You are on page 1of 127

Tratamento da dependência à cocaína: uma

revisão da literatura
Experiência profissionalizante na vertente de
investigação e farmácia comunitária

André Filipe Dias Gonçalves

Relatório para obtenção do Grau de Mestre em


Ciências Farmacêuticas
(mestrado integrado)

Orientador: Professora. Doutora Maria Eugenia Gallardo Alba


Coorientador: Dr. Miguel Eugenio Cardoso Resende

outubro 2021
ii
Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço à Professora. Doutora Maria Eugenia Gallardo Alba por
me ter orientado e acompanhado ao longo deste percurso, por todos os conhecimentos
e confiança transmitidos, e por toda a dedicação.

Agradeço também ao Dr. Miguel Eugenio Cardoso Resende por ter aceitado ser o
coorientador deste projeto, e por contribuir com a sua experiência e conhecimento
científico.

Não posso deixar de agradecer à equipa da Farmácia Tanara – Torre do Relógio pela
forma como me acolheram; pela experiência, conhecimentos e aprendizagens que me
transmitiram; e por estarem sempre disponíveis para me auxiliar e para tirar as minhas
dúvidas. Um enorme obrigado à Dr.ª Ana Rita Diniz, à Dona Ester Castanheira, à Dona
Ana Gil, ao Rui Saraiva e à Mónica Peixoto.

Deixo também uma palavra de agradecimento aos meus amigos, com quem tenho a
sorte de poder sempre contar; por todo o apoio, incentivo, confiança e sobretudo pela
amizade. Um enorme obrigado ao Rafael Inácio, Tomás Mendes, Mariana Dias
Martins, Alexandra Afonso, Miguel Vaz, Mariana Martins, Catarina Monteiro, Vanessa
Gonçalves, Francisco Martins, Pedro Rocha, João Faria, André Bastos e a todos que de
alguma forma contribuíram para o meu percurso pessoal e académico.

Por último, quero agradecer à minha família e em especial aos meus pais, Jorge e
Gabriela, porque sem eles nada disto seria possível. Obrigado por todo o esforço, pelo
carinho e sobretudo pela confiança depositada em mim.

iii
iv
Resumo

A presente dissertação encontra-se inserida na unidade curricular “Estágio” do


Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas; estando dividida em dois capítulos,
sendo que o primeiro diz respeito à componente de investigação e o segundo diz
respeito à experiência profissionalizante em farmácia comunitária.

O primeiro capítulo aborda um trabalho de revisão da literatura intitulado:


“Tratamento da dependência à cocaína: uma revisão da literatura”. Tendo em conta que
até à data não existe qualquer tratamento farmacológico exclusivo aprovado para a
dependência à cocaína, neste trabalho realizou-se uma pesquisa bibliográfica com o
intuito de identificar e avaliar as substâncias mais promissoras no que toca ao
tratamento da dependência a esta substância; assim como guiar futuras investigações,
de forma a agilizar e ajudar na procura de substâncias eficazes para o tratamento da
dependência à cocaína. Após uma análise dos artigos incluídos nesta revisão, concluiu-
se que a família dos psicoestimulantes era a mais promissora, sendo o modafinil e a
dextroanfetamina as substâncias com resultados mais favoráveis. Além da família dos
psicoestimulantes, também a vacinação se mostrou bastante promissora,
maioritariamente fruto dos recentes avanços feitos por Lowell et al. 20201 e por
Havlicek et al. 20202. Por sua vez, também outras substâncias de variadas famílias (Por
exemplo: topiramato, citalopram, MC-25-41, CocH3-Fc(M6), oxitocina, dissulfiram,
naltrexona, etc.) mostraram resultados animadores; no entanto, será necessário
realizar estudos adicionais para que elas possam vir a ser consideradas substâncias
promissoras.

O segundo capítulo é referente ao estágio curricular em farmácia comunitária, realizado


na Farmácia Tanara-Torre do Relógio, em Castelo Branco, entre os dias 1 de março e 9
de julho de 2021. Durante este período tive a oportunidade de interagir diretamente
com a comunidade e de realizar as funções desempenhadas diariamente nas farmácias
comunitárias do nosso país. Assim, de uma forma geral, além da minha experiência
pessoal e do funcionamento da farmácia; neste capítulo serão abordadas as
responsabilidades, competências e funções atribuídas aos farmacêuticos neste âmbito.

Referências: 1. Lowell JA, Dikici E, Joshi PM, et al. Vaccination against cocaine using a modifiable
dendrimer nanoparticle platform. Vaccine. 2020;38(50):7989-7997.
doi:10.1016/j.vaccine.2020.10.041

v
2. Havlicek DF, Rosenberg JB, De BP, et al. Cocaine vaccine dAd5GNE protects against moderate
daily and high-dose “binge” cocaine use. PLoS One. 2020;15(11):e0239780.
doi:10.1371/journal.pone.0239780

Palavras-chave

Cocaína; Dependência; Tratamento farmacológico; Tratamento não farmacológico;


Farmácia Comunitária

vi
Abstract

This dissertation is part of the curricular unit “Internship” of the Integrated Master’s
Degree in Pharmaceutical Sciences, and is divided into two chapters, the first
concerning the research component and the second concerning professional experience
in community pharmacy.

The first chapter addresses a literature review paper entitled “Tratamento da


dependência à cocaína: uma revisão da literatura”. Considering that to date there is no
exclusive approved pharmacological treatment for cocaine addiction, in this work a
bibliographic search was carried out to identify and evaluate the most promising
substances to treat this addiction, as well as guide future research to speed up and help
in the search for effective substances for the treatment of cocaine addiction. After an
analysis of the articles included in this review, we have concluded that the
psychostimulants’ family was the most promising, with modafinil and
dextroamphetamine being the substances presenting the most favourable results. In
addition to the psychostimulants’ family, vaccination also showed to be very promising,
mainly because of recent advances made by Lowell et al. 2020,1 and by Havlicek et al.
20202. In turn, other substances from different families (For example: topiramate,
citalopram, MC-25-41, CocH3-Fc(M6), oxytocin, disulfiram, naltrexone, etc.) also
showed encouraging results; however, further studies will be necessary for them to be
considered.

The second chapter refers to the curricular internship in community pharmacy, held at
“Farmácia Tanara-Torre do Relógio”, in Castelo Branco, between March 1 and July 9,
2021. During this period, I had the opportunity to interact directly with the community
and to perform the daily activities of community pharmacies in our country. So, in
general, in addition to my personal experience and the operation of the pharmacy, this
chapter will address the responsibilities, competences and functions assigned to
pharmacists in this area.

References: 1. Lowell JA, Dikici E, Joshi PM, et al. Vaccination against cocaine using a modifiable
dendrimer nanoparticle platform. Vaccine. 2020;38(50):7989-7997.
doi:10.1016/j.vaccine.2020.10.041
2. Havlicek DF, Rosenberg JB, De BP, et al. Cocaine vaccine dAd5GNE protects against moderate
daily and high-dose “binge” cocaine use. PLoS One. 2020;15(11):e0239780.
doi:10.1371/journal.pone.0239780

vii
Keywords

Cocaine; Dependence; Pharmacological Treatment; Non-Pharmacological Treatment;


Community Pharmacy

viii
Índice

Capítulo 1 – Tratamento da dependência à cocaína: uma revisão da


literatura .......................................................................................................................21

1. Introdução......................................................................................................21

2. Objetivos ........................................................................................................ 25

3. Materiais e Métodos ................................................................................... 27

4. Resultados e Discussão .............................................................................. 29

4.1. Psicoestimulantes ..................................................................................................... 29

4.2. Anticonvulsivantes................................................................................................... 35

4.3. Antidepressivos ........................................................................................................ 35

4.4. Agonistas/Antagonistas Dopaminérgicos ............................................................... 36

4.5. Vacinas ..................................................................................................................... 37

4.6. Enzimas.................................................................................................................... 38

4.7. Hormonas ................................................................................................................ 39

4.8. Revisões da literatura ...............................................................................................41

4.9. Outros ....................................................................................................................... 51

4.10. Tratamento não farmacológico .............................................................................. 60

5. Conclusão ...................................................................................................... 63

6. Bibliografia ................................................................................................... 67

Capítulo 2 – Estágio em Farmácia Comunitária ................................................ 75


ix
1. Introdução ..................................................................................................... 75

2. O Grupo Referencial ................................................................................... 76

3. Organização da farmácia ........................................................................... 76

3.1. Localização e horário de funcionamento .................................................................. 76

3.2. Espaço físico da farmácia ......................................................................................... 77

3.2.1. O espaço exterior ................................................................................................... 77

3.2.2. O espaço interior ................................................................................................... 77

3.3. Recursos humanos ................................................................................................... 79

3.4. Sistema informático ................................................................................................ 80

4. Informação e documentação científica............................................................. 81

5. Aprovisionamento e armazenamento ............................................................. 82

5.1. Encomendas e seleção de fornecedores ................................................................... 82

5.2. Receção de encomendas .......................................................................................... 84

5.3. Devoluções................................................................................................................85

5.4. Preços e margens legais ........................................................................................... 86

5.5. Armazenamento ...................................................................................................... 86

5.5.1. Controlo de prazos de validade e de stocks parados.............................................. 87

5.5.2. Temperatura e humidade ..................................................................................... 88

6. Interação farmacêutico-utente-medicamento ................................................ 89

6.1. Farmacovigilância.................................................................................................... 90

6.2. VALORMED ............................................................................................................. 91


x
7. Dispensa de medicamentos.............................................................................. 92

7.1. Medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) ................................................... 92

7.1.1. Regimes de comparticipação ................................................................................. 95

7.2. Medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM) ......................................... 96

7.3. Medicamentos sujeitos a legislação especial ........................................................... 97

7.3.1. Medicamentos estupefacientes e psicotrópicos (MEP) ......................................... 97

7.3.2. Dispensa de produtos ao abrigo de protocolos ..................................................... 98

8. Aconselhamento e dispensa de outros produtos de saúde .............................. 99

8.1. Produtos de dermofarmácia, cosmética e higiene ................................................... 99

8.2. Produtos para alimentação especial e dietéticos ................................................... 100

8.3. Produtos dietéticos infantis .................................................................................... 101

8.4. Fitoterapia e suplementos nutricionais (nutracêuticos) ....................................... 102

8.5. Produtos e medicamentos de uso veterinário ....................................................... 102

8.6. Dispositivos médicos ............................................................................................. 103

9. Medicamentos manipulados e preparações extemporâneas ......................... 104

10.1. Medição de parâmetros bioquímicos e fisiológicos .............................................. 106

10.2. Preparação individualizada de medicação (PIM) ................................................ 106

10.3. Administração de vacinas e injetáveis ................................................................. 107

10.4. Consultas de nutrição .......................................................................................... 107

11. Receituário e faturação .................................................................................. 107

14. Bibliografia .................................................................................................. 111


xi
Anexo I ........................................................................................................................ 119

xii
Lista de Figuras

Figura 1: Mortes relacionadas com o consumo de drogas – Critério OEDT. ................. 23

xiii
xiv
Lista de Tabelas

Tabela 1 - “Psychostimulant drugs for cocaine dependence” Castells et al. 2016 ......... 119

xv
xvi
Lista de Acrónimos

ACTH Hormona adrenocorticotrófica


AMPA Ácido α-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxazolpropiónico
ANF Associação Nacional das Farmácias
BPA Bupropiona
BPF Boas Práticas Farmacêuticas
BuChE Butirilcolinesterase
CaMKII Proteína cinase II dependente do cálcio/calmodulina
Cdk5 Proteína cinase 5 dependente de ciclina
CM Gestão de contingência
CNP Código nacional do produto
D-AFT Dextroanfetamina
DAM Diacetilmorfina
DAT Transportadores de dopamina
DCI Denominação Comum Internacional
DMP Desmopressina
DT Diretora técnica
E2 17β-estradiol
ERK Proteína cinase regulada por sinal extracelular
fMRI Ressonância magnética funcional
FTFCB Farmácia Tanara - Forum Castelo Branco
FTTR Farmácia Tanara – Torre do Relógio
GPCR Recetor acoplado à proteína G
GR Grupo Referencial
HPA Hipotálamo-hipófise-adrenal
Hsp Proteínas de choque térmico
IN Intranasal
IR Libertação imediata
IVA Imposto sobre o valor acrescentado
KOPr Recetor kappa opióide
LDX Lisdexanfetamina
LEF Laboratório de Estudos Farmacêuticos
L-MA L-Metanfetamina

xvii
mAb Anticorpo monoclonal
mAChR Recetor muscarínico de acetilcolina
MAPK Proteínas cinase ativadas por mitogénio
MDF Modafinil
MEP Medicamentos estupefacientes e psicotrópicos
mGluR Recetor metabotrópico de glutamato
MNSRM Medicamento não sujeito a receita médica
Medicamento não sujeito a receita médica de dispensa exclusiva em
MNSRM-EF
farmácia
MOPr Recetor opióide mu
MSRM Medicamento sujeito a receita médica
mTOR Alvo mecanístico da rapamicina
MTP Metilfenidato
MZD Mazindol
NA Nucleus accumbens
NAC N-acetilcisteína
NAM Modulação alostérica negativa
NTAM Nicotinamida
OT Oxitocina
PAM Modulação alostérica positiva
PBO Placebo
PCA Perturbação por consumo de álcool
PCC Perturbação por consumo de cocaína
PCE Perturbação por consumo de estimulantes
PCO Perturbação por consumo de opióides
PCS Perturbação por consumo de substâncias
PHDA Perturbação de hiperatividade e défice de atenção
PI3K Via da cinase do 3-fosfatidilinositol
PICK1 Proteína que interage com a C cinase-1
PIM Preparação individualizada de medicação
PKA Proteína cinase A
PKC Proteínas cinase C
PKG Proteína cinase G
PVF Preço de venda à farmácia
PVP Preço de venda ao público

xviii
RAM Reação adversa a medicamentos
RED Receita eletrónica desmaterializada
REM Receita eletrónica materializada
rTMS Estimulação magnética transcraniana repetitiva

SDS-PAGE Eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de dodecil sulfato


de sódio
SLG Selegilina
SNF Sistema Nacional de Farmacovigilância
SNS Sistema Nacional de Saúde
SR Libertação sustentada
TCC Terapia cognitivo-comportamental
TCCG Terapia cognitivo-comportamental em grupo
tDCS Estimulação transcraniana por corrente contínua
TrKB Recetor cinase B da tropomiosina
XR Libertação prolongada

xix
xx
Capítulo 1 – Tratamento da dependência à
cocaína: uma revisão da literatura

1. Introdução

No ano de 2018 foi estimado que 269 milhões de pessoas em todo o mundo tinham
consumido drogas pelo menos uma vez no ano anterior. Isto corresponde a 5,4 por cento
da população mundial com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos, representando
quase 1 em cada 19 pessoas. Destes 269 milhões de pessoas foi estimado que 19 milhões
tinham consumido cocaína no ano anterior, o que corresponde a uma prevalência de 0,4
por cento da população global com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos1.

No que diz respeito ao panorama europeu, segundo o “European Drug Report 2020:
Trends and Developments” o consumo de drogas está maioritariamente concentrado entre
os adultos jovens, onde um número estimado de 20 milhões de jovens adultos (idades
compreendidas entre 15 e 34 anos) admitiu ter consumido drogas pelo menos uma vez no
ano anterior, correspondendo a cerca de 16,6 por cento dessa população. O relatório
anteriormente referido não tem informação para o consumo nos últimos 12 meses para
faixas etárias superiores a 34 anos, pelo que se quisermos comparar com a mesma faixa
etária usada no panorama mundial temos que usar um parâmetro diferente, no qual foi
estimado que cerca de 96 milhões (ou 29 por cento) de adultos na União Europeia com
idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos consumiram drogas pelo menos uma vez na
vida. Relativamente à cocaína, a literatura científica sugere que cerca de 18 milhões de
adultos da União Europeia com idades compreendias entre os 15 e os 64 anos (5,4%)
consumiram esta substância pelo menos uma vez na vida. Além disso, dos adultos com
idades compreendidas entre os 15 e os 34 anos, foi estimado que quase 3 milhões (2,4%
deste grupo) tinham consumido esta droga no ano anterior2.

Quanto ao panorama nacional, nos anos de 2016 e 2017, a prevalência de consumo de


qualquer substância ilícita ao longo da vida para os adultos com idades compreendidas
entre os 15 e os 34 anos foi de 16,0%. Nesses mesmos anos e tendo em conta o mesmo
grupo etário, a prevalência de consumo de qualquer substância ilícita nos últimos 12 meses

21
foi de 8,4%. Se quisermos avaliar o consumo da cocaína, temos que a prevalência de
consumo desta substância ao longo da vida foi de 1,1% e nos últimos 12 meses foi de 0,2%3.

Embora nalguns países a 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA), a anfetamina ou a


metanfetamina possam ser o estimulante predominante; a cocaína é o estimulante mais
comumente consumido na Europa. Esta classe de substâncias é usada com grande
frequência para fins recreativos (ex: socializar em ambientes noturnos) ou funcionais (ex:
manter-se acordado), no entanto, pode estar associada a padrões de consumo e a modos de
ingestão problemáticos. A maioria dos danos causados pela classe dos estimulantes estão
associados ao consumo intensivo, em altas doses e/ou a longo prazo (semanas ou meses),
podendo precipitar psicoses e eventos cardiovasculares graves, como ataques cardíacos e
acidentes vasculares cerebrais. Além disso, os consumidores intoxicados podem envolver-
se em atividades sexuais de risco, bem como outros comportamentos suscetíveis de causar
danos quer para a sua segurança, quer para a segurança das pessoas à sua volta.4

Para termos uma noção melhor e mais concreta do impacto que o consumo de drogas tem
na nossa sociedade, podemos recorrer a dados estatísticos disponíveis, como por exemplo,
o número de óbitos causados por perturbações relacionadas com o consumo de drogas; e,
mais especificamente, o número de óbitos causados pelas perturbações por consumo de
cocaína (PCC). Globalmente, no ano de 2019, foram registados 181 758 óbitos atribuídos a
perturbações relacionadas com o consumo de drogas, sendo 7 420 atribuídas ao consumo
da cocaína5. No que diz respeito à Europa, no ano de 2019 foram registados 25 151 óbitos
atribuídos a perturbações relacionadas com o consumo de drogas, destes óbitos 964 foram
atribuídos ao consumo de cocaína6. Por fim, em Portugal, no ano de 2019 foram registados
687 óbitos relacionados com o consumo de drogas; sendo que se tivermos em conta o
gráfico representado na Figura 1, podemos concluir que este valor tem ligeira tendência a
aumentar.

No que respeita ao número de óbitos, não foram encontrados dados estatísticos que
relatem os óbitos atribuídos especificamente ao consumo de cocaína em Portugal.

22
Figura 1: Mortes relacionadas com o consumo de drogas – Critério OEDT.

(Adaptado de 3)

23
24
2. Objetivos

Este trabalho de investigação tem como objetivos principais identificar e avaliar as


substâncias mais promissoras que são ou podem ser utilizadas no tratamento da
dependência à cocaína, assim como guiar futuras investigações, de forma a agilizar e
potenciar a procura de substâncias eficazes para o tratamento da dependência à cocaína.

25
26
3. Materiais e Métodos

Foi realizada uma pesquisa da literatura através dos motores de busca PubMed/Medline,
Web of Science e Cochrane Library entre 1 e 28 de fevereiro de 2021, onde foram incluídos
artigos publicados entre 2016 e 2021. Na Pubmed foram incluídos artigos publicados entre
2020 e 2021, enquanto na Web of Science e na Cochrane Library foram incluídos artigos
publicados entre 2016 e 2020; e entre 2016 e 2021, respetivamente. Para isso, foram
usadas combinações dos termos “cocaine dependence”, pharmacological therapy” e
“pharmacological treatment”, que deram origem a 175 resultados. Através da análise dos
resumos, foi realizada uma seleção dos artigos, de acordo com a sua pertinência e
adequação ao tema, resultando em artigos publicados em língua inglesa e francesa, que por
sua vez permitiram identificar outras publicações complementares relevantes.

27
28
4.Resultados e Discussão
4.1.Psicoestimulantes
Os psicoestimulantes são uma classe de substâncias que influenciam substancialmente o
funcionamento cognitivo e afetivo, assim como o comportamento. Os seus principais
efeitos são: motivação aumentada, agitação, vigilância intensificada, euforia,
hiperatividade, e a diminuição da sonolência, bem como do apetite.8

Relativamente à sua utilização para tratar a dependência à cocaína, vários estudos foram e
continuam a ser feitos para conseguir perceber se alguma das substâncias desta classe são
possíveis e promissoras candidatas para o tratamento eficaz da dependência à cocaína.
Importa também referir que esta é a classe de substâncias mais estudada para este fim,
sendo, portanto, a classe mais promissora aos olhos dos investigadores. Castells et al.
20169 publicaram um artigo intitulado: “Psychostimulant drugs for cocaine dependence
(Review)”, no qual, tal como o próprio título o sugere, os autores fizeram uma revisão da
literatura das substâncias psicoestimulantes estudadas para tratar a dependência à
cocaína. Após analisar cada um dos artigos incluídos na revisão de Castells et al. e tendo
como principal foco as conclusões tiradas pelos seus autores (as quais se encontram
sintetizadas na Tabela 1 localizada no Anexo I), podemos então tirar algumas conclusões
próprias.

O modafinil (MDF) mostrou ser uma das substâncias mais promissoras, tendo eficácia
demonstrada no subgrupo de pacientes dependentes de cocaína e sem dependência ao
álcool em três estudos separados (Dackis et al. 200510, Anderson et al. 200911 e Kampman
et al. 201512). O intervalo de doses de MDF estudadas foi de 200mg a 400mg por dia,
tendo a dose de 400mg/dia originado um maior perfil de eventos adversos e uma
descontinuação mais frequente da medicação, no estudo de Anderson et al. No estudo de
Dackis et al. 201213 não foram encontradas diferenças significativas entre os pacientes
tratados com MDF e com placebo (PBO), além disso observou-se que o fármaco não teve
um efeito significativo na frequência ou na duração do consumo de cocaína entre pacientes
dependentes da mesma. Contudo, segundo os autores, estes resultados podem ser
explicados por diferenças de gênero e/ou intensidade inadequada de tratamento
psicossocial em pacientes com dependência grave à cocaína. Por último, Morgan et al.
201614, descobriram que MDF administrado no período da manhã melhora o sono de
ondas lentas (‘slow-wave sleep’) nos consumidores de cocaína em abstinência que se
encontram em regime de internamento; sendo este efeito um mediador estatístico de
29
melhores resultados clínicos associados ao tratamento contínuo com MDF. Morgan et al.
concluíram ainda que as altas taxas de abstinência alcançadas no estudo sugerem que a
promoção da fisiologia do sono saudável num ambiente hospitalar pode ser importante no
tratamento eficaz da dependência à cocaína.

O metilfenidato (MTP) mostrou ser pouco promissor, tendo Grabowski et al. 199715 e
Dürsteler-MacFarland et al. 201316 concluído que apesar de bem tolerado, o MTP não
oferecia vantagens sobe o PBO. É importante ainda referir que o estudo de Dürsteler-
MacFarland et al. era composto por 4 grupos de tratamento, tendo como objetivo avaliar a
viabilidade, tolerabilidade e eficácia do MTP e da terapia cognitivo-comportamental em
grupo (TCCG) para dependência à cocaína em pacientes dependentes de heroína mantidos
com diacetilmorfina (DAM). Portanto, este estudo foi bastante mais robusto do que aquele
realizado por Grabowski et al. largos anos antes, e mesmo assim ambos chegaram a
conclusões idênticas. No que diz respeito ao efeito do MTP nos sintomas da
perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA) e no consumo de cocaína,
concomitantes; Schubiner et al. 200217 concluíram que o MTP melhorou os relatos
subjetivos de sintomas de PHDA e não piorou o consumo de cocaína enquanto os
participantes estavam em tratamento; podendo então ser usado com segurança e eficácia
para tratar o PHDA numa população de adultos dependentes de cocaína. Levin et al.
200718, por sua vez, concluíram que o MTP de libertação sustentada (SR) não mostrou
superioridade sobre o PBO no tratamento dos sintomas de PHDA, no entanto, o ensaio
forneceu algumas evidências de que a melhoria nos sintomas de PHDA entre os pacientes
que receberam MTP, mas não o PBO, foi associada a uma redução no consumo de cocaína.

O mazindol (MZD) “não pareceu ser um tratamento promissor para este fim”, isto foi a
conclusão a que Stine et al. 199519 chegaram, tendo ainda acrescentado que poderiam ser
necessárias doses mais elevadas de MZD para alcançar o efeito desejado, no entanto, pelo
que já havia sido estudado, isso causaria efeitos adversos fisiológicos nos participantes. No
mesmo ano, Margolin et al. 1995b20 descobriram que as diferenças entre os grupos MZD e
PBO do seu estudo não alcançaram significância estatística, mas que estavam na direção de
um efeito de tratamento. Dois anos mais tarde, Margolin et al. 199721 estudaram as
diferenças entre duas doses (1mg e 8mg) de MZD na percentagem de exames á urina
positivos para a cocaína, não tendo obtido resultados que apoiassem qualquer diferença
entre as duas doses. Margolin et al. concluíram então que doses superiores a 8mg
poderiam ser necessárias para originar um efeito bloqueador da cocaína, no entanto, como
já aqui foi referido, os efeitos adversos são um fator limitante. Por fim, Perry et al. 200522
30
estudaram a eficácia do MZD numa população de participantes com esquizofrenia ou
perturbação esquizoafetiva e com abuso ou dependência à cocaína em simultâneo, não
tendo obtido evidências claras que suportassem uma investigação adicional do MZD como
terapia farmacológica adjuvante para esta população.

Quanto à bupropiona (BPA), dois estudos (Margolin et al. 1995a23 e Shoptaw et al. 200824)
não encontraram diferenças significativas entre esta substância e o PBO nos seus
resultados. No estudo de Margolin et al., análises exploratórias sugeriram um efeito de
medicação para o subconjunto de indivíduos deprimidos no início do estudo. Ao contrário
dos dois estudos anteriormente falados, Poling et al. 200625 descobriram que a
combinação de gestão de contingência (CM), um tipo de terapia comportamental, com BPA
para o tratamento da dependência à cocaína podia melhorar significativamente os
resultados em relação à BPA. Os autores concluíram então que a combinação CM + BPA
era um tratamento eficaz para o abuso de cocaína em populações mantidas com metadona.
Segundo Shoptaw et al., a BPA não foi mais eficaz do que o PBO quando combinada com a
terapia cognitivo-comportamental (TCC) padrão, isto diminuiu o entusiasmo para o
desenvolvimento futuro da BPA como uma terapia farmacológica para a dependência à
cocaína. Além disso, Shoptaw et al. referiram que descobertas recentes (por exemplo,
Poling et al.) haviam indicado um efeito sinérgico entre a BPA e a CM entre pacientes
dependentes de cocaína mantidos com metadona, no entanto, três ensaios randomizados
controlados por PBO tinham falhado em produzir pelo menos um efeito principal
estatisticamente significativo, o que diminuiu o entusiasmo para o desenvolvimento futuro
deste medicamento como uma terapia farmacológica para este fim.

A dextroanfetamina (D-AFT) conferiu resultados positivos em três estudos (Grabowski et


al. 200126; Shearer et al. 200327 e Grabowski et al. 2004a28). Primeiramente, no ano de
2001, Grabowski et al. descobriram que os seus resultados apontavam para uma melhor
retenção e redução do consumo de drogas ilícitas para os grupos administrados com D-
AFT, com efeitos adversos cardiovasculares e de humor mínimos. Mais concretamente,
Grabowski et al. descobriram que a retenção tinha sido melhor para o grupo de 15 a 30 mg
de D-AFT e que a proporção de triagens de urina positivas para benzoilecgonina foi menor
para o grupo de 30 a 60mg. Grabowski et al. acabaram por concluir que a dose ideal para a
preparação de D-AFT era de 30 a 60mg e que a D-AFT podia diminuir a responsividade à
cocaína. Dois anos mais tarde, Shearer et al., apesar da amostra pequena, concluíram que
os resultados apoiaram a eficácia específica da D-AFT na atenuação do craving por cocaína
e que uma avaliação definitiva da utilidade da D-AFT no tratamento da dependência à
31
cocaína era viável e justificada. Por fim, Grabowski et al., 3 anos depois da sua primeira
investigação, decidiram comparar os modelos agonista (D-AFT) e antagonista
(risperidona) para o tratamento da dependência à cocaína e descobriram que os seus
resultados suportavam o modelo agonista (D-AFT) para o tratamento da dependência à
cocaína; sendo que o mesmo não se verificava para o modelo antagonista (risperidona).

Uma nova formulação de D-AFT, a lisdexanfetamina (LDX), não reduziu


significativamente o consumo de cocaína em comparação com o PBO num estudo realizado
por Mooney et al. 201529; no entanto, numa análise restrita, foram observadas algumas
evidências para a eficácia superior da LDX na promoção da redução do consumo de
cocaína. Portanto, a fim de esclarecer a eficácia da LDX no tratamento da dependência à
cocaína, Mooney et al. recomendaram que fossem avaliadas doses mais altas desta
substância de modo a obter evidências mais claras.

A metanfetamina SR reduziu significativamente o consumo e o craving (dependência


psíquica) por cocaína num estudo dirigido por Mooney et al. 200930; tendo sido superior
ao PBO e à metanfetamina de libertação imediata (metanfetamina IR). Mooney et al.
concluíram então que uma formulação SR de metanfetamina poderia reduzir
substancialmente o consumo de cocaína num intervalo de 8 semanas com supervisão e
apoio psicológico. No entanto, pelo facto de a metanfetamina ser ela própria conhecida
como uma substância extremamente suscetível de abuso, não poderia ser defendida como
tratamento padrão para a dependência à cocaína. Assim, Mooney et al. sabendo desta
impossibilidade, sugeriram que o próximo passo seria realizar avaliações adicionais de
medicamentos monoaminérgicos mistos para o tratamento da dependência à cocaína.

No ano de 2015, Levin et al. 201531 estudaram sais de anfetamina mistos de libertação
prolongada (sais de anfetamina mistos XR) para o tratamento concomitante de PHDA e da
PCC. Levin et al. descobriram que os sais de anfetamina mistos XR, em doses robustas,
juntamente com TCC, são eficazes para esse fim, melhorando os sintomas de PHDA e
reduzindo o consumo de cocaína. Este estudo também serviu para dar importância ao
screening e ao tratamento do PHDA em adultos com PCC.

A selegilina (SLG) administrada em adesivo transdérmico não mostrou um efeito


significativo em relação ao PBO no estudo levado a cabo por Elkashef et al. 200632. Assim,
apesar dos dados piloto pré-clínicos e humanos promissores, o estudo não apoiou um
papel da SLG no tratamento da dependência à cocaína. Elkashef et al. com o intuito de

32
tentar esclarecer este contraste, referiram ainda que o mesmo poderia ser devido a fatores
associados ao tamanho da amostra, a características do paciente, à dose ou à pobre
validade preditiva dos modelos pré-clínicos.

No ano de 2012, Schmitz et al. 201233 realizaram uma investigação preliminar da


associação MDF + D-AFT (duas substâncias agonistas) para o tratamento da dependência
à cocaína e chegaram à conclusão de que os dados da sua investigação não forneciam
evidências para a realização de um estudo mais amplo. Este estudo não encontrou
evidências de que a associação MDF + D-AFT tivesse benefícios sobre medicamentos
estimulantes individuais ou PBO no tratamento da dependência à cocaína. Além disso, os
participantes que receberam a associação mostraram uma tendência para o aumento do
consumo de cocaína ao longo do tempo. Por último, foram observados melhores resultados
nos grupos isolados (PBO e D-AFT) do que na associação.

A promessa de resultados positivos iniciais (Dackis et al. 200510 e Dackis et al. 200334) do
MDF como tratamento da dependência à cocaína foi ofuscada por subsequentes ensaios
clínicos negativos (Anderson et al. 200911; Dackis et al. 201213). No entanto, as análises
post hoc desses estudos negativos identificaram a dependência concomitante ao álcool
(Anderson et al.) e o género (Dackis et al.) como fontes de variabilidade no resultado do
tratamento. Assim, no ano de 2014, Schmitz et al. 201435 com o intuito de esclarecer as
descobertas, avaliaram o MDF usando um paradigma claramente definido, apoiado por
comparação paralela direta com dois outros agentes, a levodopa-carbidopa e a naltrexona,
e descobriram que os resultados de triagem não suportavam a eficácia do MDF para o
tratamento da dependência à cocaína. Embora não fossem conclusivos, os resultados da
implementação do paradigma de triagem sugeriram a eficácia da levodopa-carbidopa e da
naltrexona para o subgrupo de indivíduos não abstinentes. Por fim, é importante ter em
conta em futuros estudos, que elaborar subgrupos de pacientes tendo em conta o estado de
abstinência basal é viável e clinicamente útil para explorar os efeitos das substâncias
candidatas, no que diz respeito à cessação do abuso de cocaína e à prevenção de recaídas.

Keighron et al. 201936 testaram os efeitos do enantiómero (R) do MDF sobre os níveis de
dopamina extracelular no nucleus accumbens (NA) (estrutura que desempenha um papel
significativo em vários aspetos das perturbações por consumo de psicoestimulantes)
medidos in vivo em ratos Sprague-Dawley, e observaram que o (R) MDF, assim como dois
análogos bis(F) do MDF (JBG1-048 e JBG1-049), quando administrados por via

33
intravenosa com doses cumulativas, bloqueavam o transportador de dopamina e reduziam
a taxa de clearance da mesma, aumentando os seus níveis extracelulares.

Em 2016, Kohut et al. 201637 realizaram um estudo com o objetivo de determinar se a l-


metanfetamina (l-MA) poderia servir como um medicamento de substituição agonista,
simulando os efeitos interoceptivos da cocaína e diminuindo a autoadministração de
cocaína intravenosa. Os resultados indicaram que a I-MA compartilha efeitos de estímulo/
discriminativos com a cocaína e reduz a autoadministração da mesma de uma forma
seletiva do comportamento.

Além de Castells et al. 20169 também Levin et al. 202038 e Passamonti et al. 201739
estudaram substâncias pertencentes à classe dos psicoestimulantes. Levin et al. estudaram
a associação de sais de anfetamina mistos com topiramato, tendo os seus resultados
fornecido evidências adicionais de que esta associação é eficaz na promoção da abstinência
em adultos com PCC e com uso frequente. Ainda assim, Levin et al. admitiram a
possibilidade de que o tratamento combinado não seja mais eficaz do que qualquer um dos
tratamentos isolados. Passamonti et al. estudaram a atomoxetina e descobriram que esta
reduz o viés de atenção para sinais associados a drogas em indivíduos com dependência à
cocaína. Além disso, Passamonti et al. também referiram que estudar a forma como os
intensificadores cognitivos (ex: atomoxetina) influenciam os principais índices
neurocognitivos na dependência à cocaína pode ajudar a desenvolver biomarcadores
confiáveis para a estratificação de pacientes em estudos clínicos futuros.

Antes de terminar a classe dos psicoestimulantes, não posso deixar de referir o estudo
realizado por Nuijten et al. 201640 numa população de pacientes dependentes de crack
(cocaína base); no qual, os autores primeiramente investigaram se a impulsividade pré-
tratamento e o viés de atenção prediziam o resultado do tratamento; em seguida,
estudaram se o MDF administrado como tratamento complementar da TCC melhorava a
impulsividade e o viés de atenção; e, por último, investigaram se as mudanças na
impulsividade e no viés de atenção estavam relacionadas a melhorias no resultado do
tratamento. Nuijten et al. observaram que a impulsividade basal e o viés de atenção
prediziam os resultados clínicos em pacientes dependentes de crack. No entanto, os
autores não encontraram indicações firmes de que o MDF reduzia, quer a impulsividade,
quer o viés de atenção, nesta população.

34
4.2.Anticonvulsivantes
Os anticonvulsivantes são uma família de substâncias usadas para controlar ou prevenir
convulsões, assim como para interromper uma série contínua destas.

Das várias substâncias que constituem esta família, apenas o topiramato constou na
pesquisa feita para esta revisão. Primeiramente, Manhapra et al. 201941 apresentaram uma
revisão narrativa do mecanismo de ação e da utilidade clínica do topiramato em várias
perturbações por consumo de substâncias (PCS), em especial na perturbação por consumo
de álcool (PCA). Relativamente à PCC, Manhapra et al. referiram que os dados obtidos
sugeriam que o topiramato poderia ter algum efeito benéfico na mesma, mas que a
utilidade clínica ainda era pequena. Manhapra et al. terminaram dizendo que ainda era
muito cedo para recomendar com firmeza o uso do topiramato em perturbações aditivas
não relacionadas ao álcool. Por último, um ano mais tarde, Levin et al. 202038, tal como foi
falado anteriormente, estudaram a associação de sais de anfetamina mistos com
topiramato, tendo os seus resultados fornecido evidências adicionais de que esta
associação é eficaz na promoção da abstinência em adultos com PCC.

4.3.Antidepressivos
Os antidepressivos são uma classe de medicamentos que ao corrigirem os desequilíbrios
químicos dos neurotransmissores cerebrais, reduzem os sintomas das perturbações
depressivas.

No âmbito desta classe de medicamentos, Barbosa-Méndez et al. 201742 e mais tarde


Snyder et al. 202043, estudaram a utilidade da mirtazapina e do citalopram no tratamento
da dependência à cocaína, respetivamente. Barbosa-Méndez et al. examinaram a eficácia
da mirtazapina em diminuir a procura de cocaína em ratos. Para isso, utilizaram um
paradigma de autoadministração de cocaína, desenhado para avaliar os efeitos da
mirtazapina em ratos treinados para autoadministrar alimentos ou cocaína, num esquema
de proporção fixa. Os seus resultados mostraram que a mirtazapina produzia uma redução
significativa da autoadministração de cocaína. Barbosa-Méndez et al. concluíram então
que o seu estudo apontava para a eficácia da mirtazapina na redução do risco de recaídas,
assim como para o potencial da mesma como novo agente farmacológico no tratamento do
abuso de cocaína. Por sua vez, Snyder et al. procuraram parâmetros de conectividade
(direcional) eficazes associados à resposta ao citalopram na PCC, através da realização de
uma experiência de ressonância magnética funcional (fMRI) com participantes

35
diagnosticados com PCC e com controlos saudáveis. O estudo procurou testar se a
conectividade efetiva (direcional) estava associada a melhoras na PCC devidas ao
citalopram. Snyder et al. observaram que os participantes com PCC mostraram uma
correlação positiva entre a conectividade efetiva córtex pré-frontal dorsolateral para
putamen bilateral e a pontuação de eficácia do tratamento.

4.4.Agonistas/Antagonistas Dopaminérgicos
Os agonistas dopaminérgicos são uma família de substâncias sintéticas que se ligam aos
recetores da dopamina e ativam as vias de sinalização celular, sendo utilizados na doença
de Parkinson, na síndrome das pernas inquietas e na síndrome neuroléptica maligna, entre
outras. Os antagonistas dopaminérgicos, por sua vez, são uma família de substâncias que
se ligam, mas que não ativam os recetores de dopamina, bloqueando assim as ações da
mesma ou de agonistas exógenos; sendo usadas, por exemplo, no tratamento de
perturbações psicóticas e também como antieméticos.

Relativamente a esta família de substâncias, Wang et al. 201644 e Powell et al. 202045
estudaram a L-isocorypalmine e o MC-25-41, respetivamente. Wang et al. estudaram os
perfis farmacocinéticos, a distribuição nos tecidos e a excreção da L-isocorypalmine
(agonista parcial do recetor D1 e antagonista parcial do recetor D2), um candidato
potencial para o tratamento da PCC, em ratos Sprague-Dawley; tendo descoberto que a L-
isocorypalmine foi rapidamente distribuída e eliminada do plasma dos ratos, e que
manifestou uma dinâmica linear no intervalo de doses 7,5-15mg/kg. Estes resultados
fornecem informações básicas para futuros estudos desta substância como potencial
candidato ao tratamento da PCC. Powell et al. efetuaram uma investigação pré-clínica do
potencial terapêutico de um agonista parcial do recetor D3 de ação prolongada, o MC-25-
41, em ratos Sprague-Dawley, e descobriram que este pode ter um impacto na eficácia dos
efeitos de recompensa da cocaína. Além disso, observaram que similarmente a outros
antagonistas e agonistas parciais seletivos a D3, o MC-25-41 reduz a motivação para
consumir cocaína sob condições de alto custo; no entanto, este tem a vantagem adicional
de ter uma semivida longa (>10h). Assim, estes resultados sugeriram que o MC-25-41 pode
ser uma substância pré-clínica principal adequada para o desenvolvimento de
medicamentos indicados para o tratamento de PCCs.

36
4.5.Vacinas
Uma vacina é uma preparação de antigénios (partículas estranhas ao organismo), que é
administrada a um indivíduo, provocando uma resposta imunitária protetora específica de
um ou mais agentes infeciosos.46 Neste caso, o propósito da vacina não será proteger o
organismo contra agentes infeciosos, mas sim contra a cocaína.

No que diz respeito a este tópico, Lowell et al. 202047 e Havlicek et al,. 202048 estudaram a
vacinação contra a cocaína. Nomeadamente, Lowell et al. estudaram a vacinação contra a
cocaína usando uma plataforma modificável de nanopartículas de dendrímero e Havlicek
et al. avaliaram a capacidade da vacina dAd5GNE para proteger contra o consumo
excessivo de cocaína. Lowell et al. começaram por referir que apesar de estudos recentes,
onde foi mostrado que a vacinação contra a cocaína (com o objetivo de produzir anticorpos
que reduzam as concentrações da droga livre no sangue) é um método promissor, a
natureza pouco imunogénica da mesma contínua a ser um grande obstáculo para a
imunização ativa. Assim, Lowell et al. colocaram a hipótese de que estratégias para
aumentar a exposição direcionada da cocaína ao sistema imunitário poderiam produzir
uma vacina mais eficaz. A fim de direcionar especificamente uma resposta imune contra a
cocaína, Lowell et al. conjugaram um análogo de cocaína a um transportador de
nanopartículas à base de dendrímeros com frações de ligação a MHC II, uma classe de
moléculas que ativa “células apresentadoras de antigénios”, necessárias para a produção de
anticorpos. Esta estratégia produziu uma resposta de anticorpo anti cocaína rápida,
prolongada e de alta afinidade, sem a necessidade de qualquer adjuvante. Lowell et al.
relataram ainda que fizeram uma avaliação adicional usando várias formulações de
adjuvantes, mas observaram que estas formulações eram redundantes ou deletérias. Por
fim, Lowell et al. conseguiram provar que a vacina elaborada com base na sua estratégia,
diminuía a recompensa da cocaína, sendo essa estratégia segura e eficaz. No seu estudo,
Havlicek et al. avaliaram a capacidade da vacina dAd5GNE para proteger contra o
consumo pontual e compulsivo de cocaína e contra as circunstâncias em que os
toxicodependentes tentam ignorar este tratamento. Isto porque, segundo o estudo de
Havlicek et al. os estudos anteriores não avaliaram suficientemente a eficácia da vacina
dAd5GN em modelos com padrões de consumo de elevadas doses de forma pontual,
compulsiva e repetitiva, comuns nos toxicodependentes; tendo-se focado maioritariamente
em modelos de consumo moderado/ocasional. Havlicek et al. elaboraram modelos de
consumo repetitivo diário de cocaína em ratos Balb/c e em macacos verdes africanos
vacinados, e avaliaram cenários de consumo excessivo com altas doses em ratos Balb/c;

37
tendo verificado que em cada modelo de consumo diário, a vacina dAd5GNE evitou que a
cocaína chegasse ao sistema nervoso central. Além disso, no modelo de consumo excessivo
em altas doses, a vacinação diminuiu a hiperatividade induzida pela cocaína e reduziu o
número de convulsões induzidas pela mesma. Por fim, os autores concluíram que a vacina
dAd5GNE produz níveis altos de anticorpos persistentes anti cocaína. Estes anticorpos
protegem o sistema nervoso central do consumo diário repetitivo desta substância e
inibem as toxicidades induzidas pela mesma. Além disso, os anticorpos ainda inibem as
sensações de euforia, alerta e poder estimuladas pelo consumo excessivo de altas doses de
cocaína. Com base nestas conclusões, os autores colocaram a hipótese de que, se a vacina
produzir altos níveis de anticorpos anti cocaína equivalentes em pacientes humanos, a
vacina provavelmente permanecerá eficaz no contexto de consumo diário moderado, bem
como no contexto de consumo de elevadas doses de forma pontual e compulsiva de
cocaína. Com base nestes dados e em dados anteriormente obtidos por Havlicek et al. em
roedores e primatas não humanos, estes autores iniciaram um ensaio clínico com o
objetivo de avaliar a vacina dAd5GNE como uma potencial terapia para toxicodependentes
que desejam interromper o consumo de cocaína. Se a vacina se verificar segura e produzir
altos níveis de anticorpos anti cocaína neste ensaio clínico, os autores poem a hipótese de
que a vacina irá restringir o acesso da cocaína ao sistema nervoso central e inibir as
sensações de euforia, alerta e poder mesmo no contexto de consumo moderado diário e no
contexto de consumo de elevadas doses de forma pontual e compulsiva de cocaína, que
noutras circunstâncias poderia causar uma overdose.

4.6.Enzimas
As enzimas são uma classe especializada de proteínas responsáveis por catalisar reações
químicas dentro da célula e, portanto, são alvos ideais para fármacos.

No âmbito desta classe especializada de proteínas, García-Pardo et al. 201649 e Ha et al.


202050 elaboraram revisões da literatura. García-Pardo et al. elaboraram uma revisão dos
estudos que tinham demonstrado a implicação das principais proteínas cinases
dependentes de cálcio e relacionadas com a memória, na dependência de opiáceos e
cocaína, até ao momento. Por sua vez, Ha et al. elaboraram uma revisão onde sumarizaram
as propriedades bioquímicas da butirilcolinesterase (BuChE) e os seus papéis, como
neurotransmissor colinérgico, em várias doenças (particularmente neurodegenerativas),
incluindo a dependência à cocaína. (Estas revisões serão abordadas com maior
profundidade no capítulo 4.8. Revisões da literatura). Zheng et al. 202051 e Zhang et al.

38
202052 realizaram estudos relevantes relacionados com a utilidade das proteínas cinases
no tratamento da dependência à cocaína. Zheng et al. estudaram uma solução para o
tempo de semivida biológica limitado das suas hidrolases de cocaína altamente eficientes
(CocHs) e as proteínas de fusão Fc correspondentes (por exemplo: CocH3-Fc), que são
reconhecidas como candidatas a enzimas terapêuticas potencialmente promissoras para o
tratamento do abuso da cocaína. Para isso, Zheng et. al. 2020 modelaram a ligação CocH-
proteína Fc de fusão com o recetor Fc neonatal (FcRn), que originou o CocH3-Fc(M6), um
mutante CocH3-Fc com afinidade de ligação aumentada em quase 100 vezes. Como
resultado, o CocH3-Fc(M6) revelou um tempo de semivida biológica acentuadamente
prolongada (cerca de 9 dias, baseados num estudo farmacocinético51 feito a uma dose de
0.075 mg/kg) em ratos, mais longa do que outros fármacos de proteína de fusão Fc (por
exemplo, o abatacept e o alefacept) testados na mesma espécie de animais. Por fim, foi
demonstrado que uma dose única de 3mg/kg de CocH3-Fc(M6) bloqueava efetivamente a
hiperatividade induzida por 20 mg/kg de cocaína no dia 18 após a administração de
CocH3-Fc(M6). Por sua vez, Zhang et al., com o intuito de responder à principal questão
debatida na altura, “um produto biológico, particularmente uma enzima exógena, pode
bloquear efetivamente o efeito de reforço da cocaína?”, demonstrou que uma dose modesta
de uma hidrolase de cocaína de longa duração recentemente desenhada, a CocH3 Fc(M6)
(anteriormente falada), podia ser usada para bloquear de forma eficaz o estímulo
psicoestimulante e discriminativo, bem como os efeitos de reforço da cocaína por um
período de tempo suficientemente longo. Por exemplo, uma dose de 3mg/kg de CocH3-
Fc(M6) bloqueou completamente o estímulo discriminativo e os efeitos de reforço por
24/25 dias e continuou a diminuir significativamente os efeitos da cocaína por pelo menos
29 dias em ratos. Todos os dados obtidos através de experiências feitas em animais
sugerem consistentemente que esta cocaína hidrolase de ação prolongada é uma candidata
realmente promissora à terapia enzimática para o tratamento da PCC.

4.7.Hormonas
As hormonas são substâncias orgânicas excretadas por plantas e animais, que atuam na
regulação das atividades fisiológicas e na manutenção da homeostase.

Relativamente a esta classe de substâncias, Stauffer et al. 201653, Heller et al. 201754,
Yousuf et al. 201955 e Barbosa-Méndez et al. 201956 realizaram estudos relevantes sobre o
papel das hormonas como possíveis substâncias para o tratamento da dependência à
cocaína. Stauffer et al. examinaram a viabilidade, segurança/tolerabilidade e a potencial

39
eficácia de doses repetidas de oxitocina (OT) intranasal (IN) em pacientes com perturbação
por consumo de opióides (PCO) e com PCC concomitantes; tendo os seus resultados
sugerido que doses repetidas de OT IN são uma terapia complementar segura e
possivelmente eficaz para os padrões atuais de tratamento de dependência, e que a OT IN
pode mitigar o craving por cocaína e heroína, bem como alterar perceções implícitas
relacionadas com as drogas de abuso, o que pode levar a uma redução do consumo de
cocaína. Heller et al., por sua vez, estudaram a possibilidade de a OT poder restaurar a
regulação do stress da excreção de hormona adrenocorticotrófica (ACTH), isto no caso de a
dependência à cocaína ser uma forma de stress crónico; tendo descoberto que a
desmopressina (DMP) IN eleva a ACTH em pacientes dependentes de cocaína e nos
controlos, enquanto a OT IN por si só não. No entanto, ao contrário do que era esperado,
Heller et al. descobriram que o pré-tratamento com OT IN parece aumentar o efeito
estimulador ACTH da DMP IN nos pacientes dependentes de cocaína em 44%, comparado
com os controlos. Além disso, este estudo foi realizado como parte de um ensaio clínico de
6 semanas, tendo como objetivo investigar se a OT IN administrada diariamente pode
reduzir o risco de recaída em pacientes dependentes de cocaína. Heller et al. descobriram
que 6 semanas de tratamento com OT IN ou PBO não alteraram a resposta da ACTH à
DMP em pacientes dependentes de cocaína. Yousuf et al. tinham previamente
demonstrado que o E2 (17β-estradiol), um estrogénio potente, facilitava a extinção da
procura de cocaína; no entanto, o local neuroanatómico de ação e os mecanismos
subjacentes eram desconhecidos. Então, neste estudo, Yousuf et al. demonstraram que o
E2 infundido diretamente no córtex pré-frontal medial infra límbico, uma região crítica
para a consolidação da extinção da procura de cocaína, realça a extinção dessa procura em
ratos fêmea sem ovários. Além disso, também descobriram que o E2 aumenta a
excitabilidade neuronal do córtex pré-frontal medial infra límbico de uma maneira
dependente do recetor cinase B da tropomiosina (TrkB) para apoiar a extinção da procura
de cocaína. Os resultados de Yousuf et al. sugeriram que o aprimoramento farmacológico
do E2 ou a sinalização pelo fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) ou pelo TrkB
nas terapias focadas na extinção da procura de cocaína, melhoraria o resultado terapêutico
em mulheres dependentes de cocaína. Por último, Barbosa-Méndez et al. avaliaram o
efeito da melatonina na atividade locomotora induzida pela cocaína em ratos sem glândula
pineal (responsável pela produção de melatonina), em diferentes momentos do dia; tendo
descoberto que a atividade locomotora induzida por esta substância variou de acordo com
a hora do dia, que a iluminação contínua e a ausência de glândula pineal aumentaram a
atividade locomotora induzida pela cocaína, e que a administração de melatonina diminuiu

40
a atividade locomotora induzida pela cocaína em ratos naive e sem glândula pineal em
diferentes momentos do dia. Assim, os autores concluíram que dada a sua capacidade para
atenuar vários efeitos de reforço da cocaína, a melatonina pode ser uma terapia útil para o
tratamento da dependência a esta substância.

4.8.Revisões da literatura
Neste capítulo, vamos abordar algumas revisões da literatura onde foram abordados
temas, substâncias e classes de substâncias que dizem respeito ao tratamento da
dependência à cocaína. Primeiramente vamos falar das revisões mais gerais, que abordam
os avanços no tratamento da dependência a substâncias, e mais especificamente, da
dependência a substâncias estimulantes como a cocaína; passando depois às revisões mais
específicas. Soyka et al. 201657 no âmbito da sua revisão sobre o tratamento de PCSs,
abordaram os tratamentos promissores para a PCC. Soyka et al. começaram por referir que
o MDF, o MTP e o dissulfiram tinham a melhor evidência, logo eram as substâncias mais
promissoras para serem aprovadas para o tratamento da dependência à cocaína; como tal,
estas foram abordadas com maior detalhe pelos autores. O dissulfiram parecia ser o agente
mais promissor até ao momento; além disso, demonstrou um bom prognóstico inicial no
tratamento de dependência dupla (por ex. cocaína e álcool). Quanto ao MTP, os autores
consideraram que a evidência para o uso deste fármaco no tratamento da dependência à
cocaína ainda era bastante fraca; além disso, o MTP é conhecido por ter efeitos de reforço
semelhantes aos da cocaína e, como tal, apresenta potencial para abuso e dependência.
Apesar disto, os autores sugeriram que a terapia de substituição farmacológica com MTP
deve ser considerada para casos de dependência à cocaína resistente ao tratamento e de
PHDA, concomitantes. Por último, o MDF foi considerado uma substância promissora
para o tratamento do abuso e dependência à cocaína; tendo demonstrado reduzir o
craving e aumentar a abstinência à cocaína em comparação com o PBO em dois ensaios
clínicos. Apesar disso, os poucos estudos que investigaram o MDF como substância para o
tratamento da dependência à cocaína produziram resultados inconclusivos. Além disso, o
MDF é conhecido por ter efeitos de reforço potentes a altas doses, por isso, tal como o
MTP, apresenta potencial para abuso e dependência. Além destas, outras substâncias
foram testadas em estudos clínicos (fase II e III), nomeadamente a levodopa-carbidopa e a
D-AFT (agentes dopaminérgicos); a doxazosina e o nepicastat (agentes noradrenérgicos);
e, por último, o topiramato, o baclofeno, a N-acetilcisteína (NAC) e a vigabatrina (agentes
GABAérgicos). Para terminar, também foi investigada uma vacina contra a cocaína (TA-
CD) como um novo medicamento imunológico, num estudo clínico de fase III, para o

41
tratamento da dependência à cocaína. No entanto, o estudo não encontrou uma redução
significativa no consumo de cocaína entre aqueles que receberam a vacinação, em
comparação com o grupo PBO. Dois anos mais tarde, Lacoste et al. 201858, na sua revisão
sobre a dependência à cocaína, abordaram as estratégias mais recentes de tratamento da
PCC; começando por dizer que o tratamento farmacológico deve ser considerado um
complemento dos cuidados psicoterapêuticos, não podendo ser eficaz isoladamente. Os
autores referiram também que vários psicoestimulantes foram estudados para o
“tratamento de substituição”, tendo o MDF mostrado alguns resultados positivos em
consumidores de cocaína (exceto para pacientes com dependência ao crack, onde não foi
possível essa confirmação). O mesmo não se pode dizer das anfetaminas ou do MTP, uma
vez que os ensaios não deram resultados conclusivos. Lacoste et al. falaram ainda de uma
meta-análise recente, que confirmou o possível lugar dos psicoestimulantes no auxílio à
manutenção da abstinência, mesmo na ausência de uma melhoria notável na terapia de
manutenção; lembrando, contudo, que o uso de psicoestimulantes como terapia de
substituição ainda tem de ser investigado, de modo a poder ser posto em prática de forma
sistemática. Os antipsicóticos também foram abordados pelos autores, tendo estes chegado
à conclusão de que esta classe de substâncias não tem lugar no tratamento da dependência
à cocaína, exceto em casos de dupla patologia. Lacoste et al. referiram também que o
topiramato (anticonvulsivante) e a NAC (expectorante) podem ser indicados para o
tratamento dos sintomas de craving. Além disso, referiram ainda que com base numa
outra meta-análise recente o topiramato prolonga a duração da abstinência, aumenta o
número de pacientes que se conseguem abster por 3 semanas consecutivas e diminui o
risco de desenvolver dependência à cocaína. O topiramato demonstrou ainda eficácia em
pacientes dependentes ao crack, ao reduzir a frequência e a quantidade consumida. No
entanto, não demonstrou eficácia e pareceu até aumentar o aparecimento de distúrbios
cognitivos em pacientes que consomem cocaína sob tratamento de substituição com
metadona. Foram testadas outras moléculas em humanos com efeitos ainda não
confirmados, nomeadamente: dissulfiram e doxazosina; baclofeno e nalmefeno;
antagonistas do recetor de glucocorticóides; melatonina e os seus agonistas; vortioxetina e
mirtazapina; e a cetamina.58 Por fim, várias moléculas foram testadas em animais,
nomeadamente: riluzol; sinvastatina; isradipina; metirapona ± oxazepam; e o masitinibe.58
Focando-nos agora nos pacientes em tratamento com metadona que são consumidores de
cocaína, segundo Lacoste et al., alguns autores referiram que a cocaína pode ser consumida
para aliviar os sintomas de abstinência que podem ocorrer em caso de subdosagem de
metadona. Além disso, na dependência concomitante a opiáceos/opióides e à cocaína, o

42
início do tratamento com metadona pode ser acompanhado por uma diminuição do
consumo de cocaína, especialmente se for injetada. Por último, parece que a implantação
do tratamento de substituição com metadona influencia o consumo de cocaína no caso de
este ser ocasional, mas não tem efeito se este for regular e importante. Agora vamos focar-
nos nos pacientes em tratamento com buprenorfina de dose elevada que são consumidores
de cocaína e/ou que iniciam o consumo de cocaína durante o tratamento. A buprenorfina
de dose elevada pode ter eficácia terapêutica superior à metadona na redução do consumo
de cocaína. Além disso, a associação buprenorfina + naloxona (comprimidos sublinguais)
em combinação com naltrexona (injetável XR) pode estar associada com a redução do
consumo de cocaína em casos de dependência à cocaína associada à dependência de
opiáceos/opióides. No que diz respeito aos pacientes dependentes de cocaína e
consumidores de quantidades excessivas de álcool, para controlar os efeitos negativos e a
disforia que aparecem após a intoxicação por cocaína foram testadas algumas substâncias
e associações, tendo-se descoberto que: o topiramato administrado numa dose de
300mg/dia não é eficaz; a naltrexona administrada numa dose de 150mg/dia parece ser
eficaz em homens, mas não em mulheres; a naltrexona injetável XR não fornece benefício
terapêutico; e, por último, o dissulfiram + naltrexona ou topiramato + nalmefeno são
novas combinações que podem ser consideradas, além da psicoterapia. Por fim, Lacoste et
al. concluíram que ainda não existe um tratamento farmacológico que se mostre eficaz
quer no auxílio à manutenção de abstinência por longo prazo, quer na redução do consumo
da cocaína. Por último, Ronsley et al. 202059, na sua revisão sobre o tratamento da
perturbação por consumo de estimulantes (PCE) começaram por concluir que havia
evidência suficiente para apoiar a eficácia de programas de CM para o tratamento desta
perturbação. Quanto ao tratamento farmacológico, os autores chegaram à conclusão de
que havia evidência suficiente para descartar a eficácia dos antidepressivos e dos agonistas
dopaminérgicos no tratamento da PCC, e para descartar a eficácia dos anticonvulsivantes
no tratamento da PCE. Além disso, concluíram que havia evidência provisória para
descartar a eficácia dos antipsicóticos no tratamento da PCE; que havia evidência
insuficiente para suportar ou descartar a eficácia do dissulfiram, dos agonistas opióides e
da NAC no tratamento da PCC; e por último, que havia evidência insuficiente para
suportar ou descartar a eficácia dos psicoestimulantes no tratamento da PCE. Apesar disto,
os resultados de Ronsley et al. demonstraram potencial para investigações futuras do papel
dos psicoestimulantes. Assim, tendo em conta a necessidade de tratamentos
farmacológicos eficazes para a PCE, os autores consideraram necessário realizar
investigações de elevada qualidade focadas no papel dos psicoestimulantes no tratamento

43
desta perturbação. Passando agora às revisões mais específicas, Jordan et al. 201960
focaram-se principalmente na base lógica farmacológica das estratégias agonistas de
substituição no tratamento de dependência a opióides, e a potencial tradução dessa base
lógica para novas terapias indicadas para a PCC. Jordan et al. começaram por descrever os
mecanismos neurais subjacentes aos efeitos de recompensa dos opióides, seguidos por
descobertas pré-clínicas e clínicas que apoiaram a utilidade das terapias agonistas no
tratamento de PCOs. De seguida, os autores discutiram o progresso recente das terapias
agonistas para o tratamento de PCCs baseadas nas lições aprendidas através da metadona
e da brupenorfina. Quanto aos inibidores clássicos dos transportadores de dopamina
(DATs), os transportadores de monoamina de libertação lenta em dose baixa ou os
inibidores dos DATs foram propostos como terapias agonistas para a PCC. Neste âmbito, a
cocaína oral mostrou eficácia na redução dos efeitos subjetivos e fisiológicos de baixas
doses de cocaína administrada por via IV. Consequentemente, vários estimulantes
clássicos que têm perfis de ligação aos DATs semelhantes aos da cocaína foram desde
então testados em humanos e animais. Alguns exemplos de inibidores clássicos de DATs
são: a D-AFT; o MTP e o CTDP-31,345. Quanto aos inibidores atípicos dos DATs, um
progresso significativo no desenvolvimento de medicamentos baseados em DATs indicou
que nem todos os transportadores de monoamina ou inibidores de DATs provocam efeitos
comportamentais idênticos aos da cocaína. Embora a substituição ou os efeitos
semelhantes aos da cocaína possam melhorar a adesão e/ou retenção no tratamento,
idealmente, as novas terapêuticas para PCSs devem ter tendência de abuso limitada,
mantendo a eficácia na redução do abuso de drogas ilícitas, melhorando a interrupção do
abuso, e promovendo a abstinência. Neste âmbito, os inibidores atípicos dos DATs são
definidos como exibindo uma redução ou, em alguns casos, uma ausência completa de
efeitos de recompensa semelhantes aos da cocaína. Além disso, o pré-tratamento com
esses compostos conseguiu reduzir comportamentos desencadeados pela cocaína em
modelos de roedores, sugerindo uma tradução potencial para o tratamento da PCC. Alguns
exemplos de inibidores atípicos de DATs são: o JHW 007; o CTDP-32476; o RTI-336; o
MDF; o JJC8–016 e o JJC8–091. O fundamento lógico das terapias com
agonistas/agonistas parciais está atualmente a ser aplicado no desenvolvimento de novos
inibidores atípicos dos DATs para o tratamento da PCC e de outras PCEs. Esta abordagem
gerou um progresso significativo, tendo vários novos compostos principais mostrado um
potencial de tradução promissor. Embora as terapias com agonistas sejam eficazes no
tratamento de SUDs, um grande desafio remanescente é a prevenção de recaídas após um
período de abstinência. Estratégias de tratamento alternativas para estudos futuros podem

44
envolver a combinação de múltiplas terapias farmacológicas. A combinação de um agonista
total/parcial do recetor opióide mu (MOPr) com um antagonista do recetor D3 da
dopamina poderá produzir resultados promissores na prevenção de recaídas e na
promoção da abstinência. Além disso, outros compostos que têm como alvo o glutamato
metabotrópico cerebral, o GABA, ou os sistemas endocanabinóides, mostraram resultados
promissores na prevenção de recaídas. Por fim, os autores alertam que serão necessários
ensaios clínicos em humanos para confirmar que a abordagem de terapia agonista para
PCCs usando os inibidores atípicos DATs ou outras substâncias semelhantes a
estimulantes pode ser aplicada a essa população de pacientes. É importante ainda referir
que os indivíduos dependentes de cocaína não apresentam abstinência física acentuada,
como resultado, atualmente não está claro qual a melhor forma de prevenir recaídas nesta
população. Apesar disso, a única maneira de determinar se essa abordagem é viável, é
identificar novas moléculas principais que sejam seguras e promissoras em modelos
animais. Para terminar, segundo Jordan et al., no futuro é essencial identificar terapias
farmacológicas que possam ajudar pelo menos uma subpopulação de pacientes que
estejam motivados para abandonar o consumo de drogas ilícitas; assim como ampliar a
eficácia das estratégias de tratamento disponíveis, especialmente para aqueles que sofrem
de PCCs, para os quais não há opções terapêuticas. Indave et al. 201661 avaliaram a eficácia
e a aceitabilidade dos antipsicóticos para a dependência à cocaína através de uma revisão
sistemática da literatura. As substâncias estudadas foram a risperidona, a olanzapina, a
quetiapina, a lamotrigina, o aripiprazol, o haloperidol e a reserpina. Os estudos incluídos
utilizaram diferentes instrumentos ou formas de avaliar os outcomes de interesse, o que
limitou a possibilidade de os autores combinarem os dados. Quando Indave et al.
agruparam todos os resultados que comparavam qualquer antipsicótico ao PBO,
descobriram que os antipsicóticos tinham aumentado ligeiramente o número de
participantes que permaneceram no tratamento, mas não foram eficazes na redução do
consumo de cocaína durante o tratamento (dois estudos), na manutenção de abstinência
contínua (três estudos), ou na redução do impulso de consumir cocaína (quatro estudos).
As comparações de cada substância com o PBO ou com outra substância foram feitas
nalguns estudos com amostras pequenas, o que limitou a confiabilidade dos resultados. No
entanto, entre essas comparações, apenas a quetiapina pareceu ter um desempenho
melhor do que o PBO na redução do consumo de cocaína e do craving. A informação
obtida foi limitada no que diz respeito à aceitabilidade do tratamento em termos de efeitos
adversos e de abstinência do consumo de cocaína. A maioria dos estudos incluídos não
obteve resultados de outcomes importantes, como por exemplo: os efeitos adversos, o

45
consumo de cocaína durante o tratamento e o craving; o que impediu a possibilidade de os
incluir na síntese estatística. No geral, os autores não encontraram qualquer evidência que
apoiasse o uso clínico dos antipsicóticos no tratamento da dependência à cocaína. Ainda
assim, é preciso ter em conta que foram incluídos apenas 14 estudos nesta revisão
sistemática, tendo estes amostras pequenas e qualidade de evidência moderada a baixa. Ha
et al. 202050, como foi já referido anteriormente, elaboraram uma revisão onde
sumarizaram as propriedades bioquímicas da BuChE e os seus papéis, como
neurotransmissor colinérgico, em várias doenças (particularmente neurodegenerativas),
incluindo a dependência à cocaína. Ha et al. começaram então por referir que embora a
enzima BuChE esteja relacionada principalmente a doenças neurodegenerativas, esta
também está relacionada com outros processos patológicos. Nesse sentido, foi descoberto
que a BuChE é uma das enzimas envolvidas no metabolismo da cocaína, catalisando a
hidrólise desta em éster metílico de ecgonina. Esta descoberta levou ao desenvolvimento
de mutantes de BuChE recombinante e de terapia genética viral para combater a
dependência à cocaína. Para concluir, Ha et al. referiram que o uso inovador de mutantes
de BuChE para a terapia da dependência à cocaína implicava versatilidade, que podia ser
explorada para aumentar o metabolismo de toxinas ou drogas. Além disso, referiram ainda
que os ensaios pré-clínicos de BuChE recombinante e a terapia genética (BuChE) viral
mostraram resultados de tolerabilidade e eficácia promissores em modelos de roedores; no
entanto devem ser feitos mais estudos em número e diversidade de espécies animais. Por
fim, segundo Ha et al., à medida que o valor farmacológico da BuChE se expande além do
campo da neurobiologia, os estudos que se focam na associação de doenças ajudarão no
desenvolvimento da terapia baseada na BuChE. García-Pardo et al. 201649, como foi
também já referido anteriormente, elaboraram uma revisão dos estudos que tinham
demonstrado a implicação das principais proteínas cinases dependentes de cálcio e
relacionadas com a memória, na dependência de opiáceos e cocaína, até ao momento. Os
efeitos dessas drogas de abuso em diferentes modelos animais de recompensa,
dependência e adição são alterados pela manipulação de: família de proteínas cinase
ativadas por mitogénio (MAPK), particularmente a proteína cinase regulada por sinal
extracelular (ERK); proteína cinase II dependente do cálcio/calmodulina (CaMKII);
família de proteínas cinase C (PKC) (incluindo a proteína cinase C tipo zeta (PKMζ));
proteína cinase A (PKA) dependente de monofosfato cíclico de adenosina (cAMP); proteína
cinase G (PKG) dependente de monofosfato cíclico de guanosina (cGMP); via da cinase do
3-fosfatidilinositol (PI3K) e o seu alvo a jusante, o alvo mecanístico da rapamicina
(mTOR); proteína cinase 5 dependente de ciclina (Cdk5); proteínas de choque térmico

46
(Hsp); e outras enzimas e proteínas. De acordo com os resultados obtidos em modelos
animais, as proteínas da família MAPK estão claramente envolvidas em diferentes estados
de dependência à cocaína. A ERK e o p38 / NF-κB (via da MAPK p38/fator nuclear-κB)
intermedeiam os efeitos de reforço da cocaína no paradigma de autoadministração, bem
como os efeitos de recompensa condicionados dos opiáceos e da cocaína no paradigma de
preferência de lugar condicionada. A família MAPK também está envolvida na abstinência
de cocaína e nos comportamentos induzidos por esta relacionados com a plasticidade
induzida por drogas (sensibilização, aumento da autoadministração, incubação de craving,
reintegração, e reconsolidação droga-memória), bem como na influência do meio social
nos efeitos desta droga de abuso. O CaMKII é um regulador central da plasticidade
sináptica de longo prazo, da aprendizagem e da dependência a drogas. Esta proteína cinase
regula a inserção do recetor do ácido α-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxazolpropiónico
(AMPA) nas sinapses e aumenta a condutância do canal por fosforilação da subunidade
GluA1 do glutamato. A ativação da CaMKII intermedeia uma ampla gama de efeitos agudos
e crónicos da cocaína em animais naive e dependentes. A PKC intermedeia diferentes
efeitos comportamentais dos opiáceos, mas o seu papel na cocaína limita-se à recompensa
condicionada e à sensibilização. A PKA está comumente envolvida nos efeitos crónicos dos
opiáceos e da cocaína, que estão relacionados com o desenvolvimento da dependência e
adição. Existem poucos estudos que tenham avaliado o envolvimento da PKG nos efeitos
da cocaína, e os que existem foram realizados com diferentes modelos animais. No
entanto, apesar da informação ser limitada, parece que o PKG intermedeia os efeitos
comportamentais agudos e crónicos da cocaína (hiperatividade e estimulação
psicomotora). A PI3K e os seus alvos a jusante, incluindo o Akt/proteína cinase B, a
enzima glicogénio sintase cinase 3, o mTOR, e a cinase ribossómica S6 de 70 kDa
(p70S6K), são moléculas críticas para a aprendizagem e para a memória que
desempenham um papel fundamental nas adaptações neuronais induzidas por drogas.
Assim, os efeitos crónicos da cocaína dependem da ativação da via de sinalização
PI3K/Akt/GSK3/mTOR. Apesar de estudos anteriores terem relacionado a inibição da
Cdk5 com uma potencialização dos efeitos recompensadores da cocaína, a Cdk5
desempenha um papel importante nos comportamentos relacionados com a dependência
induzidos por esta substância. Apenas um estudo avaliou o papel das Hsp nos
comportamentos relacionados à cocaína, tendo relatado um aumento da Hsp73 no córtex
pré-frontal medial após a abstinência de autoadministração da cocaína. Além das já
mencionadas, várias outras enzimas e proteínas estão envolvidas nos comportamentos
induzidos pela cocaína. No que diz respeito ao tratamento, a disrupção da reconsolidação

47
de memórias relacionadas com drogas pode ter valor terapêutico. Como foi já explicado, os
estudos com modelos animais sugeriram que as drogas de abuso induzem dependência e
adição modificando a atividade de diferentes vias de sinalização que incluem várias
proteínas cinase envolvidas nos processos de aprendizagem e de memória. Os poucos
estudos realizados relataram alterações nas proteínas cinases em humanos com
dependência a opiáceos e a psicoestimulantes (por exemplo: a cocaína). O estudo das
alterações induzidas por drogas em proteínas intracelulares relacionadas com a memória e
com a plasticidade neural, além de aprofundar o conhecimento dos mecanismos
moleculares que fundamentam o desenvolvimento da dependência química, pode ajudar a
identificar possíveis alvos para futuras intervenções terapêuticas destinadas a reverter a
neuroplasticidade aberrante subjacente a esta perturbação. Na sua revisão, os autores
relataram que a manipulação farmacológica de proteínas cinases, segundos mensageiros,
enzimas, fatores de transcrição e genes de expressão precoce revertem os efeitos dos
opiáceos e de drogas psicoestimulantes (por exemplo: a cocaína) em modelos animais de
recompensa, dependência e adição. De acordo com estes resultados, vários elementos
sinalizadores intracelulares são potenciais alvos terapêuticos para a prevenção do consumo
de drogas ou da recaída após abstinência. Em comparação com outras terapias
farmacológicas para a dependência a drogas, este tipo de substâncias poderia ter uma
vantagem importante, pois os inibidores das proteínas cinase necessitariam apenas de ser
tomados por um curto período de tempo, até que as memórias relacionadas com as drogas
fossem interrompidas. Isto minimizaria as preocupações sobre quaisquer efeitos adversos
de longa duração. Estudos sobre o papel das proteínas cinase na dependência a drogas
também apontaram para a possível utilidade de tratamentos alternativos não
farmacológicos para esta perturbação. Até ao momento, nenhum estudo tentou descobrir
as mudanças moleculares específicas induzidas quando os animais são expostos a
procedimentos comportamentais de extinção/reconsolidação. Esta nova abordagem
terapêutica baseada na modificação da sinalização intracelular, contudo, não é isenta de
limitações. Isto porque, existem múltiplas interações entre estes elementos e as vias de
sinalização, e por isso é difícil separar os mecanismos específicos subjacentes aos
diferentes efeitos das drogas de abuso. Além disso, cada droga de abuso induz mudanças
simultâneas num grande número de proteínas intracelulares, o que complica a descoberta
das mudanças moleculares específicas que fundamentam os comportamentos relacionados
com as drogas. Também é importante ter presente que os efeitos da modulação de
proteínas cinase no comportamento relacionado com as drogas depende de diferentes
fatores. Além disso, uma determinada proteína conhecida por ser relevante para a

48
dependência a drogas pode ser necessária para outras funções neuronais e
comportamentais. Apesar destas limitações, os autores esperam e confiam que o
conhecimento sobre o envolvimento de proteínas específicas nas diferentes adaptações
neuronais induzidas por drogas de abuso levará à descoberta de terapias farmacológicas
que visam, de forma subtil, neurónios individuais nas sub-regiões específicas do sistema de
recompensa do cérebro. Por sua vez, Echevarria et al. 201762 elaboraram uma revisão da
literatura disponível sobre o tratamento da dependência à cocaína com NAC, na qual
examinaram os mecanismos neurobiológicos subjacentes aos efeitos da NAC em maior
profundidade. Para conseguir isto, incluíram estudos clínicos e estudos em animais para
investigar o papel potencial da NAC no tratamento da dependência a esta substância.
Atualmente, dada a já falada falta de tratamentos farmacológicos eficazes para a
dependência à cocaína, a investigação sobre a capacidade da NAC de reverter as
adaptações crónicas da neuroplasticidade após o consumo desta substância a longo prazo,
oferece uma possibilidade empolgante para o tratamento desta população. A NAC reverte a
ruptura da homeostase do glutamato causada pelo consumo de cocaína a longo prazo,
restaurando a função do permutador cistina-glutamato nas células gliais e revertendo o
recetor GLT-1 downregulated. Quatro estudos clínicos mostraram a capacidade da NAC
para reduzir o craving por cocaína, o desejo de consumir cocaína, cocaine-cue viewing-
time e os gastos relacionados a esta substância. Estudos em modelos animais também
apoiaram esta aplicação da utilização de NAC. Tendo em conta os estudos em animais e
um estudo duplamente cego com PBO, nos quais foram obtidos resultados positivos
apenas no subgrupo de pacientes que já estavam em abstinência, a NAC pode ser mais
adequada para evitar recaídas em pacientes já abstinentes. Esta observação pode oferecer
uma abordagem diferente aos ensais clínicos futuros para as PCCs, isto é, focando as
investigações na NAC como um agente de prevenção de recaídas em vez de um agente de
promoção da abstinência. A dose ótima para prevenir recaídas poderá ser aquela que
restaure o glutamato extra-sináptico para níveis fisiológicos e ative predominantemente os
recetores metabotrópicos de glutamato (mGluR) 2 e 3, mas não os mGluR5, uma vez que
estes estão relacionados com as recaídas. Por razões clínicas, a maioria dos estudos clínicos
utilizou doses de NAC entre 1200mg/dia e 3600mg/dia. No entanto, as doses mais altas
(3600mg/dia) pareceram ser consideravelmente mais eficazes sem alterar o já baixo perfil
de efeitos adversos do tratamento. Uma questão ainda sem resposta é se será necessário
um regime de tratamento crónico em futuros ensaios clínicos. Isto porque, enquanto os
primeiros estudos com animais sobre a NAC utilizaram doses únicas desta, a maioria dos
estudos clínicos e em animais posteriores administrou a NAC em doses múltiplas. Tanto os

49
estudos em animais, como os estudos clínicos já demonstraram que os tratamentos de dose
única promovem alterações neuroquímicas mensuráveis; no entanto, ainda não está claro
se essas mudanças são suficientes para mudanças mensuráveis de comportamento. Como a
maioria das evidências clínicas sugere uma eficácia dependente da dose de NAC e apoia a
administração crónica de NAC, os autores especularam que em futuros ensaios clínicos
poderá ser considerado um regime administrado de forma crónica. Por último, Walker et
al. 202063 elaboraram uma revisão onde apresentaram e integraram a literatura atual
sobre o papel dos recetores muscarínicos de acetilcolina (mAChR) no abuso de drogas e
álcool com a evidência emergente, usando novos moduladores alostéricos direcionados a
subtipos específicos de mAChR. Os autores focaram-se no potencial dos mAChRs M1, M4 e
M5 no tratamento da dependência ao álcool, aos psicoestimulantes (por exemplo: a
cocaína) e aos opióides, usando evidências de estudos pré-clínicos para prever a sua
utilidade no tratamento de diferentes estados do ciclo de dependência. No âmbito das suas
conclusões, Walker et al. começaram por dizer que os mAChRs são alvos promissores para
vários aspetos do tratamento de PCAs e de PCSs. As modulações alostéricas positivas
(PAM) ou agonistas alostéricos M1 podem fornecer utilidade no favorecimento da extinção
do consumo, no entanto, isto pode exigir a combinação com os PAMs M4. Estes PAMs
mostraram ser promissores no tratamento do consumo de drogas e na manutenção, bem
como na ajuda à extinção do consumo e nas recaídas. No entanto, é necessário conhecer os
papéis específicos loci do recetor M4 e os mecanismos pelos quais ele modula o consumo e
a procura por drogas. O VU0467154 era um candidato desejável para o desenvolvimento
clínico, no entanto, foi descoberto que ele é 35 vezes menos potente no recetor M4 humano
do que no recetor M4 dos roedores. Neste sentido, estão em andamento tentativas de
desenvolver PAMs M4 com eficácia e potência desejáveis no recetor M4 humano. No
entanto, segundo Walker et al., até à data, nenhum candidato para potencial
desenvolvimento clínico foi identificado. Além disso, uma vez que os moduladores
alostéricos se ligam a regiões menos conservadas no recetor, há desafios adicionais em
garantir que estes compostos seletivos têm a mesma eficácia em todas as espécies. É
importante referir que vários PAMs M1 estão atualmente em ensaios clínicos para a doença
de Alzheimer, o que pode permitir o reaproveitamento para a indicação de PCA ou PCS se
for comprovado que são seguros e eficazes na melhoria da cognição. Walker et al.
continuaram com as suas conclusões, referindo que as modulações alostéricas negativas
(NAM) M5 mostraram ser uma grande promessa para o tratamento de PCSs e PCAs; no
entanto, o ML375 apresentou limitações relativamente à solubilidade e à longa semivida,
impedindo repetições de dosagem. De facto, segundo os autores, a maior parte do nosso

50
conhecimento atual de todos os moduladores alostéricos mAChR é baseado em estudos de
dose única; no entanto, se estes compostos forem úteis para o desenvolvimento clínico, é
provável que precisem de administração crónica sem induzir tolerância. Walker et al.
continuaram as suas conclusões referindo que algumas evidências pré-clínicas sugeriram
que as habilidades dos mAChR PAMs M4 e dos mAChR NAMs M5 para reduzir o consumo
e a procura de substâncias se estendem pelas classes de drogas de abuso, com efeitos
benéficos observados no consumo de álcool, de cocaína e de opiáceos. No entanto, é
extremamente importante compreender os mecanismos pelos quais os mAChRs M1, M4 e
M5 exercem os seus efeitos no combate à dependência. Sendo que isto pode-nos ajudar a
entender se os tratamentos em combinação poderão agir sinergicamente para fornecer
ainda mais benefícios em comparação com a atuação num único subtipo de mAChR.
Assim, segundo Walker et al., as diferenças nos mecanismos de ação podem impactar tanto
os perfis de efeitos adversos, quanto o potencial terapêutico dos compostos; sendo crucial
para o desenvolvimento futuro compreender estas potenciais mudanças. Além disto, os
autores também chamaram a atenção para o facto de haver uma falta de investigações
realizadas em roedores fêmea. Vários estudos sugeriram potenciais diferenças sexuais no
sistema colinérgico, portanto o papel dos mAChRs em fêmeas requer exploração e
validação. Walker et al. terminaram dizendo que, no geral há evidências pré-clínicas
convergentes que sugerem que a modulação alostérica de mAChRs é um alvo viável para o
tratamento de PCAs e PCSs. Além disso, avanços recentes no desenvolvimento de
compostos mAChR altamente seletivos permitiram fazer uma examinação detalhada dos
subtipos de mAChR em vários estados do ciclo de dependência. Embora estes estudos
sejam extremamente positivos, a nossa compreensão da modulação alostérica mAChR nas
PCAs e PCSs está apenas no início. Por isso, segundo os autores são necessárias mais
investigações para compreender as propriedades farmacológicas que sustentam a eficácia
dos compostos alostéricos mAChR, o que ajudará a impulsionar o desenvolvimento de
compostos que têm a maior probabilidade de sucesso clínico.

4.9.Outros
Neste capítulo vamos falar de estudos onde foram abordados os mais variados temas e
substâncias, e que dizem respeito ao tratamento da dependência à cocaína. Shorter et al.
202064 começaram por falar da doxazosina, um antagonista α1 que reduz o consumo de
cocaína em indivíduos com PCC por meio de um polimorfismo funcional do recetor
adrenérgico α1. Segundo os autores, o papel regulador do polimorfismo do gene do subtipo
D (ADRA1D) do recetor adrenérgico α1 na PCC não estava caracterizado. Então, o objetivo

51
do estudo de Shorter et al. foi investigar como a variante genética do gene ADRA1D
(T1848A, rs2236554) poderia afetar a eficácia do tratamento da doxazosina na redução do
consumo de cocaína. Segundo Shorter et al., alguns estudos pré-clínicos relataram que os
ratos knockout ADRA1D mostraram respostas contrácteis diminuídas aos agonistas
adrenérgicos, bem como locomoção exacerbada reduzida após exposição aguda a
estimulantes; isto indicou o seu papel crítico na PCE. No seu estudo, Shorter et al.
apresentaram evidências clínicas interessantes de que os indivíduos com a variante
genética do gene ADRA1D (T1848A, rs2236554) apresentavam uma resposta distinta ao
tratamento com a doxazosina. Nomeadamente, os autores descobriram que os portadores
do alelo T apresentavam uma maior redução no consumo de cocaína após o tratamento
com a doxazosina em participantes com o polimorfismo do gene ADRA1D (T1848A),
sugerindo que este polimorfismo por substituição de um nucleótido pode servir como um
marcador farmacogenético na terapia farmacológica da PCC. Apesar da pequena amostra,
o estudo de Shorter et al. sugeriu que era possível desenvolver intervenções
farmacogenéticas inovadoras para a PCC, usando a doxazosina (antagonista α1 seletivo) de
modo a atuar neste recetor adrenérgico único, o recetor adrenérgico α1 subtipo D
(ADRA1D). Por fim, os autores referiram ainda que acreditavam ser necessários mais
estudos para investigar a correlação entre este polimorfismo específico do gene ADRA1D e
o resultado do tratamento ou efeitos adversos de outros agentes terapêuticos para a PCC.
Kirley et al. 202065 demonstraram a utilidade da eletroforese em gel de poliacrilamida na
presença de dodecil sulfato de sódio (SDS-PAGE) não redutora para a avaliação qualitativa
da ligação da cocaína e alguns dos seus metabolitos, tanto ao anticorpo monoclonal (mAb)
intacto, quanto aos fragmentos contendo o sítio de ligação ao antigénio (fragmentos Fab
and F(ab’)2). Para contextualizar, o laboratório de Kirley et al. tinha anteriormente
desenvolvido um mAb anti cocaína para o tratamento das PCCs. Este anticorpo anti
cocaína humanizado, denominado h2E2, foi minuciosamente caracterizado funcional e
estruturalmente em preparação para o início do desenvolvimento clínico. Kirley et al.
tinham já mostrado que este mAb poderia ser caracterizado por uma técnica de
desdobramento de domínios de anticorpo, usando a SDS-PAGE não redutora. Os autores
também tinham demonstrado que a estabilização de proteína induzida por ligando poderia
ser usada para medir quantitativamente a ligação da cocaína e dos seus metabolitos ao
mAb h2E2, utilizando a fluorimetria diferencial de varrimento. No que diz respeito a este
estudo, Kirley et al. referiram que os resultados mostraram claramente uma dependência
da concentração de ligando para a estabilização do domínio de ligação da cocaína em SDS-
PAGE não redutora, bem como diferenciaram visualmente as afinidades de ligação

52
relativas de vários metabolitos da cocaína. Assim, a SDS-PAGE não redutora é uma técnica
simples e amplamente disponível que é útil como uma medida de ligação da cocaína e dos
seus metabolitos ao mAb h2E2, e é provável que esta técnica também seja aplicável a
outros mAbs direcionados a moléculas pequenas. Segundo Cippitelli et al. 201966,
evidências convincentes indicaram que os agonistas de recetores opióides mistos,
particularmente compostos bifuncionais que têm como alvo o péptido FQ de
nociceptina/orfanina (NOP) e os recetores opióides mu, poderiam ser úteis para o
tratamento da dependência à cocaína. Neste estudo, os autores verificaram que a ativação
farmacológica potente e seletiva dos recetores NOP é suficiente para reduzir facetas
relevantes da dependência à cocaína em modelos animais. Para isso, Cippitelli et al.
determinaram se as injeções sistémicas da pequena molécula AT‐312 (0, 1, 3 mg/kg)
poderiam reduzir a autoadministração de cocaína, a motivação para consumir cocaína e a
vulnerabilidade para recaídas, em ratos. Os resultados indicaram que um agonista potente
e seletivo do recetor NOP era igualmente eficaz na redução do número de infusões de
cocaína em sessões de acesso curtas (1 hora) e longas (6 horas). Quando foi testado num
esquema de reforço de exigência económica, o AT-312 reduziu o Q0 (parâmetro que
descreve a quantidade de droga consumida a preço zero) e deixou o parâmetro α (medida
de motivação para o consumo de droga) inalterado. Além disso, o AT-312 reduziu com
sucesso o restabelecimento condicionado da procura de cocaína. Em contraste, o agonista
do recetor NOP não modificou a autoadministração de alimentos. O bloqueio do recetor
NOP com o antagonista SB‐612111 evitou o efeito do AT-312 na redução da resposta
reforçada por cocaína sob um esquema de rácio fixo (FR-1) com 2 horas de duração,
sugerindo um mecanismo mediado pelo recetor NOP. Concluindo, o estudo de Cippitelli et
al. demonstrou que a ativação potente e seletiva dos recetores NOP é suficiente para
diminuir o consumo e o comportamento de procura de cocaína em ratos. Além disso, o
estudo sugeriu que a manipulação farmacológica dos recetores NOP com o agonista AT-
312 diminui com sucesso tanto a ingestão limitada quanto a ingestão aumentada de
cocaína. A análise da curva de exigência económica comportamental após o tratamento
com AT-312 sugeriu que este evita o consumo de cocaína quando é necessário pouco
esforço para a adquirir, embora não afete o valor essencial da cocaína. O potente agonista
do recetor NOP também evitou o restabelecimento da procura de cocaína induzida por
estímulos. Por fim, a ativação do recetor NOP pode representar uma estratégia de sucesso
para a terapia farmacológica da dependência à cocaína, particularmente se for combinada
com uma terapia que visa a componente motivacional que impulsiona a ingestão quando o
preço da cocaína aumenta. No entanto, são necessárias mais investigações para estabelecer

53
se o agonista NOP AT-312 pode ser considerado um candidato potencial para o
desenvolvimento clínico. De acordo com Brodnik et al. 202067 a eficácia de reforço da
cocaína é amplamente determinada pela sua capacidade de inibir os DAT; além disso,
evidências emergentes sugerem que as diferenças na potência da cocaína estão ligadas a
vários sintomas da PCC. Apesar destas evidências, os processos neurais que determinam a
potência da cocaína in vivo permanecem pouco claros. Brodnik et al. usaram a
chemogenetics (química-genética) com microinfusões intra-área tegmental ventral do
agonista clozapina-n-óxido para modular bidireccionalmente os neurónios de dopamina,
em ratos macho. Os autores testaram os efeitos das manipulações químico-genéticas na
potência da cocaína em DAT distais no NA, bem como a economia comportamental da
autoadministração de cocaína, usando voltametria cíclica de varrimento rápida ex vivo,
sondas farmacológicas de DAT, avaliações bioquímicas da disponibilidade e fosforilação da
membrana dos DAT, e autoadministração da cocaína. Brodnik et al. descobriram que a
manipulação químico-genética dos neurónios da dopamina produzia uma modulação
rápida e bidirecional da potência da cocaína nos DAT no NA. Em seguida, os autores
forneceram evidências de que as mudanças na potência da cocaína estavam associadas a
alterações na afinidade de DAT pela cocaína e demonstraram que esta mudança na
afinidade coincidia com vieses de conformação e mudanças no estado de fosforilação dos
DAT. Brodnik et al. mostraram que a manipulação químico-genética dos neurónios da
dopamina alterava o consumo de cocaína de uma maneira consistente com mudanças na
potência de cocaína em DAT distais. Com base nas restrições espaciais e temporais
inerentes ao seu projeto experimental, os autores postularam que as mudanças na potência
de cocaína eram impulsionadas por alterações na atividade dos neurónios dopaminérgicos.
Quando consideradas em conjunto, estas observações forneciam um novo mecanismo por
meio do qual os recetores acoplados à proteína G (GPCR) regulavam os efeitos
farmacológicos e comportamentais da cocaína. Para concluir, segundo Brodnik et al. as
descobertas atuais delineavam um processo pelo qual a modulação GPCR da atividade do
neurónio dopaminérgico governava a potência da cocaína nos DAT via fosforilação em
Thr-53 e subsequente estabilização da conformação outward facing do DAT. Muitos
GPCRs endógenos expressos em neurónios dopaminérgicos foram descritos como
importantes na patologia da PCC ou foram identificados como alvos terapêuticos
potenciais para o tratamento desta perturbação. Além disso, a atividade dos neurónios
dopaminérgicos varia entre perturbações psiquiátricas e está sujeita a mudanças plásticas
após um amplo espectro de ofensas, entre elas: o stress, a exposição a agentes
farmacológicos e o histórico de abuso de drogas. As descobertas dos autores ilustraram o

54
espectro de maneiras nas quais o consumo de cocaína pode variar, como resultado da
atividade neuronal dopaminérgica alterada nestas condições. Assim, este trabalho teve
implicações adicionais para a compreensão da regulação do consumo de cocaína em todos
os estados de dependência e para os mecanismos que estão por trás de uma variedade de
comorbidades da PCC. Segundo Logan et al. 202068 a ceftriaxona atenua de forma
confiável o restabelecimento da procura por cocaína. Embora a restauração da expressão
de GLT-1 (um transportador de glutamato) do NA seja necessária para a ceftriaxona
atenuar o restabelecimento, a sobre expressão de GLT-1 mediada por vírus adeno-
associado não é suficiente para atenuar o restabelecimento e não evita o efluxo de
glutamato durante o mesmo. No seu estudo, os autores testaram a hipótese de que a
ceftriaxona atenua o restabelecimento através de interações com os auto recetores de
glutamato mGlu2 e mGlu3 no NA. Tendo em conta os seus resultados, Logan et al.
concluíram que a sinalização de mGlu2/3, no núcleo do NA, era necessária para a
ceftriaxona atenuar o restabelecimento da procura de cocaína. Além disso, os autores
descobriram que a expressão total e de superfície do mGlu2, e não do mGlu3, foi reduzida
pela cocaína e restaurada pela ceftriaxona. Por fim, segundo Logan et al., como o mGlu2 é
encontrado nos terminais de glutamato pré-sináptico, é provável que a ceftriaxona
funcione para regular positivamente estes recetores e restaure a capacidade de regular a
libertação de glutamato pré-sináptico após a apresentação de sinais/sugestões associadas à
cocaína e da própria cocaína, a fim de reduzir a procura da mesma. Assim, segundo os
autores, as investigações futuras irão testar a possibilidade de que a expressão de mGlu2
em projeções do córtex pré-frontal para o núcleo do NA é necessária para que a ceftriaxona
atenue o restabelecimento e o efluxo de glutamato que o acompanha. De acordo com Witt
et al. 202069 a nicotinamida (NTAM) pode-se opor às adaptações celulares observadas
após a exposição à cocaína no modelo de adição de autoadministração e restabelecimento,
em roedores. Além disso, segundo os autores, a utilidade da NTAM contra os sintomas de
abstinência e vulnerabilidade a recaídas por consumo de cocaína foi sugerida por case
reports e por relatórios pouco confiáveis. No entanto, os efeitos empíricos da NTAM nos
comportamentos de procura de drogas ainda não foram examinados. Neste estudo, os
autores investigaram os efeitos da administração sistémica de NTAM no restabelecimento
da procura de cocaína, usando um modelo de
autoadministração/extinção/restabelecimento da dependência à cocaína em ratos. A
NTAM crónica administrada durante a dose de extinção atenuou de forma dependente o
restabelecimento iniciado por sugestão em ratos macho, mas não em ratos fêmea. Em
contraste, a NTAM aguda dada uma vez antes do restabelecimento não teve efeito sobre

55
este. Além disso, a NTAM crónica não teve efeito na atividade locomotora ou no
restabelecimento da procura por alimentos. Concluindo, Witt et al. referiram que a
especificidade da NTAM contra o restabelecimento iniciado por sugestão indica que a
NTAM pode influenciar a capacidade de resposta a sugestões associadas a drogas,
especificamente em machos. Uma investigação mais aprofundada do circuito e do
mecanismo celular deste efeito, como a inibição da poli (ADP-ribose) polimerase 1 (PARP-
1), a redução do stress oxidativo e a suplementação do dinucleótido de NTAM e adenina
oxidado (NAD+), auxiliará na elucidação dos mecanismos celulares da dependência. Além
disso, como a NTAM não teve nenhum efeito percetível na aprendizagem da extinção do
consumo, é provável que os seus efeitos na procura por cocaína também se possam
estender aos modelos de dependência que empregam a abstinência forçada, como o
modelo de incubação de craving por cocaína. Por último, a investigação destes
mecanismos tanto em fêmeas quanto em machos contribuirá para a compreensão das
diferenças sexuais tanto na adição quanto na eficácia das opções de tratamento. Segundo
Valenza et al. 202070 poucos estudos pré-clínicos modelaram o percurso natural
longitudinal da dependência à cocaína. Os protocolos de autoadministração de acesso
prolongado são ferramentas poderosas para modelar os estados avançados de adição; no
entanto, poucos estudos têm duração de acesso à droga superior a 12h/sessão,
potencialmente limitando a sua validade de construção. A identificação de mudanças nos
padrões de consumo de cocaína durante o desenvolvimento de estados de dependência
pode permitir melhores tratamentos para indivíduos vulneráveis. O sistema do recetor
kappa opióide (KOPr) tem sido implicado na regulação neurobiológica de estados de
dependência, bem como em perturbações de humor e de stress, havendo antagonistas
seletivos a KOPr propostos como possíveis agentes farmacoterapêuticos. A exposição
crónica à cocaína aumenta a expressão de KOPr e dos seus agonistas endógenos, as
dinorfinas, em várias áreas do cérebro de roedores. Neste estudo, os autores examinaram o
padrão comportamental de ingestão durante a autoadministração crónica (14 dias) de
cocaína IV durante 18h/dia (0,5mg/kg/infusão) e o efeito de um novo antagonista de KOPr
de curta ação, o LY2444296 HCl (3 mg/kg), administrado durante as sessões 8 a 14 de
autoadministração crónica de cocaína (18h/dia) e antes de uma sessão de reexposição
única realizada após 2 dias de abstinência à cocaína. Valenza et al. descobriram que os
padrões de consumo diário e de hora a hora de cocaína mudaram ao longo dos 14 dias de
autoadministração (18h/dia). O pré-tratamento com LY2444296 HCl afetou o padrão de
autoadministração durante a segunda semana de autoadministração de cocaína com
acesso prolongado e evitou o aumento da ingestão de cocaína durante a reexposição. No

56
geral, o antagonista KOPr atenuou o consumo de cocaína intensificado num modelo de
ratos de autoadministração de cocaína com acesso prolongado. Baseando-se nos resultados
obtidos, os autores concluíram que estes dados chamam a atenção para a importância de
estudar o padrão de consumo de cocaína nas sessões de autoadministração, o que pode
esclarecer a influência dos padrões circadianos de consumo no desenvolvimento e
progressão das PCC. Além disso, os resultados apresentados apoiam uma exploração mais
aprofundada da eficácia terapêutica do bloqueio de KOPr, especialmente na prevenção de
agravamentos e de comportamentos semelhantes a recaídas, usando antagonistas seletivos
de ação curta, em modelos de dependência à cocaína. De acordo com Turner et al. 202071 a
proteína que interage com a C cinase-1 (PICK1) regula o tráfego intracelular de recetores
AMPA contendo GluA2 (subunidade dos recetores AMPA), um processo conhecido por
desempenhar um papel crítico no comportamento da procura por cocaína. Isto sugere que
a PICK1 pode representar um alvo molecular para o desenvolvimento de novas terapias
farmacológicas destinadas a tratar as recaídas induzidas pelo craving por cocaína. Novas
evidências indicaram que a inibição da PICK1 atenua o restabelecimento do
comportamento de procura por cocaína. Neste estudo, os autores mostraram que a
administração sistémica de TAT-P4-(DATC5)2, um novo inibidor de péptidos com alta
afinidade para o domínio PDZ da PICK1, atenuou de forma dependente da dose o
restabelecimento da procura de cocaína em ratos, a doses que não produziram défices de
aprendizagem ou suprimiram a atividade locomotora. Turner et al. também mostraram
que o TAT-P4-(DATC5)2 sistémico atravessou o cérebro, tendo sido visualizado na concha
do NA. Consistente com estes efeitos, as infusões de TAT-P4- (DATC5)2 diretamente no
NA reduziram a procura de cocaína, mas não de sacarose. Os efeitos de TAT-P4-(DATC5)2
na procura de cocaína são provavelmente devidos, em parte, à inibição da PICK1 em
neurónios espinhosos médios (MSNs) do NA, visto que o TAT-P4-(DATC5)2 mostrou
acumular-se em neurónios estriados e ligar-se à PICK1. Os autores concluíram então que,
por meio da sua capacidade de se ligar amplamente a vários alvos proteicos e regular o seu
tráfego intracelular, a PICK1 desempenha um papel importante na plasticidade sináptica e
no comportamento. Portanto, a PICK1 pode representar um alvo molecular para novas
terapias farmacológicas destinadas ao tratamento de perturbações neurológicas e
neuropsiquiátricas, incluindo a PCS. Neste estudo, Turner et al. forneceram a primeira
evidência que apoia a eficácia da administração sistémica de um novo inibidor de péptidos
da PICK1 num modelo animal de recaídas induzidas por craving de cocaína. Embora os
seus resultados identifiquem claramente um papel para a PICK1 na procura de cocaína por
meio de ações no NA, os mecanismos subjacentes à função da PICK1 no comportamento de

57
procura por drogas não são claros. Estudos futuros com o objetivo de identificar substratos
moleculares direcionados à PICK1 e de identificar como a paragem da toma de cocaína
após a sua autoadministração altera dinamicamente o significado funcional destas
interações, serão críticos para a compreensão de como a PICK1 coordena a função celular
na concha do NA para regular a procura de cocaína. Segundo Sherman et al. 202072 a PCC
está associada à desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que
desempenha um papel crítico na resposta humana ao stress. Além disso, os homens e
mulheres com PCC diferem na reatividade aos stressors sociais. Ainda de acordo com os
autores, a OT (neuropéptido hipotalâmico) está envolvida nos processos de recompensa
ansiolíticos e naturais, e tem demonstrado potencial terapêutico para perturbações aditivas
e para a redução do stress. O objetivo de Sherman et al. foi examinar o impacto da OT (OT
vs PBO) e do género (feminino vs masculino) na resposta a uma tarefa de stress social em
indivíduos com PCC. Além disso, o objetivo também passou por explorar se as hormonas
ováricas moderam esta resposta ao stress. Os resultados mostraram que o género moderou
o efeito da OT na resposta neuro endócrina; isto porque as mulheres que receberam OT
apresentaram uma resposta atenuada do cortisol em comparação com os outros grupos.
Além disso, houve um efeito principal do género na resposta subjetiva ao stress; uma vez
que as mulheres relataram maior stress após o stressor em comparação com os homens.
Temos ainda que a OT não teve um efeito significativo sobre o craving ou sobre o stress, e
que o género não moderou o efeito da OT em nenhuma das duas medidas. Por fim, níveis
de progesterona mais elevados foram associados a um menor craving, em mulheres. Os
autores concluíram então que a OT pode ter efeitos diferenciais em homens e mulheres
com PCC; tendo os resultados sugerido que a OT pode ser útil no direcionamento da
resposta ao stress agudo em mulheres, especificamente através da regulação da função do
eixo HPA. Além disso, como outras evidências sugeriram, as mulheres podem ter maior
risco de recaídas induzidas por stress, embora isso possa ser atenuado pelos níveis de
hormonas ováricas. Finalmente, a dissociação da resposta neuro endócrina e subjetiva nas
mulheres, ressalta a necessidade de uma melhor compreensão do sistema de stress e dos
seus componentes em homens e mulheres. Além disso, o aprimoramento da medicina de
precisão pode envolver o direcionamento a componentes específicos da resposta ao stress,
através da combinação de terapia farmacológica e de intervenções psicossociais. Windisch
et al. 201873 aperceberam-se de que vários estudos pré-clínicos tinham demonstrado que a
naltrexona (antagonista do MOPr e agonista parcial do KOPr) reduzia os efeitos subjetivos
e a autoadministração de cocaína; no entanto, poucas investigações tinham examinado a
capacidade do nalmefeno (antagonista do MOPr e agonista parcial do KOPr), uma

58
substância estruturalmente semelhante à naltrexona, para reduzir os efeitos associados à
cocaína. Então os autores decidiram examinar o efeito de doses baixas (1mg/kg) e altas
(10mg/kg) de naltrexona ou nalmefeno na preferência por cocaína, usando um modelo de
preferência de local condicionada. Além disso, foi realizada a caracterização in vivo destas
doses de naltrexona e nalmefeno, a fim de examinar a sua eficácia no MOPr e no KOPr. Os
resultados mostraram que tanto as doses de naltrexona quanto as altas doses de nalmefeno
reduziram significativamente a preferência pela cocaína. Por outro lado, foi observada uma
aversão significativa à cocaína para altas doses de naltrexona e para ambas as doses de
nalmefeno. Curiosamente, nem a naltrexona nem o nalmefeno bloquearam o excesso de
locomoção induzido pela cocaína. A dose elevada de naltrexona e ambas as doses de
nalmefeno bloquearam totalmente a analgesia térmica induzida pela morfina (agonista
MOPr), bem como a descoordenação locomotora induzida pelo U50.488H (agonista
KOPr). No entanto, a baixa dose de naltrexona bloqueou totalmente a analgesia da
morfina, mas não a descoordenação locomotora do U50.488H, sugerindo que a baixa dose
de naltrexona é eficaz em MOPr, mas não em KOPr. Windisch et al. concluíram então que
tanto a naltrexona quanto o nalmefeno bloqueiam os efeitos da preferência pela cocaína,
mas não os efeitos de ativação locomotora exercidos por esta. Estes resultados sugerem
que tanto a naltrexona como o nalmefeno podem ser terapias farmacológicas viáveis para
alguns aspetos da dependência à cocaína. Este é um passo importante para compreender
o(s) mecanismo(s) potencial(is) de ação da naltrexona e do nalmefeno, a fim de possibilitar
o desenvolvimento de tratamentos farmacológicos mais eficazes para a PCS. Segundo
Mash et al. 201874 a ibogaína pode ser eficaz na transição de indivíduos dependentes a
opióides e a cocaína para a sobriedade; sendo que grupos de autoajuda americanos e
europeus forneceram testemunhos públicos de que a ibogaína aliviou o craving por drogas
após a administração de uma única dose. Estudos pré-clínicos em modelos animais de
dependência forneceram evidências que apoiam estas alegações. No entanto, os supostos
benefícios terapêuticos da ibogaína eram baseados em relatos pouco confiáveis de uma
pequena série de relatos de casos que usaram procedimentos de recrutamento
retrospetivos. Neste estudo, os autores reviram os resultados clínicos de uma série de casos
abertos de voluntários humanos que procuravam desintoxicar-se de opióides ou de cocaína
com monitoramento médico durante tratamento hospitalar. Mash et al. relataram que a
ibogaína e o seu metabolito ativo, a noribogaína, oferecem uma abordagem alternativa
direcionada às adaptações neurológicas subjacentes nos circuitos de dependência, que
contribuem para um ciclo intratável de recaída após a abstinência. Os efeitos posteriores
da ibogaína são provavelmente mediados pela noribogaína, o que pode explicar a melhora

59
duradoura no humor e a diminuição do craving por cocaína relatados pela maioria dos
indivíduos neste estudo. Por fim, os autores concluíram que a terapia com ibogaína
administrada num intervalo de dosagem seguro reduz o craving por drogas.

4.10.Tratamento não farmacológico


No âmbito da terapia não farmacológica foram encontrados diferentes estudos. Terraneo et
al. 201675, Pettorruso et al. 201976, Martinotti et al. 201977 e Rachid et al. 201878 estudaram
técnicas de estimulação neurológica para o tratamento da dependência à cocaína. Terraneo
et al. usaram a estimulação magnética transcraniana repetitiva (rTMS) para testar se a
estimulação do córtex pré-frontal dorsolateral poderia prevenir o consumo de cocaína em
humanos. Os autores concluíram que as suas descobertas preliminares apoiavam a
segurança da rTMS em pacientes viciados em cocaína, tendo sugerido o seu potencial papel
terapêutico para a estimulação do córtex pré-frontal na redução do consumo de cocaína; o
que forneceu uma forte justificação para o desenvolvimento de estudos maiores
controlados por PBO. Pettorruso et al. realizaram um estudo com o objetivo de avaliar a
viabilidade da rTMS no craving e no consumo de cocaína, bem como noutros sintomas
psiquiátricos concomitantes. As descobertas de Pettorruso et al. foram consistentes com
contribuições anteriores sobre o uso de rTMS em indivíduos com PCC; tendo mostrado um
efeito menor, mas significativo, no craving para toda a amostra, e uma ação mais
específica noutras áreas psicopatológicas capazes de exercer um efeito indireto em termos
de prevenção de recaídas. Os autores também especularam que a TMS no córtex pré-
frontal dorsolateral pudesse ser mais eficaz em subgrupos específicos de pacientes,
nomeadamente naqueles com sintomas depressivos leves concomitantes e com um craving
associado à obtenção de uma sensação de alívio. Por fim, os autores referiram que é
necessário um desenho de estudo duplo cego, controlado de forma simulada e com
visualização neurológica para confirmar os benefícios potenciais da rTMS e abrir novos
cenários no tratamento de PCSs. Martinotti et al. avaliaram a eficácia da estimulação
transcraniana por corrente contínua (tDCS) no tratamento da PCC e o seu potencial
impacto na depressão e na impulsividade; tendo os seus dados sugerido uma eficácia
potencial da tDCS ativa sobre o córtex pré-frontal dorsolateral direito para reduzir o
consumo de cocaína em indivíduos com PCC. Além disso, não foram encontradas
diferenças no que diz respeito à ansiedade, depressão, impulsividade e craving entre os
dois grupos do estudo, provavelmente devido ao pequeno tamanho da amostra e à duração
do mesmo. Rachid et al. descreveram e discutiram estudos que tinham avaliado a
segurança e a eficácia de técnicas de neuroestimulação para o tratamento da dependência à

60
cocaína; tendo descoberto que algumas técnicas, particularmente a estimulação magnética
transcraniana e a tDCS, são seguras e potencialmente eficazes na redução do craving por
cocaína. Além disso, embora a estimulação cerebral profunda tenha mostrado bons
resultados num paciente, nenhuma conclusão pôde ser tirada sobre a eficácia e segurança
desta abordagem. É importante ainda ter em conta que o tamanho das amostras e o
número de estudos incluídos foi reduzido, sendo estas as principais limitações do estudo
de Rachid et al. Por fim, tendo em conta os resultados algo promissores de alguns estudos,
os autores concluíram que futuros estudos controlados, com amostras maiores e
parâmetros de estímulo ideais, deviam ser projetados para confirmar a segurança e eficácia
a curto e a longo prazo das técnicas de neuroestimulação usadas para tratar a adição à
cocaína. Por sua vez, Savulich et al. 201779 usaram a fMRI para investigar a resposta
cerebral durante a visualização de imagens aversivas e neutras em relação à linha base com
50mg de naltrexona e de PBO em indivíduos com dependência ao álcool, indivíduos com
dependência ao álcool associada a dependência à cocaína e/ou aos opiáceos, e indivíduos
saudáveis sem história de dependência a álcool ou drogas. O estudo de Savulich et al.
demonstrou que os efeitos da naltrexona na ativação cortical e na conectividade cortical-
límbica são dependentes de variações na adversidade da infância (isto é, quanto mais
abuso vivenciado, maior o efeito benéfico da naltrexona). Além disso, a terapia
farmacológica com naltrexona também pode ter alguns efeitos benéficos no processamento
emocional negativo na amígdala em indivíduos com dependência combinada de álcool e
drogas, mas não com dependência apenas ao álcool; possivelmente devido a alterações na
transmissão endógena de opióides ou às ações antagonistas da naltrexona no KOPr. Os
autores concluíram então que as adversidades vivenciadas na infância são um fator
ambiental que influencia a resposta farmacológica à naltrexona. Sofuoglu et al. 201680
procuraram justificar o uso da cognição como alvo terapêutico na PCE e delinear possíveis
abordagens de tratamento. Segundo os autores, as deficiências cognitivas e vieses são
comuns em perturbações que estão frequentemente em comorbidade com a PCE, e
predizem retenções de tratamento e resultados clínicos pobres. Como tal, elas podem
servir de alvos de tratamento transdiagnóstico viáveis. Além disso, existem abordagens
farmacológicas, cognitivas e comportamentais promissoras que visam melhorar a função
cognitiva. O aprimoramento cognitivo para melhorar os resultados de tratamento é uma
estratégia nova e promissora, no entanto ainda é necessário determinar o seu valor clínico
para o tratamento da PCE, com ou sem outras comorbidades psiquiátricas. Por fim,
Brousse et al. iniciaram um ensaio clínico (NCT0428090081) em fevereiro de 2020, no
qual se propuseram à criação de um programa de realidade virtual baseado na análise de

61
situações de recaída de alto risco descritas por pacientes. Além disso, numa fase posterior,
os investigadores irão avaliar o efeito desta ciberterapia no tempo de recaída dos pacientes
e no seu desejo de consumir cocaína.

62
5. Conclusão

Ao longo desta revisão da literatura foi possível identificar e avaliar as substâncias mais
promissoras no que toca ao tratamento da dependência à cocaína; o que permitirá guiar
futuras investigações, de maneira a contribuir para a procura de substâncias eficazes para
o tratamento da dependência à cocaína.

A família dos psicoestimulantes pareceu ser a mais promissora, sendo a mais estudada
pelos investigadores. Dentro dos psicoestimulantes, apesar de alguns estudos se
contradizerem quanto à sua eficácia no tratamento da dependência à cocaína, o MDF
pareceu ser uma das substâncias mais promissoras. Foram estudadas doses de 200 a
400mg por dia desta substância, tendo a dose de 400mg por dia originado um maior perfil
de efeitos adversos e uma descontinuação mais frequente da medicação num dos estudos.
Além do MDF, também a D-AFT pareceu ser uma substância promissora. No entanto, a
combinação MDF + D-AFT não ofereceu benefícios sobre medicamentos estimulantes
individuais ou PBO no tratamento da dependência à cocaína, originando até uma
tendência para o aumento do consumo desta substância ao longo do tempo. A
metanfetamina SR mostrou ser promissora num estudo, no entanto, pelo facto de a
metanfetamina ser conhecida como uma substância bastante suscetível de abuso, esta não
pode ser usada como tratamento padrão para a dependência à cocaína. Ainda assim, este
estudo sugeriu que o próximo passo seria estudar substâncias monoaminérgicas mistas
para o tratamento da dependência à cocaína. Os sais de anfetamina mistos XR mostraram
ser promissores, em doses robustas e juntamente com TCC, num estudo que avaliou a
eficácia destes sais para o tratamento concomitante de PHDA e de PCC, tendo melhorado
os sintomas de PHDA e reduzido o consumo de cocaína. A l-MA mostrou reduzir a
autoadministração de cocaína, no entanto isto foi baseado apenas num estudo. A
atomoxetina reduziu o viés de atenção para sinais associados a drogas em indivíduos com
dependência à cocaína, no entanto, à semelhança da l-MA isto também foi baseado apenas
num único estudo. No que diz respeito ao MTP, apesar da evidência para o seu uso no
tratamento da dependência à cocaína ser fraca e de ter efeitos de reforço semelhantes aos
da cocaína, foi sugerido que devia ser considerado para casos de dependência à cocaína
resistente ao tratamento e de PHDA, concomitantes.

Relativamente aos anticonvulsivantes, apesar de haver autores que defendem que a sua
utilidade clínica é pequena ou nula, o topiramato mostrou ser algo promissor para o

63
tratamento da dependência à cocaína. Além disso, o topiramato demonstrou ainda eficácia
em pacientes com dependência ao crack. Por fim, a associação deste anticonvulsivante
com sais de anfetamina mistos demonstrou ser eficaz na promoção da abstinência em
adultos com PCC.

No que diz respeito aos antidepressivos e aos agonistas/antagonistas dopaminérgicos,


apesar de haver opiniões contraditórias quanto à sua utilidade no tratamento da
dependência à cocaína, as substâncias que mostraram alguma promessa foram a
mirtazapina e o citalopram, no caso dos antidepressivos; bem como o MC-25-41 e a L-
isocorypalmine, no caso dos agonistas/antagonistas dopaminérgicos.

Relativamente à vacinação, esta parece estar a caminhar a passos largos para futuramente
ser considerada como um tratamento padrão para a dependência à cocaína. Isto porque as
limitações referentes à natureza pouco imunogénica da cocaína foram ultrapassadas por
Lowell et al., tendo a sua estratégia produzido uma resposta de anticorpo anti cocaína
rápida, prolongada e de alta afinidade, sem a necessidade de qualquer adjuvante. Lowell et
al. conseguiram ainda provar que a vacina elaborada com base na sua estratégia, diminuía
a recompensa da cocaína, sendo essa estratégia segura e eficaz. Além disso, Havlicek et al.
comprovaram a eficácia da vacina dAd5GNE em modelos com padrões de consumo de
elevadas doses de forma pontual, compulsiva e repetitiva em ratos Balb/c e em macacos
verdes africanos. Para terminar, Havlicek et al. estão neste momento a realizar um ensaio
clínico com o objetivo de avaliar a vacina dAd5GNE como uma potencial terapia para
toxicodependentes que desejam interromper o consumo de cocaína.

No âmbito das enzimas, a CocH3-Fc(M6), uma cocaína hidrolase de ação prolongada,


mostrou ser uma candidata promissora à terapia enzimática para o tratamento da PCC em
estudos pré-clínicos. Além disso, a utilidade da BuChE também foi estudada, tendo os
ensaios pré-clínicos de BuChE recombinante e a terapia genética (BuChE) viral mostrado
resultados de tolerabilidade e eficácia promissores em modelos de roedores; no entanto,
mais estudos devem ser realizados.

Focando-nos agora na família das hormonas, o E2, um estrogénio potente, mostrou


facilitar a extinção da procura de cocaína em ratos fêmea; faltando agora aplicar o
conhecimento obtido sobre o seu local neuroanatómico de ação e os seus mecanismos
subjacentes. Além disso, a melatonina, num estudo, mostrou ser capaz de atenuar vários
efeitos de reforço da cocaína em ratos sem glândula pineal; sendo necessários mais estudos

64
para determinar se poderá vir a ser uma terapia útil para o tratamento da dependência a
esta substância. Por fim, a OT foi estudada por alguns autores que chegaram a conclusões
conflituosas; sendo assim, são necessários mais estudos para determinar a utilidade desta
hormona no tratamento da dependência à cocaína.

Além do que já foi falado, também outras estratégias e substâncias mostraram algumas
promessas, necessitando ainda de futuras investigações. Estas estratégias e substâncias
são: o dissulfiram (também promissor para dependência a cocaína e álcool
concomitantes); a modulação alostérica de mAChr; a doxazosina e o polimorfismo do gene
ADRA1D (T1848A) do recetor adrenérgico α1; a ativação do recetor NOP; os antagonistas
de KOPr de curta ação (por exemplo: o LY2444296 HCl); os inibidores da PICK1 (por
exemplo: o TAT-P4-(DATC5)2); a naltrexona; o nalmefeno; e a ibogaína.

Além dos vários tratamentos farmacológicos já falados, também estão a ser estudadas
técnicas e estratégias de tratamento não farmacológico; entre elas, a rTMS, a tDCS e o
aprimoramento cognitivo são das mais promissoras.

Ainda dentro do tratamento não farmacológico, também estão a ser estudadas técnicas de
psicoterapia, sendo que a TCC e a CM parecem ser das mais promissoras.

Relativamente à dependência concomitante a opióides/opiáceos e à cocaína, a


administração de metadona (especialmente se for injetada), de brupenorfina de dose
elevada, e por último, da associação de buprenorfina + naloxona (comprimidos
sublinguais) em combinação com naltrexona (injetável XR) parecem estar associadas à
redução do consumo de cocaína.

No que diz respeito aos pacientes dependentes de cocaína e consumidores de quantidades


excessivas de álcool, a naltrexona administrada numa dose de 150mg/dia foi a mais
promissora, parecendo ser eficaz em homens, mas não em mulheres. Além disso, o
dissulfiram + naltrexona ou topiramato + nalmefeno são novas combinações que podem
ser consideradas.

Para terminar, é de extrema importância destacar o papel do farmacêutico no tratamento


da dependência à cocaína. Isto porque, em função do seu papel na comunidade, o
farmacêutico comunitário tem a possibilidade de contactar diretamente com indivíduos
dependentes à cocaína; podendo assim aproveitar essa oportunidade para motivá-los a
integrar programas de desintoxicação e a participar em ensaios clínicos que estudem
65
possíveis tratamentos para a dependência a esta substância. Além disso, também os
farmacêuticos investigadores responsáveis por estudar a dependência à cocaína têm um
papel crucial; uma vez que usam o seu conhecimento e experiência para descobrir e
estudar possíveis tratamentos para esta dependência. Por fim, é importante realçar que
todos os farmacêuticos e os demais profissionais de saúde têm um papel importante no
que toca à crescente dependência a substâncias, sendo essencial agirem em sinergia de
modo a conseguirem travar este fenómeno, e com isso evitar todas as consequências que
dele derivam.

66
6.Bibliografia

1. Nations U. World Drug Report 2020 - Second Booklet - DRUG USE AND HEALTH
CONSEQUENCES. doi:10.18356/025e247e-en

2. European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction. European Drug Report
2020: Trends and Developments. doi:10.2810/123451

3. Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD)


/ Direção de Serviços de Monitorização e Informação (DMI) / Divisão de Estatística
e Investigação (DEI). SINOPSE ESTATíSTICA 2019 – Substâncias Ilícitas.

4. European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction. Health and social
responses to drug problems. A European guide.

5. World Health Organization. Global Health Estimates 2019: Deaths by Cause, Age,
Sex, by Country and by Region, 2000-2019 - Global.
https://www.who.int/data/gho/data/themes/mortality-and-global-health-
estimates/ghe-leading-causes-of-death. Published 2021.

6. World Health Organization. Global Health Estimates 2019: Deaths by Cause, Age,
Sex, by Country and by Region, 2000-2019 - WHO Region.
https://www.who.int/data/gho/data/themes/mortality-and-global-health-
estimates/ghe-leading-causes-of-death. Published 2021.

7. Instituto Nacional de Estatística. Óbitos relacionados com consumo de drogas por


Local de residência e Grupo etário. Instituto Nacional de Estatística.
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCo
d=0008053&contexto=bd&selTab=tab2. Published 2019.

8. Anghelescu I, Heuser I. Psychostimulants. In: Offermanns S, Rosenthal W, eds.


Encyclopedia of Molecular Pharmacology. Berlin, Heidelberg: Springer Berlin
Heidelberg; 2008:1038-1044. doi:10.1007/978-3-540-38918-7_128

9. Castells X, Cunill R, Pérez-Mañá C, Vidal X, Capellà D. Psychostimulant drugs for


cocaine dependence. Cochrane database Syst Rev. 2016;9(9):CD007380.
doi:10.1002/14651858.CD007380.pub4

10. Dackis CA, Kampman KM, Lynch KG, Pettinati HM, O’Brien CP. A double-blind,
placebo-controlled trial of modafinil for cocaine dependence.
Neuropsychopharmacology. 2005;30(1):205-211. doi:10.1038/sj.npp.1300600

11. Anderson AL, Reid MS, Li S-H, et al. Modafinil for the treatment of cocaine
dependence. Drug Alcohol Depend. 2009;104(1-2):133-139.
doi:10.1016/j.drugalcdep.2009.04.015

12. Kampman KM, Lynch KG, Pettinati HM, et al. A double blind, placebo controlled
trial of modafinil for the treatment of cocaine dependence without co-morbid
alcohol dependence. Drug Alcohol Depend. 2015;155:105-110.
doi:10.1016/j.drugalcdep.2015.08.005
67
13. Dackis CA, Kampman KM, Lynch KG, et al. A double-blind, placebo-controlled trial
of modafinil for cocaine dependence. J Subst Abuse Treat. 2012;43(3):303-312.
doi:https://doi.org/10.1016/j.jsat.2011.12.014

14. Morgan PT, Angarita GA, Canavan S, et al. Modafinil and sleep architecture in an
inpatient-outpatient treatment study of cocaine dependence. Drug Alcohol Depend.
2016;160:49-56. doi:10.1016/j.drugalcdep.2015.12.004

15. Grabowski J, Roache JD, Schmitz JM, Rhoades H, Creson D, Korszun A.


Replacement medication for cocaine dependence: methylphenidate. J Clin
Psychopharmacol. 1997;17(6):485—488. doi:10.1097/00004714-199712000-00008

16. Dürsteler-MacFarland KM, Farronato NS, Strasser J, et al. A randomized,


controlled, pilot trial of methylphenidate and cognitive-behavioral group therapy
for cocaine dependence in heroin prescription. J Clin Psychopharmacol.
2013;33(1):104-108. doi:10.1097/JCP.0b013e31827bfff4

17. Schubiner H, Saules KK, Arfken CL, et al. Double-blind placebo-controlled trial of
methylphenidate in the treatment of adult ADHD patients with comorbid cocaine
dependence. Exp Clin Psychopharmacol. 2002;10(3):286-294. doi:10.1037//1064-
1297.10.3.286

18. Levin FR, Evans SM, Brooks DJ, Garawi F. Treatment of cocaine dependent
treatment seekers with adult ADHD: double-blind comparison of methylphenidate
and placebo. Drug Alcohol Depend. 2007;87(1):20-29.
doi:10.1016/j.drugalcdep.2006.07.004

19. Stine SM, Krystal JH, Kosten TR, Charney DS. Mazindol treatment for cocaine
dependence. Drug Alcohol Depend. 1995;39(3):245-252. doi:10.1016/0376-
8716(95)01174-4

20. Margolin A, Avants SK, Kosten TR. Mazindol for Relapse Prevention to Cocaine
Abuse in Methadone-Maintained Patients. Am J Drug Alcohol Abuse.
1995;21(4):469-481. doi:10.3109/00952999509002711

21. PhJD. AM, Ph.D. SKA, M.D. RTM, M.D. TRK. High‐ and low‐dose Mazindol for
cocaine dependence in methadone‐maintained patients: A preliminary evaluation.
Subst Abus. 1997;18(3):125-131. doi:10.1080/08897079709511358

22. Edward B. Perry Jr. MD, MD RG, APRN DM, et al. Mazindol Augmentation of
Antipsychotic Treatment for Schizophrenic Patients with Comorbid Cocaine Abuse
or Dependence. J Dual Diagn. 2005;1(1):37-47. doi:10.1300/J374v01n01\_04

23. Margolin A, Kosten TR, Avants SK, et al. A multicenter trial of bupropion for
cocaine dependence in methadone-maintained patients. Drug Alcohol Depend.
1995;40(2):125-131. doi:10.1016/0376-8716(95)01198-6

24. Shoptaw S, Heinzerling KG, Rotheram-Fuller E, et al. Bupropion hydrochloride


versus placebo, in combination with cognitive behavioral therapy, for the treatment
of cocaine abuse/dependence. J Addict Dis. 2008;27(1):13-23.
doi:10.1300/J069v27n01_02

68
25. Poling J, Oliveto A, Petry N, et al. Six-month trial of bupropion with contingency
management for cocaine dependence in a methadone-maintained population. Arch
Gen Psychiatry. 2006;63(2):219-228. doi:10.1001/archpsyc.63.2.219

26. Grabowski J, Rhoades H, Schmitz J, et al. Dextroamphetamine for cocaine-


dependence treatment: a double-blind randomized clinical trial. J Clin
Psychopharmacol. 2001;21(5):522-526. doi:10.1097/00004714-200110000-00010

27. Shearer J, Wodak A, van Beek I, Mattick RP, Lewis J. Pilot randomized double blind
placebo-controlled study of dexamphetamine for cocaine dependence. Addiction.
2003;98(8):1137-1141. doi:10.1046/j.1360-0443.2003.00447.x

28. Grabowski J, Rhoades H, Stotts A, et al. Agonist-like or antagonist-like treatment


for cocaine dependence with methadone for heroin dependence: two double-blind
randomized clinical trials. Neuropsychopharmacology. 2004;29(5):969-981.
doi:10.1038/sj.npp.1300392

29. Mooney ME, Herin D V, Specker S, Babb D, Levin FR, Grabowski J. Pilot study of
the effects of lisdexamfetamine on cocaine use: A randomized, double-blind,
placebo-controlled trial. Drug Alcohol Depend. 2015;153:94-103.
doi:10.1016/j.drugalcdep.2015.05.042

30. Mooney ME, Herin D V, Schmitz JM, Moukaddam N, Green CE, Grabowski J.
Effects of oral methamphetamine on cocaine use: a randomized, double-blind,
placebo-controlled trial. Drug Alcohol Depend. 2009;101(1-2):34-41.
doi:10.1016/j.drugalcdep.2008.10.016

31. Levin FR, Mariani JJ, Specker S, et al. Extended-Release Mixed Amphetamine Salts
vs Placebo for Comorbid Adult Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder and
Cocaine Use Disorder: A Randomized Clinical Trial. JAMA psychiatry.
2015;72(6):593-602. doi:10.1001/jamapsychiatry.2015.41

32. Elkashef A, Fudala PJ, Gorgon L, et al. Double-blind, placebo-controlled trial of


selegiline transdermal system (STS) for the treatment of cocaine dependence. Drug
Alcohol Depend. 2006;85(3):191-197. doi:10.1016/j.drugalcdep.2006.04.010

33. Schmitz JM, Rathnayaka N, Green CE, Moeller FG, Dougherty AE, Grabowski J.
Combination of Modafinil and d-amphetamine for the Treatment of Cocaine
Dependence: A Preliminary Investigation. Front psychiatry. 2012;3:77.
doi:10.3389/fpsyt.2012.00077

34. Dackis CA, Lynch KG, Yu E, et al. Modafinil and cocaine: a double-blind, placebo-
controlled drug interaction study. Drug Alcohol Depend. 2003;70(1):29-37.
doi:https://doi.org/10.1016/S0376-8716(02)00335-6

35. Schmitz JM, Green CE, Stotts AL, et al. A two-phased screening paradigm for
evaluating candidate medications for cocaine cessation or relapse prevention:
Modafinil, levodopa-carbidopa, naltrexone. Drug Alcohol Depend. 2014;136(1):100-
107. doi:10.1016/j.drugalcdep.2013.12.015

36. Keighron JD, Giancola JB, Shaffer RJ, et al. Distinct effects of (R)-modafinil and its

69
(R)- and (S)-fluoro-analogs on mesolimbic extracellular dopamine assessed by
voltammetry and microdialysis in rats. Eur J Neurosci. 2019;50(3):2045-2053.
doi:10.1111/ejn.14256

37. Kohut SJ, Bergman J, Blough BE. Effects of L-methamphetamine treatment on


cocaine- and food-maintained behavior in rhesus monkeys. Psychopharmacology
(Berl). 2016;233(6):1067-1075. doi:10.1007/s00213-015-4186-5

38. Levin FR, Mariani JJ, Pavlicova M, et al. Extended release mixed amphetamine salts
and topiramate for cocaine dependence: A randomized clinical replication trial with
frequent users. Drug Alcohol Depend. 2020;206:107700.
doi:10.1016/j.drugalcdep.2019.107700

39. Passamonti L, Luijten M, Ziauddeen H, et al. Atomoxetine effects on attentional bias


to drug-related cues in cocaine dependent individuals. Psychopharmacology (Berl).
2017;234(15):2289-2297. doi:10.1007/s00213-017-4643-4

40. Nuijten M, Blanken P, Van den Brink W, Goudriaan AE, Hendriks VM. Impulsivity
and attentional bias as predictors of modafinil treatment outcome for retention and
drug use in crack-cocaine dependent patients: Results of a randomised controlled
trial. J Psychopharmacol. 2016;30(7):616-626. doi:10.1177/0269881116645268

41. Manhapra A, Chakraborty A, Arias AJ. Topiramate Pharmacotherapy for Alcohol


Use Disorder and Other Addictions: A Narrative Review. J Addict Med.
2019;13(1):7-22. doi:10.1097/ADM.0000000000000443

42. Barbosa-Méndez S, Leff P, Arías-Caballero A, Hernández-Miramontes R, Heinze G,


Salazar-Juárez A. Mirtazapine attenuates cocaine seeking in rats. J Psychiatr Res.
2017;92:38-46. doi:10.1016/j.jpsychires.2017.03.021

43. Snyder AD, Zuniga E, Ma L, et al. Examination of preliminary behavioral and


effective connectivity findings from treatment response to citalopram in cocaine use
disorder: A dynamic causal modeling study. Psychiatry Res Neuroimaging.
2020;303:111127. doi:https://doi.org/10.1016/j.pscychresns.2020.111127

44. Wang W, Liu J, Zhao X, et al. Pharmacokinetics, tissue distribution, and excretion
studies of l-isocorypalmine using ultra high performance liquid chromatography
with tandem mass spectrometry. J Sep Sci. 2017;40(5):1040-1048.
doi:10.1002/jssc.201601068

45. Powell GL, Namba MD, Vannan A, et al. The Long-Acting D3 Partial Agonist MC-
25-41 Attenuates Motivation for Cocaine in Sprague-Dawley Rats. Biomolecules.
2020;10(7). doi:10.3390/biom10071076

46. Direção-Geral de Saúde (DGS). Vacinas | SNS24.


https://www.sns24.gov.pt/guia/vacinas/. Published 2021. Accessed July 12, 2021.

47. Lowell JA, Dikici E, Joshi PM, et al. Vaccination against cocaine using a modifiable
dendrimer nanoparticle platform. Vaccine. 2020;38(50):7989-7997.
doi:10.1016/j.vaccine.2020.10.041

70
48. Havlicek DF, Rosenberg JB, De BP, et al. Cocaine vaccine dAd5GNE protects against
moderate daily and high-dose “binge” cocaine use. PLoS One.
2020;15(11):e0239780. doi:10.1371/journal.pone.0239780

49. García-Pardo MP, Roger-Sanchez C, Rodríguez-Arias M, Miñarro J, Aguilar MA.


Pharmacological modulation of protein kinases as a new approach to treat addiction
to cocaine and opiates. Eur J Pharmacol. 2016;781:10-24.
doi:10.1016/j.ejphar.2016.03.065

50. Ha ZY, Mathew S, Yeong KY. Butyrylcholinesterase: A Multifaceted Pharmacological


Target and Tool. Curr Protein Pept Sci. 2020;21(1):99-109.
doi:10.2174/1389203720666191107094949

51. Zheng F, Chen X, Kim K, et al. Structure-Based Design and Discovery of a Long-
Acting Cocaine Hydrolase Mutant with Improved Binding Affinity to Neonatal Fc
Receptor for Treatment of Cocaine Abuse. AAPS J. 2020;22(3):62.
doi:10.1208/s12248-020-00442-3

52. Zhang T, Wei H, Deng J, Zheng F, Zhan C-G. Clinical potential of a rationally
engineered enzyme for treatment of cocaine dependence: Long-lasting blocking of
the psychostimulant, discriminative stimulus, and reinforcing effects of cocaine.
Neuropharmacology. 2020;176:108251. doi:10.1016/j.neuropharm.2020.108251

53. 2016 ASAM Annual Poster Presenter Abstracts. J Addict Med. 2016;10(3).
https://journals.lww.com/journaladdictionmedicine/Fulltext/2016/06000/2016_A
SAM_Annual_Poster_Presenter_Abstracts.18.aspx.

54. American Academy of Addiction Psychiatry (AAAP) 27th Annual Meeting and
Symposium: December 08–11, 2016 Bonita Springs, FL. Am J Addict.
2017;26(3):232-293. doi:https://doi.org/10.1111/ajad.12545

55. Yousuf H, Smies CW, Hafenbreidel M, et al. Infralimbic Estradiol Enhances


Neuronal Excitability and Facilitates Extinction of Cocaine Seeking in Female Rats
via a BDNF/TrkB Mechanism. Front Behav Neurosci. 2019;13:168.
doi:10.3389/fnbeh.2019.00168

56. Barbosa-Méndez S, Salazar-Juárez A. Melatonin decreases cocaine-induced


locomotor activity in pinealectomized rats. Rev Bras Psiquiatr. 2020;42(3):295-
308. doi:10.1590/1516-4446-2018-0400

57. Soyka M, Mutschler J. Treatment-refractory substance use disorder: Focus on


alcohol, opioids, and cocaine. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry.
2016;70:148-161. doi:10.1016/j.pnpbp.2015.11.003

58. Lacoste J, Michel G, Rollier S, Charles-Nicolas A. Cocaïne et cocaïnomanie.


Enseignements récents et stratégies actuelles. Ann Médico-psychologiques, Rev
Psychiatr. 2018;176(8):778-782. doi:https://doi.org/10.1016/j.amp.2018.08.015

59. Ronsley C, Nolan S, Knight R, et al. Treatment of stimulant use disorder: A


systematic review of reviews. PLoS One. 2020;15(6):e0234809.
doi:10.1371/journal.pone.0234809

71
60. Jordan CJ, Cao J, Newman AH, Xi Z-X. Progress in agonist therapy for substance
use disorders: Lessons learned from methadone and buprenorphine.
Neuropharmacology. 2019;158:107609. doi:10.1016/j.neuropharm.2019.04.015

61. Indave BI, Minozzi S, Pani PP, Amato L. Antipsychotic medications for cocaine
dependence. Cochrane Database Syst Rev. 2016;(3).
doi:10.1002/14651858.CD006306.pub3

62. Nocito Echevarria MA, Andrade Reis T, Ruffo Capatti G, Siciliano Soares V, da
Silveira DX, Fidalgo TM. N-acetylcysteine for treating cocaine addiction - A
systematic review. Psychiatry Res. 2017;251:197-203.
doi:10.1016/j.psychres.2017.02.024

63. Walker LC, Lawrence AJ. Allosteric modulation of muscarinic receptors in alcohol
and substance use disorders. Adv Pharmacol. 2020;88:233-275.
doi:10.1016/bs.apha.2020.01.003

64. Shorter DI, Zhang X, Domingo CB, Nielsen EM, Kosten TR, Nielsen DA. Doxazosin
treatment in cocaine use disorder: pharmacogenetic response based on an alpha-1
adrenoreceptor subtype D genetic variant. Am J Drug Alcohol Abuse.
2020;46(2):184-193. doi:10.1080/00952990.2019.1674864

65. Kirley TL, Norman AB. Ligand binding to a humanized anti-cocaine mAb detected
by non-reducing SDS-PAGE. Biochem Biophys Reports. 2020;23:100795.
doi:10.1016/j.bbrep.2020.100795

66. Cippitelli A, Barnes M, Zaveri NT, Toll L. Potent and selective NOP receptor
activation reduces cocaine self-administration in rats by lowering hedonic set point.
Addict Biol. 2020;25(6):e12844. doi:10.1111/adb.12844

67. Brodnik Z, Xu W, Batra A, et al. Chemogenetic Manipulation of Dopamine Neurons


Dictates Cocaine Potency at Distal Dopamine Transporters. J Neurosci.
2020;40:8767-8779. doi:10.1523/JNEUROSCI.0894-20.2020

68. Logan CN, Bechard AR, Hamor PU, Wu L, Schwendt M, Knackstedt LA. Ceftriaxone
and mGlu2/3 interactions in the nucleus accumbens core affect the reinstatement of
cocaine-seeking in male and female rats. Psychopharmacology (Berl).
2020;237(7):2007-2018. doi:10.1007/s00213-020-05514-y

69. Witt EA, Reissner KJ. The effects of nicotinamide on reinstatement to cocaine
seeking in male and female Sprague Dawley rats. Psychopharmacology (Berl).
2020;237(3):669-680. doi:10.1007/s00213-019-05404-y

70. Valenza M, Windisch KA, Butelman ER, Reed B, Kreek MJ. Effects of Kappa opioid
receptor blockade by LY2444296 HCl, a selective short-acting antagonist, during
chronic extended access cocaine self-administration and re-exposure in rat.
Psychopharmacology (Berl). 2020;237(4):1147-1160. doi:10.1007/s00213-019-
05444-4

71. Turner C, De Luca M, Wolfheimer J, Hernandez N, Madsen KL, Schmidt HD.


Administration of a novel high affinity PICK1 PDZ domain inhibitor attenuates

72
cocaine seeking in rats. Neuropharmacology. 2020;164:107901.
doi:https://doi.org/10.1016/j.neuropharm.2019.107901

72. Sherman BJ, Baker NL, Brady KT, Joseph JE, Nunn LM, McRae-Clark A. The effect
of oxytocin, gender, and ovarian hormones on stress reactivity in individuals with
cocaine use disorder. Psychopharmacology (Berl). 2020;237(7):2031-2042.
doi:10.1007/s00213-020-05516-w

73. Windisch KA, Reed B, Kreek MJ. Naltrexone and nalmefene attenuate cocaine place
preference in male mice. Neuropharmacology. 2018;140:174-183.
doi:https://doi.org/10.1016/j.neuropharm.2018.07.025

74. Mash DC, Duque L, Page B, Allen-Ferdinand K. Ibogaine Detoxification Transitions


Opioid and Cocaine Abusers Between Dependence and Abstinence: Clinical
Observations and Treatment Outcomes. Front Pharmacol. 2018;9:529.
doi:10.3389/fphar.2018.00529

75. Terraneo A, Leggio L, Saladini M, Ermani M, Bonci A, Gallimberti L. Transcranial


magnetic stimulation of dorsolateral prefrontal cortex reduces cocaine use: A pilot
study. Eur Neuropsychopharmacol. 2016;26(1):37-44.
doi:https://doi.org/10.1016/j.euroneuro.2015.11.011

76. Pettorruso M, Martinotti G, Santacroce R, Montemitro C, Fanella F, di


Giannantonio M. rTMS Reduces Psychopathological Burden and Cocaine
Consumption in Treatment-Seeking Subjects With Cocaine Use Disorder: An Open
Label, Feasibility Study. Front psychiatry. 2019;10:621.
doi:10.3389/fpsyt.2019.00621

77. Martinotti G, Miuli A, Sepede G, et al. Transcranial direct current stimulation in


cocaine use disorders: preliminary findings. Brain Stimul. 2019;12:489.
doi:10.1016/j.brs.2018.12.598

78. Rachid F. Neurostimulation techniques in the treatment of cocaine dependence: A


review of the literature. Addict Behav. 2018;76:145-155.
doi:10.1016/j.addbeh.2017.08.004

79. Savulich G, Riccelli R, Passamonti L, et al. Effects of naltrexone are influenced by


childhood adversity during negative emotional processing in addiction recovery.
Transl Psychiatry. 2017;7(3):e1054-e1054. doi:10.1038/tp.2017.34

80. Sofuoglu M, DeVito EE, Waters AJ, Carroll KM. Cognitive Function as a
Transdiagnostic Treatment Target in Stimulant Use Disorders. J Dual Diagn.
2016;12(1):90-106. doi:10.1080/15504263.2016.1146383

81. Benefits of Therapy With Virtual Reality Exposure in the Treatment of Cocaine Use
Disorders (CORVI)-NCT04280900.
https://clinicaltrials.gov/ct2/show/study/NCT04280900. Published 2020.
Accessed August 6, 2021.

73
74
Capítulo 2 – Estágio em Farmácia Comunitária

1. Introdução

A vertente de farmácia comunitária, tal como o próprio nome o indica, consiste em praticar
a atividade farmacêutica junto e em prol da comunidade. Para isso, aplicamos os
conhecimentos adquiridos ao longo da nossa formação académica e atividade profissional
para melhor aconselhar, educar e acompanhar o utente naquilo que é relacionado com o
medicamento e com outros produtos de saúde. No entanto, nem sempre foi assim, e até há
relativamente pouco tempo atrás a agora dita farmácia comunitária era chamada de
farmácia de oficina; nome alusivo às atividades de preparação de medicamentos que lá
eram maioritariamente praticadas. Esta mudança de designação não aconteceu ao acaso,
tendo sido primeiramente encorajada pelo desenvolvimento da indústria farmacêutica;
que, por usa vez, deu origem a uma crescente acessibilidade dos utentes aos
medicamentos. Esta maior facilidade em adquirir medicamentos, possibilitou e encorajou
os utentes a praticarem a automedicação. Ora, apercebendo-se disto, os farmacêuticos,
para salvaguardar a saúde e o bem-estar dos utentes, mas também para defender a sua
posição e importância na sociedade; deixaram de se limitar à preparação e dispensa de
medicamentos, e passaram a desempenhar um papel crucial no aconselhamento e
acompanhamento terapêutico, na promoção do uso racional dos medicamentos e na
prevenção dos riscos que a estes estão associados; passando assim a exercer a atividade
farmacêutica junto do cidadão.

O presente relatório diz respeito ao estágio curricular que realizei na Farmácia Tanara
Torre do Relógio (FTTR) durante o período decorrido entre o dia 1 de março e o dia 9 de
julho de 2021, sob orientação da Dr.ª Ana Rita Diniz, diretora técnica da farmácia
supramencionada.

Neste estágio tive a oportunidade de contactar e aprender com profissionais de saúde


capacitados e com largos anos de experiência; e através dos seus ensinamentos
rapidamente me apercebi do quanto e do quão rápido a atividade farmacêutica evolui.
Além disso, também me apercebi do papel crucial que as farmácias desempenham nas suas

75
comunidades; sendo em muitas ocasiões as únicas estruturas de saúde disponíveis numa
determinada área geográfica.

2. O Grupo Referencial

A FTTR faz parte de um grupo de farmácias denominado Grupo Referencial (GR). Este
grupo de farmácias tem presença nos concelhos de Cascais, Oeiras, Lisboa, Amadora,
Loures, Odivelas, Mafra, e Castelo Branco; e está sediada em Sintra, na Quinta da Beloura.

Em virtude do vasto leque de farmácias que o constitui, o grupo conta com um misto de
diversidade e de união e sintonia, fruto das particularidades de cada farmácia e da
uniformidade própria do grupo. Além disso, o grupo conta com profissionais de saúde
qualificados e em constante formação de modo a poderem oferecer o melhor
aconselhamento possível. Neste âmbito, tive a oportunidade de participar em várias
formações de diversas marcas (por exemplo: Helan®, Bayer®, SVR®, Medela®, Nestlé®,
Fresenius Kabi®, Danone®, Aetrex®, Nutribén®, Pranarom®, etc), que foram ótimas
ferramentas de aprendizagem e de consolidação de conhecimentos. Tudo isto se verifica
essencial para oferecer a cada utente a melhor experiência e o melhor serviço possível,
tendo sempre em foco o seu bem-estar e a sua saúde.

A FTTR, juntamente com a Farmácia Tanara - Forum Castelo Branco (FTFCB), compõe a
representação do GR no concelho de Castelo Branco; trabalhando em constante
colaboração e harmonia de modo a oferecer o melhor serviço aos utentes.

3. Organização da farmácia
3.1.Localização e horário de funcionamento
A FTTR está localizada numa zona central e histórica de Castelo Branco, mais
precisamente na Rua de São Sebastião, tendo como principal marco identificativo a torre
do relógio, que lhe dá o nome e que a sobrepõe.

No que diz respeito ao horário de funcionamento, a FTTR está aberta das 9h às 20h de
segunda a sábado inclusive em dias de feriado, encontrando-se apenas encerrada nos
domingos. Além disso, a FTTR assegura o turno de serviço permanente de 11 em 11 dias,
76
estando nessa ocasião aberta 24h. A FTTR disponibiliza ainda as suas instalações à FTFCB,
para que esta possa cumprir o seu turno de serviço permanente numa localização mais
cómoda para os utentes, algo que acontece também de 11 em 11 dias.

Devido à sua localização e ao facto de ser uma das farmácias mais antigas da cidade, a
farmácia conta maioritariamente com uma população idosa e polimedicada. Ainda assim,
ao longo do dia é possível denotar diferenças e padrões nas faixas etárias dos utentes que
frequentam a farmácia. Durante a manhã e início da tarde a população que se desloca à
farmácia é maioritariamente idosa, com doenças crónicas e polimedicada; sendo que desde
o final da tarde até à altura do fecho a população é maioritariamente composta por
adultos/adultos jovens que se descolam à farmácia depois de saírem do emprego.

3.2.Espaço físico da farmácia


3.2.1.O espaço exterior
No exterior da FTTR existe um letreiro com a palavra “Farmácia” e o símbolo “cruz verde”.
Além disso, no exterior da FTTR é possível visualizar o horário de funcionamento, bem
como um documento atualizado periodicamente onde estão registadas as farmácias do
município que se encontram em serviço permanente com a respetiva localização e forma
de contactar o farmacêutico responsável. Assim, a FTTR respeita o artigo 28º do
Decreto‐Lei n.º 307/2007 de 31 de agosto1, alterado pelo Decreto-Lei n.º 171/2012, de 1 de
agosto2 e as Boas Práticas Farmacêuticas (BPF) para a farmácia comunitária3.

A FTTR tem duas portas com acesso ao exterior, uma destinada à entrada e saída dos
utentes (porta do lado esquerdo) e a outra destinada à entrada de encomendas e saída de
devoluções (porta do lado direito). A FTTR tem ainda uma montra, localizada entre as
duas portas anteriormente faladas, na qual está instalado um monitor onde passam
promoções disponíveis nas farmácias do GR.

3.2.2.O espaço interior


O interior da FTTR está de acordo com as BPF para a farmácia comunitária 3. Isto porque,
entre outras razões, é um ambiente profissional e calmo com condições que permitem uma
comunicação ótima com os utentes, sendo adequadamente iluminado e ventilado. Além
disso, o interior da FTTR possui informações essenciais como a identificação do diretor
técnico, os serviços prestados e respetivo preço1, a existência de livro de reclamações e a
proibição de fumar.3 Além disso, no interior da FTTR existe uma placa que informa a

77
existência de atendimento prioritário às pessoas com deficiência ou incapacidade, pessoas
idosas, grávidas e pessoas com crianças ao colo, tal como determinado pelo artigo 3º do
Decreto-Lei n.º 58/2016 de 29 de agosto4.

Relativamente às divisões, a FTTR dispõe de: zona de atendimento ao público, espaço


individualizado para medição de parâmetros bioquímicos e fisiológicos, laboratório,
gabinete de atendimento individualizado, biblioteca, backoffice, instalações sanitárias,
armazém e copa; que serão descritas em maior pormenor nos próximos parágrafos.

A zona de atendimento ao público conta com um balcão contínuo constituído por 3 postos
de atendimento devidamente equipados e é composta por lineares a toda a sua volta. Os
lineares estão divididos em várias secções devidamente identificadas, nomeadamente:
puericultura, podologia, higiene oral, dermocosmética, suplementos alimentares,
medicação familiar, produtos veterinários e produtos de emagrecimento; onde estão
expostos os produtos correspondentes a cada secção. Os medicamentos não sujeitos a
receita médica (MNSRM), bem como alguns medicamentos de uso veterinário e
suplementos alimentares estão expostos nos respetivos lineares, que neste caso estão
localizados atrás do balcão. O balcão está ainda equipado com gavetas onde se encontram
armazenados diversos produtos de saúde.

Atrás da zona de atendimento, fora da vista dos utentes, encontra-se um espaço


individualizado para medição de parâmetros bioquímicos e fisiológicos onde se efetuam as
determinações de alguns parâmetros, nomeadamente: glicemia, colesterol total,
triglicerídeos e pressão arterial.

O laboratório da FTTR também está situado atrás da zona de atendimento e fora da vista
dos utentes. Este laboratório está equipado com os equipamentos mínimos exigidos pela
Deliberação n.º 1500/2004, de 7 de dezembro5, no entanto normalmente não são
efetuadas preparações de medicamentos manipulados na FTTR. Tendo em conta a
escassez de pedidos destes medicamentos, a FTTR tem uma farmácia que lhe fornece os
medicamentos manipulados, de acordo com a legislação em vigor. Assim, o laboratório é
essencialmente usado para preparar preparações extemporâneas.

O gabinete de atendimento individualizado encontra-se ao lado do laboratório e do espaço


individualizado para medição de parâmetros bioquímicos e fisiológicos. Neste espaço
realiza-se a administração de medicamentos injetáveis e de vacinas não incluídas no Plano
Nacional de Vacinação, sendo que este gabinete está equipado com os materiais e
78
equipamentos necessários para essa administração, bem como com os meios necessários
para o tratamento urgente de uma reação anafilática subsequente à administração da
vacina.67 Além disso, de 15 em 15 dias este espaço é usado para a realização de consultas de
nutrição. Por fim, neste espaço está ainda localizada uma pequena biblioteca que conta
com vários volumes relevantes para a farmácia comunitária, entre eles está a Farmacopeia
Portuguesa 9.0 e o Prontuário Terapêutico, que são volumes de caráter obrigatório. 13

O backoffice está localizado à direita da zona de atendimento ao público e é uma área


reservada aos colaboradores da farmácia. Esta área conta com uma porta com acesso para
o exterior por onde entram as encomendas e saem as devoluções. Além disso, o backoffice
conta com uma zona destinada à receção de encomendas, bem como um conjunto de
prateleiras onde estão armazenados os produtos com pouca validade, produtos com stocks
parados, dossiers, produtos destinados às outras farmácias do grupo e produtos que vão
ser devolvidos. Nesta área encontra-se ainda um frigorífico destinado à conservação dos
produtos termolábeis e um corredor com gavetas e estantes deslizantes destinadas a
armazenar principalmente os MSRM e alguns MNSRM. Neste corredor existem
determinadas gavetas e estantes destinadas a armazenar as reservas de produtos e alguns
produtos com maior stock. Por fim, no backoffice encontram-se ainda as instalações
sanitárias, que são reservadas aos funcionários; os cacifos dos colaboradores; uma zona
destinada à impressão de etiquetas; e uma zona destinada à impressão de documentos
necessários para o atendimento ou para a gestão da farmácia.

O armazém encontra-se à esquerda do backoffice, próximo do corredor onde estão


armazenados os MSRM, sendo utilizado para armazenar medicamentos e outros produtos
de saúde excedentes; permitindo assim manter a farmácia devidamente organizada e
arrumada.

Ao fundo do armazém está ainda uma pequena copa, onde os colaboradores dispõem de
um frigorífico, de um micro-ondas e de uma máquina de café; e onde podem fazer as suas
refeições ou descansar.

3.3.Recursos humanos
A equipa da FTTR é composta por um farmacêutico, a Dr.ª Ana Rita Diniz, que é a diretora
técnica (DT); por uma técnica de farmácia, a Ester Castanheira; e por dois técnicos
auxiliares de farmácia, o Rui Saraiva e a Mónica Peixoto. Além disso, a equipa conta ainda
com uma auxiliar de limpeza, a Sr.ª Ana Gil.
79
Tal como dita o artigo 21º do Decreto-Lei n.º 307/2007 de 31 de agosto1, alterado pelo
Decreto-Lei n.º 171/2012, de 1 de agosto2, além das funções habituais de farmacêutica, a
Dr.ª Ana Rita Diniz, como DT da FTTR, tem o dever de: assumir a responsabilidade pelos
atos farmacêuticos praticados na farmácia, garantir a prestação de esclarecimentos aos
utentes sobre o modo de utilização dos medicamentos, promover o uso racional do
medicamento, garantir que a farmácia se encontra em condições de adequada higiene e
segurança, assegurar que a farmácia dispõe de um aprovisionamento suficiente de
medicamentos e verificar o cumprimento das regras deontológicas da atividade
farmacêutica; entre outros.

Devido à constante colaboração entre a FTTR e a FTFCB, também acabei por contactar
várias vezes, presencialmente e por contacto telefónico, com a equipa da FTFCB. Destaco
aqui os nomes da Dr.ª Dulce Vicente, DT da FTFCB; e também da Dr.ª Ana Pires, da Dr.ª
Andreia Esteves, e do Dr. Diogo Alexandre, farmacêuticos substitutos da FTFCB. Além
disso, tive ainda contacto telefónico com alguns membros das equipas de outras farmácias
do grupo.

3.4.Sistema informático
A FTTR utiliza o Sifarma 2000, um sistema informático patenteado pela Glintt® que é
essencial para o bom funcionamento da farmácia e que permite auxiliar quer nos processos
de gestão (receção de encomendas, controlos de validade, gestão de stocks, devoluções,
quebras, faturação/receituário, etc), quer no atendimento.

A sua utilização é bastante intuitiva, permitindo uma rápida adaptação e facilitando a


realização das tarefas diárias. Além disso, o Sifarma 2000 conta com informações
relevantes e essenciais para o atendimento, tais como: composição, indicações
farmacêuticas, posologia, reações adversas, contraindicações e interações. A possibilidade
de criar fichas de utente também é extremamente útil, permitindo, entre outras coisas: o
registo de dados pessoais, a consulta do histórico da medicação dispensada, e ainda a
colocação de observações que possam ser relevantes; o que facilita o acompanhamento
farmacoterapêutico. Assim, o Sifarma 2000 permite a realização de um atendimento
eficaz, ponderado e personalizado; tendo sempre em foco dirigir a atenção para o utente.

Apesar das várias vantagens e funcionalidades, o Sifarma 2000 também apresenta falhas
que quando acontecem acabam por perturbar o bom funcionamento da farmácia.
Nomeadamente, o sistema apresenta falhas de comunicação com alguma frequência, algo
80
que experienciei no meu estágio em algumas ocasiões, sendo que por várias vezes este
problema se resolveu por si só e sem necessidade de reiniciar o sistema. Além disso,
durante um dia do meu estágio, o Sifarma 2000 não conseguiu validar os cartões das
farmácias portuguesas, algo que apesar de não poder precisar se foi causado pelo Sifarma
2000, não posso deixar de aqui mencionar.

4.Informação e documentação científica

De acordo com o artigo 37º do Decreto-Lei n. º 307/2007, 31 de agosto1 e com as BPF para
a farmácia comunitária3, as farmácias são obrigadas a dispor nas suas instalações de um
exemplar da “Farmacopeia Portuguesa, em edição de papel, em formato eletrónico ou
online, a partir de sítio da Internet reconhecido pelo INFARMED”. Além disso, ainda têm
que ter acesso ao prontuário terapêutico e ao resumo das características do medicamento,
que são fontes consideradas de acesso obrigatório no momento da cedência de
medicamentos.

Na sua biblioteca, além da documentação obrigatória já mencionada, a FTTR dispõe de


várias obras e publicações científicas relevantes para a área da farmácia comunitária, entre
elas o Formulário Galénico Português e o Simposium Terapêutico.

Além disso, também existem os centros de informação, como o Centro de Documentação e


Informação sobre Medicamentos da Associação Nacional das Farmácias (ANF), o Centro
de Informação de Medicamentos da Ordem dos Farmacêuticos e o Centro de Informação
de Medicamentos de Preparação Individualizada do Laboratório de Estudos Farmacêuticos
(LEF); que estão disponíveis para fornecer informações e esclarecer dúvidas sobre
medicamentos (medicamentos manipulados no caso do LEF) aos farmacêuticos e
farmácias que delas necessitem.

Os delegados de informação médica, que visitaram a FTTR por várias vezes durante o meu
estágio, também foram uma excelente fonte de informação; tendo contribuído para uma
melhor compreensão de determinados produtos/gamas e consequentemente para um
melhor aconselhamento aquando da dispensa dos mesmos.

Por fim, o próprio Sifarma 2000 também mostrou ser uma fonte de informação
extremamente útil aquando do ato da dispensa, possibilitando consultar rapidamente
determinadas informações sobre um determinado fármaco.

81
5. Aprovisionamento e armazenamento

O aprovisionamento e armazenamento são tarefas cruciais para o bom funcionamento de


qualquer farmácia, sendo na sua grande maioria realizadas fora do olhar do utente,
nomeadamente no backoffice e no armazém. Nas primeiras semanas do meu estágio estas
foram as tarefas com que mais tive contacto, onde tive a oportunidade de aprender e
colaborar na criação e receção de encomendas, marcação de preços, controlo de validades,
armazenamento, devoluções, etc. Este período foi extremamente importante para a minha
adaptação à farmácia e à farmácia comunitária em geral, uma vez que me permitiu ir
associando as marcas aos princípios ativos, ir-me familiarizando com as gamas e com a
localização dos vários produtos, e ir-me ambientando à equipa. Além disso, estas primeiras
semanas também demonstraram ser bastante úteis quando comecei a fazer atendimentos.

5.1.Encomendas e seleção de fornecedores


Na FTTR são feitos diversos tipos de encomendas que podemos englobar em dois grandes
grupos: encomendas diretas aos laboratórios e encomendas aos distribuidores grossistas.
Por sua vez, as encomendas aos distribuidores grossistas podem ser divididas em:
encomendas diárias, encomendas instantâneas, encomendas manuais e encomendas por
via verde. Além disso, a FTTR recebe ainda semanalmente encomendas enviadas pelo GR.

No que diz respeito às encomendas feitas diretamente aos laboratórios (Ex: Generis®,
Pranarom®, Fresenius®, etc.), estas são feitas normalmente para medicamentos ou
produtos de saúde que têm uma grande rotatividade na farmácia e que naturalmente é
necessário encomendar um grande número de unidades dos mesmos. Isto porque, devido
ao grande volume de unidades, acaba por ser mais vantajoso para a farmácia em termos
financeiros. Além disso, este tipo de encomendas é efetuado periodicamente, mediante a
necessidade da farmácia.

Por outro lado, as encomendas feitas aos distribuidores grossistas são feitas diariamente,
possibilitam encomendar em pequenas quantidades e têm um prazo de entrega
relativamente curto, o que permite realizar uma melhor gestão de stock da farmácia. Por
estas razões, este tipo de encomendas constituem a grande maioria das encomendas
efetuadas na FTTR.

A seleção dos fornecedores/distribuidores depende de vários fatores, nomeadamente:


condições de compra, condições de prestação de serviço, prazos de entrega, bonificações,
82
possibilidade de devolução, facilidade de pagamento, portefólio de produtos disponíveis e
acesso a produtos rateados; sendo que todos eles têm um papel importante na escolha dos
fornecedores mais indicados para a farmácia. Normalmente, como é o caso da FTTR, as
farmácias trabalham com mais do que um fornecedor a fim de evitar ruturas de stock e
assim garantir o seu bom funcionamento.

A FTTR trabalha atualmente com a Cooprofar, OCP Portugal, Plural+Udifar e Disfaport;


sendo que a Cooprofar é o seu principal distribuidor, seguindo-se depois a OCP Portugal,
Plural+Udifar e Disfaport por ordem decrescente de preferência, devido a acordos
estabelecidos. Relativamente às entregas, a Cooprofar e a OCP Portugal fazem duas
entregas diárias; a Cooprofar às 10h e 16h e a OCP Portugal às 7h e 15h30h. A
Plural+Udifar, por sua vez, faz apenas uma entrega diária às 15h; e a Disfaport faz entregas
esporadicamente consoante as encomendas feitas pela FTTR, estando normalmente
associadas a um prazo de entrega elevado.

As encomendas feitas aos distribuidores grossistas podem ser divididas em: encomendas
diárias, encomendas instantâneas, encomendas manuais e encomendas por via verde.

As encomendas diárias, no caso da FTTR, são feitas uma vez por dia ao final da tarde para
cada fornecedor. Este tipo de encomendas é gerado automaticamente pelo Sifarma 2000,
que cria uma proposta de encomenda em função do stock mínimo e máximo dos produtos
existentes na farmácia; sendo que estes limites de stock são definidos tendo em conta as
médias mensais de saídas, a rotatividade e o histórico de vendas dos produtos. A proposta
de encomenda é então analisada, ajustada e validada pelo farmacêutico ou técnico de
farmácia responsável, que em seguida procede ao envio eletrónico da encomenda ao
fornecedor, através do Sifarma 2000.

As encomendas instantâneas são normalmente efetuadas no ato de atendimento quando a


farmácia não dispõe de um determinado produto. Nestes casos, o farmacêutico ou técnico
de farmácia pode, através do Sifarma 2000, fazer uma encomenda instantânea desse
produto diretamente aos distribuidores. Para isso basta ir à ficha do produto, carregar em
“encomenda instantânea”, escolher a quantidade, escolher o distribuidor mediante a
disponibilidade do produto, o prazo de entrega e o preço de custo para a farmácia, e
aprovar a encomenda. Por fim, o farmacêutico/técnico de farmácia comunica ao utente a
hora prevista de entrega do produto na farmácia pelo distribuidor e faz reserva do mesmo,
isto se o utente quiser.

83
As encomendas manuais são aquelas que são efetuadas fora do Sifarma 2000, sendo feitas
por telefone ou por e-mail. O que as distingue das restantes encomendas é o facto de ser
necessário criar-se uma encomenda manual no sistema para se poder dar entrada do(s)
produto(s). Por fim, convém clarificar que as encomendas feitas por telefone são
geralmente efetuadas quando se pretende adquirir produtos rateados ou produtos algo
específicos (Por ex: produtos ortopédicos, meias de compressão, contentores Valormed,
etc.).

As encomendas por via verde são feitas para o caso de alguns medicamentos definidos em
lista pelo INFARMED, I.P., e surgiram do Projeto “Via Verde do Medicamento” que tem como
objetivo melhorar o acesso a esses medicamentos.8

No estágio fiz encomendas instantâneas e por telefone, e assisti à elaboração de encomendas


diárias e por via verde.

Além do que já foi falado, devido à colaboração da FTTR com a FTFCB e com as restantes
farmácias do GR, é possível verificar se alguma dessas farmácias tem um determinado
medicamento/produto através da opção “stock remoto” do Sifarma 2000. Assim, caso a
FTTR não possua naquele determinado momento um medicamento/produto específico em
stock, mediante a consulta da opção anteriormente falada e da confirmação do stock via
telefone, podemos encaminhar o utente para a FTFCB ou solicitar o envio do
medicamento/produto para a FTTR.

5.2.Receção de encomendas
As encomendas são transportadas em contentores de plástico, que devido à situação
pandémica causada pela COVID-19 são devidamente desinfetadas com solução antissética
de base alcoólica antes de serem abertos. Estes contentores de plástico vêm acompanhados
das faturas ou guias de remessa, que são utilizadas no processo de conferência da
encomenda, sendo posteriormente arquivadas.

Após a devida desinfeção dos contentores, procede-se à abertura e verificação do estado de


conservação das embalagens, tendo especial atenção para a existência de contentores com
produtos termolábeis. Neste caso, estes produtos são armazenados temporariamente num
local específico do frigorífico, até que possam ser corretamente armazenados nos seus
devidos locais. Além dos produtos termolábeis, também se dá prioridade à receção dos
produtos que constituem reservas de utentes, de modo a cumprir o horário comunicado ao

84
utente aquando do ato da reserva. O facto de as reservas resultantes de encomendas
instantâneas virem em contentores separados das encomendas diárias acaba por facilitar
bastante a sua identificação.

Relativamente ao processo de receção de encomendas propriamente dito, primeiramente


introduz-se o número de fatura no sistema e o respetivo valor. Depois regista-se os
produtos através do código de barras ou do QR Code, garantindo que os prazos de validade
dados pelo Sifarma 2000 estão corretos. Quando o prazo de validade do produto é inferior
aos produtos em stock, ou se o stock é zero, atualiza-se o prazo de validade de modo a
corresponder à do produto recebido. Além disso, quando o prazo de validade é igual ou
inferior a 18 meses anota-se num dossiê o nome e o código nacional do produto (CNP),
quando é igual ou inferior a 9 meses além de se anotar coloca-se um elástico sem cor à
volta do mesmo, e quando é inferior ou igual a 3 meses procede-se posteriormente à
devolução do produto por validade curta. Durante o registo dos produtos verifica-se o
estado de conservação das embalagens e o número das mesmas. Depois de se introduzirem
todas as embalagens, o número de produtos deve corresponder ao número que consta na
fatura. Outro aspeto que se verifica é o preço de venda à farmácia (PVF), o preço de venda
ao público (PVP) em vigor (para o caso dos MSRM) e os descontos ou condições sobre o
PVF; fazendo-se as alterações necessárias caso se verifique que há diferenças. Por último,
coloca-se como recebidas as reservas dos produtos e verifica-se se todos os produtos
MNSRM e de venda livre têm etiqueta na entrada. Por fim, depois de garantir que todos
estes aspetos foram verificados, termina-se a receção da encomenda e, como já foi referido,
arquiva-se a fatura ou guia de remessa.

Se algum produto tiver sido faturado, mas não rececionado, é feita uma reclamação para
envio do produto ou de nota de crédito. Se, por outro lado, um produto tiver sido
rececionado, mas não faturado, ou se tiver sido detetado alguma anomalia relativamente à
sua integridade, será feita uma devolução do produto.

5.3.Devoluções
As devoluções de medicamentos ou produtos de saúde podem dever-se à não
conformidade dos mesmos por estarem danificados, a não terem sido encomendados ou a
quantidade ser diferente da encomendada, ao preço de faturação ser superior ao
estipulado, a ter sido pedido por engano, entre outras razões. Além disso, os produtos são
ainda devolvidos quando se encontram próximos do término do prazo de validade ou
quando existem pedidos de recolha por parte das autoridades competentes.
85
Para se fazer uma devolução, primeiramente cria-se uma nota de devolução no Sifarma
2000; depois identifica-se o fornecedor, os medicamentos ou produtos de saúde em
questão, o número da fatura original, o preço faturado e o motivo da devolução. Em
seguida, é emitida uma nota de devolução que é impressa em triplicado, sendo as três
cópias datadas, carimbadas e assinadas pelo farmacêutico ou técnico responsável pela
gestão de stocks. O original e o duplicado acompanham os produtos a ser devolvidos e o
triplicado é datado e assinado pelo distribuidor aquando da recolha do produto, sendo
posteriormente arquivado na farmácia.

As devoluções podem ser aceites ou rejeitadas pelo fornecedor. Se forem aceites, o


fornecedor faz um reembolso sob a forma de nota de crédito ou substitui o produto. Se
foram rejeitadas, o fornecedor envia novamente o produto para a farmácia.

5.4.Preços e margens legais


Segundo o artigo 9º do Decreto-Lei n.º 97/2015 de 1 de junho9, o PVP dos medicamentos é
composto pelo preço de venda ao armazenista, margens de comercialização do distribuidor
grossista e da farmácia, taxa sobre a comercialização de medicamentos e imposto sobre o
valor acrescentado (IVA).

No que diz respeito aos MSRM, o seu PVP corresponde ao preço máximo que pode ser
praticado pelas farmácias para a venda aos utentes, sendo fixado pelo conselho diretivo do
INFARMED, I. P.9, e encontrando-se impresso nas embalagens.

As margens máximas de comercialização para as farmácias e para os grossistas encontram-


se legisladas pelo artigo 12º da Portaria n.º 195-C/2015 de 30 de junho10, alterado pela
Portaria nº262/2016 de 7 de outubro11.

Relativamente aos MNSRM e outros produtos de saúde, como não estão sujeitos a
qualquer regime de preço máximo, é da responsabilidade da farmácia a definição do seu
PVP. Para isso, é preciso ter em conta a margem de lucro, os preços praticados pela
concorrência e o IVA (6% ou 23%). Além disso, todos os MNSRM e produtos de saúde
devem estar etiquetados com o respetivo PVP.

5.5.Armazenamento
O armazenamento de medicamentos e produtos de saúde na FTTR baseia-se em dois
princípios, o princípio “first-expire, first-out” e o princípio “first-in, first-out”. De acordo

86
com o primeiro princípio, os produtos com validade inferior são colocados de modo a
serem dispensados primeiro. Quanto ao segundo princípio, este é usado nas situações em
que há produtos com a mesma validade ou produtos sem prazo de validade, nestes casos o
produto já existente na farmácia deve ser dispensado primeiro.

Os produtos termolábeis são armazenados por ordem alfabética no frigorífico destinado a


esse propósito, que se encontra no backoffice.

Como foi referido anteriormente, o principal local de armazenamento dos MSRM e de


alguns MNSRM é o corredor com gavetas e estantes deslizantes, onde os produtos se
encontram organizados por ordem alfabética. Além disso, a maioria dos MNSRM estão
expostos na zona de atendimento ao público em lineares localizados atrás do balcão, que
como já foi referido estão divididos por secções. Os restantes produtos de saúde também se
encontram expostos, de acordo com a sua secção, nos lineares que compõe a zona de
atendimento ao público.

Quanto às reservas, após a sua receção estas são armazenadas numa gaveta localizada no
corredor do backoffice, por ordem alfabética, de modo a facilitar a sua localização.

5.5.1.Controlo de prazos de validade e de stocks parados


De modo a controlar os prazos de validade, além do controlo que é feito na receção das
encomendas, todos os meses e até dia 5 de cada mês, é emitida, através do Sifarma 2000,
uma listagem de medicamentos e produtos de saúde cujo prazo de validade termina dentro
de 3 meses. Esta listagem é composta pelo nome e CNP de cada produto, bem como pelo
prazo de validade e quantidade dos mesmos. Em seguida, é necessário realizar-se uma
verificação física dos produtos, conferindo-se a validade e a quantidade dos mesmos. Os
produtos que realmente possuem um prazo de validade que termina dentro de 3 meses são
devolvidos por validade curta. Caso se verifique que existem disparidades entre a listagem
e a verificação física, procede-se à atualização das validades e quantidades reais no
Sifarma 2000.

Além do controlo dos prazos de validade, a FTTR faz o controlo dos stocks parados. Para
isso, todos os meses é emitida, através do Sifarma 2000, uma listagem de medicamentos e
outros produtos de saúde (ex: produtos de dermocosmética, etc.) que não têm saídas há
mais de 1 ano e há mais de 9 meses, respetivamente. Esta listagem é composta pelo nome e
CNP de cada produto, bem como pela quantidade dos mesmos. Em seguida, tal como no

87
controlo das validades, é preciso fazer uma verificação física dos produtos, conferindo-se a
quantidade dos mesmos, e colocando-se um elástico colorido à sua volta. Isto caso os
produtos se encontrem armazenados em gavetas ou estantes, e excluindo os produtos
expostos na zona de atendimento ao público. Para além disso, todos os meses é feita uma
seleção de alguns produtos com stock parado expostos na zona de atendimento ao público
para serem armazenados numa prateleira específica localizada no backoffice. Nesta
prateleira são ainda armazenados produtos de dermocosmética que não podem ser
devolvidos. Isto vai fazer com que os produtos estejam em lugar de destaque, relembrando
os funcionários da farmácia para priorizar a sua dispensa. Além disso, também se podem
criar estratégias de marketing para aumentar a sua venda, ou, se o escoamento for
improvável, procede-se à sua devolução (caso seja possível).

Outra estratégia praticada pela FTTR para controlar os prazos de validade e os stocks
parados está na forma de armazenamento/exposição dos MNSRM e outros produtos de
saúde nos lineares da zona de atendimento ao público. Aqui os produtos estão expostos de
maneira que os produtos com menor validade fiquem mais à esquerda do linear, que logo a
seguir fiquem os produtos com stock parado, e que só depois fiquem os produtos com
validade longa e sem stock parado.

5.5.2.Temperatura e humidade
Segundo as BPF para a farmácia comunitária3, “as condições de iluminação, temperatura,
humidade e ventilação das zonas de armazenamento devem respeitar as exigências
específicas dos medicamentos, de outros produtos farmacêuticos, químicos, matérias-
primas e materiais de embalagem”; sendo que “estas condições devem ser verificadas e
registadas periodicamente”.

A temperatura e humidade são os principais parâmetros a ter em conta. Como tal, a FTTR
dispõe de 3 termohigrómetros, que estão colocados em pontos específicos da farmácia,
nomeadamente no frigorífico, backoffice e zona de atendimento ao público.
Periodicamente, o farmacêutico ou técnico responsável por este controlo descarrega os
registos de cada aparelho para o computador e analisa os gráficos obtidos. Em seguida, o
farmacêutico/técnico responsável anota a conformidade ou não conformidade dos valores
obtidos; e, caso haja uma não conformidade, isto é, caso seja detetado um desvio fora do
pradonizado, justifica a mesma sempre que a causa do desvio seja provável ou conhecida.

88
O frigorífico deve apresentar uma temperatura mais ou menos constante entre os 2ºC e os
8ºC, podendo existir oscilações de valores causadas pela abertura do mesmo para
armazenar, arrumar ou retirar produtos. Quanto à humidade, o frigorífico deve apresentar
uma humidade entre os 80% e os 100%. Relativamente às restantes áreas, estas devem
apresentar uma temperatura entre os 15ºC e os 25ºC, com valores de humidade inferiores
a 60%, sendo que as áreas destinadas ao armazenamento de medicamentos não devem ter
incidência de luz solar direta.

6.Interação farmacêutico-utente-medicamento

Hoje em dia, com a evolução da farmácia comunitária, o farmacêutico tem cada vez mais
um papel fundamental na sociedade, sendo muitas vezes o primeiro profissional de saúde a
que se dirigem os utentes. Além disso, o farmacêutico é o especialista do medicamento e o
profissional de saúde a que os utentes se dirigem após as consultas médicas, exercendo um
papel crucial na promoção da utilização segura, eficaz, racional e correta dos
medicamentos.12

Assim, é fundamental que o farmacêutico tenha bem presente que a sua primeira e
principal responsabilidade “é para com a saúde e o bem-estar do doente e do cidadão em
geral, devendo pôr o bem dos indivíduos à frente dos seus interesses pessoais ou
comerciais e promover o direito de acesso a um tratamento com qualidade, eficácia e
segurança.”12 Além disso, “no exercício da sua profissão, o farmacêutico deve ter sempre
presente o elevado grau de responsabilidade que nela se encerra, o dever ético de a exercer
com a maior diligência, zelo e competência e deve contribuir para a realização dos
objetivos da política de saúde.”12

No âmbito da farmácia comunitária, a interação farmacêutico-utente-medicamento


acontece essencialmente durante o atendimento, sendo crucial que o farmacêutico seja
capaz de estabelecer uma boa comunicação com o utente e assim consiga fornecer toda a
informação necessária para um uso correto, seguro e eficaz dos medicamentos (Por
exemplo: modo de administração, posologia, precauções de utilização, condições de
conservação, interações medicamentosas, efeitos secundários, etc.). Para isso, o
atendimento deve ser personalizado e adequado às necessidades de cada utente, sendo
fundamental que o farmacêutico adeque a sua postura e linguagem ao nível sociocultural
do mesmo. “Além da comunicação oral, os conselhos e informação prestados pelo
farmacêutico devem ser reforçados por escrito ou com material de apoio apropriado.”3Por
89
fim, antes de terminar o atendimento, “o farmacêutico deve procurar assegurar-se de que o
utente não tem dúvidas sobre as precauções com a utilização do medicamento, isto é sobre
a forma como deve ser tomado (como, quando e quanto), a duração do tratamento e
eventuais precauções especiais”3; e deve oferecer-se para esclarecer quaisquer dúvidas
adicionais.

Após um primeiro mês dedicado maioritariamente às tarefas de backoffice e à observação


de atendimentos, foi-me dada a oportunidade de começar a realizar atendimentos com o
acompanhamento e supervisão da Dr.ª Ana Rita Diniz. Com o passar das semanas e
mediante a minha evolução, foi-me dada mais autonomia, mas sempre sob a devida
supervisão. A transição do backoffice para o atendimento foi a fase mais desafiante do meu
estágio, não só pelo enorme grau de responsabilidade que lhe está associado, mas também
por ter sido o primeiro contacto direto com o utente e com a variedade de situações e casos
clínicos que aparecem nas farmácias comunitárias. Apesar disso, a realização de
atendimentos ajudou-me a melhorar as minhas capacidades de comunicação, a aplicar o
conhecimento adquirido na faculdade e a adquirir novos conhecimentos; tendo-se revelado
bastante enriquecedora.

6.1.Farmacovigilância
“A Farmacovigilância visa melhorar a segurança dos medicamentos, em defesa do utente e
da Saúde Pública, através da deteção, avaliação e prevenção de reações adversas a
medicamento(s).”13

Em Portugal existe um Sistema Nacional de Farmacovigilância (SNF), coordenado pelo


INFARMED, I.P., que “monitoriza a segurança dos medicamentos com autorização de
introdução no mercado nacional, avaliando os eventuais problemas relacionados com
reações adversas a medicamentos e implementando medidas de segurança sempre que
necessário.”13

O farmacêutico comunitário, tendo em conta o que já foi falado no âmbito da interação


farmacêutico-utente-medicamento, tem um papel fundamental na farmacovigilância;
sendo importante que aproveite a interação com o utente para o questionar sobre possíveis
reações adversas a medicamentos (RAM) que possam comprometer a adesão à terapêutica
e a saúde e bem-estar do mesmo. Assim, sempre que o farmacêutico identifique ou
suspeite da existência de RAMs deve comunicar ao SNF, através do Portal RAM, a fim de

90
garantir a monitorização contínua da segurança e a avaliação do benefício/risco dos
medicamentos14, e assim salvaguardar a saúde dos seus utentes.

Apesar de, no meu estágio, não ter tido a oportunidade de assistir ou de fazer qualquer
notificação de uma RAM ao SNF, tenho bem presente a importância que a
farmacovigilância tem na monitorização da segurança dos medicamentos e na saúde dos
utentes.

6.2.VALORMED
Face à consciencialização das associações representativas das empresas da indústria
farmacêutica, dos distribuidores farmacêuticos e das farmácias comunitárias para a
especificidade do medicamento enquanto resíduo, e de modo a preservar o ambiente e a
saúde pública, surgiu em 1999 a VALORMED. Esta é “uma sociedade sem fins lucrativos à
qual está atribuída a responsabilidade da gestão dos resíduos de embalagens vazias e
medicamentos fora de uso de origem doméstica.”15

As farmácias comunitárias, e como tal, os farmacêuticos, têm um papel importante na


sensibilização dos utentes com vista a aumentar a adesão a esta prática. Assim, a FTTR
possui nas suas instalações um contentor da VALORMED, onde os utentes podem
depositar os medicamentos que já não utilizem ou que estejam fora de validade, bem como
as embalagens vazias. É importante alertar o utente que nem tudo pode ser depositado no
contentor, como é o caso de “agulhas, seringas ou qualquer outro material corto-
perfurante, termómetros de mercúrio, aparelhos elétricos ou eletrónicos, material de penso
e cirúrgico (gaze, algodão, álcool etílico, água oxigenada, etc.), produtos químicos ou
detergentes, fraldas e radiografias”16. Quando o contentor atinge a sua capacidade máxima
este é fechado e selado, depois é emitido um documento de transporte (através do Sifarma
2000), e finalmente o contentor é recolhido por um distribuidor que se encarrega de o
enviar para o centro de triagem, onde este será classificado e separado para ser tratado
devidamente.

Durante o meu estágio tentei consciencializar os utentes para entregarem os seus


medicamentos fora de uso ou fora de validade e as embalagens vazias na farmácia. De
destacar que uma boa parte da comunidade já se mostrava consciencializada para esta
atividade, havendo vários utentes que entregavam regularmente sacos cheios de
medicamentos e de embalagens vazias destinadas ao contentor da VALORMED.

91
7. Dispensa de medicamentos

Segundo as BPF para a farmácia comunitária3, a dispensa ou cedência de medicamentos é


o “ato profissional em que o farmacêutico, após avaliação da medicação, cede
medicamentos ou substâncias medicamentosas aos doentes mediante prescrição médica
ou em regime de automedicação ou indicação farmacêutica, acompanhada de toda a
informação indispensável para o correto uso dos medicamentos. Na cedência de
medicamentos o farmacêutico avalia a medicação dispensada, com o objetivo de identificar
e resolver problemas relacionados com os medicamentos (PRM), protegendo o doente de
possíveis resultados negativos associados à medicação”.

Assim, a dispensa de medicamentos, além de ser a atividade mais reconhecida pelos


utentes, é também uma atividade associada a um enorme grau de responsabilidade, em
que o farmacêutico usa os seus conhecimentos e os recursos que tem ao seu alcance para
garantir o uso correto do medicamento e assim preservar a saúde e o bem-estar do utente.

Os medicamentos podem ser divididos em dois grupos, tendo em conta o tipo de dispensa:
MSRM e MNSRM.

Além disso, os medicamentos podem ainda ser classificados como medicamentos de marca
e como medicamentos genéricos; sendo que os medicamentos de marca são aqueles que
foram autorizados com base em documentação completa, incluindo resultados de ensaios
farmacêuticos, pré-clínicos e clínicos.

7.1.Medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM)


De acordo com o artigo 114º do Decreto-Lei n.º 176/2006, de 30 de agosto17, estão sujeitos
a receita médica os medicamentos que podem constituir um risco para a saúde do doente
mesmo quando usados para o fim a que se destinam, caso sejam utilizados sem vigilância
médica; os medicamentos que podem constituir um risco para a saúde quando são
utilizados com frequência em quantidades consideráveis para fins diferentes daquele a que
se destinam; os medicamentos que contêm substâncias, ou preparações à base dessas
substâncias, cuja atividade ou reações adversas necessitam de ser aprofundadas; e, por
fim, os medicamentos que se destinem a ser administrados por via parentérica.

A dispensa deste tipo de medicamentos requer a apresentação de uma prescrição médica


eletrónica ou manual.
92
Atualmente, até que seja possível a total desmaterialização da prescrição, coexistem duas
formas de disponibilização da prescrição eletrónica, a receita eletrónica desmaterializada
(RED) ou receita sem papel e a receita eletrónica materializada (REM). Quanto à primeira,
“a prescrição é acessível e interpretável por equipamentos eletrónicos, ou seja, no
momento de prescrição, os softwares têm de validar e registar a receita no sistema central
de prescrições”. No que diz respeito à segunda, “a prescrição é impressa, ou seja, no
momento de prescrição, os softwares têm de validar e registar a receita na BDNP” (Base de
Dados Nacional de Prescrições). As REM e RED têm a vantagem de poderem ser utilizadas
para adquirir os medicamentos em vários momentos.18

Além das prescrições eletrónicas, excecionalmente podem ser feitas prescrições manuais
nos casos previstos no artigo 8.º da Portaria n.º 224/2015 de 27 de julho 19, alterado pela
Portaria n.º 390/2019, de 29 de outubro20; sendo eles: falência do sistema informático,
indisponibilidade da prescrição através de dispositivos móveis, ou nas situações de
prescrição em que o utente não tenha a possibilidade de receber a prescrição
desmaterializada ou de a materializar. As receitas manuais têm a desvantagem de todos os
produtos nelas contidas terem de ser dispensados num único momento, pois necessitaram
de ser arquivadas na farmácia para efeitos de comparticipação.18

Independentemente de ser uma RED, uma REM ou uma receita manual, a receita deverá
conter a seguinte informação: numeração, local da prescrição, identificação do médico
prescritor e do utente, entidade financeira responsável, identificação do medicamento,
posologia e duração do tratamento, comparticipações especiais e data de prescrição; que
no caso da REM e da receita manual deve ser validada antes da dispensa.18

Adicionalmente, as REM e as RED apresentam ainda algumas especificidades. As REM


apresentam: os tipos de receita, a via da receita, a validade da prescrição e número de
embalagens e a assinatura do médico prescritor. Enquanto que as RED apresentam: os
tipos de linhas de prescrição, a validade da prescrição e número de embalagens, a hora de
prescrição e a assinatura do médico prescritor.18

Relativamente às receitas manuais, estas apresentam outros elementos, nomeadamente: a


identificação da exceção, o local de prescrição, a validade de prescrição e número de
embalagens, a identificação e assinatura do médico prescritor e outras especificidades; que
também devem ser verificados antes da dispensa.18

93
No que diz respeito à identificação do medicamento numa prescrição, esta é composta
pelos seguintes elementos: Denominação Comum Internacional (DCI) ou nome da
substância ativa, forma farmacêutica, dosagem, apresentação (dimensão da embalagem) e
o Código Nacional para a Prescrição Eletrónica de Medicamentos (no caso das REM e
RED). A prescrição pode, excecionalmente, incluir a denominação comercial do
medicamento, por marca ou indicação do nome do titular da autorização de introdução no
mercado, quando não exista medicamento genérico comparticipado ou para o qual só
exista original de marca e licenças, quando são medicamentos que apenas podem ser
prescritos para determinadas indicações terapêuticas ou quando há uma justificação
técnica do prescritor quanto à insusceptibilidade de substituição do medicamento
prescrito. Sempre que exista uma das justificações técnicas, nomeadamente: alínea a)
margem ou índice terapêutico estreito; alínea b) reação adversa prévia e alínea c)
continuidade de tratamento superior a 28 dias); estas devem ser mencionadas na receita.
Relativamente à exceção c), o utente pode optar por outro medicamento similar ao que lhe
foi prescrito, desde que o preço do mesmo seja inferior.18

Geralmente, as REM têm uma validade de 30 dias seguidos, contada a partir da data da
sua emissão. No entanto, este tipo de receitas pode ser renovável, para isso basta que
contenham medicamentos destinados a tratamentos de longa duração, podendo ter até 3
vias. Nesse caso, as REM têm uma validade de 6 meses. Em cada REM podem ser
prescritos até 4 medicamentos distintos, num total de 4 embalagens por receita; sendo que
no máximo podem ser prescritas 2 embalagens por medicamento.18

Quanto às RED, a validade pode ser de 60 dias seguidos contados a partir da data da sua
emissão, para o caso de medicamentos destinados a tratamentos de curta ou média
duração; sendo que cada linha de prescrição apenas contém um medicamento, até um
máximo de 2 embalagens. A validade das RED também pode ser de 6 meses contados a
partir da data da sua emissão, no caso de medicamentos destinados a tratamentos de longa
duração; sendo que cada linha de prescrição apenas contém um medicamento, até um
máximo de 6 embalagens.18

Relativamente às REM e RED, no caso dos medicamentos prescritos se apresentarem sob a


forma de embalagem unitária, podem ser prescritas até 4 embalagens do mesmo
medicamento, ou até 12 embalagens, no caso de medicamentos de longa duração.18

94
Quanto às receitas manuais, estas têm uma validade de 30 dias seguidos contados a partir
da data de emissão, que é de preenchimento obrigatório. Em cada receita manual podem
ser prescritos até 4 medicamentos distintos, num total de 4 embalagens por receita; sendo
que no máximo podem ser prescritas 2 embalagens por medicamento. Além disso, no caso
dos medicamentos prescritos se apresentarem sob a forma de embalagem unitária podem
ser prescritas até 4 embalagens do mesmo medicamento.18

Durante o meu estágio tive a oportunidade de contactar com os 3 tipos de receitas


anteriormente falados, sendo que as RED representaram a grande maioria das receitas
dispensadas. Assim, consegui-me aperceber das muitas vantagens que as receitas
eletrónicas trazem, em especial a RED, nomeadamente: a já falada vantagem de poderem
ser utilizadas para levantar medicamentos em momentos diferentes; a diminuição dos
erros associados à interpretação da receita e à dispensa dos medicamentos; e a
possibilidade de o utente poder receber uma nova receita na hora, na eventualidade de
haver um erro de prescrição; entre outras. Além disso, também realizei a dispensa de
medicamentos prescritos em receitas de seguradoras, sendo que estas apresentam um
modelo diferente das restantes.

7.1.1.Regimes de comparticipação
A comparticipação por parte do Estado no preço dos medicamentos é fixa e baseia-se na
classificação farmacoterapêutica; sendo que “o Estado pode comparticipar a aquisição dos
medicamentos prescritos aos beneficiários do Sistema Nacional de Saúde (SNS) e de
outros subsistemas públicos de saúde.”9

Atualmente existem dois regimes de comparticipação, o regime geral e o regime


excecional.21

Relativamente ao regime geral de comparticipação, o Estado paga uma percentagem do


PVP dos medicamentos de acordo com os seguintes escalões: Escalão A – 90%, Escalão B –
69%, Escalão C – 37%, Escalão D – 15%”; tendo em conta a classificação
farmacoterapêutica dos medicamentos. Estes escalões, assim como os respetivos grupos e
subgrupos farmacoterapêuticos que os integram, estão definidos na Portaria n.º 195-
D/2015, de 30 de junho.2122

No regime excecional de comparticipação, a taxa de comparticipação é aumentada


relativamente ao regime geral para determinadas patologias ou grupos de doentes. 21 Na

95
página na internet do INFARMED, I. P. encontra-se disponível uma tabela com as
patologias abrangidas por regime excecional; bem como local de dispensa, percentagem de
comparticipação e respetivos diplomas legais.23

Durante o meu estágio tive a oportunidade de lidar com diferentes organismos de


comparticipação; sendo que o responsável pela grande maioria das comparticipações foi o
SNS, quer em regime geral, quer em regime excecional. Nas situações em que o utente era
abrangido por uma complementaridade de comparticipação, era necessário selecionar-se a
entidade complementar no Sifarma 2000, registar o número de cartão de beneficiário,
tirar uma fotocópia ao cartão e recolher uma assinatura do utente na fatura de
complementaridade. No caso das seguradoras, a comparticipação é assegurada por elas a
100%.

Ainda neste âmbito, a FTTR possui uma parceria com a Cáritas, sendo que esta
comparticipa parte dos medicamentos dos utentes carenciados. Além disso, a FTTR é
aderente ao programa Abem, criado pela Associação Dignitude e que “nasce da parceria
entre o setor social – Cáritas Portuguesa e Plataforma Saúde em Diálogo e o setor da saúde
– Associação Nacional das Farmácias e Associação Portuguesa da Indústria
Farmacêutica”.24 Através deste programa, os beneficiários (pessoas carenciadas e sem
possibilidade de comprar os medicamentos de que precisam) conseguem adquirir os
medicamentos sem custo, sendo que a Dignitude suporta, através do seu fundo solidário, a
parte não comparticipada pelo SNS do valor dos medicamentos. 24

7.2.Medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM)


Os MNSRM são medicamentos que, tal como o próprio nome o diz, e devido aos seus perfis
de segurança e indicações terapêuticas, podem ser dispensados sem a apresentação de uma
prescrição médica; no entanto, e apesar de poderem ser adquiridos fora das farmácias, a
dispensa destes medicamentos requer uma adequada avaliação dos sintomas, das
patologias concomitantes e da medicação que o utente já toma. Além disso, aquando da
dispensa destes medicamentos devem ser facultadas todas as informações necessárias para
permitir um uso correto e racional do medicamento.

A automedicação consiste na “utilização de MNSRM de forma responsável, sempre que se


destine ao alívio e tratamento de queixas de saúde passageiras e sem gravidade, com a
assistência ou aconselhamento opcional de um profissional de saúde.” 25Neste sentido, as
situações passivas de automedicação estão descritas no anexo do Despacho n.º
96
17690/2007, de 23 de julho.25No entanto, apesar das vantagens que traz, é importante que
esta prática não seja banalizada, e que o utente tenha a consciência de que a
automedicação acarreta sempre riscos, tais como a possibilidade de agravar a doença que
se pretende tratar, de mascarar sintomas característicos de doenças mais graves ou pré-
existentes, e de favorecer a ocorrência de RAMs ou de interações medicamentosas. Assim,
de maneira a diminuir estes riscos, esta prática deverá ser sempre feita com o
aconselhamento de um profissional de saúde qualificado, como por exemplo, o
farmacêutico ou médico.26

Dentro dos MNSRM existem ainda os medicamentos não sujeitos a receita médica de
dispensa exclusiva em farmácia (MNSRM-EF). Estes medicamentos, tal como o nome
indica, só podem ser cedidos em farmácias, sob intervenção farmacêutica e com a garantia
de que estão a ser cumpridas as condições presentes no protocolo de dispensa. Os
princípios ativos considerados MNSRM-EF estão presentes na “Lista de DCI – MNSRM-
EF” disponibilizada pelo INFARMED, I. P. na sua página na internet, tal como determina o
Regulamento dos MNSRM-EF.2728

Durante o meu estágio efetuei regularmente a dispensa de MNSRM e de MNSRM-EF;


sendo que as situações mais comuns foram referentes a sintomas alérgicos (rinite e
conjuntivite alérgica), tosse seca e/ou produtiva, afeções gastrointestinais (diarreia e
obstipação), dores de garganta, e sintomas associados a constipações e a estados gripais.

7.3.Medicamentos sujeitos a legislação especial


7.3.1.Medicamentos estupefacientes e psicotrópicos (MEP)
Os psicotrópicos e estupefacientes são substâncias que atuam diretamente sobre o sistema
nervoso central, tendo impacto em todo o organismo humano, podendo assim atuar como
depressores ou estimulantes. Por essa razão, “são utilizados no tratamento de diversas
doenças e em múltiplas aplicações nas mais variadas situações clínicas”. Contudo, “apesar das
suas propriedades benéficas, estas substâncias apresentam alguns riscos, podendo induzir
habituação, e até dependência, quer física quer psíquica”. Por isso, “é fundamental que sejam
utilizadas no âmbito clínico e de acordo com indicações médicas”.29

Devido à natureza abusiva dos medicamentos estupefacientes e psicotrópicos (MEP), estes


estão fortemente ligados ao consumo e tráfico de drogas e à criminalidade; por esse
motivo, os MEP estão sujeitos a um controlo especial. O Decreto-Lei n.º 15/93 de 22 de

97
janeiro30, alterado pelo artigo 1º da Lei n.º 18/2009 de 11 de maio 31, determina que para
permitir a dispensa destas substâncias ao público é necessária a apresentação de uma
receita médica especial, e que é dever do farmacêutico recusar-se a aviar as receitas que
não obedeçam às condições impostas na legislação.

No caso das receitas manuais ou materializadas, estes medicamentos têm que ser
prescritos isoladamente, o que não acontece com as RED.18

Devido à necessidade de haver um controlo especial, também a dispensa destes


medicamentos é diferente dos restantes. Primeiramente, é obrigatória a apresentação do
cartão de cidadão/bilhete de identidade por parte do adquirente aquando do ato da
dispensa; sendo que este tem que ter mais de 18 anos de idade. Em seguida, durante o ato
da dispensa, o Sifarma 2000 pede automaticamente um conjunto de dados adicionais
referentes ao adquirente e ao doente (caso sejam pessoas diferentes) que são de
preenchimento obrigatório. Desses dados constam o nome e morada do doente e do
adquirente; bem como a data de nascimento, morada, e número e data de validade do
cartão de cidadão/bilhete de identidade do adquirente. No final da dispensa, além da
fatura, é impresso um documento com todas as informações relativas à dispensa
(medicamento, número de prescrição, data de dispensa, dados do utente e/ou adquirente),
que é posteriormente guardado em local apropriado. No caso das receitais serem manuais
ou REM, este documento deve ser anexado à fotocópia das mesmas, ficando arquivado
durante 3 anos na farmácia.18

Todos os meses, e até dia 8 de cada mês, são enviadas para o INFARMED, I. P. as
digitalizações das receitas manuais e o registo de saídas dos MEP referentes ao mês
anterior. Anualmente, e até dia 31 de janeiro de cada ano, é enviado à mesma entidade um
balanço das entradas e saídas dos MEP e das benzodiazepinas.18

Durante o meu estágio tive a oportunidade de efetuar a dispensa de alguns MEP, como por
exemplo o MTP, fentanilo, buprenorfina e tapentadol; sendo que este último era o mais
comumente dispensado na farmácia.

7.3.2.Dispensa de produtos ao abrigo de protocolos


No caso da diabetes mellitus, as tiras-teste, sensores para determinação de glicose
intersticial, agulhas, seringas e lancetas têm comparticipação por parte do estado. “O valor
máximo da comparticipação do Estado no custo de aquisição das tiras-teste e dos sensores

98
para determinação de glicose intersticial para pessoas com diabetes corresponde a 85 % do
PVP máximo referido no n.º 2 do artigo 5º” da Portaria n. º35/2016 de 1 de março32,
retificada pela Declaração de Retificação n. º2/2018 de 18 de janeiro 33 e alterada pelo
artigo 2º da Portaria n.º 15/2018 de 11 de janeiro 34. No caso das agulhas, seringas e
lancetas o valor máximo de comparticipação corresponde a 100 % do PVP máximo referido
no n.º 2 do artigo anteriormente referido.

No caso de dispositivos médicos de apoio a doentes ostomizados, o valor da


comparticipação do Estado é de 100 % do PVP fixado para efeitos de comparticipação, nos
termos previstos na Portaria n.º 284/2016 de 4 de novembro35, alterada pela Portaria n.º
111/2018 de 26 de abril36 e pela Portaria n.º 92-F/2017 de 3 de março.37

Durante o meu estágio tive a oportunidade de dispensar vários produtos ao abrigo destes
protocolos.

8. Aconselhamento e dispensa de outros


produtos de saúde
8.1.Produtos de dermofarmácia, cosmética e higiene
Segundo o Decreto-Lei n.º 113/2010 de 21 de outubro38, um produto cosmético é “qualquer
substância ou mistura destinada a ser posta em contacto com as diversas partes superficiais
do corpo humano, designadamente epiderme, sistemas piloso e capilar, unhas, lábios e órgãos
genitais externos, ou com os dentes e as mucosas bucais, com a finalidade de, exclusiva ou
principalmente, os limpar, perfumar, modificar o seu aspeto, proteger, manter em bom estado
ou de corrigir os odores corporais”.

Apesar de estes produtos serem de venda livre, é fundamental que seja transmitida toda a
informação útil (Por exemplo: modo de aplicação, duração do tratamento, possíveis reações
adversas, cuidados a ter, etc.) no ato da venda, para que o utente use o produto de forma
correta e racional. Além disso, o farmacêutico ou técnico deve ter a sensibilidade para avaliar
se determinada situação necessita de intervenção ou referenciação médica.

A FTTR conta com uma vasta gama de produtos cosméticos que se encontram organizados
nos lineares mais próximos da entrada da farmácia, por marcas e gamas. Algumas das
marcas presentes são: A-Derma®, Helan®, Martiderm®, Bioderma®, Uriage®, Avéne®,
Filorga®, Ducray®, SVR®, Klorane® e René®, entre outras.
99
Relativamente à higiene oral, como foi referido anteriormente, a FTTR dispõe de uma
secção dedicada apenas a esses produtos, onde constam produtos como: elixires, pastas
dentífricas, pastas para a fixação de próteses, escovas de limpeza, produtos destinados ao
tratamento de aftas, entre outros. Algumas das marcas disponíveis são a Elgydium®,
Paradontax®, Elugel® e Bexident®, entre outras.

Por fim, a FTTR possui bastante oferta de produtos de higiene íntima, contando com
produtos como geles para higiene íntima diária, geles hidratantes íntimos, soluções
antissépticas, entre outros. As marcas que normalmente têm mais saídas são a Helan®, a
Lactacyd® e a Saugella®.

Durante o meu estágio pude observar e realizar vários aconselhamentos para situações que
envolviam estes produtos, e rapidamente me apercebi da necessidade de haver um
aconselhamento por parte do farmacêutico ou técnico. Outro aspeto importante é a
necessidade de toda a equipa estar familiarizada com as gamas disponíveis na farmácia, de
modo a conseguir oferecer o melhor aconselhamento possível ao utente.

8.2.Produtos para alimentação especial e dietéticos


Segundo o Decreto-Lei n.º 2016/2008 de 11 de novembro39, os alimentos dietéticos
destinados a fins medicinais específicos são “uma categoria de géneros alimentícios
destinados a uma alimentação especial, sujeitos a processamento ou formulação especial, com
vista a satisfazer as necessidades nutricionais de pacientes e para consumo sob supervisão
médica, destinando-se à alimentação exclusiva ou parcial de pacientes com capacidade
limitada, diminuída ou alterada para ingerir, digerir, absorver, metabolizar ou excretar
géneros alimentícios correntes ou alguns dos nutrientes neles contidos ou seus metabólicos,
ou cujo estado de saúde determina necessidades nutricionais particulares que não géneros
alimentícios destinados a uma alimentação especial ou por uma combinação de ambos”.

De acordo com Decreto-Lei n.º 74/2010 de 21 de junho40, os produtos para alimentação


especial são “géneros alimentícios que, devido à sua composição especial ou a processos
especiais de fabrico, se distinguem claramente dos alimentos de consumo corrente, são
adequados ao objetivo nutricional pretendido e comercializados com a indicação de que
correspondem a esse objetivo”.

Os produtos dietéticos para alimentação especial são geralmente aconselhados para crianças,
pessoas em recuperação, pessoas com alergias alimentares ou doenças graves, idosos com
100
doenças crónicas, entre outros. Estes produtos suplementam ou substituem a dieta na
totalidade, com o intuito de assegurar o fornecimento dos nutrientes essenciais e possibilitar
a recuperação e, nalguns casos a sobrevivência, dos doentes.

A FTTR conta com vários produtos destinados a este tipo de situações, como por exemplo,
produtos hiperproteicos de baixo índice glicémico, produtos hipercalóricos, produtos
hiperproteicos e hipercalóricos, produtos para facilitar a mastigação/deglutição, entre outros.
Neste caso, a farmácia conta com marcas como a Fresenius® e a Nestlé®, entre outras.

Durante o meu estágio tive a oportunidade de assistir a formações da Danone®, Nestlé® e


Fresubin® sobre estes produtos, o que se verificou bastante útil, uma vez que me permitiu
conhecer melhor as diferentes gamas e perceber as diferenças entre elas, bem como as
diferenças entre cada produto inserido na mesma gama. Assim, consegui ampliar o meu
conhecimento, o que me permitiu melhorar a qualidade do meu aconselhamento acerca
destes produtos e das situações em que são usados.

8.3.Produtos dietéticos infantis


O leite materno é um alimento vivo, completo e natural, e que possui várias vantagens,
quer a curto, quer a longo prazo; e tanto para o bebé, como para a mãe. Assim, existe um
consenso mundial de que a prática do aleitamento materno de forma exclusiva é a melhor
maneira de alimentar as crianças até aos 6 meses de vida.41 No entanto, por uma razão ou
por outra, como por exemplo quando o leite materno é insuficiente ou quando a
amamentação é rejeitada pelo bebé, isto nem sempre é possível. Por este motivo, existem
no mercado produtos dietéticos infantis adaptados às necessidades dos bebés.

Neste âmbito, a FTTR conta com vários produtos dietéticos infantis, maioritariamente
leites. Estes devem ser escolhidos de acordo com a idade do bebé: 0 a 6 meses; 6 meses a 1
ano e 1 ano a 3 anos. Dentro das várias marcas existem fórmulas indicadas às necessidades
de cada bebé, nomeadamente: leites para bebés prematuros, hipoalergénicos, anti
regurgitantes, sem lactose, anti obstipantes, entre outros. Além dos leites, a FTTR possui
ainda farinhas lácteas e não lácteas, suplementos alimentares para bebés, pacotinhos de
fruta, entre outros produtos. As principais marcas disponíveis na FTTR são a Nestlé®, a
Aptamil® e a Novalac®.

101
8.4.Fitoterapia e suplementos nutricionais (nutracêuticos)
Segundo o Decreto-Lei n.º 176/2006 de 30 de agosto17, alterado pelo Decreto-Lei n.º
112/2019 de 16 de agosto42, um medicamento à base de plantas é “qualquer medicamento
que tenha exclusivamente como substâncias ativas uma ou mais substâncias derivadas de
plantas, uma ou mais preparações à base de plantas ou uma ou mais substâncias derivadas de
plantas em associação com uma ou mais preparações à base de plantas”.

De acordo com o artigo 3º do Decreto-Lei n.º 136/2003 de 28 de junho43, alterado pelo


Decreto-lei n.º 296/2007 de 22 de agosto44 e pelo Decreto-Lei n.º 118/2015 de 23 de junho45,
os suplementos alimentares são “os géneros alimentícios que se destinam a complementar e
ou suplementar o regime alimentar normal e que constituem fontes concentradas de
determinadas substâncias nutrientes ou outras com efeito nutricional ou fisiológico, estremes
ou combinadas, comercializadas em forma doseada, tais como cápsulas, pastilhas,
comprimidos, pílulas e outras formas semelhantes, saquetas de pó, ampolas de líquido, frascos
com conta-gotas e outras formas similares de líquidos ou pós que se destinam a ser tomados
em unidades medidas de quantidade reduzida”.

Apesar destes produtos serem de venda livre, se não forem utilizados de forma correta e
racional, também podem originar riscos para a saúde do utente. Assim, é importante que o
farmacêutico ou técnico faça um bom aconselhamento, tendo em conta a medicação que o
utente toma, as necessidades de cada utente, a composição de cada produto e as suas
principais indicações terapêuticas. Além disso, também é importante que o farmacêutico ou
técnico forneça as informações que ache importantes para garantir um uso correto e racional
do produto, como por exemplo: o modo de administração, posologia, duração do tratamento,
precauções, interações e possíveis reações adversas.

Durante o meu estágio tive, por várias vezes, a oportunidade de aconselhar e dispensar
medicamentos à base de plantas e suplementos alimentares para diversas situações, entre
elas: melhorar a qualidade do sono, melhorar a capacidade cognitiva e/ou concentração,
atenuar a fadiga física e/ou mental e tratar infeções urinárias.

8.5.Produtos e medicamentos de uso veterinário


Segundo o artigo 3º do Decreto-Lei n.º 314/2009, de 28 de outubro46, um medicamento
veterinário é “toda a substância, ou associação de substâncias, apresentada como
possuindo propriedades curativas ou preventivas de doenças em animais ou dos seus
102
sintomas, ou que possa ser utilizada ou administrada no animal com vista a estabelecer um
diagnóstico médico-veterinário ou, exercendo uma ação farmacológica, imunológica ou
metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas”.

Os medicamentos de uso veterinário são extremamente importantes para a saúde e bem-


estar dos animais. Por isso, a FTTR dispõe, como foi referido anteriormente, de uma
secção inteiramente dedicada a produtos veterinários. No meu estágio, os produtos mais
comumente solicitados foram as pílulas contracetivas e os desparasitantes internos e
externos. No aconselhamento destes produtos, o farmacêutico ou técnico deve começar por
inquirir sobre o tipo e porte do animal, bem como a idade e peso do mesmo; sendo que
posteriormente deve explicar de forma simples e clara o modo de administração,
posologia, duração do tratamento e cuidados a ter. Além disso, o farmacêutico ou técnico
deve alertar o utente para a importância da vacinação e desparasitação frequente dos
animais.

Por fim, é de extrema importância que o farmacêutico ou técnico tenha o discernimento


para identificar as situações que precisam de referenciação para uma consulta veterinária.

8.6.Dispositivos médicos
De acordo com o artigo 3º do Decreto-Lei n.º 145/2009, de 17 de junho47, um dispositivo
médico é “qualquer instrumento, aparelho, equipamento, software, material ou artigo
utilizado isoladamente ou em combinação, incluindo o software destinado pelo seu
fabricante a ser utilizado especificamente para fins de diagnóstico ou terapêuticos e que
seja necessário para o bom funcionamento do dispositivo médico, cujo principal efeito
pretendido no corpo humano não seja alcançado por meios farmacológicos, imunológicos
ou metabólicos, embora a sua função possa ser apoiada por esses meios, destinado pelo
fabricante a ser utilizado em seres humanos para fins de:

i) Diagnóstico, prevenção, controlo, tratamento ou atenuação de uma doença;


ii) Diagnóstico, controlo, tratamento, atenuação ou compensação de uma lesão ou
de uma deficiência;
iii) Estudo, substituição ou alteração da anatomia ou de um processo fisiológico;
iv) Controlo da conceção.”

Os dispositivos médicos encontram-se divididos em 4 classes distintas (I, IIa, IIb e III),
tendo em conta a duração do contacto com o corpo humano, invasibilidade no corpo

103
humano, anatomia afetada pela utilização, potenciais riscos inerentes à utilização do
dispositivo e os possíveis incidentes relacionados com as características e/ou
funcionamento do dispositivo.48

Dentro dessas 4 classes existem vários exemplos de produtos48:

• Classe I (baixo risco): sacos coletores de urina, meias de compressão, canadianas,


pensos oculares, seringas sem agulha, ligaduras;
• Classe IIa (baixo médio risco): compressas de gaze hidrófila esterilizadas ou não
esterilizadas, cateteres urinários, medidores de tensão com fonte de energia
associada, lancetas;
• Classe IIb (alto médio risco): material de penso para feridas ulceradas extensas e
crónicas, canetas de insulina, preservativos masculinos, soluções de conforto para
portadores de lentes de contacto;
• Classe IV (alto risco): preservativos com espermicida, pensos com medicamentos,
dispositivos intrauterinos que não libertem progestagénios.

Além das classes referidas, destacam-se ainda os dispositivos para diagnóstico in vitro, como é
o caso de testes de gravidez, equipamento para medição de glicemia e recipientes para
recolha de amostras para análise.48

9.Medicamentos manipulados e preparações


extemporâneas

Os medicamentos manipulados podem ser divididos em preparações oficinais e fórmulas


magistrais. Segundo o artigo 3º do Decreto-Lei n.º 176/2006 de 30 de agosto17, alterado
pelo Decreto-Lei n.º 112/2019 de 16 de agosto42, um preparado oficinal é “qualquer
medicamento preparado segundo as indicações compendiais de uma farmacopeia ou de
um formulário oficial, numa farmácia de oficina ou em serviços farmacêuticos
hospitalares, destinado a ser dispensado diretamente aos doentes assistidos por essa
farmácia ou serviço”. De acordo com as mesmas fontes, uma fórmula magistral é “qualquer
medicamento preparado numa farmácia de oficina ou serviço farmacêutico hospitalar,
segundo uma receita médica e destinado a um doente determinado”.

104
Atualmente, a preparação de medicamentos manipulados nas farmácias comunitárias é
cada vez mais escassa. Por isso mesmo, hoje em dia muitas farmácias não preparam este
tipo de medicamentos nas suas instalações. Este é o caso da FTTR, que como foi
anteriormente falado normalmente não realiza preparações de medicamentos
manipulados. Em vez disso, a FTTR tem uma farmácia que lhe fornece este tipo de
medicamentos, de acordo com a legislação em vigor. Assim, a FTTR consegue reduzir os
custos relativos à manutenção dos equipamentos e à compra das matérias-primas, sem
deixar de satisfazer as necessidades dos seus utentes.

Tendo em conta o que já foi dito, durante o meu estágio não tive a oportunidade de
acompanhar ou auxiliar na preparação de medicamentos manipulados.

Relativamente às preparações extemporâneas, tive a oportunidade de observar e realizar a


preparação de antibióticos de uso pediátrico, que por questões de estabilidade se
apresentam sob a forma de pó para suspensão oral. Para procedermos à sua reconstituição,
de uma forma geral, primeiramente agita-se bem o frasco para soltar as partículas de pó
aderidas ao fundo do mesmo; em seguida adiciona-se água purificada em frações,
agitando-se o frasco entre adições, até perfazer o volume indicado no mesmo por uma
linha. Para terminar, deve homogeneizar-se bem a suspensão e garantir que não existe
separação de fases. Depois de terminada a preparação, esta é dispensada ao utente, mas
não sem antes o informar quanto às condições de conservação, posologia e da necessidade
de agitar antes de cada utilização.

10. Outros cuidados de saúde prestados na


farmácia

Segundo o artigo 36º do Decreto-Lei n.º 307/2007 de 31 de agosto1, alterado pelo artigo 2º
do Decreto-Lei n.º 75/2016 de 8 de novembro49, as farmácias podem prestar serviços de
promoção da saúde e do bem-estar dos utentes em termos a definir por portaria.

O artigo 2º da Portaria n.º 1429/2007 de 2 de novembro50, alterado pela Portaria n.º


97/2018, de 9 de abril51, define os serviços farmacêuticos que podem ser prestados pelas
farmácias.

105
A FTTR disponibiliza os seguintes serviços: medição de parâmetros bioquímicos e
fisiológicos, preparação individualizada de medicação (PIM), administração de vacinas e
injetáveis, e consultas de nutrição.

10.1. Medição de parâmetros bioquímicos e fisiológicos


As medições são realizadas no espaço individualizado para medição de parâmetros
bioquímicos e fisiológicos, onde são feitas as medições da glicemia, colesterol total,
triglicerídeos e pressão arterial. Além disso, por proporcionar alguma privacidade, este
espaço permite também dialogar com o utente acerca da sua terapêutica, patologias que
apresenta, valores obtidos e valores de referência, medidas não farmacológicas a adotar,
entre outros assuntos.

Este serviço é o mais requisitado na farmácia, e é sem dúvida fundamental para a avaliação
e monitorização do estado de saúde dos utentes e para o controlo dos valores associados a
certas patologias, permitindo detetar anormalidades de forma precoce e referenciar para
consulta médica. Além disso, este serviço permite ainda avaliar a efetividade da
terapêutica.

Durante o meu estágio tive a oportunidade de prestar este serviço por várias ocasiões,
sendo que notei uma maior adesão por parte da população mais idosa.

10.2. Preparação individualizada de medicação (PIM)


Segundo a Norma Geral para a PIM de 9 de outubro de 201852, a PIM define-se como o
“serviço a partir do qual o farmacêutico organiza as formas farmacêuticas sólidas, para uso
oral, de acordo com a posologia prescrita, por exemplo, em um dispositivo de múltiplos
compartimentos (ou em fita organizada por toma em alvéolos), selado de forma estanque
na farmácia e descartado após a sua utilização. Inclui-se ainda neste serviço a informação,
prestada sobre a forma escrita ou de pictogramas e oralmente, referente ao uso
responsável do medicamento, tendo por objetivo auxiliar o utente na correta
administração dos medicamentos e promover uma melhor adesão à terapêutica.”

Na farmácia onde estagiei este serviço é realizado pela Dr.ª Ana Rita Diniz, farmacêutica e
diretora técnica da farmácia.

106
10.3. Administração de vacinas e injetáveis
Na FTTR, a administração de medicamentos injetáveis e vacinas não incluídas no Plano
Nacional de Vacinação é realizada pela Dr.ª Ana Rita Diniz, diretora técnica da farmácia e
farmacêutica com formação reconhecida pela Ordem dos Farmacêuticos.67

Este serviço, como já foi referido anteriormente, é realizado no gabinete de atendimento


individualizado; sendo que este gabinete está equipado com os materiais e equipamentos
necessários para essa administração, bem como com os meios necessários para o
tratamento urgente de uma reação anafilática subsequente à administração da vacina.67

10.4. Consultas de nutrição


As consultas de nutrição são realizadas pela nutricionista Sandra Capitão, de 15 em 15 dias,
no gabinete de atendimento individualizado da FTTR; sendo que estas consultas são
procuradas maioritariamente para a perda de peso.

11. Receituário e faturação

Para que a farmácia possa receber o reembolso da comparticipação dos medicamentos


dispensados, é necessário realizar o processamento do receituário. No meu estágio tive a
oportunidade de colaborar na conferência do mesmo, tendo-me apercebido rapidamente
que esta é uma tarefa de extrema importância.

No caso das receitas em papel (manuais e REM), uma vez que o processo não é
informatizado, é necessário proceder-se à conferência das receitas dispensadas. Esta
conferência deve ser feita diariamente e sujeita a dupla verificação, com o intuito de
detetar possíveis erros.

Nas receitas manuais devem verificar-se determinados campos, sendo que uns são
preenchidos pelo prescritor e os outros são preenchidos no ato da dispensa pelo
farmacêutico ou técnico. Relativamente ao prescritor, verifica-se o nome de utente,
organismo e número de beneficiário, vinhetas do prescritor e do local de prescrição,
assinatura do médico, prazo de validade e ausência de rasuras. No que diz respeito ao
farmacêutico ou técnico, verifica-se se os medicamentos correspondem aos prescritos e se
cumprem as especificações legais referentes ao número e dimensão das embalagens,

107
assinaturas do utente e do farmacêutico ou técnico, data de dispensa e carimbo da
farmácia.

Nas REM devem verificar-se os medicamentos dispensados, assinaturas do médico, utente


e farmacêutico/técnico, data de dispensa e carimbo da farmácia.

Após a primeira conferência, as receitas são separadas pelos respetivos organismos ou


planos de comparticipação. Depois de serem conferidas pela segunda vez são organizadas
por lotes compostos por um máximo de 30 receitas. Quando o lote fica completo é emitido
um Verbete de Identificação do Lote, que é rubricado, carimbado e anexado às receitas
desse lote. Na eventualidade de existir mais do que um lote, deverá ser organizado o
conjunto de lotes por organismo e anexado um Resumo Relação de Lotes.

Nos casos em que são detetados erros na prescrição, tais como: ausência de assinatura do
médico, rasuras, número de embalagens que excede o preconizado, ausência da Portaria ou
Despacho adequado, não cedência da embalagem de menor dimensão quando a dimensão
não é mencionada, entre outros; a receita é posta de parte para que possa ser corrigida.

No início de cada mês precede-se ao envio das receitas do mês anterior para os respetivos
organismos de comparticipação. Quanto às receitas comparticipadas pelo SNS, estas são
recolhidas até ao dia 5 de cada mês pelos CTT – Correios de Portugal, que por sua vez as
transportam para o Centro de Conferência de Faturas; sendo que a documentação a ser
enviada deve conter as receitas agrupadas por lotes anexadas aos respetivos Verbetes de
Identificação de Lote, o Resumo de Relação de Lotes, a Fatura e o Guia de Fatura. Quanto
às receitas referentes a outras entidades, estas são enviadas até dia 10 de cada mês para a
ANF, que posteriormente as reenvia para as respetivas entidades. Para estes organismos de
complementaridade, a documentação a ser enviada é idêntica à que é enviada ao SNS,
acrescentando-se os recibos de complementaridade, devidamente assinados pelos utentes
e anexados à cópia do cartão de beneficiário.

Relativamente às RED, estas constituem apenas um lote eletrónico; sendo que no último
dia do mês, à meia-noite, o Sifarma 2000 fecha automaticamente todos os lotes e inicia
uma nova sequência de lote de forma automática. Assim, apenas é necessário conferir o
número de receitas e garantir a ausência de erros através do organismo de receitas
eletrónicas sem erros (97X).

108
12. O impacto da COVID-19

No âmbito da situação pandémica que se vive, ao longo do estágio fui-me apercebendo do


impacto que a COVID-19 teve e continua a ter nas farmácias comunitárias, e mais
concretamente na FTTR.

Relativamente às medidas de contingência, além da desinfeção dos contentores das


encomendas com solução de base alcoólica referida anteriormente, a FTTR adotou outras
medidas. Nomeadamente a colocação de acrílicos nos balcões de atendimento, a proteção
dos terminais de multibanco com película aderente e a distribuição de álcool gel para os
utentes e colaboradores. Além disso, o uso de máscara nas instalações tornou-se
obrigatório, e a farmácia passou a ter que respeitar um limite máximo de utentes dentro
das suas instalações. Por fim, nos primeiros meses da pandemia, a FTTR em conjunto com
a FTFCB criaram um sistema de entregas ao domicílio; algo que permitiu aos utentes
reduzir o número de deslocações à farmácia sem comprometer o acesso à medicação.

No que diz respeito ao funcionamento da farmácia, numa altura do meu estágio o


movimento da mesma ficou bastante reduzido devido às restrições que tinham sido
impostas. Além disso, apercebi-me das dificuldades que o uso da máscara impõe,
nomeadamente na comunicação e no estabelecimento de uma relação próxima com os
utentes; algo que se agravava na população idosa, uma vez que muitas vezes esta já tem a
sua audição afetada. Por fim, ao longo dos meses de março e abril, notei que o número de
utentes que apresentavam sintomas de constipação ou gripe era bastante reduzido para o
esperado, algo que associei ao facto de uso de máscara ser obrigatório.

13. Conclusão

O estágio em farmácia comunitária é essencial na formação de um futuro farmacêutico,


uma vez que é o período em que este tem a oportunidade de adquirir experiências e
conhecimentos que só se conseguem obter com a prática. Além disso, o estágio em
farmácia comunitária é muitas vezes o primeiro contacto que este tem com a população.

Durante o meu estágio consegui melhorar as minhas capacidades de comunicação,


consolidar conhecimentos adquiridos ao longo do curso, adquirir novos conhecimentos,
valências e habilidades, aperceber-me da importância de manter uma boa relação com o

109
utente, e por fim, aprender que muitas vezes o farmacêutico tem que ir além do seu papel
como profissional de saúde e assumir um papel de amigo para com os seus utentes.

Para terminar, não posso deixar de agradecer à equipa da FTTR, que me acolheu de braços
abertos, estando sempre disponíveis para tirar as minhas dúvidas, para me auxiliar e para
me ajudar a corrigir os meus erros. Na FTTR aprendi a importância de trabalhar em
equipa e da entreajuda num contexto profissional, algo que vou levar comigo para a minha
carreira como farmacêutico.

110
14. Bibliografia
1. Ministério da Saúde. Decreto-Lei n.o 307/2007, de 31 de agosto.
https://dre.pt/application/conteudo/641148. Published 2007. Accessed August 30,
2021.

2. Ministério Da Saúde. Decreto-Lei n.o 171/2012, de 1 de agosto. Diário da República,


1.a série — N.o 148. https://dre.pt/application/conteudo/179072. Published 2012.
Accessed September 27, 2021.

3. Farmacêuticos O Dos. Boas Práticas Farmacêuticas para a farmácia comunitária


(BPF). Conselho Nacional da Qualidade, 3a edição.
https://www.ordemfarmaceuticos.pt/fotos/documentos/boas_praticas_farmaceuti
cas_para_a_farmacia_comunitaria_2009_20853220715ab14785a01e8.pdf.
Published 2009. Accessed August 30, 2021.

4. Decreto-Lei n.o 58/2016 - Diário da República n.o 165/2016, Série I de 2016-08-29.


https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-
/lc/156248420/202108311237/73954639/exportPdf/maximized/1/cacheLevelPage
?rp=diploma. Published 2021.

5. INFARMED IP. Deliberação n.o 1500/2004, 7 de Dezembro.


https://www.infarmed.pt/documents/15786/1070327/deliberacao_1500-
2004.pdf/a72d33ee-ac25-4de9-a5bf-df99c6583268?version=1.1. Published 2004.
Accessed September 6, 2021.

6. INFARMED IP. Deliberação n.o139/CD/2010.


https://www.infarmed.pt/documents/15786/17838/139_CD_2010.pdf/4d614fa9-
63e0-4220-ad81-d8689829be6a. Published 2010. Accessed September 7, 2021.

7. INFARMED IP. Deliberação n.o 145/CD/2010.


https://www.infarmed.pt/documents/15786/17838/Deliberação_145_CD_2010.pd
f/ead66219-e91f-49db-a12a-5f60e2399a56. Published 2010. Accessed September 7,
2021.

8. INFARMED IP. Circular Informativa N.o 019/CD/100.20.200.


https://www.infarmed.pt/web/infarmed/infarmed?p_p_id=101&p_p_lifecycle=0&

111
p_p_state=maximized&p_p_mode=view&_101_struts_action=%2Fasset_publishe
r%2Fview_content&_101_assetEntryId=1235691&_101_type=document&inheritRe
direct=false&redirect=https%3A%2F%2Fwww.i. Published 2015.

9. Ministério da Saúde. Decreto-Lei n . o 97 / 2015, de 1 de junho.


https://dre.pt/application/conteudo/67356991. Published 2015. Accessed
September 14, 2021.

10. Ministério da Saúde. Portaria n.o 195-C/2015 de 30 de junho.


https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-
/search/67644326/details/normal?q=portaria+195c%2F2015. Published 2015.
Accessed September 14, 2021.

11. Ministério da Saúde. Portaria n.o 262/2016 - Diário da República n.o 193/2016, Série
I de 2016-10-07. https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-
/lc/75740871/view?p_p_state=maximized. Published 2018. Accessed September
14, 2021.

12. Ordem dos Farmacêuticos. Código Deontológico da Ordem dos Farmacêuticos.


https://www.ordemfarmaceuticos.pt/fotos/documentos/codigo_deontologico_da_
of_4436676175988472c14020.pdf. Accessed September 17, 2021.

13. INFARMED IP. Farmacovigilância - INFARMED, I.P.


https://www.infarmed.pt/web/infarmed/perguntas-frequentes-area-
transversal/medicamentos_uso_humano/farmacovigilancia. Published 2016.
Accessed September 19, 2021.

14. INFARMED IP. Notificar reação - INFARMED, I.P.


https://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram. Published 2016. Accessed
September 20, 2021.

15. VALORMED. Quem somos :: ValorMed. http://www.valormed.pt/paginas/2/quem-


somos/. Accessed September 20, 2021.

16. VALORMED. CIDADÃO E COMUNIDADE :: ValorMed.


http://www.valormed.pt/paginas/12/cidadao-e-comunidade. Accessed September
20, 2021.

112
17. Ministério da Saúde. Decreto-Lei no 176/2006, de 30 de agosto.
https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-/search/540387/details/normal?q=Decreto-
Lei+n.o 176%2F2006%2C de+30+de+agosto. Published 2006. Accessed September
8, 2021.

18. ACSS/INFARMED. Normas relativas à dispensa de medicamentos e produtos de


saúde. Ministério da Saúde.
https://www.infarmed.pt/web/infarmed/infarmed?p_p_id=101&p_p_lifecycle=0&
p_p_state=maximized&p_p_mode=view&_101_struts_action=%2Fasset_publishe
r%2Fview_content&_101_returnToFullPageURL=https%3A%2F%2Fwww.infarmed
.pt%2Fweb%2Finfarmed%2Finfarmed%3Fp_auth%3DW. Published 2019. Accessed
September 21, 2021.

19. Ministério da Saúde. Portaria n.o 224/2015 de 27 de julho.


https://dre.pt/application/conteudo/69879391. Published 2015. Accessed
September 22, 2021.

20. Ministério da Saúde. Portaria n.o 390/2019 de 29 de outubro.


https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-
/lc/168156195/202109222246/74214761/diploma/indice?q=Portaria+n.o
224%2F2015%2C de+27+de+julho. Published 2019. Accessed September 22, 2021.

21. INFARMED IP. Comparticipação/ Avaliação prévia hospitalar - INFARMED, I.P.


https://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/medicamentos-uso-
humano/avaliacao-tecnologias-saude/avaliacao-terapeutica-
economica/comparticipacao/-avaliacao-previa-hospitalar. Published 2016. Accessed
September 24, 2021.

22. Ministério da Saúde. Portaria n.o 195-D/2015, de 30 de junho. Diário da República,


1a série. https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-
/search/67644327/details/normal?q=Portaria+n.o 195-D%2F2015. Published 2015.
Accessed September 24, 2021.

23. INFARMED IP. Regimes excecionais de comparticipação - INFARMED, I.P.


https://www.infarmed.pt/web/infarmed/regimes-excecionais-de-comparticipacao.
Published 2016. Accessed September 24, 2021.

113
24. FUNDAÇÃO MANUEL ANTÓNIO DA MOTA. Associação Dignitude – FMAM.
https://www.fmam.pt/apoio/associacao-dignitude/. Published 2019. Accessed
October 3, 2021.

25. Ministério da Saúde. Despacho n.o 17690/2007, de 23 de julho.


https://www.infarmed.pt/documents/15786/1065790/011-
D1_Desp_17690_2007.pdf/9043678d-9410-4454-96f6-2fa374ad0fc1?version=1.0.
Published 2007. Accessed September 25, 2021.

26. Farmácias Portuguesas. Automedicação e bom senso.


https://www.farmaciasportuguesas.pt/menu-principal/doencas-
cronicas/automedicacao-e-bom-senso.html. Published 2021. Accessed September
25, 2021.

27. INFARMED IP. Lista de DCI identificadas pelo Infarmed como MNSRM-EF e
respetivos protocolos de dispensa.
https://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/medicamentos-uso-
humano/autorizacao-de-introducao-no-
mercado/alteracoes_transferencia_titular_aim/lista_dci. Published 2021. Accessed
September 26, 2021.

28. INFARMED. Deliberação n.o 25/CD/2015.


https://www.infarmed.pt/documents/15786/1219386/025_CD_2015.pdf/13f98d9f
-8683-4585-9790-98413515908d. Published 2015. Accessed September 26, 2021.

29. INFARMED IP. Psicotrópicos e Estupefacientes.


https://www.infarmed.pt/documents/15786/1228470/22_Psicotropicos_Estupefac
ientes.pdf. Published 2010. Accessed September 8, 2021.

30. Ministério da Justiça. Decreto-Lei n.o 15/93, de 22 de janeiro. Diário da República


n.o 18/1993, Série I-A de 1993-01-22. https://dre.pt/application/conteudo/585178.
Published 1993. Accessed September 26, 2021.

31. Assembleia da República. Lei n.o 18/2009, de 11 de maio.


https://dre.pt/application/conteudo/608228. Published 2009. Accessed September
26, 2021.

114
32. Ministério da Saúde. Portaria n.o 35/2016, de 1 de março. Diário da República, 1a
série. https://dre.pt/application/conteudo/73736736. Published 2016. Accessed
September 27, 2021.

33. Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral. Declaração de Retificação


n.o 2/2018, de 18 de janeiro. https://dre.pt/application/conteudo/114545476.
Published 2018. Accessed September 27, 2021.

34. Ministério da Saúde. Portaria n.o 15/2018, de 11 de janeiro. Diário da República: I


Série. https://dre.pt/application/conteudo/114509691. Published 2018. Accessed
September 27, 2021.

35. Ministério da Saúde. Portaria n.o 284/2016 de 4 de novembro. Diário da República,


1.a série — N.o 212. https://dre.pt/application/conteudo/75662180. Published 2016.
Accessed September 27, 2021.

36. Ministério da Saúde. Portaria n.o 111/2018, de 26 de Abril. Diário da República, 1.a
série — N.o 81 — 26 de abril de 2018.
https://dre.pt/application/conteudo/115182509. Published 2021. Accessed
September 27, 2021.

37. Ministério da Saúde. Portaria no 92-F/2017, de 3 de março. Diário da República 1a


série. https://dre.pt/application/conteudo/106555618. Published 2017. Accessed
September 27, 2021.

38. Ministério da Saúde. Decreto-Lei n.o 113/2010, de 21 de outubro.


https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-
/search/308098/details/normal?q=dl+113%2F2010. Published 2010. Accessed
September 9, 2021.

39. Ministério da Agricultura do DR e das P. Decreto-Lei n.o 216/2008 - Diário da


República n.o 219/2008, Série I de 2008-11-11. https://dre.pt/web/guest/legislacao-
consolidada/-/lc/156248403/202109091253/73952854/diploma/indice. Published
2021. Accessed September 9, 2021.

40. Ministério da Agricultura do DR e das P. Decreto – Lei n.° 74/2010, de 21 de junho


- Legislação Consolidada. https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-

115
/lc/view?cid=156257018. Published 2021. Accessed September 9, 2021.

41. Levy L, Bértolo H. Manual de Aleitamento Materno. Comité Português para a


UNICEF Comissão Nacional Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés.
https://unicef.pt/media/1581/6-manual-do-aleitamento-materno.pdf. Published
2012. Accessed September 28, 2021.

42. Presidência do Conselho de Ministros. Decreto-Lei n.o 112/2019, de 16 de agosto.


Diário da República. https://dre.pt/application/conteudo/123962150. Published
2019. Accessed September 30, 2021.

43. Ministério da Agricultura do DR e das P. Decreto-Lei n.o 136/2003, de 28 de junho.


https://dre.pt/application/conteudo/693251. Published 2003. Accessed September
29, 2021.

44. Ministério da agricultura DDREDP. Decreto-Lei n.o 296/2007, de 22 de agosto.


Diário da República. https://dre.pt/application/conteudo/640663. Published 2007.
Accessed September 29, 2021.

45. Ministério da agricultura e do mar. Decreto-Lei no 118/2015, de 23 de junho. Diário


da República. https://dre.pt/application/conteudo/67541745. Published 2015.
Accessed September 29, 2021.

46. Ministério da Agricultura do DR e das P. Decreto-lei no 314/2009, de 28 de


outubro. https://dre.pt/application/conteudo/483106. Published 2009. Accessed
September 8, 2021.

47. Ministério da Saúde. Decreto-Lei n.o 145/2009, de 17 de junho de 2009. Diário da


República, 1.a série. https://dre.pt/application/conteudo/494558. Published 2009.
Accessed September 29, 2021.

48. INFARMED IP. Dispositivos médicos na farmácia.


https://www.infarmed.pt/web/infarmed/entidades/dispositivos-
medicos/aquisicao-e-utilizacao/dispositivos_medicos_farmacia. Published 2016.
Accessed September 29, 2021.

49. Ministério da Saúde. Decreto-Lei n.o 75/2016, de 8 de novembro. Diário Républica.


https://dre.pt/application/conteudo/75688299. Published 2016. Accessed
116
September 30, 2021.

50. Ministério da Saúde. Portaria n.o 1429/2007, de 2 de novembro. Diário da


República. https://dre.pt/application/conteudo/629418. Published 2007. Accessed
September 30, 2021.

51. Ministério da Saúde. Portaria n.o 97/2018, de 9 de abril. Diário da República.


https://dre.pt/application/conteudo/115006162. Published 2018. Accessed
September 30, 2021.

52. Ordem dos Farmacêuticos. Norma Geral de Preparação Individualizada de


Medicação.
https://www.ordemfarmaceuticos.pt/fotos/documentos/norma_pim_vfinal_30_n
ge_00_010_02_1834827175bf58d479434f.pdf. Published 2018. Accessed October
1, 2021.

117
118
Anexo I

Tabela 1 - “Psychostimulant drugs for cocaine dependence” Castells et al. 2016

Nº Duração do
Estudo Substância Dose(s) Conclusões
Particip. trat.
● O MDF + terapia comportamental individual foram eficazes no aumento dos dias de abstinência à cocaína em
participantes sem dependência ao álcool e na redução do craving por cocaína;
Anderson 200mg/dia
et al. Modafinil 210 ou 12 semanas ● 200mg/dia originou o maior número de dias consecutivos de abstinência à cocaína e uma tendência de redução do
2009 400mg/dia craving por esta substância;

● 400 mg/dia originou um maior perfil de eventos adversos e descontinuação mais frequente da medicação.
400mg/dia ● Fornecem evidências preliminares de que o MDF melhora o resultado clínico quando combinado com tratamento
(200 ou psicossocial para a dependência à cocaína.
300mg/dia -
Dackis et
Modafinil 62 problemas 8 semanas ● Originou uma proporção significativamente maior de amostras de urina benzoilecgonina-negativas e cumprimento do
al. 2005 objetivo clínico de abstinência prolongada à cocaína.
de
tolerabilida
de) ● Investigações futuras - determinar o potencial do MDF como tratamento de 1ª linha para a dependência à cocaína.
● Não foram encontradas diferenças significativas entre os pacientes tratados com MDF e com PBO. No entanto, houve
uma diferença significativa de gênero (pacientes do sexo masculino tratados com 400 mg/dia tenderam a ser mais
abstinentes do que os seus homólogos tratados com PBO).

●Os resultados negativos podem ser explicados por diferenças de gênero e/ou intensidade inadequada de tratamento
200mg/dia psicossocial, em pacientes com dependência grave à cocaína.
Dackis et
Modafinil 210 ou 8 semanas
al. 2012 ● O MDF não teve um efeito significativo na frequência ou na duração do consumo de cocaína entre pacientes
400mg/dia dependentes da mesma.

● É prematuro descartar este fármaco como um tratamento potencial para a dependência à cocaína.

● Investigações futuras - elucidar um possível efeito de gênero e determinar se o MDF pode beneficiar pacientes
dependentes à cocaína que também estão a receber reabilitação intensiva.
119
● O MDF pode ser um tratamento eficaz para a dependência à cocaína.

● 300 mg/d foi melhor do que o PBO na promoção da abstinência à cocaína, em indivíduos com dependência à cocaína
medida por relato próprio e verificada por testes de benzoilecgonina na urina.

Kampman ● Indivíduos tratados com MDF mostraram-se mais propensos a se autoavaliarem como tendo obtido grandes melhorias e
et al. Modafinil 94 300mg/dia 8 semanas a relatarem os níveis mais baixos de intensidade e duração do craving por cocaína.
2015
● Este fármaco tem eficácia demonstrada no subgrupo de pacientes dependentes de cocaína e sem dependência ao álcool
em três estudos separados, incluindo o estudo atual.

● Investigações futuras - estudo continuado do MDF e de compostos relacionados, para o tratamento da dependência à
cocaína.
● O MDF administrado pela manhã melhorou o sono de ondas lentas (‘slow-wave sleep’) nos consumidores de cocaína
em abstinência que se encontram em regime de internamento; sendo este efeito um mediador estatístico de melhores
12 dias resultados clínicos associados ao tratamento contínuo com MDF. As altas taxas de abstinência alcançadas neste estudo
Morgan (ambiente sugeriram que a promoção da fisiologia do sono saudável num ambiente hospitalar pode ser importante no tratamento
et al. Modafinil 57 400mg/dia hospitalar) + 6 eficaz da dependência à cocaína.
2016 semanas
(ambulatório) ● Investigações futuras - caracterizar a relevância do ambiente de internamento e dos fatores relacionados, como um
horário fixo diurno, para estas descobertas; e identificar melhor os mecanismos responsáveis por melhores resultados
clínicos.
NCT00142
Modafinil 164 400mg/dia 13 semanas Não existe informação sobre a conclusão.
818
5mg+20mg ● Os dois grupos foram equivalentes em termos de retenção (MTP 48% e PBO 42%) e tiveram resultados relativos ao
lib. consumo de cocaína semelhantes (40% de exames de urina positivos para benzoilecgonina).
Grabowsk controlada
i et al. Metilfenidato 24 (manhã) e 11 semanas ● Não houve efeitos adversos significativos.
1997 20mg lib.
controlada ● As doses foram suficientes para permitir a deteção de efeitos adversos e de efeitos psicoativos sem aumentar o
(tarde) craving por cocaína.
● Houve um alívio significativamente maior dos sintomas de PHDA no grupo do MTP. Não houve diferenças de grupo
no consumo de cocaína relatado pelos participantes, nos resultados de análises à urina ou no craving por cocaína. O
MTP melhorou os relatos subjetivos dos sintomas de PHDA e não piorou o consumo de cocaína enquanto os
Schubiner 90mg/dia participantes estavam em tratamento.
et al. Metilfenidato 48 (30mg 12 semanas
2002 3xpdia) ● Em relação à eficácia do MTP para aliviar a sintomatologia de PHDA em adultos dependentes de cocaína, houve uma
tendência de redução dos sintomas no domínio hiperativo-impulsivo.

● Não houve diferenças no consumo de cocaína relatado pelos participantes, na quantia de dinheiro gasta em cocaína ou
120
na frequência de amostras de urina negativas para cocaína entre os dois grupos.

● O consumo de cocaína não aumentou entre aqueles que tomavam MTP (consistente com Grabowski et al. 1997).

● Investigações futuras: estudar a eficácia de medicamentos estimulantes de ação prolongada no tratamento de PHDA em
idade adulta numa população de dependentes de cocaína.

● O MTP pode ser usado com segurança e eficácia para tratar o PHDA numa população de adultos dependentes de
cocaína.
● O MTP SR não mostrou superioridade sobre o PBO no tratamento dos sintomas de PHDA, no entanto, este ensaio
forneceu algumas evidências de que a melhora nos sintomas de PHDA (avaliação clínica) entre os pacientes que
receberam MTP, mas não o PBO, foi associada a uma redução no consumo de cocaína.
1ª 10 a
40mg/dia ● Embora não tenha havido uma melhora substancial na abstinência à cocaína em nenhum dos grupos (MTP e PBO),
(20mg aqueles que receberam MTP tiveram uma probabilidade reduzida de consumo de cocaína ao longo do tempo.
2xpdia;
formulação ● Os resultados agregados relativos à cocaína foram negativos em resposta ao tratamento com MTP. No entanto, quando
padrão); 2º avaliamos os efeitos do tempo decorrido desde o início do tratamento nos consumidores de cocaína, verificamos que o
MTP demonstrou uma vantagem sobre o PBO.
Levin et Metilfenidato 106 40mg/dia
11 semanas
al. 2007 (20mg ● A melhora no consumo de cocaína foi associada a uma melhora nos sintomas de PHDA para aqueles que receberam
2xpdia; SR) MTP.
a 60mg/dia
(40mg ● Em geral, há evidências mínimas com base neste estudo de que o MTP SR oferece uma vantagem sobre o PBO na
manhã e redução dos sintomas de PHDA.
20mg à
noite; SR) ● Investigações futuras: (1) avaliar a utilidade de doses mais altas das formulações de estimulantes de longa duração em
indivíduos dependentes de cocaína com PHDA; (2) avaliar a utilidade destas formulações estimulantes de ação mais longa
em indivíduos dependentes de cocaína recentemente abstinentes e com PHDA, para determinar se estas formulações
fornecem melhorias mais robustas nos sintomas de PHDA e/ou levam a um menor risco de recaída.
● O MTP foi bem tolerado, com taxas de retenção semelhantes em comparação com o PBO.

●Não foi encontrada qualquer diferença nas análises à urina livres de cocaína nos 4 grupos de tratamento.
Dürsteler-
60mg/dia ●O consumo de cocaína relatado pelos participantes foi reduzido em todos os 4 grupos.
MacFarla
Metilfenidato 62 (30mg 12 semanas
nd et al. ●O MTP e a TCCG não proporcionaram uma vantagem sobre o PBO ou o tratamento habitual, na redução do consumo
2xpdia)
2013 ou tratamento da dependência à cocaína, respetivamente. Portanto, não podem ser recomendados como terapias de
substituição para pacientes mantidos com DAM.

●Não houve sinais de benefícios adicionais do MTP e da TCCG.


121
● As diferenças entre os grupos MZD e PBO de: frequência de recaídas, número de dias para ocorrer uma recaída e
consumo de cocaína; não alcançaram significância estatística, mas estavam na direção de um efeito de tratamento. Os
Margolin resultados sugeriram que o ‘estado de início da abstinência’ pode ser uma categoria potencialmente útil para empregar
37 1mg/dia 12 semanas como uma variável independente em futuros ensaios de terapia farmacológica para o tratamento da dependência à
et al. Mazindol
cocaína em pacientes mantidos com metadona.
1995b
● Investigações futuras - investigações do MZD para o tratamento da dependência à cocaína, tanto para o início da
abstinência quanto para a prevenção de recaídas, com grupos definidos de forma mais restrita.
● Os pacientes melhoraram em relação às medidas objetivas (toxicologia da urina) e subjetivas (relato das vezes em
que consumiram, do dinheiro gasto, do craving, etc.). Não houve diferença de resposta entre os pacientes tratados com
MZD e aqueles que receberam PBO.

● O MZD não influenciou significativamente o grau de consumo de cocaína em consumidores primários desta substância e
não influenciou a retenção no tratamento. Portanto, este fármaco não pareceu ser um tratamento promissor para este
Stine et 43 2mg/dia 6 semanas fim.
Mazindol
al. 1995
● Doses mais altas de MZD podem alterar os efeitos da cocaína e ser úteis no tratamento do abuso desta substância. No
entanto, os efeitos comportamentais e fisiológicos de combinações de MZD e cocaína administradas de forma aguda
foram investigados em humanos e mostraram ter efeitos adversos fisiológicos.

● Investigações futuras - os agentes que não causam discinesia tardia, como os neurolépticos, são particularmente
promissores. Por exemplo, os antagonistas dopaminérgicos.
● Os resultados não apoiaram uma diferença entre as duas doses (1mg e 8mg) de MZD na percentagem de exames à
urina positivos para a cocaína. Doses de MZD maiores que 8 mg podem ser necessárias para um efeito bloqueador da
Margolin 8mg/dia e cocaína, no entanto, os potenciais efeitos pressores poderão ser um fator limitante.
17 12 semanas
et al. Mazindol 1mg/dia
1997 ● Investigações futuras - realizar estudos com pacientes internados para determinar se existem esquemas de titulação
que permitam obter doses mais altas de MZD sem precipitar episódios hipertensivos, bem como investigar potenciais
interações adversas entre o MZD em altas doses e a cocaína.

122
● Os resultados não apoiaram a eficácia do MZD na redução do craving e do consumo de cocaína, bem como na
redução dos sintomas psiquiátricos em pacientes esquizofrênicos e esquizoafetivos.
Perry et 6mg/dia (2mg
Mazindol 24 6 semanas
al. 2005 3xpdia) ● O estudo não forneceu evidências claras para apoiar a investigação adicional do MZD como uma terapia farmacológica
adjuvante para o tratamento de pacientes com esquizofrenia ou perturbação esquizoafetiva e abuso ou dependência de
cocaína, em simultâneo.
● Os resultados não mostraram diferenças significativas entre o PBO e a BPA. Análises exploratórias sugeriram um
efeito de medicação para o subconjunto de indivíduos deprimidos no início do estudo. Foi discutida a necessidade de
direcionar subgrupos de consumidores de cocaína (pacientes distímicos ou deprimidos; pacientes com PHDA) em
300mg/dia (1
futuros ensaios de terapia farmacológica e o possível papel da prontidão para com o tratamento.
cp 3xpdia) ou
Margolin 200mg/dia
● Não foram encontradas diferenças significativas entre a BPA e o PBO nas medidas subjetivas ou objetivas do consumo
et al. Bupropiona 149 (1cp 2xpdia - 12 semanas
problemas de
de cocaína.
1995a
tolerabilidade
) ● Investigações futuras: futuros ensaios de terapia farmacológica poderão considerar a avaliação da motivação para a
mudança de comportamento. Os estudos poderão então ter como alvo específico os pacientes motivados ou incluir a
motivação como uma variável preditiva potencial e garantir poder estatístico suficiente para investigar as interações
paciente-tratamento.
● As descobertas sugeriram que a combinação de CM com a BPA para o tratamento da dependência à cocaína pode
melhorar significativamente os resultados em relação à BPA.

Poling et ● Este estudo indicou que a CMB (CM + BPA) é um tratamento eficaz para o abuso de cocaína em populações mantidas
Bupropiona 106 300mg/dia 25 semanas
al. 2006 com metadona.

● Investigações futuras - delinear os mecanismos exatos dos efeitos da BPA e abordar as preocupações em relação à
eficácia a longo prazo e ao custo-benefício da CM.
● Não houve diferenças estatisticamente significativas entre a BPA e o PBO nos resultados de tratamento, incluindo:
medidas agregadas dos resultados da triagem de drogas na urina, retenção de tratamento, classificações de craving por
cocaína e avaliações de sintomas depressivos.
● A BPA não foi mais eficaz do que o PBO no tratamento da dependência à cocaína quando combinada com a TCC padrão,
Shoptaw 300mg/dia o que diminuiu o entusiasmo para o desenvolvimento futuro da BPA como uma terapia farmacológica para a
et al. Bupropiona 70 (150mg 16 semanas dependência à cocaína.
2008 2xpdia)
(Descobertas recentes indicaram um efeito sinérgico entre a BPA e a CM entre pacientes dependentes de cocaína
mantidos com metadona. No entanto, três ensaios randomizados controlados por PBO falharam em produzir pelo menos
um efeito principal estatisticamente significativo, o que diminuiu o entusiasmo para o desenvolvimento futuro deste
medicamento como uma terapia farmacológica para este fim).
Grabowsk Dextroanfeta 15 ou ● A retenção foi melhor para o grupo de 15 a 30 mg. A proporção de triagens de urina positivas para benzoilecgonina
30mg/dia foi, da menor para a maior, de 30 a 60 mg, 15 a 30 mg e PBO no final do estudo. A dosagem deve ser refinada. Os
i et al. mina (d- 128 12 semanas
(10d + 4 resultados forneceram suporte para um exame adicional do modelo agonista no tratamento da dependência a
2001 anfetamina) sem.) e 30 ou psicoestimulantes;

123
60mg/dia (7d
+ 8 sem.) ● Os resultados apontaram para uma melhor retenção e redução do consumo de drogas ilícitas;

● A dose ideal é de 30 a 60 mg para esta preparação;

● Os efeitos cardiovasculares e de humor são mínimos e a D-AFT pode diminuir a responsividade à cocaína. A ausência de
efeitos adversos diminuiu as preocupações; no entanto, o cuidado é essencial;

● Investigações futuras – investigar o modelo, com especial atenção para os critérios: retenção e diminuição do abuso.
● Uma avaliação definitiva da utilidade da D-AFT no tratamento da dependência à cocaína é viável e justificada.

● A amostra do estudo era muito pequena para avaliar com segurança a eficácia da D-AFT em relação ao PBO na redução
Dextroanfeta do consumo de cocaína, dos cravings e dos danos relacionados a esta substância.
Shearer et
mina (d- 30 60mg/dia 14 semanas
al. 2003 ● Os resultados apoiaram a eficácia específica da D-AFT na atenuação do craving por cocaína.
anfetamina

● Investigações futuras - estudos adicionais controlados, e com poder adequado, para avaliar a utilidade da D-AFT no
tratamento da dependência à cocaína.
● Estudo I - a redução no consumo de cocaína foi significativa para a dose de 30/60 mg em comparação com 15/30 mg e
PBO. Estudo II - a metadona reduziu o consumo ilícito de opióides, mas o consumo de cocaína não mudou nos grupos
da RISP ou do PBO. Não houve qualquer interação medicamentosa adversa em nenhum dos estudos. Os resultados
forneceram suporte para o modelo do tipo agonista (D-AFT) no tratamento da dependência à cocaína, mas não para o
tratamento do tipo antagonista (RISP). Estes resultados coincidiram com os relatórios anteriores de anfetaminas ou
15 ou
RISP administradas isoladamente em indivíduos dependentes de cocaína.
30mg/dia
Grabowsk Dextroanfeta
(10d + 4
i et al. mina (d- 94
sem.) e 30 ou
24 semanas ● Uma vez que não houve eventos adversos, sugeriu-se que doses mais altas de metadona e de D-AFT podem ser viáveis e
2004a anfetamina) 60mg/dia (7d
conferir vantagens.
+ 20 sem.)
● Os resultados da D-AFT são melhores do que os de qualquer outro medicamento rigorosamente examinado para o
problema da dependência e abuso de cocaína.

● A evidência que suporta uma estratégia agonista para o tratamento da dependência a psicoestimulantes está a
acumular-se e sugere a viabilidade de seguir o modelo agonista para este efeito.
● A LDX (nova formulação de D-AFT) não reduziu significativamente o consumo de cocaína em comparação com o PBO
na amostra randomizada.
Mooney
Lisdexanfeta ● A LDX foi segura e bem tolerada.
et al. 43 70mg/dia 14 semanas
mina
2015 ● Numa análise restrita, foram observadas algumas evidências para a eficácia superior da LDX na promoção da redução do
consumo de cocaína.

124
● Investigações futuras - a avaliação de doses mais altas de LDX poderá fornecer evidências mais claras da sua eficácia no
tratamento da dependência à cocaína.
● A metanfetamina SR reduziu significativamente o consumo e o craving por cocaína. São necessárias investigações
adicionais para desenvolver e avaliar medicamentos semelhantes aos agonistas que podem tratar eficazmente a
dependência à cocaína.
30mg/dia
Mooney (5mg 6xpdia; ● A preparação SR de metanfetamina foi superior ao PBO e à preparação IR na redução do consumo e do craving por
Metanfetamin IR*) e cocaína.
et al. 82
30mg/dia
8 semanas
a
2009 (30mg ● Uma formulação SR de metanfetamina pode reduzir substancialmente o consumo de cocaína num intervalo de 8
1xpdia; SR*) semanas com supervisão e apoio psicológico.

● Investigações futuras - avaliação adicional de medicamentos monoaminérgicos mistos para o tratamento da


dependência à cocaína, uma vez que a metanfetamina não pode ser defendida como tratamento padrão.
● Os sais de anfetamina mistos XR, em doses robustas, juntamente com TCC, são eficazes para o tratamento
concomitante da PHDA e da PCC, melhorando os sintomas da PHDA e reduzindo o consumo de cocaína. Os dados
sugeriram a importância do rastreamento e do tratamento da PHDA em adultos com PCC.

● Pacientes com PHDA e PCC beneficiam do tratamento com sais de anfetamina mistos XR combinados com TCC;

Sais de ● A exposição a sais de anfetamina mistos XR produz uma redução no consumo de cocaína;
Levin et 60mg/dia e
Anfetamina 139 14 semanas
al. 2015 80mg/dia ● Os sais de anfetamina mistos XR podem ser administrados com segurança a pacientes com PCC.
mistos XR
● Frequentemente, a toma de estimulantes é desaconselhada em indivíduos com PCSs (como por exemplo a PCC), no
entanto, este estudo provou que os pacientes beneficiaram do tratamento com sais de anfetamina mistos XR. Assim, esta
terapia farmacológica deve ser promovida e não proibida, sob condições cuidadosamente monitorizadas.

● Investigações futuras - testar formulações de estimulantes de ação prolongada para outras populações de adultos que
abusam de substâncias e têm PHDA, como aqueles com PCAs ou perturbações por consumo de cannabis.
● A análise dos dados não mostrou um efeito significativo da SLG em relação ao PBO. Este estudo não apoiou um papel
da SLG no tratamento da dependência à cocaína. O contraste deste resultado com os anteriores dados piloto pré-
clínicos e humanos, os quais foram promissores, pode ser devido a fatores associados ao tamanho da amostra, a
características do paciente, à dose ou à pobre validade preditiva dos modelos pré-clínicos.
Elkashef 6mg/24h
et al. Selegilina 300 (adesivo 8 semanas ● A SLG foi bem tolerada pelos participantes. Os metabolitos ativos da SLG oral podem desempenhar um papel mais
2006 transdérmico) importante no tratamento do consumo de estimulantes do que se acreditava antes da realização deste estudo.

● Investigações futuras - investigação da SLG oral num estudo desenhado para avaliar a prevenção de recaídas em
indivíduos que conseguem inicialmente atingir a abstinência do consumo de cocaína ou metanfetamina, com
aconselhamento psicológico eficaz.
125
● Os dados desta investigação preliminar não forneceram evidências para a realização de um estudo mais amplo desta
MDF -
associação para o tratamento da dependência à cocaína.
Modafinil e 400mg/dia;
Schmitz D-AFT -
Dextroanfeta ● Este estudo não encontrou evidências de que a associação MDF + D-AFT tivesse benefícios sobre os medicamentos
et al. 73 60mg/dia; 16 semanas
mina (d- MDF + D-AFT
estimulantes individuais ou o PBO no tratamento da dependência à cocaína. Os participantes que receberam a associação
2012 mostraram uma tendência para o aumento do consumo de cocaína ao longo do tempo, com uma baixa probabilidade
anfetamina) - (200+30)
mg/dia bayesiana de benefício (33%) correspondente. Foram observados melhores resultados nos grupos isolados (PBO e D-AFT)
do que na associação.
● O estudo de triagem de duas fases (Fase I – período de linha de base, 4 semanas; Fase II – período de estudo da
medicação, 12 semanas) demonstrou que elaborar subgrupos de pacientes tendo em conta o estado de abstinência
basal é viável e clinicamente útil para explorar os efeitos das substâncias candidatas, no que diz respeito à cessação do
MDF:400mg/
abuso de cocaína e à prevenção de recaídas.
dia (200mg
2xpdia);
● Ao estratificar para o estado de abstinência de Fase I, os autores encontraram diferenças na resposta ao tratamento
Levodopa-
Modafinil, para a levodopa-carbidopa e para a naltrexona, com ambos os medicamentos a mostrarem benefício em pacientes que
carbidopa:80
Schmitz não eram abstinentes no início do estudo; o mesmo efeito não se verificou em pacientes que alcançaram a abstinência no
Levodopa- 0-200mg/dia
et al. 101 12 semanas início do mesmo. Os resultados da implementação do paradigma de triagem, embora não sejam conclusivos, sugeriram a
carbidopa, (400-100mg
2014 2xpdia);
eficácia da levodopa-carbidopa e da naltrexona para o subgrupo de indivíduos não abstinentes.
Naltrexona
Naltrexona:5
0mg/dia ● Os resultados da triagem não suportaram a eficácia do MDF para o tratamento da dependência à cocaína. A promessa
(25mg de resultados positivos iniciais (Dackis et al. 2005, 2003) foi ofuscada por subsequentes ensaios clínicos negativos
2xpdia) (Anderson et al. 2009; Dackis et al. 2012). As análises post-hoc desses estudos negativos, no entanto, identificaram a
dependência concomitante ao álcool (Anderson et al. 2009) e o gênero (Dackis et al. 2012) como fontes de variabilidade
no resultado do tratamento. Aqui, usando um paradigma claramente definido, apoiado por comparação paralela direta
com dois outros agentes, pode-se estar razoavelmente confiante quanto à descoberta.

126
127

You might also like