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A Morte e As Representacoes Do Alem Na Idade Media
A Morte e As Representacoes Do Alem Na Idade Media
Figura 1
A morte. Ela iguala a todos, ricos e pobres, homens e mulheres. Para além
dela, o Além: ele é um mistério, uma incerteza, um tabu (RODRIGUES, 1983:
17).
Essa herança milenar sofreu um rude golpe com a modernidade. Hoje, nossa
sociedade, dita ocidental, cada vez mais tenta prolongar a vida, não
envelhecer, se distanciar da morte, e principalmente não pensar nela,
esquecê-la. Afinal, todos os mitos foram destruídos e pisoteados, apesar de a
brevidade da existência ter sido reafirmada. Hoje afirma-se que após o “sono
eterno” há o nada, o aniquilamento. Resta então viver a vida, gozar os
prazeres dos sentidos corporais. Hoje há uma crise, crise de paradigmas
metafísicos. Hoje, sobretudo no mundo ocidental, muitos morrem
mentalmente jovens e não pensam sobre o sentido de nossa existência.
A morte era uma grande cerimônia pública, um ritual compartilhado por toda
a família, por todos da casa. Os medievais sabiam de sua chegada,
pressentiam sua vinda, tinham visões que anunciavam sua morte (DUBY,
1986: 80-83). Premonições. Assim, tinham tempo para preparar seu ritual
coletivo.
Pois ninguém morria só. A morte era uma festa, momento máximo do
convívio social (DUBY, 1990: 65-66). Todos deveriam acompanhar a
passagem do moribundo para o além, inclusive as crianças (ARIÈS, 1989:
24). Lágrimas e choro apenas por parte das mulheres: elas deveriam ficar
perto do corpo e gritar, rasgar as vestes, arrancar os cabelos. Era sua função
pública (DUBY, 1997: 20-21).
Seu gemido era um gemido ritual. Elas eram agentes essenciais do rito
funerário (LE ROY LADURIE, s/d: 282), um antigo ritual que era uma fruição,
uma chegada lenta e regrada. Era mesmo um prelúdio, a mudança para um
estado superior (DUBY, 1987: 10), caso aquela alma fosse agraciada por
Deus. Portanto, a preocupação, a angústia maior, não era com a morte e sim
com a a salvação da alma (LE ROY LADURIE, s/d: 289).
I. A morte do usurário
Figura 2
Um outro usurário riquíssimo, começando a lutar contra a morte, pôs-se a afligir, a sofrer e a implorar
à sua alma para que esta não o deixasse, pois ele a havia satisfeito, e lhe prometia ouro, prata e as
delícias deste mundo se ainda quisesse ficar com ele. Mas que ela não lhe pedisse, em seu favor,
dinheiro nem a menor esmola para os pobres. Vendo, enfim, que não a podia reter, se encoleriza e,
indignado, lhe diz:
“Preparei-lhe uma boa residência com abundância de riquezas, mas você se tornou tão louca e tão
miserável que não quer repousar nessa boa residência. Vá embora! Eu a entrego a todos os demônios
que estão no Inferno.” Pouco depois entregou o espírito nas mãos dos demônios e foi enterrado no
Inferno (Citado em LE GOFF, 1989: 13).
Uma vez aconteceu que um usurário fez seu testamento e não se arrependeu de seus erros, pelo
contrário, deixou tudo o que tinha a um filho que muito amava, mas que tinha grande prazer com a
morte de seu pai. O filho daquele usurário viveu longamente. Um dia aconteceu que ele lembrou o
quanto seu pai fora usurário, o quanto lhe havia deixado tudo o que tinha e como ele havia tido grande
prazer com a morte de seu pai.
Aquele homem esteve muito tempo nesta consideração, e maravilhou-se fortemente de seu pai ter
mais amado entrar no Inferno que deserdá-lo e maravilhou-se consigo mesmo por ter tido prazer com
a morte de seu pai que tanto o amava. Tão longamente esteve nesta consideração que percebeu que
seu pai o havia amado loucamente, e que Deus o punira, fazendo com que seu filho o odiasse e amasse
mais os bens que lhe deixou do que a vida e a salvação de seu pai. (RAMON LLULL. Félix ou o Livro das
Maravilhas, Livro VIII, cap. 48)
Figura 3
São atitudes diferentes diante do lucro. Por outro lado, no século XIII a
morte é coletiva: usura e mendigo estão cercados - o segundo por santos e
pela Virgem. Já o avaro de Bosch tem apenas seu contador. Está só. Apesar
de colocá-lo cercado de figuras diabólicas, Bosch faz o espectador olhar para
o alto, para o Cristo e Seu delicado feixe de luz. Portanto, na pintura de
Bosch há um fio de esperança para o usurário impenitente, há espaço para
seu perdão. No século XIII, século do cristianismo, isso seria inimaginável (LE
GOFF, 1989).
Assim, a morte na Idade Média era uma agonia apenas para o usurário. Ela
era temida porque era imprevisível, mas desejada pelo cristão quando
anunciada, em sonhos ou visões. Ramon explica a seu filho o porquê do
temor da morte e a necessidade (a virtude) de se temer a Deus:
Filho, sabes por que a morte é temível? Porque não podes fugir dela e não sabes quando ela te levará.
Assim, se temes a morte, que não pode te matar mas somente teu corpo, temerás a Deus, filho, que
pode colocar teu corpo e tua alma no fogo perdurável. (RAMON LLULL, Doutrina para crianças, cap.
XXXVI, 9).
Bertrand de Born (1159-1197) nos fala das flores e folhas coloridas, das aves
que cantavam e dos cavaleiros que gritavam “Avante”:
A morte então foi domesticada nas consciências (ARIÈS, 1989: 19-20). Pelo
menos na de cavaleiros e clérigos. A morte foi esperada e reconhecida
(LAUWERS, 2002: 243), até mesmo desejada. Foi preciso a Idade Média
chegar a seu fim para que novas formas (negativas) de compreensão da
morte tomassem conta dos espíritos, como, por exemplo, o conceito de
macabro, a Dança da Morte Macabra, que tomou conta dos afrescos e das
gravuras em madeira, e exprimia a profunda angústia dos tempos da Peste
Negra e da Guerra dos Cem Anos (HUIZINGA, s/d: 145-157).
Figura 4
Liber Chronicum, de Hartmann Schedel (séc. XV).
In: Représentations diverses de la mort (Patrick Pollefey)
Neste aspecto, a mensagem que Ramon Llull ensina a seu filho a respeito da
morte é muito próxima da espiritualidade franciscana, além de muito
contundente:
Quadro 1
III. O Inferno
Figura 5
Ramon Llull termina seu livro Doutrina para crianças (c. 1275), dedicado a
seu filho Domingos, com uma descrição do Inferno e do Paraíso. Na
pedagogia medieval, a lembrança do Além domesticava os espíritos, tornava-
os mais serenos, mostrava-os que esse tempo era efêmero, que deveriam se
preocupar com a salvação de suas almas. A educação pretendia oferecer uma
base metafísica e moral, ocupando a mente e o coração da criança
(D'HAUCOURT, 1994: 87).
O Inferno está no meio de um lugar que fica dentro do coração da Terra. Tal lugar é trancado e
fechado, e ali existe pena por todos os tempos. Esta pena acontece em quatro lugares: o Inferno, onde
estão os danados que nunca sairão; o Inferno chamado Purgatório, onde o homem cumpre penitência
pelas coisas que não cumpriu neste mundo; o terceiro Inferno, chamado Abraão, lugar onde entraram
os profetas que viveram antes do Filho de Deus ser encarnado, e o quarto Inferno, onde entraram as
crianças que não foram batizadas. (RAMON LLULL, Doutrina para crianças, cap. XCIX, 1)
Na história contada por Jesus, o pobre morre e é levado pelos anjos ao seio
de Abraão; o rico é enterrado e vai para a “mansão dos mortos”. Ali, “em
meio a tormentos”, o rico vê Abraão e Lázaro, e pede água para refrescar a
língua. Abraão lhe diz que ele era rico e Lázaro pobre, agora, no Além,
Lázaro é consolado e ele atormentado. Além do mais, há um “grande abismo”
entre o paradisíaco seio de Abraão e a mansão dos mortos (Lc 16, 23-26), e
quem está do lado infernal pode ver o que perdeu, aumentando ainda mais o
seu sofrimento.
Após essas palavras, ele (Martinho) viu o diabo à suas costas. “Por que estais aí besta sangrenta?”,
disse ele, “Tu não acharás nada em mim, maldito, pois o seio de Abraão me acolhe” (...) Martinho é
aplaudido pelos salmos divinos; Martinho é honrado pelos hinos celestes; aqueles lá (do mundo) serão
precipitados após seus triunfos (nesse mundo) dentro do cruel Tártaro; Martinho é acolhido
alegremente no seio de Abraão; Martinho, pobre e modesto, penetra rico no céu. De lá, espero, ele nos
protege (SULPÍCIO SEVERO, 1967, vol. 1: 343 e 345).
Lázaro, diz ele, foi colocado no seio de Abraão. Estava com efeito na zona superior do lugar infernal,
onde há um pouco de luz e nenhuma pena material. Era aí que estavam as almas dos predestinados,
antes da descida do Cristo aos infernos. A esse lugar, por causa da tranqüilidade que nele reina,
chamou-se seio de Abraão, como chamamos o seio materno. Deu-se-lhe o nome de Abraão porque ele
foi a primeira via de fé (citado em LE GOFF, 1993: 190).
Bem, estas divisões que Llull cria para o Inferno tentavam responder a uma
importante questão para os teólogos medievais: como coordenar a
eternidade com o tempo? Mais precisamente: o que acontece com os
profetas que viveram antes de Cristo, se Ele é a única fonte de salvação e
redenção? Estariam salvos mesmo tendo vivido antes da vinda redentora de
Jesus?
Amável filho saiba e creia que quando a alma de Nosso Senhor Deus Jesus Cristo deixou Seu corpo
morto na cruz, incontinenti desceu aos infernos e vendo Adão, Abraão e os outros profetas e santos,
arrancou-os à força dos demônios e de sua prisão e colocou-os na Glória Celestial que não terá fim. No
momento que Adão viu chegar seu Senhor e Seu Criador para livrá-los dos trabalhos e da dor onde
estiveram cinco mil anos, disse: ‘estas são as mãos que me criaram e me formaram e este é o Senhor
que Se lembrou de nós em Sua Glória.’” (RAMON LLULL, Doutrina para crianças, cap. XCIX, 3)
Llull pede ao filho que imagine “...os gritos, as vozes e o pavor daqueles
homens que não poderão se defender daqueles peixes, dragões infernais, dos
quais não se poderá fugir.” (RAMON LLULL, Doutrina para crianças, cap. XCIX,
2). Imersos nessa água borbulhante, os danados, como os legumes no óleo
fervendo, sentirão muita dor (RAMON LLULL, Doutrina para crianças, cap. XCIX,
4). A porta do Inferno é como a boca de um dragão, cheia de dentes:
pecadores e infiéis nunca cessam de cair ali (XCIX, 5).
Filho, para que tenhas temor do fogo infernal que dura todo o tempo, vê a fornalha onde fazem o vidro
e o forno onde cozinham o pão, e considera estar uma hora naquele fogo (...) Quando vires fundir o
chumbo, o ouro e a prata, imagina um buraco cheio de chumbo ou ouro fundido. Se tu estivesses na
boca desse buraco, terias pavor quando te ligassem as mãos e os pés e o colocassem em um saco,
amarrando uma grande pedra em teu colo e te jogando no buraco. Logo, tenhas pavor, filho, desse
fosso cheio de ouro e prata fundida, onde estão os homens que por ouro e prata perderam a glória de
Deus. (RAMON LLULL, Doutrina para crianças, cap. XCIX, 7-8)
Quando fores para fora dos muros da cidade e encontrares as bestas mortas que o homem expulsa
para o vale, verás muitos cães, grandes e pequenos, que roerão aquelas bestas, as orelhas, os olhos, a
cara, os braços e as pernas, e entrarão do ventre e roerão teus ossos e comerão teu coração e tuas
entranhas, então é certo, filho, que cogites nos infernados, que estarão pelos campos e virão os
demônios semelhantes aos cães, leões e serpentes, e morderão aqueles homens, suas cabeças, seus
braços e seus membros e não poderão morrer nem escapar daquela pena. (RAMON LLULL, Doutrina
para crianças, cap. XCIX, 10)
IV. O Paraíso
Figura 6
Dante. A Divina Comédia. O Paraíso. Canto XXXIII.
MS. Holkham misc. 48 (formerly Norfolk, Holkham Hall, MS. 514), p. 147.
São Bernardo (à esquerda) pede à Virgem que fortaleça a visão de Dante para que ele possa ter a
visão da imagem de Deus. Dante (à esquerda, abaixo) vislumbra-O por um instante como a
representação da Trindade (três círculos de cores), cercado por um exército de anjos.
Após esse mea culpa resignado, Llull inicia o tema com as faculdades
intelectivas da alma: no Paraíso, Deus demonstra-Se (em Sua Unidade,
Trindade e Essência) à lembrança, ao entendimento e ao desejo da alma.
Fica claro que a intelectualidade no paraíso luliano é importante para a
elevação mística até Deus - a partir do século XII alguns intelectuais
relacionaram os espaços celestes com o intelecto, como, por exemplo,
Honório de Autun e sua terceira esfera celeste intelectual (GURIÉVITCH,
1990: 94). As almas dos bem-aventurados têm suas capacidades estendidas
e plenamente realizadas na trindade operacional da alma (os atos de
lembrar, entender e desejar). Há uma complementaridade simbólica perfeita
do número três: a Trindade de Deus integra-se com à trindade da alma e do
corpo humano:
Filho, se tu entrasses no Paraíso, teus olhos corporais veriam os corpos de Nosso Senhor Deus Jesus
Cristo, teus olhos espirituais veriam a Sua alma, e teu entendimento veria uma semelhança de Sua
natureza com a da Deidade. (RAMON LLULL, Doutrina para crianças, cap. C, 4)
Filho, verás Nossa Senhora Santa Maria diante de Nosso Senhor Deus Jesus Cristo, e verás uma
procissão e uma fileira de todos os anjos, arcanjos, mártires, profetas, virgens, confessores e abades;
e ouvirás que todos, com cantos de muito grande doçura, louvam e bendizem Nosso Senhor Deus, por
todos os tempos, como Deus estará no céu e durará em Sua glória, perduravelmente sem fim. (RAMON
LLULL, Doutrina para crianças, cap. C, 5)
Amável filho, se entrares no Paraíso, terás teu corpo glorificado, pois nunca morrerás, e estarás onde
desejares estar, e passarás por qualquer lugar que desejares; e imediatamente quando desejares estar
num lugar, imediatamente lá estarás; serás mais brilhante que o sol; não terás fome, sede, calor, frio,
dor ou qualquer paixão, e estarás todos os tempos nesta bem-aventurança que serás ainda muito
maior (RAMON LLULL, Doutrina para crianças, cap. C, 7).
Quando estiveres sentado diante o tabuleiro de xadrez, faça este cálculo: compara a primeira casa com
toda a bem-aventurança deste mundo, na segunda coloca toda a bem-aventurança que existiria em
dois séculos semelhantes a esse, e na terceira casa coloca toda a bem-aventurança de quatro mundos;
e assim multiplica a bem-aventurança por todas as casas do tabuleiro; e quando as casas do tabuleiro
não te bastarem, faz mais casas das estrelas do céu, das gotas de água do mar, dos grãos de areia e
de todos os pontos que couberem entre o céu e a terra; e quando tudo isso não te bastares para
multiplicar o número, pega todos os números que estiveram, estão e estarão no tempo pretérito,
presente e futuro. Caso possas fazer isso, ainda assim não será o suficiente para comparar a glória de
todos os séculos ditos acima com a glória do Paraíso, pois toda esta glória dita acima será finita, e a
celestial Glória nunca terá fim. (RAMON LLULL, Doutrina para crianças, cap. C, 9)
Tomando como ponto de partida o xadrez, Llull faz com que seu filho trilhe
uma viagem imaginária, das casas do tabuleiro para o céu, para o mar, e
finalmente para o tempo (“todos os números que estiveram, estão e estarão
no tempo pretérito, presente e futuro”). Além disso, a proposta de soma que
Llull sugere a Domingos tem origem em uma antiga história indiana ligada à
invenção do jogo de xadrez (por volta do século VI a.C.) - a exemplo das
influências orientais já mapeadas quando da redação do Livro das Bestas
(BONNER, 1989, vol. II: 13; COSTA).
Dessa forma, Llull se baseia naquele antigo conto indiano para sua projeção
do Além, que tem como base o raciocínio. Sua capacidade de imaginar o
Paraíso tem como eixo norteador o intelecto. Pelo contrário, sua percepção
do Inferno é calcada basicamente nos sentidos corporais, nas dores do corpo
do danado. Há, portanto, uma clara associação simbólica invertida nos dois
textos: Inferno/sentidos corporais (coisas inferiores porque ligadas ao corpo)
e Paraíso/capacidades intelectuais (coisas superiores porque ligadas às
faculdades da alma).
Conclusão
As representações do Além que Ramon Llull apresentou a seu filho têm dois
importantes acréscimos ao imaginário medieval: as influências dos contos
orientais e o tema da intelectualidade ligado à contemplação divina. Ao
ressaltar as faculdades intelectivas da alma, o beato maiorquino dá um passo
em direção ao racionalismo, sem, no entanto, deixar de lado a espiritualidade
mística de tons franciscanos tão característica da síntese realizada pelo seu
tempo, o século XIII. Pensar o mundo dos mortos era a melhor forma de
melhorar o dos vivos, de torná-lo mais semelhante aos desejos de Deus.
*
Este artigo é dedicado a cinco queridos amigos: Esteve Jaulent, presidente do Instituto Brasileiro de
Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, que carinhosamente lê criticamente meus textos, Edmar Checon de
Freitas, sempre solícito em discutir as recepções medievais dos temas do cristianismo primitivo -
especialmente o século IV e “seu” Martinho de Tours -, Alexander Fidora (J. W. Goethe-Universität,
Frankfurt am Main, Alemanha), teólogo e filósofo que sempre me auxilia a compreender a mente dos
medievais, Jean Lauand (USP), que, além de ter sempre palavras de incentivo e estímulo, desvendou
maravilhosamente a conta proposta por Ramon Llull em seu jogo de xadrez, e Sidney Silveira, meu
estimado irmão filósofo, que sempre ilumina minhas idéias com suas reflexões metafísicas.
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