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ul A FILOSOFIA DE CRISTO “Jesasnasceujudeu, morreajudeue €evidente que,enquanto foivivo, sempre se considerou um judeu que pregava essencialmente ajudeus, [Nem os seus adverstios, nem mesmo os seus diseipaloscolacacsm em ‘ane esta pertenga a um povo, 2 uma rligo, Para os Romanos, ainda _que sempre rena recusado um tal ntulo, ele € aquele que se proclama sreidos judeus: este alii, o motivo soficial para Plats oterconde- _axlod mortee que seencontravainscito no fitarcolocado sobre actu ‘vangelho de Sa0 Marcos, 15: 26). Para os Judeus, ee é am dos viios seformadoresqueapareceeamna partir dacpocadas Macebeus,noséculo i antes da nossa era, quando o Judasmo se vi perante a obrigacio de se renova pata contratiar os avangos e 0s sucessos do pensamento greg0, ‘ogual ina chegaco-a0 Oriente por volta do ano 330 antes da nossacre, jumamente com os exéritos de Alexandre, oGnund eque era ostentado parirde Alexandkia pelos Ptolomens ¢, depois, por Roma, que concuis- a regio no século 1, Judeus esses que tentam renovar a sua tradigao, tas que ficam fascinacos com o pensamento dos Gregos, euja lingea _—tprendem ecujas escols passa frequeatat, [Napoca de Cristo, nllo existe uma ortodoxi judaica, mas sim uma ‘muhiplckdade de grupos dstintos ervais que reivindicavam para i, cada fama sua maneita, Iavé ea Biblia. Jesus poderia rer sido apenas mais wm Rent Gia opr sod ois conversa co Mata Sa Bb Hachete Linares Ps 201,108. © ered vitae danas ne Mend: eb dragon ea nob adieu de Laie Masques, Bayar, 208,157 ‘com 0 coatexto cultural da suaépoc, ela é, em todo 0 exs0, 0 principio cessencial, a peer angular que sustenta 0 conjunto dos ensinamentos de Cristo eque define eino de Deus, 2 sociedade nova porele proclams.- he cuja edificacio jf comecou, aqui agora, ‘Para conseguir fazer com que os seus intelocutores compreender. semaimpostinciaea radialidade dos seus ensinamentos,Jesusexprime cesta igualdade colocando A frente todos os pobres, os enfermos e os ceeluidos, o nferioresy do seu tempo, Atra-secom veeméncia is pit- cas diseriminatSriasdos eseribase dos farseus, que wfecham aos omens ‘oReino dos Céuss (Evangelho de io Mateus, 25:13), Aswapoliicaigua- lisse intinge as normassociais da pace e, até mesmo, a Lei moisaica, quando recuss a distingio entre 0s putos eos impuros; quando vista (08 leprosos, os publicanos eas prostitutas, quando se dig As criangas {que 05 seus discipulos,respeitosos,tentam afastar dele; quando aceita pagios por entre os seus fs, como, por exemplo, o centurifo romano ‘de Cafarnauim, do qual diz, comadmiracio: «Em ninguém encontreiuma {al é em Iseacls(Evangelho de Sio Mateus 8:10) ‘Cristo abole as diferengas igadas dade, ao estarato, 0 Sexo, per tenga nic. Interess-se apenas pela pessoa, crada por Deus deseada por Ele porsimesma. A sus concepeio daalteridade€,entio,evolucio- ‘iia: oro, quem quer que ele seja,€omeu yproximon. Aumdiscipulo _quelhe pede para explictarestpalavta, Jesus eesponde pormeio da pars ‘bola do samaritano, somado de piedade por um deseonhecido abando- ‘nado i beira de uma estada por handidos que o despojatam de todos os bbensequeodeisaram aliparamorzer-O saceedote eo levtadesviaram-se do infeliz, O samartano, ainda que seja considesado pelos Judeus como ‘um estrangeiro, um imparo, pra’ frente do desconhecido, tat-he dis feridasecondu-Io para um albergue para lhe prover alas suas necessida- ces «Qual destes tr te parece te sido 0 préximo daquele homem que ‘aia nas mios dos steadores?y,inerroga Jesus. W que usou de mises ‘céndia para com eles, responde-the o seu interlocutor. «Vai e faz ta tam- ‘bém o mesmon, ordens-Ihe Jesus vangelho de Sio Lucas: 10, 29-37}. Paolo resumini esta revolugio por meio da seguimte proclamasao: «No Ini judew nem grego; nao hi esezavo nem livre; nfo hé homer e raulher, ‘porque todos sois um s6em Cristo Jesus» (Carta aos Galata: 3, 28). (Ospeimeiroscrstioscolocam imesiatamenteem pritcao principio dn igualdade de todos perante Deus, abolindo as hierarquias aquando. as reeigdes comunse, depois, das encaristias, nas quis pobees eis, indigentesenotives, patcipam ado a ado, imesma mest Aigoaldade universal imporse-i com a formaco das comunidades mistas, quando sma mesma dignidade for reconhecida pelos crentes de arigem judaicae pag No século 1, Sao JesGnimo resume assim a igualdade, snal da wai ‘ddade da natureza de todos os homens: «Aquele que desprezamor, cua presenga nfo conseguimos suportar,cuja visio $6 de s nos faz vomit, semelhante 1 més € absolusamente consicaido peln mesma argla que 6s, € composto pelos mesmos elementos, Tada aquilo que ele softe também ads podereros softer A LIBERDADE DO INDIViDUO A liberdade individual € uma dimensio fundamental dos ensina- ‘mentos de Jesus eesti ligada vig pessoal de salvagio por ele proposta, Recusando wideiscle um determinismo oudeum destino fisado apron, Jesus firma que cada um de 96s pode tragat © sew prdiptio caminho, ‘siraro argucito da [nossa vista» para ver melhor (Evangelho de S30 LLocas, 642), ou, pelo contriio, reeussr a soa palavra: «Entra pela porta esreita: porque large éa porta eespagoso ocaminho que conduz digo, e muitos s20 0s que seguem por le, Como & estritaa porta cequito apertado é 0 caminho que condaz A vida, ¢ como sio paucos 19s que o encontram!> (Evangelho de Séo Mateus, 7: 13-14), Valotiza, sno contexto de todos os seus ensinamentos, a liberdade de escotha do individuo. Nenhuma fatalidade ou determinacio pode alterar a pos- sibildade de se fazer certasescolhas fundamentas. Jesus ilo nega, or essa razdo, que possam exist falhas interiores,condicionamen- ‘os psiquicos que constitam urs entrave 4 berdade dos individuos, E por esta azo, dois mil anos antes da descaberta do inconseiente por Freud, que ele profere esta ase falgurante: “Nao julguei (Evangelho 4 Sic Mateus, 7:1), Mus tarobém entende mostear que a grandeza do sca 6 aso so ser humano consiste em ter, no fando de si proprio, mais ou menos alterada, estaliberdade de escalha, ‘Numambiemte oade todaa gente se encontra fa pels suas origens nica, soca eligiosas ou familiares Jesus pede aqueles que o quetem seguir que comecem por quebrar tis elos. Tal como aigualdade de todos ‘os seres hamanos, sto 6 igualmente uma revolueo eo aleance mal con- seguimos medis hoje em dia. As sociedades ansgas funcionavam de acor- do com a antoridade da tradicto, o primado do grupo sobre o individuo E, ainda, uma particularidade de todas as sociedades tadicionais. Ora, Jesus eatende emaciar o individuo relasvamente ao grupo, comesande pelos lagos mais fortes os lgos familiares, Como jt vimos, ee prprio se Hibertou da ffi do cli exige que os seus discipulosfacam o mesmo: «Quem amaroppaiovariemaisdo queamim, aio €digno de mim, Quem smaro fi ou fla ais do quea mim, no é digno de min (Evangetho ‘deSio Mateus, 10:37; Evangelho deo Lucas, 14:26) Também i hes: ‘uemericarceras cists que tradicio ensing apelandoacadacrenteque ‘opereum disceenimentocrtico.No seu Sermo da Montana (Evangelho de Sio Mateus, 5:7), Jesus opSe-se em certs pontos lei dos Antigos, on {sa imerpretagio, eprofere palavrs bastante duras contr a hipoctisia «eligoss Substituia edo tlio pelada mao estendide,2oamorpelo pré- imo aerescenta 0 amor pelo inimigo.Insurge-se contra a ostentacio na stimade dos relgiososeapel, pelo contest, origio no secolhimento, Jesus subvertenadicalmente a hieraequia socal. Chegou até a dixgi- -teprioitaiamente& vatsaia-miida» que a cultura da sua época, tanto judaice quanto greco-romana, considerava refeactita is coisas do pen- samento, inapazes de apreender sozinhos as vias da sabedoria, como fariam as classes mais educadas dos sacesdotes, dos doutores da Lei ow dos notiveis. Or, para ele, no existe qualquer aera mididax: apenas cexistem pessoas aptas, quaisquer que sejam as suas condigdes de vida, ‘escolher 0 exminho certo, Na medida em que roda a gente €expaz de dliscetnimento, ele postulaa substitucSo dos imperativos das regras reli siosas pré-csabelecidas pela responsabilizagio do individuos 0 aquilo {que entra pela boca que tora. homem impuros 0 que sida boea é que torna 0 homem impuro» (Evangelho de Sio Mateus, 15:11), diz ele ‘opondoas rigid les de purezalimentaris leis ainda mais exigentes,de uma ica pessoal. A lei de Jesus transcende ss narmasiligiosasesociis ‘em beneficio deum apelo &consciéncia individual Allis Jesus receia a siqueza e considera que a verdadeira liberdade passa pelo desprendimento face aos bens terrestres ¢ aos atibatos do poder: «Pois, quem quisersalvarasia vida de perdé-las mas, quemper-

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