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LANDMARQUES

Antonio Onías Neto M I


Grande Inspetor do Rito Moderno

Significado da palavra LANDMARQUE: Origina-se do inglês. LAND: terra,


país, terreno ou território, MARK: marco, sinal, mancha. Em inglês define-se
LANDMARK como lugar conhecido, ou marco de território. Em português diríamos
marca de terreno, estaca, baliza, lindeiro, marco lindeiro, linda, limite territorial.
Vamos encontrar nesse sentido, pela primeira vez, na Bíblia em:
Jó, 24, 2 - “Há os que removem os limites,......”
Deuteronômio, 19,14 - “Não removerás os marcos do teu próximo, os quais teus
antecessores fixaram na tua herança.........”
Deuteronômio, 27,17 - “Maldito aquele que remove os marcos do seu próximo.”
Provérbios, 22, 28 - “Não removas o antigo marco, que teus pais puseram.”
Provérbios, 23, 10 - “Não removas o antigo marco, nem entres nos campos dos
órfãos; ......”
Na Maçonaria, vemos, com o sentido de antigas obrigações, usos, costumes,
tradições, ser empregado pela primeira vez em 1721, na compilação dos Regulamentos
Gerais da Grande Loja de Londres, em seu artigo 39, quando era Grão Mestre nosso
irmão George Payne: “Cada Grande Loja anual tem inerente poder e autoridade para
modificar este Regulamento ou redigir um novo em benefício desta fraternidade, contanto
que sejam mantidos invariáveis os antigos Landmarques....”
No entanto, já em 1723, a Assembléia Geral da Grande Loja da Inglaterra
substitui a palavra “Landmark”, por “RULE” ou seja “REGRA”.
Vejamos como a maioria dos autores maçônica se expressa sobre os
Landmarques:
Albert G. Mackey - “Há diversidade de opiniões entre os tratadistas a respeito da
natureza dos antigos landmarques da Maçonaria: porém o melhor método será limitá-los
aos antigos e universais costumes da Ordem que acabaram por concretizar-se em regras
de ação, ou que se articularam em leis por alguma autoridade competente, e o seria em
tempo tão remoto que não deixou sinal na história.” (Jurisprudence of Freemasonry, e
apresenta sua relação com 25 landmarques)
Albert Pike - “Os princípios fundamentais da antiga Maçonaria Operativa eram
poucos e simples e não se chamavam Landmarques.” (Atas da Veterana Associação
Maçônica, transcritas por T. S. Parvin, onde critica Mackey e no final relaciona 5)
Bernard E. Jones - “Seria impossível, portanto, alguém dogmatizar em matéria
em que a Grande Loja (a da Inglaterra) não fez qualquer pronunciamento, e em que os
Maçons com experiência não podem concordar. Infelizmente existe a tendência de se
usar a palavra “landmark” como um substantivo conveniente para descrever algo que não
tem significado definido.” (Freemasons Guide and Compendium).
George Oliver, Rev. - “A respeito dos landmarques da Maçonaria, alguns se
limitam aos sinais, toques e palavras. Outros incluem as cerimônias de iniciação e
exaltação; os ornamentos, paramentos e jóias da Loja ou seus símbolos característicos.
Outros opinam que a Ordem não tem outros landmarques além de seus segredos
peculiares.” (Dictionary of Symbolic Masonry e apresenta sua relação com 31).

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H. G. Grant - “Não pode considerar-se landmarque da Maçonaria o que não está
estabelecido pelos escritos de nossos pais ou reconhecidas autoridades como regra ou
crença dos Franco-maçons em 1723, ou antes, ou que não esteja aceita como marca.”
(Ancient Landmarks with suporting evidence, e apresenta sua relação com 54)
John W. Simons - “Consideramos como marcas os princípios de ação que
identificam com a forma e essência da Maçonaria, e, que a grande maioria aceita, são
invariáveis e todos os maçons estão obrigados a manter intactos, sob pena de irrevogáveis
sanções.” (Principles of Masonic Jurisprudence, mas apresenta sua relação de 15)
Josiah Drummond - “Tudo quanto podemos saber é que são leis e costumes
existentes desde tempo imemorial. Se há algum uso universal de origem desconhecida, é
um landmarque.” (Maine Masonic Text Book)
Jules Boucher - “Na Maçonaria francesa, a “Liberdade de Pensamento” é um
“landmark” fundamental e, paradoxalmente, este “landmark” não tem limites!” (“La
Symbolique Maçonnique”, pg. 217)
Luke A. Lockwood - “Os landmarks da Maçonaria são aqueles antigos princípios
e práticas que assinalam e distinguem a Maçonaria como tal, e são fonte de
jurisprudência Maçônica.” ( Masonic Law and Practice, apresentando 19 Landmarques)
Oswald Wirth - “Os landmarks são de invenção moderna e seus partidários
jamais conseguiram se por de acordo para fixá-los. Isso não impede que os anglo-saxões
proclamem sagrados esses limites essencialmente flutuantes, que ajustam de acordo com
seus particularismos. Cada Grande Loja fixa-os de acordo com seu modo de compreender
a Maçonaria; a maçonaria é compreendida de modos muitos diferentes, razão das
definições contraditórias, destrutivas da unidade dentro de uma instituição que visa à
concórdia universal.” (Qui est Régulier)
Robert Morris - “Os dogmas invariáveis que a assinalam dão a conhecer e
mantêm os limites da Francomaçonaria.” (Dictionary of Freemasonry e relaciona 17)
W. B. Hextal - “Os antigos landmarques da Francomaçonaria, como todo outro
landmarque material ou simbólico, só se podem manter estáveis quando se apóiam em
seguros fundamentos. Ao se aprofundar o filósofo sobre a pedra em que descansem
descobre que o nosso seguro fundamento é o trino dogma da fraternidade de Deus, a
fraternidade dos homens e a vida futura. Todas as leis, usos, costumes e métodos que não
se apóiem neste dogma básico, serão convenções ou acomodações, porém de modo
algum participarão da natureza dos antigos landmarques.” (Ars Quattuor Coronati,
volume XXV)
Entre os brasileiros nós podemos citar:
Henrique Valadares (Cayru) - “Os landmarques delimitam o que é Maçonaria e
o que não é Maçonaria: o que estiver nos landmarques, ou dentro deles, é Maçonaria
regular; o que estiver fora dos landmarques não é Maçonaria ou é Maçonaria espúria. São
os “limites”. O Livro das Constituições de Anderson refere-se aos “antigos
Landmarques”, que devem ser “respeitados cuidadosamente”.
“Para que uma regra ou norma seja considerada landmarque tem que reunir em si
vários requisitos:
a) antiguidade, isto é, deve existir desde um tempo imemorial. Por isso, se hoje
as Autoridades maçônicas pudessem reunir-se e decretar uma lei universal, esta não seria
absolutamente um landmarque.

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b) espontaneidade e generalidade, isto é, o landmarque não tem autor
conhecido, não se origina de nenhuma autoridade pessoal, só é landmarque todo uso
universal, de origem desconhecida.
c) invariabilidade e irrevogabilidade, isto é, todo landmarque é inalterável.”
(O Aprendiz-Maçom)
Nicola Aslan - “Evidentemente, o problema dos Landmarques continuará sem
solução possível, e de nada irá adiantar a melhor definição ou a melhor compilação
apresentada, porque sempre será um trabalho estabelecido sobre a areia. Como já tivemos
oportunidade de dizer para nós, os Landmarques, e particularmente os de Mackey, que
obtiveram o maior sucesso, representam, ou para melhor dizer, pretenderam representar
dentro da Maçonaria o mesmo papel que as Falsas Decretais desempenharam, outrora,
dentro da Igreja Católica.” (Landmarques e outros problemas Maçônicos)
Vanildo de Senna - “Os Landmarques, na verdade, constituem atualmente,
problema de difícil solução. Tratadistas, jurisconsultos e todos quanto deles se ocuparam
jamais puderam chegar a um acordo no sentido de defini-los, enumerá-los, classificá-los e
interpretá-los.”(Landmarques - Tese, Antítese e Síntese)
Se formos verificar a relação dos Landmarques existentes observaremos a
diversidade dos mesmos, quase todos levantados por Virgílio A. Lasca e alguns por nós
constatados:
São somente 3 para Alexandre S. Bacon e Chetwood Crawley;
5 para Albert Pike e Morivalde Calvet Fagundes;
6 para Jean Pierre Berthelon e para a Grande Loja de Nova York, tomando por
base os capítulos em que se dividem as Constituições de Anderson.
7 para Roscoe Pound e o cubano Carlos f. Betancourt, adotados pela Grande Loja
de Virgínia;
8 para a Grande Loja de Massachusetts, repetindo a relação de Mackey, apenas
diminuindo-lhe a numeração;
9 para J. G. Findel;
10 para a Grande Loja de Nova Jersey;
12 para A. S. MacBride;
14 para Joaquim Gervásio de Figueiredo;
15 para John W. Simons adotados pela Grande Loja de Tennessee;
17 para Robert Morris;
19 para Luke A. Lockwood adotados pela Grande Loja de Connecticut;
20 para a Grande Loja Ocidental da Colômbia;
25 para Albert G. Mackey e Chalmers I. Paton;
26 para a Grande Loja de Minnesota;
29 para Henri A. Lecerff;
31 para o Rev. George Oliver;
54 para H. G. Grant adotados pela Grande Loja de Kentucky.
Por seu lado, a Grande Loja Unida da Inglaterra, embora não chame de
Landmarque, fixa 8 condições sem as quais não reconhece um outro Corpo Maçônico.
Como vemos cada Grande Loja adota uma compilação, e cada estudioso do
assunto acrescenta mais uma.
Não cansaremos os leitores com a transcrição de todas elas, nos restringiremos a
citar textualmente a de Findel, que é aceita pela maioria das Lojas do Rito Moderno, e
comentaremos item por item a de Mackey, endeusada pela maioria dos Maçons

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brasileiros, inclusive faltando com a verdade ou a transcrevendo ora com a supressão, ora
alterando-lhe o conteúdo, com a intenção de não ferir susceptibilidade de alguns ou de
conseguir mais adeptos.

Compilação de Findel

1.- A obrigação de cada Maçom professar a religião universal em que todos os


homens de bem concordam. (Praticamente transcrevendo as Constituições de
Anderson)
2.- Não existem na Ordem diferenças de nascimento, raça, cor, nacionalidade, credo
religioso ou político.
3.- Cada Iniciado torna-se membro da Fraternidade Universal, com pleno direito de
visitar outras Lojas.
4.- Para ser Iniciado é necessário ser homem livre e de bons costumes, ter liberdade
espiritual, cultura geral e ser maior de idade.
5.- A igualdade dos Maçons em Loja.
6.- A obrigatoriedade de solucionar todas as divergências entre os Maçons dentro da
Fraternidade. (Como eu gostaria que isso se tornasse realidade)
7.- Os mandamentos da concórdia, amor fraternal e tolerância; proibição de levar
para a Ordem discussões sobre assuntos de religião e política.
8.- O sigilo sobre os assuntos ritualísticos e os conhecimentos havidos na Iniciação.
9.- O direito de cada Maçom colaborar na legislação maçônica, o direito de voto e o
de ser representado no Alto Corpo.

Classificação de Mackey

1.- Os meios de reconhecimento.


Ora, os modos de reconhecimento na maçonaria nem sempre foram os mesmos. A
princípio todos os sinais eram dados assim que os Aprendizes eram iniciados. As
palavras de passe e sagrada são diferentes nos diferentes Ritos. A palavra que
substituir a palavra perdida é diferente nos diversos ritos, e os sinais e toque também o
são. Portanto a existência dos meios de reconhecimento são um landmarque, mas não
cada um deles em si.

2.- A divisão da Maçonaria em 3 graus.


Sabemos que antes de 1717, quando da fundação da primeira Grande Loja, só
havia dois graus na Maçonaria. O grau de Mestre só foi criado em 1725 e
institucionalizado em 1738, e considerado regra pela Grande Loja em 1813. Se um
landmarque deve ser imemorial, este não poderia ser um.

3.- A Lenda do 3º Grau.


Somente após a criação do grau de Mestre é que foi criada esta Lenda. Portanto
não é imemorial. E, outra, o Herói da Lenda é diferente nos Ritos Hiramitas e
Adonhiramitas. A estrutura da Lenda também.

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4.- O governo da Fraternidade deve ser exercido por um Oficial denominado Grão
Mestre, eleito por todo o povo Maçônico.
A criação do cargo de Grão Mestre de uma Potência, conforme entendemos hoje,
só foi acontecer após a fundação da Grande Loja da Inglaterra. Anteriormente, o nome
Grão Mestre era também utilizado para Veneráveis de Lojas, e não de toda a
Fraternidade.

5.- A prerrogativa do Grão Mestre de presidir toda reunião maçônica, onde e


quando se realize.
A objeção é mesma que a anterior, só depois da criação de um Alto Corpo,
reunindo maçons de todas as Lojas é que houve o que seria o cargo atual de Grão
Mestre.

6.- A prerrogativa do Grão Mestre de conceder licença de conferir graus em tempo


anormais, com dispensa dos prazos.
Repetimos a mesma alegação dos anteriores itens.

7.- A prerrogativa que tem o Grão Mestre de autorizar fundação e manutenção de


Lojas Maçônicas.
Anteriormente, as Lojas eram fundadas por decisão dos Maçons, sem influência
estranha. Era o lema “Maçom livre em Loja livre”. A prática das cartas constitutivas
é recente.

8.- A prerrogativa do Grão Mestre de “fazer maçons à vista”, ou seja, reunindo


determinado número de Irmãos poder iniciar sem que sejam necessárias
sindicâncias, provas ou o que mais seja da iniciação.
Isso já foi feito no Brasil, infelizmente, com drásticas consequências.
Como se vê, os chamados landmarques, do 4º ao 8º, são regras que cabem mais
num estatuto, numa constituição, podendo ser alterados por decisão do povo
Maçônico, como já o foram.

9.- A necessidade dos Maçons de se congregarem em Loja.


Finalmente, encontramos uma afirmativa que efetivamente é um “landmark”, na
concepção de seus definidores. Desde que concebeu a Maçonaria os seus membros se
reúnem em organismos denominados Lojas.

10.- O governo da Fraternidade, quando reunida em Loja, deve ser exercido por um
Venerável e dois Vigilantes.
Este é efetivamente um landmarque, pois desde tempos imemoriais, mesmo
quando não havia os graus, as Lojas eram presididas por um Presidente e dois Vice-
Presidentes, escolhidos entre seus membros.

11.- A necessidade de uma Loja, quando reunida, estar resguardada ou coberta.


O sigilo maçônico assim o exige, eis outra regra definitiva.

12.- O direito de todo Maçom se fazer representar nas reuniões gerais da


Fraternidade, e de instruir seus representantes.

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Anteriormente os Maçons (aprendizes ou companheiros) compareciam
pessoalmente às reuniões do povo Maçônico, mas não podiam ser representados. O
direito de representação foi criado posteriormente, e é diferente conforme a legislação da
Obediência, quer seja Grande Loja ou Grande Oriente. Em uma os representantes são o
Venerável e os Vigilantes, e no outro é o deputado.

13.- O direito de recurso de cada Maçom perante a Grande Loja ou Assembléia


Geral.
Nos primórdios da Maçonaria Especulativa não existia esse direito de recorrer da
decisão de uma Loja a que pertencesse o Maçom, pois a Loja era livre e não filiada a
nenhum Alto Corpo. E, atualmente, por exemplo, no Grande Oriente existe um Órgão
Judiciário específico para decidir recurso de Maçom.

14.- O direito de todo Maçom visitar e tomar assento em qualquer Loja.


Tentem visitar uma Loja inglesa. Antes do atual Tratado da Grande Loja com o
Grande Oriente houve Irmãos barrados em Loja da Grande Loja. E, por outro lado,
qualquer membro de uma Loja pode vetar a entrada de um visitante. A regra citada
deveria ser válida, mas infelizmente não o é.

15.- Nenhum visitante, desconhecido dos Irmãos de uma Loja, pode ser admitido à
visita, sem que, antes de tudo, seja examinado, conforme os antigos costumes.
Seria no caso o inverso do landmarque anterior, no entanto, como a maioria não
conhece os toques, os sinais e as palavras de outros Ritos, é de fato não cumprido. Já ouvi
Vigilante dizer que “batem irregularmente à porta do templo”, quando ouve as baterias de
outro Rito que não o seu.

16.- Nenhuma Loja pode intrometer-se em assuntos que digam a outra, nem
conferir graus a Irmãos de outros quadros.
Em tese, é verdadeiro, no entanto, um visitante pode votar contra o ingresso de
um profano em uma Loja, o que é uma certa forma de se imiscuir em assuntos de
outra, e isto jamais foi proibido nem poderia sê-lo. Quanto a conferir graus, pode,
desde que por delegação da Loja de origem do Irmão.

17.- Todo Maçom está sujeito às leis e aos regulamentos da Jurisdição Maçônica em
que reside, mesmo não sendo membro de qualquer Loja.
Outra afirmação que, em tese, é de aceitar, posto que não se filiar já seria uma
infração maçônica, no entanto, a residência temporária está sendo considerada?
Poderia a Obediência regional obrigar o Maçom designado a prestar serviços por
tempo determinado em outro país, ou região, a filiar-se à sua Jurisdição sob a ameaça
de infringir um landmarque?

18.- Todo candidato à iniciação deve ser homem livre de nascimento, não mutilado
ou isento de defeitos físicos e maior de idade.
Que maioridade? Civil, eleitoral ou criminal? Os lowtons, em nossa legislação,
têm direitos especiais quanto à idade.
O escravo liberto ou o filho de escravo não poderia ser iniciado? No Brasil o
foram.

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Quando se impunha a iniciação apenas dos homens as mulheres eram submissas,
em todo sentido. O são agora? Atualmente, há algumas que são mais livres que alguns
homens. E mais capazes.
A higidez exigida é efetivamente total, no entanto, conhecemos diversos Irmãos
mutilados; já soubemos de casos históricos de cegos iniciados, a própria Constituição
exige, atualmente, que a higidez lhe dê condições de praticar todos os atos ritualísticos.
Seria essa exigência atual? E o avanço no campo das próteses? Permanece este
landmarque por séculos, como se exige.

19.- Que todo Maçom deve crer na existência de Deus como Grande Arquiteto do
Universo.
Não seria a exigência um dogma, que fere os princípios Maçônicos? A Maçonaria
tem princípios, não dogmas. Anderson falava em religião universal, não definia no que
deve crer. A Grande Loja Unida da Inglaterra chega a exigir uma religião monoteísta,
como ficariam os panteístas e os politeístas, de diversas facções. Eles são religiosos.
Houve época em que algumas Lojas exigiam a crença no dogma da Trindade. Quando se
pretendeu fixar esta afirmativa como landmarque, sequer se conheciam todos os tipos de
crenças existentes no planeta. Só é permitido ser Maçom se for de origem judaico-
muçulmano-cristão? Onde a liberdade de crença? Onde a exclusão do preconceito
religioso?
Melhor seria falarmos na crença, na aceitação de um Princípio Criador, que
abrangeria melhor todas as possíveis formas de credos, conforme consta da Constituição
do Grande Oriente do Brasil.

20.- Subsidiária à crença em Deus, a crença em uma vida futura, na imortalidade da


alma e na ressurreição.
Vemos que alguns landmarques, como o de Pound, que prefere falar em
“imutação da personalidade”, no lugar de imortalidade.
A maior parte dos autores brasileiros (por má fé?) esconde que Mackey cita a
crença na ressurreição, que fere grande parte dos maçons brasileiros, que crêem na
reencarnação e não na ressurreição. Toda afirmativa dogmática colocada como
landmarque é um perigo para a liberdade de pensamento, fundamento da Ordem.

21.- A existência do “Livro da Lei”, como ornamento indispensável em uma Loja.


Em primeiro lugar, há de se observar que não existia antigamente a exigência de
qualquer livro, religioso ou não, como ornamento das Lojas, basta consultar nos diversos
rituais antigos a inexistência do livro no compromisso dos iniciados. Os autores
brasileiros exageram, ainda mais, dizendo que o landmarque fala em “livro da lei que
deve conter a verdade revelada pelo grande Arquiteto do Universo”, e algumas Grandes
Lojas, ainda, citam especificamente a Bíblia. Ora, onde a liberdade religiosa? Onde a
liberdade de pensamento?
Fala Mackey em religião do país, é incrível depois das Constituições de Anderson
falar-se que deve ter a religião do país. Ninguém pode ter outra religião senão a religião
da maioria??!!
Falar em Velho Testamento para os judeus? O livro sagrado do Judaísmo não é
todo o Velho Testamento, mas apenas o Pentateuco ou Torá. No Brasil nós temos
religiões (não só no Brasil), que não têm livro sagrado, pois toda tradição religiosa é oral

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(Candomblé, Umbanda, Pajelança, etc.). Quem não entende de outra religião senão a sua,
quando entende; quem nunca estudou outras religiões, como pode falar desta ou daquela
religião?
Nós mantemos presente um Livro Sagrado em virtude do Tratado que existe com
a Grande Loja Unida da Inglaterra.

22.- Que todos os homens são iguais perante Deus e que na Loja se encontram no
mesmo nível.
Em primeiro lugar, muda-se a redação de Mackey, que diz simplesmente a
igualdade de todos os Maçons.
Mas não há dúvida que a igualdade dos Maçons em Loja é um landmarque, desde
que obedecida a hierarquia e os graus, portanto a igualdade não é tão absoluta. A grande
verdade é que o Maçom não goza dos privilégios e prerrogativas que possam gozar no
mundo profano.

23.- Que a Maçonaria é uma sociedade secreta de posse de segredos que não podem
ser divulgados.
Por que será que nossos Irmãos alteram a redação dos landmarques de Mackey,
será que é porque não podem sustentá-los na forma que são, mas pretendem endeusá-
los?
Ora, a Maçonaria não é uma sociedade secreta, só o sendo nos países onde a
liberdade de associação não é permitida. Nem em Cuba comunista.
Ela tem seus estatutos registrados e sede conhecida. Ela é, isto sim, uma
sociedade sigilosa, que tem seus segredos, como muitas outras sociedades civis e
religiosas. O que existe na Maçonaria é o sigilo que seus membros devem guardar dos
conhecimentos havidos pela iniciação
Se segredo existe é aquilo que é tratado dentro de Loja, o, que infelizmente não
acontece.

24.- A Maçonaria consiste em uma ciência especulativa fundada numa arte


operativa.
Definir a Maçonaria como ciência é absolutamente anticientífico, em nenhum
conceito de ciência cabe admitir a Maçonaria como uma delas. A Maçonaria incentiva o
estudo da ciência, incentiva a prática das artes, mas não é nenhuma nem outra. A
afirmativa não é um landmarque, e ainda mais, é uma inverdade.

25.- Os landmarques da Maçonaria são inalteráveis. ”Nolumus legem mutari”


É muita veleidade, no mínimo, afirmar que os landmarques que Mackey relaciona
são inalteráveis. Não há dúvida que devem existir princípios fundamentais (e existem),
mas relacioná-los, afirmá-los como verdadeiros, porque por si escolhidos, é pretender se
tornar um Papa da Ordem.
Alguns Irmãos chegam à infantilidade de faltar com a verdade na defesa desses
landmarques, como nosso querido Irmão Rizzardo da Camino, quando afirma: “Coube a
Inglaterra reunir esses landmarques e apresentá-los à maçonaria moderna...” e cita os
landmarques de Mackey. Ora, a Inglaterra, tanto no tempo, da Grande Loja da Inglaterra
e Grande Loja de York, como depois da união, formando em 1813 a Grande Loja Unida
da Inglaterra, nunca fixou ou compilou uma relação como verdadeira, como legítima. Ela

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considera que os Antigos Deveres contidos nas Constituições de Anderson, em sua
primeira edição, alterada posteriormente por ela, são a lei fundamental onde constam os
princípios vitais da Maçonaria Moderna.
O que Inglaterra fez foi listar “oito pontos”, que exige de outras Obediências para
reconhecê-las como Corpo Maçônico regular.
Nos Estados Unidos, onde existem os maiores defensores dos landmarques, é
onde existe a maior variedade de relações e compilações, cada Grande Loja lista os seus e
os considera como os verdadeiros e inalteráveis.
Os landmarques relacionados por Mackey tiveram como um de seus maiores
críticos Albert Pike, que foi Soberano Grande Comendador da Jurisdição Sul do Rito
Escocês Antigo e Aceito nos Estados Unidos, do qual Mackey foi Grande Secretário
Geral.
No Brasil, chegou a constar da Constituição dos Grandes Orientes. Felizmente,
quando estávamos no Grande Oriente de São Paulo, dissidente, atual Grande Oriente
Paulista, em 1982, conseguimos excluí-lo. E, no Grande Oriente do Brasil foi escoimado
de sua Constituição em sua última reforma, em 1991, onde consta atualmente a exigência
dos landmarques, mas sem citar qualquer deles, ficando a cargo da Loja ou do Rito
escolher qual deles adotar.
Efetivamente, o problema dos landmarques é insolúvel, porque a maioria pretende
tornar a Maçonaria, a seu modo, num grupo dogmático em que só a sua vontade seja
válida, pretende infirmar princípios fundamentais na Maçonaria que são a Busca
Constante da Verdade, a Liberdade Absoluta de Pensamento.

Antonio Onías Neto M I

LANDMARQUES – UMA TESE – A.O. FLS 9

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