casamos às 17 horas.
A chuva de gritos é grande, Bianca puxa minha mão sorrindo para mim, e
sumimos entre nossos familiares entrando no carro.
— Sim.
Hoje vou me casar com o homem, que sozinho arrumou a nossa festa e me
trouxe segurança, conforto, e amor, que me deu uma família e me fez realizar o
meu desejo, de ter uma família só minha.
Minha história de amor não começou com amor à primeira vista, foi ódio,
depois a paixão, e então a decepção, e hoje, estamos escrevendo o primeiro capítulo
da nossa vida como, casados, sem dores em nosso peito, amando um ao outro, e
estando certos de que é isso o que queremos.
— Olivia Baptista, você aceita Levi Vittileno, como seu marido, para amar,
honrar, respeitar, e ser fiel em todos os dias da sua vida, até que a morte os separe?
— Aceito.
Olivia
Eu nunca senti tanta dor quanto nas horas que passei em trabalho de parto.
Ter meu corpo sendo partido em dois é agoniante e muito dolorido. Minha pequena
nasceu gordinha, com 4 quilos, e a coisa mais linda do universo.
Ela tem bochechas gorduchas, e cabelos, castanho escuro como os meus, os
olhos alternam entre azul e verde, e eu não poderia estar mais cansada e feliz do
que nesse segundo, segurando o meu pequeno mundo nos braços.
Ainda não decidimos o nome, deixamos Lorran escolher, e ele tem demorado
para se decidir. Vamos dar mais dois dias, se ele não falar qual nome quer dar a
irmã, eu vou decidir com o Levi.
— Vem ver sua irmãzinha amor — Levi o pega no colo e coloca o Lorran
entre minhas pernas abertas, ele tem os olhos arregalados e cheios de amor
observando a irmã.
— Já sei o nome.
— Não pode Lorran — Levi responde — ela é menina, e tem de ter nome de
menina.
Tenho meus dois fofinhos na cama comigo, e meu marido, que me enche de
amor todos os dias.
***
3 meses depois.
Itália.
Retorno de Levi Vittileno, o estilista da marca Vittileno.
Lira, com um barrigão de 8 meses, prestes a dar à luz, retornou a Itália para
que o bebê pudesse nascer no país de origem dela. Infelizmente o Daniel não
perguntou sobre a paternidade, e acho que eles não se viram desde o casamento.
Minha cunhada aguentou firme a gravidez, com o cafajeste do pai do bebê, sem ter
noção de que o bebê dele, está prestes a vir ao mundo.
Beatrice, eu não sei dizer o que acontece entre ela e o Dante, uma hora acho
que estão juntos, e na outra parece que ela vai voar no pescoço dele e arrancar sua
cabeça fora.
Hoje eles estão em paz, com pequenos olhares, e se alfinetando. Ele tem
babado de ciúmes desde que um estilista amigo do Levi se sentou ao lado da
Beatrice, e não para de puxar assunto com ela.
— Como já foi anunciado pela mídia, eu sou o estilista por trás de todas as
peças da VITTILENO, e após meus hiatos de 4 anos, estou retornando aos palcos,
no dia do aniversário da minha linda esposa — aponta para mim — um salve de
palmas para a mulher, que tem meu coração, e a mãe dos meus filhos.
Me desprender do ódio e aceitar o amor foi a escolha mais certa que fiz.
Conquistei a minha família, e todos os meus dias têm sido felizes desde então.
Puxo meu menino para mim, e seguro a mão da minha filha, a aliança
brilhando meu dedo.
FIM
Lira Vittileno, é conhecida por ter o pior da personalidade dos seus dois
irmãos. Dona de uma personalidade forte e um coração que anseia ser
verdadeiramente amado. Lira já teve seu coração partido inúmeras vezes, mas nada
a preparou para aquele que não só partiria seu coração, mas também lhe rejeitaria
grávida.
“Nunca mais amarei e deixarei outra pessoa me conhecer para levar uma
parte minha, me deixando vazia e sem rumo”.
“Não estou disposta a machucar meu coração uma segunda vez, porque
depois colar os cacos acaba comigo.”
Ao contar sobre sua gravidez. Lira tem seu coração partido mais uma vez,
pois Daniel tem certeza de ser estéril. Agora, 2 anos após a rejeição, ela, sua filha
Lizzie, e a família, se reúnem para uma comemoração e só bastou um olhar para
que Daniel recordasse que Lira falou para ele que estava grávida e seu coração se
encher de arrependimentos ao perceber a filha que ele rejeitou.
No casamento do meu irmão Levi, ele me seguiu queria mais uma noite após
ter rejeitado minhas ligações em que tentei revelar a ele sobre a gravidez. Daniel
não quis ouvir, me beijou, cheirou e enlouqueceu meu corpo. Como uma boba, eu
caí no encanto dele, a áurea de homem mais velho me hipnotizando, como se ele
fosse capaz de pela maturidade dar respostas a todas as minhas dúvidas.
Daniel não percebeu meu ventre proeminente ou se notou, preferiu ficar
calado. Ele nunca se perguntou o que eu queria com ele e, como pude engordar
somente no ventre? Que homem não acharia isso suspeito? Por um segundo,
enquanto transávamos e ele sussurrava no meu ouvido que sentiu a minha falta,
eu me iludi de que no dia seguinte poderíamos conversar sobre o que aconteceu
entre nós.
No dia seguinte acordei solitária na cama, Daniel tinha partido mais uma
vez. Levi e Olivia decidiram se casar de última hora e com isso no final da noite,
estavam todos animados e comemorando a união do casal que passou pelo inferno
para conseguirem ficar juntos.
Meu coração foi partido há dois anos, me escondi daquele que me magoou
para tentar colocar a cabeça no lugar e cuidar da minha garotinha. Não posso
continuar dessa forma para sempre, por isso eu decidi usar esse espaço para
expurgar todas as lembranças que assombram o meu coração. Em poucas semanas
terei de encontrar o homem que me despedaçou, o pai ao qual minha filha pergunta
com os olhos brilhantes e eu nunca sei o que responder.
Meu querido diário, me ajude a achar a cura para meu coração, quando
ainda sinto a ferida me rasgando todos os dias.
Estava tudo perfeito, até o Santiago vir ao meu apartamento em Los Angeles,
o hálito fedendo a álcool, a mão na porta e a boca descendo para me beijar. Foi
quando a luz bateu no dedo dele e eu vi o aro dourado brilhando. O empurrei e
perguntei o que era aquilo, ele sorriu removendo a aliança do dedo e guardando no
bolso, me agarrou pela cintura me beijando novamente. Ainda lembro a raiva que
senti ao segurar o peito dele e gritar.
— Você é casado!?
— Não faça escândalos Lira, tem semanas que estou comendo sua boceta e
você não reclama. Até parece que não sabia que a Candice é a minha esposa.
Depois disso Santiago usou a aliança todos os dias exibindo na minha cara
que era casado e eu fui feita de amante. Candice que era recatada e não mostrava o
relacionamento, anunciou que era casada para todos do set. O clima ficou uma
merda, pois ela era legal, me dava bom dia e perguntava como eu estava sempre
que podia, tinha paciência para refazer a cena até eu me dar por satisfeita e sempre
me encontrava com um cappuccino de manhã e tarde.
Eu não sabia se era alguma armadilha para me fazer sentir mal por ter
namorado o marido dela, ou ela realmente não sabia que eu tive um caso com
Santiago. Tive fortes crises de ansiedade enquanto trabalhava no seriado, e eu só
queria me esconder ou acabar em um dia as filmagens.
Para piorar, o babaca pegou a diretora de imagens, transando com ela no set
quando achou que todos tinham ido embora.
Ele tinha uma mulher incrível ao seu lado e a tratava feito lixo. Levi foi um
anjo me ouvindo e me ajudando a superar essa barra. Eu queria que ele também se
abrisse para o amor com Olivia, consigo ver as faíscas saindo de seus corpos
sempre que ficam perto um do outro, a tensão sexual chega a níveis alarmantes.
Engulo em seco parando perto deles. Ambos muito altos, me fazem parecer
pequena, mesmo no salto alto. O cheiro dele me invade como um, furação. O
homem cheira a sexo, bruto, suado e gostoso. Não ficaria surpresa em saber que
ele esteve com alguém antes de se vestir.
— Lira sempre foi a mais bela de nós três — Louis fala orgulhoso.
Meu irmão leva o homem mais gostoso que já vi para longe e eu me abano,
sentindo o sangue volta a correr pelo corpo. Nunca me senti tão balançada na
presença de um homem como agora. Chega a ser imoral eu me deixar afetar dessa
forma com uma simples conversa e troca de palavras.
O homem sabe que sou irmã do Louis e ainda me paquera, ele só pode ser
maluco. Não quero irritar meu irmão ou o fazer perder um negócio sem ter certeza
de que o Daniel quer ficar comigo, por isso caminho até a Olivia para pedir a ajuda
dela.
— Com o que?
— Sonda ele para saber quais são as intensões dele flertando comigo desse
jeito.
— Tá, me dá um segundo.
Comemoro por ter convencido Olivia, ela é maravilhosa e será uma esposa
perfeita para o meu irmão. Só basta ele conseguir se abrir para o amor dela e
esquecer o passado. Se eu vivesse presa às minhas péssimas experiências, teria
desistido de ter um amor há anos, mas continuo na luta, buscando pelo amor de um
homem, ter uma família só minha.
Olivia bufa e vem irritada, ela não deve ter gostado da resposta do Daniel,
mas foda-se eu ainda quero esse homem.
Fico na dúvida se ela se refere ao Louis ao Levi, mas vou chutar na primeira
opção, e se ele realmente for como o Louis, então tem uma mínima chance dele se
apaixonar por mim como o Louis se apaixonou pela Bianca e hoje estamos no
casamento deles.
Pode dar certo ou errado, são 50% de chance para ambas as coisas.
— Não caia na dele, Lira — pede, sabendo que não vou dar ouvidos.
— Você sabe que sou irmã do Louis e não tem medo de se envolver comigo?
Choro quando finalmente vejo meu irmão mais velho casado com o amor da
sua vida, a Bianca nem parece que deu à luz nos últimos meses, a pequena Cecília
dormiu aconchegada nos meus braços, e o Lorran no de Olivia. Levi pega o filho
no colo e eu entrego Cecília ao meu pai com a desculpa de que preciso ir ao
banheiro.
Eles vão levar as crianças para dormirem enquanto os adultos seguem para
a festa na estrutura montada no jardim.
Mas ela não está aqui, deslizo contra a porta, abafando os soluços e a vontade
de conseguir me lembrar dela com nitidez. Seu rosto nas minhas memorias começa
a desaparecer como fumaças, eu era tão pequena quando ela morreu em um
acidente de carro, tivemos pouquíssimos momentos juntas e tive de passar por tanta
coisa sem ela, dependendo das governantas para me ajudarem, e hoje eu percebi
que no dia em que me casar e tiver meus filhos, ela não vai estar lá sorrindo para
mim.
Não lembro a última vez em que a vi, mas a dor de descobrir a sua perda
ainda incendeia meu coração.
— Sim?
— Já foi em muitos?
Não espero pela resposta dele, giro nos calcanhares deixando o quarto. Sou
grata por ele ter aparecido e me distraído da dor sufocante no peito. Vou usar o
Daniel para outra distração mais tarde, por enquanto quero ficar mais um pouco
com a minha família e compartilhar da felicidade deles.
Lira
— Dance comigo — puxo o Levi pela mão o arrastando para a pista de dança.
Nossa tia, Antonella, começou a puxar conversa e quase não o deixava respirar
com o sermão de que o Levi tem de superar a morte da Blanca.
— Tia Antonella estava a cinco passos de te jogar de uma ponte por não ter
se casado novamente.
— Eu fico muito feliz em ouvir suas palavras — paramos, puxo seus ombros
abraçando-o.
— E você, quando vai parar de ser uma versão cafajeste de saia do Louis e
aceitar o amor?
Gargalho, meu pai vive me chamando de “Louis versão feminina”, por anos
fui desapegada como Louis. Se o cara não me fazia sentir borboletas no estômago,
somente excitação, eu ficava com ele até outro despertar mais meu desejo. Pulando
de sapo em sapo, em busca do príncipe encantado que nunca veio. Depois de
Santiago, eu não quero outro príncipe, quero um homem de verdade que me cause
um vendaval no estômago e excitação no útero.
— Vai lá — ele beija minha cabeça e some indo ao encontro do seu amor.
Não minto, vou direto atrás do zeppole, uma rosquinha tradicional da Itália,
partida ao meio com recheio de creme confeiteiro no meio e em cima, com amora
no topo e açúcar de confeiteiro polvilhado. Como duas deliciosas, quando sinto um
arrepio na espinha. Giro o pescoço encontrando olhos afiados me encarando,
Daniel me desafia com o olhar para chegar perto dele.
Giro dando-lhe uma visão das minhas costas nuas pelo vestido, eu sinto a
pressão do ar mudando pelo caminhar dele na minha direção. Uma mão grossa
pousa na base do vestido, e seu cheiro amadeirado invade meu nariz com força, me
fazendo inspirar forte.
— Tenho algo mais gostoso para você chupar — a outra mão desce a minha
cintura trazendo meu quadril de encontro a sua pélvis.
— Seus irmãos não precisam ficar sabendo — ele sopra na minha orelha —
Louis já subiu com Bianca e Levi se escondeu com a Olivia em algum canto.
— Estava preparando o terreno para caçar a minha presa — ele morde meu
queixo, fecho os olhos, sua língua serpenteia nos meus lábios. — Vem comigo.
Não é um pedido.
Fico ereta, de queixo erguido, eu saio na frente, quando percebo seus passos
parados, giro o tronco e o chamo com o indicador. Como um cachorrinho
obedecendo à dona, Daniel vem a mim, o sorriso lascivo nos lábios, sabendo o que
o aguarda. Um homem como ele não tem chances de ser ruim de cama ou ter um
pau pequeno, mas caso seja, sempre tenho uma armadilha pronta para correr de
homens ruins de cama.
Se eu falar “banana” meu celular toca com uma falsa ligação, invento que
tem alguém passando mal e vou embora, sem peso na consciência. Nada dói mais
do que um cara cheio de marra de bom fodedor, e ele ser uma tristeza que se
importa somente com o seu prazer. Sexo é uma atividade feita por duas pessoas —
o convencional — se ambos não estão gostando, o outro não deve suportar só pelo
parceiro. Ou é bom para ambos, ou não tem.
Daniel ri rouco, o hálito quente de uísque toca minha face com sua
aproximação. Os pés batem contra o meu, e sua perna se enfia entre as minhas.
Perco o equilíbrio com o choque, seu braço forte rodeia minha cintura me puxando
para perto. A ponta dos dedos quase não tocando o chão, os seios esmagados contra
o peitoral forte dele.
Daniel sorri, desce o nariz encostando no meu, seus lábios tocam o meu e se
afastam, me provocando com pequenas carícias. Agarro seu cabelo enfiando os
dedos nos fios macios. Pego impulso pulando para cima, rodeando sua cintura com
as coxas, seguro seu queixo, enfiando as unhas na carne áspera da barba e o beijo.
Daniel tem o fogo de um vulcão nos olhos. A boca sedenta desce contra meu
pescoço mordicando a pele. Fagulhas de prazer se espalham, consumindo minha
sanidade e mandando o cuidado para o inferno. Ele anda, bate o joelho na cama e
me joga contra o colchão. Mal tenho tempo de reagir e sua boca volta devorando
minha pele, as mãos apertando meus seios como se fossem ursos de pelúcia.
Encontro o volume em sua calça e me esfrego contra ele. Daniel rosna contra
a minha pele, segura as alças do vestido abaixando, prende meus braços com o
tecido, impossibilitando que eu me mexa. Um tremor de excitação corre perigoso
quando percebo a intenção dele. Com os braços presos, Daniel me vira de rosto
contra o colchão, puxa meus pulsos e os prende com a gravata.
— Você gosta de sexo pesado — ele puxa meu cabelo, batendo minha lombar
no seu tórax — vou comer sua boceta até que não consiga andar. Se gritar, eu te
bato — estapeia minha bunda, arfo — entendeu?
— Ah, bebê — rio rouco, provocativa — eu vou gritar implorando pelos seus
tapas.
— Porra Lira — Daniel puxa meus cabelos, os olhos lacrimejam pela dor e
eu arfo, ensandecida para que ele me foda.
Daniel solta meu tronco, bato no colchão com a bunda empinada. O vestido
sobe enrolando na cintura, a calcinha desce pelas coxas e seus dedos alisam a região
macia com delicadeza. A mão dele me deixa, o ardor se espalha, o tapa estrala alto,
e eu gemo me deliciando. Daniel me bate mais cinco vezes, abro as pernas, sedenta
para ter seu pau em mim, pingando de desejo para ser fodida.
— Abre mais, vou estapear sua bocetinha — ordena, e eu me arreganho para
ele, quase babando no colchão. — Você ficou encharcada e nem coloquei meu pau
para fora da cueca — os dedos me provocam, gemo empurrando contra sua mão
— nunca encontrei uma mulher como você, que se entrega ao prazer, sem vergonha
— seu rosto desce contra minha bunda, esfregando a barba — eu vou te comer a
noite toda, até eu não ter mais porra.
— Uma noite e nunca mais, porra Lira — estapeia minha vagina, grito, quase
gozando — não tem como ser mais perfeita!
Daniel não é o príncipe que eu procuro, ele quer uma foda alucinante, tanto
quanto eu. Nunca fui de implorar por homem e não vou fazer isso por esse cafajeste
gostoso. Se nossos destinos se cruzarem novamente, que seja por outro motivo.
Abro os lábios pronta para o receber. Daniel retira o pau da calça e eu salivo
ao ver a grossura e o tamanho. Minha vagina contrai ansiosa para o ter. Beijo a
cabeça rosada enfiando o que consigo, o chupo com maestria, arrancando gemidos
roucos de sua garganta, deixando claro o quanto ele gosta que eu o tenha na boca.
Daniel puxa meu cabelo me fazendo o soltar com um “ploc”, alisa meus
lábios e me joga novamente no colchão. Abro as pernas, pronta para recebê-lo.
Daniel cai contra meu corpo, alisando o pau na minha vagina como um vibrador.
Morde meu pescoço e mete no meu interior com força. Grito, amando a sensação
de ser preenchida.
A cama balança, meu corpo sobe e desce, enquanto ele soca com força e
velocidade no meu interior. Os braços doem pela posição e eu faço da dor um
prazer inestimável. As mordidas vão para meu peito, mordiscando a carne entre os
dentes, enlouquecida eu chamo seu nome várias vezes. Daniel surge acima da
minha cabeça, beija meus lábios e me olha lascivo.
— Toma sua safada — ele enfia até o meu útero e vejo estrelas.
Apesar das palavras ditas enquanto transávamos, sabemos que nosso caso é
de uma única noite.
Lira
Deixo o diário em cima da mesa, de volta a meu apartamento em Los
Angeles, eu me preparo para as filmagens da nova adaptação em filme, do livro
“Ultrapassando o tempo por você” a primeira foi um desastre.
Não faz nem três dias que voltei para casa, após o casamento do Louis, e por
mais que use o trabalho para conseguir me distrair, a imagem do Daniel retorna aos
meus pensamentos. Os olhos frios como gelo e a boca quente como o inferno,
beijando meu corpo, me tomando para si e enlouquecendo cada pedaço do meu ser.
Nunca tive tanta vontade de repetir uma transa quanto com esse homem.
A vizinha conservadora do outro lado vai sair para o lado de fora batendo na
porta dele com panelas, que só recebera como resposta mais gemidos altos.
— Se eu não viajasse tanto a trabalho ficava com você — falo para ela que
mia esticando o pescoço pedindo carinho no queixo.
****
Meus dias passam voando, quando me dou conta, um mês se passou desde
que cheguei a Vancouver, o tempo frio acaba comigo, uma gripe me faz ficar de
cama por vários dias. Minha assistente, Louise, cuida de mim como uma verdadeira
irmã. Após essa maldita gripe passar vou garantir um aumento para ela, ninguém
merece ficar segurando meu cabelo enquanto vomito colocando as tripas para fora.
— Lira, eu acho que você não está gripada — ela fala após uma longa sessão
de vômito matinal.
— Era uma cena muito chata — a dor na cabeça não me permite acompanhar
a linha de pensamento dela.
Faço o que ela pede, aos poucos consigo me acalmar e respirar melhor.
Relembro a minha noite com Daniel, buscando vestígios de que eu tenha esquecido
de usar camisinha. Eu lembro de absolutamente cada segundo, menos do momento
em que ele vestiu a camisinha antes de me foder. Ele pode ter feito sem que eu
olhasse, certo? Merda de álcool misturado ao tesão, não me deixaram prestar
atenção ao que acontecia no momento.
Ela deixa a sala e eu me deito, refletindo sobre o que vou fazer da minha vida
se eu realmente estiver gravida. Minha jornada no set de gravação é intensa,
iniciamos as 8 da manhã e só vamos embora depois das 22h, para cumprir o prazo
e as cenas poderem ficar perfeitas. Eu não tenho como cuidar de um bebê enquanto
vivo nessa loucura de vida atarefada e o Daniel...
MEU DEUS!
Ele é um homem adulto, divorciado, que eu não sei quase nada sobre a vida,
além de que trabalha para o meu irmão, e se ele tiver filhos e não quiser outro?
Prometemos que seria somente aquela noite, se eu aparecer contando que fiquei
grávida ele pode pensar que sou uma interesseira ou uma maluca que engravidou
para o prender.
Esse não era o acordo com o Daniel, e o medo de como ele vai reagir gela a
minha espinha. Eu deveria ter lembrado que não estava usando o anticoncepcional
e mandado ele colocar uma camisinha! Bato na testa sem saber o que farei da vida.
No segundo em que Louis descobrir sobre o bebê, vai querer saber quem é o pai e
o motivo de não estarmos juntos, ele vai matar o Daniel!
— Meu Deus.
Eu vou ser mãe, não faço a mínima ideia de como fazer isso, só tive uma até
os 6 anos e fui cuidada por três homens extremamente ciumentos e protetores. Mas
safados ao ponto de me ensinarem que devemos ser desapagados de amores que só
vão nos machucar. Louis engravidou a Bianca e encontrou o amor dela, Levi
engravidou a Olivia e estão construindo um novo amor. E agora, eu engravidei do
Daniel, quais as chances da história se repetir?
Três minutos depois, ela me envia o número, sem fazer perguntas, com a
frase:
“Estou aqui para o que você precisar e não direi nada ao seu irmão”
“obrigada”
Fecho a conversa e ligo para o Daniel. O número chama até cair na caixa de
mensagens, tento novamente mais três vezes, até ouvir a voz grave do outro lado.
Meu ventre se contrai em ansiedade pelo que precisarei fazer. Talvez seja
melhor marcar um encontro pessoalmente do que dar a notícia por telefone.
A linha fica muda por uns minutos, levando meu coração a quase sair pela
boca.
— Sim, senhorita Vittileno — odeio a formalidade na sua voz, indica que ele
não quer ter essa conversa.
— Você não entende — tento argumentar, ele faz um som de “xiu” no outro
lado e me calo.
— A senhorita que não entendeu, não temos nada para conversar, adeus Lira.
A linha fica muda e eu quero socar a cara do Daniel. Imagino como a situação
deva parecer para ele, a irmã do seu chefe, com quem ele transou, ligando um mês
depois e pedindo para se encontrar, como se morássemos na mesma cidade.
A recusa dele só acende o meu fogo em fazer com que o Daniel saiba sobre
o bebê. Esse desgraçado não vai escapar facilmente, não depois do modo como me
tratou.
Lira
Uma menina!
A frase não para de repetir na minha mente, enquanto a médica continua
apontando para o ultrassom, mostrando as formas da minha menina e as batidas
forte do seu coraçãozinho, preenchendo a sala. Infelizmente não tenho ninguém
me acompanhando, vim a todas as consultas, sozinha, e isso me deixou abalada.
Por enquanto não contei a ninguém sobre a bebê e espero continuar assim,
não estou emocionalmente estável e minha equipe tem sofrido com a alteração de
humor e o quanto tenho passado mal no período das gravações. Sei que a minha
médica vai brigar comigo novamente, quando terminar de falar sobre o
desenvolvimento da bebê de 15 semanas no meu ventre.
— Meu ventre quase não aparece — suspiro, sentindo a dor no peito por
estar ofendendo a minha bebê — eu juro que estou tentando me alimentar melhor
e descansar — lágrimas invadem meus olhos — mas é muito difícil fazer qualquer
alimento parar no meu estômago. Vomito assim que mordo a primeira fatia, até de
uma maçã. — Soluço — eu não sei o que fazer, preciso continuar trabalhando para
encerrar a série, e o que posso fazer deitada para descansar, eu realizo, mas é difícil.
— Vamos trocar o seu remédio de enjoo, por enquanto quero que você vá
tomar umas vitaminas na veia. E preciso de mais exames da bebê para saber se ela
está nutrida. Volte daqui a um mês, e caso o enjoo não cesse e você continue
perdendo peso, teremos de usar métodos mais ofensivos para te fazer se alimentar.
É tão difícil não ter ninguém me ajudando e ter de lidar com a pressão da
diretoria por eu estar a uma cena de atrasar a finalização da série. Quando esse
trabalho acabar, vou tirar férias por tempo indeterminado, não aguento mais a
pressão da indústria e saber que estou causando mal a minha bebê acaba comigo.
Não posso contar com os meus irmãos, eles estão seguindo com suas vidas
e superando suas próprias dificuldades, o pai da bebê simplesmente decidiu que eu
não existo e se recusa a falar comigo, estou perdida como nunca estive. Vou direto
para a sala da enfermaria tomar as vitaminas, a enfermeira sorri triste por me ver
ali novamente, praticamente depois de toda consulta, tenho vindo até aqui tomar
algo.
Sempre me criei rodeada por homens e nunca foi o suficiente para suprir a
dor no meu peito, não queria que a minha bebê crescesse sem um pai na sua vida e
sentisse o que senti pela ausência da minha mãe, mas se o Daniel se recusa a me
atender, só posso esperar pelo dia que vamos nos reencontrar. Mas pela minha
pequena, eu vou fazê-lo me ouvir.
Diferente de mim, a Olivia tem um barrigão enorme, nem mesmo parece que
a diferença de tempo de gestação entre mim e ela é só de algumas semanas.
Eu queria que o Daniel fosse capaz de entender que eu não estou pedindo um
relacionamento, somente que ele reconheça a paternidade da filha, ou, no caso,
fique ciente sobre a existência da bebê. Já tem cinco meses e meu ventre não se
desenvolveu muito, aumentou pouca coisa. Sem uma evidência explicita da bebê
em meu ventre, dificilmente ele notará, se eu não o falar sobre a bebê.
A minha obstetra espera que com a folga que terei até a promoção da série,
eu consiga me alimentar melhor e não fazer nenhum esforço que me force a perder
peso.
Minha meta é engordar e fazer minha bebê crescer para o tamanho esperado.
Com a finalização da edição dos últimos episódios, eu tirei férias do estúdio e
apliquei a minha licença a maternidade. Não aceitarei nenhum projeto pelos
próximos anos, quero aproveitar esse tempo com a minha menina e não
trabalhando em um estúdio, enquanto uma babá cuida da minha pequena.
Pouso na Itália e vejo meu pai me esperando com os braços abertos, meu
ventre contrai ao imaginar como ele irá reagir quando souber da gravidez. Não
consigo imaginar quem dos três homens da minha vida será o mais exagerado
quando souber a verdade.
Estou usando um suéter verde colado, que deixa meu ventre pequeno
protuberante. Seus olhos encontram os meus com lágrimas contidas, ele não fala
nada antes de me abraçar forte e fungar nos meus cabelos. Aperto seu corpo com
carinho, senti tantas saudades dele.
— Bom, então temos uma situação a ser resolvida — passa as mãos nos fios
negros com alguns brancos na cabeça.
— Não é bem “a ser resolvida” — faço aspas com os dedos — vou começar
do começo, mas não vou dizer o nome dele, quero manter isso comigo, enquanto
não falo a ele sobre a bebê.
Fungo dispersando os pensamentos sobre o meu pai e conto a ele tudo que
aconteceu com o Daniel. Sou sincera ao admitir que é um amigo do Louis e por
esse motivo vou contar ao meu irmão sem dizer que a pessoa é próxima a ele.
— Louis causaria uma verdadeira guerra e poderia atrapalhar na relação do
pai da bebê com ela — confesso — não almejo me relacionar amorosamente com
esse homem, mas não quero causar confusão entre ele e a bebê.
— Então a verdade é que você ainda não conseguiu contar, porque ele não
quis falar com você. Concordaram que seria somente uma noite e agora ele pensa
que você quer um relacionamento?
— Se ele rejeitar a minha neta me diga, vou garantir que o Louis não o mate.
— Pai — ralho encostando novamente o rosto contra seu peito — não seja
agressivo. O Louis é o único babaca da família.
— Ela tem garras afiadas — a voz reverbera grossa atrás de mim e arrepios
sobem por minha coluna ao reconhecer a quem aquele timbre pertence.
Eles riem em cumplicidade. Passei meses tentando falar com Daniel e agora
ele aparece como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse rejeitado todas
as minhas tentativas de contato fracassadas, como se não tivéssemos assuntos
inacabados para resolver.
Aperto os punhos ignorando sua presença, não me deixando afetar por seu
cheiro. Sorrio para meu irmão o puxando pela mão, quero acabar com a tortura
quanto antes.
Louis pode não ser tão perceptivo quanto nosso pai para notar a
protuberância em meu ventre, mas nada me garante que Daniel seja dessa forma, e
não quero causar uma cena no aniversário da minha sobrinha.
Por hora vou manter meu plano de falar a verdade aos meus irmãos sobre a
gravidez e aproveitar o Daniel aqui para o encurralar e fazer com que me escute.
— Oi Lira — ele fala, quando o ignoro subindo as escadas com o Louis. Viro
o rosto de lado encarando o homem que parece ter ficado dez vezes mais lindo, os
fios brancos na barba causam comichão entre as minhas pernas.
Viro novamente caminhando para meu quarto com meu irmão ao meu
encalço. Entramos, e me preparando para os gritos que virão, eu ligo o som do
quarto, não quero ninguém de fora ouvindo o que vai acontecer aqui dentro.
— É para que as outras pessoas não escutem, vou contar a cada um no seu
devido tempo — aperto os dedos e me sento na cama como uma criança que fez
ruindade — vem pra cá.
Louis percebe meu tom sério e se senta ao meu lado, sua mão áspera, segura
a minha fazendo carinho nos meus dedos, e eu só queria poder me esconder nos
braços do meu irmão, como fazia quando era pequena e deixar ele resolver a
situação por mim. Ser adulto é uma merda, temos de arcar com as consequências
das nossas escolhas.
Louis fica em silêncio por mais tempo do que imaginei, a música é a única
coisa audível na sala. Sua mão aperta a minha com mais força — sem machucar
— e ele levanta num rompante me puxando junto. Seus braços me rodeiam com
força, a mão levando minha cabeça contra seu peito. Agarro meu irmão chorando
contra ele.
— Eu não posso te dizer, ainda — falo com a voz embargada — ainda não
consegui contar para ele.
— Igual como você dormiu com a Bianca — jogo a verdade na sua cara —
e depois foi mega babaca com ela.
— Aí por que fui um stronzo dá o direito de outro homem ser assim com
você? — abre os braços — eu aprendi com os meus erros e me arrependo
amargamente de ter magoado a Bianca, mas fui homem para assumir as minhas
responsabilidades e reparar os erros, e graças a Deus que ela me perdoou, ou hoje
não teríamos a nossa família!
— Minha irmãzinha — beija minha testa — vai ser mãe, não acredito que
você cresceu assim.
— Vem, preciso te alimentar para que a minha sobrinha consiga crescer bem.
A louca aqui decidiu que vou fazê-lo sofrer um pouco. Antes de irmos
embora, eu conto a verdade, mas enquanto isso, ele vai sentir como é ser ignorado
por quem quer conversar com você, e baixar a bola dele por achar que eu queria
algo além do que combinamos.
Aliso meu ventre com carinho, sempre que estou estressada com o Daniel eu
toco a casinha da minha bebê na esperança de acalmar a fúria no meu coração e
não a deixar sentir os sentimentos ruins que se espalham como um vulcão.
— Estamos aqui — Bianca segura a minha mão — para o que precisar, como
o Louis disse ontem.
— Você sabe que é provável que ele descubra hoje, né? — Olivia me abraça
e pergunta baixinho.
— Estou pronta para isso — beijo seu ombro, tocada pelo carinho da minha
cunhada.
— Ah, eu estou bem — Beatrice responde e percebo seu olhar vagando pela
propriedade, deve estar buscando pelo Dante, o amor secreto de anos dela.
— Manteve contato com o Cowboy? — instigo.
— E com outras coisas, pelo seu sorriso — Olivia acusa gerando risadas.
Louis nos chama para o almoço. Todos os casais sentam junto e meu pai na
ponta da mesa e o da Olivia e Bianca na outra. Sobrando para eu ficar ao lado do
Daniel. Continuo ignorando-o, fingindo que não sou afetada pelo cheiro sexy
emanando de seu corpo chocando contra o meu como a colisão entre dois carros.
Seu pé alisa o meu, em resposta piso no dele com força. Daniel chia ao meu
lado antes de apertar o garfo com força e me olhar com ódio. Sorrio de lado para
ele o deixando ciente de que não estou a fim de conversa, a raiva borbulha como
um vulcão. Se o stronzo me rejeitou achando que eu estava sendo grudenta, agora
vai perceber que não era nada disso. Que morra se contorcendo para saber o que
eu queria.
Levi se senta me fazendo deitar, ele encara meu ventre e toca minha barriga
com cuidado.
— Sì, é aqui onde minha família está e quero dar uma pausa, me alimentar
melhor e cuidar da minha menina sem estresse.
— Como quiser — beija meu ventre — o zio Levi vai te amar e te proteger
de tudo e todos, minha princesinha. Você vai ter três priminhos para brincar e te
amar.
Sim, minha menina terá uma família que a ama e protege de tudo e todos,
nunca vamos deixar nada faltar e mesmo que o Daniel não queira assumir sua
responsabilidade eu estarei pronta.
— Obrigada Levi.
Ele beija minha bochecha antes de me puxar para seu colo novamente. Em
algum momento eu adormeço.
Lira
A noite chega e todos se reúnem em um jantar alegre. Como, com o estômago
revirando por ficar novamente perto do Daniel. Não aguentando mais a ansiedade
pôr ignorá-lo, e sabendo que terei de contar a verdade em algum momento. Eu
esperava que ele continuasse frio e distante como nos últimos tempos, ao invés de
ficar me cercando e seguindo por onde vou.
Por isso decido acabar de uma vez com a tormenta e deixo que ele me siga
para o quarto.
— Deveria — ergo o queixo — você não quis falar comigo quando tentei
contato, o que mudou?
— Combinamos que seria somente uma noite. Lira — seu polegar desliza
pela minha bochecha — ligações no dia seguinte não fazia parte do acordo.
— Você — ele me olha com tanta fome que me deixa ansiosa, querendo o
provar mais uma vez — mais linda do que nunca.
Daniel desliza a mão pelo meu braço subindo a manga do vestido, arrastando
arrepios pela minha pele em chamas. Fecho os olhos me odiando por ser fraca na
sua presença. Seu hálito quente bate contra o meu rosto, o quanto seria ruim o usar
somente essa noite e depois o mandar embora? Vou perder novamente a chance
que eu tenho para contar sobre a bebê no meu ventre.
Levo a mão ao ventre pronta para contar a ele. Foi o Daniel que veio atrás
de mim, é ele quem me tenta, querendo a minha atenção e mais uma noite de sexo.
É ele quem terá de lidar com as consequências dessa vez.
Sou virada de costas, sua mão agarra minha bunda quando ele me faz ficar
de joelhos na cama. Levanta o vestido expondo meu quadril e eu entro em chamas
ao sentir sua barba raspando na minha pele, mordendo minhas coxas e sugando
minha intimidade pulsante por cima da calcinha. Apoio as mãos no colchão,
esquecendo completamente que um dia eu queria dizer algo a ele e mergulhando
no prazer enlouquecido que sua boca me causa.
Daniel me solta e ouço o som da camisinha sendo rasgada, dessa vez ele
lembrou. Pena que não vai adiantar de nada. Empino mais a bunda abrindo as
pernas para facilitar a sua entrada, deixo que me penetre forte e bruto. Gemo
gostoso aproveitando cada segundo das estocadas contra a minha pele, das mãos
apertando com força minhas coxas puxando contra ele, da respiração pesada que
desce contra meu pescoço.
Percebo que ele se aproxima de seu ápice e baixo o quadril fazendo seu
membro escapar de dentro de mim. Como um animal cedendo, ele segura meu
quadril me virando de frente, pronto para meter novamente, eu sorrio ao fechar as
pernas impedindo sua investida. Me sento na cama, enquanto Daniel me olha sem
entender o que aconteceu.
De joelhos vou até ele, seguro seu queixo trazendo sua boca para mim em
um beijo erótico, quente. Suas mãos apertam minha bunda, tentando me fazer abrir
novamente as pernas. Mordo seus lábios preguiçosa, o encaro com lascívia no olhar
e sorrindo o solto.
— Você me ignorou quando eu queria falar, agora sou eu quem vai te ignorar
— desço da cama caminhando até a porta do quarto enquanto ele fica com o pau
enorme e duro para fora das calças, me olhando incrédulo. Toco a maçaneta — se
não quiser que te vejam assim, sugiro que se vista.
Me deito na cama rezando para não me arrepender, ainda temos mais dias
juntos na mansão e agora que consegui a minha vingança, poderei contar a verdade
e deixar que o Daniel decida o que ele quer fazer.
Para mim sempre foi clara qual a decisão certa, ter a minha bebê e a amar,
independente do que o pai dela queira fazer. Minha piccola será amparada por uma
família que a ama.
Por mais que eu queira irritar o Daniel, decido o fazer em outro momento.
Termino de comer e subo para o meu quarto, ansiosa demais pela minha proeza,
acabo demorando a dormir.
Levi e Olivia vão se casar! O que era para ser uma festa de aniversário da
pequena Cecilia, se transformou em um casamento de última hora. Por sorte, a
estrutura que ele usaria para fazer o pedido de casamento acabou sendo perfeita
para usar durante a cerimônia. Que foi linda e perfeita, após a festa todos se reúnem
para beber e por volta das 2 horas da madrugada, eu canso de tanto rir das histórias
do pai da Olivia com o meu pai, ambos planejam uma viagem de coroas pelo
próximo ano.
— Boa noite para vocês — digo a todos e a ninguém em especial. Subo para
meu quarto morta de cansaço e quando finalmente entro e fecho a porta um sapato
preto impede.
— O que você quer? Achei que tinha ficado claro que seria somente uma
noite — cruzo os braços, como ele não percebeu meu ventre inchado nesse vestido
colado?
— Era para ser, mas você não sai da minha cabeça — toca a testa — porra
Lira, eu sou um homem adulto que desistiu do amor depois das merdas que a minha
ex fez, ter sentimentos por você nunca fez parte dos planos.
Desarmo, ele realmente gosta de mim? Meu coração acelera uma batida
quando ouço suas palavras.
— Nunca.
— Eu não posso ter filhos — ele fala com pesar. — O pai do seu bebê deve
ser outra pessoa.
— Não estou enganada, Daniel, é você! — Aperto os punhos com raiva pela
sua recusa.
Atônita e sem reação, é como eu fico quando Daniel passa por mim me
deixando sozinha no quarto. É impossível o que ele acabou de falar, eu tenho plena
consciência que não me deitei com nenhum homem ao menos três meses antes de
o conhecer e depois dele, não existiu mais ninguém. A minha bebê é do Daniel,
mas como o fazer acreditar que falo a verdade?
Subo decidida a esperar. A espera leva horas e quando percebo o sol nasce e
o aniversário da Cecilia começa. Daniel passa o dia trancado de ressaca, e o Louis
feliz da vida tirando fotos com a filha. Tenho vontade de falar com a Beatrice sobre
o que aconteceu, mas desisto ao ver a minha amiga conversando com o Cowboy
gostoso. Quando desisto de esperar o Daniel sair do quarto, vou até lá. Entro o
encontrando deitado, encarando o teto.
Estou certa sobre a minha decisão. Não vou permitir que Daniel rejeite
novamente a minha filha, eu fiz a minha parte, contei a verdade. Não preciso dele
para ser uma boa mãe.
Daniel
Puta ressaca do caralho, eu não deveria ter bebido tanto ontem com o Louis.
Às vezes esqueço que o maldito italiano tem um fígado de aço que aguenta álcool
como se fosse água. Não lembro bem o que aconteceu ontem, o dia inteiro foi
apagado da minha memória e agora estou trancado no quarto, sofrendo com dor de
estômago, cabeça, e enjoado para cacete.
Lembro que o motivo da minha raiva foi a Lira, como ela ousou me dispensar
depois de todo o tempo que passou tentando entrar em contato? Quando não era as
ligações dela que eu rejeitava, eram as da minha ex-esposa, que está determinada
a tirar até o último centavo que eu tenho com o pagamento da maldita pensão.
Eu vivi 20 anos ao lado daquela mulher e nunca imaginei que pudesse ser
traído daquela forma. Estive ao lado dela quando o diagnóstico de infertilidade
veio, revelando que eu era infértil e não podia dar o que ela sempre quis, filhos. Eu
fiquei arrasado, os anos passaram, e agora com 40 anos, ela não pode mais ter bebês
e me culpa por ficar depressiva por causa disso.
Mas ela tinha a porra de um amante desde os 35 anos, poderia ter usado ele
para dar os filhos que ela queria, já que eu não era uma opção.
Sempre que me lembro daquele dia eu tenho vontade de beber cada vez mais,
fiz o exame e pouco depois o médico me deu a notícia, Verônica chorou a noite
toda e depois que fui trabalhar e retornei, ela tinha desaparecido. Por uma semana
inteira não tive notícias dela e quase enlouqueci, a polícia achava que eu a tinha
matado.
Então ela reapareceu depressiva e alcoólica, nunca me contou onde esteve
naquela semana, os anos seguintes, foi um verdadeiro inferno, até que descobri a
traição e terminei o casamento. Antes eu tivesse de pagar uma pensão para meus
filhos ao invés daquela diaba de mulher ardilosa que consegue sempre enganar os
médicos psiquiatras.
Eu tive vontade de arrancar o pescoço lindo dela quando fui colocado para
fora e meu pau se recusou a brochar, ele queria voltar para a bocetinha quente que
tinha dispensado a nós dois nem que fosse na marra.
Por isso fui para o banheiro e bati punheta como um maldito adolescente,
louco para gozar e poder tirar satisfação com a safada, a foder de novo até o talo e
esporrar no meu interior quentinho.
Mas ao invés disso, bebi como um condenado por causa da raiva que a
Verônica me causa e ainda tenho de aguentar a Lira entrando feito um vendaval no
meu quarto espumando pela boca, querendo explicação sobre o que falamos ontem.
Eu nem lembro de a ter visto depois do casamento, quanto mais de conversado.
Mas sei que não transamos ou minhas bolas ainda não estariam doendo de desejo.
Ela vai embora bufando de raiva e eu continuo rezando aos céus para me
recuperar da maldita ressaca. No andar de baixo as crianças gritam, principalmente
o Lorran, ocasionalmente o ouço dando ordens nas brincadeiras. O menino será
pior que o tio e o pai juntos quando crescer, ou talvez ainda pior que a Lira, que
parece uma mistura feminina dos irmãos.
Por mais que eu queira esquecer a diaba, ela não sai da minha mente.
Durmo após tomar outro comprimido, acordo de madrugada com uma cede
infernal, o jarro de água que eu tinha trazido secou e tenho de descer. Na cozinha
a luz da geladeira acesa me mostrando uma bunda empinada na minha direção, eu
conheço aqueles cabelos loiros como o sol e a bunda mais redonda e gostosa que
eu já vi. Me aproximo devagar dela que come o resto do bolo.
Lira se assusta e afasta para trás, batendo contra meu quadril, a seguro com
as mãos. Ela gira nos meus braços me olhando desconfiada, com a boca cheia de
glace. Ao contrário do que outras mulheres fariam, ela me ignora e volta a ficar
inclinada com a bunda roçando em mim enquanto come seu bolo. Me estico sobre
ela pegando a garrafa de água, roçando meu pau traidor e duro como aço na bunda
que ele quer comer.
— Até você me deixar meter no seu rabo — digo antes de beber a água.
Lira, como a capeta que é, segura o vestido para cima, levantando o tecido e
me mostrando a calcinha de renda preta. Agarro sua bunda redonda, alisando a pele
como um tarado, esfregando em sua bunda gostosa. Deixo a jarra em cima do
balcão e fico de joelhos, beijo sua bochecha arranhando a barba contra a sua pele.
Sem paciência para joguinhos, eu desço sua calcinha, provado a delícia do seu mel
na minha língua.
— Tem certeza de que não vou te deixar na mão de novo? — ela pergunta e
eu ligo o foda-se, agora que provei o gosto da sua bocetinha, eu só quero mais. —
Eu poderia te deixar me fazer gozar e sair daqui rebolando — fecha a geladeira,
sentando-se para trás, esfregando a boceta na minha boca. Mordo seu grelinho
arrancando um gemido safado dela.
— Você não vai embora — digo soltando sua carne e ficando em pé.
— Não! — Lira fala alto e me assusto, achando que a machuquei. Solto seus
braços e ela se afasta da bancada como se tivesse levado um susto — qual é a sua,
Daniel? Primeiro me rejeita e depois finge que não se importa com o que eu te disse
ontem, e agora vem cheio de fogo — abaixa a roupa como se tivesse lembrado que
estava determinada a me afastar.
Acho que ela deve falar da última vez que transamos, mas estou realmente
confuso como a camisinha pode ter vindo parar no assunto. Eu tenho certeza de
que não tenho nenhuma DST, faço meus exames regularmente e antes de transar
com ela e depois eu estava limpo. Sou um homem estéril que não pode ter filhos,
não consigo entender a raiva dela, quando obviamente ela esqueceu também.
Ela sai bufando da cozinha e eu fico sem entender que porra acabou de
acontecer. Camisinha, teste, o que diabos essa mulher quis dizer com isso? Coço a
cabeça decidido a ir tirar essa história a limpo, quando subo o primeiro degrau da
escada meu celular toca, nem lembrava que estava com ele no bolso. O nome de
Verônica brilha na tela e eu tenho vontade de cometer um assassinato.
— Te avisar que entrei com uma ação para aumento de pensão, já que você se
recusa a fazer isso com uma conversa amigável, eu vou para a justiça.
— Peça pensão ao maldito do Fred, é com ele que você namora e me traiu, ou já
se esqueceu que o desgraçado me deu um golpe e ficou com a minha empresa?
oportunista.
Nunca vou ser capaz de superar a dor que a Verônica me causou e por isso
me surpreende tanto a minha vontade de ter a Lira, dela não sair dos meus
pensamentos, isso não acontece desde o meu divórcio.
E quanto mais essa diaba me rejeita, mais eu quero ir atrás dela e fazê-la
engolir o seu orgulho enquanto como sua bocetinha. Levo os dedos aos lábios
aproveitando o resquício do gosto dela. Preciso tê-la novamente, mas não hoje,
estou irritado demais com a Verônica e sou capaz de discutir feio com a Lira
projetando nela a minha raiva.
Volto para o meu quarto, ainda temos mais uma semana na casa de verão da
família Vittileno, vou usar esse tempo para entender o que a Lira quis dizer sobre
teste e camisinha. Na minha cabeça não consigo encaixar as peças desse quebra-
cabeça, e a italiana arisca vai ter de fazer isso, por bem ou sob tortura a amarrando
na cama e impedindo que goze, enquanto não me falar a verdade.
Não que eu seja um tarado, mas a primeira coisa que faço ao acordar é ir
atrás da Lira, encontro seu quarto vazio, desço as escadas vendo a família reunida
na mesa, noto a ausência da Lira e da loura amiga dela, acho que era Beatrice o
nome da mulher. Me sento ao lado do Louis e como quem não quer nada pergunto:
— Sim, eles voltaram para cuidar da fazenda e a Lira foi junto — Olivia me
responde, atenta a conversa.
— Entendi.
Me limito a dizer, pelo visto terei de esperar outra reunião de família a qual
serei convidado para conseguir falar com a Lira. Apaguei o número que ela me
ligava e não posso pedir a seus irmãos sem levantar suspeitas de que algo aconteceu
entre mim e ela.
Pode demorar quanto tempo for, mas eu ainda vou encontrar a Lira Vittileno
e tirar a limpo a situação que nos envolvemos, tem alguma coisa desse quebra-
cabeça que não faz sentido e eu vou desvendar.
Lira
Finalmente estou com um barrigão enorme de fazer inveja.
O alívio que sinto é tão grande que tenho vontade de ligar para o Daniel e
dizer que a nossa menina está saudável e bem, que acabam os dias de medo e
comilança desesperadas — tudo com base no que a minha nutricionista
recomendou — que ela finalmente ganhou peso e minha barriga de gestante pode
ser vista a quilômetros de distância.
O Dia dos Namorados se aproxima e tenho planos para o casal, pena que eles
não sabem disso ainda.
Às vezes tenho vontade de ligar para o Daniel e contar tudo sobre a gestação,
mas como ele falou comigo retorna a minha mente, me deixando com medo de
uma nova rejeição. Sei que sou forte e posso fazer tudo sozinha, mas ainda assim,
eu queria o que os meus irmãos têm, companheirismo e amor enquanto cuidam dos
filhos.
Sinto saudades da Louise, mas sou grata todos os dias por ter a Beatrice ao
meu lado.
Por sorte não estamos em temporada que o nível da água sobe e podemos
andar sem precisar nos locomovermos em embarcações, tenho pena dos turistas
que veem aqui nessa época do ano, achando que encontrarão a cidade feita entre as
águas, isso só acontece em uma determinada época do ano, e é magnifico, mas o
resto do tempo é só uma cidade comum com muitos canais de água.
— Com certeza, ainda não tenho roupas o suficiente — adoro usar blusas
que deixam a barriga a mostra, exibindo com orgulho a minha gestação.
— Minha mãe disse que pode te ajudar no seu resguardo — ele fala trazendo
as sacolas.
— Eu agradeço e com certeza vou querer a ajuda dela. Todos vocês têm sido
incríveis nesse tempo, obrigada — seguro a mão dele, quando passa por mim e o
puxo para um abraço.
Apesar de ser meio turrão, Dante é um amor de homem, ele escuta, conversa,
e não te faz sentir mendigando por atenção. Eu entendo o motivo de ter sido fácil
para a Beatrice se apaixonar por ele. Um homem lindo como ele, com cabelo
cheiroso e braços musculosos é a receita para derrubar qualquer mulher com um
hormônio querendo sexo.
— Ele tem meu número e eu já contei a verdade, se não me ligou, ele que vá
catar bosta de vaca.
Evito usar palavrões para a minha piccola não aprender, é difícil ser criativa
quando quero mandar alguém se foder, mas tudo pelo bom desenvolvimento da
minha menina.
— Ele tenta o tempo todo me fazer falar — dou de ombros — mas não quero
minha piccola sentindo que só foi aceita pelo pai devido ao tio babaca que não
respeita a decisão da mãe. Para mim o infeliz morreu.
Nunca vi uma mentira tão deslavada quanto a dele. Estéril uma ova, tenho
certeza de que não engravidei sozinha e muito menos do espírito santo. Ele mais
do que teve tempo para vir atrás de mim, se não o fez, é porque não se importa o
bastante para isso e pensar sobre a possibilidade de não significar nada para ele
quando meu coração idiota insiste em lembrar da sua existência todos os dias, me
magoa.
— Certo — Dante fala — vou ter de assumir esse papel — ele brinca e eu
gargalho.
Pego a frigideira na minha mão e taco no braço dele com ódio da sua
insistência em saber quem é o pai da bebê. Estou quase dando à luz e não suporto
mais ouvir a voz dele.
— Não mate meu papai — Cecília pede rindo, ela chora quando brigo com
ele.
— Está vendo piccola — Louis pega a pequena no colo — é isso que uma
gravidez faz com as mulheres, elas viram assassinas, nunca engravide.
Cecilia ri do pai e beija a bochecha dele. A pequena tem cabelos tão loiros
quanto os nossos. Será que a minha menina será loira, ou terá os cabelos pretos
como o do pai? Pensar nisso aperta meu coração, aquele desgraçado não me ligou
nenhuma vez querendo saber da nossa filha.
— Louis, pare de querer fazer a Lira te matar — Bianca pede puxando o
marido para longe.
Uma dor forte se espalha no meu ventre para as pernas e seguro a bancada
da mesa, sabendo o que significa.
Louis me coloca dentro do carro e dirigi tão rápido para o hospital que
esqueceu a Bianca e a Beatrice no apartamento. Quando a dor alivia eu dou risada
da cara dele.
Daniel não faz ideia do que está perdendo, mas eu sei o que estou ganhando
quando uma garotinha pesando 3 quilos e 200 gramas é colocada no meu colo. Os
cabelos tão louros que parecem brancos, cobertos de restos de sangue, o choro
preenchendo meus ouvidos e aliviando meu coração ao segurar o meu pedacinho
de mundo nos braços.
Daniel
— Nem acredito em como o tempo passou rápido — Louis diz servindo uma
dose de uísque — Lorran já tem 5 anos, ainda lembro quando aquele menino era
um bebê, e hoje está todo esperto se achando o máximo como irmão mais velho —
gargalha lembrando as artes do sobrinho.
— A filha da Lira.
Entrei em uma longa disputa sobre a pensão alimentícia com Verônica, o que
me impossibilitou de participar das reuniões da família Vittileno, jantares de
aniversário e datas comemorativas, eram todos recusados com pesar. Louis é um
grande amigo que tem me ajudado com o inferno que é, Verônica no meu lado, por
causa daquela maluca, quase fui preso. Passei sete dias na cadeia esperando a
liberdade por fiança e foi um inferno que odeio lembrar.
Foi graças a ajuda do Louis que consegui provar a minha inocência, enquanto
eu era mantido preso esperando o julgamento para a fiança, meu amigo fez o que
era impossível para provar que meu celular tinha sido hackeado e que as mensagens
que troquei com a Verônica foi armação dela para me fazer culpado. Que os
encontros que alega que tivemos nunca aconteceram, e era um ator no meu lugar.
A puta da Verônica conhece bem meu jeito de falar, andar e vestir. Ela
simulou com precisão cada uma das mensagens e dos encontros. Cometeu uma
tentativa de suicídio deixando uma carta em que me culpava e as provas no celular.
Óbvio que ela não morreu e foi socorrida a tempo, ela ingeriu medicamentos para
ter uma overdose e acabou com um problema grave no estômago.
Perdi inúmeras coisas durante esses dois anos devido à maldita e pelo visto
a chance de rever a Lira e pedir desculpas por ser um completo idiota com ela, a
última conversa que tivemos não sai da minha mente nem por um segundo dos
últimos anos e a vontade de tê-la para mim.
Fico atento a informação, para o Louis não gostar de alguém, a pessoa deve
ser um completo babaca asqueroso. Bebo o líquido esperando que ele continue
falando sobre o cunhado, quando não o faz me deixo vencer pela curiosidade e
pergunto:
— Que fofinha — sorrio imaginando a cena, se ela é filha da Lira deve ser
perfeita como a mãe — mas o cara sabe que é o pai da Lizzie?
— Diz a Lira que contou ao desgraçado, mas ele disse que era mentira dela,
falando que era estéril e não podia ter filhos.
— Nunca.
— Eu estou grávida.
— Quem é o pai?
****
****
— Não é
— Eu não posso ter filhos. O pai do seu bebê deve ser outra pessoa.
— Não, Lira, eu sou estéril, é uma merda que você pense que te engravidei,
mas não tem como.
****
Era sobre isso que ela falava sobre a camisinha e o exame. A Lira me contou
que o pai da sua filha sou eu, mas esqueci completamente que isso aconteceu, e no
dia seguinte fui um completo babaca com ela.
Linda, segurando uma menina loura de olhos azuis. Seu olhar encontra o
meu antes de tudo ficar escuro. Apago ouvindo chamarem meu nome.
Lira puxa a filha para trás, mas sou mais rápido ao pegar a menina no colo,
ela quase não pesa. As bochechas gordinhas, os olhos dois diamantes, ela aperta os
dedinhos antes de segurar minha barba e puxar os fios. Chio pela dor recebendo
sua gargalhada como recompensa, cheiro seu pescoço, o aroma de flores invade
meus sentidos e lágrimas que me tomam. Não consigo entender o motivo de me
emocionar tanto segurando-a.
— Você teve dois anos para descobrir — ela segura a cintura da filha a
puxando para si — eu te disse antes e repito. Não vou fazer nenhum teste, minha
palavra deveria ter sido o suficiente.
— Qual?
E por causa daquela maldita, mais uma vez, meu mundo foi arrancado de
mim. Eu acabei de conhecer a filha inesperada que rejeitei. E o ódio da Lira não
me deixará me aproximar delas com facilidade. Aperto os punhos, perdido.
Daniel
— O que você quer dizer com isso? — Louis pergunta.
— Sim, maluca de pedra — revira os olhos — achei que você não quisesse
mais falar dessa mulher.
— E não quero, mas quando eu tinha 35 anos fiz um exame para saber se eu
era estéril. A Verônica também fez e os dela deram negativos, mas os meus. —
Pego meu celular no bolso, abro a nuvem contendo a cópia de todo exame que eu
já fiz e procuro o arquivo que quero — veja isso — entrego a ele o resultado do
exame.
— Porra — ele fala após analisar — agora eu entendo você nunca ter tido
filhos — me entrega — mas o que isso tem a ver com o que acabou de acontecer?
— Quando você me disse que o pai da Lizzie era alguém que fingiu ser
estéril, eu tive uma lembrança — Louis se inclina para frente, posso ver como a
irritação vai tomando conta dele — no casamento do Levi com a Olivia, recorda
que a Verônica começou o inferno devido à pensão?
— Sim, você achou que poderia beber três garrafas de uísque sem morrer.
— Lembrei disso faz pouco tempo, e minha cabeça quase explode — paro
de frente para ele apoiando as mãos na cadeira vazia — a Lira disse que eu era o
pai do bebê que ela espera e eu respondi que isso era impossível por que sou estéril.
E você acabou de ver o exame, não tem como ser falso.
Louis levanta com brusquidão arrastando a cadeira para trás. E vem a mim,
encho o peito de ar pronto para o enfrentar, sou um homem de 43 anos que já tomou
muita porrada da vida, não vou abaixar a cabeça para o Louis que é mais novo,
apesar de ser o meu chefe e irmão da mulher com a mínima chance de ser a mãe
de uma filha que eu nem sabia até poucos minutos.
— Eu quero muito socar a sua cara por fazer a Lira sofrer esses anos e deixar
minha sobrinha sem um pai. Se ela acredita que você é o pai da Lizzie eu não vou
duvidar e foda-se esse exame.
— Por isso eu disse que tenho de fazer um novo. Fiz com um médico
indicado pela Verônica e depois de tudo que essa vadia fez nos últimos anos, é
capaz dela ter pagado para adulterarem o exame.
— Não tinha parado para pensar nisso — me sento — não pensei em nada
— arrasto os dedos pelo cabelo com raiva borbulhando no meu peito — o que mais
aquela desgraçada vai tirar de mim — bato na mesa.
— Agora eu te desejo boa sorte, a Lira quer arrancar seus olhos — ele mexe
no celular — vamos manter isso entre nós por enquanto, não quero dar falsas
esperanças à minha sobrinha.
Meu peito aperta com tamanha força que o ar me falta ao imaginar o Louis
ocupando todos os cargos que deveriam pertencer a mim. Fecho os olhos
impedindo que lágrimas desçam.
Vou conquistar a minha filha e a mulher que não saiu dos meus pensamentos
nos últimos anos. Não importa quanto tempo leve, enquanto ela não se apaixonar
por outro, eu tenho chances.
— Eu sei, mas quando o fazem é de coração, caso não, você e seu irmão
ainda estariam sofrendo pelas mulheres que amam.
— Certo.
Não sei por que me sinto mais novo que o Louis ao ser confrontado por ele
nesse momento. Tenho de voltar ao meu normal, se quiser lidar com a situação da
Lira e não deixar que a Verônica abale nossa relação também. Por causa daquela
vadia eu perdi tudo uma vez, nunca mais deixarei isso se repetir, mais do que nunca,
eu tenho pelo que lutar agora.
A vontade de ajudar somente ela aperta meu ser, mas não posso deixar as
outras se machucarem. Por isso levo Lizzie comigo, pego o pote de bombons em
cima do armário, e entrego a ela três bombons, ela sorri agradecendo antes de sair
correndo com os coqueirinhos balançando na cabeça loura.
Vou para o quintal vendo que Alessa ganhou a disputa dos doces ao entregar
quatro barras de chocolate. Lizzie ignora a briga de Alessa e Cecília por perderem,
tentando persuadir o Lorran a fazerem ela ganhar. Minha garotinha come os
chocolates enquanto todos estão distraídos. Acho muito fofo ver como ela fica suja
pelo doce e vou até ela para a limpar.
— O que pensa que está fazendo? — a voz que povoou meus pensamentos
nos últimos anos soa irritada atrás de mim, sua mão pequena segura meu antebraço
impedindo o meu avanço na direção das crianças.
— Não tem como isso ser verdade, eu tenho certeza sobre a paternidade da
Lizzie — fala chocada.
— Eu sei que tem — digo guardando o aparelho e segurando seus ombros
— mas eu também tinha, naquela noite eu estava puto de raiva devido à minha ex,
bebi duas garrafas e meia de uísque e esqueci completamente a conversa que
tivemos, e depois foi uma caralhada de coisas acontecendo.
— Isso é loucura — ela diz se afastando — Não importa o que você vai fazer
daqui em diante, eu não te quero perto de mim ou da minha filha.
— Eu vou fazer um novo teste de fertilidade para poder ter a certeza de que
o teste que fiz aos 35 anos foi uma armação da Verônica, mas eu sinto Lira — levo
a mão ao peito — que a Lizzie é minha, por favor, não seja como a vadia da minha
ex, não destruía minha vida novamente.
— Você não tem o direito de jogar sobre mim essa responsabilidade — ela
fala visivelmente abalada.
Assim como eu, não esperava chegar aqui e encontrar uma filha e perceber
o erro que cometi. Lira não imaginou que a minha reação pudesse ser algo além da
recusa, ao invés da aceitação que estou demonstrando. Vou provar a essa mulher
que nada é o que ela imagina.
Lira
Ele não tinha esse direito, não depois de dois anos e nove meses de gravidez
em que o Daniel não quis saber se a filha estava viva, bem, ou passando por alguma
dificuldade. Não deu a mínima para os medos que tive quando estava grávida e a
Lizzie não ganhava peso, não soube a felicidade quando descobri o sexo dela ou
quando ela engordou ganhando o tamanho esperado de um bebê.
Como foi sentir o hálito dela pela primeira vez mostrando que respirava, ou
o medo que tive no parto de não conseguir fazer força suficiente. Foi meu irmão
quem segurou a minha mão enquanto a médica me mandava empurrar e eu gritava,
e o Daniel fazia sei lá que merda durante o nascimento da filha.
Nunca trocou uma fralda dela ou passou noites em claro, enquanto eu andava
de um lado para o outro na fazenda da Beatrice tentando fazer a Lizzie pegar no
sono. Até o Dante já dormiu com ela no colo por estar cansado de a ninar, e ela se
recusar a dormir, Beatrice correu comigo tantas vezes para os hospitais quando a
Lizzie tinha febres, que eu nem saberia contar quantas foram.
Ele não viu quando a Lizzie estava aprendendo a andar e caiu batendo a
cabeça no chão, abrindo um corte que me levou ao desespero, e fez o Dante dirigir
como louco para o hospital enquanto eu me desesperava com a minha pequena
inconsciente no meu colo e o machucado aberto.
Quando ela tinha um ano e um mês sofreu uma concussão e ganhou uma
cicatriz no couro cabeludo de 2 centímetros.
Somente eu, Dante e Beatrice, sabemos o desespero que foi aquela noite e
muitas outras. Acompanhamos de perto os primeiros passos, as risadas, as falas
emboladas na língua que só os bebês sabem se comunicar. O primeiro aninho e
como ela estava linda vestida de joaninha, com a tiara com orelhas que ela vivia
pegando e colocando na boca.
Ele não tem o direito de aparecer depois de dois anos, e agora querer me
convencer com esse maldito teste que fala que ele não pode ter filhos. Eu tenho
certeza e foda-se que ele estava bêbado, se no dia seguinte tivesse aceitado
conversar quando tentei, ao invés de somente querer me comer, nada disso teria
acontecido sem ele por perto. Eu não teria me refugiado com a Beatrice para ter
paz e sossego, ele poderia ter cuidado da gente.
E agora vem com a desculpa de que foi preso? Nada disso faz sentido e só
mostra o perigo que ele realmente representa para a minha família. Não posso
deixar a Lizzie chegar perto de um homem com uma ex maluca, que forjou um
exame de fertilidade, vou manter a minha filha segura a qualquer custo,
independente do que seja à vontade dele.
Eu sou a mãe dela a única responsável por sua felicidade e segurança, Daniel
não vai abalar a vida tranquila que estou construindo para a minha filha, longe dos
holofotes, de qualquer confusão, ou algo que prejudique negativamente seu
crescimento.
O desgraçado ainda se atreve a pedir para que eu não destrua a vida dele? A
ira me invade como um vendável e tenho vontade de o mandar tomar no cu, se não
fosse os malditos olhos tristes e brilhantes do homem que tem atormentado cada
um dos meus pensamentos nos últimos anos, seja de ódio ou de saudades.
— Eu sei e sinto muito por ter te desapontado — ele fala, o idiota tem tanta
sinceridade na voz que eu quero socar a cara dele — é tudo muito novo ainda...
— Não tem nada novo — o corto, espumando em fúria — para mim as coisas
sempre foram completamente claras, você é o pai da Lizzie e a rejeitou, assim como
a mim.
— Eu tinha certeza que era infértil e não lembrava da nossa conversa, por
favor, entenda o meu lado — pede apertando os punhos.
Passo por ele indo até a Lizzie que se empanturra comendo chocolate. Louis
observa sem fazer nada, enquanto as crianças se lambuzam com os doces. Esse
desgraçado nunca soube colocar um limite nelas e tira o juízo das mães quando
repara nas crianças. Lorran dava para ser um traficante de doces que nunca é preso,
devido à fofura em excesso, mas dessa vez eles vão ver.
— Não adianta correr — grito com ele — sua mãe vai saber disso, mocinho.
— Não conta para a mamãe — Cecília pede escondendo as mãos, e Louis ri
da filha, fulmino meu irmão com o olhar.
— Leve agora suas filhas para o banho e limpe esse chocolate delas.
Se um dia achei que Bianca tinha rendido meu irmão, isso caiu por terra ao
ver como ele é com as filhas, um completo babão, que faz tudo o que elas pedem
sem recusar. A Bianca sofre tentando colocar limites, e eu que passo dor de cabeça
quando ele envolve a Lizzie no meio do seu reinado sem regras.
— Como você é chata, pensa que a minha mulher manda em mim? — Pega
a Cecília com o braço esquerdo e a Alessa com o direito.
— Cruzes — Louis pula com o susto, e mordo o lábio para não rir.
— Manda sim amor — ele beija os lábios dela, sendo recebido pela
gargalhada das filhas — e vou agora dar banho nessas confeiteiras para que você
não precise se preocupar com isso.
— É assim que se faz cunhada — digo rindo. — Vem Lizzie — pego a minha
princesa no colo.
— Bola, mamãe — beija minha bochecha me enchendo de chocolate.
Daniel tem mais fios grisalhos do que eu lembrava, o charme de homem mais
velho exala do seu corpo batendo contra o meu, a barba com o cavanhaque branco
e os outros fios negros como a costeleta que se une ao cabelo em fios negros. O
queixo quadrado, o rosto retangular, os olhos azuis-escuro penetrantes, os ombros
largos e as mãos grossas, ele enfia dentro do bolso da calça respeitando a minha
decisão, mas cheio de vontade de falar com a filha.
Não sei o que fazer, não me preparei o suficiente para o que aconteceria
agora. O choque de realidade não ser o que eu imaginava acaba comigo. E ver o
carinho dele com ela, tudo que eu sempre quis quando a minha menina perguntava
pelo “papa” sempre que via as primas e primo chamando os pais deles, a dor de
não saber o que responder, na minha frente, tenho a resposta para todas as minhas
orações.
Mas a dor não me permite aceitar com facilidade, a qualquer momento ele
pode desistir novamente e nos abandonar, magoar a minha menina, e isso eu não
posso deixar que aconteça. A maternidade pode ter me deixado mais mole, mas em
compensação, estou o triplo cautelosa e preocupada com quem se aproxima da
Lizzie.
— Tudo bom? — Ela pergunta rindo, é uma das poucas frases que sabe falar
direito.
— Não fique brava com ela, mamãe — Daniel fala me olhando enquanto
segura a mão da Lizzie — a culpa foi toda minha, brigue comigo.
— Com certeza eu vou — o encaro de rabo de olho — mas agora vou dar
um banho nessa porquinha.
— Oinque — ela faz o som do animal e eu rio, sempre acho divertido a Lizzie
imitando os animais.
Lizzie gargalha alto se jogando contra ele, a cabeça dela para no peito do
Daniel e minha filha sorri tranquila, como se soubesse que está na presença do pai.
Eu tenho de tomar cuidado ao proteger nós duas, minha pequena não pode se
apegar a um homem com chances de desaparecer das nossas vidas se decidir que
não quer ser o pai dela, ou que é demais para ele.
— Xaaaau zio — ela beija a bochecha do Daniel e não aguentando mais ver
a aproximação deles, eu caminho para casa.
É somente por ela que eu decido colocar o meu orgulho de lado, vou
confrontar o Daniel e dizer tudo que deixei entalado por dois anos na garganta
como facas me cortando, sempre que eu me deitava para dormir e a nossa conversa
retornava a minha mente. Ele não sairá impune e muito menos encontrará um mar
de rosas por decidir assumir seu papel paterno.
— Mais tarde conversamos — digo a ele, sabendo que não posso viver no
limbo.
Se tem algo que aprendi com a história dos meus irmãos é que todos
merecem uma segunda chance, mas nem por isso eu tenho de passar por cima das
minhas dores, posso fazer tudo no meu tempo, quando achar que o momento
propício.
Daniel
Ela fugiu! — Penso irritado controlando os nervos enquanto espero a Lira
descer.
Por ser final de semana, vou ter de esperar a segunda para fazer o exame na
clínica que a secretária do Louis marcou. Cancelei toda a minha agenda da semana
e vou ficar na Itália para conseguir resolver as coisas com a Lira, torço para que
ela não decida voltar para a fazenda da Beatrice e fique na casa do irmão, para
podermos conversar, eu quero saber tudo sobre a Lizzie, cada detalhe.
Desde que nós nos conhecemos, o tema criança sempre foi delicado.
Verônica era uma modelo conhecida e estava em ascensão na carreira, ela se
recusava a “estragar o corpo” como ela dizia tendo a pele esticada por uma criança.
Mas eu compreendia seu anseio profissional, também tinha os meus, por isso não
insisti. E quando aos 35 anos, ela disse que tinha chegado a hora de termos bebês,
eu aceitei sem pensar duas vezes, mas logo o meu diagnóstico veio e nossa vida
desandou.
Estou em uma posição delicada onde uma das duas mulheres com quem me
envolvi contam versões diferentes para fatos que alteram a minha vida. A primeira
que eu nunca poderia ter filhos, e a segunda que tive uma filha e a rejeitei em meio
a uma bebedeira desenfreada, e a certeza inabalável de confiar na avaliação de um
médico.
Uma destrói a minha vida, a outra me oferece uma chance de ter tudo o que
eu sempre quis e me foi negado.
Eu só tenho de descobrir como fazer Lira perceber que não sou o vilão da
nossa história, mas, outra vítima de uma mulher louca. Manter a cautela vai ser o
principal no momento. Lira me odeia — e ela tem motivos — mas preciso mostrar
que mudei e o que fiz não foi usando a razão, mas em uma noite, bêbado e irritado
pela mulher que me destruiu.
— Diga o que você quer. — Ela entra na defensiva, deve estar achando que
planejo levar a Lizzie para mim.
— Você tem até o amanhecer, se eu não gostar do que você vai falar, irei
embora com a minha filha amanhã e nem tão cedo você a verá novamente.
— A primeira vez que eu te liguei foi para marcar um encontro e contar sobre
a gravidez.
— Porra — aliso os cabelos — isso foi pouco tempo depois que transamos.
Na época achava que você queria um encontro por estar apaixonada.
— Para ser sincero com você — digo, decidindo manter a conversa no tom
adequado — naquela época comecei a ter problemas novamente com a minha
exesposa. Estava irritado, e quando pensava que você poderia ser grudenta como
ela, eu queria distância.
Levanto indo para o seu lado, pego o corpo pequeno contra o meu, a
envolvendo em um abraço forte, expurgando as suas dores como deveria ter feito
enquanto ela estava grávida, não a deixando passar por isso sozinha. Lira mancha
minha camisa com as lágrimas de frustração e tristeza, beijo sua cabeça alisando
suas costas para a fazer se sentir melhor.
— Não, Lira, você não sabe de nada e precisa me ouvir para conseguir
entender.
— Fale.
— Para você entender do começo, tudo que culminou naquela noite e nos
dias seguintes.
— Prossiga.
— Verônica cursava Arte e Designer, ela queria ser estilista e fazia bicos
como modelo. Também vinha de família humilde, mas queria o mundo a seus pés.
Foi fácil se apaixonar, começamos a namorar, e quando nós nos formamos, eu
consegui emprego na empresa do meu amigo Fábio, que também era amigo da
Verônica, éramos um trio.
— Quieta — a puxo para meu colo batendo em sua bunda — estou sendo
sincero com você, me ouça sem julgamento.
— Seu ogro — bate no meu peito, mas não faz menção de se levantar.
— Isso é perigoso.
— Agora eu percebo, ela nunca quis ter filhos para não prejudicar o corpo,
e eu estava envolvido demais na empresa. Até que do nada, quando já tínhamos 35
anos e 15 de casados, ela decidiu que queria, tentamos por cinco meses até
percebemos que tinha algo errado. Fizemos uma série de exames com o médico
que ela tinha escolhido. Quando no final, ele me disse que eu era o estéril, não
duvidei.
— Deveria ter pedido outra avaliação.
— Eu estava arrasado. Lira, Verônica me culpava por ela não poder ter filhos,
todos os dias brigávamos por causa disso. Eu queria tanto um bebê, cuidar dele de
pequeno, ver crescer, os primeiros passos e dar risada quando falasse errado
enquanto aprendia a dizer as palavras. Depois de dois anos, a ideia se fincou no
meu coração como uma árvore secular com raízes enormes. Eu tinha aceitado que
nunca teria um herdeiro, eu era estéril e nada poderia mudar isso.
— Sim, e mesmo depois do resultado ela não engravidava e dizia que não
tomava anticoncepcional. A minha vida adulta foi baseada em confiar na minha
esposa, nunca tive motivos para duvidar dela — encosto a testa em sua clavícula
— me perdoe por ser insensível e não ter desconfiado antes das intenções dela. Eu
já estava tão certo de que não poderia ter filhos, que quando você falou, me pareceu
outra mentira de alguém querendo me manipular.
— Sim. E ainda conseguiu ganhar no nosso divórcio metade dos meus bens
e uma pensão de 20 mil por mês. Eu não consegui provar a traição, foi uma facada
atrás da outra, e me sentia um lixo sem saber o que fazer para sair da merda. Eu
confesso que pensei em tirar minha vida — Lira me aperta em seus braços — eu
não tinha nada. Foi quando bebendo em um bar, eu vi o anúncio de que Louis
Vittileno estava procurando um CEO para as empresas no Brasil e o quanto isso
poderia agravar as ações da empresa.
— Foi logo após o nascimento da Cecília, ele queria morar na Itália com a
família.
— Sim, eu lavei a cara, vesti um terno e fui para a empresa. Louis que me
entrevistou, e no segundo em que me viu sabe o que ele perguntou?
— Não, mas posso imaginar — ela sorri me encarando — algo como “quem
te derrubou?”.
— Meu irmão pode ser babaca, mas sabe ser um cara decente quando precisa
— ela sorri alisando minhas bochechas — realmente, sua ex era uma vadia.
Lira sai do meu colo e caminha até a cozinha, ela retorna com um vinho e
duas taças, sentando-se novamente na minha perna, me oferecendo o líquido. É
estranho como me sinto confortável em contar para ela sobre o meu passado, quem
sabe quando ela realmente me conhecer e entender as minhas dores, possa me
deixar fazer parte da vida de Lizzie.
Lira
Daniel foi tão machucado quanto eu em relacionamentos passados. A esposa
o usou o tempo que quis, e quando decidiu jogar fora, plantou nele a ideia de ser
estéril com tanta força que ele seria incapaz de acreditar em qualquer pessoa que
falasse o contrário.
— Sim, e estava com raiva por você ter me usado na noite anterior, sua diaba
— morde meu queixo — continuo de bolas azuis devido à sua brincadeira. — Não
foi brincadeira — puxo seu cabelo — foi vingança.
— Lira, eu tenho 43 anos e nunca conheci uma mulher como você — sua
mão pousa na minha bunda, trazendo meu centro para perto do seu pau duro. A voz
do Daniel fica um oitavo mais grossa, me prendendo à sua sedução.
— Eu não lembrava que você tinha me contado sobre a Lizzie, mas naquele
momento, a certeza que eu tinha era a de que a Verônica estava me enlouquecendo,
você tinha se vingado, e após meses querendo falar comigo me disse a única coisa
que eu tinha certeza que nunca poderia acontecer; eu ter um filho.
— Eu não teria esquecido e poderia ter falado melhor sobre — ele é sincero,
e uma pontada de culpa me espeta. Deveria ter esperado o momento certo.
— Não vou me sentir culpada... — Daniel cala meus lábios com um dedo.
— Não pode estar falando sério — bebo o resto do vinho, e Daniel faz o
mesmo, encho nossas taças, incrédula com o que a ex dele foi capaz de fazer.
— Eu juro, nunca encostei em outra mulher enquanto era casado. Fui taxado
de marido infiel e abusivo, só de imaginar o que a desgraçada faria em um novo
julgamento, eu queria matá-la. Eu só fui beber com o Louis como um louco
querendo esquecer tudo o que aconteceu. E acabei esquecendo aquele dia inteiro,
nem lembrava de ter me procurado.
— Não percebi que você tinha esquecido. — Se eu tivesse sido mais atenta
aos detalhes, talvez pudesse...
— Tem como piorar? — bebo meu vinho. — Acho que vamos precisar de
algo mais forte.
— Venho já.
Como pode, três mulheres diferentes metidas na mesma teia do destino. Mas
diferente delas, eu tenho orgulho demais para me deixar envolver com facilidade
pelo Daniel. Não sou um monstro sem coração, eu sinto empatia por sua situação
e queria poder ajudá-lo, voltar no tempo e fazer as coisas diferentes, mas não posso
e agora para a frente, eu tenho a chance de decidir como deverá ser a nossa relação.
Meu coração continua muito magoado por tudo o que já passei, e os dois
anos que estive isolada do mundo, somente na companhia das pessoas queridas
para mim e vendo a minha menina crescer, trouxeram uma calmaria da qual eu não
quero abrir mão. Vou continuar criando a Lizzie como tenho feito, mas talvez
agora, a minha menina tenha alguém para chamar de “pai”.
Tudo vai depender do ritmo dessa noite, não tenho certeza de que deveria
beber enquanto temos uma conversa séria como essa, mas de tudo que eu esperava
ouvir, com certeza não era uma história triste como a do Daniel e eu preciso de
muito álcool no meu sistema. Pego o uísque do Louis e retorno para a sala servindo
uma dose para cada. Me sento no seu colo novamente, pronta para a bomba final.
— Continue — peço.
— Completamente — ele bebe e serve mais uma dose para a gente, sem
nunca me tirar de seu colo, a mão repousando na minha bunda. — Passei alguns
dias preso esperando o pagamento da fiança. Meus bens tinham sido congelados,
então precisei esperar o Louis ir ao Brasil com os advogados me libertarem. As
provas do delegado eram quase irrefutáveis.
— Quais eram?
— Obviamente não era você — aponto, engolindo mais uma dose e servindo
outra.
— O investigador era ótimo, mas o que me ajudou, foi que na sala em que
trabalho na empresa tinha câmeras que gravaram quando eu estava trabalhando, e
o celular acendia no meu bolso, mostrando que alguém o usava ou quando eu saia
de sala e o deixava em cima da mesa. Depois disso deduzimos que ela fazia o
mesmo quando eu estava dormindo. Os encontros foram todos armados.
— E como ela tentou se matar? Se desse errado, ela teria passado dessa para
o além — ele vira o copo e o acompanho, o álcool começando a fazer efeito.
— Ela ingeriu remédios para ter uma overdose e a governanta, que sabia do
plano, a encontrou e levou ao hospital. Conseguimos o depoimento da mulher após
provar que ela seria cúmplice. Diante do juiz eu provei a minha inocência e a culpa
da Verônica, mas a desgraçada conseguiu provar que era mentalmente instável e
por isso foi internada em um hospital psiquiátrico, com pena mínima de dois anos,
podendo sair caso melhore, e depois serviço comunitário.
— Sim, ela já cumpriu um ano, e temo, por quando for liberta. Se você e
Lizzie estivessem na minha vida enquanto toda essa loucura aconteceu, ambas
poderiam ter se machucado — ele encosta a testa na minha — Verônica já provou
a cobra ardilosa que ela é, se ela soubesse na época sobre você e a Lizzie, eu nem
quero imaginar o que ela teria sido capaz de fazer.
— Me perdoa por dizer isso, mas talvez tenha sido uma salvação ela não
saber da Lizzie, só de imaginar ela ferindo vocês — ele aperta os punhos — me
perdoa.
Meu coração aperta só de pensar em como poderia ter sido as nossas vidas,
e o inferno que a Lizzie teria passado ao crescer com uma louca perseguindo o pai
dela, como isso poderia respingar em nós duas. Ao invés de anos tranquilos com a
minha menina se apaixonando por animais, teríamos passado por um pesadelo,
causando traumas terríveis.
Agora eu percebo que a obra do destino que afastou o Daniel de nós,
protegeu o restante da minha gravidez, que me apavorava com a possibilidade de
a Lizzie nascer com alguma deficiência por minha culpa, e o desenvolvimento dos
primeiros anos de vida da minha menina.
— Você perdeu 9 meses de gravidez e dois anos de vida dela, não perca mais
um único dia.
Eu ainda não acredito que tenha algum futuro para mim e ele, as mágoas que
carrego não cicatrizaram com facilidade, mas esse é um novo começo. Um que
abraço de peito aberto e leve, mas cautelosa. Disposta a não cometer os mesmos
erros do passado.
Daniel
Lira tem cheiro de uísque misturado a Jasmine de Grace, os olhos afetuosos
após me ouvir, deixando ir embora grande parte da raiva que ela carregou por anos.
Saber o quanto ela sofreu com a Lizzie durante a gestação, e seus medos, parte meu
coração e me faz sentir um lixo, mas se elas fizessem parte da minha vida enquanto
o inferno protagonizado por Verônica acontecia, a gravidez poderia ter sido ainda
mais difícil.
— Não vou me mudar para o Brasil para que isso aconteça — ela fala
decidida, embora a voz melosa.
— Eu venho para a Itália ficar com ela — aperto sua coxa em minha mão,
pronto para a deitar no sofá debaixo de mim — e com você — sopro em seus lábios.
Lira fecha os olhos, o rosto implorando por um beijo.
Seguro sua cintura e sua coxa, deitando-a e ficando por cima. Meu pau
moendo sua boceta coberta pelo short. Não lembro a última vez que transei, e a
frustração por não gozar naquela noite com Lira, ainda perturba a minha mente.
Eu preciso dela, a fazer minha e expurgar a vontade latente que crepita entre
nós sempre que nos encontramos.
— Diga que não é o álcool agindo — peço beijando seu pescoço macio.
Estico a língua lambendo a pele, distribuindo lambidas até a sua orelha, onde faço
seu lóbulo com um pequeno brinco de reféns dos meus dentes.
Lira aperta as mãos ao redor dos meus ombros, a pélvis batendo contra a
minha, enquanto ela engole um suspiro pesado, o desejo evaporando de seus poros
e se chocando com o meu. Ensandecido para ter o que me foi proibido. Aliso sua
coxa, notando os poros arrepiados, arranho o interior mordendo com mais força
sua carne, impulsionando meu quadril contra seu centro. Lira geme baixinho
puxando minha camisa.
Agarro o esquerdo apertando a macies com minha mão e desço o rosto entre
seus peitos, sugando a carne exposta, removendo o sutiã e abocanhando o mamilo
durinho. Sugo como um animal faminto e sou surpreendido ao sentir um líquido
vazando pelo mamilo. O solto e a encaro sem entender. Lira ri de leve antes de
trazer a mão a minha barba.
— Lizzie ainda mama — ela confidencia com um sorriso travesso — eu tento
tirar o peito dela, mas sempre que ela pede manhosa não consigo evitar — dá de
ombros culpada.
— Faz no esquerdo, já dei de mama a ela antes de dormir, ainda não tem leite
nele.
— Certo — agarro seu queixo a puxando para mim. — Mas antes vou matar
outra fome.
Largo meu pequeno pedaço de prazer e desço beijando sua barriga chapada,
nunca diria que ela teve um filho, com a pele branca perfeita, mais abaixo do ventre
pequenas estrias brancas marcam seu colo, beijo cada uma delas, encontrando as
evidências de que a minha pequena Lizzie esteve aqui. Foda-se que vou fazer outro
exame de fertilidade, eu tenho a certeza de que sou pai daquela garotinha, e nada
vai mudar isso.
— Ganhei na gravidez — Lira fala, a voz nem um pouco insegura, ela sabe
que apesar das estrias continua linda.
— Te deixou ainda mais gostosa — mordo sua pele — espero que outros
caras não tenham visto isso — digo, o ciúme batendo com a possibilidade de ela
ter sido de outros.
Levanto a mão e desço estralando contra sua bunda, a safada ri, sabendo que
conseguiu mexer comigo. Odeio a ideia de pensar em outro tocando o que é meu,
beijando a boca que me pertence, cheirando a boceta que somente eu posso colocar
o nariz nela. O sentimento de posse se espalhando pelo meu corpo como uma
maldita droga.
Fico de joelhos e removo o short da Lira com calcinha de uma vez, abro suas
pernas me contemplando com a visão da sua bocetinha inchada, os olhos da maldita
brilhando em excitação, ansiosa pelo que estou prestes a fazer. Desço a mão entre
suas dobras, apertando o clitóris inchado com meus dedos, ouvindo os gemidos da
minha mulher.
— Nunca mais outro homem vai te tocar aqui — eu digo, ela morde os lábios
e me preparo para a retórica.
— Desgraçado — rosna.
— A quem você pertence? — pergunto enfiando um dedo em seu canal.
Perdida nas sensações que provoco em seu corpo. Lira não consegue me
responder além de gemidos doces e contidos. Estamos fodendo na sala de estar do
irmão dela e meu chefe, com a casa cheia de crianças, somos dois loucos, se formos
pegos, nunca mais nos convidam para os aniversários.
Ignorando o bom senso fico de joelhos, retiro meu pau da calça descendo de
uma vez contra a bocetinha molhada que senti falta. Meto em seu interior de uma
vez, respirando pesado contra seu rosto. Lira fecha os olhos arranhando minha
cintura com as garras que ela chama de unha. O canal escaldante e molhado me
devora com uma necessidade tão grande quanto a que tenho de meter nela.
Era disso que eu precisava durante esses anos, tudo que busquei, encontrei
novamente nos braços da mulher de boca atrevida, com coragem de me deixar sem
gozar para provar o quanto se irritou comigo. Lira é uma caixinha de surpresas
arisca e de forte coração, com coragem e convicção o suficiente para suportar as
pancadas da vida.
Mas nesse segundo em que gemo contra seu ouvindo, me abrigando no calor
de seu corpo, recebendo seus gemidos e rebolado do quadril, enquanto ela implora
por mais, eu percebo que quero ficar com ela, quero mais desses momentos, quero
a provar sem o medo de ser pego por alguém. A desfrutar a noite inteira sem pressa
de ir embora, passamos anos separados e ela nunca saiu da minha cabeça, foi meu
refúgio e lugar seguro quando os pensamentos ameaçavam me enlouquecer.
Eu tenho ciência de que estou longe de ser perdoado, mas enquanto ela me
aceitar como seu parceiro sexual, vou usar de todos os truques que eu puder para a
fazer ceder, se entregar ao fogo que queima entre nossos corpos e ser minha. Pois
já sou completamente dela. No segundo em que a revi com a nossa menina em seus
braços, eu soube: não tem como escapar de Lira Vittileno.
— Daniel — ela abafa o grito mordendo meu ombro, trazendo minha mente
de volta a realidade enquanto goza apertando meu pau com sua bocetinha.
— Goza para mim Lira— ordeno me deliciando com o prazer em seu rosto,
quando ela me solta e pende para trás de boca aberta, prendendo a respiração,
aproveitando o orgasmo.
— Sim — responde.
Soco mais duas vezes com força antes da fisgada em minhas bolas, liberando
o jato de porra que prendi enquanto a esperava atingir o seu ápice.
Gemo rouco chamando por seu nome no seu ouvido.
Desabo as pernas cansadas, suspendo meu corpo com os braços para não a
esmagar enquanto ela recupera o folego embaixo de mim. Minha coisinha preciosa,
os fios louros desgrenhados, a boca inchada e aberta enquanto inspira e espira, as
pálpebras pesadas, as mãos segurando minha cintura. Não resisto a vontade de
roubar um beijo apaixonado de sua boca carnuda.
— Minha — digo.
— Nunca — ela responde atrevida.
— Vou falar isso todos os dias até você ceder — beijo seu pescoço enquanto
ela se encolhe — vou te fazer minha, nem que dure dez ou vinte anos. — Eca, você
já vai estar um velho pelancudo — ela me provoca.
— Vou te mostrar quem usa Viagra — levanto com ela no colo. Com o pé
pego nossas blusas que caíram no chão.
— Com certeza iremos, você vai ver quem é o velho pelancudo — bato na
sua bunda branca arrebitada — sua atrevida.
— Sexo não significa nada, Daniel — ela puxa meu cabelo beijando minha
boca, a fala cansada e triste de quem já desistiu de encontrar um amor.
Eu era assim quando nos conhecemos, após o meu divórcio não acreditava
mais em paixão ou finais felizes, mas com Lira eu quero tudo, uma família
completa, e só vou desistir quando a fizer perceber que estou falando sério. Tenho
dois anos para recuperar e não posso perder um segundo.
— Eu nunca tive tanta certeza na minha vida e te farei perceber isso, nem
que demore mil anos — encosto nossas testas.
— Veremos.
Ela fala mansa, ao menos é um começo do qual não pretendo deixar passar
a pequena oportunidade que ela me dá.
— Tem razão.
Aperto sua cintura com o braço caminhando rápido até o meu quarto, quando
entramos rimos da nossa pequena demonstração de nudez e atentado ao pudor.
— Eu não faria ideia de como explicar a uma das crianças o que fazíamos
pelados — ela confessa rindo, as bochechas ganhando um tom vermelho.
— Sim.
— Ah, querido, você não faz ideia de como crianças são curiosas, uma
desculpa dessas nunca iria colar, e no outro dia a casa toda saberia — a coloco em
cima da bancada enquanto vou ligar a banheira.
Não importa o quanto a estrada se torne sinuosa, eu vou mostrar a ela que
sou a escolha certa.
Lira
Acordei com a cabeça a mil devido ao uísque misturado com vinho, saudades
da época em que eu bebia e não sentia nada no dia seguinte. Daniel dorme tranquilo
ao meu lado como se o mundo dele não estivesse sofrendo por uma dor de cabeça
daquelas. Saio da cama, cato minhas roupas, as vestindo, confiro no relógio de
pulso e ainda são 7:50, eu tenho 10 minutos para tomar banho e fazer o café da
manhã de Lizzie.
Cheiro meus braços percebendo que estou com uma ótima fragrância de
macho gostoso. Quem dera pudesse passar o dia assim, mas como sou uma
excelente mãe, eu saio do quarto com cuidado para não chamar a atenção de
ninguém, não sei bem como prosseguir com o Daniel, as declarações dele na noite
passada, de que pertenço a ele, mexem comigo.
Não quero me iludir ou me machucar novamente. Prefiro pensar que foi tudo
efeito do álcool e que em breve ele vai acordar não lembrando de nada, de novo.
Hoje é domingo e aniversário de Alessa, vai ser um dia cheio de gritaria e vou usar
dele para conseguir ficar longe do galanteador que mexe com meu coração.
A última vez que tentei sair com um homem, o papo dele me cansou tanto
que desisti e fingi que a Beatrice tinha me ligado, dizendo que a Lizzie estava
chorando precisando de mim. Mas com o Daniel foi tão fácil me entregar, não
existia hesitação ou motivos para ficar longe, eu só queria continuar nos braços
dele
Vou precisar distrair muito Lizzie até o álcool sair do meu organismo e não
contaminar mais o leite. Desde que comecei a amamentar, só bebi uma vez, quando
a Lizzie estava na casa do Louis dormindo em uma noite do pijama com as
meninas, e no dia seguinte foi choro por ela não poder mamar. Espero que dessa
vez minha pequena se distraia o suficiente com a festa e esqueça do peito.
Meu menino cresceu tanto em dois anos, nem consigo acreditar que ele já
tem cinco e se tornou um pequeno terrorista de doces. Olivia sofre tentando
controlar para Lorran não ter diabete, e eu e a Bianca sofremos em dobro quando
ele se junta com as primas, pois sempre dá um jeito de fazer brincadeiras que as
meninas devem conseguir docinhos para o safado. Temo por quando esse menino
ficar adulto, vai ser o pior Vittileno.
Desço pelas escadas e encontro Louis com uma mão na cintura olhando a
garrafa de uísque em cima da mesa e uma de vinho jogada no chão, por sorte não
derramou o resto do líquido. O par de copos entregando que foi obra de duas
pessoas, e as almofadas bagunçadas. Por sorte lembramos de pegar todas as peças
de roupa. Meu irmão se vira ao escutar meus passos e faz uma pergunta silenciosa
com o olhar.
— A conversa foi longa e difícil — digo suspirando, ele não precisa saber
que transamos.
— Eu... não tinha ideia — pego as garrafas me sentindo mal pela perda do
Daniel.
— Pois é, faz uns cinco anos que isso aconteceu e todos os anos ele fazia
exame com o médico que a Verônica indicava. Ele pode ter algo de maligno no
corpo e não saber — franze a testa preocupado. — Devíamos ter suspeitado antes
que aquela mulher manipulava os exames dele.
— Por enquanto não, Daniel toma cuidado com isso, o tio dele também faz
exames e começou a apresentar sinais de que poderia desenvolver um câncer se
não tomasse certos cuidados. — Louis pressiona os olhos com força — eu sei que
o Daniel machucou você e Lizzie — se aproxima, com os copos na mão e o uísque
na outra, ele segura meus antebraços — mas ele é uma boa pessoa, por favor, não
o afaste sem antes dar uma chance a ele.
— Eu o conheço e ficaria feliz que você conseguisse amar e ser amada por
um homem como o Daniel — beija a minha testa — eu só quero a felicidade de
vocês. Faça as coisas no seu tempo, mas não feche o coração, ok?
— Não acredito que vivi para ver esse dia — Ouço a voz grave do Levi, olho
pela lateral do ombro do Louis encontrando meu irmão — Louis Vittileno dando
conselhos de amor para a Lira.
— Sim, por isso eu disse A — eleva a voz — Lira. Não a mim — Levi passa
um braço ao redor do meu ombro me puxando para ele — acho que agora chegou
a nossa vez de te aconselhar — beija minha cabeça — nossa pequena Lira
finalmente encontrou o amor?
— Parem já com isso, vocês dois — bufo — dessa forma parece que estão
jogando o Daniel para cima de mim.
— Tá — Levi cede primeiro — a gente meio que já sabia que o Daniel tinha
interesse em você, só não fazíamos ideia de que vocês tinham dormido juntos e ele
era o pai da Lizzie.
— Ele sempre perguntava por você nas reuniões em família que você não
participava no Brasil.
— Lizzie morre de medo de avião — reclamo, odeio quando eles falam dos
eventos que perdi no Brasil.
— A gente sabe e não culpa nenhuma das duas — Louis diz — só que o
Daniel sempre perguntava o motivo de você não estar presente.
— Isso quando não ficava olhando ao redor como se você pudesse aparecer
como magia — Levi brinca.
— Ele fala algo a mais?
— Não muito, mas dava para perceber que ele queria, agora entendemos o
motivo. Era capaz dele abrir a boca e perder os dentes. — Levi reflete
— Vocês são muito agressivos — reviro os olhos — agora toda a verdade foi
exposta e só falta o nosso pai chegar e ficar sabendo, que ele não seja um troglodita
como os filhos.
— Ela fala isso como se fosse uma santa — Levi provoca — vamos logo
fazer o que comer dos nossos filhos antes que os monstrinhos acordem.
— Precisamos ter outro menino — Levi fala — pobre do Lorran, sofre sendo
o único homem.
— Bianca não me deixa fazer outro filho nela tão cedo — Louis suspira —
ela quer aproveitar mais as meninas, e você?
— Olivia também não quer outro por hora, Lorrany ainda mama e ela disse
que só depois que a desmamar e o Lorran crescer mais e parar de ser um terrorista
dos doces.
A pego no colo sentando-a na sua cadeira. Aliso os cabelos louros e beijo sua
testa. Quando me viro, vejo o Lorran entrando com a pelúcia de cachorro debaixo
do braço e os cabelos completamente bagunçados, o coitado parece que foi para a
guerra durante a noite. Não o culpo por escapar das meninas.
— Pai! — ele fala aborrecido — quero uma tranca no meu quarto! Cansei
da Cecília me selquestando! — se senta sozinho na cadeira e Levi coloca um prato
com frutas e cereal para ele comer.
— Nada de tranca nos quartos — Levi fala — seu zio Louis prometeu que
vai falar com a Cecília para ela não te machucar mais — Louis gira nos calcanhares
encarando o Levi com raiva, ele sabe que se contestar a Cecília a filha vai ficar
com raiva dele.
— Promete Zio? — Lorran pede com uma manhã na voz que até eu quero
proteger o pobre do menino.
— Prometo — Louis cede fácil — se você prometer parar com as
brincadeiras de rei dos doces.
Sento dando o café a Lizzie que mastiga entretida na briga do tio e do primo,
ela fica uma fofura quando presta atenção em algo, e eu tenho vontade de encher
suas bochechas com trilhões de beijos até não aguentar mais a fofura que é a minha
filha.
A porta abre e Daniel passa, vestido uma camisa polo justa, demarcando as
linhas dos músculos, um calção social e tênis. O homem é um pacote de resistência
para qualquer mulher.
— Bom dia — a voz rouca envia calafrios ao meu estômago que se contorce
em ansiedade.
Depois de ontem e do jeito que ele quis me marcar como sua, seria mentira
eu falar que não fiquei mexida e queria me entregar sem medo. Mas os traumas
enraizados no meu coração não me permitem fazer isso, prefiro, ao menos dessa
vez, fazer as coisas com calma. Primeiro o deixar se aproximar da Lizzie e se a
minha menina mostrar que está disposta a tê-lo como pai, posso considerar um
envolvimento com Daniel.
Mais um motivo para me fazer ter cautela com o Daniel, não quero atingir a
Lizzie como o Levi atingiu o Lorran com a morte da Blanca, meu sobrinho ficou,
anos sem saber como era ter um pai de verdade e o calor de uma mãe. Espero que
os machucados do passado nunca interfiram em sua vida, adolescente e adulto, e
que ele encontre no amor da família, a cura para seus machucados.
— Um crânio — ironizo.
— Não, meu amor, é c-r-â-n-i-o — falo devagar, ela assente antes de repetir.
— Sì — ela ri.
Lizzie sorri para ele, encolhe as mãos no colo, sinal de quando ela fica
envergonhada, mas quer se comunicar direito com a pessoa que chama a sua
atenção. Daniel tem um brilho especial nos olhos azuis-escuros que se parecem
com o da nossa menina, um sorriso tranquilo, ele estende a mão grossa para ela
esperando pela resposta a seu comprimento. Lizzie ri novamente antes de estender
a mão e segurar a dele. Meu coração se aperta com o contato entre pai e filha.
— Certo — ele fica em pé, notadamente triste por não poder dizer a verdade
a Lizzie — vou fazer o café, quer algo?
Daniel se afasta indo pegar os ingredientes. Noto que meus irmãos tinham
suas atenções focadas na interação que acabou de acontecer. Louis e Levi tem a
mesma impressão de quem diz “você pode ter isso todos os dias, não deixe a chance
passar”. Suspiro, sabendo que pode ser verdade ou somente mais uma ilusão que
partira meu coração. Continuo dando o comer da Lizzie enquanto Daniel faz nosso
café.
Encaro as costas dele, eu quero acreditar, mas não aguento mais me magoar.
Daniel
Lizzie corre atrás das primas e outras crianças no jardim da mansão de Louis.
Gosto de a observar e saber que ela é uma parte de mim, o ruim é quando ela me
chama de “zio” ao invés de “pai”. Estou sendo paciente, não faz nem 48 horas que
descobri sobre a Lizzie e não posso tirar o atraso de dois anos de uma vez, ou a
minha garotinha ficará assustada.
Lizzie e Lira significam esperança para mim. Uma nova chance de um sonho
antigo destruído pela maldade da mulher que amei com a minha alma. Se me
prender a medos passados e comparar a Lira com a Verônica, eu sei que nunca
poderei me abrir para novos sentimentos. Mas essa não é a resposta.
Eu quero Lira e Lizzie para mim, acordar de manhã e sentir o cheiro de flores
da Lira, fazer panquecas para a Lizzie e lhe ensinar a falar. Quero estar segurando
a pequena em meu colo no seu aniversário de 3 anos e em todos os outros. Quero
ouvi-la me chamando de “papai” com o sorriso banguelinha, quero saber cada
pequena coisa sobre ela.
Ouço um grito seguido por um “ploc”. Olho para a piscina descoberta e vejo
as crianças pulando dentro, uma atrás da outra, enquanto gritam e dão nomes a seus
mergulhos. Lorran sobe no trampolim de 30 centímetros, levanta os braços antes
de proclamar.
— Fiquei com medo do pulo dela — confesso, encaro a pequena que deita a
cabeça no ombro da mãe.
— Zio Dante ana bien[8] — ela fala, querendo descer — pixiiiina mamãe.
— Sì, contanto que você não tente mais pular sozinha — levanto o mindinho
para fazermos um pacto.
— Não confie nas promessas dessa espertinha — Lira bate na bunda dela e
Lizzie ganha um ar travesso — ela sempre vai tentar te enrolar.
Gargalho e não resisto ao puxar a mão da Lizzie, sem fazer cerimonias ela
vem para os meus braços. Seu cheiro de bebê e a pele macia, o corpinho leve, o
sorriso banguela, a íris azul intenso. Nesse pequeno segundo, enquanto a minha
menina ri para mim, eu encontro paz e felicidade. Desço o rosto cheirando suas
bochechas a escutando gargalhar pela minha barba em sua pele.
— Colciquinhaaaaaaaaa — grita.
— Zia Lira licença — ouço a voz do Lorran, viro de lado e o encontro
batendo o pé com o rosto impaciente. Não percebi que estávamos na frente do
trampolim impedindo a passagem deles.
— Vai lá.
Contra a minha vontade a coloco no chão que corre para a piscina. Ela para
na borda recebendo as boias que a Bianca colocou nos braços das crianças. Apesar
de saber que somente a piscina infantil seria aberta hoje, é sempre preciso
precaução em dobro.
— No dia que eu tiver certeza de que você vai ficar — Lira responde com
tristeza, ela não acredita nas minhas palavras.
— Certo.
— Me conta como ela era quando bebê? — puxo a Lira para se sentar na
poltrona na varanda, longe da agitação, mas onde podemos ver a Lizzie na piscina,
brincando com as primas.
— E seu trabalho?
— Estou de férias prolongadas — se escora olhando para o céu — amo ser
diretora, mas quero curtir mais a infância da Lizzie. Eu teria de voltar a morar nos
Estados Unidos ou em Vancouver durante uma produção, e ficar longe dela, não
quero isso.
— Não foi sua culpa — ela deita a cabeça no meu ombro — acho que de
ninguém. As coisas só tinham de acontecer dessa forma e ninguém pode fazer nada
para impedir — suspira pesado.
— Pois é! Ela tinha um ano e sete meses quando o Dante trouxe um gatinho
que ele tinha achado na estrada. Foi mostrar o animal a Lizzie, era um de pelo
dourado com branco e olhos amarelos. A Lizzie começou a chorar e correu para o
meu colo com medo do bichano. Desde aquele dia sempre que ela vê um chora e
se esconde.
— Pelúcia ela não tem medo, adora brincar com a do Lorran, fato
interessante, ele briga muito com as outras meninas, mas nunca brigou com a Lizzie
e sempre faz o que ela pede sem reclamar.
— Não acredito! Lorran, o menino mais opinioso que existe, cedendo para a
Lizzie.
— Pode apostar, se ela pedisse agora para ele sair da piscina, ele o faria sem
achar ruim.
— Isso me faz até ter vontade de pedir a ele — rio e Lira me acompanha.
— Se quiser a Olivia brigando com você por usar a Lizzie para controlar o
filho dela, vá em frente.
— Não — suspira — eles são perfeitos juntos, mas o Dante é um asno que
não percebe isso.
— Verdade.
Passamos o resto do dia conversando enquanto as crianças aproveitam a festa
de aniversário da Alessa, que faz 2 anos hoje. À noite, todos se recolhem cedo para
dormir e Lira não é exceção, antes que eu pudesse a puxar para conversarmos mais,
ela já estava dormindo na cama com a Lizzie ao seu lado.
No café da manhã imito o que a Lira fez ontem e deixo o prato delas pronto.
Fui o primeiro a acordar, e quando termino de fazer o meu café. Lira entra
bocejando acompanhada dos irmãos. Ouço o som das crianças no andar de cima e
imagino que Bianca e Olivia sejam as responsáveis pelo banho da tropa.
— Bom, eu volto hoje para casa — dá de ombros — se você vai ficar aqui,
te passo o endereço da fazenda, fica a duas horas de carro.
— Não pode ficar aqui mais um pouco? — peço, segurando seu cotovelo.
Vejo seus olhos amolecerem antes de endurecer novamente.
— Certo.
Opto por não iniciar uma briga de manhã cedo. Logo Lizzie chega à cozinha
e se senta para comer. Depois do café, trabalho pela parte da manhã e de tarde, me
despeço da minha pequena com um abraço e a promessa de a ver no dia seguinte
na fazenda. Lira ficou de arrumar o quarto de hóspedes para mim.
Às 15 horas vou para a clínica realizar o novo exame de fertilidade, com uma
ajudinha do Louis o laboratório concordou em me entregar o teste amanhã. Vou
pegar antes de ir para a fazenda, só de saber que estou longe delas eu sinto um
aperto e a necessidade louca de as ter novamente ao meu lado.
Quando saio da clínica, vejo uma loja de ursos e lembro da Lira dizendo que
a Lizzie ama a girafa Fefinha. Vejo uma réplica dela na vitrine, e não me contenho
antes de comprá-la. É enorme, com um metro e meio de altura e espero que a minha
menina ame o presente. Não posso aparecer de mãos vazias, e com certeza a Lizzie
vai gostar.
No dia seguinte retorno a clínica com uma calma que nunca imaginei sentir.
Por mais que a possibilidade de eu ser estéril continue existindo, eu sinto que isso
não é verdade, que a Lizzie é minha e vou recuperar a minha família, custe o que
custar.
— Senhor Albuquerque — o médico me cumprimenta — pronto?
— Sim.
Encaro o carro cinza de onde Daniel desce, achava que ele viria direto para
a Lizzie, que pula eufórica no meu colo querendo mais da atenção do seu novo
“zio”. Minha menina sempre foi fácil de se apegar a adultos, mas nunca como
Daniel, de ela ficar perguntando por ele depois, e querendo sua presença ao seu
lado. Talvez ela sinta que o Daniel é diferente, que tem algo a mais nele.
— Meu pai amado — sussurro incrédula, prevendo a merda que será a minha
vida para sair com essa coisa gigante.
Eu estou perdida!
Ao meu lado, Dante começa a rir, sabendo o inferno que vou passar com uma
pelúcia gigante. Já é difícil controlar a Lizzie com os pequenos, que ela vive
sujando levando para todos os lugares. Mas uma coisa desse tamanho, maior que a
minha filha, vai ser o meu fim.
O encaro com fúria nos olhos e o safado ri mais, piso no seu pé extravasando
minha irritação. Adoro que ele se encolha, mas o odeio por continuar rindo.
— Eu vou matar você por comprar uma girafa enorme — falo engasgada,
em português, para que Lizzie não entenda.
— Ela amou — rouba minha filha de mim, para ele é fácil segurar as duas
nos braços, olha o tanto de músculos que esse homem tem!
É um pouco incomodo saber que foi preciso dois anos para isso acontecer,
mas o importante é focar no presente, se eu me prender ao passado vou magoar a
pessoa que mais importa, a presença de um pai na vida dela. Meu pequeno mundo,
chamado Lizzie. E é só isso que o Daniel representará nas nossas vidas, o pai da
Lizzie.
— A Lira não contou para a gente — Dante coça a cabeça — ao menos não
para mim.
Escapo do seu olhar entrando, eles me seguem como dois pastores alemães,
enquanto a Lizzie embarcou em uma conversa com a Fefinha, bastante animada e
cheia de palavras incompreensíveis. Beatrice sorri ao nos ver, sentada no sofá com
o pé apoiado na mesinha. Tive pena dela ter caído na lama e torcido o calcanhar,
mas ao menos o Dante cuidou dela enquanto estive fora.
— Chegou o homem que quer roubar as minhas garotas — ela fala com um
sorriso sapeca no rosto, já imagino onde essa conversa vai dar.
— Fui inventar de correr atrás das vacas com Dante, escorreguei na lama e
cai por cima do pé — eu ainda tenho minhas dúvidas sobre essa história, já que as
vacas são tangidas pelo Dante em cima do cavalo e não correndo a pé.
— Vaca não é tangida com o vaqueiro em um cavalo? — Daniel pergunta o
que eu me contive para saber.
Um é um bruto para romance, não entenderia que uma mulher gosta dele
nem se ela falasse, ia achar que é baboseira e paixonite que logo passa. Mas o que
Dante não percebe, é que ele é um homem extremamente atraente e atencioso, faz
qualquer mulher se apaixonar fácil. Principalmente a Beatrice que convive com ele
todos os dias e nunca negou os olhos brilhantes e apaixonados.
Eu não acredito mais no amor para mim mesma, mas esses dois, merecem
uma chance de serem felizes, ficarem juntos e terem seus traumas superados com
a força do que queima em seus corações. Um dos motivos para eu não ter ido
embora, é porque não quero deixar a minha amiga sozinha, e acredito que vou
conseguir fazer esses dois perceberem que se amam demais e podem ficar juntos.
— Percebi quando a Lira a pegava no colo e alisava sua bochecha, ela dormia
quase na mesma hora.
Fico tocada por saber que ele me observava para aprender as coisas sobre a
Lizzie. Eu não tinha percebido que seus olhos azuis me seguiam por essa razão. As
bochechas esquentam ao saber que fui alvo dele todo esse tempo, mesmo quando
eu não percebia que estava sendo observada.
— Daniel — Dante chama — você faz ideia do que acabou de fazer ao dar
essa fefinha gigante para a Lizzie?
— Ela não vai mais soltar a pelúcia e vai andar com ela para todos os lados
— respondo entre dentes — eu vou sofrer agora, sempre que saímos para levar essa
coisa enorme! — me estico sobre a Lizzie beliscando o ombro do Daniel que se
encolhe fazendo careta — obrigada por tirar a minha paz.
— Não tem problema, eu levo a girafa — responde.
Ele tem certeza ao pronunciar cada uma das palavras e eu paraliso. Não tem
como isso ser possível, Daniel é o CEO da VITTILENO no Brasil, e nunca poderia
desistir da carreira pela Lizzie. E, porque esse desgraçado, em vez de dizer o nome
da filha, falou “vocês” como se eu quisesse a presença dele na minha vida, eu nunca
mais vou me iludir por amor.
Percebo por canto de olho o Dante dando a volta no sofá e pegando a Beatrice
no colo. Eles pensam que saem de fininho nos dando privacidade, mas eu noto cada
um de seus passos. Os safados estão fugindo em vez de ficarem para me dar apoio
moral e ajudar a não cair na tentação que é o Daniel, demonstrando ser um pai
atencioso com a filha.
— Essa semana vou ficar na Itália para podermos decidir como serão as
coisas — ele não está me perguntando, ao invés disso assume o que deveríamos
fazer. Aperto os punhos com raiva.
— Não vou me mudar para o Brasil com você, e a Lizzie não irá para lugar
nenhum sem mim — falo decidida.
— Tudo bem — ele estica a mão tocando meu rosto — eu nunca disse que
faria vocês duas virem comigo, mas que decidiríamos como seria — alisa minha
bochecha — eu já perdi tudo uma vez, não deixarei acontecer novamente por um
emprego. Sou capacitado e posso arrumar algo na Itália, caso o Louis não queira
que eu assuma outra função na VITTILENO. Mas eu nunca vou abrir mão de vocês
duas.
Seus lábios tocam os meus em uma promessa velada. Encosto a testa na dele
querendo bater nele por insistir em me dar esperanças, quando eu sei que daqui a
um tempo, nada disso vai importar, que ele vai desaparecer como todos os outros
e eu ficarei sozinha curando as minhas feridas.
— A Lizzie é sua filha — digo baixinho — mas eu não sou sua mulher, não
confunda as coisas — ergo a barreira que me protegerá de outra decepção. Apesar
de o perdoar e entender o que aconteceu dois anos atrás, as mágoas daquele dia
continuam fincadas em minha carne.
— Aqui — dá de ombros.
— Não preciso de convite — seu olhar tem chamas poderosas nas írises azuis
forte — onde a minha filha e mulher estiverem, eu estarei.
— Tenho vontade de te esganar por ser tão convencido.
— Não te vi negando que ficarei aqui — ele pega a Lizzie no colo com
cuidado. Ela deita a cabeça no ombro do pai como se fosse a coisa mais natural —
onde é o seu quarto? Vou levar minhas coisas para lá.
— Mas não vai mesmo — levanto em um pulo tentando não aumentar a voz
para acordar a Lizzie.
O sigo pelo corredor, tentando não fazer barulho quando soco suas costas.
Os músculos batem contra meus dedos e o desgraçado não sente nada do meu
ataque. Chegamos à cozinha onde Dante e Beatrice sussurram, eles se calam ao
nos ver e minha amiga tem culpa no rosto. Aposto que os safados falavam da gente.
— Vou ficar aqui por uma semana a princípio — Daniel a informa em vez
de pedir. Esse homem vai me enlouquecer!
— Não vai não — Dante responde — você vem comigo para a minha casa,
as damas dormem sozinhas.
— Daniel — ela começa — espero que não se magoe com o que direi. Mas
eu não gosto de pessoas invadindo meu espaço pessoal, vou precisar de um tempo
para me acostumar com a ideia de você aqui, por favor, fique com o Dante enquanto
isso. A casa dele fica a 10 metros daqui e você poderá ver a Lizzie sempre que
quiser.
— Desculpe, não queria te incomodar — ele pede — está bem, mas já aviso
que vou passar muito tempo aqui.
— Eu espero que faça isso — Beatrice sorri — está convidado para o almoço,
vai tomar um banho após a viagem?
Lizzie agarra o peito da mãe mamando enquanto seus olhos azuis como os
meus fixam-se em mim. Amo como ela me observa e procura pelo meu colo.
Estamos há três dias juntos e eu não poderia estar mais feliz do que na presença da
minha filha e da sua mãe. Que reluta em me aceitar ao seu lado. Meus dias na
fazenda estão contados e reduzidos para somente mais dois dias e uma noite.
Lira que tem se mantido afastada, como se tivesse medo de ficar ao meu
lado. As magoas que deixei em seu coração são mais profundas do que eu
imaginava e para a fazer ceder e se entregar totalmente a mim, vou precisar de mais
do que três dias sendo amigável. Morar com o Dante não é ruim, mas preferia estar
na mesma casa que a minha família.
— Lizzie tem de aprender a não ir facilmente para estranhos — eu digo
apertando seu pezinho rosado e gordinho.
— Tento ensinar isso a ela faz dois anos, se tiver dicas aceito a todas — Lira
encosta a cabeça na poltrona, claramente cansada.
— Não dormiu?
— Você pode odiar, mas a nossa Lizzie ama — aperto a barriga da minha
pequena — você ama a Fefinha minha princesa?
É então que noto uma cicatriz pequena, branca, é quase imperceptível, mas
se a Lizzie não tivesse colocado a mão abaixo dela eu não teria notado com
facilidade. Desde a nossa transa na casa do Louis, a Lira tem se mantido distante
sexualmente, ela foge sempre que tento a abraçar e insinuar que quero passar a
noite junto.
Quando paro para pensar que nunca tivemos uma noite completa de amor,
com calma, me incomoda. Em todas às vezes que estivemos juntos eu devorei a
Lira com uma fome insaciável que nunca tem fim. Mas agora eu quero ir com
calma, saborear a sua pele, desfrutar de seus gemidos ao pé do meu ouvido, eu
quero me embebedar no sabor de sua boca, tanto quanto o da sua boceta. Para isso,
primeiro preciso quebrar sua defesa e a fazer perceber que não sou um erro.
— Muito, uma vez agarrou um tufo da cabeça do Dante que ele teve de
cortar, já que ela não largava e nenhum de nós tinha coração para bater nessas mãos
safadinhas — aperta a mão da Lizzie fazendo voz fofa. Ela cheira o dorso com
carinho e Lizzie abre um sorriso contra o peito da mãe.
— Já sei que eu teria ficado sem barba nessa época — aliso os pelos no meu
rosto — ou ela arrancaria cada um.
— Lembro que teve uma época que ele ficou de cabelo muito curto, mas não
disse o motivo — puxo na memória.
— Foi a Lizzie. Assim que ele chegou e a pegou no colo, quando fui avisar
para não beijá-la, já era tarde. Ela agarrou os dois lados da cabeça dele.
— O estrago foi grande — dou risada. — Você não vai arrancar os cabelos
do pa... — Lira leva a mão contra minha boca, me impedindo de falar.
Encaro minha pequena prestando atenção nos meus movimentos, e beijo sua
cabeça cheirosa. Lizzie tem um aroma de bebê que me faz sempre estar com o nariz
contra seus cabelos. Ela ama, quando me vê, estica os braços pedindo colo,
deitando a cabeça contra a minha boca pedindo pelo carinho.
Aliso suas pernas e costas, passo um braço ao redor do ombro da Lira. Beijo
o ombro da minha pequena com tanto carinho que meus olhos enchem de lágrima
por ter as duas coisas mais preciosas do mundo em meus braços. Subo o rosto e
beijo a bochecha da Lira, ela pode não ter me aceitado ainda como seu parceiro,
mas a nossa família está formada e nada mudara isso. Nunca.
Com minhas duas princesas nos braços, eu respiro aliviado, sendo invadido
por uma paz que nunca experimentei. Encaro a Lira, com os olhos marejados na
minha direção, os lábios tremendo e as barreiras levadas ao chão. Aproximo nossos
narizes, inspiro seu cheiro de flores e toco de leve seus lábios com os meus.
— Vocês são o que tenho de mais precioso, leve o tempo que quiser para
aceitar que eu nunca vou embora — a encaro intensamente — vamos ficar juntos.
Lira, cuidar da nossa família lado a lado.
— Não é justo — ela murmura com a voz embargada — você não pode
aparecer e mexer comigo dessa forma.
— O que não é justo é você continuar sofrendo quando estou pronto para
fechar cada uma de suas feridas — sussurro contra seus lábios — você é minha, e
eu sou completamente seu. Te esperarei nem que leve uma eternidade.
— Ah, Daniel — ela murmura, dessa vez, trazendo seus lábios aos meus.
Aliso a cabecinha dourada e beijo sua bochecha fofinha. Puxo Lizzie para
meu colo prendendo suas pernas com um braço e o outro segurando seu pescoço.
Começo um ataque de cócegas passando a barba em seu pescoço, arrancando altas
gargalhadas dela. Suas mãos prendem na minha camisa enquanto ela grita
gargalhando.
Nunca vou desistir da nossa família, Lira e Lizzie verão que sou merecedor
delas, independente do tempo que levar para abrir o coração de ambas, a mim.
No momento sei que a Lizzie me ver somente como seu “zio”, mas vou continuar
fazendo o possível e impossível para que ela me reconheça como seu pai.
Seguro Lizzie com a mão debaixo de sua axila. Ela encolhe as pernas e a
jogo para cima. Seu riso que já era alto ganha um tom ainda mais elevado. Continuo
na brincadeira, o ferro que puxo na academia me permitiria continuar assim por
dias. Por um segundo, quando apoio minha menina antes de a jogar, encaro a Lira,
com uma felicidade indescritível ao observar a nossa interação. Nesse segundo eu
percebo o quanto deve tê-la machucado a Lizzie não ter um pai.
— Lizzie, sorvete só depois do almoço — Lira fala ficando em pé. Beijo sua
barriga que fica contra meu rosto e levanto.
— Celto — suas mãos agarram meu rosto, seguro suas coxas a mantendo
firme acima de mim — pega a fefinha zio.
— Agora você vai saber o motivo de eu não ter gostado muito do presente
— Lira diz entrando na cozinha.
Me abaixo para que Lizzie não bata no arco da porta. Sua cabeça se deita em
cima da minha e suas mãos ficam mais firmes no meu pescoço, dificultando um
pouco a minha respiração pela forma que ela aperta minha garganta. Entramos, e
Lira vai preparar o lanche, enquanto vou para a geladeira, pego pães para um
sanduíche.
— Está perto da hora do almoço, vamos fazer algo melhor do que sanduíche
— ela diz.
— Princesa — digo — não vamos levar a fefinha, ela é grande demais para
conseguir carregar as duas e a cesta de piquenique.
— Bem que eu queria meu amor — ela segura a mão da Lizzie e a beija antes
de se sentar — mas a zia não pode sair com o pé machucado, lembra?
— Oba, paltinhos — Lizzie bate palmas e faz som de “quack” várias vezes.
Amo como ela gosta de imitar o som dos animais.
— Sim, meu amor, vamos ver os patinhos, quer colocar o biquíni para tomar
banho?
— Vou colocar uma roupa de banho — aviso. Não quero perder a chance de
entrar no lago com a Lizzie e a ensinar a nadar.
— Te vejo já.
— Tenha calma com ela — Beatrice pede — Lira pode demorar mais do que
você espera para se abrir, mas ela vale a pena.
— Muito bem — sorri — agora vai se trocar que em dois minutos a Lizzie
desce apressando todo mundo.
— Ok.
Deixo a casa delas e vou para a do Dante onde tenho ficado. Pelo horário,
imagino que ele esteja no vinhedo, hoje ele iria inspecionar as uvas para a colheita
que logo acontecerá. Me troco rápido e quando retorno, eu vejo as minhas meninas
me esperando do lado de fora, vestindo vestidos com laços amarrados no pescoço
dos biquinis.
Acho graça da cara branca da Lizzie de tanto protetor que a mãe passou, um
chapéu de palha na cabeça de ambas. A bolsa com nosso almoço em cima do banco
e ao lado a girafa. O lago fica meio longe e odeio a ideia e ir andando levando a
Lizzie, a bolsa e a fefinha.
— Eu não levo essas coisas pesadas — Lira arqueia a sobrancelha, ela está
gostando de me fazer sofrer.
— Veremos — ri debochada.
— Vamos.
Lira segue na frente e vou atrás como um burro de carga. Quando chegamos
no caminho com pedras, eu me amaldiçoo por comprar um presente tão grande que
fica escorregando e batendo meu rosto. Minha filha ama a fefinha, mas eu odeio
essa coisa.
Lira
Sinto um prazer interno ao ver o Daniel sofrendo com a fefinha. Ele pode
aguentar o peso que for, mas nada se compara a uma pelúcia batendo na sua cara
enquanto sua filha cantarola em cima da sua cabeça. Paro no caminho, puxo o
celular do bolso e tiro uma foto deles, tenho feito muito isso ultimamente,
capturado os momentos de interação dos dois.
Lizzie pode não ter fotos com o pai quando era bebê, mas terá um monte
daqui em diante. Daniel percebe o que estou fazendo e sorri, apesar do sofrimento,
ele aparenta gostar, e dar valor a cada pequeno momento que temos juntos. E isso
faz meu coração balançar como uma gangorra, pendendo entre continuar mantendo
distância emocionalmente ou jogar para o ar todos os meus medos e deixar que o
Daniel cuide tanto de mim como da Lizzie.
É um inferno resistir à vontade que tenho dele, pois sei que no segundo que
continuar deixando-o entrar na minha vida, vou abrir espaço no meu coração. Eu
quero confiar, acreditar que é possível a felicidade que ele me promete, mas as
coisas que acontecem na fazenda quando estamos somente nós aqui, é diferente de
como seria no mundo lá fora, com o envolvimento de outras pessoas.
Daniel me oferece conforto e calmaria em um lugar envolto disso é uma
promessa do paraíso. Mas a incerteza de como seria no lado de fora me trava,
impedindo que eu decida entre baixar a guarda ou não.
Como seria se fosse em seu escritório? Ele receberia uma visita surpresa
minha e de Lizzie, pararia uma reunião para dar atenção a sua menina, ou nos
mandaria esperar, ou no pior dos casos, ir embora para não o atrapalhar. Chegaria
tarde em casa todas as noites, viria para o jantar, compareceria às apresentações da
Lizzie, são tantas incertezas sobre o nosso futuro que não consigo destravar e
permitir que a minha mente tenha paz.
— Lira — sua voz me chama, tomo um susto ao perceber que ele está uma
pedra de distância — estou bem aqui para responder a todas as suas dúvidas, não
se torture pensando em um futuro que não aconteceu ainda — beija minha testa.
Mesmo com a fefinha e a bolsa em seus braços incomodando a proximidade
de nossos corpos, eu coloco a mão em sua barriga e encosto a testa em seu queixo,
me apoiando nele. O chapéu desliza nas minhas costas indo ao chão. Seu corpo não
vacila, ele não hesita ao me segurar na cintura com uma mão, minha pequena toca
meu cabelo alisando carinhosamente como faço com ela todas as noites.
Soluço sentindo uma lágrima descendo pela bochecha, foram dois anos
difíceis em que esperei ouvir cada uma dessas palavras e agora que as tenho, o
medo de irem embora novamente e não serem verdade se enreda no meu coração
como uma rosa com espinhos no caule.
— Não deixo, eu a substituo por emoções mais bonitas — beija meu nariz
— pelo amor que tenho cultivado por você e nossa filha. É toda a força que preciso
para acreditar em um futuro feliz e viver um presente com vocês.
Eu deixei de ser uma mulher que era usada e usava os homens para ser a
escolha de alguém. Uma pessoa que eu me importo e quero tanto em minha vida
que o medo de não o ter me impede de seguir em frente, não me deixando ter o que
mais anseio. Uma família para chamar de minha, o amor de um homem que eu ame
e o pai para a minha filha.
— Prometo viver muito tempo para vocês — ele sussurra — mas, por favor,
vamos andar ou vou perder um braço.
Rio, ele pode ter tido boas intenções com o presente, mas eu conheço a filha
que temos. Enquanto ela não se distrair com um brinquedo novo, a fefinha será
levada para todos os cantos, independentemente de ser festas, passeios, ou jantares
fora. A fefinha será o quarto membro da nossa família.
Um calor se espalha no meu peito ao constatar que é isso que somos agora.
Não é mais somente eu e ela, mas eu, ela, e o Daniel. Uma família.
Minhas bochechas queimam ao lembrar de algo que ele falou “pelo amor
que tenho cultivado por você e nossa filha” ele realmente me ama? Ainda não
tenho certeza do que sinto por ele, minha cabeça queima com os pensamentos que
meu coração não consegue processar.
Por hora decido me dar uma folga e não pensar no que posso ser com o
Daniel, mas somente aproveitar o sol gostoso contra minha pele, o lago e a minha
menina que levanta os braços pedindo ao pai para tirar sua roupa, a deixando de
biquini. Daniel abre a bolsa e pega o protetor passando mais nos braços da Lizzie
até ela virar uma vela branca. Paro ao lado dele, coloco a mão em sua cintura e
beijo seu ombro.
É gostoso poder fazer isso sem sentir nenhuma pressão por não saber se ele
quer o meu contato. Poder respirar simplesmente aliviada ao lado do homem que
eu vou dar uma chance para ficar na minha vida e da minha menina.
— Mamãe vilei o galpazinho [10]— Lizzie fala rindo e fazendo bico. — Bu.
— Vou te ensinar a ser um peixinho nadador — ele aperta o nariz dela antes
de se afastar tirando a camisa e o calção.
Babo ao ver os músculos definidos em seu corpo todo, se o Daniel tiver 10%
de gordura corporal será muito. Ele é todo definido, másculo, e com uma áurea
sexy que balança minhas pernas. Sou flagrada o encarando, os cantos de sua boca
sobem em um sorriso sexy quando ele se aproxima segurando minha cintura e
beijando meus lábios com delicadeza.
Sorrio nos lábios do Daniel, seguro seu peitoral macio o afastando um pouco.
O sorriso despojado em seus lábios mostrando que ele adorou a afirmação da filha.
Daniel me beija mais uma vez e depois a Lizzie beija minha bochecha, antes
deles irem juntos para o lago. Gosto como ele testa a água antes de entrar, segura a
Lizzie pela barriga a deixando mergulhar e trazendo de volta. Minha menina não
contém o sorriso, e as palavras ao aproveitar o momento com o pai. Arrumo a mesa
do nosso almoço e retiro meu vestido entrando no lago com eles.
Nunca imaginei como um banho de lago poderia ser gostoso. Daniel ensina
a Lizzie a nadar enquanto ela fica dizendo que é um peixinho. Patos aparecem do
outro lado do lago e Lizzie fica eufórica querendo vê-los de perto.
— Já sei o que fazer — Daniel me entrega ela enquanto sai do lago e volta
com fatias de pão.
— Vamos atrair eles princesa — Daniel entrega a ela uma fatia do pão —
joga que eles devem vir.
O lago tem cerca de 60 metros de comprimento e 100 de largura, não estou
certa de que eles conseguirão chamar a atenção dos patos. Mas eles jogam tanto
pão na água que o quem vem para perto da gente são peixes. Grito sempre que um,
passa perto de mim, e Lizzie ri escandalosa quando um peixinho pequeno pula
contra a mão dela arrancando o pão de seus dedos.
Daniel pega Lizzie a colocando em cima dos ombros e nada um pouco para
o centro do lago, onde os patos chegaram. Estica uma mão com o pão chamando a
atenção das aves e com a outra, segura a Lizzie com firmeza. Fico parada para não
assustar os patos que se aproximam aos poucos, comendo o que restou do pão.
Eu nunca imaginei que veria a Lizzie tão quieta admirando os animais que
ela ama para não os assustar. Daniel com uma mão a segurando e a outra ajudando
a ficar no lugar sem se mexer muito. Levo a mão ao peito realizada pelo que vejo.
Não só a Lizzie merece a chance de ter um pai, como eu mereço ter um marido.
Nesse segundo eu decido, não vou mais me fechar e continuar sofrendo. Posso me
machucar no futuro, mas isso é algo que resolverei quando acontecer.
Agora vou somente aproveitar a paz e felicidade que sinto ao perceber que
eu tenho uma família incrível. Rezo para nada atrapalhar a nossa paz.
Lira
Deito-me na cama com a Lizzie entre mim e Daniel. Ela capotou depois que
voltamos do lago, mas não quis largar do pai, e insistiu que ele a colocasse para
dormir. Tive de dar a janta dela com um olho aberto e outro fechado enquanto ela
dormia no colo do Daniel, sujando a camisa dele com o arroz de leite.
Já são 19 horas e eu sei pelo que o Daniel espera. Eu disse que ficaríamos
juntos hoje. Ele tem expectativa no olhar, mas não me apressa, deixa que eu tome
a iniciativa quando me sentir pronta. Inspiro tendo a certeza de que a Lizzie dormiu
e levanto da cama. Daniel me imita, mas ao fazer isso a Lizzie se mexe rolando
para cima dele.
— Fica aqui papai — ela fala com a voz banhada em sono e cheia de
naturalidade.
Não nego que o hoje me fez querer dizer a ela por diversas vezes que estava
brincando com seu pai. Que quando ele a chama de “princesa” não é só mais um
apelido, mas uma forma que ele encontrou de esconder a “filha” em cada uma de
suas palavras. Minha menina não é boba, ouviu as palavras dele mais cedo. Não
sei como seu cérebro ou coração a fizeram chegar à conclusão de que ele era o pai
dela, mas agora eu tenho certeza, podemos contar a verdade para a Lizzie.
— Eu fico minha filha, minha princesa — Daniel puxa Lizzie contra seu
corpo com lágrimas escorrendo por suas bochechas. Nunca o vi tão emocionado.
— Lizzie — chamo seu nome tocando em sua cintura, ela me olha tranquila
— isso não é uma brincadeira meu amor, o Daniel é o seu pai de verdade.
— O papai não podia ficar com a gente — digo a ela, engolindo o choro.
Viro seu ombro a fazendo me encarar, o rosto vermelho e os olhos banhados em
lágrimas.
— Lizzie, você lembra de quando a Fefinha foi enganada pela raposa? — ele
pergunta, ontem os dois passaram o dia assistindo ao desenho.
— Eu e a sua mãe fomos enganados por uma raposa malvada que não queria
deixar o papai ser feliz com vocês — ele beija a cabeça dela. Lizzie para de soluçar
e o encara com as lágrimas descendo pelas bochechas rosadas.
— Polque?
— Sim, meu amor — acaricio sua perna coberta pelo pijama longo — a
mamãe não podia deixar a raposa fazer mal a gente. Seu papai ficou, para garantir
que a raposa malvada fosse presa e não pudesse nos machucar — engulo outro
soluço.
Sua mão agarra a minha me puxando contra seu peito. Lizzie de um lado e
eu de outro, aliso os cabelos da minha menina, enquanto Daniel acaricia meus
cabelos e as costas da Lizzie. Tínhamos combinado de passar a noite juntos,
imaginei que seria fazendo sexo. Mas isso o que temos aqui, é a ainda melhor e
mais especial.
Nesse segundo eu tomo uma decisão, disposta a dar mais um passo rumo a
felicidade.
Vou ficar junto do último homem a quem darei uma chance para me amar, e
espero que fiquemos juntos até eu ter fios brancos como os dele, quando as rugas
ao redor dos meus olhos surgirem e nossa casa tiver mais filhos do que um dia
imaginei que teríamos.
— Sim — beijo seus lábios com a delicadeza de uma flor — eu quero te dar
uma chance para ser o meu homem.
— Um passo de cada vez — peço, um calafrio passa pela minha espinha por
estar dando um passo que jurei nunca mais arriscar — sem pressa e tudo no seu
tempo.
— Estou brincando — sorri arteiro — deveria ter visto sua cara, jurava que
você ia colocar um ovo.
O jeito que fala, alivia a tensão do momento, causada por sua piada. Eu
agradeço por ele me dar o espaço que preciso e beijo seus lábios antes de levantar.
Ela diz isso, mas nunca teve coragem de contar ao Dante como se sente. Vive
suspirando pelos cantos, encarando o Cowboy que é uma porta para perceber os
sentimentos da minha amiga. Beatrice pisa no meu pé com o seu calcanhar bom e
eu tenho vontade de xingá-la. Mas decido me conter, sei como é difícil para ela
acreditar que alguém possa realmente a amar.
Diferente de mim que fui magoada por incontáveis homens e outros que
nunca consegui me apegar o suficiente para chamar de paixão ou amor. A Beatrice
não foi amada quando criança, e na adolescência teve uma experiência familiar
horrível. Se não fosse pela Blanca e Levi, não sei o que seria da minha amiga. A
terapia que ela faz todo mês parece que chegou em um ponto de estabilidade, não
regressa, mas não avança.
— Lira — Dante chama segurando minha mão — sei que você tem medo,
mas o Daniel é um bom homem e vai cuidar da Lizzie e de você. Não existem mais
motivos para hesitar, e eu te garanto, se ele te magoar, eu o mato e escondo o corpo
dele no lago para não ser preso. Mas agora tanto a Lizzie quanto você, estão diante
da chance de serem felizes, não desperdice isso.
— Não se preocupe com a gente — Beatrice fala lendo meus pensamentos
— a fazenda é o meu lugar de paz no universo e nada nunca mudará isso. Sei que
você sempre virá nos visitar em qualquer oportunidade, e eu vou ao Brasil passar
um tempinho com vocês.
— Eu mesmo a levo — Dante fala, ele sabe o medo que a Beatrice tem de se
afastar de casa — temos a nossa afilhada preciosa para visitar. Acha mesmo que
conseguiremos ficar muito tempo longe? Eu vi aquela pestinha loura crescer,
engatinhar, e nos endoidar sempre que se machucava ou ficava doente.
— Mato ele se não fizer isso — aperto a mão de ambos — obrigada, por
tudo.
— Certo — beijo seu ombro o apertando com todo o carinho e gratidão pelo
Dante ser um homem tão bom.
— Prometo.
Conto a eles sobre a Lizzie chamar o Daniel de pai e a história que contamos
sobre a raposa. Eles concordam que foi a melhor opção para a idade da Lizzie. Faço
uma macarrona com parmesão para jantarmos e quando o relógio bate 20 horas eu
subo com meu prato e o do Daniel. Ele dorme tranquilo segurando a Lizzie no seu
peito. Toco sua perna o acordando com um sorriso e mostro o prato.
Daniel sorri preguiçoso, com cuidado deixa a Lizzie na cama, faz uma
montanha de travesseiros ao redor dela e vem até a minha varanda, onde sentamos
a mesa para comer. Ele me puxa para seu colo e ficamos assim, conversando
baixinho para não acordar a Lizzie. Terminamos a refeição e deito a cabeça em seu
peito, feliz e tranquila.
Ele não pergunta, mas chama. Seguro sua mão, apaixonada o sigo para o
quarto de hóspedes onde passo a noite sendo amada pelo homem que escolhi
permitir entrar no meu coração.
Deixamos a Lizzie aos cuidados dos padrinhos para termos uma noite só
nossa, antes de voltarmos ao Brasil. Ele segura uma manta enorme e um cobertor,
enquanto eu levo uma bolsa com nosso jantar, vinho e velas.
Passei o dia atualizando meus irmãos sobre a minha decisão de dar uma
chance ao Daniel e para a minha surpresa ambos falaram que estavam torcendo por
isso.
Daniel realmente tem uma boa fama com os Vittileno. Mas eles são homens,
é mais fácil de se entenderem entre si. Bianca e Olivia amaram saber que estou
disposta a amar e formar minha família com o Daniel, conversamos por horas até
elas iniciarem o papo sobre casamento e eu desligar o celular. É cedo demais para
pensar sobre isso.
— Hoje em dia CEO’s confiáveis estão difíceis. Temos de ter mais da metade
das ações da empresa para tomar decisões, às vezes passando por cima da vontade
do Presidente. É uma posição com poder que pode destruir ou crescer, uma moeda
de dois lados.
— Igual como seu sócio fez com você — comento, Daniel não se abala ao
ter mencionado o ex-parceiro.
— Igual a você — me entrega uma taça — já assisti todos os filmes que você
dirigiu, e é um melhor do que o outro. Uma diretora de puro talento — toca sua
taça na minha — minha mulher é fantástica.
Um rubor sobe a minha bochecha quando ele se refere a mim como sua.
Deito a cabeça em seu ombro bebericando o vinho tinto da adega da Beatrice.
Perfeito até a última gota, adocicado na medida certa, com um cheiro esplendido
de uva fermentada.
Dou risada lembrando a cara assustada dele. Daniel ri, certamente pensando
em como o momento se desenrolou.
— Certamente dá, mas não sem rir muito — responde escondendo o sorriso
na taça.
— Vou perguntar o obvio só para ter certeza — ele fala engolindo o riso —
mas o Louis te viu pelada colocando um absorvente?
Daniel se engasga com o vinho e cai para trás rindo de ganhar lágrimas nos
olhos. Continuo sentada me divertindo com a risada dele. Nunca pensei que poderia
deixar a lembrança triste que me acompanhou por anos com um ar leve. Em vez de
chorar pela falta da minha mãe, eu rio por meu irmão ter tido a coragem que poucos
teriam.
— Não teremos outro tão cedo — tento aliviar o clima, Daniel entendeu o
que eu queria e não quero estragar nossa noite com lembranças tristes.
— Você não usa camisinha, mas eu tomo anticoncepcional há anos. Não vou
engravidar tão cedo — seguro seu rosto com uma mão — mas agora descobri seu
plano, seu safado.
— Droga, fui pego — finge que sente muito, mas o brilho em seus olhos não
mente.
— Me conta sobre sua família? — peço servindo mais uma taça para a gente.
— Continue.
— Bom, sobre a Verônica você já sabe, meu pai morreu com câncer de
próstata faz cinco anos. Dois anos antes de eu me separar da Verônica. Atualmente
minha mãe está aposentada, e amo a mimar com viagens pelo mundo com as
amigas. Agora ela e minha tia estão passando uma temporada nas praias do Caribe,
mas ela voltará correndo quando souber que tem uma neta.
— Acha que ela vai gostar de mim? — pergunto incerta.
— Ela com certeza vai te amar — ele deixa a taça de lado e segura minhas
pernas me fazendo sentar em seu colo. — E a Lizzie também.
— Você tem certeza de que a Verônica vai ficar presa e não será mais um
incômodo? Agora temos a Lizzie e só de pensar naquela mulher perto da minha
pequena eu me tremo de raiva.
— Mesmo que ela se solte, nunca chegará perto da gente. Vocês duas sempre
vão estar acompanhadas de seguranças, independente de quanto tempo se passar.
Minhas vidas, nunca as permitiria passarem por perigo.
— Não foi fácil Lira, foi natural, é diferente — alisa meu rosto — desde o
segundo que nos encontramos você mexeu comigo, e sei que se não fosse a loucura
da Verônica, eu teria te procurado antes. Mas não adianta ficar olhando para o
passado quando eu tenho um presente exatamente aqui, ao seu lado.
— Estou ansiosa para conhecer sua mãe — beijo seus lábios, mudando de
assunto ou vou acabar chorando. Ou pior, me declarando quando ainda não me
sinto pronta para isso. Queria ter mais da confiança do Daniel, mas por enquanto
vou mantendo a minha pequena coragem e dando os passos confiáveis para mim.
— Você verá, vai ser perfeito, minha mãe é um doce, mas muito tagarela,
então se prepare para todo tipo de pergunta.
— Ela e a Lizzie serão ótimas amigas — rio. — Nossa menina ama conversar
sobre tudo.
— É capaz da minha mãe querer morar com a gente para ficar perto da
Lizzie, você se incomoda muito com isso?
— Eu iria amar.
Não sei como é conviver com uma mãe e o Daniel tem tanto amor em sua
voz pela mãe, que eu já sinto que gosto dessa mulher e a quero perto da minha
família. Continuamos conversamos por incontáveis horas debaixo das estrelas e
jantando. O vinho rapidamente acaba e abrimos outra garrafa, o efeito começa aos
poucos a ativar nossa libido e mandar a vergonha para os ares.
— Exatamente — respondo.
— Eles sabiam o que faríamos quando deixaram a gente vir — Daniel lembra
— qualquer coisa eu assumo a responsabilidade — me deita na colcha fofinha —
sou o tarado que não resistiu a mulher que ama.
— Completamente.
O beijo, a felicidade explodindo mais uma vez ao saber que ele me ama.
Daniel não precisa de palavras ou proferir “eu te amo” demoradamente, seus olhos
e ações sempre foram bastante claros e nesse segundo eu me sinto o ser humano
mais amado do planeta.
Daniel
— Eu tenho meldo — Lizzie se agarra forte no pescoço da mãe ao ver o
avião que nos levará ao Brasil.
Desde que Lizzie soube que iriamos para o Brasil ficou chorando, primeiro
por não querer se separar dos padrinhos e depois pelo avião que ela não queria
pegar. Tivemos de atrasar a nossa volta em quatro dias até fazer a Lizzie se
acostumar com a ideia, mas o avião continua sendo um problema.
Lira me encara com medo de precisar dar remédio para a Lizzie dormir,
opção recomendada pela pediatra dela no caso de voos que devem ser feitos.
Estamos dando um importante passo para iniciar uma nova vida juntos, como uma
família.
Minha mãe espera por nós ansiosa para conhecer sua neta e nora, meus
planos com a Lira só darão certo se ficarmos juntos, e para isso vou fazer a minha
filha atravessar um oceano para podermos ter uma vida juntos.
— Sì — responde manhosa.
— Então segura bem forte no papai e quando o medo te fizer chorar lembre
que o papai está aqui para o enfrentar. Não vou te soltar nem um segundo.
— Polmete?
— Tá bien papai.
O acordo seria eu sempre levar a pelúcia enorme para todos os lugares, mas
com a Lizzie agarrada em mim como um bicho preguiça, não posso cumprir minha
parte. Eu amo que a minha filha ame o primeiro presente que dei a ela, mas é
incomodo andar o tempo todo e estar sempre limpando a Fefinha, porque a Lizzie
a suja para onde quer que vamos.
— Ela não vai conseguir decolar sentada — Lira fala — a Lizzie tem medo
de aviões e só aceitou ir nos braços do pai.
— Desculpe senhorita Vittileno, mas não podemos partir sem que todos
estejam de cinto. Por mais que o senhor Albuquerque segure a menina nos braços,
não é o mesmo que o cinto de segurança.
Lizzie grita novamente, mas dessa vez surpresa pelo que estou fazendo e
enquanto tenta chorar e rir ao mesmo tempo, ela agarra meus cabelos pedindo:
— Pode voltar — Ouço Lira dizer, imagino que seja com a aeromoça.
Sinto o avião dar sinal de que está prestes a voar. O piloto faz o anúncio pelos
altos falantes, eu levo a mão aos ouvidos da Lizzie impedindo que ela escute o que
ele fala enquanto aumento a intensidade das cócegas, fazendo tantas, que minha
menina grita, chorando de rir.
O avião não demora muito para alçar voo, ignoro a dor na coluna parecendo
que será partida em duas, e os puxões no cabelo e chutes que levo pela Lizzie se
contorcendo com as cócegas. Quando a aeromoça avisa que podemos retirar o
cinto, eu solto minha menina depressa a pegando no colo.
Seu rosto contra meu peito, as pernas presas pelo meu braço e o outro em
suas costas. Os olhos sapecas brilham de felicidade.
— Então não era do avião? — ela pergunta com a testa franzida — achei que
nunca iriamos conseguir decolar.
— Sì — responde abafado.
— Polmete?
— Sim.
— Vem — Lira abre os braços. Retiro meu cinto e entrego nossa menina a
ela — também estará segura nos braços da mamãe — beija seu nariz.
Lira desce a alça da blusa colocando o peito para fora, Lizzie não perde
tempo abocanhando o bico e começando a mamar.
— Ela nunca gostou de leite de fórmula, ou de vaca, cabra, tentei todos, mas
a Lizzie só toma o meu.
— Até quando você acha que vai continuar amamentando?
Meu celular apita com uma notificação. Uma mensagem da minha mãe
pedindo para avisar quando pousarmos. São 9 horas da manhã na Itália,
provavelmente pousaremos às 19 horas. Com a diferença de 4 horas de fuso
horário, chegaremos às 00 horas no horário do Brasil. Aviso sobre e ela promete
ficar acordada para falar com a netinha que ela conhece somente por chamadas de
vídeo.
Lizzie termina de mamar e volta para o meu colo, a seguro firme como
prometi, enquanto assistimos ao desenho da Fefinha. Aos poucos o medo da minha
menina vai dando lugar ao divertimento. Lira deita confortavelmente assistindo a
filmes no tablet, ela é uma grande diretora e não consegue deixar de comentar
quando vê algo que poderia ter sido melhorado se o diretor fosse bom.
Sorrio sempre que a escuto dar seus comentários. Retiro a Fefinha do acento
ao seu lado e vou para lá com a Lizzie. Deixamos o desenho de lado e vamos
assistir com a mãe dela.
As horas começam a voar, o céu anoitece e Lizzie dorme fácil nos meus
braços, confesso que fiquei com eles dormentes de tanto tempo com a minha
menina no colo, mas nunca a soltaria, nem mesmo que meus braços caíssem.
— Agora que eu tenho você — segura minha mão — nossa menina não ficará
sozinha ou sentirá solidão por eu estar no set. Sei que você trabalha muito, mas é
reconfortante ser uma dupla.
— Eu sei que a vida de um CEO às vezes pede que ele fique mais tempo —
ela começa não acreditando nas minhas palavras.
— Não esse CEO — digo, apesar de já ter virado noites no escritório e ter
mudas de roupa preparadas para quando ficava até tarde — esse homem tem
horário de entrada e saída e vai jantar em casa todas as noites. A menos que a
empresa esteja em chamas, eu não descumprirei o horário.
— Isso é bom — responde, percebo que ela quer acreditar, mas entendo que
pode ser difícil. — Como você pretende fazer? Sei que seu estúdio fica nos
EUA.
— Ah, não mais, pedi demissão quando decidi vir para o Brasil.
— É, liguei e falei que não iria mais trabalhar. Paguei a multa do contrato, a
notícia se espalhou e agora tenho mais de vinte propostas de estúdios e emissoras
brasileiras querendo me contratar como diretora. Acho que posso fazer dar certo,
me familiarizar com as produções do Brasil.
— Sou uma das melhores diretoras da nossa era, claro que seria disputada
— fala arrogante, com charme, dou risada do seu jeitinho.
— Como funciona?
— Então fico com você — me estico por cima da cadeira da Lizzie beijando
a Lira.
— Eu vou te apoiar em qualquer decisão que você tomar — seguro sua mão
beijando seus dedos — amo o quanto você pensa na nossa menina, mas agora tem
a mim. Eu já mandei fazerem um espaço infantil para a Lizzie na minha sala,
também não quero ficar longe dela.
— Meus acionistas vão amar isso — ironizo rindo com ela — mas é o que
eu quero e ninguém vai me impedir.
— Você tem razão — ela beija minha mão — e caso a Lizzie não se adapte
a nenhuma das nossas rotinas, ela pode ficar na creche da Olivia.
Pego minha princesa no colo e descemos do carro. Lira traz a Fefinha nos
braços. Digito a senha na porta e entramos, vejo a cabeça castanha da minha mãe
deitada no sofá, dormindo profundamente, enrolada na manta com o
arcondicionado, deixando a sala um gelo.
A deixo dormindo e levo a Lizzie para seu quarto, mandei preparar um para
a minha pequena com os animais que fazem parte do desenho da Fefinha,
trouxemos parte de suas pelúcias, umas ficaram na casa da Beatrice para quando a
visitarmos.
— Não sei se ela vai se acostumar a dormir na cama sozinha — Lira fala —
ao menos hoje é melhor ela ficar com a gente, se acordar na casa estranha vai ter
medo.
A guio para o nosso quarto onde nossas coisas já foram colocadas. Deito
Lizzie no centro da cama, beijo sua cabeça e Lira tira a roupa dela, trocando pelo
pijama. Lizzie tem o sono pesado e nunca acorda com barulho ou se mexerem com
ela.
Quando ela termina, vamos para o banheiro da suíte e fazemos sexo quente
na banheira, evitando fazer qualquer ruído que traumatize nossa menina. Me perco
no calor da minha mulher, apertando sua bunda com a mão, os olhos vidrados um
no outro, atingindo o orgasmo juntos.
Sei que a Lira tem problemas para conseguir se abrir e com calma a farei
perder todo o medo que a rodeia devido a suas experiências passadas. Minha
vontade é a de colocar um anel em seu dedo e a encher de “eu te amo”, mas por
hora, vou continuar fazendo as coisas com calma, a amando todos os dias e a
deixando confortável. Quando sentir que o momento certo chegou, eu faço o
pedido de casamento.
Digo a Olivia enquanto mordo um dos biscoitos que ela fez para as crianças
comerem enquanto brincam no seu apartamento. Anotei a receita para fazer para a
Lizzie, não leva açúcar, e a massa é uma delícia. Lorran e Lizzie comem enquanto
pintam na sala. Sentada no banco do balcão na cozinha, eu bebo outro gole do meu
chá.
— O que te impede Lira? — ela segura minha mão me fazendo fixar o olhar
no seu.
Encaro os olhos verdes da Olivia tentando achar a resposta dentro de mim
mesma. Os últimos cinco meses tem sido perfeitos, Lizzie tem se adaptado bem ao
Brasil, convive mais com o Lorran e Lorrany, que são ótimos primos, Lorran
assumiu a missão de ensinar a Lizzie a falar português. Então todos os dias eu a
trago aqui das 16 horas às 18 horas para estudar com o primo.
— Você acha ruim que ele tenha cuidado com as palavras? — Pergunta, acho
que ela não consegue me entender.
— Não, eu amo como ele se preocupa comigo e com Lizzie mais do que
qualquer coisa. Mas não consigo ignorar que pode ser tudo mentira, uma fachada
para fazer eu me apaixonar perdidamente e com isso poder me manipular. Ele é
perfeito demais para ser verdade — engulo o choro — e se o conto de fadas acabar
no segundo em que eu for sincera e falar para ele como me sinto?
— Amar é corre riscos, é acreditar na outra pessoa, aceitar que você a quer
em sua vida e principalmente respeito. Você e o Daniel passaram por muita coisa
juntos e separados, mas agora conseguiram a chance pela qual sempre buscaram.
Você tem medo de se machucar, mas já pensou em como é para o Daniel, depois
de tudo que ele passou? Foram 20 anos casado com uma mulher que o manipulava
e traia, e mesmo assim ele está fazendo tudo para ter uma vida ao seu lado.
— Eu sei, mas o que eu quero dizer é: se o Daniel, que é alguém que tinha
tudo para ser reservado e desconfiado com o amor, consegue se abrir sem medo, é
porque ele acredita em você, nos seus sentimentos, e acima de tudo, ele te ama
Lira. Qualquer um pode perceber isso, basta olhar para vocês dois juntos, e eu sei
que você também o ama, ou não estaria sofrendo por não conseguir demonstrar
isso. Sua dor não é por medo, é devido a não conseguir dizer o que sente.
— Eu amo muito ele — confesso, com o corpo gelado por admitir em voz
alta, colocando todos os meus sentimentos nas palavras. — E quero ser corajosa o
suficiente para dizer a verdade — inspiro — quero a vida que ele me promete. —
Um estalo na minha mente me faz perceber o que tenho ignorado — eu já tenho
tudo isso, mas estou presa a uma imagem que eu mesma criei nos meus medos, não
me permitindo viver o que sempre quis.
— Sim! Se sente melhor agora que percebeu que nos últimos cinco meses
você tem vivido o que sempre quis e teve medo de admitir que era real?
— Sim — uma lágrima desce pela minha bochecha — preciso ver o Daniel.
— Sim, é mais fácil do que o Levi a pegar no berço e levar para o quarto.
Esses dois são idênticos no quesito — faz aspas com os dedos — “estou cansado,
não quero conversa com o mundo”. Daqui a pouco o Lorran termina o desenho e
vai acordar o pai para mostrar.
Encaro meu sobrinho que pinta em cima da mesa com a Lizzie. Lorran é um
artista de primeira linha, com cinco anos faz desenhos de tirar o folego, que eu
nunca conseguiria fazer. Além de já saber ler e falar dois idiomas, às vezes acho
que ele é um mini gênio ou um superdotado.
— Isso, meu amor — a pego no colo — a mamãe vai para casa e te busca
amanhã de manhã.
— Polde sel de talde? — leva a mão a boca fazendo bico e eu rio da sua
fofura.
— Pode, sim, você pede para sua tia Olivia me ligar, que tal?
Meus irmãos conseguiram construir seus sonhos ao lado das pessoas que
amam e suas famílias. É a minha vez de ser feliz, agora não me restam mais dúvidas
ou hesitação. Estou pronta para ser completamente realizada e amada pelo Daniel.
Quem sabe termos um segundo filho que ele tanto fala, ia amar ter um rapazinho
parecido com o pai que cuide da irmã como o Lorran da Lorrany, ou outra
menininha para ser a dupla da minha princesa como a Alessa é da Cecília.
— Oh, sem aviso, tem algo de especial para hoje? — pergunta sentindo
minhas intenções.
— Eu também.
Elas saem da sala e eu corro para meu quarto, entro no banheiro tomando um
banho longo. Tenho duas horas até o Daniel chegar, peço comida quando acabo de
me lavar e vou fazer uma maquiagem e escovar os cabelos. Passo perfume, coloco
um vestido sexy e desço de pé descalço. Na sala, me sento no sofá com a ansiedade
me corroendo, a comida chega, arrumo a mesa, duas velas e um buque de flores
que ganhei ontem do Daniel no centro. Ouço o som da porta abrindo e me apreço
indo até ele.
Daniel tem um sorriso quando me vê, não contenho a euforia e pulo no seu
colo. Beijo seus lábios macios com fome, olho no fundo, de seus olhos azuis,
segurando seu queixo e deixo as palavras fluírem.
Finalmente, após cinco meses juntos, ela conseguiu se libertar para meu
amor. Nunca tive dúvidas de que esse momento aconteceria, de que seriamos um
só, de corpo e alma.
Puxo a calcinha para o lado encontrando a entrada que eu tanto queria. Passei
o dia pensando na nossa foda de manhã, e em como fomos interrompidos pela
Lizzie que queria ir para a casa do primo. Finalmente podemos terminar o que
começamos. Seguro forte o quadril de Lira me enfiando na minha casa, penetrando
seu corpo com todo o meu fervor e amor.
Agora que pude finalmente falar que a amo com todas as letras, não quero
mais deixar de repetir as palavras que queimam em meu coração como uma
erupção solar. Eu nunca amei tanto uma mulher como amo a Lira, cada pequena
coisinha dela, o jeito como penteia o cabelo para a esquerda, a fala doce de manhã
cedo, o mau-humor quando acorda com a luz do sol nos olhos.
A forma, como seus olhos reviram quando meto tão forte nela, que minhas
bolas só faltam entrar na sua bocetinha apertada e quente. Ah porra de mulher
perfeita, a minha mulher, meu amor, minha vida, a única que me pertence e a quem
eu entreguei não só meu coração, mas a minha alma, e a promessa de uma vida
regada em amor e felicidade, tudo o que tivemos nos últimos meses.
Do jeito que eu sei que ela gosta que eu a ame, da forma como eu amo amá-
la. O amor único que fazemos, dessa vez, sem nenhuma única barreira entre nós,
sem medos, temores ou hesitação. Estamos mais nus e vulneráveis do que nunca.
Completamente entregues.
Sinto um aperto do cacete nas bolas indicando que estou prestes a gozar. Lira
arqueia a coluna e pescoço, contorcendo as unhas enquanto fica muda, perdida em
seu orgasmo que sempre vem silencioso, cortando todos os sons ensandecidos que
ela faz enquanto é tomada pelo prazer. Um longe gemido me indica que ela
terminou de alcançar o ápice e eu derramo nela minha porra.
— Eu te amo — digo mais uma vez, por amor, o som saindo dos meus lábios
para ela.
— Estou muito satisfeito, mas aceito a sobremesa — levo a mão a sua bunda,
tocando seu cuzinho por cima da calcinha. Já tem um tempo que tento convencê-
la a me dar a bunda e Lira fica hesitando, quem sabe agora.
— Você não vai comer o meu cu hoje — ela fala fazendo careta.
Minha masculinidade não será intimidada por uma simples sugestão dela
comer o meu cu. Sei a quem meu pau pertence, e se chama a boceta da Lira. E a
vontade que o desgraçado tem de lamber o cuzinho rosado que sempre me olha
quando a como de quatro, acaba com ele, precisamos de uma prova, ou sou capaz
de perder as bolas de tanta vontade.
— Provadinha é o que eu faço com a minha boca, e você ama quando meto
a língua aqui — círculo o buraquinho com o dedo, o tesão me corroendo
novamente.
— Sim, mas seu pau é enorme, não sei se cabe — franze a sobrancelha e
tampa minha boca antes que eu responda — vamos jantar, sim? Estou faminta por
comida.
— Vamos, depois eu como sua bunda — ela levanta e agarro sua cintura
trazendo seu rosto para mim — mas antes uma provinha.
— Xiu — empurro seu quadril para baixo a fazendo ficar com as mãos na
mesinha de centro e a bunda empinada na minha cara. — Só uma provinha.
Levanto seu vestido vermelho, sexy. Puxo a calcinha por suas pernas
apreciando a delícia que é sua boceta inchada na minha cara. Estico a língua para
fora da boca provando de suas dobras, meto no seu interior sugando o mel que sou
viciado até o último fio de cabelo no meu corpo. Lira começa a gemer remexendo
o traseiro na minha cara, ela pode negar, mas adora quando a bolino no cu.
Abro as bandas da sua bunda encontrando meu centro de desejo. Não faço
cerimonia antes de enfiar a língua na dobra enrugada e deliciosa, deslizo para cima
e para baixo, em movimentos circulares. Meu pau ganha vida ficando duro como
uma rocha. Ensandecido de vontade, eu lambuzo meu indicador antes de enfiar no
buraquinho da Lira. Ela geme chorosa, não é a primeira vez que faço isso, há meses
venho acostumando-a para ser comida por trás.
Sento-me mais para trás no sofá e puxo sua bunda, a trazendo para cima de
mim, meu pau servindo de acento para sua bocetinha que pinga. O dedo metido até
o talo no seu rabo. Prendo seu pescoço com uma chave de braço, colando seu
peitoral ao meu, começo a penetrar o dedo com mais agilidade enquanto ela geme
se contorcendo.
— Eu vou foder seu cuzinho. Coloque os pés no sofá e se abre para mim.
Lira não responde, ela apoia as mãos na minha coxa quando faz o que mandei
com o pé. Beijo sua bochecha quase não acreditando que estou prestes a fazer isso.
Agarro sua boceta a puxando para cima. Lira levanta o quadril, retiro o dedo do
seu cuzinho, lambuzo meu pau na sua boceta, fazendo-a me comer duas vezes antes
de tirar para fora.
Posiciono na entrada proibida que será desbravada por mim pela primeira
vez e estremeço com o calor da sua intimidade. Aperto o braço ao redor do pescoço
dela novamente, a imobilizando. A cabeça robusta do meu pau entra arrombando o
buraquinho. Lira grita, mas não tenta sair, se retrai, e deixo que se acostume ao
meu tamanho.
Círculo seu clitóris com meu dedão, e outro dedo penetro na sua bocetinha
eufórica por atenção. Lira começa a descer fazendo pequenos sons de desconforto,
quando não aguenta mais ela para no ar. Deixo que leve o seu tempo, enquanto
acaricio sua boceta e controlo meus músculos para não meter para cima, comendo-
a do jeito que preciso avidamente. É muito mais apertado, e sinto que vou gozar a
qualquer segundo.
Solto seu pescoço e Lira se senta com as mãos apoiadas no meu quadril antes
de começar a subir e descer a bunda. Aprofundo o estímulo no seu clitóris enquanto
aproveito a sensação nova de a possuir dessa forma. Os cabelos louros batendo no
meu rosto com os movimentos, nossos gemidos se misturando em um único som.
— Goza Daniel, por favor — ela pede, percebo que está chegando ao ápice
do seu prazer, mas não sei se conseguira gozar assim.
Libero meu gozo dentro do seu cuzinho com um gemido rouco. Ela para de
se mexer e sai com calma de cima de mim, deitando-se no sofá. Abro suas pernas
caindo de boca na sua bocetinha. Mal encosto em seu clitóris inchado e ela grita,
gozando na minha cara. Subo beijando seu corpo coberto encontrando seus lábios.
Sim, é exatamente essa a vida que eu quero, amor e prazer com a mulher que
amo.
Sinto as forças voltando para o meu corpo e pego Lira no colo a levando para
o nosso quarto. Como ela não recusou quando a prensei na parede mais cedo, eu já
imaginava que a casa estava vazia para nós dois aproveitarmos. Sempre que
queremos privacidade deixamos a Lizzie com os tios e minha mãe desaparece
gentilmente.
Entramos debaixo do chuveiro e a produção que ela fez para a noite desce
pelo ralo, quando a lavo com carinho e paixão. Tem algo que quero muito fazer,
mas que ainda não posso, por achar que não é o momento propício. Lira acabou de
declarar seu amor sem medo, e o próximo passo que quero dar já faz meses, me
parece totalmente oportuno.
Mas ela merece mais, merece romantismo e tudo que ela nunca sonhou que
receberia. A beijo com um sorriso arteiro, a ideia brotando na minha mente como
uma música.
São 16 horas da tarde e não tem outras pessoas aqui além dos encarregados
pela manutenção. Encaro o Daniel sem entender o que está acontecendo. Ele sorri
de orelha a orelha segurando minha cintura.
— Foi difícil conseguir, mas obtive autorização para subirmos até a cabeça
do Cristo Redentor e olhar a cidade pelos olhos dele. Consegue imaginar como será
isso?
— Não pode ser verdade — viro completamente o encarando com a boca
aberta, totalmente incrédula. — Como é possível?
Estou preenchida pela fé que carrego comigo mesma e pelo amor e confiança
no Daniel. Sei que ele nunca me colocaria em perigo ou deixaria algo de ruim
acontecer comigo. Recupero o folego, bebo água e retornamos a caminhada.
Quando chegamos ao topo, a primeira coisa que vejo são os raios de sol fracos do
crepúsculo.
Através dos olhos da estátua eu vejo a cidade do Rio de Janeiro banhada pelo
crepúsculo. Seguro na estrutura com o coração explodindo em poder contemplar
tamanha imagem. Giro no calcanhar para falar com o Daniel e o encontro de
joelhos segurando uma caixinha de veludo vermelha.
— Ai meu Deus — levo a mão a boca não conseguindo acreditar no que está
acontecendo — Daniel você vai? — perco a fala.
Beijo seus lábios macios, sentindo os pelos da barba arranhando meu rosto.
Os pelos que eu amo, o rosto que eu amo, os lábios que eu amo, o nariz que eu
amo, a cabeça que eu amo, o corpo que eu amo. O homem que eu amo, e que não
poderia ser outro além dele a dividir o resto da minha vida, vivendo banhada por
amor.
— Deixa eu colocar o anel — ele segura meu dedo anelar colocando a aliança
que desliza perfeitamente. Então noto um segundo anel na caixinha, uma aliança
de ouro branco grossa e masculina.
— Meu noivo — o abraço forte, o cheiro sexy mais forte do que nunca.
Ele levanta me levando consigo, me gira nos seus braços me fazendo olhar
a vista da cidade aos nossos pés. Ficamos observando o crepúsculo na cidade
maravilhosa. Eu achava que conhecia a paz, que sabia o que era respirar aliviada,
e sem medo, mas nada se compara ao sentimento no meu peito.
— Pega no flagra.
— E agora, podemos ter nosso segundo filho? — ele pergunta com a boca
contra minha bochecha.
— Não quando estou prestes a iniciar um novo projeto. Não quero engravidar
e passar pelo medo que foi com a Lizzie.
— Você trabalha no programa com a Lizzie por um ano, vamos nos casar em
breve, e depois de um ano você para de tomar o anticoncepcional e deixamos
acontecer naturalmente a vinda do nosso menino.
— Que seja menos teimoso — o olho, brincalhona — mas posso aceitar sua
ideia. Com um ano posso deixar a produção em boas mãos para outro diretor
assumir caso eu não consiga trabalhar e cuidar o suficiente do bebê, como foi com
a Lizzie, eu pauso tudo e me dedico ao meu filhote.
— Se a Lizzie tiver filhos aos 30 anos, você será um avô aos 71 anos. Com
certeza ainda estará em forma e com tudo em cima.
— Não tenho dúvidas quanto a isso, minhas netas terão ciúmes do avô
bonitão, e os rapazes vão se aproveitar da minha herança para impressionar as
meninas.
Gargalho com o futuro que ele me faz ver. Daniel tem razão, nossa diferença
de idade indica que enquanto eu estiver vivendo algumas coisas no meu tempo
mais nova, ele estará mais velho, e talvez não possa aproveitar como deseja os
filhos e netos devido à idade.
Quando voltamos para o hotel, fazemos amor mais uma vez antes de
adormecer.
Nossa viagem tinha tudo para acabar de forma perfeita, se não fosse pela
mensagem que o Daniel recebeu no celular no dia seguinte que roubou a cor do seu
rosto e apertou meu coração como um punhal.
Daniel
Tomamos café enquanto verifico as notícias. Lira relaxa no meu colo
mastigando uma torrada, beijo seu ombro. Uma mensagem chega do meu
advogado. Abro e me deparo com uma notícia que não esperava ler.
“Verônica foi solta ontem de manhã, como sabia dos seus planos, resolvi
não informar até você voltar para casa. Contudo, uma ligação da sua mãe foi
feita para a polícia há poucos minutos, informando que a Verônica foi até a
Creche em que a Olivia trabalha, e a Lizzie estava na sala de aula com o primo.
Na portaria, Verônica se passou por parente da Lizzie tentando contatar a
criança. Olivia tomou uma atitude rápida, não permitindo a entrada e ligou para
a sua mãe, que chamou a polícia no mesmo instante, pedindo que não
permitissem o contato da mulher com a criança. Estou indo para a creche nesse
momento, por isso não te liguei. Quando ver a mensagem me ligue, se eu não
atender, espere.”
Lira não tem medo, ela está com tanto ódio que paralisou no canto. A ponta
de seus dedos treme, com a vontade de poder fazer algo contra a Verônica. Nunca
a vi dessa forma, com o olhar perdido e o corpo paralisado. Seguro seu rosto
fazendo nossos olhares se encontrarem.
— Eu faço isso, você não pode sujar suas mãos — seguro as mãos dela —
elas não merecem ser manchadas de sangue.
— Não tenho outra opção, Verônica já provou diversas vezes que não é
confiável e quer me destruir. Chegar perto da Lizzie foi a gota final, não vou
deixar essa mulher ter a mera chance de machucar a nossa filha ou a você — aliso
sua bochecha — vamos voltar para casa, vou deixar vocês duas seguras e fazer o
que é preciso.
— A vadia saiu ontem do hospital e já foi atrás da Lizzie, como ela descobriu
onde ela estava?
— Eu mato meu irmão se ele pensar que uma maluca indo atrás da minha
filha não deve ser comunicado no mesmo instante — aperta os punhos.
Lembro que o irmão dela fez o mesmo, usando da ajuda da máfia italiana
para proteger a família dele. Não preciso de ajuda externa da máfia, sou capaz de
resolver isso com os meus contatos. Crescer na periferia me deu vantagens que
poucas pessoas conhecem. Nem todo o dinheiro que usei fundando a minha
empresa era limpo.
Um grito escapa dos lábios de Lira, ela leva a mão a boca. Não consigo
acreditar que a desgraçada está falando que a Lizzie é dela. Isso não faz sentido,
ela nunca quis ter filhos, me fez acreditar que eu era estéril por anos. As autoridades
podem a taxar de louca, mas eu sei a mente diabólica que existe debaixo da fachada,
do rosto bonito e das palavras desconexas.
— Vamos direto para casa, quero ver a Lizzie e depois para a delegacia.
— Sim senhor.
Chegamos em casa e minha mulher corre para segurar nossa filha no colo.
Lizzie ri ao nos ver sabendo que eu ia pedir a mãe em casamento. Beijo seus
cabelos e inspiro seu cheiro de bebê, aliviado por ela não ter se machucado ou
presenciado alguma cena marcante. Minha mãe me encara preocupada, seus olhos
não mentem: ela sabe quem vou encontrar e o que irei fazer, ele deve manter mais
contato com ela do que comigo. Levi toca meu ombro pedindo para falar, deixo
minha mulher e filha na sala e o sigo para meu escritório.
— Essa mulher não pode continuar a solta — fala firme — entrei em contato
com o Louis e ele disse que pode nos ajudar, como da outra vez — fala sugestivo.
— Ela estava na creche da minha esposa, perto dos nossos filhos, não existe justiça
que a mantenha presa por causa disso, principalmente com a alegação dela de
doença mental.
Recebo uma mensagem do meu contato “a caminho”. Encaro o Levi, ele não
precisa saber dos meus planos. Somente a Lira, quanto menos pessoas tiverem
ciência, menores são as chances de eu ser descoberto.
— Eu vou resolver isso, fique aqui e cuide delas, preciso ir — aperto sua
mão. Apesar de não falar, ele entende o que eu peço.
Vou até as minhas meninas e beijo novamente a cabeça da Lizzie, ela agarra
meu rosto me enchendo de beijinhos.
— Tudo celto?
Entro no carro e instruo o segurança para onde iremos. Não vou à delegacia,
meu advogado vai cuidar da situação naquele lugar, se eu vir a Verônica agora, sou
capaz de a enforcar por se aproximar da minha família novamente. Sigo até o local
que sei que sempre poderei encontrá-lo, já se passou anos desde a última vez que
nos vimos e agora vou aceitar a oferta que ele me fez quando a Verônica e meu ex-
sócio me apunhalaram.
Aperto o celular com ódio, sabia que isso aconteceria. A maldita cobra nunca
paga pelos crimes que comete. Ela não é instável, mas a porra de uma psicopata
que engana a qualquer um. Inclusive a mim, meus dias sendo feito de palhaço
terminaram quando vi quem ela realmente era. A desgraçada vai receber de uma
vez a conta, por mexer comigo.
— Sim, a traga a mim, quero matar ela com minhas próprias mãos.
É uma pergunta formal, eu sei tudo da vida dele, acompanho de perto todas
as suas façanhas, como sei que ele tem feito comigo.
— Bem, os negócios se expandindo como nunca — sorri de lado — parabéns
pelo noivado.
— Até irmão.
O abraço, faz anos que não nos vemos ou podemos ter contato. Com um
tapinha nas costas vou embora, passando pelo mesmo lugar e entrando no carro.
Só preciso esperar seu retorno. Ele nunca falhou ou foi pego, não tenho dúvidas de
que irá ter sucesso dessa vez.
Retorno para casa, e minha esposa dorme com a Lizzie na cama. Converso
um pouco com o Levi e depois ele vai embora. Pego o uísque e um copo, me sento
no terraço observando o céu escuro, pronto para dar um fim nessa história.
No meu terceiro copo sinto a presença da minha noiva, ela contorna a cadeira e se
senta no meu colo, com a mão no meu pescoço, seus olhos pedem respostas.
— Pode me contar?
— Claro — deito sua cabeça no meu peito, inspirando seu aroma de flores
— eu tenho um irmão.
— Para todos os efeitos, meu irmão morreu quando tinha 17 anos. Ninguém,
além da minha mãe, sabe que ele está vivo ou da nossa ligação, ele é mais velho,
agora deve ter uns 50 anos.
— Não, ele atua com outro nome na facção, ou como agora é chamada,
organização criminosa. Se encontra com a nossa mãe em segredo em ocasiões
explorativas, comigo só quando realmente preciso dele, como agora. Quando a
Verônica e meu socio me deram o golpe, ele apareceu me oferecendo matar ambos,
mas neguei, ainda estava processando tudo que aconteceu. Mas depois de hoje,
entrei em contato com ele, Leandro vai trazer a Verônica para mim, vou encerrar
de uma vez esse assunto.
— Seu irmão é um criminoso, mas você fala dele com orgulho e amor, não
sente raiva pelas coisas ruins que ele deve ter feito?
— Elas não me afetam, para mim ele sempre será meu irmão mais velho que
cuidou da família, mesmo a distância e em segredo — bebo meu uísque — não
procuro saber os crimes do Leandro, me mantenho longe e sem vínculos. E agora
vou usá-lo para pôr um fim em um demônio.
Demora três dias para eu receber uma mensagem com um endereço. Parto
após me despedir, preciso ser rápido e cuidadoso. Lira e minha mãe serão meu
álibi, para todos estou em casa doente com a minha família, mas somente elas
sabem que fui encontrar os homens do Leandro em um galpão há mais de 10
quilômetros da cidade, abandonado em um ferro-velho. Entro na estrutura vendo
cinco homens dele e a Verônica amarrada na cadeira, sento-me de frente para ela.
— Você não pode ter filhos, eu garanti isso. Fui só dar um fim na menina —
estico a mão acertando seu rosto com tanta força que a cadeira cai no chão —
finalmente está mostrando seu lado verdadeiro? — pergunta cuspindo sangue no
chão. — Você era a minha marionete, mas eu nunca disse que te permitiria brincar
com outra dona.
Em casa vou direto para o banho, não posso tocar minhas meninas com as
mãos de um assassino. Tomo uma ducha demorada, enrolo a toalha na cintura e
saio do banheiro, na minha cama, vejo os cabelos louros brilhando com a luz do
sol. Minha noiva e minha filha me esperam com um sorriso tranquilo. Ela sabe o
que fiz e ainda me ama.
Caminho até elas, me deito ao seu lado. Lizzie sobe no meu peito e beija
minha bochecha antes de adormecer tranquila. Lira se aproxima beijando a ponta
do meu nariz e sorri, me dando a paz que perdi. Eu não matei alguém hoje, eu
impedi que a minha família fosse machucada. A puxo para perto, com minhas duas
vidas me dando calor, eu deixo a escuridão ir embora, sendo espantada pelo raio
de luz delas.
Lira
— Corta! — grito para o set de filmagens.
— Pai! Como o senhor entrou aqui? — vou para seus braços recebendo um
abraço caloroso.
— Com certeza.
Ele vai na direção da Lizzie, que ao ver o avô grita feliz se jogando nos
braços dele. Meu pai e o Marcelo, pai da Olivia e Bianca, tem passado bastante
tempo juntos e agora que conheceram minha sogra e o grupo viajante delas, os
solteirões estão com a corda toda, se divertindo em grupo. Sorrio feliz por poder
aproveitar tamanha felicidade e realização.
Já faz um mês que o caso com a Verônica aconteceu, ela foi dada como
desaparecida, Daniel foi interrogado, mas com o álibi que forneci, não existem
suspeitas sobre ele. Sei que, o que o meu noivo fez, foi algo extremamente pesado,
e que às vezes ele acorda com pesadelos lembrando de quando matou a Verônica.
Mas foi o necessário, a justiça não agiria rápido o suficiente a trancando em uma
prisão sem que ela cometesse um crime grave.
Chegamos em casa onde os gritos são ouvidos assim que desço do carro.
Beatrice vem feliz pegar a afilhada no colo, Lizzie não contém a felicidade ao
abraçar a dinda dela, por trás da Beatrice eu vejo o Dante segurando a mão da sua
sobrinha. Sabia que ele ia trazê-la, mas não lembrava como a menina era linda.
— Oi, tia Lira, como você está? — ela tem 9 anos e em breve fará 10.
— A Lizzie fica com a gente — Dante fala pegando minha pequena no colo
e a jogando para cima — estou com saudades da minha pimentinha.
Entramos em casa rindo, quando vejo uma coisa inacreditável. Daniel tem o
rosto pintado de girafa e o chapéu de uma. Lizzie grita ao ver o pai e corre para ele
que a coloca em cima dos ombros e começam a correr pela casa.
Louis ostenta um sorriso ao lado da Bianca e suas filhas que correm atrás da
Lizzie com presentes na mão. Abraço o Louis e a Bianca.
— Você está ainda mais linda — Bianca fala me abraçando forte — minha
irmã já chegou?
— Estou bem aqui — reconheço a voz da Olivia. Viro de costas a vendo com
o rosto pintado com uma onça.
— O Levi — ela responde — ele agora está fazendo uma rosa no rosto da
Lorrany e depois uma girafa na Lizzie, ela disse que queria parecer com o pai.
Rio imaginando a cena, minha menina com certeza ficará linda.
Procuro pelo meu irmão que está no jardim debaixo da tenda, uma fila de
crianças esperando atrás dele enquanto os funcionários preparam a mesa da festa e
a decoração do zoológico. Lorran tem um pincel na mão ajudando o Levi nas
pinturas. Fico atrás das minhas sobrinhas que formam um exército. Quando ele
pinta a todas, me sento a sua frente.
Quando termina de pintar a todos, Lorran vira de frente para o pai e começa
a desenhar uma zebra no rosto do meu irmão. Deixo-os, e vou atrás da minha
pequena, que brinca com o pai perto da mesa do bolo, admirando a arte dos animais
do zoológico que decora seu bolo. Nossa lua de mel terá uma parada de uma
semana na savana africana, para o Daniel levar a Lizzie. De lá voltamos para a
Itália e a deixamos com os padrinhos, depois vamos viajar somente nós dois.
Nos planos do Daniel vou voltar grávida do nosso próximo menino. Eu disse
a ele que só pararia com a pílula no final do ano, mas a felicidade que eu tenho por
ter uma família, tantos sorrisos e pessoas que eu amo, os gritos de crianças
preenchendo a casa tem aquecido meu coração e a vontade de aumentar a nossa
pequena creche. Parei de tomar o anticoncepcional já tem dois dias, daqui a um
tempo deve perder completamente o efeito, como minha ginecologista disse.
— Obligada papai — ela aperta o pescoço dele beijando seu nariz — te amo
de montão.
— Assopra as velinhas, meu amor — digo a ela — mas não esqueça de fazer
um pedido.
— Celto — Daniel segura sua barriga para que ela possa se inclinar e
assoprar — quelo um ilmazinho.
— Viu Lira, até a Lizzie quer isso — ele me provoca — vamos atender ao
pedido dela.
— Ela me deixando beijar sua bochecha e dizer o quanto a amo, é tudo o que
preciso — ele fala — pode ser no início do dia ou no final, quando ela chegar com
os sapatos na mão e trocando os pés ao chegar em casa bêbada.
— Seu bobo — bato em seu peito — sabe que ela vai encontrar um amor
igual ao nosso ou mais forte — suspiro — nossa menina pode viver várias dores
de uma vez ou se apaixonar uma única vez. Mas ela vai amar e ser feliz, pois vamos
garantir isso.
— Nunca! — fala convicto — vai ser outra princesa para eu proteger, nem
que precise defender o castelo sozinho.
— Prometo ser justo — ele ri — vamos mudar de assunto antes que eu tenha
um infarto imaginando quando a Lizzie vai ter um namorado.
Vejo um vulto louro pelo canto do olho, fico de ponta de pé olhando sobre o
ombro do Daniel e dou risada.
— Acho que você não precisa se preocupar — aponto com a testa, ele olha
por cima do ombro e ri orgulhoso.
Eles são só crianças, mas uma imagem se forma na minha mente de todos,
adultos, e do Lorrran saindo com as primas e irmã para manter os rapazes longe
delas. Não sei o que o Levi deve ensinar escondido ao menino, mas com certeza
funciona. Flagro meus irmãos encarando o Lorran com orgulho, Louis faz um
joinha com a mão, e o Levi um ok. Encaro o Daniel de canto de olho, percebendo
o sorriso satisfeito em seu rosto.
— Não sei do que está falando — ele diz me encarando com um sorriso
arteiro.
— Com certeza sabe, não esqueça que as mulheres da família são famosas
por colocarem os homens na linha.
Na cintura uma extensão do tecido formando uma calda de três metros que
arrasta quando ando, achei mais moderno essa forma de véu, do que colocar na
minha cabeça. Uma tiara com pedrinhas azuis, contornadas por diamantes, foi me
entregue pela minha sogra, é o meu “algo emprestado”, o vestido da minha mãe o
“algo velho” e a tiara azul o “algo azul”. Posso não ter a minha mãe nesse
momento, mas sinto em meu coração, ela me acompanhando a cada passo.
Toco o vestido uma última vez alisando o tecido, antes de ouvir batidas na
porta. Giro encontrando meu pai me encarando com felicidade tremenda no olhar,
antes de se aproximar. Ele tem algo em suas mãos, uma caixa preta, para na minha
frente e sorrio feliz por ser ele quem me entregará ao Daniel.
— Seus irmãos casaram e não pude levar eles ao altar, essa era uma honra
destinada à sua mãe — segura minha mão — sei que por diversas vezes posso ter
falhado na sua criação, e peço desculpas por isso. O amor que senti por Cecília
nunca mais visitou meu coração, não tenho arrependimentos e não mudaria nada
da minha história com ela — alisa meu queixo — minha linda menina, é com uma
honra imensurável que vou te levar ao altar hoje, e queria te entregar um segredo
de família.
Dou risada, isso é algo que minha mãe faria, pelas histórias que sei dela,
posso imaginar a cena acontecendo com facilidade. Meu peito inunda ao saber que
ela pensou em mim casando tantos anos atrás e que hoje não poderá me dar a joia
que comprou. Pressiono os lábios controlando a emoção, não quero chorar.
— E então eu disse “você nem sabe quando isso vai acontecer” e ela me
respondeu “será quando a Lira quiser, nossa menina vai crescer mais livre do que
qualquer outra e quando decidir pousar e fazer o seu ninho, será com suas asas
completamente abertas. Vamos homem, para de enrolar!” e me puxou para dentro
da loja.
Os olhos do meu pai estão vermelhos com gordas lágrimas escorrendo por
suas bochechas. Eu soluço sendo vencida pela dor causada no peito mesclada a
felicidade por saber que terei esse pedaço dela deixando para mim.
— Eu jurei para ela que te entregaria o colar, quando ela estava na UTI, e
hoje estou feliz em saber que você encontrou um amor que deixou seu coração
voar. Acendeu sua vida, trazendo tanta luz que cega a qualquer um — abre o fecho
do colar colocando no meu pescoço — sua mãe te amou com a vida dela, e eu te
amo com a minha — beija a minha testa — pronta para iniciar sua família?
— Sì — respondo chorosa.
— Agora limpe esses lindos olhos que você herdou da sua mãe e me deixe
te levar ao altar.
— Sì, pai.
Ele me abraça forte e quando me solta, vou ao espelho, limpo com delicadeza
as lágrimas. Ainda bem que usei maquiagem a prova de água, demoro dez minutos
para me acalmar por completo antes de respirar fundo pela boca e segurar no braço
do meu pai.
Paro antes dos degraus. Meu pai aperta a mão do Daniel sussurrando algo
em seu ouvido. Seguro a mão do meu homem e subimos dos três degraus até
ficarmos de joelhos nas almofadas diante do padre. O senhor começa a falar, mas
eu não vejo ou escuto nada que não seja o Daniel ao meu lado. O calor emanado
do seu corpo e se chochando contra o meu. A bolha de amor se estendendo as
estrelas, tocando a todos os presentes.
Eu estou no céu na terra, um paraíso criado somente para mim.
— Vem — ele fala ficando em pé, só então percebo que é hora das alianças
— perdida com a minha beleza? — sussurra com um sorriso safado.
— Completamente — retruco.
— Lira Vittileno, você merece o mundo a seus pés. É a mulher mais forte e
atrevida que já conheci. Quando nos vimos pela primeira vez, fiquei fascinado pela
sua personalidade, mas infelizmente, encalços e temores passados atrapalharam a
nossa relação. No nosso reencontro, eu sentia que falava com uma gata arisca
pronta para me deixar cego de um olho. — Risadas são ouvidas pelos convidados,
rio também lembrando do quanto quis arrancar sua cabeça na casa do Louis. — No
tempo que estamos juntos eu aprendi que estar apaixonado e amar, são coisas
diferentes, mas quando sentimos o mesmo, pela mesma pessoa, se transforma em
um novo sentimento. Mais forte e intenso, eu não almejo somente ter um futuro ao
seu lado, eu quero um presente e passado, lembrar do dia do nosso casamento
quando estiver velho, e contar aos meus netos o quanto a avó deles estava linda.
Daniel pausa, seus olhos ganham um brilho banhado pela água acumulada
que ele se recusa a deixar cair. A voz grossa e sexy permanece firme:
— Você é a pessoa que me faz acreditar em destino, a que eu mais amo nessa
vida e a única que tenho certeza de que reencontrarei no pós-morte. Porque o nosso
amor é capaz de vencer a tudo e todos, superar planos e ultrapassar existência. Um
amor tão grande não se apagara com a finitude da vida. Hoje eu te pergunto, você
me aceita, Daniel Albuquerque, como seu marido, para viver não somente essa vida
comigo, mas todas as nossas futuras encarnações, por toda a eternidade?
Trago sua mão aos meus lábios, beijando seu dedo anelar.
— Obrigada por esperar, me deixar confortável e cuidar de mim todos os
dias desde que nos conhecemos. Você aceita a mim, Lira Vittileno, como sua esposa
para passar a eternidade ao seu lado, te amando e retribuindo todo o carinho e
felicidade que você me dá, estando ao seu lado para realizar todos os seus desejos,
e juntos construirmos algo lindo com o nosso amor?
— Sim — responde.
— Eu te amo — digo.
Meu casamento com a Lira foi perfeito e apaixonante, ainda sinto os efeitos
do nosso amor e da noite que passamos juntos, comemorando, e no dia seguinte
quando não a deixei sair da cama e recebemos comida no quarto, só o suficiente
para minha esposa ter energias para o tanto de vezes em que meti na boceta que
pertence a mim.
— Na gilafinha também?
— Oooooooooinque — ri sapeca.
Os dentes dela terminaram de crescer, pequenos e as coisas mais fofas,
elevando a fofura a níveis perigosos para o meu coração. Lira pega nossa porquinha
no colo e vai com ela para o banheiro. Enquanto elas tomam banho, eu separo a
roupa da Lizzie, sapato, o perfume e creme para pentear as madeixas loura. Pego o
protetor solar deixando em cima da cama, com uma toalha no ombro vou para o
banho.
Lira sai com a Lizzie no segundo em que entro, essa foi rápida. Só de olhar
para o cabelo seco da Lizzie percebo que ela deve ter apressado a mãe. Rio ao
imaginar o banho de gato e cheio de conversa, tomo uma ducha rápida com a Lizzie
batendo na porta mandando me apressar e visto a roupa apropriada para os safaris.
— Mamãe, polmete.
— Pelfeito!
Até que foi fácil dessa vez. Geralmente é mais difícil convencer a Lizzie a
deixar a girafa em casa quando saímos em família. Faz uns dois meses que fomos
a um restaurante e não teve acordo, precisamos levar a girafa, foi constrangedor
jantar com várias pessoas olhando a pelúcia enorme e comentando sobre deixarmos
ela levar.
Acontece que eu sou um pai extremamente babão que não se controla diante
do choro da filha querendo algo. Lira diz que no futuro isso vai me custar todos os
meus cartões de crédito, mas eu ficaria pobre sorrindo, se fosse para ver a Lizzie
feliz e amando o pai coruja dela.
Posso ainda ter pesadelos com a morte da Verônica, sei que fiz o que era
necessário, mas nem por isso a culpa me deixa em paz, com o passar dos dias, tem
amenizado cada vez mais, principalmente em momentos como esse, que não
precisamos de uma escolta de seguranças para um passeio em família. Em que eu
posso respirar sentindo o sol quente no rosto e o vento seco, mas nada ameaça à
segurança da minha família e continuará assim por décadas.
Leva meia hora até vermos os primeiros animais. Seguro uma Lizzie eufórica
e totalmente maravilhada ao ver os elefantes bebendo água. Ficamos o tempo todo
dentro do, jeep, por ser a opção mais segura, com ajuda de binóculos mostra a ela
hipopótamos do outro lado do rio.
— São os mais perigosos da região — nosso guia diz — por ano matam
muitos humanos que ignoram as regras da selva e mexem com os animais. A
natureza tem de ser respeitada, não caçada e ameaçada.
Com a permissão do guia, descemos do, jeep e nos aproximamos delas que
comem tranquilamente. Uma deitada parece mais dócil, o guia toca em seu pescoço
fazendo carinho, e os olhos da Lizzie brilham como se ela estivesse vendo a coisa
mais preciosa do mundo.
Antes que sua mãe responda, saio com minha filha a protegendo da leoa Lira.
A girafa não se mexe com a nossa aproximação, mantenho a Lizzie presa contra
meu peito. Minha pequena estica as mãos tocando a pele da girafa e sorri tão linda,
que o sol parece brilhar mais forte.
Sim, essa foi a vida pela qual eu lutei para proteger, o doce sorriso inocente
da minha menina, e faria isso quantas vezes mais fossem precisos.
Coço a cabeça sabendo o que terei de lidar, hoje a Lira está no estúdio
gravando até mais tarde, os meninos vão ficar comigo a noite toda, e tendo três
filhos, dois homens, e uma menina na adolescência, é de enlouquecer a cabeça de
um.
Observo enquanto ela leva a mão a orelha do Lucca puxando com tanta força,
que poderia arrancar, e o faz ficar de joelhos. Decido não intervir, por enquanto
não temos mancha de sangue. Lira sempre briga comigo por deixar uma pequena
briguinha acontecer entre eles, mas não consigo evitar, é divertido ver a Lizzie
dominando os irmãos, para depois se estressar com outra peça pregada por eles.
— Epa — intervenho.
Lizzie pode ter perdido uns batons essenciais para a vida como atriz que ela,
tanto, ama, mas posso comprar novos a qualquer instante. Mas Lucca tem um
apego emocional muito forte aos mangás e os perder não causaria somente uma
raiva, mas uma ira incontrolável no gêmeo do mal. Me aproximo deles e Lizzie
solta a orelha do irmão.
— Quem é o rapaz?
— Lucca vai ficar de castigo, um mês sem comprar manga novo e nem ler
os capítulos online, agora quem é seu pretendente? — Cruzo os braços.
— Se continuar reclamando, digo ao Leon para te dar spoilers, você não pode
quebrar as coisas da Lizzie, independente do que ela tenha feito.
— Mas pai...
— Você é um home Lucca, haja como um, e respeite a vida privada da sua
irmã. Se ela tem um namorado, eu e sua mãe lidamos com isso, não é certo você
ficar irritado e quebrar as coisas dela.
Omito de todos que vou pedir ao Lorran para ficar de olho e espantar o
garoto. É aquele ditado “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Preciso
agir como pai ao educar meus filhos, mas nada impede que eu tenha minhas
artimanhas.
— Desculpa Lizzie.
— E você ao seu irmão por tê-lo ignorado, não é assim que tratamos a
família.
Lizzie pode ser uma leoa como a mãe, mas sabe obedecer, e continua sendo
a minha garotinha. Beijo a cabeça de ambos e mando irem chamar o Leon para o
jantar. Quando eles desaparecem, ligo para o Lorran que atende no primeiro toque.
— Então, tio — ele fala hesitante — o rapaz é meu amigo, eu meio que
apresentei ele a Lizzie. Prometo que é uma boa pessoa.
— Você está morto — aviso e desligo. — Pai — Leon aparece — quem vai
morrer?
— Eu, se seus irmãos continuarem brigando assim, por que você não
interveio?
— Você que não vai, a Lizzie tem algum namorado — faço careta.
— Eu sei, ela acabou de me contar — senta-se na cama — é o par romântico
dela na novela, o Victor.
— Pois é, ele a pediu em namoro hoje, e você está proibido de fazer algo
como mandar o Lorran espantar o menino, a Lizzie já tem 18 anos.
— Espera — digo — como você sabe que usamos o Lorran para espantar
garotos?
— Merda.
— Trancou a porta? — desde que a Lizzie quase nos flagrou transando por
entrar com a porta destrancada, a mantemos bem fechada e a prova de crianças.
— Com certeza.
— Garota esperta.
Beijo os lábios da minha esposa com o mesmo fogo e paixão de anos atrás.
Os anos passaram, nossas vidas continuam seguindo, mas nada muda o amor que
sentimos um pelo outro. Ficaremos juntos pela eternidade e por todos os planos
depois desse.