You are on page 1of 1

Desvio do divino

Não me venha com metafísicas

o corpo e a matéria em prosa


aqui e agora
nada de primeiros motores
nada de supremos valores
isso fica para os filhos da pátria
nem francisco de assis nem santa teresinha
amai-vos uns sobre os outros
nada de temores e tremores
nem de noite escura da alma
a prosa é preferível
"sei de um estilo penetrante
como a ponta de um estilete". flaubert
é só isso

Sebastião Uchoa Leite

Através de breves questões, pelo viés negativo, o filósofo e poeta francês, Paul Valéry,
em seu texto “Questões de poesia”, nos convida a refletir sobre o espaço da poesia no mundo
moderno: suas crises, suas transmutações, suas ressuscitações. Numa forma concisa de
diagnóstico desses infortúnios, Valéry aborda como a poesia se aproximou da prosa, como foi
colocada nos bancos das escolas e enquadrada em análises científicas que só servem para
“desviar-me do divino”. Invocando poetas como Mallarmé e Hugo, Rimbaud e Verlaine,
Valéry assinala uma defesa implacável da poesia e de sua (re)aproximação com o espírito
poético. Mas o que constituiria este espírito poético? De forma inflexível nos dá uma pista e
conclui: “A impossibilidade de reduzir à prosa sua obra, a de dizer ou de compreendê-la
como prosa são condições essenciais de existência, fora das quais essa obra não tem
poeticamente qualquer sentido”.

Fernando Santos

You might also like