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AULA 1

SEXUALIDADE HUMANA

Profª Evelyse Iwai dos Reis Teluski


TEMA 1 – INTRODUÇÃO À SEXUALIDADE HUMANA

O tema sexualidade tem trazido inúmeras reflexões e posicionamentos


diferentes, ocasionando frequentemente grandes polêmicas de forma mais
intensa do que décadas atrás.
Esse excesso de discurso sobre a sexualidade humana poderia avançar e
caminhar em contribuição ao desenvolvimento amplo do ser humano. Na maioria
das vezes, isso não acontece devido às dificuldades de ampliar a visão integrada,
desde aspectos históricos e tabus até crenças pessoais e reprodução de
discursos, muitas vezes carregados de repressão e preconceito.
É de grande necessidade para aqueles que pretendem estudar e orientar
a sexualidade o desenvolvimento de uma postura neutra, crítica e com ausência
de preconceitos, pois essa característica marcante de toda a sexualidade humana
é retratada de forma reducionista. A sexualidade é apresentada no contexto
sensual, vinculada apenas à busca do prazer individual, com o objetivo de
consumismo, trazendo uma imagem deturpada da identidade do homem e da
mulher.
Aquino (1997) retrata a importância de contextualizar as dimensões que
constituem a sexualidade: biológica, psicológica, histórica, cultural. O autor traz
que, mesmo com a ampla percepção, o resultado sobre o tema sexualidade não
atinge uma linearidade, pois a discussão, em diferentes campos, não permite uma
regularidade de conceitos nem de posicionamentos. Contudo, há vários pontos
em comum, em especial o deslocamento da abordagem biologizante da
sexualidade humana para uma abordagem pluralista.
Ao debatermos sexualidade, a maioria das pessoas tendem a pensar
exclusivamente no ato sexual propriamente dito. Por vezes, a pronúncia da
palavra sexo é motivo de tensão e desconforto para pais e educadores, embora
cientes de que a sexualidade é inerente ao ser humano desde sua concepção,
ainda não está esclarecida o suficiente, ou mesmo não admitem o fato
principalmente em relação às crianças.
Contudo a sexualidade é mais do que apenas a relação sexual e a
necessidade de aprofundar entendimento, para que traga luz à compreensão a
vivência no seu aspecto multifacetado.
Ao verificar a análise histórica, percebe-se que o tema da sexualidade sofre
ainda fortes impactos. Batista (2008) retrata a dificuldade de verificar na história

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da humanidade tratados sobre sexo como componente humano. Traz ainda que
alguns textos da mitologia grega, ou da tradição judaica encontra-se o sexo como
uma punição desejada, ou então como causa de uma transgressão as regras que
incide em castigo, e não como aspecto de desenvolvimento humano.
Perdura ainda a associação de sexo ao pecado ou punição, contribuindo
para preconceitos, o que não é uma forma saudável de se fazer orientação sexual.
As políticas públicas, além de escassas, não apresentam a compreensão do todo,
nem da composição biológica e cultural do ser sexual, dificultando a ação dos
educadores e profissionais da saúde. Quase sempre vemos educadores com
dificuldades de lidar com a sexualidade de seus educandos, e essa dificuldade se
dá muitas vezes por falta de argumentos, ou mesmo por serem educadores fruto
de uma educação repressora, que os impede de reconhecer sua própria
sexualidade, ou seja, há uma dificuldade pessoal em compreender a
complexidade da sexualidade humana.
Pensar a sexualidade no mundo paradoxal em que vivemos é um grande
desafio, pois, segundo Barp (2010), a modernidade surge com tantas incertezas
em que a pedofilia, o estupro e a mentalidade distorcida sobre sexualidade fazem
do sexo um artigo de consumo. Sendo o corpo prisão e possibilidade ao mesmo
tempo, retrata, assim, a incapacidade de ver o mundo em sua totalidade, apenas
por meio de pequenos lampejos e recortes de informações que circulam pelos
meios de comunicação.
De acordo com Barp (2010), “uma infinita mídia dos dias atuais traz, sutil
ou explicitamente, um apelo sexual que enche os olhos e desperta muito
precocemente as crianças para vivência de sua sexualidade”.
Percebe-se uma antecipação das experiências corporais em relação ao
período e à época dos pais e educadores que atualmente estão em contato com
as crianças e adolescentes. Mudanças significativas ocorreram ao longo da
história, quando o corpo era considerado uma parte natural do meio ambiente,
mas, durante a Idade Média ou eras religiosas, foi transformado em algo
vergonhoso, devendo ser reprimido e escondido. No mundo contemporâneo, o
corpo é usado como atrativo sensual, despertando desejo e sensualidade e poder.
Com a mudança de perspectiva sobre o corpo e a sexualidade, mudam
comportamentos, culturas, o que acaba afetando a biologia humana.

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TEMA 2 – EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE E SEXUALIDADE HUMANA

A sexualidade humana deve ser compreendida com base em um estudo


que contemple a análise de suas raízes.
Além das questões biológicas, também é preciso entender as questões
culturais para obtermos o entendimento do processo de formação do ser humano.
Barp (2010, p. 20) retrata que cultura e biologia andam juntas no processo
evolutivo do universo e sexualmente evoluímos tanto nos aspectos culturais
quanto biológicos: “nossa forma física, os mecanismos de sobrevivência e as
concepções sobre sexualidade evoluíram da mãos dadas para garantir que a raça
humana não fosse extinta do planeta”.

2.1 O ser sexual e a evolução da espécie

O ser vivo se reproduz por meio do ato sexual, momento em que a


sexualidade se estabelece. A observação do ser vivo, na sua composição celular,
nos ajuda a compreender o surgimento da sexualidade nos humanos:

Ao se multiplicar rapidamente por divisão celular, denominada


mitose...Surgiram colônias de bactérias. Reinaram sozinhas, durante
quase dois bilhões de anos, caracterizados por uma espantosa vontade
de viver e de se expandir. Teoricamente a reprodução por mitose confere
a imoralidade ás células, pois seus descendentes são idênticos, sem
mutações genéricas. (Muraro; Boff, 2002, p. 30)

A imortalidade presente na reprodução por mitose deu lugar à morte com o


surgimento da sexualidade. Não há morte na divisão celular, na qual cada ser vivo
se divide sucessivamente em dois novos seres vivos que vão sendo formados.
Barp (2010) afirma que a morte está associada à sexualidade e surge quando a
reprodução passa a ser sexual.
Na forma mais primitiva, o sexo significa troca de núcleos entre as células
binucleadas, chegando à fusão num único núcleo diploide.
Esses fatos apontam para o sentido profundo de sexualidade: a troca
enriquece e a fusão cria, paradoxalmente, a diversidade.
Nos primeiros 2 bilhões de anos do surgimento da vida na Terra, não
existiam órgãos sexuais específicos:

Uma existência feminina generalizada, que no grande útero dos


oceanos, lagos e rios produzia vidas. É especialmente em função da
reprodução em terra e de seres complexos que surge o pênis,
propriamente dito há duzentos milhões de anos, na época dos répteis.
(Muraro; Boff, 2002, p. 32)

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Ao pensar na teoria evolutiva, Morin (1975) retrata que o ser humano surgiu
há menos de 100.000 anos. Trazendo o entendimento pela ótica da sexualidade,
observa-se que o comportamento sexual do ser humano difere muito, se
comparado a outros mamíferos dos quais nossa espécie se ramificou.
Diamond (1999) mostra que a sexualidade humana é muito anormal
segundo os padrões dos outros 30 milhões de espécies de animais existentes no
mundo. Para esse autor, a sexualidade normal das espécies acontece da seguinte
forma:

• Não convive em família;


• Faz sexo somente quando está no cio e com finalidade reprodutiva;
• Os machos não proporcionam cuidados paternos e sua única contribuição
é o esperma;
• Faz sexo em público;
• As fêmeas avisam quando querem ou necessitam copular (sinais nos
órgãos genitais);
• Fêmeas rejeitam o macho fora do período de reprodução.

Fugindo do padrão dos mamíferos, os seres humanos frequentemente:

• Unem-se em pares por longo tempo;


• O casal faz sexo várias vezes, apenas ou principalmente um com o outro;
• Casamento é parceria para cuidar da prole resultante;
• Os casais vivem em sociedade com outros casais;
• Fazem sexo em locais privados;
• A ovulação é oculta;
• A receptividade sexual da mulher vai além do período de ovulação;
• Sexo é quase sempre diversão sem fins de inseminação;
• Todas as mulheres entram na menopausa.

São observadas muitas diferenças no comportamento humano quando


comparado ao das demais espécies, especialmente o comportamento sexual.
De animal coletor de folhas e frutos para caçador e de caçador para
humano um imenso caminho foi trilhado. Barp (2010) revela que a transformação
do animal coletor de frutas em caçador e o surgimento do fogo contribuíram para
a mudança da sexualidade apenas reprodutiva para também aquela em busca do
prazer.

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Barp (2010) retrata que, no Período Paleolítico, os hominidas viviam em
bandos nômades coletando e caçando para sua sobrevivência. Mais tarde, surgiu
o fogo, que pode ser concebido não apenas como uma inovação que aumenta o
conhecimento prático, mas uma aquisição ampla de utilização e significado,
proporcionando uma nova forma de vivência da sexualidade. A sensualidade e a
sexualidade foram intensificadas no novo local de encontro.
Comunidades foram surgindo ao redor do fogo de forma paulatina, e
homens caçadores fabricavam instrumentos cada vez mais complexos.
Quando o hominida passou a andar ereto para visualizar a caça, seus
órgãos sexuais começaram a se deslocar de trás para frente, de modo a se tornar
útil para cópula. Durante toda as etapas, a sexualidade humana foi sendo
construída e constituída de forma cada vez mais humana, ou seja, diferenciando-
se sempre cada vez mais em relação aos outros animais (Barp, 2010).
Atualmente continuamos a observar a função que a sexualidade ocupa,
tendo sua dimensão ampliada, e o sexo tem se transformado em impulso de
muitas ações humanas, deixando de ter o papel reprodutivo para a função extrema
de controle, poder, manipulação.
Na raiz da nossa cultura está inscrito o conflito entre o cultural e o biológico
na evolução da sexualidade humana. A cultura tentou inibir a evolução biológica
natural da sexualidade por muito tempo, porém a sexualidade está irrompendo
com mais força atualmente, tanto pela estimulação a que está submetida quanto
pela própria cultura que evoluiu significativamente.
Mudanças de comportamento e de sistemas físicos evoluem de forma
complexa e constante. Um comportamento nunca termina para que outro comece,
uma geração nunca morre para que outra nasça, uma forma de viver nunca
termina de forma pontual: trata-se de uma evolução paulatina (Barp, 2010).

TEMA 3 – SEXUALIDADE: ENTRE BIOLOGIA E CULTURA

Para se aprofundar no tema, é importante perguntar: qual é a diferença


entre sexo e sexualidade?
Sexo é marca biológica, caracterização genital e natural constituída com
base na aquisição evolutiva da espécie humana como animal, conformação
particular que distingue o macho e a fêmea, nos animais e nos vegetais,
atribuindo-lhes um papel determinado na geração(reprodução) e conferindo-lhes
certas características distintivas.

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Sexualidade é o conjunto dos fenômenos da vida sexual, um conceito
cultural, constituído pela qualidade e pela significação do sexo, portanto, algo
exclusivamente humano.
Em pleno século XXI, o ser humano apresenta muitas mudanças biológicas
em relação ao Neandertal.
De acordo com Morris (1975, p. 20),

Desse modo, o macaco caçador tornou-se um macaco territorial. Todas


as suas normas sexuais familiares e sociais, começaram a mudar. A
antiga forma de viver vagabunda, de apanhar frutos aqui e acolá, foi
desaparecendo pouco a pouco. O jardim do paraíso tinha de fato, ficado
para trás. Daqui para o futuro tratava-se de um macaco com
responsabilidade. Começou a preocupar-se com os equivalentes pré-
históricos das máquinas de lavar e dos frigoríficos. Começou a
desenvolver o conforto caseiro-fogo, despensa, abrigos artificiais. Mas
temos que ficar agora por aqui, senão afastamo-nos do domínio da
biologia e embrenhamo-nos no da cultura.

A linha que separa e une a cultura e biologia é muito tênue. Toda a


construção da sexualidade humana é indissociável da integração cultura e
biologia.
Morris (2001) mostra que o sexo e a necessidade de procriação
promoveram a evolução, selecionando genes mais fortes, com maiores condições
de sobrevivência. Culturalmente, a reprodução não é mais única razão da
existência da espécie, pois o próprio mecanismo para a reprodução é utilizado
como mecanismo de prazer e diversão. Contudo, essa forma de prazer ainda é
percebida com culpa e medo.
Essa evolução unificada acaba gerando conflitos e dificuldades de vários
aspectos.
Freud (1997b) amplia essa discussão ao afirmar o seguinte:

Acha-se em consonância com o curso do desenvolvimento humano que


a coerção externa se torne gradativamente internalizada, pois um agente
mental especial, o superego do homem, assume e a inclui entre seus
mandamentos. Toda criança nos apresenta esse processo de
transformação; é só por esse meio que ela se torna um ser moral e
social.

O autor discute o fato de a cultura e a civilização produzirem um mal-estar


nos seres humanos, pois existe uma dicotomia entre os impulsos pulsionais e a
civilização, ou seja, entre indivíduo e sociedade.
Albertini (2003) revela que Freud relaciona a civilização com a necessidade
de renúncia de desejo.

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Freud (1997a), explicando essa posição por meio da psicanálise, usa como
modelo o domínio do fogo, sua utilização como um bem cultural a partir da
renúncia à satisfação de um desejo.
De acordo com Freud (1997a, p. 110),

A primeira pessoa a renunciar a esse desejo e a poupar o fogo pode


conduzi-lo consigo e submetê-lo a seu próprio uso. Apagando o fogo de
sua própria excitação sexual, domara a força natural do outro fogo. Essa
grande conquista cultural foi assim a recompensa de sua renúncia ao
instinto.

A adoção da postura ereta teria, então, precipitado uma cadeia inexorável


de acontecimentos, uma série de transformações nesse ser, com uma
sexualidade contínua, mas marcada também por sentimentos de vergonha e
repugnância – sentimentos esses que vão colocar limites à satisfação sexual e
deslocar para outros caminhos. Esse deslocamento da sexualidade é o que
possibilitou a construção da civilização.
Por mais que não estejamos de acordo com algumas regras sociais, elas
são necessárias para manter uma unidade de conduta individual e coletiva,
permitindo uma unificação das ações.
Freud (1997a) afirma que a civilização impõe certa quantidade de privações
e também sofrimentos, seja por seus preceitos, seja por suas imperfeições.
Observa-se que as regras sociais trazem conflitos por suas tendências
antagônicas.
Essa castração social de formatar todos os seres dentro da mesma cultura
representa as regras e normas que afetam a vivência natural que nos diferenciam
dos animais, motivo de constante preocupação entre os organizadores das
sociedades humanas (Barp, 2010).

TEMA 4 – SEXUALIDADE E INFLUÊNCIA DA MÍDIA

A influência que a mídia exerce no cotidiano das pessoas é indiscutível e


preocupante. Crianças e adolescentes recebem o impacto das informações, na
fase de formação de valores, conceitos e comportamento sexual.
Temos uma forte tendência a afirmar que os meios de comunicação
influenciam na formação de valores sexuais e na transformação do corpo e do
sexo em produtos (Barp, 2010).

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Crianças e adolescentes muitas vezes agem utilizando-se de um
mecanismo de anestesiamento da consciência. Atualmente, as redes sociais e os
youtubers, em especial, influenciam as pessoas de forma intensa.
Luft (2000, p. 320) retrata esta influência como fanatismo. Segundo o
dicionário, fanático é:

1. Quem se diz ou acredita ser inspirado por uma divindade;


2. Quem tem zelo excessivo por uma religião;
3. Quem adere cegamente a doutrinas, partidos políticos etc.;
4. Quem tem paixão ardente excessiva por alguém ou alguma coisa.

Podemos concluir que os meios de comunicação, especialmente as redes


sociais, exercem o poder de conduzir por meio de regras e normas impostas pela
diversidade de comportamentos. Muitas informações e modelos impostos podem
afetar negativamente a formação da personalidade e a percepção saudável de
sexualidade. Os meios de comunicação, segundo Barp (2010), chegam trazendo
informações muitas vezes despercebidas e possuem uma tendência de mostrar o
corpo, o ser humano e o sexo como mercadoria de valores diversos que
correspondam a uma visão de mundo de cada um.
Para Ferrés (1998, p. 43), “os meios de massa audiovisuais são
precisamente uma gigantesca indústria de sonhos e mitos, uma poderosa
indústria de criação de associações emotivas”.
A vida sexual das pessoas acaba sendo alvo das mídias e do marketing,
não apenas em relação ao sexo, mas também à mercadoria de consumo de tudo
que o envolve. Todos os objetos de sedução acabam fazendo parte desse
estímulo que aumenta cada vez mais os lucros, ocorrendo um constante assédio
por um ambiente sexual.
A mulher é colocada como referência ou objeto de prazer associado ao
consumo de determinado produto, despertando interesse nas pessoas que
desejam ser como tal modelo. Fabricantes vendem aos consumidores a ilusão do
prazer que será desfrutado ao adquirirem o produto.
Como o prazer oferecido não é proporcionado pela mercadoria comprada,
o que acaba restando é buscá-lo.
Essa busca passa a ser uma necessidade e, assim, altera o
comportamento, o que acaba modificando a biologia, comenta Barp (2010).
É possível fazermos um comparativo entre a modernidade e o mito da
caverna de Platão, ou seja, as mídias sociais hoje mostram uma realidade que é
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aceita pelos habitantes da caverna e as visões que a grande massa humana
pensa ser realidade. As pessoas, pelo medo de viver suas experiências, vivem
suas realizações e emoções por meio dos personagens de séries, novelas e
youtubers.

TEMA 5 – SEXUALIDADE: PRAZER VERSUS PODER

Para a maioria dos seres humanos, prazer é uma palavra que evoca
sentimentos conflitantes. Ocorre uma associação com o que é agradável e a tudo
que nos dá esse sentimento de prazer; frequentemente a reação é positiva e boa,
mas tolhida por medos e receios. O medo do prazer está ligado a uma sensação
de que o prazer nos leve a caminhos perigosos, de esquecer as obrigações,
deixando o prazer descontrolado tomar conta. Outra associação ao prazer é uma
conotação lasciva, especialmente em relação ao prazer sexual, vinda de uma forte
influência religiosa, inscrita na história, como o prazer associado a demônios,
tentação e pecado. Segundo Lowen (1984), para os calvinistas, todos os prazeres
eram pecados.
O autor ainda enfatiza que a cultura contemporânea é dirigida mais pelo
ego, ou seja, a própria imagem do que pelo corpo. O corpo estaria escravo da
imagem, da performance e do controle.
Lowen (1984, p. 10) comenta que:

O poder se transformou no principal valor, reduzindo o prazer a uma


situação secundária. O homem moderno quer dominar o mundo e
comandar o self. Contudo não consegue se livrar do medo que isso seja
impossível, nem da dúvida de que, mesmo se fosse possível, talvez não
fosse bom

Segundo as teorias da psicologia corporal, o prazer é a força criativa que


sustenta a personalidade, a esperança ou a ilusão do homem contemporâneo,
que, ao alcançar seus objetivos, terá uma vida de prazeres. Acabam entrando em
um paradoxo, pois perseguem metas ou consomem produtos que prometem
prazer, mas ao mesmo tempo exigem sua recusa.
Uma linda jovem simboliza poder e força e, portanto, vitalidade. Isso
sustenta o poder da juventude. Todas as oportunidades de ser feliz e ter prazer
derivam diretamente da aparência. Levando-se em conta esse raciocínio,
entende-se que só é feliz quem é jovem. Em virtude disso, mulheres de todas as
idades tentam conseguir, mesmo sob tortura, a imagem de uma mulher bonita,

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jovem e esbelta. Quem não consegue está fadado ao fracasso (Menezes; Mayer,
2004).
A sexualidade contemporânea encontra-se escrava da performance, do
ideal de virilidade em detrimento aos sentimentos reais, humanos, perdendo
assim o potencial criativo e o real prazer.
Lowen (1984) afirma que o prazer é a única força capaz de se opor à
destrutividade em potencial do poder.
A sexualidade idealizada, submetida ao poder, coloca a cultura e o
indivíduo num afastamento do seu verdadeiro eu, sua real essência, produzindo
indivíduos fragmentados. A busca por perfeição faz com que o indivíduo passe a
buscar intensamente validar essa imagem ideal que criou de si mesmo.

5.1 Narcisismo versus prazer

A psicologia corporal percebe esse distanciamento do self e o culto à


imagem por meio do narcisismo.
Lowen (1983, p. 9) retrata o narcisismo como uma condição psicológica e
uma condição cultural:

Em nível individual indica uma perturbação da personalidade


caracterizada por um investimento exagerado na imagem da própria
pessoa à custa do self. Os narcisistas são mais preocupados com o
modo como se apresentam do que com o que sentem. [...] Em nível
cultural, o narcisismo pode ser considerado como perda de valores
humanos – uma ausência total de interesse pelo meio ambiente, pela
qualidade de vida, pelos seres humanos e seus semelhantes.

O narcisismo e a cultura caminham juntas. Um não pode ignorar o outro. A


cultura é modelada pela imagem, e a imagem é modelada pela cultura.
O indivíduo que está em contato com seu self vivencia seu corpo
diretamente através da sensação e tem uma imagem dele. Portanto tem contato
e autoaceitação, pois se identifica com seu corpo e com suas sensações. Já o
sujeito narcisista não tem essa consciência, mas sim uma ruptura entre o ego e o
self. Todas as suas realizações estão voltadas para ampliar e confirmar a própria
imagem.
De acordo com Lowen (1983, p. 38), “a autoaceitação é o que está faltando
nos indivíduos narcisistas, que dissociaram seus corpos, de modo que a libido é
investida no ego e não no corpo ou self. Sem autoaceitação não há amor do self”.
Entendemos, assim, que a autoaceitação está diretamente relacionada à
identidade, pois esta provém de uma sensação de contato com o corpo. Uma vez
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que os valores da sociedade de massa são o sucesso e o poder, quem os aceitar
se tornará um indivíduo de massa correndo o risco de perder sua identidade.
O poder é antagônico ao prazer. Segundo Lowen (1984), o prazer se
origina das sensações e de energias dentro do corpo, e entre o corpo e seu meio.
O poder se desenvolve pelo represamento e controle da energia. O prazer é uma
sensação de harmonia entre o organismo e seu ambiente. Obtendo poder sobre
a natureza, o homem foi obrigado aos inúmeros controles que impôs ao seu
ambiente.
Para que a sexualidade possa ser algo natural, é preciso integração do
organismo no funcionamento da vida emocional. Urge, assim, a necessidade da
ressignificação da sexualidade, em que a dimensão biológica e a dimensão
cultural se encontrem na unidade e não no confronto.

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REFERÊNCIAS

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v. 14, n. 2, São Paulo, 2003.

_____. Reich: História das ideias e formulações para a educação. São Paulo:
Ágora, 1994.

ALBERTINI, P.; MATHIESEN, S. Reich em diálogo com Freud: estudos sobre


psicoterapia educação e cultura. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

AQUINO, J. G. (org.). Erro e fracasso na escola: alternativas teóricas e práticas.


São Paulo: Summus, 1997.
PINTO, E. B. Orientação sexual na escola: a importância da psicopedagogia
nessa nova realidade. São Paulo: Gente, 1999.

BARP, M. R. T. Sexualidade humana e evolução sexual. Porto Alegre:


ALTERNATIVA, 2000.

_____. Sexualidade humana e evolução sexual. Porto Alegre: Alternativa, 2010.

DIAMOND, J. Por que o sexo é divertido? Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

FERRÉS, J. Televisão subliminar: socializando através de comunicação


despecebidas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

FREUD, S. Mal-estar na civilização. São Paulo: Imago 1997a.

_____. O futuro de uma ilusão. São Paulo: Imago, 1997b.

LOWEN, A. Narcisismo: negação do verdadeiro self. São Paulo: Cultrix, 1983.

_____. Narcisismo – prazer: uma abordagem criativa. São Paulo: Summus 1984.

LUFT, C. Minidicionário Luft. São Paulo: Ática, 2000.

MENEZES, A.; MAYER, L. A mulher e o sagrado. In: Convenção Brasil Latino-


América, Congresso Brasileiro e Encontro Paranaense de Psicoterapias
Corporais. Foz do Iguaçu. Anais... Centro Reichiano, 2004.

MORIN, E. O enigma do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

MORRIS, D. O macaco nu. São Paulo: Círculo do Livro, 1975.

MURARO, R.M.; BOFF, L. Feminino e masculino: uma nova consciência para o


encontro das diferenças. 4. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.

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AULA 2

SEXUALIDADE HUMANA

Prof.ª Evelyse Iwai dos Reis Teluski


INTRODUÇÃO

São inúmeros os caminhos já percorridos na história da humanidade, em


relação à sexualidade, mas poucos tratam sobre sexo efetivamente.
Em muitos textos religiosos da tradição judaica cristã ou da mitologia, o
tema sexualidade aparece de forma associada a punição, e não como forma do
desenvolvimento humano que influencia comportamentos e desejos e tem
importante papel de suas relações.
Conhecer a evolução da história da sexualidade nos permite ver
transformações das sociedades humanas, abrindo perspectivas para perceber
como ainda a análise cultura contemporânea encontra-se influenciada, bem como
podemos traçar perspectivas para o futuro. Verificamos a normatização da
sexualidade bem como preconceitos oriundos da história de muitas culturas.

TEMA 1 – SEXUALIDADE E RELIGIÃO

A história da sexualidade é marcada por muitas faces, mas principalmente


pelo controle e influência da religião.
A Igreja ditava as normas de conduta e também as punições e sacrifício
de acordo com o pecado cometido.
Esse controle, que não era apenas sexual, mas econômico, social e moral
imposto pela Igreja, refletia-se no modo de vida da religião do passado, e a cultura
da mídia, do poder econômico da presente população. No mundo contemporâneo,
a vivência é diferente da dos nossos ancestrais, mas continuamos impregnados
da cultura religiosa que nos formou e informou (Barp, 2010).
De acordo com Nietzsche (2017, p. 74), “O desprezo da vida sexual e
inculcá-lo com o conceito de impureza é um verdadeiro delito contra a vida”.
As observações de Nietzsche (2017) nos permitem afirmar que as
interpretações bíblicas trazem ensinamentos que vão contra a natureza humana.
Devemos levar em conta que a Bíblia pode ter sido alterada com o que regia em
cada época, a cada nova edição e a cada nova tradução.
Freud (1997) refere-se à religião como fator preponderante a constituir o
psiquismo de uma civilização, Segundo ele, o surgimento da religião ocorreu em
função da necessidade de controlar e também atender a gerações cristãs, o que
impedia muitas discussões e práticas acerca da sexualidade. O sentimento de
pecado e punição estava muito presente, em que uma ameaça era suficiente para

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que ninguém ousasse fazer o que a Igreja não permitisse. Segundo a psicanálise,
a base de toda religião está na necessidade do homem de humanizar a natureza
e vê-lo como um pai. De acordo com essa ótica, toda religião traz o reflexo de uma
relação de pai e filho, estabelecendo-se dessa forma o poder da religião. Muitos
séculos foram necessários para esclarecer nossa incapacidade de questionar e o
grande poder que a Igreja exerceu e ainda exerce sobre nós.
De acordo com Barp (2010), aceitamos até hoje explicações culturais que,
mesmo não sendo autênticas, são passadas de gerações em gerações.
Freud (1997) retrata que muitos dos nossos antepassados nutriam as
mesmas dúvidas que nós, mas a pressão a eles impostas foi forte demais para
que se atrevessem a expressá-las.
O ponto a se verificar é a diferença que existe entre a cultura dos que foram
educados dentro de preceitos religiosos repressivos e a cultura dos que foram
criados de forma menos repressiva e mais liberal em sua vivência da sexualidade.
Para muitos, sexo é motivo de vergonha e traz o sentimento de pecado; para
outros, sexo é possibilidade de prazer e vivência corporal
Dentro dessas expressões e explicações sobre o controle sexual a que
estamos submetidos até hoje, não apenas a Igreja, mas toda mitologia refletiam
as primeiras interferências da religião sobre a sexualidade.

TEMA 2 – SEXUALIDADE PRIMITIVA MÍTICA

Desde o homem primitivo, havia o conflito da sua relação com sua


natureza, e seu corpo estava presente juntamente com o mundo em que se
encontrava inserido. Tentando integrar essa vivência, foram produzidos mitos e
símbolos para dar sentido à existência. A mitologia, de acordo com estudos
contemporâneos, é considerada uma verdadeira ciência, pois apresenta-se como
metodologia própria. Constitui-se com função social expressando, por meio de
narrativas místicas, a importância que exercia na vida de comunidades, traduzindo
de forma figurada o que não pode ser expresso de modo direto.
Podemos nos valer de atributos para trazer à tona alguns elementos que
retratavam a sexualidade e compreender impactos do controle da sexualidade
pela religião.
Era uma etapa em que sexo, sagrado e magia estavam juntas ao fenômeno
da vida:

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Entre os seres humanos, em nenhum lugar o sexo permaneceu
meramente um ato físico para aliviar certas tensões corpóreas. Ele
transformou-se dentro de todas as sociedades humanas, para tornar-se
uma área básica para moralidade e a organização da sociedade. Numa
distância ainda maior da biologia, ele gerou temas que passam através
da religião e da arte, assim participa de sistemas simbólicos
exclusivamente complexos. (Gregersen, 1983, p. 17)

Sociedades semidivinizadas do Oriente Médio tinham como característica


o culto à deusa mãe ou Terra-mãe, que representava a fertilidade. A
representação simbólica dos cultos se dava pela veneração das partes sexuais
femininas, mais especificamente a vagina, representada por um triângulo. Nunes
(1997) revela que a exaltação e divinização do sexo feminino podem ser
explicadas pela falta de uma relação adequada, na mente do homem primitivo,
entre a causa e efeito da fecundação, ou seja, por desconhecimento
A deidade feminina está intensamente presente na cultura de povos da
Antiguidade.
Na cultura judaico-babilônica, está ligada à paternidade e à relação entre o
ato sexual e a gravidez de noção de tempo apropriada. A religião ligada à magia
se caracterizava como representação desses povos. O sexo tinha uma ligação
com o sagrado. Também nesse período observa-se a presença do matriarcado.
Esse poder sagrado que as mulheres possuíam corresponde a uma
representação simbólica que expressa religião, sexo, crenças e lendas.
Algumas sociedades atuais na África e Oceania e Ásia vivem semelhantes
estágios. Nunes (1997) afirma ainda que na Pré-história, especialmente no
Período Paleolítico, aparecem as primeiras manifestações artístico-culturais do
homem, que, além de retratar em suas pinturas rupestres a magia, a caça, outro
tema aparecia: a mulher e a fertilidade. O autor ainda acentua que no Período
Neolítico, por volta de 9000 a. C., ocorreram grandes transformações climáticas,
e o aumento generalizado da população trouxe a escassez da caça e da pesca,
obrigando a uma maior sedentarização e à substituição pela caça pelo pastoreio.
A agricultura, a fiação e a facelagem eram funções das mulheres, mas as
transformações sociais provocadas pela sedentarização, pela produção de
excedentes, pela perda da identidade de caçador por parte do homem levaram ao
surgimento de um novo grupo social, com as primeiras formas de religião
dominadas pelo homem e pela função de chefe, surgindo também as primeiras
formas de manifestações patriarcais. Essa passagem ocorre em muitas
sociedades, em que havia a submissão da mulher e sua semiescravização
cultural: “As funções da mulher são usurpadas pelos homens e, em decorrência,
4
surgem as representações simbólicas do poder masculino, os deuses são
machos, as leis, funções e organização militar e religiosa são privilégios
exclusivos dos homens” (Nunes, 1997, p. 60).

TEMA 3 – MODELO PATRIARCAL

O mundo patriarcal tem origem no Oriente Médio por volta do oitavo milênio
a.C. A Bíblia relata, desde as primeiras narrações, algumas representações que
podem ter sido distorcidas e interpretadas de forma a acentuar o patriarcado.
Entre os hebreus, a mulher era um ser inferior ao homem, não podendo participar
ativamente da religião a não ser pela obediência e autorização do marido. A
adúltera era apedrejada, e a menstruação tida como impureza. A mulher era
discriminada e semiescravizada pelo marido, pai, ou senhor.
Passando o período mítico, surge o advento das civilizações urbanas no
mundo antigo. O sexo gradualmente perde seu caráter mítico e passa a ser
racionalizado e controlado. Nunes (1997) refere-se a essa etapa em que se
distingue se sexo de reprodução e da fecundidade e é introduzida a noção de
prazer. Essa distinção coloca a mulher na dupla condição de reprodutora mãe e
uma mulher instruída nas artes do amor. Fica acentuada a divisão do trabalho,
fazendo com que os homens tomem o controle da produção e reprodução da vida.

3.1 Tabu da virgindade

O tabu que envolve a virgindade nos permite compreender como aspectos


históricos do patriarcado continuam presentes como regras de comportamento
sexual. O tabu da virgindade, segundo Nunes (1997), foi uma das grandes formas
de dominação da mulher, pois reduz seu valor, seu ser, suas potencialidades a
um selo virginal.
A história retrata que, por conta da cultura patriarcal, o pai mantinha a filha
virgem para trocá-la por uma aliança comercial. A sociedade já exerceu um
controle muito grande sobre a mulher com o tema virgindade.
Atualmente parece ser mais difícil manter o controle e a imposição dessa
exigência social, pois muitos movimentos trazem críticas severas a essa forma de
percepção. Outra reflexão atribuída ao tema é a supervalorização da genitalidade,
reduzindo o amplo aspecto que envolve a sexualidade. Nunes (1997) retrata que

5
o tema virgindade pede a dignidade que se confere a ela, que é a possibilidade
de escolha, em uma doação, em uma integridade.
A estrutura familiar patriarcal reforça o machismo desde a infância e educa
o menino para exibir seu sexo e ostentá-lo orgulhosamente. Acabamos repetindo
as mesmas estruturas machistas e repressoras, repetindo a matriz que se dá num
nível de macroestruturação social, em que prevalece o poder, a dominação e a
expropriação (Nunes, 1997).

TEMA 4 – SEXUALIDADE NA IDADE MÉDIA

Por volta do século V, surge a chamada civilização cristã, e ocorre nesse


período a queda do império Romano e a emergência da Igreja como instituição,
emergindo o predomínio dos valores espirituais, estimulados pelo medo das
condenações eternas. A sexualidade, segundo Nunes (1997, p. 55), passa
novamente ao controle religioso: “O corpo é o lugar da maldade demoníaca
‘cárcere da alma’. Dominar o corpo e reprimir o sexo constitui o ideal da vida
cristã”.
Nesse período, o celibato era o ideal de perfeição, e a expressão da
sexualidade só era permitida com o sério propósito da procriação, perdendo-se
novamente a dimensão do prazer. De acordo com essa mentalidade, o sexo
estava preso à ideia de pecado.
Vale ressaltar que esse período teve muitas influências da cultura judaica,
tendo como característica o posicionamento contra o sexo, sendo marcada pelo
conceito de que as mulheres eram impuras, surgindo a implantação de rituais que
“purificavam” as mulheres durante e após as menstruações, terminando no
período ovulatório. Nessa sociedade, o prazer sexual era um privilégio atribuído
somente aos homens.

4.1 Teologia de Santo Agostinho

A teoria de Santo Agostinho foi a que teve grande impacto nas percepções
sobre a sexualidade. Agostinho foi teólogo cristão, e suas teorias se embasavam
na ideia de que o pecado era transmitido por meio do ato sexual pelas gerações.
Esse teólogo trazia o Cristianismo como proposta para toda doença relacionada
ao corpo e ao desejo.

6
A relação sexual era possível dentro do matrimônio, contudo havia a
presença do uso do cinto de castidade na tentativa de impedir relações sexuais
fora do casamento.

TEMA 5 – SEXUALIDADE E RENASCENÇA

Esse período histórico chamado Renascimento (séculos XV e XVI) foi


marcado por grandes transformações sociais, econômicas, culturais, políticas e
religiosas.
No final da Idade Média e início da Renascença, o corpo e a beleza física
ganharam destaque histórico. O pensamento renascentista influenciou pintores,
escultores e artistas em geral, e a arte renascentista celebrou abertamente o corpo
nu.
Por volta do século XVIII, período marcado pelo racionalismo, a
sexualidade foi associada à procriação em detrimento ao prazer.
Albertini (2003) pontua que, com o fim do monopólio da Igreja, surge a
ciência moderna, o produto mais nobre da razão, com suas regras fundamentadas
na observação e na experimentação. Nesse período, o controle da sexualidade
deixa de ser influenciada pela religião e passa a ser controlada pela ciência.
A nova sociedade precisava de muita energia sexual, e a repressão da
sexualidade era muito intensa. O ápice desse modelo ocorreu com a
compreensão repressora da sexualidade na época da Rainha Vitória, a era
vitoriana. O puritanismo era pregado com maior ênfase e a tentativa era pregar o
autocontrole para modificar o comportamento desregrado vindo da Idade Média.
O sexo era controlado e submetido a regras e normas, sendo justificado pelo
respaldo científico.
Marçal (1997) comenta que, nesse período, essas transformações
resultaram num novo modo de produção e também da consolidação da ciência da
tecnologia e da razão.

5.1 Características da influência da ciência na sexualidade

• Vigilância médica: a medicina passa a estabelecer o que deveria ser


praticado;
• Interterdição maior para as mulheres, que deveriam ser mais recatadas e
com ausência de desejo sexual;

7
• Relações sexuais com mulheres na menopausa era um abuso à saúde
pública;
• O sexo era responsável por transmissão de muitas doenças sexuais,
inclusive demências;
• Condenação da masturbação como recomendação médica, pois a prática
poderia desenvolver tumores, podendo levar à morte.

No século XVIII fica mais evidente a compreensão da teoria científica


relacionada ao sexo. A sexualidade no aspecto da medicina só era validada no
aspecto biológico, e a parte do comportamento sexual não tinha importância.
A medicina, ao relacionar a sexualidade à reprodução, intensificou o
distanciamento entre sexualidade e subjetividade.
De acordo com Aquino (1997), “A sexualidade mostrava-se alheia ao
interesse do indivíduo, já que foi proposta pela medicina com interesse, e era
entendida como fenômeno ligado ao funcionamento orgânico do aparelho
reprodutor, a sexualidade deve se submeter as leis do corpo”
Observamos que essa visão fragmentada da sexualidade teve sua origem
nesse período e atualmente ainda permanece na percepção de grande parte da
população.

5.2 Ars Erótica e Scentia Sexualis

Michael Foucault (2019) traz uma reflexão contemporânea sobre a história


da sexualidade, retratando que ao longo do tempo a sociedade fez uso abusivo
do poder, por meio das instituições como as escolas, trazendo uma dominação
sobre a sexualidade. No primeiro volume do livro História da sexualidade, Foucault
(2019) relata a sexualidade ao longo dos séculos, fazendo um paralelo com a
sociedade atual, refletindo poucas mudanças no que diz respeito ao controle da
sexualidade.
Foucault (2019) Propõe a existência de duas formas básicas de
apropriação do saber sexual: Ars Erotica Scientia Sexualis.

5.2.1 Ars Erotica

Conjunto de técnicas, um saber prático ao mesmo tempo espiritual e físico,


que frequentemente teve uma forma literária poética, dirigindo o prazer sexual
associado ao reconhecimento de suas diversas intensidades, confunde-se com o

8
sagrado, envolve a busca de maior prazer associada as experiências místicas.
(Aquino, 1997).
Há muitos exemplos históricos de culturas e religiões que a praticaram, tais
como o hinduísmo védico, o taoísmo chinês, a Grécia e Roma clássicas. Com
opiniões divergentes, alguns historiadores relatam que Ars Erotica não teria
desaparecido do Ocidente cristão, mas alguns autores apontam que algumas
formas de arte possuíam essa vertente: como Ovídio, o amor cortês e a poesia
trovadoresca.
Foucault (2019, p. 79) reforça o pensamento:

Existiu a confissão cristã, e sobretudo na direção espiritual e no exame


de consciência, na procura da união espiritual e do amor de Deus, toda
uma série de procedimentos que se aparentam com uma arte erótica:
Orientação, pelo mestre, ao longo de uma via de iniciação, intensificação
das experiências através do discurso que os acompanha

5.2.2 Scientia Sexualis

Segundo Foucault (2019), uma forma de saber desenvolvida a partir do


século XVII, ponto-chave da apropriação da sexualidade pelo discurso científico,
a medicina, ao buscar a causa científica da biologia, deslocou o plano de análise
da sexualidade humana, logo a sexualidade passou a ser vinculada à função
reprodutora, forçando o distanciamento entre a sexualidade e a subjetividade. Ao
afirmar a positividade do sexo que visava a reprodução, a biologia e a medicina
criaram automaticamente um campo em que a sexualidade teria por objetivo a
reprodução e seria normal sua manifestação enquanto o aparelho reprodutivo
estivesse funcionando. Logo ela deveria se manifestar apenas na puberdade e
durar até o término da atividade reprodutiva, sendo anormais a manifestação da
sexualidade na infância e na velhice.
Foucault (2019) diz que sexo se tornou assunto do Estado, preocupado
com o controle demográfico e as suas implicações econômicas. Relata que, em
nome de uma urgência biológica e histórica, eram justificado os racismos oficiais
e fundamentados como verdade. Havia ainda uma comparação da sexualidade
humana com a fisiologia da reprodução animal ou vegetal, com argumentos de
fraco teor, não somente de cientificidade mas de racionalidade, muito confusos na
percepção de Foucault (2019, p. 61):

Parece o sexo se inscrever-se em dois registros de saber bem distintos:


Uma biologia da reprodução desenvolvida continuamente segundo uma
normatividade científica geral e uma medicina do sexo obediente a regas

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de origem inteiramente diversas. Entre uma e outra nenhum intercâmbio
real, nenhuma estruturação; a primeira desempenhou apenas, em
relação a outra, o papel de uma garantia longínqua e, ainda assim, bem
fictícia: de uma caução global sob cujo disfarce os obstáculos morais, as
opções econômicas ou políticas, os medos tradicionais, podiam
reescrever num vocabulário de consonância científica.

Fica evidente que essa distância entre biologia e cultura encontra-se


presente nos discursos atualmente, contraste que, além de ainda estar presente
na medicina, também aparece no discurso de educadores.
A medicina do século XVIII, querendo buscar a cientificidade biológica, para
fundamentar seu discurso normativo sobre sexualidade, fez um deslocamento
para o discurso pedagógico.
No livro História da sexualidade, v. 1, Foucault (2019) retrata quatro
grandes conjuntos estratégicos como forma de poder do discurso científico:

• Histerização do corpo da mulher: corpo sexualizado foi associado ao


efeito de uma patologia. Posto em função de corpo social, cuja fecundidade
regulada, deveria assegurar a reprodução;
• Controle da sexualidade das crianças: ser necessário o controle da
sexualidade da criança, de modo que pais, educadores e médicos se
encarregavam dessa repressão;
• Socialização das Condutas de procriação: medidas sociais repressoras
a fecundidade dos casais;
• Psiquiatrização do prazer: o instinto sexual foi isolado por meio de uma
análise clínica de todas as formas de anomalia e estabelecida uma
normalização e patologização de toda conduta.

Até a chegada de Freud com a psicanálise, essas normas se mantêm nos


tratados da sexologia do século XIX, que apontavam os perigos das práticas
anticoncepcionais, males da masturbação, fazendo da sexualidade uma norma
difícil de ser discernida na vida cotidiana, e da escola um campo de batalha contra
a sexualidade da mulher, da criança e do adolescente, o casal malthusiano.
O sexo vem sendo proibido, mascarado desde a época clássica. As
práticas sexuais até o final do século XVII por regras, leis normas, linha divisória
entre o lícito e o ilícito mostra (Batista, 2008).

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5.3 Período da descompressão sexual

Freud foi um dos principais revolucionários a desmistificar as concepções


clássicas a respeito do instinto sexual, redefinindo o conceito de sua origem na
infância e elucidando que a sexualidade nasce paralelamente a uma atividade
vital.
A partir da metade do século XIX, ocorre a descompressão sexual, fato
ligado à possível perda da hegemonia europeia sobre o mundo. Foi o século de
rupturas com toda repressão sexual vivida nos séculos XVI, XVII e XVIII.
O reflexo atual no mundo contemporâneo é sobre a mecanização do sexo
com a qual a atual geração convive: o prazer perde lugar a para o desempenho e
a performance sexual. Temos o sexo, a pornografia, produtos diversos ligando o
sexo ao consumo, a figura da mulher estigmatizada e as relações com menos
intimidade. Nunes (1997, p. 43) retrata que o sistema atual permite a manifestação
quantitativa da sexualidade, mas não a humanização e o afeto, que são aspectos
qualitativos: “Quando vivemos novas relações humanas solidárias e prazerosas,
sem a matriz da dominação e exploração, é que podemos estruturar novas formas
de relações sexuais”.
Mesmo com maior liberdade e espaço conquistados, continuamos a
reflexão sobre os tabus que ainda permeiam o tema sexualidade.

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REFERÊNCIAS

ALBERTINI, P. Reich e a possibilidade do bem-estar na cultura. Psicologia USP,


v. 14, n. 2, São Paulo, 2003.

AQUINO, J. G. Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. 6. ed.


São Paulo: Summus, 1997.

BARP, M. R. T. Sexualidade humana e evolução sexual. Porto Alegre:


Alternativa, 2010.

BATISTA, C. A. Educação e sexualidade: Um diálogo com educadores. São


Paulo: Ícone, 2008.

FOUCAULT, M. História da sexualidade – A vontade de saber. São Paulo: Paz


& Terra, 2019.

FREUD, S. Mal-estar na civilização. São Paulo: Imago 1997.

GREGERSEN, E. Práticas sexuais – a história da sexualidade humana. São


Paulo: Livraria Roca, 1983.

NIETZSCHE, F. Grandes obras de Nietzsche: Assim falava Zaratustra; Ecce


Home; O Anticristo. Tradução de José Mendes de Souza. 2. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2017.

NUNES, C. A. Desvendando a sexualidade. 2. ed. CAMPINAS, SP: PAPIRUS,


1997.

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AULA 3

SEXUALIDADE HUMANA

Prof.ª Evelyse Iwai dos Reis Teluski


TEMA 1 – O INCONSCIENTE

A contribuição dos estudos de Sigmund Freud foi decisiva para que hoje
fosse reconhecida a existência da sexualidade infantil. Formado em neurologia,
Freud dedicou-se a estudar a neurose e organizou uma teoria chamada
psicanálise. Até a época de Freud, os tratados de sexologia do século XIX
apontavam para os perigos da sexualidade, sendo a causadora de doenças
nervosas, fazendo da sexualidade algo a ser combatido e difícil de ser inserida na
vida como natural.
A edição de 1905 dos Três ensaios sobre a sexualidade afirma com maior
ênfase que a sexualidade nasce paralela a uma atividade vital. Souza (1997)
retrata que a sexualidade nasce apoiada numa função biológica, e a característica
dessa análise traz a noção fundamental de sexualidade para a psicanálise.
Freud, que desmonta alguns conceitos e evoluciona o entendimento sobre
a concepção biológica separada da subjetividade, distinguiu a normalidade de
anormalidade, elucidando que tinha influências de ordem biológica, estatística,
moral e social.
As superfícies do corpo são encarregadas de uma função vital, das quais
surge a sexualidade.
Freud criou a teoria do funcionamento mental. Durante muito tempo, os
problemas mentais eram tratados como doenças exclusivamente físicas. Alguns
médicos, como o francês Jean Martin Charcot, usavam a hipnose para curar suas
pacientes. Ocupando-se dos estudos sobre a paralisia surgidas depois dos
traumas, Charcot descobriu que essas paralisias eram consequências de
representações do psiquismo.
Freud, não satisfeito com o método da hipnose, se dedicou ao estudo do
inconsciente, por meio do método da livre associação. Fundou a psicanálise e
defendeu a ideia de que os desequilíbrios emocionais eram consequência de um
complexo aparelho psíquico, dinâmico de forças antagônicas.
As reflexões de Freud sobre o inconsciente em 1915 tiveram destaque
dentro de sua teoria psicanalítica, juntamente com os temas sexualidade,
psicoses, histeria, sonhos etc. Com efeito, possibilitou muitas curas método
fundado por Freud.
A psicanálise deu início ao entendimento das neuroses e formulou ideias
revolucionárias sobre a mente e o inconsciente. Freud, considerado o pai da

2
psicanálise, revolucionou a medicina com seus conceitos sobre o significado dos
sintomas. A descoberta predominante de Freud é a de que o sintoma nos
possibilita compreender a doença.
Criou o termo instâncias psíquicas, cujas funções estão interligadas entre
si, representando estruturas na mente e chamou-as de aparelho para mostrar
essa organização psíquica dividida em sistemas, cujas funções estão interligadas
entre si, representando estruturas na mente.
Volpi e Volpi (2003) mostram que a teoria de Freud passou por fases:
inicialmente formulou a primeira tópica, conhecida como teoria topográfica, e
posteriormente trouxe a segunda tópica, conhecida como teoria estrutural ou
dinâmica. Propôs que o aparelho psíquico é constituído por investimentos
energéticos em três sistemas: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente.
Segundo Sigmund Freud (1976), o pré-consciente está localizado entre o
inconsciente e o consciente, as informações transitam do inconsciente para o
consciente e vice-versa, e tem a possibilidade de tornar-se consciente de forma
fácil. Volpi e Volpi (2003) destacam que as características do pré-consciente são:

• Elabora sucessão cronológica das representações;


• Preenchimento de lacunas entre ideias isoladas.

O sistema inconsciente é a parte mais antiga do aparelho psíquico. Volpi e


Volpi (2003) afirmam que o inconsciente, conhecido por meio de sua expressão
do consciente, é considerado a matéria viva da vida psíquica, onde estariam os
elementos instintivos não acessíveis à consciência. O material que foi excluído da
consciência pelos processos psíquicos atua por meio do chamado processo
primário englobando um conjunto de mecanismos de censura e repressão. Essa
energia censurada não permite ser lembrada, mas não se perde, permanecendo
no inconsciente. Segundo a teoria freudiana, a maior parte do aparelho psíquico
é inconsciente.
Volpi e Volpi (2003) retratam as regras de funcionamento do inconsciente:

• Ausência de cronologia;
• Ausência de contradição;
• Predomínio do princípio do prazer;
• Igualdade de valores para o mundo interno e externo.

3
O consciente é responsável pela percepção do mundo psíquico, inclui tudo
de que estamos cientes e é um amortecedor das sensações, trazendo consciência
atualizada e impressões do mundo interno e externo.
No desenvolvimento do seu trabalho, a teoria do inconsciente permitiu o
entendimento da formação de trauma do indivíduo. Na investigação da origem dos
traumas, ele apresentou que o início dos conflitos está na repressão sexual sofrida
pelos indivíduos na fase infantil.
Característica do inconsciente:

• Nunca foram conscientes;


• Informações excluídas que não podem ser lembradas;
• Lembranças traumáticas.

TEMA 2 – CONCEITOS SOBRE A SEXUALIDADE

Na teoria sexual de Freud, a organização da sexualidade de forma mais


ampla tem a força da estruturação do próprio psiquismo. Com isso, Freud
abandona o polo da biologia para aproximar-se de uma percepção cada vez mais
psíquica da sexualidade. A obra Três ensaios sobre a sexualidade foi motivada
pelas observações clínicas da importância de fatores sexuais na neurose de
angústia e na neurastenia (Volpi; Volpi, 2003).
Volpi e Volpi (2003) mostram que Sigmund Freud definiu alguns conceitos:

• Pulsão: impulso energético interno que direciona o comportamento do


indivíduo;
• Objeto sexual: ação para qual a pulsão impele;
• Zona erógena: partes do corpo que produz sensação prazerosa.

2.1 Pulsão

Freud, em 1916, trouxe o conceito de pulsão como energia situada na


fronteira entre o mental e o somático, uma representação psíquica dos estímulos
que se originam no corpo alcançando a mente, estimulando a busca pela
satisfação.

4
2.2 Objeto sexual

O objeto real ou imaginário pode servir de alvo de uma pulsão. Ex.: a


energia libidinal pode ser dirigida para uma ação, pensamento ou sentimento.

2.3 Zonas erógenas

Volpi e Volpi (2003) ressaltam que estimulações de uma parte da pele ou


da mucosa podem provocar sensações prazerosas de determinada qualidade.
Todo corpo tem a potencialidade de ser erógeno; a zona erógena desloca-se de
uma parte para outra do corpo ou espalha-se por todo ele, como no caso da
histeria, em que o prazer derivado da região genital propriamente dita está
recalcado.
O alvo sexual da pulsão infantil consiste em provocar a satisfação mediante
a estimulação apropriada da zona erógena: que de algum modo foi escolhida. Ex.:
na zona labial, a ação adequada é o sugar, e na sequência do desenvolvimento
das outras zonas, as ações musculares serão substituídas

2.4 Libido

Libido é um vocábulo latino que significa desejo, inclinação, vontade,


apetite ou paixão. Volpi e Volpi (2003) mostram que, no enfoque psicanalítico, a
libido equivale à intensidade da energia dinâmica dos instintos sexuais. A libido,
nas primeiras fases da vida do indivíduo, apresenta-se como instinto de
sobrevivência, como no ato da amamentação. Cada fase do desenvolvimento oral,
anal, fálica genital tem uma relação com a intensidade da libido no corpo. Com o
tempo, a libido separa-se das funções fisiológicas até chegar à descoberta do
objeto.
O termo sexual, em psicanálise, é entendido como tudo que tenha o prazer
como meta, e não apenas o aspecto genital. Volpi e Volpi (2003) ainda trazem o
entendimento de que tudo que é genital é sexual, mas nem tudo que é sexual é
genital.
A libido é a energia responsável pela energia motriz dos instintos vitais, ou
seja, toda conduta ativa e criadora do homem. Essa força movimenta o ser
humano e está presente no nosso desenvolvimento psíquico desde o primeiro
contato com o mundo.

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Na teoria psicanalítica, Freud retrata a libido como uma energia originada
nas pulsões, direcionando o comportamento humano. Sua teoria mostra que a
libido se faz presente em todas as experiências sensoriais da infância, refletindo-
se nas sensações de prazer e desprazer.

• Libido do ego: também chamada libido narcísica, é a libido que é trazida de


volta ao interior do ego, após ter sido retirada dos objetos;
• Libido do objeto: é a libido psiquicamente empregada para investir os
objetos sexuais (Volpi; Volpi, 2003).

Características da atividade sexual infantil:

• Nasce apoiando-se numa das funções somáticas vitais;


• É auto erótica, não conhecendo nenhum objeto sexual;
• Seu alvo sexual acha-se sob o domínio de uma zona erógena.

A vida sexual infantil é especialmente autoerótica, encontrando-se seu


objeto no próprio corpo e sendo suas pulsões parciais e independentes entre si,
sendo pré-genital na medida em que a zona genital ainda não assumiu o seu papel

TEMA 3 – DINÂMICA MENTAL

Na segunda tópica de Freud, foi estabelecida a concepção do aparelho


psíquico, conhecido como modelo dinâmico. Dentro das instâncias, inconsciente,
pré-consciente e consciente, podem ser localizadas outras três instâncias: o id, o
ego e o superego.
O id se encontra mergulhado no inconsciente também caracterizado como
componente biológico, o ego definido como componente psicológico, e o superego
podendo ser definido como componente social (Hall; Lindzey, 1973).

3.1 O Id

O id se integra pela totalidade dos impulsos instintivos. Volpi e Volpi (2003)


retratam que o id, como a tendência de unificar o somático e o psíquico, tem a
conexão com o biológico existente em cada sujeito, é um reservatório, fonte de
energia psíquica. Sendo regido pelo princípio de prazer, o id busca
constantemente (é uma necessidade ou desejo do id) tornar-se uma fonte de
tensão geradora do impulso, e só é aliviada quando essa necessidade encontra
satisfação. A função é redução de tensão.

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3.2 O Ego

O ego pode ser modificado pela influência do mundo externo, curso de


relação com o meio ambiente, adiamento da satisfação, influência do mundo
externo, forçando o id a substituir o princípio de prazer que ali reina pelo princípio
de realidade.
Volpi e Volpi (2003) apresentam as principais funções do ego:

• Coordenação de impulsos internos, garantindo a expressão do mundo


interno sem conflitos;
• Percepção dos estímulos e adaptação a realidade;
• Unificação impulsos contrários do Id em sentimentos e ações aceitáveis.
No ego, a percepção desempenha um papel que no id é o instinto, sendo
assim o ego representa razão e senso comum. Para Freud (1976), o ego tem
origem no inconsciente, sendo a instância psíquica de principal importância. A
função do ego é mediar, integrar, harmonizar os desejos do id e as exigências e
ameaças do superego e as demandas da realidade.

3.3 O superego

O superego representa restrições morais (os impulsos para a perfeição,


incorporando no ego as identificações e proibições parentais) e sociais (valores
morais, éticos, ideais preconceito, crença da cultura): “O superego é de origem
totalmente inconsciente, ditado e composto por objetos internos. O seu efeito:
gerador de culpas resultando angústia e medo” (Zimerman, 1999, p. 84).
Volpi e Volpi (2003) apresentam suas principais funções:

• Auto-observação;
• Consciência moral;
• Censura dos sonhos;
• Repressão;
• Exaltação dos ideais.

Na vida civilizada, ocorre uma luta inerente entre o princípio do prazer e o


princípio de realidade. A criança, quando nasce, é regida pelo princípio do prazer.
Toda energia é direcionada para a satisfação do organismo. A energia sai do
interior do corpo em direção à periferia em busca do prazer. Mas com o
desenvolvimento o organismo, começa a se frustrar na busca de prazer, quando

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então se instala o princípio de realidade. As experiências vão se configurando
como boas ou ruins, prazerosas ou desprazerosas. Se o desenvolvimento ocorrer
de forma saudável, as experiências boas e ruins vão se integrando de forma total.
As energias de desejos, oriundas do id, devem chegar ao nível do ego para
que este possa articular ações das necessidades então impostas.
A meta fundamental da psique é manter um nível aceitável de equilíbrio
dinâmico que aumenta o prazer e diminui o desprazer. A energia que é utilizada
para movimentar todo sistema nasce no id, que é de natureza primitiva, instintiva.
O ego, que emerge do id, existe para lidar com a realidade e as pulsões básicas
do id e agindo ainda como mediador entre as forças que operam no id e no
superego e as exigências da realidade externa. O superego, emergindo do ego,
atua como um freio moral ou força contrária aos interesses práticos do ego,
estabelecendo uma série de normas e regras que definem e limitam a flexibilidade
deste último.
Nesses termos, o propósito é o fortalecimento do ego.
Nunes (1997) retrata que um indivíduo formado sob uma pressão muito
forte do superego no campo sexual faz com que o id, seu reservatório energético,
acumule excesso de energia e ocasiona uma tensão enorme. Biologicamente o
físico reclama um objetivo, que, embora se descubra em processo primário
(sonhos noturnos, conversas no sonhar), anseia por uma real satisfação de si
próprio. Entende-se sexualidade por toda abrangência afetiva da palavra. O ego,
encarregado pelo processo secundário de dirigir-se à realidade, é afetado por uma
pressão muito grande do superego, pois tudo que é sexual lhe é ensinado como
mau e reprovável, mesmo o relacionamento afetivo com outra pessoa. O processo
secundário não responde ao ID no que ele exige; o ego não satisfaz por uma força
muito grande do superego. O social torna-se maior que o biológico (Id) e o
psicológico (ego).
Assim, todo esse conflito de origem sexual é gerador de muita angústia,
novamente vemos as forças da instância biológica e cultural trazendo maiores
reflexões.

TEMA 4 – MECANISMOS DE DEFESA

Para que o ego se mantenha integrado, o indivíduo recorre aos


mecanismos de defesas, que, segundo Freud, são universais: todas as pessoas
fazem uso dele, em maior ou menor intensidade.

8
Os mecanismos de defesa são meios utilizados pelo ego para dominar,
controlar para regular a homeostase psíquica. As qualidades necessárias ao
funcionamento resiliente pressupõem a flexibilidade dos modelos de ajustamento
e de manejo de tais mecanismos, seguidas da criatividade nas formas de
adaptação para vencer a adversidade (Fenichel, 2000)
Do conflito entre prazer e desprazer surge a angústia, e para lidar com os
conflitos, surgem defesas, que têm como finalidade aliviar a tensão interior.
De um modo geral, a defesa incide sobre a excitação interna (pulsão) e,
preferencialmente, sobre uma das representações (recordações, fantasias) a que
está ligada, sobre uma situação capaz de desencadear essa excitação na medida
em que é incompatível com este equilíbrio e, por isso, desagradável para o ego.
Os afetos desagradáveis, motivos ou sinais da defesa, podem também ser objeto
dela.
Mecanismos de defesa são ações psicológicas que têm por objetivo reduzir
manifestações que ameacem a integridade do ego. Vejamos alguns mecanismos
de defesa de que o aparelho psíquico lança mão para lidar com a sexualidade.

4.1 Repressão

Um mecanismo de repelir e manter inconsciente pensamentos, imagens e


recordações ligadas à pulsão aversivos em áreas inacessíveis da mente
inconsciente. Também denominado recalque, é o mais importante dos
mecanismos de defesa, utilizado desde os anos iniciais. Afastamo-nos de
acontecimentos e situações com os quais somos incapazes de lidar no momento.
Mãe de todos os mecanismos de defesa, ao menor sinal de perigo para a
integridade psíquica, a repressão é utilizada pelo ego. A repressão é conceituada
como o bloqueio das energias do id no nível do inconsciente, sendo o mais
primitivo de todos os mecanismos de defesa. A repressão pode também produzir
distorções da realidade, como quando são bloqueadas as lembranças que
poderiam desencadear o escoamento de conflitos básicos para a consciência.
Nunes e Silva (2006) afirmam que o instinto sexual, de todos os instintos,
é o mais reprimido pela cultura e o que mais amplamente se manifesta, seja por
via neurótica ou sadia

9
4.2 Negação

O mecanismo de defesa denominado negação tem como origem a


repressão. Bloqueia percepções do mundo real para evitar o sofrimento, ou seja,
as imagens têm acesso à consciência de modo parcial, contudo são negadas, o
que acaba sendo uma recusa da realidade dentro dos limites da consciência e a
criação de falsas situações para evitar enfrentar (Volpi; Volpi, 2003).
Nunes e Silva (2006) destacam o fenômeno da amnésia infantil que
acontece na maioria dos indivíduos, normalmente uma falta de memória sobre os
seis ou oito primeiros anos de vida.

4.3 Formação reativa

A formação reativa transforma atitudes, sentimentos e impulso em seu


oposto. Ex.: desejos sexuais intensos podem ser transformados em
comportamentos extremamente pudorosos. O indivíduo perderia seu controle
caso cedesse, portanto são sentidos como perigosos; ou seja, tem um sentido de
autopreservação em algo aceitável
Esse mecanismo fica muito em evidência no comportamento de pais e
educadores que lidam com a sexualidade de forma a reprimir, condenar e punir.

4.4 Projeção

Projeção é uma operação que o sujeito expulsa de si e localiza no outro. O


sujeito nega em si próprio características e qualidades que geram desconforto,
atribuindo-as ao outro (Almeida, 1996).
De acordo com Freud (1976), o efeito do mecanismo de projeção busca
romper a ligação entre os representantes ideativos das moções pulsionais
perigosas e o ego, impedindo que seja percebido deslocando para o mundo
externo.
Percebemos um grande incômodo numa parte da população no que diz
respeito à sexualidade alheia. Podemos identificar o surgimento da projeção,
como base de comportamentos e expressões de preconceito e julgamentos
relacionados a sexualidade.

10
4.5 Racionalização

Direciona o organismo para a meta a ser alcançada por meio da


necessidade psíquica, recobrando o equilíbrio de maneira inconsciente,
selecionando e intelectualizando as situações (Almeida, 1996)
Almeida (1996) faz o alerta para não confundir racionalização com
pensamento racional. O pensamento racional leva a razões, ao passo que a
racionalização quer alcançar boas razões para explicar os comportamentos.
Observamos que a racionalização e sexualidade ficou muito presente no
período histórico em que a ciência tomou o controle da sexualidade e toda
explicação era de ordem científica. Ainda observamos esse mecanismo presente
em instituições e educadores quando criam medidas de educação sexual.

4.6 Sublimação

Volpi e Volpi (2003) revelam que a sublimação é a modificação de um


impulso, de forma a ser expresso em conformidade com as demandas do meio,
realizando as atividades humanas. A sublimação é um recalque bem sucedido,
integra e resolve a ambivalência de forma socialmente produtiva, entre
experiências boas e ruins, canalizando impulsos do id para uma postura
socialmente útil e aceitável. O ego se transforma sem bloquear a descarga
adequada.
A sublimação pode transformar passividade em atividade, invertendo os
objetivos no oposto (Fenichel, 2000), e acontece com ênfase na fase da latência,
quando as tendências sexuais da criança ficam desviadas totalmente ou
parcialmente de seu uso próprio e empregados em outros fins. Na vida adulta, a
capacidade de sublimação da libido não expressa, dependendo da intensidade,
pode ocasionar um afastamento da realidade. O equilíbrio está na capacidade de
satisfação direta da sexualidade e capacidade de sublimação (Albertini, 2003).

TEMA 5 – SEXUALIDADE E WILHELM REICH

Reich acreditava na afirmação de Freud de que a sexualidade era o ponto


central dos conflitos emocionais e colocava a repressão da libido como a causa
dos distúrbios físicos e emocionais. Com base no entendimento do funcionamento
psíquico das instâncias id, ego e superego, a teoria reichiana traz à compreensão
que essa dinâmica ocorre também no somático. A criança muito cedo busca o
11
prazer e a satisfação, que são os impulsos e a força do id e vai adaptando sua
musculatura para conter esses impulsos de acordo com as situações de
proibições, ameaças com as quais vai entrando em contato no decorrer do seu
desenvolvimento emocional. Esse avanço do campo somático surgiu com Wilhelm
Reich, médico psicanalista austro-húngaro (1897-1957) que teve sua vida e obra
marcadas pelas propostas e engajamento social.
Nos anos de 1920, foi discípulo de Freud e participou ativamente do
movimento psicanalítico. Albertini (2003) retrata que Reich permaneceu na
associação psicanalítica por volta de catorze anos, onde aprendeu e desenvolveu
suas ideias, contribuindo com a sistematização da técnica terapêutica e
elaborando um conjunto de orientações técnicas que foi intitulado análise do
caráter. A psicanálise na década de 20 vai assumindo direções que vão contra as
percepções de Reich.
Reich foi considerado o autor da revolução sexual, foi muito polêmico e
trouxe muitas contribuições para o entendimento da importância da sexualidade
no desenvolvimento humano.
Os principais pontos da teoria de Reich estão em seu livro, escrito em
1942, A função do orgasmo, no qual ele apresenta os princípios de uma economia
sexual. Segundo Reich (1975), a saúde psíquica depende da potência orgástica,
isto é, da capacidade de entrega no auge da excitação sexual no ato natural. Reich
descobriu que a libido era mais que um conceito psíquico, mas uma energia
concreta presente no corpo.
Volpi e Volpi (2003) revelam que Reich desenvolveu a teoria da
autorregulação do organismo chamada potência orgástica, que, para o senso
comum, estava relacionada ao ato sexual, mas, para Reich, se relacionava num
âmbito maior, em que o indivíduo teria a capacidade de se entregar, livre de
quaisquer inibições, ao fluxo da energia biológica.
O sistema nervoso vegetativo é formado por dois sistemas nervosos
opostos: parassimpático e simpático. O parassimpático produz a expansão e o
simpático responsáveis pela contração do organismo. Esse ritmo pulsatório de
expansão e contração permeia todo universo. A doença mental e psíquica é um
resultado de uma perturbação na capacidade natural do organismo de equilibrar
essas funções.
As energias vitais, em condições normais, regulam-se espontaneamente,
sem dever compulsivo ou moralidade compulsiva. O comportamento antissocial é

12
causado por impulsos secundários que devem sua existência à supressão da
sexualidade natural.
O autor ainda traz que a fonte da energia da neurose está na diferença
entre o acúmulo e a descarga da tensão. A fórmula seria a seguinte:
TENSÃO MECÂNICA→ CARGA BIOELÉTRICA →DESCARGA
BIOELÉTRICA →RELAXAMENTO.
De acordo com Nunes (1997, p. 44),

O indivíduo educado numa atmosfera que nega a vida e o sexo adquire


uma ansiedade-de-prazer (medo de excitação que dê prazer) que é
representada fisiologicamente em espasmos musculares crônicos. Esta
ansiedade-de-prazer é o solo em que o indivíduo recria as ideologias que
negam a vida.

A atmosfera de repressão sexual cria no indivíduo uma armadura corporal


denominada couraça, vista como uma confrontação da atitude social negativa
diante da vida e do sexo. Nunes (1997) ressalta que essa armadura do caráter é
a base da solidão, do desamparo, da ânsia de autoridade, do medo da
responsabilidade, os anseios místicos, a miséria sexual, da rebeldia impotente,
bem como da resignação de um tipo anormal e patológico. Os seres humanos
adotaram uma atitude hostil para o que é vivo dentro deles e, assim, alienaram-
se de si próprios. A couraça impede o contato com sentimentos e emoções
ameaçadoras, mas da mesma forma vai anestesiando para sensações de alegria,
prazer e vivacidade. Acaba sendo um aprisionamento do fluxo da energia de
vitalidade, pois esses bloqueios distorcem o organismo como um todo. A doença
na visão sistêmica reichiana é um processo de interrupção a vida.
Volpi e Volpi (2003) mostra que Reich descobriu ainda que a couraça
possuía uma sequência no corpo, que, ao liberar a musculatura, era possível
liberar emoções, sensações e lembranças que haviam acumulado ao longo da
vida do indivíduo, durante repressões ocorridas nas etapas do desenvolvimento.

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REFERÊNCIAS

ALBERTINI, P. Reich e a possibilidade do bem-estar na cultura. Psicologia USP,


v. 14, n. 2, São Paulo, 2003.

ALMEIDA, W. C. Defesas do ego: leitura didática de seus mecanismos. São


Paulo: Ágora, 1996.

FENICHEL, O. Teoria psicanalítica das neuroses. São Paulo: Atheneu, 2000.

FREUD S. O ego e o id. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

GABBARD, G. O. Psicoterapia psicodinâmica de longo prazo: texto básico.


Porto Alegre: Artmed, 2005.

HALL, C. S. LINDZEY, G. Teorias da personalidade. São Paulo: EPU, 1973.

NUNES, C. A. Desvendando a sexualidade. 2. ed. Campinas SP: PAPIRUS,


1997.

NUNES, C. et al. A educação sexual da criança: subsídios teóricos e propostas


práticas. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2006.

REICH, W. A função do orgasmo: problemas econômico-sexuais da energia


biológica. São Paulo: Brasiliense, 1975.

VOLPI, J. U. H.; VOLPI, S. Da psicanálise à análise do caráter. Rio de Janeiro:


Centro Reichiano, 2003.

ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos. Porto Alegre: Artmed, 1999.

14
AULA 4

SEXUALIDADE HUMANA

Profª Evelyse Iwai dos Reis Teluski


TEMA 1 – DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL: PRINCÍPIO DO PRAZER E
REALIDADE

Desenvolver-se é um processo dinâmico que significa amadurecimento,


evolução e crescimento. Esse processo acontece com todo ser vivo. Quando
passamos pelo processo de crescimento, amadurecemos a anatomia, a
fisiologia e, também, as emoções. A sexualidade é um aspecto desse
desenvolvimento humano que vai da infância à terceira idade. Pinto (1997)
entende a compreensão da sexualidade na formação da identidade em todos os
estágios da vida: “em cada um desses estágios o ser humano está em busca de
responder ao irrespondível: ‘quem sou eu?’”.
O aspecto importante que os autores retratam sobre a sexualidade no
desenvolvimento é que ela não é o fim pela qual a existência se estabelece, mas
o meio para o contato com o outro ser humano. “A sexualidade é por Excelência,
função propiciadora do contato seja ele intra ou interpessoal” (Pinto, p. 62).
Freud concebeu o desenvolvimento da personalidade a partir do conceito
de libido, ou seja, os impulsos que vão buscando prazer em cada fase ou estágio
do desenvolvimento. Em cada fase, o indivíduo deve aprender a resolver certos
problemas específicos, originados do próprio crescimento físico e da interação
com o meio. No decorrer da fase, a pessoa expressa seus impulsos e suas
necessidades básicas dentro de moldes que visam à preservação da cultura.
Todo ser vivo busca junto desse processo o prazer e evita a dor, essa
direção é biológica. Lowen (1975) diz que a dor é vivida como ameaça à
integridade do organismo, contraímos e fugimos de situações dolorosas e
associadas à dor e passamos a sentir ansiedade. O prazer nos coloca em
expansão, e a ameaça nos coloca em contração, forçando o organismo a abafar
os impulsos, gerando a ansiedade. Cedo ou tarde, as defesas são estabelecidas
para abafar a ansiedade.

1.1 Zonas erógenas e desenvolvimento emocional

Freud trouxe o conceito que todo corpo tem potencial de ser erógeno. A
zona erógena se desloca de uma parte a outra no corpo, ou vai se espalhando
por todo o corpo. A vida sexual infantil é autoerótica, encontrando a satisfação
no próprio corpo. Freud identificou, ainda, quatro zonas erógenas principais e

2
cada uma delas ligadas a um estágio do desenvolvimento emocional: olhos,
boca, ânus e genitais. Reich aprofundou essas zonas principais ligadas ao
organismo e no processo de encouraçamento muscular. Baker (1980) retrata os
estágios do desenvolvimento denominado ocular, oral, anal, fálico e genital, e
cada estágio executa suas funções temporárias, servindo a capacidade de sentir
prazer.
O desenvolvimento da personalidade é apoiado na estrutura física do
organismo, as primeiras motivações e ansiedades do ser humano estão ligadas
aos processos fisiológicos.
Com as frustrações e o enrijecimento muscular, o organismo vai formando
a couraça, que aprisiona a energia impedindo-a de chegar livre até o último
estágio do desenvolvimento emocional, que é o genital. Esses bloqueios vão
provocando sintomas nessas zonas erógenas e provocam fixações que
determinam a formação da personalidade.
As etapas para o desenvolvimento da personalidade e libido são: fase
ocular, oral, anal, genital, latência, adolescência, adulta e velhice.
Dandrea (1987) retrata que a maneira como a pessoa resolve os
problemas desses três primeiros estágios e os mecanismos de defesas e
adaptação utilizados são os responsáveis pela estrutura básica da
personalidade.

1.2 O recém-nascido e a mãe

Desde os primeiros anos de vida, o comportamento materno exerce


influência na formação da personalidade.
As crianças, desde muito cedo, consideram os pais como fonte de prazer,
buscando-os com amor, e os pais acabam sendo provedores de amor, alimento
físico e emocional, de contato sensorial. As crianças se mantêm livres e
tranquilas enquanto não se deparam com frustrações, privações, mas, em geral,
o crescimento vem acompanhado de privações de contato, punições e ameaças.
Lowen (1975) retrata que esse processo de desenvolvimento e frustrações
acontece na seguinte sequência: busca pelo prazer → privação → frustração ou
punição → ansiedade e defesa. A defesa, em intensidade, ou em fases muito
primitivas vão se tornando crônicas, em Reich denomina de couraça. A formação
da personalidade passa pelas fases de desenvolvimento da criança, sendo uma
unidade funcional o aspecto psíquico com a estrutura corporal ou atitude

3
muscular, em que podemos compreender a personalidade do indivíduo. Baker
(1980) diz que o bloqueio do funcionamento natura pode começar a ser realizado
antes mesmo de o bebê nascer, através de um útero contraído que iniba sua
movimentação e, logo a pós o nascimento, dependendo da forma como se
recebe o bebê, faz com que ele vá se contraindo, como forma de autoproteção.
Boadella (1985, p. 52) retrata que o bebê passa por uma transição
sensorial entre o amniótico e o terrestre, e a mudança de vida é muito grande.

Antes do nascimento, a criança está dentro de um envelope de água


que a protege antes da entrada final na esfera da atividade terrestre.
Como se estivesse dentro de uma esfera, ele molda sua forma ainda
líquida, que gradualmente, se torna mais condensada. Quando nasce
ele deixa o espaço esférico da água e entra em contato com as forças
direcionais da terra. Quanto mais ele se render a essas forças, mais
sólido se tornará seu corpo, o que é essencial para que ele fique em
pé e aprenda a andar.

Quando o bebê é colocado em contato com o ventre da mãe, ele se sente


mais tranquilo e seguro. O bebê recém-nascido chegou e complexas relações
sociais serão estabelecidas que determinarão a formação da sua personalidade,
retrata Boadella (1985).
Após o nascimento, autores da psicologia objetal enfatizam a importância
dos cuidados nos primeiros anos de vida, sendo que Winnicott denominou como
fases de amadurecimento do psiquismo no corpo.
Segundo Winnicott (1975), todo ser humano é dotado de uma tendência
inata ao amadurecimento. Esse processo se inicia após a concepção e continua
ao longo da vida do indivíduo. Essas etapas ou estágios são enumerados.
Durante esse processo de amadurecimento, Winnicott afirma a
importância da etapa mais primitiva da vida, a fase de dependência absoluta, na
qual o bebê pode adquirir bases para a constituição de sua personalidade e de
sua saúde psíquica. Esse momento, para ser bem-sucedido, necessita passar
por três tarefas fundamentais para a constituição de sua integridade: a
integração no tempo e no espaço; o alojamento gradual da psique no corpo; e o
início de relações objetais, o contato com a realidade. O conjunto dessas tarefas,
juntamente com a repetição, pode trazer o sentido da existência.
Nos estágios iniciais de dependência absoluta, o bebê necessita da
dependência absoluta da mãe, em que é afetado pelo cuidado que recebe.
Nesse momento, há a importância de a mãe conseguir atender as necessidades
do bebê e não as suas necessidades. Em virtude desse estado, ocorre uma

4
regressão parcial da mãe com o objetivo de poder identificar-se com essas
necessidades do bebê.

Ela consegue esperar que o gesto espontâneo surja porque sabe


muitas coisas sutis, como por exemplo, que, para ser trasladado de um
lugar para outro, um bebê precisa ser preparado e o movimento total
requer tempo; ela sabe também que é mais importante respeitar a
recusa do bebê de mamar do que força-lo, por disciplina ou por temor
da desnutrição, porque em termos do amadurecimento, o não alimentar
constitui a base do alimentar. (Winnicott, 1968 p. 55)

Com o tempo, a mãe suficientemente boa torna a adaptação cada vez


menor, permitindo, gradativamente, que o bebê caminhe para a independência.

TEMA 2 – ESTÁGIO OCULAR

Além dos sentimentos e sensações generalizadas do corpo, a zona ocular


é o primeiro estágio do bebê com o mundo. Um olhar acolhedor promove a
sensação de aceitação e bem-estar, trazendo a sensação de confirmação de sua
existência. A extrema falta de contato produz a contração dos olhos, do corpo e
esquivamento do olhar do recém-nascido, podendo acarretar problemas
psiquiátricos graves. Os olhos são a primeira área a ser traumatizada, às vezes,
pelos procedimentos físicos no momento do nascimento e também pelo contato
ameaçador ou indiferente. Segundo Baker (1980, p. 45), “as expressões hostis
implicam a negação de qualquer oportunidade para um contato cálido e
compreensivo”.
Um olhar acolhedor promove a sensação de aceitação e bem-estar,
trazendo a sensação de confirmação da sua existência. O ambiente se torna
uma extensão do indivíduo através da percepção dos olhos.
Segundo Baker (1980), olhos saudáveis desenvolvem a visão binocular,
que é a visão tridimensional, a qual localiza todas as percepções com exatidão
permitindo uma atitude emocional objetiva. Entra, também, nesse grupo, a
audição e as percepções de odores com uma plena clareza.
Quando acontece o enrijecimento dos olhos, seja por medo do contato,
ou de procedimentos invasivos pós-nascimento, a visão se torna prejudicada
perdendo a pulsação e ficando desvitalizada. Alguns sinais de encouraçamento
e do estágio ocular são a autopercepção e a percepção rebaixada ou distorcida.
Esse estágio é de extrema importância; no contato com a mãe, o bebê tem
condições de tomar consciência completa do seu corpo, trazendo uma sensação

5
de vivacidade e de prazer, estando assim em contato com o seu centro saudável
e com os seus impulsos primários. Na sensação de ausência de contato, o
impulso interno é semelhante à contração que vem de fora, ou seja, são
equivalentes as forças repressoras e as reprimidas, decorrendo o bloqueio do
movimento de energia.

2.1 O contato entre mãe e bebê

O ser humano nasce com total dependência desde os primeiros anos de


vida, e o comportamento materno exerce influência na formação da
personalidade da criança, mesmo sem o uso da comunicação verbal.
O estabelecimento da relação entre mãe e filho não depende somente das
características da mãe, e o bebê também tem a sua parte, diz Dandrea (1987).
E nesse contato, a mãe tem a possibilidade de se conectar com o seu bebê
estabelecendo um ritmo fusional.
Winnicott traz uma imensa contribuição sobre essa relação, usando o
termo mãe suficientemente boa. A mãe suficientemente boa nesse contexto é
aquela que, durante esse período, desenvolve uma devoção total ao lactente,
que de forma muito identificada com as sensações e necessidades da criança,
consegue proporcionar uma adaptação suficientemente boa nesta fase.
Ainda para Winnicot (1960), “um Self verdadeiro começa a ter vida,
através da força dada ao fraco ego do lactante pela complementação, pela mãe
das expressões da onipotência do bebê”. O contato satisfatório da mãe com o
bebê pede algumas características, que são: presença e contato; não impõe seu
ritmo; cuida sem invadir; e mantém o ambiente previsível. A mãe vai adaptando
o ritmo a cada fase de amadurecimento do lactante. Conforme Winnicott (p. 55),
“quando mamãe e bebê chegam a um acordo na situação de alimentação, estão
lançadas as bases de um relacionamento humano. A partir daí que se estabelece
o padrão de capacidade da criança de relacionar-se com os objetos e com o
mundo”.
Com esse vínculo, o autor coloca que existem tarefas que a mãe cumpre,
que favorece o desenvolvimento e o amadurecimento do recém-nascido. As
tarefas a serem cumpridas para o amadurecimento incluem:

• Integração: no espaço e no tempo corresponde o segurar, o sustentar, a


mãe estar presente.

6
• Personalização: o alojamento da psiquê no corpo é facilitado pelo manejo,
que é um aspecto mais específico relativo ao cuidado físico.
• Contato com a realidade: é propiciado pela apresentação gradual do
contato com o mundo ao bebê.

Para Lake (2006, p. 6), “normalmente, quando há um bom contato com a


mãe, os olhos do bebê permanecem abertos, francos e curiosos, profundos, mas
confiantes”.
Lake (2006) descreve que a falta de contato promove a violação do direito
de existir da criança:

O direito de existir, que é estar no mundo como um organismo


individual. Esse direito é geralmente estabelecido durante os primeiros
meses de existência. Este direito está associado à oportunidade de
estabelecer vínculo e está diretamente relacionado ao livre fluxo e de
energia e à primeira fase do ciclo de maturação. É a experiência de ser
e ver.

O contato é vital para o desenvolvimento do ser humano e para sua


sobrevivência.

TEMA 3 – ESTÁGIO ORAL

Nessa fase, o prazer, derivado da boca e da sensação nos lábios, está


muito presente. Continua a importância de contato com a mãe, pois além da
alimentação física, ocorre juntamente com a alimentação emocional. Sendo o
bebê completamente dependente, uma fase de simbiose entre o corpo da mãe
e do lactante. Baker (1980, p. 47) descreve: “os dois organismos excitam-se
mutuamente, dando um ao outro a faísca e intensidade, indispensáveis ao
desenvolvimento e ao crescimento. Esta excitação atinge o ponto mais alto no
ato da amamentação”.
Nesse estágio, o chuchar é motivado pela busca do prazer, e Freud diz
que é a repetição rítmica de um contato de sucção com a boca, através dos
lábios, sem qualquer propósito de nutrição. Volpi (2009) retrata essa fase como
etapa de incorporação, na qual a boca é a região de incorporação do alimento
tanto físico quanto emocional. O organismo não é capaz de digerir alimentos
sólidos, tornando-o completamente dependente do ambiente para garantir a sua
sobrevivência. Nessa época, a mãe é a fonte única de satisfação das exigências
do recém-nascido, e a partir das atitudes maternas, esta criará sua configuração
do mundo em termos orais, utilizando os mecanismos de introjeção e projeção.

7
Na mente da criança, o seio, a mamadeira e a chupeta na boca podem ser
percebidos como a retenção da própria mãe ou a sua proteção.
No bebê, a boca está altamente carregada de energia. Para o recém-
nascido, alimentar-se exprime a necessidade de ser amado, garantido e de
poder abandonar-se em repouso, depois de saciado. A alimentação se confunde,
para ele, com a relação de amor e assume um significado afetivo, em que se
busca a segurança. “O colo é o primeiro chão da criança, e juntamente com o
ato da amamentação e contato ocular, são a base para proporcionar a segurança
básica para o bebê”.
Lake (2006) diz que, na fase da vinculação, a ênfase está na função de
"conter" que a mãe exerce com seus braços e com o contato visual, o que reforça
a sensação do abraço do útero. Ao ser nutrido, o bebê passa a ser o contentor
(recipiente) e a mãe o conteúdo, uma vez que ele a bebe, ou bebe o que ela lhe
oferece ou introduz em seu corpo. Os problemas dessa relação estão ligados ao
sabor que o mundo tem, à sensação interna de bem-estar (p. 17). A tensão que
surge pode ser muita intensa para uma criança na situação vulnerável da
amamentação. Leite insuficiente, bico frio ou leite muito quente e ausência de
contato. Tanto no caso de ser privado do alimento correto quanto no caso de ser
completamente invadido por alimentos inadequados, a alimentação pode, em
vez de ser uma fonte de sustentação, transformar-se em sofrimento.
O bebê é capaz de regular seu próprio ritmo, segundo suas necessidades,
porém, muitas vezes o ambiente interrompe o ritmo e a conexão que a mãe tem
com o seu bebê, e ela acaba impondo regras sociais, como horários rígidos com
a amamentação. Essa fase é marcada pelos aspectos de dependência e
independência, que vão definir os aspectos nas relações na vida adulta. O
indivíduo poderá buscar sua independência na vida adulta quando a
amamentação e o desmame acontecem de forma saudável, com respeito ao
ritmo do lactante. Quando isso não acontece, deixará registros de repressão e
insatisfação. Volpi (2009) diz que a sensação das pessoas fixadas nesta fase é
de vazio, carência, faltando força para ação e para concretizar suas
necessidades. O indivíduo tentará para o resto da vida buscar o direito de estar
seguro, que deriva da função de suporte e de alimentação por parte da mãe
durante os primeiros anos de vida.
Nessa etapa ou estágio estão em questão o direito de ter a sensação de
ser preenchido e o período de sustentação. É a experiência de ter, saborear e

8
satisfazer suas necessidades, que foram privadas nesse estágio (Lake, 2006, p.
7).

TEMA 4 – ESTÁGIO ANAL

Esse estágio ocorre entre dois e três anos de idade, período em que o
esfíncter anal passa a ser um órgão funcional e o prazer é derivado da retenção
e expulsão das fezes e do controle muscular. A criança vivencia a sensação de
orgulho e satisfação quando produz um movimento intestinal, ou seja, sente-se
no controle. Esse momento ela está aprendendo a se separar da mãe e formar
sua identidade e independência, e começa a perceber com maior intensidade o
seu corpo. Volpi (2009) retrata esse estágio como a etapa de produção, a criança
nessa fase já pode andar se sua atenção está focada nas atividades excretoras,
e fezes e urinas são vistas pela criança como produto do seu corpo. Quando a
criança é respeitada, pode lidar com a autonomia e produtividade de forma
espontânea na vida adulta. Quando o contrário ocorre e a criança precisa chegar
nessa fase e esse senso de realização sofre interferências, pode ser distorcida
de forma fundamental a sua personalidade. Baker (1980) diz que, quando a
criança precisa aprender o controle esfincteriano antes de estar madura, pode
retesar sua musculatura das coxas, nádegas e soalho pélvico. Lowen (1982)
também retratou os prejuízos da criança ser forçada a usar os músculos das
nádegas e das coxas para obter o controle anal leva a uma imobilização das
pernas e a distúrbios no andar e na sustentação sobre os próprios pés.
Essas tensões diminuem a espontaneidade deixando a criança submissa
e dependente das instruções externas, e cria uma profunda teimosia (retenção).
As informações que chegam para a criança são segurar sua função natural e
abandonar o prazer. Lowen (1982, p. 143) traduz que como a repressão atua
movida por ocorrências na fase anal:

Isso vem de uma mãe que é super protetora, super solícita ou super
'cuidadora'. O interesse material no bem-estar da criança é um
substituto do carinho e afeto que devem acompanhar a crescente
independência do novo indivíduo. Isso se chama 'sufocamento' ao
contrário de maternagem. Essa atitude pode tomar a forma de
alimentação forçada, ansiedade e interesse no funcionamento
intestinal, um zelo excessivo para que a criança não se machuque em
alguma atividade física. Isto é feito em nome do amor, mas significa
reprimir o crescimento do ego da criança. Resistência e rebeldia são
logo erradicadas, auto-afirmação e auto-regulação não são permitidas.
Sob a crença de que a mãe sabe mais o espírito da criança é
literalmente esmagado, oprimido.

9
Nessa fase, a criança corre o risco de perder sua espontaneidade. E ser
violado o direito e ser livre, que é o direito de não ser submetido às necessidades
do outro (Lake, p. 8). Nessa frase, o autor retrata ainda que, na formação da
personalidade, podem acontecer duas situações: a criança pode se submeter
aos pais e externamente aceitar seu controle e repressão; ou ela pode resistir e
afirmar seu próprio controle de forma a obter poder sobre os pais.

TEMA 5 – ESTÁGIO GENITAL

Nesse estágio, conhecido como fase edipiana, a criança por meio de


percepções dos adultos e de outras crianças reconhece as diferenças entre
meninos e meninas. A passagem saudável por essa fase garante a busca na
vida adulta por relações de entrega e prazer, inclusive sexual. Volpi (2009)
retrata que o comprometimento nessa fase ocorre quando a criança se encontra
na descoberta de sua sexualidade, porém, sente-se rejeitada pelo genitor do
sexo oposto. Sentindo-se traída e rejeitada, a criança bloqueia partes do corpo
capazes de expressar emoções. Como a atividade motora ainda continua forte,
e fonte de satisfação, participa ativamente do processo de auto-regulação
emociona, sexual, energética do organismo. Ocorre um sentimento de orgulho
transitório pela descoberta dos genitais, em que a reação natural da criança é o
exibicionismo e as comparações. Isso porque nessa época a criança procura,
genitalmente, identificar-se na relação com pessoas mais significativas. O
conflito interno entre sentir e entregar-se às emoções. Os problemas que
ocorrem nessa fase vêm das proibições e das ameaças, provocando culpa, que
na vida adulta impossibilitam a plena entrega e satisfação.

5.1 Brincadeiras genitais

Para que a comunicação sexual não tenha interferência no adulto, é muito


importante o apoio emocional dado à criança durante o amadurecimento genital.
"Pensamos que o apoio emocional proporcionado à criança pelo ambiente e,
acima de tudo, as oportunidades que ela tem de interagir social e fisicamente
corporalmente com crianças da mesma idade e nível são de grande importância
para este processo de aprendizado”.
Boadella (1985, p. 34) cita reações às frustrações genitais em crianças:

10
• As forças negativas dos pais podem ter levado a tal culpa e medo de que
as sensações de prazer genital estão todas bloqueadas e uma grande
ansiedade se desenvolve em seu lugar.
• A brincadeira genital e seu prazer são sentidos, culpa e medo são
produzidos e, assim, serão guardados para momentos e locais secretos.
• A criança está consciente de que as brincadeiras genitais deixam os pais
incomodados, apesar de verbalmente o permitirem. A criança usa esse
fato para provocar irritação quando se sente agressiva.
• A rejeição dos pais pode tomar várias formas: pode consistir em punição
direta, ou carinho sedutor e estímulo corporal seguido de rejeição abrupta
às reações impulsivas da criança. Os efeitos são produzir uma ruptura
massiva da necessidade de contato e fusão e um corte tanto dos
sentimentos amorosos quanto dos movimentos pélvicos espontâneos.

5.2 Cisão: amor e sexo

Socialmente, sofremos a repressão sexual e isso revela o medo presente


de integrar amor e sexualidade. Na maioria das pessoas, essa cisão se faz
presente entre sentimentos amorosos e conexão com a genitalidade.
Boadella (1985) coloca que a cisão das reações sexuais naturais se deve
à negação da sexualidade infantil e adolescente e toma diversas formas. Carinho
está separado de sensualidade, de forma que sentimentos amorosos dificilmente
podem ser integrados com o vigor animal dos movimentos sexuais.

O direito de desejar e de mover-se na direção da satisfação destes


desejos de forma aberta e direta. Este direito tem um grande
componente do ego e é o último dos direitos naturais a ser
estabelecido. Eu relacionaria seu surgimento e desenvolvimento ao
período entre os 3 e 6 anos de idade, aproximadamente. Ele está
fortemente ligado às primeiras sensações sexuais da criança.

Esse direito está claramente associado à liberdade de a criança


comunicar seus sentimentos de forma direta, fase da comunicação. Envolve a
experiência de dar e receber.
Pierrakos (1990) fala desse encontro como uma fusão em que ocorre o
dar e receber. Na relação adulta não existe o que dá e o que recebe, mas um
dar e receber mútuos. Os dois participantes devem ativamente buscar,
dispensar, sustentar, alimentar, cuidar, receber, tomar e dar (p. 249).

11
Conclui-se que, quanto mais tranquila for a passagem por essas fases,
maior fortalecimento se tem para a construção de uma personalidade saudável.

12
REFERÊNCIAS

BAKER F. E. O labirinto humano. São Paulo: Editora Summus,1980.

BOADELLA, D. Correntes da vida. São Paulo: Editora Summus, 1985.

DANDREA, F. F. Desenvolvimento da personalidade. Rio de Janeiro: Editora


Bertrand Brasil S.A, 1987.

LOWEN, A. Bioenergética. São Paulo: Editora Summus, 1975.

_____. O corpo em terapia. São Paulo: Editora Summus, 1977.

PIERRAKOS, J. Energética da essência. São Paulo: Editora Cultrix, 1990.

VOLPI, S H.. Da psicanálise à análise do caráter. Apostila Centro Reichiano,


2003.

WINNICOTT, D. W. Da pediatria à psicanálise - obras escolhidas. Imago Ed,


2000.

13
AULA 5

SEXUALIDADE HUMANA

Profª Evelyse Iwai dos Reis Teluski


TEMA 1 – SEXUALIDADE E FASE DA LATÊNCIA

A fase de latência é uma denominação usada por Freud para compreender


um intervalo no desenvolvimento da sexualidade infantil.
A palavra latência significa o estado daquilo que é latente, que, por sua vez,
significa algo que não se vê, que está oculto. É o tempo que se estabelece, por
exemplo, entre um estímulo e uma resposta. A fase de latência pode ser
considerada como um intervalo.
Dandrea (1987) se refere ao período caracterizado por uma aparente
interrupção do desenvolvimento sexual, em que os impulsos eróticos exercem
menor influência na conduta do ego, o qual se torna mais equipado para lidar com
os impulsos do mundo externo.
A fase ou período de latência está localizada entre as fases fálica e genital
ou, ainda, entre a organização sexual infantil e adulta, e compreende uma
diminuição do que se pode chamar de atividade sexual. Cronologicamente, esse
período é localizado aproximadamente entre os cincos e dez anos de idade.
O início desse período é mais tenso e conflituoso que sua finalização, uma
vez que a criança vai, aos poucos, interagindo melhor com o mundo que a cerca.
Ou seja, a fase de latência corresponde a um aumento gradual no tempo de
espera pela satisfação dos desejos da criança. Esta aprende, com as frustrações,
que nem sempre será imediatamente satisfeita e que isso é importante para que
possa relacionar-se com outras pessoas.
Ao contrário do que acontece nas demais fases do desenvolvimento (oral,
anal, fálica e genital), na fase de latência não se identifica uma zona específica de
erotização. Isso significa dizer que a energia libidinal está investida em um objeto
outro, que não o próprio corpo. Podemos dizer que a libido sexual está
adormecida, em prol de outros investimentos.
De acordo com Dandrea (1987, p. 73), “supõe-se que os interesses sexuais
diminuam por conta da sublimação ou formação reativa que dominam o
comportamento”. Entretanto, quando os conflitos anteriores não encontram o
caminho para a solução, o período da latência passa a ser turbulência.

1.1 Fase da latência e psiquismo

Na fase da latência, o superego ganha uma força maior em função da


cultura e dos padrões sociais. Dandrea (1987) reforça que o superego funciona

2
de acordo com os princípios sociais que foram incorporados com a imagem dos
pais e outras figuras significativas do mundo infantil, sendo que grande parte do
inconsciente explica sua irracionalidade. Com o estabelecimento e o reforço do
superego muitas emoções se alteram. O temor e a ameaça de perda de amor e
desaprovação. A autoestima do indivíduo não depende mais exclusivamente da
aprovação externa, mas da sensação de haver procedido conforme o superego
determina.
Dias (2003) fala que, se na puberdade a sexualidade não estiver madura,
o indivíduo não será capaz de enfrentar as difíceis e importantes mudanças físicas
associadas à essa fase e ao próprio desenvolvimento. “Mesmo para crianças
saudáveis não há como escapar das ansiedades decorrentes dessa passagem,
mas o modo como lidará com elas, depende essencialmente do padrão que foi
estabelecido na infância”.

1.2 Desenvolvimento psicossocial

Nesse período, a criança começa a investir na difícil tarefa de ajustar-se às


outras pessoas e manejar seus impulsos eróticos e agressivos para conviver
socialmente. Fica acentuada a necessidade de aprovação e pertencimento a um
grupo, desenvolvendo o conceito de si mesma, ao encontrar seu lugar na
sociedade e sendo avaliada por outros indivíduos. A avaliação do grupo se torna
mais importante do que a feita pelos membros da família, e o autoconceito
formulado regula o comportamento.
Conforme Dandrea (1987, p. 78), “na fase da latência, o ego passa a
contemplar-se no espelho dos outros e a autoestima nesta fase, depende das
solicitações sociais que lhe são feitas”.
A posição que conseguir ocupar influenciará nos papéis sociais que
desempenhará na vida adulta.
A fase da latência também é marcada pela tendência de meninas e
meninos terem a formação de grupos separados, em que ocorre uma exclusão do
sexo oposto.
Dandrea (1987) retrata que está relacionada à defesa contra a
bissexualidade.
O espírito, conforme o autor, é muito desenvolvido nessa fase. O grupo é
um grande aliado do ego individual na exteriorização de impulsos e modificação

3
de seus controles. Na interação grupal, o superego individual tende a ser alterado
pelas normas e regras do grupo.
Na latência, a ambivalência é atuante e os sentimentos de amor e ódio são
muito presentes. O grupo serve também para o controle da ambivalência, os
membros manifestam todo amor para os companheiros e exteriorizam seu ódio e
agressividade para os membros de outros grupos.
Embora a fase da latência não traga à personalidade traços tão marcantes,
como ocorre nas fases anteriores, é considerada uma fase que possibilita a
segurança interna para lidar e expressar sua potencialidade e lidar com as
relações interpessoais, com recursos para enfrentar conflitos psicossociais.

TEMA 2 – FASE GENITAL OU PUBERDADE

2.1 Adolescência

Na adolescência é atingida a última fase, quando o objeto de erotização ou


de desejo não está mais no próprio corpo, mas em um objeto externo ao indivíduo
– o outro. Neste momento, meninos e meninas estão conscientes de suas
identidades sexuais distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas
necessidades eróticas e interpessoais.
Na fase da latência, como visto, ocorre uma acomodação dos impulsos
sexuais que possibilita uma integração das funções do ego, instrumentalizando o
indivíduo para maior habilidade social. Contudo, o repouso do período da latência
não dura muito tempo, pois o amadurecimento biológico da adolescência
acompanha uma exacerbação da libido, trazendo conflitos e dissonâncias entre
as três partes do aparelho psíquico, levando-se um certo tempo para acontecer
um conjunto harmonioso.
Pinto (1999) retrata que a puberdade é uma passagem com ênfase na
mudança corporal, do corpo infantil para o corpo adulto de forma a provocar
muitas transformações emocionais.
“O corpo é uma dimensão básica da existência. Ele é a morada permanente
do nosso ser, e instrumento privilegiado de nossa ação. É o referencial social que
nos outorga uma identidade constante, apesar de todas as mudanças que sofre
durante a vida”, relata Pinto (1999, p. 22).
As características de mudanças corporais biológicas nas meninas incluem:

• Aumento inicial do seio;


4
• Aparecimento de pelos pubianos;
• Aparecimento de pelos axilares antes da menarca;
• Espinhas;
• Menarca.

As características de mudanças corporais biológicas nos meninos são:

• Início do crescimento do escroto e dos testículos;


• Aparecimento de pelos pubianos;
• Primeiras mudanças na voz;
• Início do aumento do pênis;
• Pelos axilares.

Dandrea (1999) retrata que as transformações corporais alteram junto com


o físico, seus motivos, suas capacidades e as demandas do meio exigindo uma
profunda reorganização intrapsíquica. O próprio crescimento físico pode trazer
perturbações à autoestima do adolescente, o aumento da sensibilidade leva o
indivíduo a estar constantemente inundado de novas perturbações e novos
sentimentos. O crescente aumento da libido influencia os sentimentos e
sensações, levando-se um tempo para assimilar a grande carga de energia.
Ocorre uma tendência ao isolamento social até que possa metabolizar os
estímulos.
Na adolescência, os genitais assumem um papel importante na vida sexual,
enquanto outras zonas erógenas desempenham papel secundário.

Com o desenvolvimento dos órgãos genitais e a carga libidinal nos


mesmos a intensidade sexual passa a exercer uma grande influência
nos pensamentos e atitudes do adolescente. A inocente malícia da
infância, comparada agora com a torrente de sentimentos e ideias
eróticas a respeito de quase tudo, torna-se uma angelical lembrança do
passado. (p. 94)

Volpi (2006) retrata que o comportamento contraditório do adolescente


pode ser compreendido pelo conflito entre os novos e intensos impulsos, e as
defesas contra angústia que isso promove. A tendência a se agrupar segundo o
sexo, comum na adolescência, deve-se tanto à esquiva da presença excitante do
sexo oposto quanto ao aspecto narcísico que insiste em se manter, e a angústia
provocada pela solidão.

5
TEMA 3 – ADOLESCÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

• Conflitos relacionados à autoestima;


• Formação de identidade pessoal;
• Retorno de conflitos de fases anteriores;
• Carga libidinal acentuada;
• Presença de atividade masturbatória intensa;
• Isolamento;
• Agressividade e rebeldia acentuadas.

3.1 Adolescência e modificações intrapsíquicas

A adolescência é considerada, por Anna Freud, como um período de


recapitulação dos processos psicossexuais da infância, e o climatério como a
segunda.
Na puberdade ou adolescência, os impulsos agressivos e o exibicionismo
reaparecem. O ego precisa conseguir se defender contra os impulsos, e para
preservar o equilíbrio que foi adquirido na fase da latência o ego situado.
Entre o aumento da força libidinal no id e as forças do superego, são
utilizados todos os mecanismos de defesa ao seu alcance.
Dandrea (1999) retrata que a repressão, negação, sublimação ficam muito
presentes, bem como o aparecimento de acentuada ansiedade.
Dias (2003) se refere a uma fase que nada pode assegurar a ausência de
problemas, pois é preciso dar tempo e sobreviver à turbulência do
amadurecimento. “Nesta luta entre o id e o ego, a vitória as vezes pertence ao
primeiro que surge comportamentos rebeldes, a delinquência, a crueldade e as
perversões sexuais” (p. 97).
O autor afirma, ainda, que a segunda forma é a inibição por meio da
intelectualização, alternando entre repúdio de todos os impulsos e gratificação.
Quando há renúncia a seus desejos de forma intensa, isso pode ser muito
prejudicial para o indivíduo.

6
3.2 Adolescência e conflitos socioculturais

Os conflitos da adolescência ocorrem junto com a incompreensão e atritos


entre as gerações, quando os valores sociais são carregados de uma cultura
repressiva.
Baker (1980, p. 114) diz que a criança amadurece sexualmente durante a
adolescência, vivendo uma violenta sensação sexual destinada a ser mais intensa
que jamais sentirá em toda vida, e a sociedade lhe diz: “afaste-se daí”.
O autor coloca que a sociedade persiste em uma atitude irracional com
respeito à sexualidade do adolescente, muito mais intensa do que com qualquer
outro período da vida sexual do homem. “Gastamos um tempo enorme corrigindo
problemas sexuais da vida adulta, enquanto negligenciamos por completo o
período da vida em que são fixadas essas neuroses” (p. 113).
Wilhelm Reich foi um revolucionário no pensamento sobre o combate
sexual da juventude, e salientava sobre a importância da orientação sexual aos
jovens e afirmava que a repressão sexual transformava homens e mulheres em
indivíduos doentes e insatisfeitos e criminosos sexuais.
Dandrea (1987) retrata alguns fatores dos problemas psicossociais dos
adolescentes:

• Cultura conflitiva, com valores antagônicos ou contraditórios;


• Veículos de comunicação de massa não oferecem recurso para satisfação
das necessidades;
• A sociedade cria a expectativa de que o jovem seja capaz de realizar-se
sexualmente, mas estabelece proibições e exigências contrárias;
• Não há posição social definida para o adolescente, tendo pouca
oportunidade de decidir por si mesmo;
• Período de sentimentos conflitivos sobre separação da dependência
familiar;
• Pressão para a escolha vocacional;
• Identidade sexual em conflito.

A adolescência é o período de formação de identidade e isso envolve a


passagem bem estabelecida em fases anteriores, bem como a organização do
aparelho psíquico, sintetizar e integrar as diversas identificações que seu ego
realizou no decorrer do desenvolvimento.

7
TEMA 4 – SEXUALIDADE E MATURIDADE

Cronologicamente, não é possível delimitar com exatidão o fim da


adolescência e o ingresso na vida adulta, essa mudança envolve fatores culturais
e psicológicos pelo desenvolvimento do indivíduo.
Características do ingresso na vida adulta (Pinto, 1999, p. 107):

• Estabelecimento de uma identidade sexual e possibilidade de estabelecer


relações afetivas saudáveis.
• A capacidade de assumir compromissos profissionais e estabelecer-se:
• Aquisição de sistemas de valores pessoais;
• Relação de reciprocidade com as gerações;

Na vida adulta, a busca pela manutenção do senso de identidade e pelo


crescimento pessoal, o reforço da autonomia e a responsabilidade pelas suas
escolhas, fazem com que seja possível vivenciar o amadurecimento das relações
interpessoais, e a sexualidade faz parte desse contato com mais intimidade e com
menos conflitos. Por mais intimidade, Dandrea se refere à capacidade pessoal de
participar de relações mais íntimas, tais como amor, amizade, relações sexuais
utilizando os recursos internos.
A intimidade, em síntese, é a habilidade de fundir a própria identidade com
outrem sem temores de que essa fusão acarrete prejuízo ou lesões à
personalidade.
Observamos que muitas expectativas ligadas às fases anteriores podem
ser direcionadas para relacionamentos, esperando-se solucionar antigos conflitos.
Continuar o amadurecimento é algo que estará sempre acontecendo, porém, na
maturidade ou vida adulta, as relações interpessoais influenciam de forma mais
intensa, pois a base do desenvolvimento se apresentará. A maturidade acaba
sendo o auge da história pessoal, no qual o indivíduo conseguiu recursos internos
que o define e também retrata a forma como lida com os relacionamentos
interpessoais, sexualidade e seu posicionamento perante a vida.0
Dandrea (1999) descreve alguns traços de indivíduos em equilíbrio com a
fase adulta:

• Viver de acordo com a realidade, com menos impulso, temores e fantasias;


• Ser capaz de reconhecer os próprios sentimentos e reações;
• Sistema de valores relativamente estáveis;

8
• Ser capaz de amar, obtendo prazer tanto em dar quanto receber amor;
• Tomar decisões a respeito de si próprio sem influenciar-se por valores
externos e preconceitos.

A vida adulta retrata um equilíbrio do ego em uma adaptação ao princípio


de realidade. “A maturidade de uma pessoa deve ser avaliada pela sua
capacidade de aprender com a própria experiência e com a de seus semelhantes,
tolerando a dose de sofrimento que acompanha o aprendizado e de transmitir com
um mínimo de dúvida e incertezas, os conhecimentos adquiridos” (p. 131).
O encontro da sexualidade adulta também traz o desafio das diferenças
entre homens, mulheres e cultura.
Os homens têm alguns fatores que contribuem para que a meia-idade
esteja em equilíbrio com a maturidade. Esses fatores estão relacionados a cumprir
alguns papéis e tarefas na vida pessoal e social, que são: a capacidade de estar
profissionalmente independente; posição social mais definida relacionada aos
relacionamentos; escolhas sexuais; e realização profissional.
Dandrea (1987) se refere a essa fase como independente do nível de
satisfação. O indivíduo não poderá evitar o conflito entre o desejo de continuar a
escala ascendente de conquistas e realizações e a percepção de que a meia-
idade é o início do declínio de sua personalidade. Em nenhuma fase da vida a
condição finita do ser humano é percebida tão intensamente.
É o período que o ego fica mais amadurecido, passando a compreender
alguns mecanismos de defesa como a fantasia e a negação diante do que ocorre
as suas vistas. Muitas perdas de variadas naturezas tendem a acumular-se na
meia-idade.
As desintegrações psicopatológicas são menos comuns na personalidade
que, aqui, torna-se firmemente integrada. Reações depressivas podem acontecer
em função de um ego mais amadurecido.
Dias (2003) retrata que o amadurecimento na idade adulta faz com que o
indivíduo com maturidade desiste de ser o volante e adota a posição mais
confortável de uma peça na engrenagem, pois não é o lugar na sociedade que
dirá quem ele é. Consiste, ainda, em aceitar a imperfeição e a onipotência do eu
e do mundo tal como realmente são, acarretando-se, muitas vezes, fases de
depressão.
“Quando não é mutiladora ou ligada a distúrbios psicóticos, a depressão é
um estado de espírito próprio das pessoas verdadeiramente responsáveis. Elas
9
deprimem justamente porque são capazes de ver e aceitar a precariedade da
condição humana”, aponta Dias (2003, p. 295).

4.1 O climatério

O climatério é a recapitulação dos processos psicossexuais da infância. As


transformações fisiológicas perturbam o equilíbrio relativamente estável do
aparelho psíquico. Se a puberdade representava o início da atividade das
glândulas responsáveis pela função reprodutora e tinha o marco fisiológico na
menarca, o climatério representa a diminuição da atividade glandular sexual e tem
seu marco fisiológico na menopausa, conforme Dandrea (1987).
Desconhecer os aspectos psicológicos faz com que se atribuam as
manifestações de insônia, fadiga, ondas de calor e perda de apetite somente à
diminuição da atividade glandular, porém, elas estão associadas à ansiedade,
pessimismo e desânimo.
Algumas mulheres entram em conflito ao chegar à menopausa, quando
acreditam não se sentirem mais atraentes ou não terem mais prazer sexual.
No homem, não existe um marco fisiológico para essa fase, entretanto,
muitos, na meia-idade, têm sintomas semelhantes aos das mulheres na
menopausa devido a conflitos intrapsíquicos. Muitos homens temem a impotência
e a perda de atrativos e lutam intensamente para manter a juventude.

TEMA 5 – SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE

Momento controverso marcado por tabus e preconceitos, especialmente


ligados à sexualidade. Os desafios do desenvolvimento humano chegam à última
etapa, e aprender a lidar com maiores transformações exige que o idoso tenha
alcançado o amadurecimento na vida adulta.
Muitas mudanças corporais que trazem uma limitação inegável e uma série
de características começam a definir essa etapa. Dandrea (1987) cita que, “além
da atrofia dos órgãos, existem as alterações da memória, a limitação dos
interesses intelectuais e os sentimentos de saciedade dos impulsos. “Sucede que
a velhice não corresponde apenas a estes acontecimentos psicofísicos, mas a um
complexo processo de decadência funcional que se inicia muito antes da pessoa
ter qualquer noção de que está envelhecendo”.

10
A medicina, a psicologia e a sociologia têm aprofundado a terceira idade
como objeto de estudo, e ainda há muito a ser compreendido em profundidade
sobre esse período do desenvolvimento da personalidade.
O conflito psicossocial da terceira idade é manter a integridade do ego
frente à finitude e às adaptações necessárias para as mudanças internas e
externas.
Os impulsos podem se acalmar, dando espaço para a serenidade e para
maior tolerância às ocorrências da vida, atingindo-se a sabedoria. Por outro lado,
se o desenvolvimento da personalidade não se realizar, as situações internas e
externas podem levar o idoso à posição de maior dependência, reativando os
conflitos que ocorreram nas primeiras fases do ciclo vital, e que permaneceram
reprimidos, mostra Dandrea (1987).
A má integração do ego, juntamente com a falta de apoio do meio, acaba
deixando o idoso com dificuldade para suportar as revivências em fases
anteriores.
Que a sociedade sonega o espaço aos mais velhos, é fato, sabido e grave.
O que parece alvo de maior preocupação é que essas pessoas mais velhas
reduzam o seu espaço existencial.
Pinto (1999) aponta que a mulher que não vinculou sua vida sexual
excessivamente à reprodução tenderá a ter uma vida sexual mais plena na
velhice. Da mesma forma, o homem, se em seu processo de amadurecimento deu
espaço à sexualidade desvinculando-se do poder e dos preconceitos, tende
igualmente a passar com maior plenitude pelas mudanças em que seu corpo traz
nesse período da vida. “Tanto para os homens quanto para as mulheres a grande
luta na terceira idade é contra o preconceito. Não só a luta contra o preconceito
social externo, mas também a luta contra o preconceito interno, o preconceito
contra si mesmo” (p. 126).

5.1 A aposentadoria

A aposentadoria representa psicologicamente e socialmente um marco tão


importante, pois as mudanças internas surgem como desafios.
Apesar das aquisições, estabilidade econômica e tempo disponível, muitos
retratam sentir uma vida vazia e sem objetivos. A aposentadoria pode trazer à
tona conflitos interpessoais que foram mascarados pelas atividades profissionais.
A influência acontece tanto no homem como na mulher. O homem, muitas vezes,

11
tem que lidar com um desafio, diz Dandrea (1999), pois descarrega grande parte
da energia sexual e agressiva no trabalho, aprendendo a realização fora do
ambiente de casa.
A mulher, se teve menos conflito em relação à posição feminina social,
pode sentir-se em maior ou menor conflito, tendendo a lidar com essa situação
com esforço em um processo adaptativo.
O meio deve possibilitar que as pessoas na terceira idade tenham maior
estímulo para o enfrentamento de suas transformações, pois, inevitavelmente,
chega a etapa final, que é a cessação dos processos vitais do organismo das
funções físicas e mentais.

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REFERÊNCIAS

DANDREA, F. F. Desenvolvimento da personalidade. Rio de Janeiro: Editora


Bertrand Brasil S.A, 1987.

FREUD, S. O ego e o id. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

PINTO, B. Ê. Orientação sexual na escola: a importância da psicopedagogia


para essa nova realidade. São Paulo: Editora Gente, 1999.

VOLPI, H.; VOLPI, S. M. Da psicanálise à análise do caráter. Apostila Centro


Reichiano, 2006.

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AULA 6

SEXUALIDADE HUMANA

Profª Evelyse Iwai dos Reis Teluski


TEMA 1 – ORIENTAÇÃO SEXUAL

Como visto no histórico da sexualidade, muitos trabalhos realizados


referentes à educação ou orientação sexual tiveram diferentes enfoques. Em
certos períodos, o enfoque maior foi dado sobre o controle de natalidade e, mais
tarde e até recentemente, o tema visado é a ideia do prazer sexual.
Segundo alguns autores, quando uma criança está perante um adulto e o
mundo, encontra-se plenamente com todas as suas dimensões. Não proporcionar
uma formação sadia da sexualidade é impedir um elemento fundamental do ser
humano. Portanto, toda educação é sexual, seja ela reprodutiva, castradora,
libertadora; não é possível compreender a educação da criança retirando a
dimensão sexual, pois ela acontecerá sempre, quer pelo nosso esforço
institucional, quer pela ausência do discurso positivo. Assim, o que podemos
perceber é que, sem o desenvolvimento natural da sexualidade, não existe
possibilidade de uma formação sadia ou adequada.
Qualquer proposta de intervenção pedagógica da sexualidade deve levar
em conta a dimensão psicofísica da criança atentando-se especialmente para
suas necessidades e interesses que estão diretamente ligados à sua vivência
cultural, segundo seu estágio de maturidade emocional e intelectual.
Aquino (1997, p. 97) retrata que há muito tempo a escola vem veiculando
informações biológicas sobre a sexualidade: “na disciplina de ciências ou biologia,
um dos objetivos é o do aluno conhecer a anatomia, e a fisiologia do corpo
Humano. O Aparelho reprodutor é apresentado pela primeira vez para as crianças
que chegam a cursar a terceira série do primeiro grau”.
Um grau de complexidade vai sendo instalado, dificultando-se muitas
informações sobre a sexualidade. Muitos elementos permeiam essa dificuldade
começando pela linguagem que está presente na relação professor-aluno,
incômodo sobre o tema por parte dos professores, alunos, local no qual a
orientação está acontecendo, que é a escola, com seu corpo de regras e normas
sobre condutas sexuais, que se constituem com propostas muitas vezes
contraditórias.
Silva e Nunes (2006) dizem que a educação sexual sempre foi um objeto
de polêmica em nossa tradição educacional, passando por alguns modelos:

• Modelo médico-biologista: relacionado às funções procriativas e do


aparelho reprodutor, com variantes de uma abordagem higienista e

2
profilática. Mesmo sendo necessária essa colaboração de anatomia e
fisiologia, não são informações suficientes para dar conta da complexidade
do tema sexualidade.
• Modelo terapêutico-descompressivo: com características da apologia
libertária e com abordagem centrada na descompressão.
• Modelo consumista-quantitativo: dando maior ênfase à revolução sexual de
fundamentos filosóficos e políticos e práticas sexuais desumanizadas,
quantitativas, modelo dominante da mídia e da indústria da pornografia e
mercantilização do corpo.
• Modelo de educação emancipatória: uma contraposição a esses modelos
e concepções anteriores.

Ainda, conforme Nunes e Silva (2006, p. 17), “emancipação pode ser


entendida como a formação para a compreensão plena integral, histórica, ética,
estética e psicossocialmente significativa e consciente de potencialidades sexuais
humanas e sua vivência subjetiva e socialmente responsável e realizadora”.
Isso implica o reconhecimento do espaço escolar com papel fundamental
na participação dessa construção, sendo necessária a articulação entre escola e
família, entendendo-se como unidade social de transformação.
A busca pela formação do indivíduo integral tem sido uma necessidade dos
tempos atuais, e a capacidade de adaptação e entendimento da globalidade. As
iniciativas na esfera governamental trouxeram a proposta transversal para a
educação e sexualidade.

TEMA 2 – PROPOSTA TRANSVERSAL

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, elaborados em 1996 pelo Ministério


da Educação, apoiado por diversos especialistas, traz a proposta de que a
orientação sexual seja trabalhada como um tema transversal.
Nunes e Silva (2006) retratam a transversalidade como algo que atravessa
ou perpassa as disciplinas curriculares de maneira a articular os conteúdos entre
si e ampliar os conhecimentos aplicados por uma maior integração interdisciplinar.
Quanto ao cunho metodológico, os temas transversais têm como proposta
colaborar para que essas tenham um desempenho mais voltado para a formação
integral do homem.

3
Busca-se a formação integral do indivíduo estabelecendo como temas
transversais: ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual
e estudos econômicos. Todos esses estudos se preocupam, de fato, com a
questão da cidadania como dignidade da pessoa humana e igualdade de direitos,
apontam Nunes e Silva (2006).
A sexualidade é, primeiramente, abordada no espaço privado, por meio das
relações familiares. Assim, de forma explícita ou implícita, são transmitidos os
valores que cada família adota como seus e espera que as crianças assumam.
O trabalho de orientação sexual tem como objetivos:

• Ampliar e levantar questionamentos sobre a sexualidade, ampliando-se o


entendimento por meio de conhecimentos.
• O aluno deve ter a possibilidade de tirar conclusões pessoais, sem a
influência de tabus e crenças impostos ou influenciado pela instituição ou
professores.
• A orientação sexual oferecida deve abordar os temas polêmicos
transmitidos pela mídia, família e sociedade, criando-se opinião a respeito
dos temas apresentados.
• Propiciar informações atualizadas do ponto de vista científico e explicitar os
diversos valores associados à sexualidade e aos comportamentos sexuais
existentes na sociedade.

Experiências bem-sucedidas com orientação sexual em escolas que


realizam esse trabalho apontam para alguns resultados importantes: aumento do
rendimento escolar (devido ao alívio de tensão e preocupação com questões da
sexualidade) e aumento da solidariedade e do respeito entre os alunos. Quanto
às crianças menores, os professores relatam que informações corretas ajudam a
diminuir a angústia e a agitação em sala de aula.

2.1 Objetivos gerais da orientação sexual segundo os PCNs

O objetivo do trabalho de orientação sexual é contribuir para que os alunos


possam desenvolver e exercer sua sexualidade com prazer e responsabilidade.
Assim, a Secretaria da Educação Fundamental (1997, p. 91) aponta a importância
de:

• Compreender a busca de prazer como uma dimensão saudável da


sexualidade humana;
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• Conhecer seu corpo, valorizar e cuidar de sua saúde como condição
necessária para usufruir de prazer sexual;
• Reconhecer como determinações culturais as características socialmente
atribuídas ao masculino e ao feminino, posicionando-se contra
discriminações a eles associadas;
• Identificar e expressar seus sentimentos e desejos, respeitando os
sentimentos e desejos do outro;
• Proteger-se de relacionamentos sexuais coercitivos ou exploradores;
• Reconhecer o consentimento mútuo como necessário para usufruir de
prazer numa relação a dois;
• Agir de modo solidário em relação aos portadores do HIV e de modo
propositivo na implementação de políticas públicas voltadas para
prevenção e tratamento das doenças sexualmente transmissíveis e AIDS;
• Conhecer e adotar práticas de sexo protegido, ao iniciar relacionamento
sexual;
• Evitar contrair ou transmitir doenças sexualmente transmissíveis, inclusive
o vírus da AIDS;
• Desenvolver consciência crítica e tomar decisões responsáveis a respeito
de sua sexualidade;
• Procurar orientação para a adoção de métodos contraceptivos.

TEMA 3 – MANIFESTAÇÃO DA SEXUALIDADE NA ESCOLA

Silva e Nunes (1997) retratam que a criança passa metade do seu tempo
na escola, sendo impossível que o educador não perceba a criança expressando
sua sexualidade, junto com afetividade, criatividade e cansaço. Quando
trabalhamos adequadamente essa expressão, jamais se torna um obstáculo para
as atividades pedagógicas, ao contrário, colabora grandemente para que o
educador ganhe a confiança e desenvolva as atividades escolares com muita
segurança e sucesso. O autor ainda fala sobre a importância de o educador estar
atento a essas expressões e aproveitar a oportunidade para fazer a interferência
significativamente positiva.

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Algumas manifestações, segundo Nunes e Silva (2006) incluem:

• Manipulação dos órgãos sexuais

Comum em torno dos três ou quatro anos, é uma das mais intensas
descobertas infantis. Procuremos ficar serenos, já que sabemos que isso é um
comportamento natural da criança. Se a criança se referir às coceiras,
brincadeiras, ou coisas do gênero, trabalhemos com ela, orientando-a para essa
forma de prazer, pois, para ela, está sendo prazeroso, gostoso, mas ensinando-a
que deve procurar fazê-lo em particular, não porque seja errado ou feio, mas
porque existem espaços públicos e privados.
Tenhamos sempre em mente que a masturbação faz parte do
desenvolvimento normal de homens e mulheres, desde a mais tenra infância até
a idade adulta.

• Namoro

Situação muito comum na escola e nas unidades de educação infantil.


Relatos indicam que, por volta de quatro aos seis anos, muitas crianças indicam
e verbalizam no grupo o fato de estarem namorando essa ou aquela criança.
Ganha-se força por volta dos oito ou nove anos, sendo um jogo carregado de
emoções para a criança. A criança não vive um real namoro, é um pseudonamoro,
baseado em imitações da mídia e dos estereótipos de namoro do momento.

Atenção para algumas atitudes:

1. Cuidar para não proibir terminantemente que eles/elas namorem;

2. Evitar estimular as manifestações, intervindo com sugestões de atitudes no


namoro, à semelhança de um namoro adulto, atitudes não pensadas pelas
crianças.

É necessário deixá-los viver essa fase tão necessária e passageira,


mantendo-os sob uma observação pedagógica discreta calcada no bom senso.
Poderá ser uma ótima oportunidade para realizar com a turma toda uma reflexão
crítica sobre os papéis sexuais, claro que sempre adequada à faixa etária. Valores
como respeito a si mesmo e ao outro são fundamentais de serem vividos e
explicitados pedagogicamente muitas vezes no cotidiano escolar.

6
• Jogos sexuais e observacionismo

Comum entre as crianças entre três a seis anos. São atitudes típicas da
ansiedade em conhecer as identidades sexuais do outro. Atitudes como espiar
nos banheiros, espiar a cor da calcinha e da cueca, levantar as saias, brincar de
médico são expressões dessa curiosidade, normalmente manifestadas em
grupos, às vezes, mistos.
Atenção para algumas atitudes:

• Não se deve castigar os envolvidos fazendo um discurso moral.

• Não se deve fazer uma análise maliciosa e contar piadas sobre o fato.

• É preciso encarar esses jogos como forma de satisfazer a curiosidade


sexual, não existindo contraindicação para eles.

• É preciso perceber esses jogos como uma maneira de afirmar a identidade


e um teste de realidade. Isso porque também na questão da sexualidade
são importantes os jogos e brincadeiras, pois, por meio deles, a criança
estabelece relações com o mundo da imaginação e da fantasia, soltando-
se de forma espontânea e livre para, aos poucos, ir descobrindo os papéis
sociais e afetivos que irá assumir.

• Devem os educadores investigar se as crianças são da mesma idade para


não haver o risco de coerção.

• Conversas sexuais em grupo

Essas conversas revelam a curiosidade da criança, muitas vezes repetindo


informações desencontradas, fantasias ou imitando conversas que ouviu.
Aproveitar a oportunidade e acompanhar esses espaços e propor diálogos
francos com a criança, trazer materiais didáticos que retratam o corpo e a
sexualidade de maneira adequada.

• Emprego de palavras supostamente obscenas

Os autores Nunes e Silva (2006) retratam que as palavras revelam muito


mais o prazer do inédito, do que conhecimento e alcance do sentido propriamente
sexual do que se fala ou expressa. A criança quase sempre desconhece o sentido
pleno das palavras que frequentemente repete precisando ter confiança dos
limites, explicando-se, assim, a diferença entre a possibilidade de expressão
doméstica e social, de modo a não só reprimi-la.

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• Bilhetes e desenhos sexuais

Manifestam a curiosidade e a afirmação social. Em todas as fases,


desenhar e moldar figuras e representações de pessoas ou animais com
caracteres genitais é normal. A excitação, com relação ao saber sobre o sexo,
revela uma sintomática de ansiedade. Uma ótima oportunidade para inserir livros
didáticos que ensinem uma ótica mais humanizada sobre a sexualidade.

• Encontros clandestinos

Geralmente liderados por crianças mais velhas; exibição coletiva ou


conversa sobre sexo. Acompanhar de forma segura a dinâmica, os jogos e
brincadeiras sem cair em uma atitude patrulhadora ou repressiva.

• O exibicionismo

Exibição dos órgãos sexuais, mais comum em meninos, em que o objetivo


é causar espanto, prazer e medo. Oportunidade para explicar, conversar, o
espaço social e seus limites, compreendendo que o corpo é uma dimensão
integral e pessoal, e a sua exposição banal não retrata liberdade.

• Manifestações de gestos obscenos

Há muitas controvérsias sobre o fundamento desses jogos de expressões.


Uma correta orientação da sexualidade infantil diminui consideravelmente essas
manifestações angustiadas e fragmentadas, diz Nunes e Silva (2006). A maior
parte dos educadores trata essas manifestações como ato de indisciplina, malícia,
reprimindo e recalcando essa ansiedade, e acaba por não resolver, mas sim
aumentar ainda mais a ansiedade da criança. Momento, então, para construir uma
linguagem humanizada, a fim de abordar a riqueza da sexualidade humana.
O educador precisa adquirir uma firme serenidade frente ao universo verbal
ansioso vigente na sociedade atual, não para aderir a repressão.

TEMA 4 – ATITUDES DE PAIS E EDUCADORES FRENTE À SEXUALIDADE

Pais e educadores estão unidos pela mesma responsabilidade social de


gerar, preparar, enquadrar, e habilitar as novas gerações ao convívio e à
reprodução material e simbólica do grupo social a que pertencem.
Os autores Nunes e Silva (2006) colocam que o objetivo de descrever
ações que rotulam pais e educadores para trazer a sensibilização e consciência
que somos tributários de uma determinada vivência cultural e construção social.
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Algumas atitudes são:

• Atitude autoritária e repressiva

Violência simbólica de dominação. Seus fundamentos são o senso comum,


a moral vigente e a rigidez dos papéis sexuais tradicionais. Exterioriza-se no
dogmatismo do modelo patriarcal. Os pais tomam como norte de responsabilidade
parental.

• Atitude omissa, ausente e permissiva

Compreensão equivocada da sexualidade da criança e por uma concepção


desfocada da importância e significado da ação dos pais sobre a construção dessa
sexualidade. Trata-se da negação da sexualidade infantil. Pais e educadores
acatam as manifestações da sexualidade desde que não haja nenhuma
responsabilidade direta sobre essas. Deixam seus filhos ou alunos à mercê da
curiosidade diletante, não desenvolve habilidades na linguagem nem situações
didáticas para abordar as descobertas corporais. Fazem de conta que não veem,
embora muitas vezes não conseguem disfarçar a indisposição corporal.

• A atitude diletante ou exótica

Diletante se refere àquela curiosidade inconsequente, sem uma


determinação estrutural. Isto significa que enfocam a sexualidade das crianças
pela ótica de um mundo mágico e exótico. Falam por meio de metáforas
comparativas, usando a similaridade com animais e mundo da biologia. Nomes
fantasiosos são usados para a definição das características sexuais dos meninos
e meninas. Essa forma faz com que os pais acreditem que seus filhos sempre
permaneçam infantis e pueris, congelando-se a percepção de mundo real e
obscurecendo uma perspectiva de realidade.

• Atitude delegante e patrulhadora

Os pais, em sua maioria, delegam à escola e aos educadores a tarefa de


falar de sexo e conformar a sexualidade dominante de seus filhos. Não buscam
mais os meios de discutir esse processo informativo.
No entanto, apesar de parecer haver sintonia entre a sexualidade e os seus
discursos, não acontece tão claramente essa identificação. Ao mesmo tempo em
que delegam essa função, os pais assumem outra, a de ser as patrulhas
constituídas da moral vigente, a de ser patrulhadores do discurso normativo e
oficial. Caso a escola, como instituição, ainda que investida de supostas
9
autonomias ou alguns professores em particular ostentem discursos diferentes do
modelo vigente dominante, os pais reagem em cadeia, mobilizando os circuitos
de poder e da burocracia para excluir o discurso considerado intruso e restaurar
a consagrada ordem. Deve-se haver um alinhamento entre família e escola sem
ser uma reprodução de poder e teias de dominação.

• Atitude humanista e emancipatória

Na configuração de uma sexualidade emancipatória, família e escola têm


que ser compreendidas em outros papéis sociais e por outras perspectivas. Uma
atitude só pode ser humanizadora quando tiver por objetivo a independência do
ser humano, ainda que de maneira gradual. A criança e/ou o adulto esclarecidos
de suas potencialidades e possibilidades, estão mais próximos da autonomia e do
direito de lutar pela liberdade. Educar integralmente a criança exige a
responsabilidade e o cuidado de considerar todas as suas dimensões e trabalhar
para que nenhuma delas fique de fora do seu processo de desenvolvimento
humano. Sendo a sexualidade uma dimensão ontológica do ser humano, jamais
poderemos deixar de contemplá-la nesse processo educacional. A história tem
mostrado que uma educação fragmentária resulta na formação de cidadãos
inseguros, frágeis e angustiados em relação a si próprios e aos outros, nas
dinâmicas que estabelecem em sua vida.

TEMA 5 – EDUCAÇÃO SEXUAL: PRESSUPOSTOS DE FREUD E REICH

Fiel a Freud, Reich centra seus esforços na demonstração de que a


neurose pode ser prevenida dependendo do tipo de educação empregada.
Analisando-se as atitudes inconscientes dos pais e educadores para com
a criança, Reich compreende a utilização de formas educativas extremas ou
permissividade e severidade excessivas como características daquilo que
denomina a compulsão a educar.
Reich retrata que o educador recorda os seus próprios desejos reprimidos
e proibições educativas de que foi alvo, devendo, assim, libertar-se por meio de
análise e autoconhecimento, dos preconceitos que a sua própria educação lhe
legou, tentando tornar consciente as suas tendências instintivas recalcadas.
Educar o educador para que possa assistir calmamente às manifestações
naturais do instinto da criança; se, apesar de o esforço, não conseguir considerar

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as manifestações sexuais infantis sem repulsa e desgosto, o melhor é renunciar
o trabalho de educador.
Albertini (1994) retrata que Reich definiu que a compulsão por educar
passa pelos seguintes motivos:

• Dificuldade em lidar com a livre expressão da vida.


• Tentativa de corrigir a própria infância, isto é, de reparar em outras crianças
os males que foram causados a ele, porém, muitas vezes pode parecer um
sadismo. Compulsão sádica inconsciente.

5.1 Educação e autorregulação

A educação sexual não está isolada do contexto, estrutura e momento


histórico que as crianças vivem. A educação sexual corresponde à educação de
como o indivíduo deve viver a vida, pois é também a educação do seu movimento
emocional, como refere Albertini (1994).
Autorregulação é a capacidade biológica e natural que revela nosso
potencial para o desenvolvimento da autonomia. A essência da autonomia é fazer
com que as crianças se tornem aptas a tomar decisões por si mesmas. Mas,
segundo essa estudiosa, a autonomia não é o mesmo que a liberdade completa
e não é liberdade plena e absoluta. A autonomia significa levar em consideração
os fatos relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. Para tanto, é
preciso ser capaz de se ter um contato com as sensações e percepções
autorreguladoras em seu organismo.
Para Wilhelm Reich, autorregulação é sinônimo de vida. O organismo é
regido por leis e fluxos naturais que, se devidamente respeitados, permitem ao
indivíduo a realização de suas potencialidades inatas. Se não houver esse
respeito, e se essas leis e fluxos forem interrompidos, produzem uma
desorganização, uma “desfuncionalidade”. Isso pode ser visto na vida dos
indivíduos quando há a impossibilidade de expressão emocional, em decorrência
de uma repressão sexual, o que conduz à neurose e à irracionalidade. Todo o
trabalho de Reich foi no sentido de integrar os processos biológico-naturais e
sociais, tentando superar a dicotomia natureza e cultura e propor uma relação
dinâmica entre elas.
Segundo Paulo Albertini (1994), para Wilhelm Reich, a autorregulação
implica no fato de que a vida orgânica do ser humano é sábia e sabe criar melhor
do que ninguém as suas necessárias formas de existência e é o desconhecimento
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do ser humano a esse respeito que cria todas as dificuldades e encouraçamentos
que indicam que o ser humano não aprendeu a ver o que está diante de seus
próprios olhos: a sábia natureza da vida expressa no próprio corpo do ser humano,
indicando-lhe como a vida funciona e como deveria ser conduzida pela cultura
humana.
A educação baseada na autorregulação nos faz refletir sobre a relação
entre natureza e cultura em nosso contexto ocidental: há um tipo de pensamento
em nosso meio intelectual que acredita que a cultura domina a natureza e que lhe
é superior, ou seja, que a cultura pode tudo diante da natureza. Isso foi e continua
a ser um dos maiores erros de nossa cultura humana, pois, na verdade, hoje,
ainda mais do que antigamente, os ecologistas estão nos mostrando que a
natureza tem primazia sobre a cultura. A força da natureza é capaz de exigir que
a cultura se repense, se transforme, mude sua perspectiva, sob pena, inclusive,
de não poder existir mais.

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REFERÊNCIAS

ALBERTINI, P. Reich: histórias das ideias e formulações para educação. ÁGORA,


1994.

ALBERTINI, P.; WAGNER, C. M.; REGO, R. A.; MATTHIESEN, S. Q. Reich em


diálogo com Freud: estudos sobre psicoterapia, educação e Cultura. Casa do
Psicólogo, 2005.

NUNES; SILVA. A educação sexual da criança: subsídios e propostas práticas.


2. ed. Autores associados. Campinas, 2006.

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares


Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

VOLPI, H.; VOLPI, S. M. Da psicanálise à análise do caráter. 2003.

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