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3 SECULO XIX: PAISAGENS DO BRASIL ‘Momento em que acartem grandes mutagespaliticase so 0 sGeulo XIX brasileiro inaugura ma nova maneira de pensar nscrever pals na modermidade ocidental ‘Com a chegada da Corte de dom Joao VI 20 Brasil (1808), 2 brasileira, constituida ao longo de tts séulos de eoloni- foi profandamenteafeada, provacando transformaybes sig- ta sociedad como um todo e,sobretuo, no campo in- |, exigindo que iniciasse seu processo de institucionalzagio. “A Independéncia (1822) impée reordenamentos policos ¢ que se viabiliram pela absorgio de prinetpios libra que A eransformagio do estauto da excolBnin em Império, © polltica convergem, dando inicio § formacto do Estado baasieite. A auconomia polica reve grind: impordncia nagZo dos icelecruis, das instituigses e das deologias que vigéncta nae primeias déadae dese sécule, Durante 0 Se- Reino (1840-1889) surgiram incieugses cultura oficial- sencatregads de elaborar um conesio de nagio para o Brasil, Insirutos Hisércos eAcademias Ciencias e Arias, longo de todo 0 séulo XIX, o campo inteleccual se com- “A charnada “geago de 1870” representou uma mudanga porter sido a responsivel pela inerdugdo dos de- as nova “quests scis’emergentes, como a Aboligio Foi sinda eve geaglo a responsivel pela dissemi- dias posiivsas e evolucionistas no Bra dias que ‘base para os debates intleccais da épaca, sobre rape ‘i no petiodo compreendido pela Prmcira Replica (1889- 1930) observa-se uma diferenciagio crescente da sociedade como tum rodo, e do campo intelectual, em paricular. A Academia Bra- siete de Letras, uma das insituigdes culeursis mais preigiadas, pode ser considerada como o “hugar de fla” ofcial da ineecruli- dade do ineio da séeulo XX “Tendo com parimerro somente ext insticugSo, sera postvel fazer uma lecure das dispuras, polémicas,rtoseredes de influtnca, ‘que afimam e consolidam as posiges hegembnieas e demarcam as posigdesno-hegeménicas no campo intelectual, nas primeras dé cadas dese séulo. “Exe capitulo precende explorar a organinasio do campo in- telecual ao longo do século XIX, dividindo-o em tes blocos his- trices, corespondentss As mudangas de orieneasgo pela qua fi pasando: a geragio romintica,« gerato de 1870, cs intclectuais Ado inicio do século XX. nnceraremos este etudo evidenciando a complexidade da vi- da cultural no Rio de Jancizo daquele momento, a partir de cts ‘seritres de primeira linha, cada um deles ecupando uma posigso dlfeenciads no campo; Machado de Asis, Euclides da Cunha Lima Barero, A protoformagio do campo intelectual A panic do século XVII, a ruprura que ocorre no eampo do saber, adyinds dos principis do Ihuminismo europeu, acentu-se © desdobra-s em algumas das dias mais importances que marearam fo stculo XIX: rano, citncia, progresso ¢ evolucio, Ideas, por iso mesmo, dtas “fundadoras" da modernidade, (© novo conctite de hiséca usta a psdpria transformagio ‘corrida na ordem do saber que, segundo Michel Foucaule (1981), ‘corveu na passagem do século XVII para © XIX, ou sj na pas sagem da dpitime dssca para a moderna. Naguele momento, en ‘vam na cena do stber outros objetas emplricos — a vida, exi= @ a linguagem — e se reorganiza o campo das dsciplinas iificas (Foucaule, 1981). Do saber deserve e casificaday,o1- ido em quadtos etiticos, passamos a um tipo de saber que rade empiricumente of acontecimentos, considerando 2 His- indo simmplesmente como uma disciplina entre outas, mas co- 1 dimensio consistiva do prpro "modo de sr” dos sere em- (© concsio de Hiri, formula no sculo XIX, rompe com ‘isa natural do séslo XVII e vincula-s & histéria incema dos Hinorician sea naeutezae, assim, descortna-s finite incon- rel de tudo 0 que vive: empreendese uma busca ds oxigens, ‘gponxand para. o image, a evolugio eo destino como finite. ‘Conformnem intéeprece brasileiro do século XIX, devorrente ‘Ua eupeura com prétcasintelecuais anterotes, surge wm contito evoluive de his, que wouse a tem potas da extrucura de conheciment, 20 romps comm © Fao do pensamenta clio em que o tempo no era con- «bd coma principio de desevovimenco para os es ios (enna, 199128). ‘Deste conceive de Histéra podemos fazer derivar a8 novas \isiplinascienelfiess, como a Bialogia eFlologia, mas também a eonomia ¢ at novas idlaspoltessvinculadas 20 Libealisme: ‘berdade, Exado-nagSo, democaca, Geradas na Buropa, ess idiat foram aqui tnsformadas © tiveram enorme importancia na for ‘masio do “mado de ser" do Novo Mundo, sequioso por liberdae, pels salda de sua sitwagio colonial, sequioso por progresso © por onsttuirautonomamente sua identidade. "Na América Latina como wn todo, e,partcularmente no Brasil, 0s principio da llusteago do Liberalism condensaram-se sobre: ‘uulo em torno dos movimentos independentistas. A necesidade de rmular um conccito de idemidade, que pudese representar as na- ‘enti emergentes, foi principal arefa que os inteectusis © 0 sas autoatsibutrara em nosiocontinene. Hes deveriam faer-se secvis, pois acreditavam que tinham a missio de constuir ume plea por intermédio da ane, da cincia eda pola. 6 Paraiso, era preciso descobsi valores que pudessem dar sus- ‘tentagio a esa identidade: a naturena,o indi, a idealzago de wm pasado herdico mostram como as imagens brasil, geradas 20 longo do stoulo XIX, podem see compreendidas como crstalizayies ‘0 objcivagSes dese idl, As imagens revary o quanto a for- ‘magio do olhar americano foi emoldurada pela perspetivaeuro- pia. Enfizando o exotsmo das nowsae difeengs,conseni-se aqui um imuagindrio extemamente demarcado. As expedigBes cienfficas, rita inaygurada no século XVII, intensiicaram-se ao longo do séeulo XIX, os relaros que dela resulteram forum os responstveis pela cragfo deste imagingtio que nio somente modelou a percep 0 europa sobre a Amétiea como também a dos americanos sobre Si pepsi. [Nagqiele momento, foi produzido um eoajunto de repesen- ‘abe sobre a Amica e sobre o Brasil, que buscavaafirmar qualic dade espectficas apazes de suscitar um sentido de pertencimenco & “pra” entéonascente. Esai foi constulda ¢diseminada princi- palmente pela Literatura ¢ pela Hiseéria, discursos poradores de ‘alos localisas © metopoliznes, tos como univettis. Os die ‘ars literiros ¢ cienficos de entio foram os responsive pela ing da idologianativta, que se deslobrou em nariise mae gens da maturea tropical e do tndio, presenes nas obras dos nosso pintores e csrtores roménticos. Constuir a nagfo em sido uma das preocupasbes permanentes da intelectalidade latino-america- na que oscil, contaditoramente, entre uma pote mimética, que tome como ponto de referencia a culera metropalitana, a busca de autenticdade, fundadla na maior parte das vezesem val res loalstas (Candido, Aw 1987). Amor A péeria e amor & natura se confundem nesca trea paridtico-nativita que subjas ts ideolo= is polities © aos valores eséticos predominantes no Brasil die ‘ance codo oséeulo XIX, ‘No Bra em certs medida, em toda a América Latina, ese € considerado um momento privilegitdo para a obserasgo de co= mo foi organizado o campo intlecrual ede como fe procesaram 4 receppo seletiva © 2 relaboracio das idias eatangeiras que servic a pata implementa privcas politica, cientificas ¢ exttias nas es mages, sete tem sido objero de rete e polémica que dominaram melecnaldade, que cvs inicio naquele momento e peuram sss das Schware1977 € 1988; Roane, 1994; Bos, 1992) slg densidad angamenacvae tric. Sua petingnla ser ata pela regular com que se mantém no hor- eds preceupaySex dos intleccuis. Na verdad, xs problems 4 comam a todas as culeuras que pasarum pela xperiénia da nizacSo€ que construfram seu lugar de fala a partir de uma eto considera, de antemo, como subsecna. A lus da pro- 4h cain pé-olnil (Spivak, 1990; Said 1995: Bhabha, ) posse er un maior dscerimentoe demons eo que subjzem 20 procezo de organiagso do sistema inelec- eda cissio de insttighes soci nos pales colonizndos. ‘ps eezentos ans de coloizagio ede vida socal estagnada, lo XIX inaugur-se, no Bra, com a eansfertacis da Corre pornuguess, 0 que signifies «eensfrmacio poica do state — que passa de Conia para o de Reino Und a Portugal 1s Ese acontecimeno eige vaso de formas de orani- « reonenamentoepoltic-inaiucinals. A vida socal gah hoa dinkmien qu acinge paicamence toa at dimensies da sil, eudando sfsionomia do pas, princpslmente das ci por meio de csratginscokurais, eves pollicas. Nagucle momento asics ambém a uma ceatva de o- 0 ch vida incletul, mpubionad pla presinga de ais. eas ¢axquitetos que inegravam a comitivs de dota Joto seguids, pela Miso Antica Frances Fans que deg a9 Ri Jani em 26 de mao de 1816 hs romeamerzno Cale fms por ari aio Jain 3 ‘Assim, um tema recorete dane todo 0 stclo XIK € a eceriade de deeneadar¢ implant um procaso sao" ¢ de modo de insersio.no campo inclecua. ‘Machado consolidou sua careiralitertia durante 0 Segundo Impétio, © adenta 0 séeulo XX laureado de presgio © reeonhe- ‘imento: Euclides, engenheiro miler e joralsa, republicano de ‘primeira hora, foi em busca de um Brasil interior, rjitandoo ex de vida ineleceusl do Rio de Janczo da ép0ca, afranceado e bur- sus; Lima, pobre sem neniim presigio (na fara hava sido ‘errvelmente vitimada pela Repiblics), deiou do seu tempo uma ‘isho dssonante, mostrando, em sua obra, a vide dos subitbios, virando plo aveso a imagem ft da belle dpogue caciocs. Machado de Assis foi a figura intelectual que mais marcoa 0 inci da Academia: Eucides da Cunha i ingressou como convie dado, logo apés o enorme suesso obtido com a publiagfo de Or sents; € Lima Barreto, jé tendo conros, xdnieas tes romances publicados, depoitou ers veres sua candidstua, ineitado por ami- ‘0% embora sabendo que nfo seria sect, pis a Academia, além de suandii-mor da lingua oficial, preservava uma moral burguess, dine ‘gud de uma vee por todas, os intlecuis ios 08 bodies. Lima produ sua obra desconsinuamence, sem nenbsi ine

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