You are on page 1of 65
José Luis Diez irae A POLITICA CRIMINAL NA ENCRUZILHADA 4 Tradugao de is Callegari José Luis Diez Ripollés A POLITICA CRIMINAL NA ENCRUZILHADA OOo. ‘Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagao (CIP) Dsttp Dir Ripolés Jot Luis. "putea criminal na encruzibada / José Luis Dez Rips; Tradugio de trad ee re Las Callepar~ Port Alegre? Liars Go André Luis Callegari ‘Advogado Eaitora, 2015. 134 p.;23 cm. ISBN 978-85-7348-995-8, pens Gade do isco. I cpu 389 cpp 34s Indice para catélogosstemstico: 1. Poica criminal 313.9 | DO ADYOGADO tecéria responsdvel: Sabrina Leal Araujo - CRB 10/1507) | SB feditora Porto Alegre, 2015 Como nao poderia deixar de tratar do tey até chegar ao Direito Penal do inimigo, Novamente deixo registrado que se trata da os temas mais importante de politica criminal bre 0 que esté acontecendo em termos dos nov, Penal. Em todas as aulas em que refletimos sobre oy Sentimos as mesmas angiistias e duvidas sobre apo sileira, se é que ela existe. Por tudo isso o livro é.e politica criminal, Por fim, agradego & Clara Masiero, Raul Mar, Daniela Scariot, colaboradores na revisio e tradugat ara quem seriamente quer discut sem eles o trabalho nao seria possivel. Porto Alegre, outono de 2015. Prof. Dr. André Luts Callegari =, ti . . me traposicao entre individuo e cidadao no desent,° 240 eng criminal, fazendo uma abordagem das velocidas Segunda parte ~ A teorizacio do modelo penal da segu Sumario Introdusio.. o n ‘Primeira Parte ~ Os novos modelos de intervencio penal a5 ‘Capitulo I~ A crise contemporinea dos modelos de intervengao pena. 8 1, 0 modelo penal garantsta, : 2.0 modelo penal ressoializador..... ' Capitulo IO novo modelo penal da seguranga dda 1. Protagonismo da delinguénciaclssica, 2. Prevalencia do sentimento coletive de inseguranga cidad 3, Substantividade dos interesses das vitimas, . 4. Populismo e politizacio... : 5, Revalorizagio do componente afitive da pena. 6, Redescobrimento da PHSI0.....00. 7. Auséncia de receio ante © poder sancionador esata. 8. Envolvimento da sociedade na luta contra a delinguéncia, ssformagio do pensamento criminoligica, ~ Estratégias para um modelo penal de bem-esta. 1. Oserros do garantismo. 2. Odiscurso da resistincia, 3.0 reconhecimento do terreno, 4, As explicagbes estruturais... om 5. Os condicionamentos operativos eestatézicos.... 6, A alternativa do modelo penal de bem-estat. 7. As estratégias a serem seguidas... ranga cidad... Capitulo IV ~ 0 debate sobre a sociedade do rise, TInt. tn 20 deat pli cil nb odio pra da sida do. Capita V- A vampirzaio do debate da sxiedade do rico pl pera da sepa adh 1. ntegragto do fendmeno da inseguranga cada a0 fendmeno Freecom mab ampo da sealed FES 2. Transformayao da expansso moderizadora do di expansdo SCEUAMTI nvr penal em uma Ta A RS SS * rik recepsto outing 2. Odireito penal 3A reconstrusio 4 Caincn 3s propestts anteies $.0 prosseguiment 2 Tercera Parte Bpinal compara parte A dimensio inctussol® jena ganese eabondagem da jo modelo setas anterior modernizaGa0. : lusto social como guia da politica nas nacionais.. imal OP penn econ Capito VIA som pounce cies * O debate sobre 3 ‘confluénci 2 poltizasio das politica 3. Uma aproximasto rigors Capitulo VITI- A inclusto eo a eat pi como Amer ao sat come ce. 2. Antero de aalise POSEN: roposte. 20s indicadores = 3, Os modelos politico-criminal icadores.. 2. A selegio dos indi 3. Os modelos politico-criminai 3 gacionais contrapostos... Pel gies Cori asd rool ‘criminal comparada.. POs problemas da politica crim 7 Sasi nacional pe politica criminals NAC ” geno objetivo poltico-riminal. ‘panitiva e inclusto socal ' antagonicos Introducao A obra que apresento agora ao leitor tem um titulo convencional. ‘Temo, entretanto, que reflita com exatidao a atual realidade da pol tica criminal em todo 0 mundo ocidental, pelo menos. O crepuiscul do século XX veio acompanhado de doi provavelmente opostos. \Omenos simultineos, mas Por um lado, a consolidacao de um sistema de exigéncia de res- ade com altas cotas de precisdo e seguranca juridica em niimero de paises pertencentes ao chamado “direito penal Este sistema conseguiu acessar a maioria dos Cédigos jurisdicional de um modo significative. ios que server de fundamento a esse siste- ‘a uma critica feroz por diversas instancias sentem obrigadas a manter 0 delicado equili- brio que 0 citado sistema procura entre as necessidades de protecio social e o respeito das garantias individuais dos cidadaos delinquen- tes, reais ou presumidos. as quais no ‘A contundéncia empregada em questionar esses principios esta originando uma situacao de perplexidade entre muitos tedricos e ope~ radores juridicos, aos quais Ihes custa compreender quais S40 os mo- tivos profundos que colocam em perigo uma configuracio de direito penal que, até pouco tempo, se acreditava que avancava em direcao a ima, embora distante, cada vez mais proxima, razoabilidade na apli- ‘cago do controle social penal. ‘As reflexdes contidas nesta monografia tentam explicar a situa- gio A qual se chegou, e até desenhar estratéxias para superé-la. Seu Conterido foi sendo desenvolv longo dos tiltimos dez anos, & medida que, transitoriamente, ‘a minha mente de outro tema Gse me deixoue me deixaré muito ocupado. Refiro-me a construir um iNSdelo teorico e pratico de elaboragio racional da legislacéo penal modelo tedrico ¢ PE [APOLITICA CRIMINAL NA ENCRUZILMADA . " as flutuacées ag sm garantias de éxito, ida. woranea se vé sul ta confrontar, CO jminal contemps imeira parte do trabalho se: aprofunda deci ce etme na atual problemétice pal ico-criminal formasio das condos de vi pul a ores, as demandas e exigénct Arrgrivos que serao objeto de intervencao Pens Srultiplos agentes sociais € 0 aprove todo esse conjunto de circunstancias. mero considerdvel de fatores, identificamos 0 modelo penal que ests pugnando por estabelecer-se, valoramo-l0 negativamente e esboca- mos um modelo alternativo e as estratégias correspondentes. Na segunda parte do estudo, outorgo o devido destaque a re- flexao teorica que acompanha todo esse conjunto de transformacdes sociais. Mais precisamente, seguimos a pista das diferentes tentati- vas de legitimacio tedrica desse novo modelo de intervengao penal securitéria. Convém deslindar, primeiro, 0s assuntos que mente foram confundidos com ele, como € 0 caso das andl desde 0 paradigma da sociedade do risco, para logo nos ocuparmos de descrever e criticar suas diferentes e, com frequéncia, superpostas justificagdes tedricas. Uma adequada énfase de suas insuficiéncias nos ‘poupard muitos esforcos na hora de fazer chegar ao conj da socie- dade a proeminéncia de substituir 0 modelo penal securitério por um modelo penal de bem-estar. ‘Na terceira parte, que constitui uma contribuigdo nova frente & edigao espanhola, assento os fundamentos do que seré um modelo penal de bem-estar. Apés uma andlise critica das tendéncias vigentes ‘nos estudos sobre politica criminal comparada, concluo que, contra a tendéncia dominant, o poto de referencia fundamental devem ser os feos soclment incusvos ou exclusives que um determina de stea pena nacional produz sobre os suspeitos, delinquentes e en wuentes,Depois de mostrar a coeréncia dessa aproximagio Feta panied de bem-estar, em detrimento das propostasneoli aout esttaet pee de indicadores desses efeitos inclusi- ponerirsvents cet hpétese, que precisa ser operacionalizada e Le cada, € acompanhada de outra que sugere quais co pail ay contrapostos desde a dimensao rinuciosas consideravoes maton part do trabalho se encerta com 'gicas sobre a viabilidade de um Verse eit, Die Rpolés 200, 2013, 2" ed. 2 José Luis Diez ipollés quais a po po que prometa avangos substantivos na construc3o do penal de bem-estar. ‘Nao queria terminar esta breve apresentacao sem agradecer 20 ‘meu colega André Callegari pela iniciativa de publicar este estudo no Brasil, assim como 0 esforco que fez para verter as minhas reflexes para o portugues, Isso me da a oportunidade de chegar a um publico Emplo, que ja foi tio amavel em prestar atengdo a outros trabalhos € monografias que escrevi. Ademais, esta nova colaboraao ¢ outro pra Zeroso exemplo da estreita relacao cientifica e amizade pessoal que jnantenho com um penalista brasileiro tao distinguido, cujas produ- goes cientificas e trato pessoal tanto me enriquecem. Malaga, 4 de julho de 2014. José Luis Diez Ripollés ne 3 [APOLITICA CRIMINAL NA ENCRUZILHADA Primeira Parte Os novos modelos de intervencao penal Capitulo I A crise contemporanea dos modelos de intervengao penal Na interpretagdo da recente evolucao da politica criminal espa- nhola, tao prodiga em reformas penais, processuais e penitenciarias, 0s penalistas, na universidade e na jurisdi¢40, mostram certo descon- certo no momento de abordar sua andlise critica: como se os aconteci- mentos que esto sendo produzidos nao fizessem parte do acervo de atuagGes sociais cuja possivel aparicdo, a margem de sua plausibilida- de, havia sido antecipada pelos juristas. Isto gera uma atitude genera- lizada de rejeicdo depreciativa para o que se qualifica sumariamente como uma politica criminal oportunista. ‘Sem jogar em saco furado este tiltimo qualificativo, convém, en- tretanto, que nos perguntemos as razdes dessa incapacidade que os especialistas da politica criminal tém para analisar, com a necesséria equanimidade, algumas decisdes e atuacdes que, por mais imprevis- tas que sejam, nao se pode negar que gozem de um generalizado res- paldo popular e de um impulso politico de amplo espectro ideolégico. Creio que a explicacao de semelhante perplexidade se deve, em boa medida, ao fato de os penalistas estarem analisando as transforma- ‘GOes juridico-penais em curso a partir de um modelo analitico equivo- cado ou, melhor dizendo, em fase de superagio. Refiro-me ao modelo penal garantista. 1. O modelo penal garantista De fato, conhecido com diferentes denominagées ao longo do passado século XX, este modelo se caracteriza em todo momento por desenvolver uma estrutura de intervencao penal autolimitada, até o 'APOLITICA CRIMINAL NA ENCRUZILHADA, 15 enal mini oprio de ‘direito p* gnumerar como SCRUue: pot ode alguns pOuces Pt emtormo de a mente, podersamos mitada aos seus genNUINOS instry, o impli. a. Aateibuic Penvencao, a norma € entos de inter" ene eceptiveisna medida er el Soma duziriam efeitos ve controle social em geral. Somente to mais amplo, 0 ramon rt comsaren tendidos pelo resto dos ‘subsistemas In vinculagoes comunititis, 2F riblica.. ~ € inter o se ete aps crc fementos sociais. ‘Tonsiderava seu possivel Uso como {amen promotor de transformasoes 0S Valores SOC vigentes. b. Deliberada reducao de seu Ambito de atuagdo 4 tutela dos pressopostos mais essenciais para aconvivo, I 16 José Luis Diez Ripollés sick de uma eficcia HOTS penal. Estes somente pro. | essenciais para a convivéncia que se acabou de mencionar. Isto expli- exigéncias que devem ser satisfeitas pelos poderes pt- tabelecerem 0s comportamentos delitivos e as penas para cles previstas, no momento de verificar a ocorréncia de alguns € a procedéncia de outras no caso concreto e no momento da execusao das sancées. O temor de um uso indevido do poder punitivo conferi- do ao Estado, que pudesse terminar afetando todos os cidadaos, per- rmeia todo 0 quadro conceitual de direito penal garantista, desde os critérios que identificam os contetidos a serem protegidos, até aqueles que selecionam as sancoes a serem impostas, passando pelos que se ‘ocupam de estruturar um sistema de exigéncia de responsabilidade socialmente convincente. . Existéncia de limites transcendentes no emprego de sangoes pe- nais, Assim, 0s efeitos sociopessoais pretendidos com a cominagio, im- posigio e execuigao das pens, por mais necessérios que parecam, em Penivurna circunstincia devem superar certos limites. Um deles € 0 da humanidade das sangées, que vern a expressar que determinadas san- (oes, ou determinadas formas de execusao de sangdes,s3o incompati- eis com a dignidade da pessoa humana, motivo pelo qual nao podem ser impostas, qualquer que sea a entidade lesiva do comportamento ou § intensidade da responsabilidade pessoal. Outro dos limites que nao devem ser superados é 0 da proporcionalidade, em virtude da qual a pena deve ajustar-se em sua gravidade a do comportamento delitivo 20 ‘qual se conecta, ‘devendo manter uma correspondéncia substancial com fe fomentar ou, 20 menos, nao barrar 0 ca~ ele. Finalmente, a pena dev gminho A reintegragao social do delinquente, ideia esta que se configura ‘como um direito de todo cid va da ordem social, como do: dade da sociedade na aparicao lado e se nutre tanto de uma visdo inclusi- ‘reconhecimento da quota de responsabili- do comportamento delitivo. idelar o controle social penal. Por essa vio, as erficasfetas, desde o garantismo até recentes decisdes1e8}5° ia penais, perdent-se no vazio da incompreensio socal N80 S20, sr mais, objeto de uma réplica cumprida por seus promotorss, porque 0 novo modelo esté carente, ainda, de Wms suficiente estru- conceitual e princi | que terminard chegando, mais conceltande, e, com ela, 0 modelo antagonista ao do direito rantista TVeroconteido do Capitulo ¥. forma de configurar e mo. CRIMINAL NA ENCRUZILHADA socializadov do assentado iniciou seu surgimen, tue em outros, € isso tem myig> {qual o modelo em elaborac;? anos 60 e 70 do século XX, certos ordena, ‘uma decidida orientacao a favor do que sg dor. Este modelo foi implantado con. ilo oe pases anglo-sax0es, de modo especial nog ete Bretanha, assim COMO M03 PatSe5 escan, sare outros lugares. Seu estimullo Vinh de ccologia do t aves eta consicerava que a legitimacao do direto penal nascig aan pacidade de rssocializar 0 delinquente, ¢ que todo o instru. ria ser reconduzido para essa finalidade. possuia longa tradicio, desde os ianos da segunda me. (ere do seculo XIX, passando pelas chamadas escolas intermedisrias liana e alemé dos anos 20 e 30, e as teorias de defesa social que flo- pateram na Iida e na Franca nos anos 40 e 50, todas do iiltimo sécu- Ip. Porém, o realmente inovador foi que 0 conjunto de paises citados pretendeu, durante mais de duas décadas, configurar seu modelo de Intervencao penal de acordo com essa ideia de ressocializacdo do de- linquente. 550 implicava uma série de decisdes significativas, entre as {quais podem ser destacadas as seguintes: a. Appauta de atuacao é, de fato, a busca da reintegracao do delin- quente a Sociedade, objetivo ao qual devem se acomodar os demais, Isso significa que os outros efeitos sociopessoais pretendidos tradicio- alent pla pena fquem em segundo plano ou sofram um descré ito sem paliativos. Este era, sem duivida, 0 caso daqueles dirigidos Para 0 corjunto da populagdo, a saber, os encaminhados a alcancar {ima revencio geal dos deitos mediante o aproveitamento dos efe- sa saeuiatrics, corretordesocializagbes defeituosas, ou reforcador reat sl nesta susctados nos cdaddos que percebema dts Poser eeata duo delinquent sofre depois de cometer umm im alguns obscurecidos efeitos dit de modo direto a prevenir que 2 comets um deh ce ee Selinguente em concreto volasse tundentemente Estados Unidos € b. A obtengio desse objetivo ressocializador exigia desconsiderar to penal classico. Assim, abrandam-se realizado no momento da determinaca0 da responsabilidad do delinquente, prestando-se especial aten¢a0 fem seus condicionamentos pessoais € sociais no momento de come- ter um delito. Promovem-se as penas indeterminadas, cuja duracao € contetido s4o diretamente condicionados pela evolucao registrada no processo de reintegragao do delinquente & sociedade. c. A pena de prisio é objeto de uma valoragao ambivalente. Por um lado, considera-se que proporciona um marco espacial e regimen- al que facilta as aproximac6es reeducadoras aos delinquentes — por jaso se fomenta seu uso desamparado -, na medida do possivel, dos Componentes aflitivos e com caracteristicas diversas segundo as ne- Cessidades de tratamento a que deva atender. Por outro, percebe-se {ue se toma dificil evitar as consequéncias negativas inerentes a todo fiternamento e s4o impulsionadas, sobretudo na segunda metade do periodo de vigéncia do modelo ressocializador, penas altemnativas & Ee prisdo, com capacidades para conseguir 0 mesmo objetivo resso- Galizador, mas com o delinquente levando uma vida total ou parcial- mente em liberdade. d. A abordagem da delinquéncia se consolida como uma tare- fa de especialistas. Sem dtivida, compete aos profissionais da policia ¢ da jurisdigo, mas, sobremaneira, a um conjunto de profissionais das ciéncias do comportamento que, na busca pelas vias mais eficazes para obter a reintegracdo social do delinquente, contribuem massi- vamente com seus conhecimentos no momento da determinacao da pena e, singularmente, durante sua execucao. Os politicos interferem Pouco no que consideram um trabalho técnico, e os cidadaos em geral nao mostram demasiado interesse, salvo acontecimentos ocasionais, sobre 0 que é feito com os delinquentes. , este modelo ressocializador sofre um generalizado ¢ rapido colapso desde meados dos anos 70 do século XX, nos paises que mais haviam se envolvido com ele Uma breve exposicdo das ra- z6es que levaram a tal desmoronamento poderia ser a seguinte: a. Expande-se 0 desanimo entre boa parte de seus defensores a respeito da eficacia das técnicas de tratamento. Estende-se a ideia de que foi estruturado um sistema inteiro que, em tiltimo caso, oferece comportamento fut oust inocula es uel Tecebe mediante aimposigio da pena escassos frutos. a > para causar danos & soc, ; —_—_ Permanéncia na priséo, 108 A sociedade enquanto dure sua Tym documnto europe eepcilmenteistrativa em seu momento fio elaborado, em mea- senso Eee Navona Sues de revengio a cre (979). 18 19 J0s6 Wis Diez Ripollés [APOLITICA CRIMINAL NA ENCRUZILHADA, fe que a énfase na ressocalizagao Sea "2 de fumaca que He oem seu cOnjUntO, dos se- rgaos de controle isto do que po- jos da criminolo- impressio imP jetivamente uma cortins da socie’ ]. Os movimentos ‘papel a esse resp’ commstribuem um importants, ito, a partir de Ba Gr de dentro do moelO Fessoe izador. se 0s argumentos Prop! Ressuscita ide serem uestionam itimidade gue questa tose sab 8 Pe seo se, por um lado, o restabelecimeTe s garantias um Jattade de que a responsabilidade deri. determinada, € fionam-se, por outro 1a que, com frequencia, nao 5 gxterno da norma por parte profundamente a Perso! 14. Outros efeitos sociopessoais da pe conjunto social, ou aintimidasto guinoculz8 rerum prestigio. A eficécia do primeiro © Sam ‘roporiona ‘a gravidade da conduta r gem da caracteristicas do delinquente. to do segundo supée cequecer a exigéncia de proporcional ‘de quando estamos diante de Jongas condenacoes de prisdo, em boa medida alheias & evolucio do interno, fro lado, as pretensdes jtam a assegt delinquente, mas aspi jade do mesmo. wna, como a intimidacao ao a0 do delinquente, recu- ‘catdlogos de penas que ealizada, a margem das Capitulo 11-0 novo modelo penal da segurans cidada Garland, tem destacado que todas essas mo- intervengao penal em uso se limitam a re- inda das crencas e formas de vida da set dade modema, a qual estaria transformando a politica criminal. ‘Assim, colocando-se em um nivel de andlise superior, Garland tem tentado identificar um conjunto de recursos que responderiam a es sas modificagoes nas atitudes sociais e que constituiriam, ao mesmo tempo, um bom compéndio do novo modelo de sngao penal em curso.! Essas caracteristicas foram formuladas a partir das experié Um autor britanico, dificagdes nos modelos de fletir uma alteragao mais profu * Ver Garland (2001: 620 e passim, ee eee 20 Diee Ripolés centes estadunidense e brits es ea e britinica, isto é, em relacdo aos sistema: kos que respon st poo tempo, so moselo peal reo. anto, considero que desenrolam um bom fio condui- Spactinen sean nos sistemas jurdicos até agora mais vnculados ao modelo penal ga Fantista como €0 caso da maior parte dos ordenamentos europe € eres Se atm fos smene terlrosee=rtzae 0 ; ico que buscévamos no capitulo anterior, mas tam- bem jé teriamos nao ws origene do novo modelo de ier Coyenal assent poranto,asbusesdesuscntas Inspirado, em grande parte, na citada andlise de C na citada andlise de Garland, nho,a seg squeas que Consider wee motorss do nov modelo de intervencao penal que est sendo configurado, utilizando como or- denamento juridico de referéncia 0 espanhol. 1. Protagonismo da delinguéncia clissica A delinquéncia classica, isto é, a que gira em torno dos delitos contra interesses individuais, especialmente da vida ¢ integridade, propriedade e liberdade em suas diversas facetas, que durante dois veculos tem constituido o grosso dos assuntos abordados na jurisdi Gio penal, tem superado 0 risco de perda de protagonismo que minalidade propria dos poderosos e, certamente, 0 legislativo, avancos muito significativos nesse 2 exemplo singular 0 renovado catslogo de jenal espanhol de 1995. Também tém sido registrados esforcos por parte de determinados setores judiciais para se levar asério as antigas e novas previs6es legais que penalizam Comportamentos delitivos habitualmente levados a cabo por setores socialmente privilegiados.” No entanto, somente alg de aplicacao ocorreriam, no amt sentido, dentre 0s qu: delitos introduzido pelo cédigo pe suns anos mais tarde predomina, na opi- niao publica, uma atitude resignada frente aos obsticulos nos ue tem tropecad 0 intento de assegurar o funcionamento se excegoes Hanovo catilogo de delitos do Cédigo Penal. As causas de tal pessi- ce sneo sao diversas: por um lado, tem-se a impressao de que os pode- tend persecug8o ds deitoselaions Picross, devido ao ambient antes beneticios que certos seo ENCRUZILHADA [APOLITICA CRIMINAL NA tos téenicos apenas ACeSSIVEIS a peso, tapaldo politico, foram capazes de gy: “fants do direito penal e processus, ‘ar-se, em grande parte, da persec, rimento das sang6es. Em segunds reepcio social de que, em todas essa. | wiitar 0 aproveitamento sectarig a ‘0 fendmeno da judici do 2. Prevaléncia do sentimento cc tngegundo planoa veri ide, a a : as | consolidagao da delinquéncia clissica iio inesti- We das condutas processadas, sepultadag vel na generalizagio do sentimento coletivo de ineegueanga dda da: como consequéncia de uma diversidade de fatores, alguns dos Diante da confusio que os do que os problemas elencados parecem criar sobre a criminalidade dos poderosos; a delinquencia clisica est mais presente do que nunca no imaginario coletivo, de inseguranca cidada 1a deixando et cao da gravida ae aes reciprocas de condutas semelhanics Por ai adicional, onge de ser desprezivel, tem sido a atity. dquais serao aludidos mais adiante,” tém sido incrementados, ha al- fenal com os obstéculos surgidos guns anos, na populacdo, tanto a preocupagio em geral sobre a de- Tinquéncia, como o medo de ser vitima de um delito.” Tais atitudes ‘ocorrem, além disso, em um contexto peculiar, com dois recursos es- pecialmente significativos: _ Por um lado, a extensa sensagao na sociedade de que as coisas estao cada ver piores em assuntos de prevengio da delinquéncia, sen- Um ; ° da doutrina p' eee cea ipo de delinquencia: 0 que comesou sendo tng ro Pe pacio peas dificuldades conceituais encontradas no momento seencaixar as novas formas de delinquéne’ proprias dos poderosos | oe enc ir de descrigto legal e de persecucao do direito penal tr, dial em dado nna 8 PoP a deca ciminaidde.| ; ‘dade de pel lade. | ho eignficativa na intensidade de persecucio dv cee ir rica sot ‘sintomatico que a discussao tedrica inate penal” nao verse, como poderia imaginar um leigo, sobre as i das a endurecer o arsenal puni- ‘continuas reformas legais encaminha sit i inqué Assit sfoque dos perfis deste tipo de delinquéncia comeca ater consequéncias préticas reformas lea linguencia cléssice, mas que, muito pelo | eden tsi anizoan eas edn Sumer aases mot ee tivo dispor 3s contrério, tenha como primordial objeto de reflexao a conveniéncia vidade de sua persecugio, como € 0 caso da recentemente introduzida obrigag3o do Ministério {minalidade uma rea¢ao penal notavelmente edd ds diigncs te ivergaco s intes aflitivos. Pretende-se legitimar isto penal nesse ambito, a ser a ; Barantias penais, nunca eficientemente concretizada, tampouco justi ficada e muito menos acreditavel.* e oefetivo incremento da taxa de criminalidade {Na dscasso expanhoaeprovavelment, na europea em geral Siva Sénchez (2001) tem for ‘s smulado a propesta mas del sta segunda edicao da obra, em contraste Com 0 que si- no poe sero mais important roi acute ton comerado ase dar conta de queofenomen da na Espanha que, apes doa ‘Roverado, dos ulmos anos segue estando abaino dos tot comedic dr conte nn paises de nosso enfomo, Ver Diez Ralls (2007) 323 1m menconadas em meados de 2001 como um Se a delinguncia a inseguranga cldad8 era Py dos espana, o que os colocava em quinto 1c padecemos|é nf graem tomo das novas fr aha sed \idade, durante a maior parte do ano de 2003 se mo simplificador ~, mas ao redor da de fodo equivalent, aoe aesis inal importantes mencionados por aproximadamen~ go de relma pests emas sfeseches ena iote Lemog a : arrests e ops [A POLITICA CRIMINAL NA ENCRUZILHADA confianga na capacidade dos po. cago que se projeta em uma es eres publices F outro, tem desaparecia Geres publicos para afrontar o problema see Fide compreensio.em relagi0 a criminalidade tradicional, em 2uNtialem relagio a pequena delinguéneia, atituce muito difundida Feeanos 70 80 e que se fundava em uma compreensao do delinquen. como um ser social mente desfavorecido e marginalizado a quem a fava obrigada a prestar ajuda; agora, os delinquente sao Vistos, sem que se procedam a distingdes segundo a gravidade ou fre- guéncia de seu comportamento delitivo, como seres que perseguem, Sem escripulos e em pleno uso de seu livre arbitrio, interesses egois- tas e imorais, em detrimento dos sido apresentadas como tendé: dor sexual”, “criminoso incorti desalmados”, que refletem acertadamente 0 novo status so manizado, do delinquente. ‘Além do mais, essa preocupacao, ou esse medo, pelo delito jé nao se concentra nos Ambitos sociais mais conscientes ou temerosos da delinguéncia, mas se estende a setores sociais antes relativamente dis- tantes de tais sentimentos. A preponderancia dos espacos dedicados & crénica criminal nos mais diversos meios de comunicacao, nos quais, janao éestranho que ocupem as principais manchetes, tém a ver, sem duivida, conquanto nao exclusivamente, com o eco que tais informa- (es suscitam em camadas amplas da populagao."* Isto tem permitido que 0 medo ou a preocupagao pelo delito se estabelegam na agenda social entre os assuntos mais relevantes e, o que éainda mais significativo, que a persisténcia e o afinco de tais atitudes tenham se tornado um problema social em si mesmo. De fato, € facil notar que um bom ntimero de programas de intervengao penal sao desenhados nao tanto para reduzir efetivamente o di diminuir as generalizadas inquietudes sociais sobre a delinquéncia.”” sociedade fa qualificacdes como as de “preda- 3, Substantividade dos interesses das vitimas sami Urante muito tempo, os interesses das vitimas tém sido sub- sumidos nos interesses publicos. Sua tutela se obteria na medida em etensio tem sido um dos nichos me to penal para fins alheos quel q Ripollés (20083): 80s. que a incidéncia do delito sobre determinados cidadaos supusesse um rejuizo aos interesses da sociedade em seu conjunto. De fato, este re- quisito segue fundamentado na caracterizagao do direito penal como um setor do direito pi srenciado do direito privado. Tem sido sustentado, inclusive, o principio da neutralizagao da vitima, com 0 qual se quer expressar que as vitimas devem ter uma capacidade de intervengao na reagao penal suficientemente limitada, de forma a nao condicionar os interesses puiblicos que estdo sendo substancialmente examinados nela. De qualquer forma, parecia evidente que um cor- reto entendimento da utilidade publica impedia contrapor grosseira- mente 0s interesses das vitimas com os interesses dos delinquentes por um juizo justo e por uma execucao penal atenta a suas necessi- Eades de reintegracao social. Nem sequer o recente desenvolvimento da vitimologia, com seu realce de medidas penais reativas atentas a satisfazer 08 interesses da vitima, questionou a devida consideracao dos interesses do delinquente condenado. No entanto, a plausivel atengao aos interesses das vitimas tem adquirido, nos tiltimos tempos, algumas inclinacdes inovadoras: an- tes de tudo, s80 as demandas das vitimas reais ou potenciais, quando nao de vitimas arquetipicas sem existéncia real nem possivel, as que guiam o debate politico-criminal, rumando a reflexdes mais comple- Xas, atentas a0 conjunto de necessidades coletivas. Em segundo lugar, © protagonismo dos interesses e sentimentos das vitimas nao admite interferéncias, de maneira que a relagao entre delinquente e vitima acabe entrando em um jogo de soma zero: qualquer ambicao por parte do delinquente, por exemplo, em garantias processuais ou em bene- ficios penitenciérios, supde uma perda para a vitima, que 0 vé como um agravo ou uma forma de evitar as consequéncias da condenacao; e, em menor medida, 0 mesmo vale para inverso, todo avanco na melhora da atencao as vitimas do delito é bom que se repercuta em uma deterioracao das condigées existenciais do delinquente. Assim, finalmente, o que se tem produzido é uma inversao de papéis: agora, ima que subsome, dentro de seus proprios interesses, os inte 5 da sociedade, sao seus sentimentos, suas experiéncias trauma- as exigéncias particulares os que assumem a representagio ‘cos; esses devem ser personalizados, individuali- ‘s concretas de vitimas, grupos de vitimas, afetados racao tem modificado seu curso: atribui-se as vitimas a gurar que argumentac6es Complexas e matizadas dos poderes puiblicos, que pretendam abran- ger interesses sociais contrapostos, sejam mantidas suficientemente acne eee [APOLITICA CRIMINAL NA ENCRUZILHADA 25 distanciadas, para que nao interfiram na adequada satisfagao dos in. teneeces daqueles diretamente afetados pelo delito."* 10 ¢ politizagio Os agentes sociais que sao determinantes na adogao € no contedi- do das decisdes legislativas penais tém sofrido modificagoes de gran- de importancia. ‘Antes de tudo, os conhecimentos ¢ as opinides dos especialistas sio desacreditados. Isso se refere, sem diivida, as contribuicdes pro- cedentes de uma reflexao tedrica que, paradoxalmente, tem consegui- do, no 4ambito da interpretacao e sistematizacao da lei penal, niveis de precisio e rigor conceituais no alcancados por outros setores do ordenamento ju stias consideracoes tém deixado de ser jé nao apenas compreensiveis, mas dignas de compreensao para influentes setores sociais. Porém, a reputacao dos especialistas inseridos na pré- tica judicial ou da execucao das penas também se encontra prejudica- da; 0s juizes so vistos como um coletivo pouco confidvel, que adota, com frequéncia, decisdes distantes do senso comum e aos funcions- rios da execugao penal parece somente preocupar o bem-estar dos de- linquentes. Somente a pericia policial, em sua dupla faceta preventiva de delitos e perseguidora dos jé cometidos, segue sendo considerada neste caso, suas eventuais insuficiéncias nao levam a ‘questionar a utilidade de seus conhecimentos, mas a propor seu aper- feicoamento e sua melhora."* Em contrapartida, a experiéncia c do imediata da realidade e dos conflitos sociass tem passado a ser {in fator de primeira importincia no momento de configurar as leis penais, e pugna por sé-lo, também, na aplicacao legal. O inovador, ne Entanto, nao € que tais experiéncias e percepgbes condicionem a cria "20 € aplicacao do direito, algo legitimo em toda sociedade democrs— ica, mas que as demandas sejam atendidas sem intermediarios, sem rposicao de niicleos de especialistas para refletirem e avaliarem 3s complexas consequéncias que toda decisao penal implica. Os Por tadores desses novos conhecimentos so a opinio publica criada pe- meios populares de comunicacao social, as vitimas ou grupos de vitimas e, em ultima andlise, a populacéo comum. Para que estes tiltimos agentes sociais possam estabelecer sua Te- levancia, € preciso que os agentes institucionais diretamente vincula- dos com a criac3o do direito outorguem as demandas populares um ‘acesso privilegiado, mediante o qual possam evitar os habituais con- troles burocraticos que em toda democracia velam pelo fundamento das iniciativas legislativas. Sao aplicadas nos ultimos tempos a esta tarefa, com extremo cuidado, forcas politicas de todo o espectro ide- ologico. As vias para seu éxito transitam, de forma singular, ainda que nao exclusiva, pela aceleracao do tempo legiferante a dia, quando nao eliminacao, do debate parlamentar € vernamental; trata-se de que os politicos possam jus! daquelas fases procedimentais nas quais 0 protagonismo é de profis- sionais especialistas, em virtude da urgéncia ou do carater indiscuti vel das decisdes a serem tomadas, que se revistam de tal urgéncia € irrecorribilidade do conceito de alarde social, de urgéncia do proble- ma, de consenso social, ou de qualquer outro recurso retérico. Isto permite as forcas politicas estabelecer uma relacao imediata entre as demandas populares e a configuragao do direito penal, ¢ colher, por meio disto, os importantes resultados politicos que esta pretendida democracia direta” fornece. Esta dinamica populista e politizada tem uma série de tragos, en- tre os qua z convenha destacar dois deles neste momento. [A POLITICA CRIMINAL NA ENCRUZILHADA 27 —~— dos especialistas tem 0 dese 2 dest aistanciamento ou incom. u contas ou modo de proceder tem sido pen oporeaminhad a privat nes secede encayg sua pericia, BozaVam em en re gxemplos a esse Fes Sai fe no camp pci edst0 do arbfro judicial no iste seguranca, Ou 0 Festo beneficios 11/2003€ segundo pelo povo.e pelos poli Pim destacado empo! pluralidade de plicacao desses Prrmédios da delinquencia, 0 que ‘esem refinamento, RO ¢ contenham certa complex anciamento em felagdo a atualidade mais imediata. : paeseme ‘gemandas populares, conduziu os artidos majoritérios: idente corrida por de- r ye cao mais duros diante d uma surpreendente ‘monstrar que $40 proximidade de propostas politico cre que, para alguns deles, apoe a perda de sua identidade ideo! OB. ” ator se enuncia com faciidade © manejo excludente ficos do debate politico-criminal tem conduzido receimento de seus contetdos, Diante da maior feria esperar da direta im- ecussao sobre as CaUSAS € ‘um debate uniforme quer posturas que 2 pod! 5, Revalorizagdo do componente aftivo da pena obtida pelos interesses das vitimas ¢ 0 popu" fade social a certos sentimentos cuja de- era compreendida, mas nao tanto das vitimas e A preponderincia lismo tém dado respeitabilid. manda de satisfacdo, em outros tempos, jtendida; rfiro-me aos sentimentos de vinganca, seus familiares como da populacao em geral. ade judicial e penitenciaria que est resi perda de poder da disc ‘ambén, Magueda Abreu terminaram de bjetivos que ‘Aceste fator tem sido acrescidos outros dois que reforcar uma transformacdo significativa do conjunto de a pena deve satisfaz« Assim, a ressoci .gd0 do delinquente, apesa oe seen cnstituir em um objetivo destacado da execusdo penal. Certamentey Seu questionamento se iniciou entre os especialistas, como mais 25° sen dinalamos,"e teve uma notavel influéncia na reestruturacdo 20 Modelo juridico-penal em ordenamentos que haviam apostado ques ‘dade no efeito ressocializador da pena. Porém, a formur jecoes foi iniciada jé ha mais de duas décadas e, de5- eentéo, tem matizado notavelmente a percepsio especial sobre Sieratamento dos delinquentes. Agora, predomina uma aproximagao 0 rg realista ¢ menos ideologizada aos frutos que as diversas once Gisponiveis podem oferecer, com ambitos de interven, ore tirro a desintoxicacio e insercdo de delinquentes usuarios de drogas, que tém mostrado amplamente sua efetividade.® 'No atual estado das aut gs toma-se injustificado, entao, colocar a ressocalizacio ° um Segundo plano frente a outros efeites sociopenais da pena, como a SeBwrizacho, a prevencao geral ou a reafirmacao de valores sociais. Nresentanto, a opinido publica tende a valorar as medidas a6, como Foco na Teinsergao social do delinguente, flexbilizam a execugao Pe foto pmo um conjunto de favores imerecidos concedidos 08 delin- quentes.” Esta ideia caminha estreit de da qual foi destituida, dentro d delinquéncia, aquela que a considerav: sequencia das desigualdades socias, ja nO com exc! lacao de tais ot amente associada a outra, e em virtu fo acervo de explicagoes sociais da 'a, em grande parte, uma cOR- momento de interiorizar dos meios para desen- gs normas sociais, Seja no momento de dispor teiver o plano de vida pessoal. A partir de uma visto ‘marcadamente ‘as diferencas de oportunida- iedade, que sub bros, a delinquénci jesnecessario preme- ente consensual da soci de entre seus mem! ditado e pessoalmente dé ia é percebida como um cenfrentamento do delinqu« cotimistas em Redondo Tilescas tamentos genésics © fe droga, asim como.s Watamene qercumprimento de pena, slo INAL NA ENCRUZILHADA [A POLITICA CRIMI sta que preste a devida 1e exige uma respos! a sages jque tém conduzido a ela edo res tem fomentado uma série de mog Js ter sgema de penas ¢ sua eXeCUGAO que, em bor a i Jeamente, no desejo de fazer mais gravosa eee re sonequiéncias derivadas do cometimento de ima delinguon' ionar a introdusao das penas de privacio de liberdade cuja duragao pratica se aproxima, contra uma tradigdo bissecular sé Eepanha, & reclusio por toda a vide,” 0 notavel endurecimento qa regime penitencirio mediante 0 estabelecimento de condicdes mai, Meiritas de acesso ao regime de cumprimento em terceiro grau ou § reer ie condicional/* 0 renascimento das penas infamantes, como ¢ peer da publicacao de lstas de agressores ou delinquentes sexuais,s osargarantia de uma efetiva persecucao de determinados delinquen. isso de exercicio da acao popular por érgiog tes mediante 0 comproi 0 do poder executivo de comunidades autonomas. coma sociedade, 3 futilidade das Oconiunto di Jos trés fator 6, Redescobrimento da pristo 0 fato de que a prisao é uma pena problemética se transformou em um t6pico, no modemo duplo sentido da palavra, que tem estado presente na reflexao politico-criminal h4 muitas décadas. Em espe- Gal durante a segunda metade do século XX, tornou-se lugar comum ‘uma série de consideragoes bem fundadas sobre os efeitos negativos do encarceramento sobre os diretamente afetados e sobre a sociedade em geral. Enquanto as penas longas de privacao de liberdade eram consideradas desumanas, pela destruicao da personalidade do reclu- so que tendiam a acarretar, assim como socialmente contraproducen- ius desumanizado que odelinquente adquire no imag precentee deforma prsdoxa, devia sum previa considera co ‘emo qualquer outro, desfratou de igualdade de oportunidades. Vera res hamosna seo 2 deste Capitulo. * Ver onnovos arts. 766 78 do céiigo pen em outa eps, sm iange, como durante o fran ‘ds remisaho de penas pelo ro, 0 que agora fa nko & mi tm leva, em outros forma praticamente ® Ver referéncias em Si ‘obrigacto de os rec sem 30 José Luis Diez Ripollés ee , por gerar inadaptacao do recluso a qualquer futuro reingresso na comunidade, as penas curtas de prisdo eram consideradas um fator ordem na consolidacdo de pautas comportamentais deli- \quentes de pouca relevancia, mediante o contagio com exercendo um efeito socializador inverso ao especificado. Isto fomentou, em especial nos paises que mais haviam avancado no modelo ressocializador, e como ja destacamos,” um forte movimento favoravel em busca de penas que pudessem substituir total ou par- Galmente com vantagem a pena de prisao. £ o momento de desenvol- Vimento de sistemas efetivos de penas pecuniérias, da aparicao das. penas de trabalho em beneficio da comunidade, de prisoes adversas, Be liberdades vigiadas ou a prova em suas diversas modalidades, da fevalorizacao da reparagéo do dano como substituto da pena e dos regimes flexiveis de execucao penitenciéria. E certo que, na Espanha, o ceticismo em relacdo a pena de prisdo somente foi capaz de superar 0 Ambito tedrico ou académico quando se iniciaram o8 trabalhos de elaboracao de um novo Cédigo Penal; porém, embora tardio, o novo Cédigo Penal de 1995 constifui uma Fitroducao significativa nesse sentido. Junto da transcendente decisdo de climinar as penas de prisdo inferiores a seis meses e da busca da éfetividade nas penas pecuniarias mediante a adocao do sistema dias- “nulta, foram integradas no sistema das penas novas sangdes, como a ‘em beneficio da comunidade ou as prisdes de final de se tamente destinadas a evitar, desde o principio ou mediante rma pena de priséo questionada. Nao ttuigao da suspensio da 1 0 regime penitencid- seus pares, de trabal mana, di seu papel como substitutivos, w se esquecetr, tampouco, de potencializar a insti execugao da pena de prisdo, nem de flexil rio, em especial no tocante a obtengio do terceiro grav ou a liberdade condicional. No entanto, uma coisa € a concretizagao, no Cédigo Penal, deste relativo distanciamento da pena de prisao e, outra, sua real colocacao em pratica. A maior parte dessas medidas destinadas a ser uma alter- nativa a pena de prisdo nasceram orfas de meios materiais e pessoais necessarios para sua efetiva implementacao. As razdes pelas quais um ‘gislador, genuinamente interessado nesta mudanga de rumo da exe- ‘0 penal, pode desatender aspectos tdo essenciais em sua decisio legislativa nao sio féceis de compreender: junto a defeituosa técnica '@ usual em nosso pais, na qual todos os necessarios estudos ‘das leis nao transcendem sua qualida- legis! sobre a futura implementag3o 0 de de mero tramite do expediente administrativo, deve-se pensar no Ver Capitulo PB verCapite 31 [APOLITICA CRIMINAL NA ENCRUZILHADA s do Estado de by idas proprias: eM -e5, dat g modificas®es Propostas, qu is jgoes de Fecursos;em rele Fudiciais € penitencidriog © tempo, cot vee sobreveid eM POUCO teMPO, coy ba 9 aotogica que nha sido manta ern de und ota reorientagd0 PrOPOsta NO Novo eg, on y medi politica tema dias-multa nao tem imped; 1e o sist seja como for, 06071966 YT, calculada de modo semiau tia das multas $5 te a diversa capacidade econdmicg recanted seane a gue 2 Penivido a fundo suas potencialidades, dada rial e pessoal: e que © trabalho em j devido a falta dos " ‘de apenas seja aplicado ee socom sea Toque poaen oie 7 4 Feinadores comunitarios. ‘As possibilidades de suspensio da execugao da pena tum tratamento em liberdade, proprio da Go terceir grau ou da liber dade con- ie Ntadas para além do ambito da depen. 2 tn atc déncia de drops ca jelo aumento de ingressos, tem sido centra- agora de novo superada pt ‘dendo da dotacao d JBnas condigoes de habitabilidade, descuidando \Ga0 de meios das et msterias para as metas resscializadoras inerentes ao reg me penitencisrio.” nquanto todo esse rustrante processo sucedia na Espanha, nas nagdes de seu entorno cultural, nas quais estava bem assentado 0 sis- fema de penas alternativas & de prisao, estava ocorrendo rado processo de recuperacio do prestigio das penas priv: iberdade, o que estava dando lugar as correspondentes reformas le- gais. Sua recuperacao de crédito nao tem a ver com a melhora de suas potencialidades reeducadoras, que seguem sendo consideradas escas- 548 ou negativas, mas com sua capacidade de garantir outros efeitos sociopessoais da pena: em primeiro lugar, os intimidatérios e os me- famanteretnbutives, os quas, com a aqusicdo pelo delinguente do sss de pesso normal ea ascensto dos interesses das vitimas, tim primeito plano; em segundo lugar, os efeitos inocuizado- coho das ena atenativas .cordenads por Cid Mola Latre Igados do penal, vero iustra- (2002): passim. seus desviados e, sobretudo, a sua negativa em assumir 0s custos eco- némicos e sociais vinculados ao controle do desvio em suas origens mediante as correspondentes transformacoes sociais.* Dada a instével evolucao espanhola, nao é de se estranhar que esse movimento pendular tenha encontrado terreno fértil em nos- 0 pais, quando ocorreram algumas minimas condicdes favoraveis, como um transit6rio incremento da criminalidade, e um governo € ‘oposi¢ao majoritéria que pugnam por destacar-se em sua luta contra ‘© crime. Os frutos j4 estao em nossas maos: sem nunca ter chegado a testar seriamente as penas alternativas a de prisdo, as reformas de 2003 recuperaram as penas curtas de prisao de trés meses em diante, ‘em paralelo a supressao da deten¢ao de final de semana, incrementa- rama duracao das penas longas de prisao e introduziram importantes rigores no regime penitenciario. 7. Auséncia de receio ante o poder sancionador estatal © direito penal moderno tem sido construfdo, ha pouco mais do que dois séculos, dentro de um cuidadoso equilibrio entre a devida consideracao do interesse social na protecdo de certos bens funda- mentais para a convivéncia e a persistente preocupacao por evitar que essa tentativa implique uma intromissao excessiva dos poderes pui- jicos nos direitos e liberdades individuais dos cidadaos. Essa dupla orientacao acarretou que os modelos de intervencao penal contempo- raneos, quaisquer que fossem, estivessem sempre limitados, em sua tutela dos interesses sociais, por uma nunca ausente desconfianga da cidadania em relacao a capacidade dos poderes puiblicos em fazer um uso moderado das amplas possibilidades de atuacao que lhes outor- gavam os instrumentos de persecucao delitiva e execucao das penas. Esta falta de confianga se estabelece, ademais, em uma tradigéo poucas vezes interrompida no direito penal moderno. Sem diivida, é © elemento mais caracteristico do modelo de intervengao garantista, mas, também, tem sido um componente destacado do modelo resso- cializador: mais do que uma visdo superficial de seu funcionamento podia mostrar, nele se adotam as mesmas cautelas, quando nao maio- Tes, no momento de se estabelecer o ambito legitimo de atuacao dos poderes ptiblicos encarregados do descobrimento e da persecugao das Condutas delitivas. Tem sido, pelo contrario, a presenga de expectati- 150, 154165; Silva Sinchex (2001): A POLITICA CRIMINAL NA ENCRUZILHADA 33 eradas, am XACT G delinquente, 0 que tem desenca. fazer 0 bem a jeixccucao penal, que jé comentamos, is estao experimentando, nestes momen, ociameu entender, N40 Possuli antecedentos Jo se most vas que Tonto pat 05 no campo ® ee eliminados ou silenciados 0s ven. ue 0 ste eula despreocupask0 elos métodos » UMiberdades individuais empregados pelos tetar a delinguéncia. Além disso, os regi. bicos Param, demasiadas vezes, bem-sucedidos em isolar cos inados ambitos delinquenciais, de modo que em e demonizar deter valer tudor na Espanha, as condutas terrors. sua persecute fg drogassi0 bons candicatos a exemplo. a rant oque agora esté sucedendo tem novos matizes: no sare se atades democrticas, com um amplo elenco de liber mar aiviciais legalmente reconhecidas e efetivamente exercidas, Sade: ni ereralizada a idea de que se deve renunciar 8 cautclas ests sndo Sone egadas de prevenir os abusos dos poderes publicos Crete ites individuals, em troca de uma maior efetividade na

You might also like