You are on page 1of 143

Fundação Oswaldo Cruz

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães


Departamento de Saúde Coletiva

Mestrado em Saúde Pública

PERFIL DA CLIENTELA DA EMERGÊNCIA DO


HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO. UMA ANÁLISE DOS
POSSÍVEIS IMPACTOS APÓS A MUNICIPALIZAÇÃO
DOS SERVIÇOS DE SAÚDE.

BETISE MERY ALENCAR SOUSA MACAU FURTADO

Recife
2003
BETISE MERY ALENCAR SOUSA MACAU FURTADO

PERFIL DA CLIENTELA DA EMERGÊNCIA DO HOSPITAL DA


RESTAURAÇÃO. UMA ANÁLISE DOS POSSÍVEIS IMPACTOS
APÓS A MUNICIPALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE.

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Curso de


Mestrado em Saúde Pública do Departamento de Saúde
Coletiva - NESC/CPqAM/FIOCRUZ, e aprovada como
requisito parcial para obtenção do grau de mestre em
Saúde Pública.

Orientador:
Prof. Dr. José Luiz do Amaral C. Araújo Júnior

Co-Orientadora:
Profª. Paulleti Cavalcanti

RECIFE
2003
Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

614.88
F992p Furtado, Betise Mery Alencar Sousa Macau Furtado.
Perfil da clientela da emergência do Hospital da
Restauração: uma análise dos possíveis impactos após a
municipalização dos serviços de saúde / Betise Mery
Alencar Sousa Macau Furtado. — Recife: B. M. A. S.
de M. Furtado, 2003.
127 p. : il., tabs.

Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) —


Departamento de Saúde Pública, Fundação Oswaldo
Cruz, 2003.
Orientador: José Luiz do Amaral C. de Araújo Júnior.
Co-orientador: Paulleti Cavalcanti.

1. Serviços de saúde de emergência. 2. Necessidades


e demanda de serviços de saúde. 3. Hospitais de
emergência. 4. Programa de saúde da família. 5.
Descentralização. 6. Avaliação de programas. I. Araújo
Júnior, José Luiz do Amaral C. de. II. Cavalcanti,
Paulleti. III. Título.

CDU 614.88
BETISE MERY ALENCAR SOUSA MACAU FURTADO

PERFIL DA CLIENTELA DA EMERGÊNCIA DO HOSPITAL DA


RESTAURAÇÃO. UMA ANÁLISE DOS POSSÍVEIS IMPACTOS
APÓS A MUNICIPALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE.

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do


Curso de Mestrado em Saúde Pública do
Departamento de Saúde Coletiva - NESC/CPqAM /
FIOCRUZ, e aprovada como requisito parcial para
Obtenção do grau mestre em Saúde Pública.

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Luiz Oscar Cardoso Ferreira


UPE

Prof. Dr. Eduardo M.Freese de Carva


CpqAM/FIOCRUZ
Dedico este trabalho a meus três amores,
Hernani,
Clarissa e Lívia.
AGRADECIMENTOS

Ao Professor José Luiz Araújo, meu orientador, pela atenção e compreensão no


desenvolvimento deste trabalho;

A Paulleti Cavalcanti, minha co-orientadora, pelo acompanhamento do trabalho desde a fase


do projeto;

À Diretoria do Hospital da Restauração, pela liberação incondicional do campo de pesquisa e


aos funcionários do SAME, pela boa vontade em colaborar;

Ao Departamento de Enfermagem do Hospital da Restauração e do Hospital do Exército, pelo


entendimento acerca da importância do trabalho;

À Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças - FENSG/UPE, pelo total apoio
oferecido;

Ao Professor Djalma Agripino de Melo Filho, pela valiosa colaboração oferecida, sempre que
solicitado;

Ao Professor Wayner Vieira de Souza, pelo apoio na parte de estatística, e a Ulisses


Montarroyos, pela colaboração na elaboração de gráficos e tabelas;

À equipe de médicos especialistas em emergências e traumas do Hospital da Restauração,


pelo apoio oferecido, sempre que solicitado;

Aos colegas do Mestrado, pela alegria do convívio e cumplicidade na finalização desta etapa
de nossa vida;

Ao NESC, pelo apoio oferecido, com respeito e responsabilidade.


“Questão de cultura”

“O Hospital da Restauração tem sido a dor de cabeça de todos os governadores.


Trata-se de um saco sem fundo. Os investimentos têm sido elevados ao
longo das últimas décadas, mas a demanda crescente causa fadiga do material e atravanca o
espaço. O número de médicos e auxiliares acaba por se tornar
insuficiente. No momento , é de justiça dizer: o HR não merece reparos. O equipamento é moderno, as
instalações estão limpas e o atendimento é de bom nível. Ocorre, que o povo procura o HR até para um curativo.
E, assim , o hospital volta a se deteriorar. É preciso uma campanha publicitária vigorosa para mudar este hábito.
Os postos e policlínicas podem atender e desafogar o HR”.

Jornal do Commércio. OPINIÃO. Repórter JC, abril 2002.


APRESENTAÇÃO

A motivação que ensejou a realização deste estudo surgiu da necessidade sentida na atuação
enquanto profissional na emergência do hospital em estudo, como também em decorrência da
experiência na gestão de um departamento desta instituição, o que gerou angústias diárias ao
ver o sofrimento dos pacientes e da equipe de trabalho, muitas vezes sem ter como visualizar
soluções para os problemas surgidos, devido principalmente à grande lotação que esta
emergência vive, além de cada um dar o “diagnóstico” mais apropriado para a situação, tanto
do ponto de vista da solução, como do ponto de vista da causa do problema. Desta complexa
variedade de situações, vivências e problemas nasceu uma forte motivação para conhecer a
clientela-alvo deste serviço e as causas que a fazem demandar o hospital.

Teve primordial importância, no despertar desta escolha, o desejo de refletir sobre tão
complexa problemática à luz de conceitos, métodos e técnicas, utilizando inclusive os
conhecimentos aprimorados no Mestrado e, como compensação adicional, atendendo um de
seus requisitos. Acrescente-se ainda a discussão de grande valia com a co-orientadora deste
estudo, para definição do tema, como também a contribuição do orientador, fundamental para
que o estudo tivesse uma maior abrangência e não se restringisse ao âmbito do Hospital da
Restauração.

Este estudo teve como objetivo conhecer o perfil da demanda da emergência de adultos do
Hospital da Restauração, em três anos, 1993, 1997 e 2001, correlacionando-os e tentando
estabelecer uma correspondência com o processo de municipalização ocorrido na cidade do
Recife e Região Metropolitana, a fim de avaliar possíveis impactos no perfil da demanda após
a implantação deste processo.

O esquema de trabalho inclui uma introdução um pouco mais ampla, possibilitando oferecer
uma visão geral sobre o perfil epidemiológico e demográfico do Brasil , situação de saúde no
Brasil, enfatizando a história política da saúde até a descentralização dos serviços de saúde e a
efetiva municipalização. Serão enfatizados alguns estudos de perfil de clientela, como marco
teórico ao modelo assistencial, como também o perfil epidemiológico de Pernambuco e do
Hospital da Restauração. A seguir, serão apresentados os objetivos, a metodologia utilizada,
os resultados e a discussão e, por fim, as considerações finais, à maneira clássica do modelo
preconizado para trabalhos desta natureza.

O conhecimento deste perfil poderá servir de subsídios para repensar a instituição e os


propósitos a que se destina, junto com os gestores estaduais e municipais, a partir de uma
avaliação científica, deixando de lado o empirismo vigente na atualidade. A partir desta
concepção científica, será possível proceder as reformulações e redirecionamentos
necessários, colocando a instituição em seu verdadeiro rumo, para desempenhar seu real papel
no Sistema de Saúde do Estado de Pernambuco, o que sem dúvida se refletirá em sua atuação,
beneficiando os usuários e a equipe de trabalho. Esta foi a aspiração individual que justificou
a escolha do tema.
RESUMO

O presente trabalho estudou o perfil da clientela da emergência de adultos do Hospital da


Restauração, situado na cidade do Recife, PE, nos anos de 1993, 1997 e 2001. O Hospital da
Restauração é a maior unidade da rede de saúde pública do Estado de Pernambuco, conta
com uma emergência voltada para o trauma, no entanto sofre com a superlotação de casos
considerados inadequados ao seu perfil. Baseado na proposta do Ministério da Saúde,
considerando o PSF (Programa de Saúde da Família), como porta de entrada do Sistema
Publico de Saúde, analisou-se o perfil da emergência de adultos antes e após o processo de
municipalização dos serviços de saúde e implantação do PSF, no Recife e Região
Metropolitana. Utilizou-se uma amostra de 16383 prontuários referentes aos anos de 1993,
1997 e 2001, analisando as variáveis idade, sexo, procedência, mês, dia da semana,
diagnóstico e hora do atendimento, através das fichas dos pacientes, arquivadas no SAME
(Serviço de Arquivo Médico e Estatística), referentes aos três anos estudados. Foram também
coletados os dados referentes à municipalização e à implantação do PSF, no Recife e Região
Metropolitana, na Secretaria Estadual de Saúde. Os resultados foram apresentados na forma
de tabelas e gráficos e analisados através de testes de diferenças e proporção. A análise dos
dados revelou diminuição dos atendimentos considerados inadequados no período estudado,
1993, 1997 e 2001, apresentando taxas de 76,2%, 74,0% e 73,7%, respectivamente. Ao se
fazer a correlação com o sistema de gestão e a cobertura do PSF, no Recife e Região
Metropolitana, não se pode garantir que esta diminuição seja devida apenas a esses
processos, mas que certamente contribuíram de forma decisiva para esta redução. O que se
pode observar, no município de Camaragibe, embora com uma cobertura do PSF no ano de
2001 com mais de 95%, e em Gestão Plena do Sistema Municipal ainda demandou 65%
para o Hospital da Restauração de casos inadequados, casos que poderiam ser resolvidos pela
rede básica. Da amostra 53% são do sexo masculino, mais de 50% estão na faixa etária de 20
a 49 anos, em média 17% dos atendimentos aconteceram na segunda feira, a maioria de casos
inadequados, demonstrando a necessidade de serviços básicos funcionando nos finais de
semanas.
ABSTRACT

The purpose of this paper was to study the profile of patients referred to the emergency
at Hospital da Restauração in Recife, Pernambuco, Throughout the years 1993, 1997
and 2001. This hospital is the largest facility in the state’s health care system and is a
reference in traumatology, neurology, neurosurgery, oftalmology, vascular and facial
surgery. It has a multi-skilled, well trained professional team read at all times to
intervine in on any ongoing emergency case end respond to all major cases of injuries.
As is the case mostly, though, its staff to deal with a great demand of minor cases. The
main focus of this study was on analyzing these patientes’ profiles before and after the
health system municipalization and the implementation of the Family Health Program
(FHP) and thus ascertain whether the number of lesser cases dealt with by the hospital
staff had decreased over the years studied. Variables such as gender distribution, age,
origin, diagnose, month, day and time distribution were analyzed through patient`s
charts from SAME ( an acronym for: Statistics and Medical Services Archives )
covering the three years studied. Data concerning municipalization and implementation
of FHP in Recife and around the metropolitan area were also collected from the state`s
health system department. Results were shown in the forms of tables and charts, and
analyzed through ratio variation tests. Data analysis has disclosed a decrease in the
aforementioned improper cases brought to the emergency of that hospital throughout the
years 1993, 1997 and 2001, reaching rates of 72.2%, 74.0% and 73.7%, respectively.
By analyzing the relation between the management system and FHP coverage over the
areas mentioned above, one can not be assured as to this decrease being due only to the
processes utilized; although they doubtlessly contributed a great deal in reducing
inappropriate cases dealt with in emergency. Albeit there has been a general increase in
cases, other variables analyzed did not differ greatly from those found in the literature.
It turned out that cases were predominantly within the age group of 29 to years, male
(56.3%) with higher demands in the morning and evening, showing a slight variation
on weekdays; Monday displaying peaks as high as 17.5% of all cases and a
predominance of appropriate cases over the weekends.
SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS

1. INTRODUÇÃO 21
1.1 Perfil epidemiológico e demográfico do Brasil 22
1.2 A situação de saúde no Brasil 31
1.3 Descentralização dos SUS como parte da reforma do Estado 35
1.4 Processo de municipalização dos serviços de saúde: PACS/PSF 42

2. MODELO ASSISTENCIAL E PERFIL DE CLIENTELA 54

3. PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E REDE ASSISTENCIAL


EM PERNAMBUCO 63

4. O HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO: PERFIL E MISSÃO 70

5. OBJETIVOS 76
5.1 Geral 77
5.2 Específicos 77

6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 78
6.1 Tipo de estudo 79
6.2 Área de estudo 79
6.3 População de estudo e desenho da amostra 79
6.4 Elenco de variáveis 80
6.4.1 Variável dependente 80
6.4.2 Variáveis independentes 80
6.4.3 Co-variáveis 80
6.4.4 Definição de variáveis 80
6.4.5 Indicadores 81
6.5 Coleta de dados 82
6.6 Plano de descrição e análise 83
6.7 Problemas metodológicos 83
6.8 Considerações éticas 83

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO 84
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 117
9. SUGESTÕES 121
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 123
ANEXOS
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 População coberta (%) por planos e seguros de assistência suplementar à


saúde, por segmento público e privado. Brasil e grandes regiões, 1998. 23

Tabela 2 Regressão linear entre a taxa de mortalidade por acidentes de trânsito e


Variáveis ecologicamente associadas, estados brasileiros, 1999. 28

Tabela 3 Número de leitos hospitalares (SUS) por habitantes. Brasil e grandes


regiões,1993, 1996 e 1999. 28

Tabela 4 Proporção (%) de internações hospitalares (SUS) por grupos de causas.


Brasil e Grandes regiões,1996 –2000. 29

Tabela 5 Gasto público com saúde como proporção (%) do PIB, por esfera de governo,
Brasil e grandes regiões-2000. 30

Tabela 6 Proporção (%) do gasto federal com saúde, em relação a despesas federais
totais e não financeiras. Brasil- 1995- 1999. 30

Tabela 7 Razão de urgências verdadeiras e não verdadeiras, por turno de trabalho


Hospital de Especialidades, ISSSTEP, 1996. 60

Tabela 8 Proporção de internações hospitalares (SUS) por grupos de causas,


Pernambuco,2000. 66

Tabela 9 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001. 86

Tabela 10 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital


da Restauração, nos anos 1993, 1997 e 2001, segundo a faixa etária. 87
Tabela 11 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital
da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo sexo e faixa etária. 88

Tabela 12 Distribuição, por especialidades médicas, dos atendimentos, na Emergência de


Adultos do Hospital da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001. 89

Tabela 13 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital


da Restauração, nos anos de 1993,1997 e 2001, segundo os diagnósticos por
especialidades. 93

Tabela 14 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital


da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo a adequação ou
inadequação ao serviço. 96

Tabela 15 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital


da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo a procedência dos
pacientes (Recife, Região Metropolitana e outros municípios). 97

Tabela 16 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital


da Restauração, na cidade do Recife, RMR e outros municípios, nos anos de
1993, 1997 e 2001, segundo a faixa etária. 98

Tabela 17 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital


da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, por município da Região
Metropolitana. 99

Tabela 18 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital


da Restauração nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo a procedência e
adequação do atendimento. 100

Tabela 19 Distribuição dos atendimentos inadequados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração nos anos de 1993, 1997 e 2001, por município da Região
Metropolitana 102
Tabela 20 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital
da Restauração e atendimentos considerados inadequados, nos anos de 1993, 997 e
2001, segundo a procedência por Distrito da cidade do Recife. 104

Tabela 21 Correlação dos municípios da RMR com o Tipo de Gestão e a cobertura do PSF
em 1997 e 2001, comparados ao ano de 1993, quanto à proporção de casos
inadequados atendidos na Emergência de Adultos do Hospital da
Restauração. 107
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Taxas de Mortalidade por acidentes de trânsito e homicídio (por 1000.000


habitantes) padronizadas por sexo e idade em estados brasileiros, 1999. 27

Gráfico 2 Unidades SIA/SUS, segundo o tipo de Prestador SUS /Recife, 2001. 69

Gráfico 3 Distribuição dos atendimentos considerados adequados nos sete municípios da


RMR com maior demanda para a Emergência de Adultos do Hospital da
Restauração, no ano de 2001, de acordo com as especialidades médicas. 109

Gráfico 4 Distribuição dos atendimentos considerados adequados nos distritos da cidade do


Recife com maior demanda para a Emergência de Adultos do Hospital da
Restauração, no ano de 2001, de acordo com as especialidades médicas. 110

Gráfico 5 Distribuição dos atendimentos considerados inadequados por Distrito e por


especialidade, na cidade do Recife, na Emergência de Adultos do Hospital da
Restauração, no ano de 2001. 111

Gráfico 6 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital da


Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo o mês de atendimento. 112

Gráfico 7 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital da


Restauração, nos anos de 1993,1997 e 2001, segundo o dia do atendimento. 113

Gráfico 8 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência De Adultos do Hospital


da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo a hora de
atendimento. 114
Gráfico 9 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital da
Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo a hora e diagnóstico
adequado. 115

Gráfico 10 Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital


da Restauração, segundo o dia da semana e o diagnóstico adequado nos anos de
1993, 1997 e 2001. 116
LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Evolução do PACS entre 1994 e 2001 50

Quadro 2- Evolução do PSF entre 1994 e 2001 51

Quadro 3- Unidades Ambulatoriais segundo o tipo, Recife, 2001 68


LISTA DE SIGLAS

ACS – Agente Comunitário de Saúde


AIH – Autorização de Internação Hospitalar
AIS – Ações Integradas de Saúde
ANS – Agência Nacional de Saúde
ATM – Articulação Têmporo-Mandibular
AVC – Acidente Vascular Cerebral
CELPE – Companhia Energética de Pernambuco
CENEPI – Centro Nacional de Epidemiologia
CIB – Comissão Intergestora Bipartite
CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CNS – Conferência Nacional de Saúde
COMPESA – Companhia Pernambucana de Saneamento
CONASP – Conselho Nacional de Saúde Pública
CONDEPE – Companhia do Desenvolvimento de Pernambuco
DEAB – Departamento de Atenção Básica
DM - Diabetes Méllitus
DPOC - Doença Obstrutiva Crônica
ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz
FMI – Fundo Monetário Internacional
FNS – Fundação Nacional de Saúde
FUNASA – Fundação Nacional de Saúde
GAE – Guia de Atendimento de Emergência
GM – Gabinete Ministerial
GPAB – Gestão Plena da Assistência Básica
GPSM – Gestão Plena do Sistema Municipal
HAS - Hipertensão Arterial Sistêmica
HDA - Hemorragia Digestiva Alta
HEMOPE – Hemocentro de Pernambuco
HR – Hospital da Restauração
HSA - Hemorragia Sub-aracnoidéia
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INAMPS – Instituto Nacional do Ministério da Previdência Social
IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
MS – Ministério da Saúde
NOB – Norma Operacional Básica
OMS – Organização Mundial da Saúde
PAB – Piso Assistencial Básico
PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PIASS – Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento
PIB – Produto Interno Bruto
PNAD – Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio
PSF – Programa de Saúde da Família
PSM – Pronto Socorro Municipal
REFORSUS – Projeto de Reforço à Reorganização do Sistema Único de Saúde
RMR – Região Metropolitana do Recife
SAME – Serviço de Arquivo Médico e Estatística
SAS – Secretaria de Assistência à Saúde
SES – Secretaria Estadual da Saúde
SIA – Sistema de Informação Ambulatorial
SIH – Sistema de Internação Hospitalar
SUDS – Sistema Único e Descentralizado de Saúde
SUS – Sistema Único de Saúde
TCE – Trauma de Crânio Encefálico
TFA – Teto Financeiro da Assistência
TRM - Trauma Ráqui-Medular
TVP – Trombose Venosa Profunda
UCI – Unidade de Cuidados Intermediários
USF – Unidade de Saúde da Família
UTI – Unidade de Tratamento Intensivo
21

1 INTRODUÇÃO
22

1 INTRODUÇÃO

1.1 Perfil epidemiológico e demográfico do Brasil

O Brasil possui uma área de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e população de


aproximadamente 175 milhões de habitantes (IBGE, 2003). É um país com grandes
problemas conjunturais e também muito complexo e desigual. Apresenta ainda diferenças na
área social, na economia, cultura, geografia, questões sanitárias, intra-grupos sociais, que por
si só já transformam esse grande país em um rico espaço, tanto do ponto de vista de
diversidade como de perspectivas para levantamento de questionamentos e novas descobertas
sobre o seu povo, seus modos de vida e sua cultura.

Em razão da transição demográfica, o Brasil apresenta mudanças de vários fatores, como


queda da fecundidade, redução da mortalidade infantil, aumento da esperança de vida ao
nascer e progressivo envelhecimento da população, que geram impactos e novas demandas
para o sistema de saúde. A taxa de fecundidade vem decrescendo em todas as regiões, desde
1970, atingindo, em 1999, a média de 2,2 filhos por mulher. Os resultados do censo
demográfico de 2000 indicam que a taxa de crescimento populacional no Brasil, em relação a
1991, foi da ordem de 1,6% ao ano. A esperança de vida ao nascer, segundo o sexo, é de 72,6
anos, para as mulheres, e 64,8 anos, para os homens, observando-se que, em 1950, a
esperança de vida ao nascer era de apenas 47 anos (BRASIL, 2001a).

Dados do IBGE, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios-PNAD/1999, mostram que


13,3% dos brasileiros de 15 anos ou mais são analfabetos e, destes, 26,6% encontram-se no
Nordeste. Só a metade da população brasileira tem esgotamento sanitário e fossa séptica, ou
seja, 52,8%, e, no Nordeste, apenas 22,6%. O esgotamento sanitário cobre 70% da população
urbana do país, com melhor situação no Sul e Sudeste e pior situação no Norte e Nordeste.
Quanto à coleta de lixo, o Brasil aparece com cobertura de 79,9% e o Nordeste com 59,7%.
Em 2000, o Brasil registrou uma cobertura de abastecimento de água de 89% na área urbana,
com melhor situação para a Região Sul e Sudeste (93%) e pior na Região Norte (63%).
Quanto à energia elétrica, 94,8% dos domicílios dos brasileiros pesquisados a possuem,
enquanto esta diferença, para o Nordeste, é a menos gritante, quando comparada com os
resultados do Brasil e das demais regiões, referentes aos outros itens pesquisados; 85,8% dos
domicílios, no Nordeste, dispõem de luz elétrica. Estes dados refletem as condições em que os
23

brasileiros vivem, ressaltando à primeira vista as grandes diferenças, para menos, dos
indicadores das regiões Nordeste e Norte, em relação às demais regiões brasileiras. Vale
salientar, ainda, que 47,5% dos brasileiros recebem, por mês, até 2 salários mínimos,
enquanto apenas 27,6% dos nordestinos recebem este valor; o rendimento médio mensal, no
Nordeste, é de R$ 144,90 ( cento e quarenta e quatro reais e noventa centavos) e, para o
Brasil, a média é de R$ 313,30 (trezentos e treze reais e trinta centavos) (BRASIL, 2001a).

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, em 1998, 24% dos
brasileiros possuíam planos e seguros privados ou de assistência ao servidor público. A
Região Sudeste registrou a maior cobertura (33%), enquanto as menores taxas foram
observadas no Nordeste (12%) e Norte (17%) (IBGE, 2001). Já a Agência Nacional de Saúde
Suplementar - ANS refere que a cobertura referente apenas aos planos privados, em 2001, foi
de 17% da população, com destaque para a Região Sudeste (28%) (BRASIL, 2001a).

A tabela 1 oferece uma visão da abrangência da cobertura pelos planos de saúde, verificando-
se que mais de 70% da população brasileira não dispõe de nenhum tipo de plano de saúde,
ficando o Sistema Único de Saúde como responsável por esta assistência.

Tabela 1- População coberta (%) por planos e seguros de assistência suplementar à


saúde, por segmento público e privado. Brasil e grandes regiões, 1998.
Região Plano de servidor público Plano de empresa privada Total
Brasil 6,1 18,3 24,4
Norte 9,4 7,6 17,0
Nordeste 4,8 7,6 12,4
Sudeste 5,7 27,6 33,3
Sul 7,0 18,3 25,3
Centro-Oeste 9,8 12,7 22,5
Fonte: IBGE: Pnad, 1998 : acesso e utilização de serviços de saúde.

O quadro epidemiológico da saúde da população brasileira é complexo, com problemas de


grande diversidade referentes aos determinantes e ao nível de intervenção, gerando grandes
desafios para o sistema de saúde. Ocorre, atualmente, em escala mundial, uma crise nos
serviços de saúde, crise esta que se manifesta, em quatro dimensões:
24

[...] a ineficiência, a ineficácia, a iniqüidade e a insatisfação dos usuários. A


ineficiência tem a face visível no constante e incontrolável aumento dos custos dos
serviços de saúde; a dimensão da ineficácia é dada pela falta de correspondência
entre o incremento de gastos em serviços de saúde e seu impacto nos padrões
sanitários da população; a iniqüidade que se vai materializar na distribuição relativa,
entre regiões e grupos sociais, dos indicadores sociais, e por fim, a crise dos serviços
de saúde está determinando generalizada insatisfação dos usuários (MENDES 1998,
p. 19).

Os padrões de morbi-mortalidade da população em diferentes países desenvolvidos, segundo


Possas (1987), evoluíram ao longo dos anos, das doenças infecciosas e parasitárias para as
doenças-crônico degenerativas, configurando uma transição epidemiológica. No Brasil,
configura-se uma situação de grande complexidade para o sistema de saúde, marcada pela
sobreposição de padrões de morbidade e mortalidade distintos, fazendo com que, muitas
vezes, um mesmo indivíduo apresente patologias variadas, características do desenvolvimento
e do subdesenvolvimento, o que passa cada vez mais a exigir dos precários serviços locais de
saúde. Isto acontece, segundo Carvalho (1998), em decorrência das contradições existentes
entre as classes sociais e dentro da própria classe, caracterizando, assim, um processo de
iniqüidade das condições de vida da população.

Duarte et al. (2002) enfatizam que os resultados encontrados em seu trabalho, analisando as
desigualdades quanto à distribuição de indicadores de saúde nas regiões e estados brasileiros,
no ano de 1999, evidenciam a dualidade de um Brasil com padrão de exposição a riscos
semelhante ao dos países desenvolvidos e de um Brasil onde ainda prevalece a exposição aos
riscos típicos de países menos desenvolvidos. O que, segundo Carvalho et al (1998, p 109),
caracteriza “um novo padrão epidemiológico”.

O Brasil apresenta, no seu perfil de mortalidade, em 1998, altas taxas de óbitos por doenças
do aparelho circulatório, com 32,4% (BRASIL, 2001a), mortes por causas externas, com
14,9% (BRASIL, 2001a), neoplasias, com 14% (BRASIL, 2001a) e mortes por doenças do
aparelho respiratório, 11,6%, compatíveis com países desenvolvidos, e, ao mesmo tempo,
segundo Barros (1996), as doenças infecciosas e parasitárias, embora tenham perdido a
importância como causa de mortalidade, passando de 9%, em 1980, para 6,2%, em 1998
(BRASIL, 2001a), permanecem com expressiva presença no quadro geral de morbidade
hospitalar, sendo responsáveis por 8,3% das internações hospitalares, em 1996, e 7,4%, em
2000.
25

A redução da mortalidade infantil atingiu, em 1999, 31,8 óbitos por mil nascidos vivos, com
maior participação do componente neonatal (20,1 por mil). No Nordeste, continua alta (52,4)
e as menores taxas encontram-se na Região Sul e Sudeste, destacando-se o Rio Grande do
Sul, com uma taxa de 15,1 óbitos por mil nascidos vivos. (BRASIL, 2001)

A taxa de mortalidade infantil, segundo Duarte et al. (2002) se revelou de forma crescente
entre as regiões do país, ou seja, 17,1 por mil nascidos vivos, na Região Sul, 20,6 por 1000
nascidos vivos, no Sudeste, 25,6 por 1000 nascidos vivos, no Centro- Oeste, 32,4 por 1000
nascidos vivos, no Norte e 52,5 por 1000 nascidos vivos, no Nordeste. O risco de morte no
primeiro ano de vida, no Nordeste, é 3,1 vezes maior do que no sul do Brasil, chegando
alguns estados nordestinos a apresentar taxas maiores, como, por exemplo, Alagoas, com 64,0
mortes por 1000 nascidos vivos. As taxas de mortalidade por 1000 habitantes para menores de
5 anos de idade, por doenças diarréicas e respiratórias foram de 4,5 e 18,7 no Brasil,
respectivamente. Por outro lado, a taxa de mortalidade por doenças do aparelho respiratório
nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, foi superior à mediana nacional, em 1999, de 10,8
por 1000 habitantes. Estes dados vêm corroborar, mais uma vez, a situação diferenciada do
perfil epidemiológico do Brasil, em relação à transição epidemiológica, quando comparado
aos países desenvolvidos.

Em relação às mortes por doenças do aparelho circulatório, houve aumento da taxa, em 1998,
segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001), em todas as regiões brasileiras,
exceto na região Sudeste, onde foi observada uma discreta diminuição das mortes por doença
isquêmica do coração e cerebrovascular, de 63,9 para 62,2 (por 100 mil) e de 65,8 para 61,9
(por 100 mil), respectivamente. A sobremortalidade masculina é constante para estes dois
tipos de causas, em todas as regiões do país.

Em relação à mortalidade por neoplasias malignas, segundo dados do Ministério da Saúde


(BRASIL, 2001), está assim distribuída, de acordo com a localização e o sexo, em 1998: no
pulmão (12,0 por 100 mil), no estômago (8,9 por 100 mil), e na próstata (8,9 por 100 mil),
predominando no sexo masculino; no sexo feminino foram mais freqüentes as localizadas na
mama (9,7 por 100 mil ), colo do útero (4,4 por 100 mil), pulmão (4,8 por 100 mil) e cólon
(4,5por 100 mil).
26

O que se observa é que, embora no país sejam constatadas altas taxas de mortalidade por
doenças do aparelho circulatório, condizentes com o que ocorre nos países desenvolvidos,
Carvalho et al. (1998) chamam a atenção para o fato de que este padrão difere do encontrado
nos países desenvolvidos, pela alta mortalidade em adultos jovens, contrário ao que se poderia
esperar, estando relacionado ao estilo de vida, incidindo mais especificamente nas populações
de baixa renda, em virtude do uso de cigarros e bebidas destiladas de baixa qualidade e do
“estresse” decorrente da falta de emprego e condições de vida inadequadas. Já em relação à
mortalidade por neoplasias malignas, os mesmos autores observam que ainda persistem altas
taxas, em decorrência de tumores localizados no colo do útero e no pênis, que têm estreita
ligação com as precárias condições de vida da população.

Levando-se em consideração o progresso tecnológico, com a sofisticação das armas e dos


automóveis, observa-se um aumento da complexidade dos acidentes causados tanto por
automóveis cada vez mais velozes, quanto por armas de fogo, não esquecendo os problemas
inerentes às relações humanas, tanto no ambiente de trabalho, como na própria comunidade,
concorrendo para aumentar a complexidade dos problemas demandados pelo sistema de
saúde.

No estudo realizado por Duarte et al. (2002), foi observado que, no Brasil, a taxa de
mortalidade por acidentes de trânsito e por homicídios, em 1999, foi de 17,7 e 26,0 por 100
mil habitantes, enquanto as taxas fornecidas pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2001) para o
mesmo ano, foram de 18,37 e 26,20 por 100 mil hab. No primeiro trabalho o risco de morte
encontrado por homicídio foi 1,5 vezes maior do que o risco de morte por acidentes de
trânsito. Nos estados de Pernambuco e Rio de Janeiro, este risco é 3 vezes maior do que por
acidente de trânsito. Neste estudo, Pernambuco apresentou a maior taxa de mortalidade por
homicídios, do país, uma taxa bruta de 55,0 por 100 mil e uma taxa padronizada de 57,8 por
100 mil habitantes, valores considerados extremos (outlier), por serem excepcionalmente
altos, quando comparados aos valores dos demais estados. Os valores encontrados diferem
dos países desenvolvidos, em que o predomínio é dos acidentes de trânsito e não dos
homicídios, conforme demonstrado no gráfico 1.
27

Gráfico 1.Taxas de mortalidade por acidentes de trânsito e homicídio (por 100 000
habitantes) padronizadas por sexo e idade em Estados brasileiros, 1999

Fonte: Duarte et al (2002, p. 442)

O processo de ocupação dos espaços urbanos, no Brasil, segundo os mesmos autores, parece
estar associado a um aumento do risco de morte por homicídio. Quanto à determinação social,
chamam a atenção para as próprias desigualdades sociais intra-urbanas, possivelmente com
forte associação com a violência, nos grandes aglomerados urbanos.

Em relação às mortes por acidentes de trânsito, os maiores riscos parecem estar associados
com menor escolaridade e maior renda da população residente e maior rapidez do processo de
crescimento dos espaços urbanos. O estudo supõe que o crescimento populacional, aliado ao
grande número de automóveis per capita, estimulado por maiores níveis de renda, e a baixa
escolaridade da população diminuam a capacidade de ordenação urbana, gerando um
ambiente propício aos acidentes de trânsito (Tabela 2), (DUARTE et al, 2002, p. 433-444).
28

Tabela 2. Regressão linear entre a taxa de mortalidade por acidentes de trânsito e


variáveis ecologicamente associadas, estados brasileiros, 1999.
Variáveis Coeficiente (beta) P
Taxa de alfabetização -1,16 0,005
Taxa de pobreza -0,93 <0,001
Taxa de crescimento populacional 3,10 0,0016
Constante 141,87 -
Fonte: Duarte et al, (2002)

O número de leitos por habitantes, disponíveis pelo SUS, no Brasil, relativo a 1993, é de 3,0
leitos por mil habitantes (BRASIL, 2003) e, no Nordeste, é de 2,9 leitos por mil habitantes.
Em relação à internação no Sistema Único de Saúde - SUS, em 2001, as principais causas
foram gravidez, parto e puerpério (24%), doenças do aparelho respiratório (16%) e do
aparelho circulatório (10%). As internações por doenças do aparelho circulatório
apresentaram maior proporção na Região Sudeste e menor na Região Norte, o contrário do
que acontece com as doenças infecciosas e parasitárias. Em relação às causas externas, as
quedas e os acidentes de trânsito foram responsáveis pela maior parte das internações, 43% e
17%, respectivamente (BRASIL, 2001) (Tabela 3).

Tabela 3. Número de leitos hospitalares (SUS)* por mil habitantes. Brasil e grandes
regiões –1993, 1996 e 1999
Região 1993 1996 1999
Brasil 3,3 3,2 3,0
Norte 1,9 2,1 2,1
Nordeste 2,8 2,9 2,9
Sudeste 3,6 3,4 3,2
Sul 3,8 3,4 3,2
Centro-Oeste 3,8 3,7 3,5
*valor médio anual do número de leitos
Fonte: (BRASIL, 2003)

No Nordeste, 10,8% das internações hospitalares, em 1996, e 9,9%, em 2000 (BRASIL, 2003)
correspondem às doenças infecciosas e parasitárias. Segundo dados do Ministério da Saúde,
estas doenças constituem a segunda causa de internação na Região Nordeste e correspondem a
29

cerca de 20% das internações hospitalares, na Região Norte (BRASIL, 2003). São as que mais
diretamente decorrem da precariedade das condições de vida da população, considerando os
fatores determinantes para sua permanência: condições inadequadas de saneamento básico,
baixa escolaridade, precárias condições de moradia, dificuldade de acesso aos serviços de
saúde, refletindo assim uma grande parcela da população brasileira que ainda vive na miséria
( Tabela 4).

Tabela 4. Proporção (%) de internações hospitalares (SUS)* por grupos de causas.


Brasil e grandes regiões,1996-2000
Grupos de causas Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul C. Oeste
1996 2000 1996 2000 1996 2000 1996 2000 1996 2000 1996 2000
Doenças infecciosas 8,3 7,4 14,4 13,5 10,8 9,9 5,8 5,1 7,4 5,9 7,5 6,6
e parasitárias

Neoplasias 3,0 3,3 1,9 2,1 2,6 2,7 3,6 3,8 3,3 3,8 2,1 2,6
Transtornos mentais 3,5 3,5 0,7 2,5 2,5 2,5 5,1 5,0 3,0 3,5 2,8 3,4
e comportamentais
Doenças do 9,7 9,5 5,0 5,1 7,2 7,1 11,5 11,3 11,8 11,4 10,5 10, 2
aparelho
circulatório
Doenças do 16,9 16,2 15,1 14,3 17,3 17,9 14,3 13,3 22,2 19,8 19,5 18,6
aparelho
respiratório
Doenças do 7,1 8,5 7,0 8,5 6,9 7,8 7,2 8,4 7,5 9.5 7,1 9,7
aparelho digestivo
Doenças do 7,0 7,0 9,0 8,5 8,5 7,9 6,0 6,3 5,8 6,2 6,5 7,3
aparelho urinário
Gravidez ,parto e 26,3 24,4 31,1 29,5 28,9 27,6 25,0 23,7 21,7 19,0 27,1 22,2
puerpério
Causas externas 6,2 5,8 6,7 6,7 4,8 4,7 7,2 6,7 5,9 5,5 6,2 5,7
Demais causas* * 12,1 14,3 9,0 11,2 19,5 11,9 14,4 16,4 11,5 15,6 10,8 13,5
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: (BRASIL, 2003).
*Segundo local de residência ** Inclusive causas indeterminadas.

Segundo o Ipea/Disoc apud (BRASIL, 2003) proporcionalmente, no conjunto das finanças


federais, o gasto com saúde apresenta um declínio desde 1995, de 5,2 para 3,0, em 1999. Esse
quadro não reflete necessariamente uma redução do montante de recursos aplicados em saúde,
mas, sim, o crescimento dos gastos totais do Governo Federal, especialmente os relacionados
30

a encargos da dívida pública. De acordo com dados do Ministério da Saúde/SIS/SIOPS


(BRASIL, 2002), o gasto público com saúde como proporção (%) do PIB, por esfera de
governo, no Brasil e grandes regiões, em 2000, foi de 1,87 para o Federal, tendo participado
de forma majoritária no gasto público com saúde, em todas as regiões do país, exceto na
Norte. Na região Nordeste, 60% do gasto público em relação ao PIB da região corresponde ao
Governo Federal. A participação relativa da esfera estadual é maior que a da municipal apenas
nas regiões Norte e Nordeste, conforme está demonstrado na tabela 5.

Tabela 5 - Gasto público com saúde como proporção (%) do PIB, por esfera de governo.
Brasil e grandes regiões-2000
Região Total Federal Estadual Municipal
Brasil 3,15* 1,87* 0,57 0,71
Norte 3,86 1,57 1,58 0,72
Nordeste 3,93 2,34 0,84 0,75
Sudeste 2,13 0,90 0,47 0,75
Sul 1,92 0,96 0,38 0,59
Centro-Oeste 2,79 1,10 0,69 0,99
* Inclui o valor de 0,73% sem informação disponível por região. Fonte: (BRASIL, 2003)

Na tabela 6 estão explicitadas as despesas com saúde (em percentuais), por parte do Governo
Federal, em relação a outros tipos de gastos.

Tabela 6. Proporção (%) do gasto federal com saúde*, em relação a despesas federais
totais e não-financeiras. Brasil – 1995-1999
Tipo de despesa 1995 1996 1997 1998 2000
Total 5,2 4,4 4,0 3,1 3,0
Não-financeira 9,8 8,4 9,5 8,4 8,0
*Em reais correntes do ano
Fonte: (BRASIL, 2003).

Na atenção individual e coletiva há um nítido predomínio do hospital sobre as demais


alternativas de assistência. Dominância que fica ainda mais evidente quando se compara o
conjunto de gastos com as várias modalidades de atendimento. Em 2001, o Ministério da
Saúde gastou, em atenção básica, em todo o Brasil, R$ 3.624.036.363,69; e, com atenção de
média e alta complexidade, R$ 5.865.457.055,17 (BRASIL, 2003).
31

1.2 A situação de saúde no Brasil

Além de toda a problemática mencionada, a economia brasileira está atrelada aos credores da
dívida externa, ocasionando aumento da dívida social, o que se caracteriza pela concentração
de renda cada dia maior em um grupo cada vez menor. Em 1999, os 20% mais ricos da
população brasileira apropriaram-se de uma renda 26,2 vezes maior do que a dos 20% mais
pobres (SOARES, 2000). Para uma grande parcela da população, que não encontra soluções
para seus problemas de moradia, alimentação, educação e saúde, a miséria aumenta.

A lógica do modelo neoliberal para a saúde se baseia no atendimento individual e curativo, no


qual a população de maior poder aquisitivo tem acesso a uma ampla rede de consultórios e
hospitais especializados, enquanto a população de baixa renda tem acesso a uma rede de
pronto atendimento, com baixa qualidade na assistência prestada e pouca resolutividade. Sem
contar que, a cada dia, aumenta o número de pessoas que não podem pagar convênios
privados e passam a ser usuários do SUS, surgindo assim uma demanda diferenciada e mais
exigente.

Estamos diante de uma situação social e de saúde onde a superposição de antigos e


novos problemas configura um quadro de uma enorme perversidade e complexidade.
A este quadro se agrega, ainda, uma situação de desmonte do Estado brasileiro, que
tem levado a uma crescente desresponsabilização do governo federal por suas
atribuições no terreno social (SOARES, 2000, p. 17).

“[...] Historicamente as conjunturas em que se verificam inflexões decisivas na estruturação


dos sistemas de saúde sempre estiveram vinculadas a processos e questões políticas mais
amplas, que não estão referidas necessariamente ao campo da saúde” (ALMEIDA, 1996, p.
69).
A mesma autora comenta ainda que os pressupostos contidos na onda de reforma dos anos 80
abrangem:
[...] o reflexo da crise econômica nas finanças públicas, que resultou na crise fiscal
do Estado na segunda metade dos anos 70; o ataque crítico à assistência médica e ao
profissional médico, como ao Welfare State e a hegemonia neoliberal da década.
Esta crise apagou o resplendor dos “anos dourados, (73-75), e decretou o
esgotamento dos padrões de desenvolvimento norteadores dos rumos mundiais até
então. Foi uma transformação que se manifestou, no plano econômico, na dinâmica
de acumulação de capital, no relacionamento entre as esferas pública/privada e o
sistema de mercado (ALMEIDA, 1996, p. 69).
32

A crise dos anos 80 na América Latina, em relação à saúde, foi concomitante às expectativas,
esperanças e promessas de “Saúde Para Todos” (SPT), com a aprovação das Estratégias
Regionais (1980) e do Plano de Ação Regional (1981). O impacto na saúde foi extraordinário;
com a diminuição do gasto público, menores recursos foram aplicados em investimentos no
setor e na operacionalização, implicando em deterioração da capacidade instalada e de sua
utilização e, indiretamente, na diminuição da renda e sua concentração, aumentando a pobreza
e, em conseqüência, ocasionando maior demanda de serviços públicos. Por outro lado, a crise
estimulou mudanças na composição de serviços de atenção pessoal (mais ambulatórios e
atenção primária à saúde), melhorando a eficácia global dos sistemas de saúde, apressou e
propiciou os processos de (re)democratização e determinou a adoção de programas de
estabilização e ajustes econômicos que configurariam os cenários gerais nos anos 80 e 90,
com grande impacto na saúde (MACEDO, 1997).

O encerramento da crise se deu no início dos anos 80, evidenciado pela superação do processo
desestruturante nos países centrais, pela recomposição ideológica, pelo avanço das forças
conservadoras (Reagan e Tatcher) e, no plano econômico, pela retomada da hegemonia
americana (ALMEIDA, 1996, p. 69-98).

Sob a hegemonia americana houve a expansão do estado de bem-estar social (o embedded


liberalism) europeu e da assistência médica, sendo o eixo do desenvolvimento científico
deslocado para o tecnológico, privilegiando o hospital como lócus de distribuição tecnológica,
fomentando mais as especializações, fragmentando-as cada vez mais. As mobilizações dos
anos 60 e 70, no campo da saúde, estimularam críticas tanto ao sistema sanitário, quanto à
prática médica (ALMEIDA, 1996, p. 71).

Segundo a autora, a base teórica das justificativas de um movimento reformista dos sistemas
de saúde, nos anos 80, apoiou-se em vários argumentos, mas, na essência, era a mesma
formulada para decretar o fim do Welfare State, terminando aí a era dos programas
governamentais universais e socializantes, com o desmonte ideológico e pragmático do
Welfare State, e se iniciando um processo de transição. Os Estados Unidos, pós o Welfare
State, ficaram responsáveis pela nova agenda sanitária, pela rearrumação da arena
internacional, fortalecendo as agências financiadoras (Banco Mundial e FMI), perdendo assim
espaço as organizações tradicionalmente encarregadas da questão sanitária, como a OMS.
33

Essas agências colocaram como questão principal a ineficiência dos serviços estatais,
portanto, os gastos seriam cortados na área social, consideradas as menos eficientes. Para
enfrentar a crise da saúde, são propostas, em escala universal, medidas para otimização dos
objetivos da equidade, eficácia, eficiência e satisfação dos usuários (MENDES, 1998a). Esse
movimento ficou conhecido como reforma do setor saúde e vem sendo impulsionado por
governos nacionais e organismos internacionais.

A resposta da sociedade brasileira à crise política dos anos 80 foi dada com a
redemocratização de 1985 e consolidou-se na Constituição de 1988. Contudo, a crise fiscal,
do modo de intervenção da economia e do aparelho do Estado, não foram resolvidas pela
Nova República (MENDES, 1998a).

É nesse contexto de redemocratização do Estado brasileiro que a descentralização adquiriu


forma, no país. A consolidação de um processo descentralizatório teve seu momento apical na
Constituição de 1988 e manifestou-se, contundentemente, no incremento relativo dos recursos
tributários para estados e municípios. Foi em razão disso que a descentralização dos serviços
de saúde transformou-se em mandato constitucional, em 1988 (MENDES, 1998a). Segundo o
mesmo autor, descentralização é um processo social cujo ritmo e conteúdo são estabelecidos
pelas determinações políticas das realidades nacionais.

Como parte do processo de transição e consolidação democrática começou a se formar, no


Brasil, um movimento que se denominou “saúde como direito de todos e dever do Estado”,
transformando-se num grande movimento reformista, mobilizando diferentes segmentos da
sociedade, como intelectuais, técnicos, políticos, movimentos comunitários, em prol de uma
Reforma Sanitária (FLEURY, 1997, p. 146).

Segundo Campos (1992), a principal mudança no modelo assistencial, durante a década de 80,
foi o crescimento dos serviços públicos municipais, particularmente por meio do incremento
da atenção básica. Com a implantação do SUDS, em 1987, reforçou-se uma tendência já
prenunciada a partir da vigência do programa de Atenção Integrada à Saúde (AIS/83), de
aumento de repasses financeiros da União-INAMPS para custeio e investimento nos sistemas
municipais e estaduais, de 5,13%, em 1981, para 16%, em 1987. Foi ampliada a rede de
unidades básicas, que respondia por 50% dos atendimentos do SUS, em consultas médicas,
programas de imunização e procedimentos básicos. Embora houvesse um predomínio do setor
34

público, o financiamento ainda refletia a hegemonia da época, ou seja, em 1990, 71,7% dos
gastos da União com rede ambulatorial foram para os serviços contratados, e apenas 28,4%
para os serviços estaduais e municipais.

Baseado nestes dados, MENDES (1998a), enfatiza que a reforma sanitária brasileira,
inspirada na reforma italiana de 1978, sempre considerou com desconfiança a presença do
setor privado nos serviços de saúde. Assim, a partir das Ações Integradas de Saúde (AIS) e do
Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), como fruto das políticas públicas
deliberadas, foi se alargando a participação relativa das entidades estatais na prestação dos
serviços de saúde.

Segundo Arouca, apud (PAIM, 1993, p. 455), a reforma sanitária constituiu uma proposta
abrangente de mudança social no Brasil e, ao mesmo tempo, um processo de transformação
da situação sanitária da época. segundo o autor, ”A reforma sanitária brasileira representa por
um lado, a indignação contra as precárias condições de saúde, o descaso acumulado e a
mercantilização do setor, a incompetência e o atraso e, por outro, a possibilidade política de
enfrentar o problema”.

Em 1986, os princípios e diretrizes da reforma sanitária foram sistematizados na 8ª


Conferência Nacional de Saúde (1987), destacando-se os seguintes elementos: a) Conceito
ampliado de saúde, b) reconhecimento da saúde como direito de todos e dever do Estado; c)
Sistema Único de Saúde; d) participação popular e constituição e ampliação do orçamento
social (PAIM,1993).

Para viabilizar as propostas da reforma sanitária, foram utilizados três caminhos: 1-legislativo
parlamentar, possibilitando a aprovação do capítulo saúde da Constituição da República, das
Constituições Estaduais e das Leis Orgânicas dos Municípios e das leis referentes à
organização e ao funcionamento do Sistema Único de Saúde. 2- Sócio-político, mobilizando a
opinião pública e setores organizados da sociedade civil para a democratização da saúde e,
principalmente, para a mudança na organização dos serviços de saúde e participação nos
órgãos colegiados (Conselhos de Saúde). 3- Institucional, privilegiou a organização,
implantação e desenvolvimento dos Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde
(SUDS), no sentido de facilitar a travessia de um sistema de saúde descoordenado,
35

centralizado e fracionado e organizações privadas, para um sistema de caráter público,


descentralizado e complementado pela iniciativa privada (PAIM, 1993).

O sistema dos serviços de saúde no Brasil, segundo Mendes (1998a), construiu-se como
processo social que resulta das demandas da economia e do embate entre distintos atores
sociais em atuação na arena político-sanitária. Por conseqüência, ele transitou, ao longo do
século passado, do sanitário campanhista (de 1900 até início dos anos 60), para o modelo
médico-assistencial privatista (início dos anos 60 até a 2ª metade dos anos 80), até chegar ao
modelo plural vigente, composto pelo sistema público (SUS); sistema privado de atenção
médica supletiva; e o sistema privado de medicina liberal.

A Constituição Federal de 1988 incorporou um conjunto de conceitos, princípios e diretrizes


propostos pelo movimento da reforma sanitária: o conceito de saúde , entendido numa
perspectiva de uma articulação de políticas sociais e econômicas; o entendimento da saúde
como direito social universal derivado do exercício de uma cidadania plena; a caracterização
das ações e serviços de saúde como de relevância pública; a criação do Sistema Único de
Saúde, organizado segundo as diretrizes de descentralização, com direção única em cada
esfera de governo; o atendimento integral; a participação da comunidade; a integração da
saúde no espaço mais amplo da seguridade social; e a liberdade para o setor privado
(MENDES,1998a).

Como decorrência da Constituição Federal elaborou-se, no período de 1989 a 1990, a Lei


8.080, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, as
Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas Municipais. Esta Lei expressou as conquistas
incorporadas na Constituição de 1988, servindo de apoio jurídico-legal para a continuidade da
luta política na arena sanitária.

1.3 Descentralização do SUS como parte da reforma do Estado

Segundo Pereira (1998, p. 31), são essenciais, para a Reforma do Aparelho do Estado
Brasileiro:
[...] a descentralização dos serviços sociais através das ‘organizações sociais’,
implementação das atividades exclusivas de Estado através das ‘agências
executivas’, e fortalecimento do núcleo estratégico do Estado, através do
recrutamento, treinamento e boa remuneração, visando à profissionalização cada vez
36

maior do servidor. A descentralização se dará, de um lado, para estados e municípios


e, de outro, do aparelho do Estado propriamente dito para o setor público não-
estatal. A proposta era conceder autonomia financeira e administrativa a entidades
como universidades, escolas técnicas, hospitais, centros de pesquisa, museus e o
próprio sistema de previdência, criando a possibilidade de transformá-los em
‘organizações sociais’.

Descentralização foi uma das estratégias definidas pelo Ministro da Administração e Reforma
do Aparelho de Estado, Luiz Carlos Bresser Pereira, em 1995. Na reforma administrativa do
sistema de atendimento hospitalar e ambulatorial de saúde do SUS, que tinha como objetivo
garantir um melhor atendimento ao cidadão através de maior controle do sistema, menores
custos e melhor qualidade dos serviços pagos pelo Estado, a descentralização buscava, assim,
uma maior clareza na definição das atribuições e no poder de decisão das diferentes esferas de
governo. (PEREIRA apud MISOCSKY, 2002).

[...] encontra-se nesta proposta de reforma a concepção do Estado neoliberal e a


descentralização sob diversas formas: delegação para agências autônomas,
devolução parcial para estados e municípios e privatização através das organizações
sociais. Misocsky (2002, p. 118).

Misocsky (2002, p. 60), baseada na proposição de Rondinelli, e Cheema, cita a tipologia de


diferentes formas de descentralização para avaliar processos globais em países em
desenvolvimento, como:
• Desconcentração - transferência de autoridade administrativa para escritórios locais de
uma mesma estrutura administrativa;
• delegação- transferência de autoridade e responsabilidade para agências semi-
autônomas;
• devolução - transferência de autoridade e responsabilidade de níveis centrais de
governo para estruturas administrativas públicas em outros níveis de governo;
• privatização - transferência de responsabilidades operacionais e, em alguns casos, da
propriedade, para provedores privados, freqüentemente através de contrato que define
o que deve ser oferecido em troca de fundos públicos.
Segundo Mendes (1998a), na América Latina e, particularmente, no Brasil, a descentralização
foi introduzida como parte de processos de redemocratização, vez que os regimes autoritários
caracterizavam-se por serem centralizados, burocráticos, excludentes e promotores de
intervenções sociais fragmentadas e descoordenadas.

O mesmo autor afirma que, como parte de uma estratégia dos países do primeiro mundo, a
descentralização ganhou força como resposta à crise do estado de bem-estar social. O estado
37

de bem-estar social concretizou-se mediante a organização e produção de bens e serviços


coletivos ou privados, regulados pelo Estado. Foram estabelecidos novos padrões de relação
entre o Estado e a sociedade, em que os estados intervêm nas relações sociais, para regular as
atividades econômicas, ao mesmo tempo em que garantem alguns direitos sociais dos
cidadãos. Este Estado, constituído no pós-guerra, em razão desse caráter intervencionista,
desenvolveu grandes e centralizados aparelhos burocráticos e, no início dos anos 70, começou
a dar sinais de esgotamento. Ainda de acordo com MENDES (1998a), a descentralização
surgiu como parte de um conjunto de reformas econômicas, como alternativa à racionalização
deste aparelho de Estado.

Além da crise da saúde, agrava-se a recessão econômica que marcou a chamada “década
perdida”, na América Latina, diminuindo a massa salarial e, em conseqüência, os recursos da
seguridade social, e aumentando a demanda por benefícios e assistência médica (COHN,
1997).

De acordo com esta autora, o financiamento constitui um dos principais obstáculos ao


processo de descentralização como fator favorável à redemocratização política e social, desde
que, uma vez definidos os critérios de repasse de recursos para o nível local, favorece a
construção da democracia e o aprendizado do exercício de cidadania, na medida em que
aproxima governo e sociedade.

Para Junqueira (1997), a descentralização foi um dos pressupostos que ocorreram no setor
saúde até o advento do SUS, surgindo como uma resposta à necessidade de maior eficiência e
eficácia no aparato estatal responsável pelas políticas sociais no Brasil. O autor acredita que,
embora a descentralização constitua um instrumento de mudança do formato do Estado, do
seu aparato, tornando-o mais permeável aos interesses coletivos, não se pode afirmar que haja
necessariamente uma relação entre essas variáveis e a eficácia da gestão. Segundo Mendes
(1998a,p 18), “a descentralização dos serviços de saúde é imprescindível em nosso país - dado
seu tamanho, sua diversidade e sua desigualdade - apresentando suas fortalezas e debilidades
como em qualquer lugar do mundo”.

Ele enfatiza que o Brasil tem um sistema federativo, dividido em três níveis políticos: União,
Estados e Municípios, estes possuindo autonomia político-administrativa e financeira e
competências constitucionais bem estabelecidas, o que lhes assegura um papel protagônico.
38

Conforme o mesmo autor, a ênfase na descentralização se deu no campo da atenção


ambulatorial e hospitalar e na forma de devolução da União para os municípios. Houve nítida
polarização institucional entre o Governo Federal, detentor do poder financeiro e
normatizador e os municípios, novos atores sociais com capacidade para responder com
agilidade as demandas organizacionais postas pelo Ministério da Saúde. As secretarias
estaduais ficaram entre esses dois pólos, sem recursos financeiros organizacionais, em crise
de identidade. Essas organizações, instituídas para prestação de serviços, ao municipalizarem
a rede ambulatorial, não conseguiram reciclar-se para as funções emergentes da regulação,
não conseguindo acompanhar a dinâmica que se estabeleceu entre as secretarias municipais de
saúde e o Ministério da Saúde, cada vez mais concentrador de recursos. Ao contrário do que
ocorreu com as AIS e o SUDS, em que a municipalização foi conduzida pelas secretarias
estaduais, no SUS esse processo foi dirigido pelo Ministério da Saúde.

Quando aplicada aos serviços de saúde, a descentralização apresenta algumas


particularidades, derivadas, de um lado, da natureza econômica dos bens e serviços e, de
outro, da especificidade da organização dos serviços de saúde, que se estruturaram de forma
hierarquizada, por níveis de atenção, variando segundo suas respectivas densidades
tecnológicas. Como conseqüência, devem estar distribuídos otimamente no espaço, segundo
os níveis primário, secundário e terciário. Como a atenção primária deve necessariamente ser
prestada o mais descentralizadamente possível, os níveis secundário e terciário organizam-se
obedecendo aos princípios de disponibilidade de recursos e de economia de escala. É
irracional descentralizar serviços de maior densidade tecnológica, como atenção hospitalar,
atenção ambulatorial especializada e sistemas de apoio diagnóstico e terapêutico, por
significar maiores custos (MENDES, 1998a).
A Constituição Federal (1988), no Capítulo II, da Seguridade Social, Artigo 196, determina:
A saúde é um Direito de todos e Dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação”(...) O Art.198 afirma: “As ações e Serviços Públicos de Saúde
integram uma rede regionalizada e hierarquizada, constituindo um Sistema Único,
organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I- Descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II- Atendimento Integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais;
III- Participação da comunidade.

A implantação do SUS foi iniciada em 1990, com sua regulamentação através da Lei
Orgânica da Saúde (Lei 8080/90). Essa lei, que sofreu alterações através de vetos do então
39

presidente Collor, incorporou os principais tópicos já consagrados na Constituição. Além


disso, consagrou dois pontos essenciais: a autonomia municipal e a descentralização efetiva
dos recursos financeiros. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação
da saúde, a organização e funcionamento dos serviços correspondentes, definindo os
parâmetros para o modelo assistencial e estabelecendo os papéis das três esferas de governo.

A Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, dispõe sobre a participação da comunidade na


gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área
da saúde. Ficam assegurados os Conselhos e Conferências de Saúde, a forma de alocação de
recursos do Fundo Nacional de Saúde, a regularidade e automotismo dos repasses federais a
estados e municípios e as condições para estados e municípios receberem recursos federais
(ter Fundo de Saúde, Conselho de Saúde, plano de saúde, relatório de gestão e salários). Com
essa base jurídica, o SUS passou a regular-se, na sua ação cotidiana, por meio de Normas
Operacionais Básicas (NOB), que incidiram, fundamentalmente, sobre a fração da assistência
hospitalar e ambulatorial, de responsabilidade do INAMPS, e depois, da Secretaria de
Assistência à Saúde do Ministério da Saúde, sucessora do INAMPS (MENDES, 1998a).

Assim, apareceram, consecutivamente, as NOBs INAMPS/91, SUS/93 e SUS/96, que


tenderam a aprofundar a descentralização, na vertente da devolução para estados e, sobretudo,
para municípios.

A partir de 1991, o Ministério da Saúde instituiu as Normas Operacionais Básicas como


instrumentos reguladores do processo de descentralização. A primeira NOB, emitida em
1991, transformou os serviços de natureza pública (municipais e estaduais) em prestadores de
serviços de saúde, equiparados aos de natureza privada ou filantrópica. O MS criou também
os Convênios de Municipalização, estabelecendo uma relação direta entre o Ministério e as
Secretarias Municipais. Essa NOB apresentava traços centralizadores, ao transformar os
sistemas estaduais e municipais em meros prestadores, cerceando suas prerrogativas de
gestão, ocasionando assim um retrocesso em relação às expectativas após a aprovação da lei
orgânica.

Em 1993, é editada a segunda NOB, conhecida como NOB 93. Esta NOB, respaldada pelo
documento “A Ousadia de Cumprir e Fazer Cumprir a Lei”, segundo Bueno e. Merhy, (1997),
tenta recuperar esta prerrogativa, desencadeando o processo de municipalização da gestão, ou
40

seja, criando as condições de gestão: incipiente, parcial e semi-plena, que expressavam, por si
mesmas, graus crescentes de evolução.

Essas condições transitórias apontavam para uma situação em que o município pudesse
assumir o papel de gestor pleno, que se consolidaria na relação das Comissões Bipartite
(Estadual) e Tripartite (Nacional), sob controle social dos Conselhos de Saúde. A aplicação da
NOB 93 fortaleceu o SUS e serviu de base para a elaboração da NOB 01/96, tendo como
finalidade:

promover o pleno exercício, por parte do poder municipal e do Distrito Federal, da


função de gestor da atenção à saúde dos seus munícipes, com conseqüente
redefinição das responsabilidades dos Estados, do Distrito Federal e da União,
avançando na consolidação dos princípios do SUS (MENDES, 1996a, p. 37).

A NOB 01/96 procura descentralizar, para os municípios, a gestão e execução da atenção


básica de saúde, promove o aumento da transferência, fundo a fundo, dos recursos federais a
estados e municípios, fortalece a gestão do SUS, através das Comissões Intergestoras
Bipartite e Tripartite, e visa o estabelecimento de vínculo entre o cidadão e o SUS. A
municipalização, que já vinha crescendo tendencialmente, acelerou-se de tal forma que, ao
final de 1996, 2.323 municípios estavam em gestão incipiente, 618 em gestão parcial, 137 em
gestão semiplena, num total de 3.078 municípios habilitados para a municipalização
(MENDES, 1998a). Os municípios passaram a ter relação direta com o Governo Federal.

O processo de descentralização do setor saúde no Brasil, desde o advento do Sistema


Único de Saúde (SUS) em 1988, vem caracterizado por uma supervalorização do
município como prestador de serviços de saúde, ao lado de uma subvalorização do
papel dos Estados como instâncias de organização do processo de gestão,
financiamento, fiscalização e controle. Tal comportamento tem acarretado uma série
de problemas, onde cabe destacar: a)- falta de programação e desorganização no
processo de localização espacial e operação da rede de serviços de saúde, uma vez
que municípios próximos duplicam ou triplicam funções que poderiam ser
integradas, caso houvesse coordenação central da rede, trazendo economia de
recursos de investimento e custeio; b)- heterogeneidade da oferta assistencial, uma
vez que os municípios com mais recursos institucionais são aqueles que conseguem
cumprir os requisitos para captar mais recursos federais, aumentando o hiato
assistencial em relação aos municípios que, por não terem recursos institucionais,
são os que mais precisam fortalecer sua capacidade técnica e operacional para
oferecer serviços para a população. (MÉDICI apud MENDES, 1998a, p. 38).

A NOB 96 define novas condições de gestão para os municípios - Gestão Plena da Atenção
Básica e Gestão Plena do Sistema Municipal, e para os Estados- Gestão Avançada do Sistema
Estadual e Gestão Plena do Sistema Estadual. De acordo com a NOB 96, deve-se promover a
41

mudança do modelo de atenção à saúde, através de um outro enfoque, ao invés de se


concentrar no caso clínico, na relação individualizada entre o profissional e o paciente e na
intervenção terapêutica armada, deve ser centrado na qualidade de vida das pessoas e no meio
ambiente, bem como na relação da equipe de saúde com a comunidade, principalmente com
os seus núcleos sociais primários- as famílias (BRASIL, 2000a).

Esta NOB foi editada após um longo processo de negociação entre os atores sociais
envolvidos no SUS, com a finalidade de consolidar o pleno poder público do gestor
municipal.

Apesar de avanços indiscutíveis, como a criação do piso assistencial básico (PAB) e dos
incentivos para a saúde da família (PSF), esta NOB consolida o sistema federativo dualizado e
polarizado e não modifica, substantivamente, o mix de descentralização. Além do que, é uma
norma dura, se prende a detalhes, acolhedora de interesses coorporativos, mal formulada do
ponto de vista da técnica legislativa e extremamente complexa (MENDES, 1998a).

Além de engessar o município, quando define quais os programas a serem seguidos,


condicionando o recebimento de recursos à implantação de programas centralizados pelo
Ministério da Saúde, como é o caso do PSF e do PACS, ferindo desta forma a autonomia do
município, subtraindo-lhe o direito de escolher, em seus próprios fóruns gestores, se estes
instrumentos são adequados ou não à sua realidade.

O financiamento das atividades hospitalares pelo Sistema Único de Saúde, adotado pela NOB
01/91, continuou com as AIHs (Autorização de Internação Hospitalar), como no período pré –
SUS. Estabeleceu-se nesta norma, como critério de repasse, a proporção de um número de
internações correspondente a 10% da população/ano. A partir deste percentual, multiplicando-
se por um valor médio, chegou-se ao teto orçamentário para a assistência hospitalar de cada
estado. Na NOB 01/93 permaneceu essa relação, para um grande número de municípios.
Entretanto, foi criada uma nova situação, em que estes recursos seriam repassados fundo a
fundo, sendo o valor global das internações repassado diretamente ao município, alçado da
condição de prestador para a de gestor. Já na NOB/96, os recursos destinados à assistência
hospitalar fazem parte do Teto Financeiro da Assistência (TFA), composto de recursos de
custeio da esfera federal destinados à assistência hospitalar e ambulatorial, cujos valores
42

podem ser aplicados segundo duas modalidades: transferência regular e automática (fundo a
fundo) e remuneração por serviços executados (ANDRADE, 2001).

Segundo o Ministério da Saúde, o processo de descentralização teve dois momentos


importantes e distintos: primeiro, o movimento de descentralização do sistema, baseado nos
dispositivos da NOB-SUS 01/93, que só tratava da assistência à saúde, e o outro momento
referente à NOB-SUS 01/96, que tratava da assistência, da vigilância sanitária e
epidemiológica e do controle de doenças. Ainda segundo o Ministério da Saúde, a NOB-SUS
01/96 serviu mais para orientar a descentralização da assistência, sendo que a vigilância
sanitária e epidemiológica, como também o controle de doenças, ficaram a cargo da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária e da Fundação Nacional de Saúde, que posteriormente
elaboraram atos normativos para orientar a descentralização nestas áreas (BRASIL, 2002).

Acredita-se que a descentralização permita uma maior facilidade na resolução dos problemas
existentes, uma vez que o município é a menor instância política, onde o cidadão comum terá
maior facilidade não só de cobrar atitudes dos seus governantes, como também de decidir,
junto com o poder municipal, onde esses recursos devem ser aplicados. Além disso, o
governante municipal tem maior conhecimento das dificuldades de sua região, o que lhe
assegura decidir com conhecimento de causa, ao contrário do que ocorre no âmbito do
Governo Federal ou Estadual, em que se determina o que é melhor sem, muitas vezes,
conhecer a realidade, fato especialmente digno de atenção em se tratando de um país com
dimensões continentais e diferenças bastante acentuadas, conforme mencionado
anteriormente.

1.4 Processo de municipalização dos serviços de saúde: PACS/ PSF.

Inspirado nos princípios da medicina geral comunitária foi formulado o Programa de


Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS), em 1976. Este programa era
dirigido principalmente para o Nordeste brasileiro, com o objetivo de implementar a rede de
serviços de saúde nos diversos níveis de atendimento. Neste contexto, foi realizada, em 1977,
em Quebec, no Canadá, a 30ª Assembléia Mundial de Saúde, tendo como meta “Saúde para
todos no ano 2000”, com vistas à melhoria dos indicadores sociais para o Terceiro Mundo,
tornando-se o lema da Conferência Internacional da OMS sobre cuidados primários de saúde,
em 1978, em Alma-Ata, capital da República do Casaquistão, URSS (D’AGUIAR, 2001). O
43

evento apontava para uma revalorização da atenção primária em função de sua caracterização
pela medicina flexneriana e pela hegemonia dos cuidados hospitalares e especializados.

Segundo o MS:

Unidades básicas de saúde, funcionando de forma adequada, com resolutividade, e


humanizada, são capazes de resolver, com qualidade, cerca de 85% dos problemas
de saúde da população. O restante precisará de atendimento em ambulatórios de
especialidades e somente um pequeno número precisará de atendimento hospitalar
(BRASIL, 2000b, p. 2).

Mendes (1998b, p. 75) menciona um rigoroso trabalho de comparação internacional sobre


modelos de atenção primária, realizado em onze países da OECD (Organisation for Economic
Co-Operation and Development), demonstrando que os sistemas orientados por uma atenção
primária resolutiva (universalidade de acesso garantida por financiamento público, provisão
da atenção por clínicos gerais ou médicos de família, adscrição de clientela, disponibilidade
do primeiro contato, longitudinalidade e integralidade do cuidado e orientação familiar e
comunitária) estão associados com custos menores, usuários mais satisfeitos, maior impacto
sobre os níveis sanitários e diminuição do uso de medicamentos per capita. Já os serviços de
livre demanda, sendo descuidados com a organização da atenção primária, com foco na
doença; sujeitos individuais; não reconhecendo uma dimensão territorial; atenção ocasional e
passiva, enfatizam relativamente os cuidados curativos e reabilitadores, negam a possibilidade
de relações interpessoais constantes, desumanizando assim a atenção à saúde... por
conseqüência, tendem a ser ineficazes e ineficientes.(MENDES, 1998b)

Considerando esse contexto e com vistas à reorientação do modelo assistencial brasileiro, o


Ministério da Saúde assumiu, a partir de 1994, como resposta intencional a essa conjuntura, a
implantação do Programa Saúde da Família – PSF (BRASIL, 2000b).

De acordo com o Ministério da Saúde, ao priorizar a atenção básica, o PSF não faz uma opção
econômica pelo mais barato, nem técnica, pela simplificação, nem política, por qualquer
forma de exclusão. O PSF não é uma peça isolada no sistema de saúde, mas um componente
articulado com todos os níveis.

O Programa de Saúde da Família representa uma estratégia para reverter a forma atual de
prestação de assistência à saúde, uma proposta de reorganização da atenção básica como eixo
para a reorientação do modelo assistencial, respondendo a uma nova concepção de saúde, não
44

mais centrada somente na doença, mas, sobretudo, na promoção da qualidade de vida e na


atenção a fatores que a colocam em risco. Caracteriza-se pelos princípios de universalidade,
equidade da atenção e integralidade das ações (BRASIL, 2000b).

O MS enfatiza ainda que, ao encaminhar os pacientes com mais garantia de referência e


menos desperdício, o PSF amplia o acesso de todos aos benefícios tecnológicos, propõe uma
nova dinâmica para a estruturação dos serviços de saúde, bem como para sua relação com a
comunidade e entre os diversos níveis de complexidade assistencial. Assume o compromisso
de prestar assistência universal, integral, equânime, contínua e, acima de tudo, resolutiva à
população, na unidade de saúde e no domicílio. Não apenas as unidades básicas, mas todo o
sistema de saúde deverá estar estruturado segundo a lógica em questão. A unidade básica,
segundo a estratégia do PSF, deverá ser a porta de entrada do sistema, exigindo a integração
de toda a rede (BRASIL, 2000b).

Considerando que alguns princípios do SUS ainda não atingiram sua plenitude, é impossível
negar o avanço da descentralização com a efetiva municipalização, a implantação de
programas de assistência básica (PSF- Programa de Saúde de Família) e implementação de
outros (PACS- Programa de Agentes Comunitários).
Em palestra proferida no 1º Seminário de Experiências Internacionais sobre o PSF ,o
representante do Reino Unido, Justin Allen (SEMINÁRIO DE EXPERIÊNCIAS
INTERNACIONAIS EM SAÚDE DA FAMÍLIA, 2000), demonstrou que experiências
internacionais com programas voltados para a assistência básica constituem uma realidade,
como aconteceu no Reino Unido. O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido está baseado
numa rede de médicos de família, como a porta de entrada do sistema. Segundo o palestrante,
embora não sendo perfeito, constitui um método efetivo de prestar assistência e talvez seja
esta a razão de o Reino Unido estar gastando menos em assistência à saúde. Atualmente, gasta
com atenção primária 8.9% do total; 40 anos atrás, gastava 10,1%. Em relação ao acesso à
assistência à saúde, 90% dos atendimentos são realizados pelo GP (General Practicioner), em
seu consultório; quando necessário, o paciente é remetido ao segundo nível de assistência. O
único outro acesso por parte dos pacientes é aos departamentos de emergência, por motivo de
acidente. Apenas 1% do contato de paciente ocorre no nível terciário ou em hospitais de
ensino. (SEMINÁRIO DE EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS EM SAÚDE DA
FAMÍLIA, 2000).
45

Conforme explicou o representante de Cuba, Filiberto Pérez Ares (SEMINÁRIO DE


EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS EM SAÚDE DA FAMÍLIA, 2000), o modelo de
medicina familiar constitui a porta de entrada do sistema nacional de saúde cubano,
facilitando 95% dos problemas de saúde da população que procura os consultórios. A equipe é
composta por um médico e uma enfermeira, proporcionando cobertura a 97% da população. A
taxa de mortalidade, em crianças abaixo de um ano, em 1997, foi de 7,2 para mil nascidos
vivos. Mais de 50% da mortalidade total de Cuba corresponde a idosos maiores de 60 anos,
evidenciando a qualidade da assistência prestada à população e a especialização da saúde
pública cubana. Ele ressaltou a alta qualificação dos recursos humanos, afirmando que a
eficácia, a efetividade de qualquer modelo depende de muitas coisas, dentre as quais ressalta
esta qualificação, responsável por um percentual elevadíssimo de capacidade resolutiva dos
problemas de saúde da população.

O sistema de saúde básico dos Estados Unidos, segundo Bernard Salafsky (SEMINÁRIO DE
EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS EM SAÚDE DA FAMÍLIA, 2000), em 1998, pode
ser caracterizado como detentor de excelentes cuidados médicos que, no entanto ,são muito
caros. A assistência primária à saúde è boa, mas não está disponível nas pequenas cidades,
nem no interior. As mudanças nos paradigmas apontam para o retorno a uma medicina
voltada para a prevenção. De acordo com o expositor, o Governo dos Estados Unidos está
mobilizando recursos a fim de ampliar o acesso aos serviços de saúde em todo o pais, sendo
definido algumas prioridades: promover o acesso à qualidade do atendimento aos excluídos,
reduzir as desigualdades raciais e clínicas; promover um sistema de atenção voltado para o
conjunto da população; assegurar programas que quebrem a barreira junto à população e
promover o desenvolvimento de um sistema de gerenciamento eficiente e com efetivo custo-
benefício. A crise na assistência à saúde está provocando, na comunidade, uma volta à
promoção da saúde, um apoio aos movimentos direcionados a estimular a solidariedade e os
auto-cuidados de saúde; nas salas de aula está surgindo um movimento de reforma do ensino
médico, no sentido de promover a formação de generalistas, com ênfase na atenção primária
da saúde.

O representante do Canadá, Johanne Theoret, enfatizou os principais fundamentos do sistema


de saúde na província de Quebec: universalidade, integralidade e acessibilidade dos cuidados
para todos; gestão pública; o direito ao serviço, em todo o território nacional. As famílias têm
uma grande importância. Há uma secretaria de família que realiza entrevistas com os médicos,
46

para conhecer as necessidades da população.A criança constitui uma grande prioridade,bem


como os idosos. Os quatro princípios da medicina familiar inspiram a formação do médico de
família: 1º) ser um clínico competente; 2º) a medicina familiar deve ser totalmente orientada
para a comunidade; 3º) o acesso deve estar disponível à comunidade definida; 4º) a relação
entre médico e paciente é primordial, tanto que a maior parte da formação do médico está
baseada nesta relação.

Assim, em cada país a prestação da assistência através do programa médico de família


reveste-se de contornos próprios, moldados pelo sistema de saúde em que está inserida:
universal e gratuita, em Cuba, universal e não gratuita, no Canadá e Reino Unido, não
universal e não gratuita, nos Estados Unidos.

A primeira etapa de implantação do PSF ocorreu em 1991, com a estruturação do Programa


de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), inspirado em experiências anteriores de
prevenção de doenças através de informações e orientações sobre cuidados de saúde e grupos
de risco. O PACS tem como objetivo contribuir para a reorganização dos serviços municipais
de saúde, para a integração das ações entre os diversos profissionais, visando a ligação efetiva
entre a comunidade e as unidades de saúde. É considerado uma trajetória para o PSF, pelo
Ministério da Saúde (BRASIL, 2002).

Em 1991, o Ministério da Saúde/Fundação Nacional de Saúde criou o PACS (Programa de


Agentes Comunitários de Saúde), estimulado por experiências realizadas no Ceará, Goiás,
Pernambuco, Maranhão,Vale do Ribeira(SP) e Rondonópolis(MT), através de relatos de
programas com agentes de saúde , das sugestões apresentadas pelo Movimento Nacional de
Agentes Comunitários e do Programa de Líderes Comunitários da Pastoral da Criança/CNBB.
A idéia era selecionar membros da própria comunidade para, após treinamento em ações
básicas de saúde, desenvolver um trabalho de educação sanitária através de visitas
domiciliares e de reuniões com as famílias. O grupo inicial teve êxito no combate à cólera e
na prevenção de algumas doenças, na Região Norte, contribuindo também para a melhoria dos
indicadores de saúde, destacando-se a mortalidade infantil. O objetivo do programa era a
orientação das famílias para as questões relacionadas à saúde. Em 1991, sua implantação é
iniciada nos estados da Região Nordeste. As ações prioritárias foram dirigidas à educação em
saúde, voltadas para o grupo materno-infantil (BRASIL, 2000b).
47

Na medida em que o PACS se fortalecia nos municípios, demonstrando resultados concretos


quanto aos indicadores de mortalidade infantil e sendo avaliado positivamente pela própria
população, passou a pressionar as Unidades Básicas de Saúde. Além do impacto dos
indicadores, o PACS oferecia uma importante contribuição para a organização dos sistemas
locais, através da interiorização do profissional enfermeiro e do estímulo para a criação dos
Conselhos Municipais de Saúde (exigência para a implantação do Programa). Na
continuidade deste processo, o Ministério da Saúde lançou, no início de 1994, o Programa de
Saúde da Família, que valorizava os princípios de territorialização, de vinculação com a
população, de garantia de integralidade da atenção, de trabalho em equipe e multidisciplinar,
de ênfase na promoção da saúde, fortalecimento das ações intersetoriais e de estímulo à
participação da comunidade (SOUZA, 2000).

O primeiro documento do PSF abordava a problemática dos 32 milhões de excluídos, segundo


o mapa da fome do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). Gerou a
compreensão equivocada de que o PSF fosse um “programa de pobre para pobre”. Diante das
dificuldades de financiamento, em sua implantação foram priorizadas algumas áreas
desassistidas. Em 1995, o PSF foi incorporado pela Secretaria de Assistência à Saúde e, a
partir daí, foi alçado de sua condição periférica para um papel prioritário no Ministério da
Saúde. Posteriormente, foi criado o Departamento de Atenção Básica, vinculado à Secretaria
de Políticas de Saúde, sendo o PSF o eixo estruturante desta Secretaria (SOUZA, 2000).

Cada equipe do PSF é responsável pelo acompanhamento de, no máximo, mil famílias ou
4.500 pessoas, que residam ou trabalhem no território de responsabilidade da unidade de
saúde, agora denominada “Unidade Básica de Saúde da Família”. Por exigência do Programa,
os profissionais das equipes devem residir no município onde atuam, trabalhando em regime
de dedicação integral. E os agentes comunitários de saúde (ACS) devem residir na área em
que atuam, com o objetivo de garantir a identidade e vinculação cultural com as famílias
(BRASIL, 2002).

São atribuições da equipe do PSF: -conhecer a realidade das famílias pelas quais são
responsáveis e identificar os problemas de saúde mais comuns e situações de risco aos quais a
população está exposta; - executar, de acordo com a qualificação de cada profissional, os
procedimentos de vigilância epidemiológica, nos diversos ciclos da vida; -garantir a
continuidade do tratamento, pela adequada referência do caso; - prestar assistência integral,
48

respondendo de forma contínua e racionalizada à demanda, buscando contatos com indivíduos


sadios ou doentes, visando promover a saúde por meio da educação sanitária; - promover
ações intersetoriais e parcerias com organizações formais e informais existentes na
comunidade, para o enfrentamento conjunto dos problemas; - discutir, de forma permanente,
junto à equipe e à comunidade, o conceito de cidadania, enfatizando os direitos da saúde e as
bases legais que os legitimam;- incentivar a formação e/ou participação ativa nos conselhos
locais de saúde e no Conselho Municipal de Saúde (BRASIL, 2000a).

No ano de 2000, havia 7.991 equipes de saúde da família, distribuídas em 2.614 municípios
brasileiros, nas 27 unidades federadas, conferindo uma cobertura a mais de 27,5 milhões de
habitantes. A meta para expansão do programa indica, em 2002, 150 mil agentes comunitários
e 20.000 equipes de saúde da família, representando aproximadamente o acompanhamento da
metade da população brasileira, tendo também como decisão política a reorientação do
modelo de atenção à saúde, começando pela atenção básica (Brasil, 2000a).
Os principais benefícios em municípios onde há PSF e PACS são:

melhoria dos indicadores de saúde, com a redução da mortalidade infantil e o


aumento da cobertura do pré-natal; estabelecimento de vínculo de responsabilidade
entre as famílias e os profissionais de saúde; ampliação do número de pessoas
atendidas pelas unidades de saúde; maior acompanhamento dos problemas de saúde
da população (hipertensão, diabetes, tuberculose, hanseníase); diminuição do
número de exames complementares, de encaminhamentos de emergência e de
internações hospitalares (BRASIL, 2003).
O modelo de atenção preconizado pelo Saúde da Família já foi testado em vários
países, com contextos culturais de diferentes dimensões e níveis diferenciados de
desenvolvimento socioeconômico, como por exemplo Canadá, Cuba, e Reino Unido,
resolvendo mais de 85% dos casos - ficando o percentual restante com as unidades
mais complexas. .(BRASIL, 2000b, p. 318).

O Programa de Saúde da Família representa, nos últimos anos, a mais importante mudança
estrutural realizada na saúde pública, no Brasil. Permite a inversão da lógica anterior, que
sempre privilegiou o tratamento da doença nos hospitais. Para que esta nova prática se
concretize, faz-se necessário a presença de profissionais com visão sistêmica e integral do
indivíduo, da família e da comunidade, um profissional capaz de atuar com criatividade e
senso crítico, mediante uma política humanizada, competente e resolutiva, que envolva ações
de promoção, proteção específica, assistencial e de reabilitação. Em decorrência da
dificuldade encontrada pelo Ministério da Saúde para recrutar profissionais com esse perfil,
foram investidos na capacitação de recursos humanos, entre 1999 e 2000, de acordo com
dados do Departamento de Atenção Básica do Ministério, R$ 12,4 milhões, visando a
formação de pólos de capacitação em 54 instituições universitárias (BRASIL, 2000b).
49

O PSF implanta-se no município com a participação do nível estadual. Para tal, o município
deve estar habilitado conforme uma das condições previstas na NOB/96 (Gestão Plena de
Atenção Básica ou Gestão Plena do Sistema Municipal) e, após elaborar a proposta para
implementação das equipes, as unidades básicas a enviam para a SES, que, após análise, a
remete para a Comissão Intergestora Bipartite (CIB). Sendo aprovada, o município fica
autorizado a cadastrar as unidades de saúde da família. É da responsabilidade da Secretaria
Municipal de Saúde a coordenação das estratégias do PSF no município, o recrutamento, a
seleção e contratação dos profissionais, a elaboração de relatórios de gestão, para
acompanhamento, avaliação de desempenho e evolução do trabalho das equipes, a definição
do fluxo de referência e contra-referência para serviços de maior complexidade que
assegurem a realização de consultas especializadas, apoio diagnóstico e internação hospitalar
(BRASIL, 1999).

No âmbito do estado, a SES desempenha o papel de interlocutor entre o MS e os municípios,


assumindo a responsabilidade de participar na definição de normas e diretrizes da estratégia
do PSF, planejar, acompanhar e avaliar a implementação do programa. O Governo Federal
assegura o gerenciamento e a organização da estratégia do PSF, através do Departamento de
Atenção Básica da Secretaria de Assistência à Saúde. Ele define as normas e diretrizes do
programa, os mecanismos de alocação de recursos federais, negocia com a Comissão
Intergestora Tripartite, acompanha e avalia a implementação e os resultados do Programa nos
estados e municípios, oferece assessoria aos pólos de capacitação, articula com as instituições,
universidades, etc. O financiamento é feito através do Piso de Atenção Básica (PAB),
composto de uma parte fixa, destinada à atenção básica (remuneração per capita ), sendo o
valor mínimo de R$10,00 por habitante por ano, para cada município habilitado, e uma parte
variável, destinada a incentivos para o desempenho de ações estratégicas da atenção básica
(PSF e PACS) (BRASIL, 1999, p. 27).

O Piso de Atenção Básica foi criado com a NOB /96, estabelecido pela Portaria nº1.882 /GM,
de 18/12/97 e, através dele, é repassado, pelo Governo Federal, um valor per capita aos
municípios; somados, as transferências estaduais e os recursos municipais financiam a
Atenção Básica à Saúde, definida como:
50

Um conjunto de ações, de caráter individual ou coletivo, situadas no primeiro nível


de atenção dos sistemas de saúde, voltada para a promoção da saúde, a prevenção de
agravos, o tratamento e a reabilitação (...) e que permitam avançar na direção de um
sistema de saúde centrado na qualidade de vida das pessoas e de seu meio ambiente
(BRASIL, 1999, p. 27).

De acordo com o Ministério da Saúde (Departamento de Atenção Básica-Secretaria de


Políticas de Saúde), este Programa não é de um gestor, nem mesmo de um governo.
Desenvolvido nos três níveis de gestão, sua importância é associada ao impacto identificado
no desenvolvimento atual da proposta, pelos administradores setoriais e pela própria
população, donde se constata a tendência de sua perenidade, garantindo o permanente avanço
na melhoria do modelo de atenção à saúde dos brasileiros. Desta forma, pelo melhor
conhecimento da clientela e pelo acompanhamento detalhado dos casos, o programa permite
ordenar os encaminhamentos e racionalizar o uso da tecnologia e dos recursos terapêuticos
mais caros. O PSF não isola a alta complexidade, mas a coloca articuladamente à disposição
de todos. Racionalizar o uso, neste sentido, é democratizar o acesso.
Os resultados já observados em todo o país e a potencialidade do PSF fizeram com que o MS
revisse seu orçamento, em 1998, para alocar recursos para o PSF/PACS, que recebeu um
montante de R$ 218 milhões, subindo para R$ 380 milhões em 1999 e R$ 680 milhões, em
2000. Esses recursos são transferidos como forma de incentivo aos municípios que
implantaram o Programa de Agentes Comunitários de Saúde e o Programa de Saúde da
Família (BRASIL, 2000a).
Os quadros 1 e 2, elaborados com base nos dados do MS (BRASIL, 2003), retratam
numericamente a abrangência e cobertura do PACS e PSF, em 1994 e 2001, possibilitando
avaliar a expansão destes programas e seu impacto na saúde da população brasileira. O
orçamento nacional do PACS/PSF, para 2001, foi de 970 milhões e a previsão, para 2002, era
de 1,3 bilhões, repassados aos municípios pelo Ministério da Saúde, variando de acordo com a
cobertura populacional: quanto maior o número de pessoas assistidas pelas equipes e agentes
comunitários, maior a quantia recebida pelos municípios.

Quadro 1. Evolução do PACS entre 1994 e 2001


1994 2001
Agentes Municípios com Pessoas Agentes Municípios com Pessoas
comunitários agentes de saúde assistidas comunitários agentes de saúde assistidas
29 mil 879 505 mil 159 4 853 91 milhões
Fonte: (BRASIL, 2003)
51

Quadro 2. Evolução do PSF entre 1994 e 2001


1994 2001
nº de equipes Nº de municípios Nº de Nº de equipes Nº de municípios Nº de pessoas
com PSF pessoas com PSF cobertas
cobertas
328 55 1,1 milhão 14.209 3.805 49 milhões
Fonte: (BRASIL, 2003)

Embora a municipalização tenha obtido importantes avanços nos últimos anos, com grande
implementação na assistência básica à saúde, o modelo assistencial ainda predominante no
país continua a ter o hospital como o centro do sistema, ou seja, é um sistema
“hospitalocêntrico”, caracterizado pelo individualismo, baixa resolutividade dos serviços,
utilização irracional dos recursos tecnológicos disponíveis, gerando um alto grau de
insatisfação não só da clientela atendida, como dos gestores e trabalhadores em saúde
(BRASIL, 2000b). Isto se deve também ao ainda pequeno envolvimento do município, ou
seja, ao fato de muitos municípios não terem se sensibilizado para este tipo de assistência,
preocupados com os gastos decorrentes da incorporação de equipamentos públicos e novas
tecnologias (JUNQUEIRA, 1997).

Vale ressaltar, também, a dificuldade para recrutar pessoal qualificado para a formação da
equipe de trabalho, nos municípios menos desenvolvidos. Para contornar esta dificuldade, o
Ministério da Saúde implantou o Programa de Interiorização, em busca de pessoal estimulado
a trabalhar em locais em que as condições são precárias. Em conseqüência, constata-se
diariamente hospitais lotados de casos que poderiam ser resolvidos pelo município, na
assistência básica, casos que não deveriam ser trazidos para estes serviços. Um outro
agravante para o problema é o fato de que o setor de saúde vem sofrendo com a crise
econômica, com a política de redução dos gastos públicos, que tem afetado de modo geral os
programas sociais e, em particular, a área da saúde, acarretando um decréscimo drástico e
persistente do aporte de recursos financeiros para o setor.

Neste trabalho, a atenção básica desempenha um papel de destaque, face ao propósito de


estabelecer um comparativo entre dois períodos (antes e depois da municipalização), e avaliar
as mudanças que possam ter ocorrido na demanda da emergência de adultos do hospital em
estudo, observando se houve redução de casos que a assistência básica poderia resolver.
52

Em documento intitulado Reduzindo as desigualdades e ampliando o acesso à assistência á


saúde no Brasil (BRASIL, 2002, p. 53), o Ministério da Saúde afirma que “entre os anos de
1998 e 2002, empreendeu esforços no sentido de organizar a rede assistencial , ampliar o
acesso da população aos serviços de saúde e ampliar a qualidade da assistência prestada”.
Segundo dados deste documento, o MS investiu R$ 5,3 bilhões de 1996 a 2000, beneficiando
mais de 1200 unidades de saúde, atuando também na mudança da lógica e no modelo de
financiamento das ações no desenvolvimento de Programação Pactuada Integrada, na redução
das desigualdades regionais, na distribuição de serviços de saúde e na alocação de recursos. O
MS adotou duas grandes linhas de ação estratégicas e fundamentais: a ampliação da atenção
básica e a regionalização da assistência à saúde.

O Sistema Único de Saúde dispõe de uma grande rede, composta por 5.794 hospitais,
distribuídos em todos os estados brasileiros, dentre os quais hospitais de alta complexidade,
além de uma grande rede ambulatorial especializada, com 63.650 ambulatórios (BRASIL,
2003). Conta também com uma rede básica de saúde, formada pelos postos, centros ou
unidades básicas de saúde, rede esta que passou a ser considerada “assessória e
desqualificada”, contribuindo desta forma para a constante lotação dos hospitais, que têm
funcionado como porta de entrada do sistema, causando assim uma disfunção, ou seja, o que
era para ser básico passou a ser descartável, e o topo passou a ser a porta de entrada
(BRASIL, 2000b).

Dentro desta lógica, encontra-se o Hospital da Restauração, que enfrenta, há vários anos,
problemas de superlotação, baixa qualidade da assistência prestada e desestímulo dos
profissionais que ali trabalham. Como conseqüência, enfrenta, diuturnamente, denúncias na
imprensa falada, televisada e escrita (Anexo A), relativas às condições sub-humanas em que
os doentes se encontram naquele serviço. Muitas tentativas já foram feitas, buscando mudar
esta realidade, algumas delas partindo da própria instituição, e outras da Secretaria de Saúde
do Estado, à qual o hospital pertence. Esta realidade não é específica do Hospital da
Restauração, constituindo na verdade parte de um problema de proporções muito maiores, de
alcance nacional, abrangendo muitos hospitais públicos de grande porte, em situação
semelhante, nas grandes cidades brasileiras, instituições em que o sofrimento humano chama
a atenção da imprensa, que divulga para a sociedade a degradação a que o ser humano pode
chegar.
53

Ainda há muito por fazer, na área da assistência à saúde, não obstante o processo de
descentralização e municipalização dos serviços de saúde já ter sido implantado há mais de 5
anos, e esteja em grau avançado de atuação, com 99,21% dos municípios brasileiros; em
Gestão Plena de Atenção Básica encontram-se 89,06%, e Plena de Sistema Municipal,
10,14% do total de municípios (BRASIL, 2001).

O que se pode perceber, numa perspectiva geral, é que muitos municípios se creditam ao novo
modelo apenas para adquirir financiamento, sem no entanto se empenhar, de acordo com as
diretrizes e normas, em realizar as ações de sua alçada, ou seja, segundo o próprio Ministério
da Saúde:
A maciça habilitação dos municípios em Gestão Plena da Atenção Básica representou
um avanço do ponto de vista da responsabilização de milhares de gestores municipais
e aumento da equidade na alocação de recursos por meio da implantação do PAB,
mas não assegurou a qualidade e efetividade da atenção básica em todos os
municípios, nem foi suficiente para garantir o acesso dos cidadãos aos demais níveis
de atenção (BRASIL, 2002, p 24).

Na verdade, alguns municípios estão apenas encaminhando os pacientes para os centros mais
desenvolvidos e, com isso, sobrecarregando os grandes hospitais, como é o caso do Hospital
da Restauração, que diariamente atende, na emergência e no ambulatório, pessoas de várias
procedências, das mais diversas cidades do interior do Estado de Pernambuco. O que
certamente estes municípios estão desenvolvendo em relação à assistência, é possível até que
sem perceber a gravidade do problema, é o que vulgarmente se denomina “ambulâncio-
terapia”.

No próximo capítulo serão abordados alguns estudos do perfil de clientela e modelo


assistencial encontrados na literatura e se tentará fazer uma correlação com o estudo em pauta,
assim demonstrando a importância desse tipo de estudo como contribuição para a
reestruturação da rede de saúde como um todo, principalmente na reorientação da porta de
entrada do sistema de saúde.
54

2. MODELO ASSISTENCIAL e PERFIL DE CLIENTELA


55

2. MODELO ASSISTENCIAL e PERFIL DE CLIENTELA

Neste capítulo serão abordados alguns estudos sobre modelo assistencial e perfil de clientela
encontrados na literatura pesquisada que, de alguma maneira, têm relação com o presente
estudo. Procurou-se buscar, na literatura, estudos de perfil de clientela, correlacionados com o
modelo de atenção à saúde. A literatura é rica em estudos de perfil de clientela, porém escassa
em relação àqueles relacionados ao modelo assistencial. Dentre os inúmeros estudos
pesquisados, apenas dois eram correlacionados com o modelo assistencial, um deles com a
reforma psiquiátrica e o outro abordando a demanda de um pronto atendimento, como
subsídio ao modelo assistencial do Sistema Nacional de Saúde, este último realizado em São
Paulo; foi ainda encontrado um estudo de avaliação da resolutividade do PSF numa cidade
brasileira.

Os estudos de perfil de clientela têm uma importância muito grande para os gestores, como
subsídios ao planejamento da atenção à saúde. Quando se conhece a clientela para a qual
serão desenvolvidas as atividades de assistência, otimiza-se recursos humanos, material e
tempo, podendo-se priorizar o que é mais relevante para aquela população, além de poder
traçar diretrizes para cada faixa etária, sexo e áreas em que ocorrem a maioria dos eventos em
saúde.

Dentre os estudos pesquisados, alguns trabalham a questão apenas sob a ótica do perfil,
tentando conhecê-lo sem correlações com o modelo de atenção à saúde, como é o caso dos
estudos de Santos et al. (2000); Peixoto Filho; Campos; Botelho, (1990); Salla et al. (1989), o
primeiro realizado no Hospital Barata Ribeiro, RJ, sendo os dados levantados a partir dos
pacientes internados, e chegando à conclusão de que 48% dos pacientes matriculados eram
homens, e a clínica com maior número de prontuários abertos foi a ortopedia, com 85%. O
estudo atestou a significativa contribuição do hospital como suporte a serviços de emergência
em traumatologia, com potencial para contribuir com informações relacionadas com causas
externas.

Para determinar o perfil epidemiológico da população atendida no serviço de emergência em


clínica médica do Hospital Universitário da Universidade de Santa Catarina, Peixoto Filho;
Campos; Botelho, (1990) estudaram 2.417 casos atendidos naquela instituição, no ano de
1988. O estudo foi do tipo descritivo e retrospectivo, analisando as variáveis: idade, sexo,
56

estado civil, procedência, horário de chegada e motivo da consulta, encaminhamentos e


exames complementares solicitados no atendimento. As variáveis foram consideradas para os
dois grupos distintos: internados (n=83) e não internados (n=2334). A média das idades foi de
30,8 anos para os não internados e 55,9 para os internados. O sexo feminino predominou entre
os não internados, enquanto o masculino foi o mais freqüente entre os internados. Dentre os
não internados, a maior parte (80,8%) foi encaminhada para casa. As doenças do trato
respiratório foram as mais freqüentes entre os não internados, enquanto no grupo dos
internados predominavam as doenças do aparelho cardiovascular. O exame mais solicitado na
emergência foi o RX de tórax. A maioria dos pacientes de ambos os grupos era de
Florianópolis e foi atendida durante o dia. O substrato para este estudo transversal foram as
fichas de emergência, separadas por amostra sistemática de 10%, sem reposição, de acordo
com a distribuição cronológica ao longo do ano de 1988. O autor concluiu que os
atendimentos foram decorrentes, em sua maioria,de causas que poderiam facilmente ser
diagnosticadas e tratadas em um núcleo de atenção primária à saúde.

Salla et al (1989), em estudo realizado em Santa Maria /RS, analisaram 1082 prontuários da
demanda de um serviço de pronto socorro, constatando que 60,6% das consultas eram
consideradas não urgentes e que os pacientes da área urbana somaram 86,8% (homens) e
50,4% (mulheres), sendo a faixa etária prevalente de 20 a 29 anos.
Em outra perspectiva, Campos Junior et al (1998 ) e Deslandes et al. (2000) Estudaram
aspectos epidemiológicos de acidentados atendidos em hospitais. O primeiro estudou os
pacientes atendidos no Hospital de Base de São José do Rio Preto /SP, com o objetivo de
obter dados epidemiológicos do trauma, avaliando variáveis como: número de ocorrências,
cidades envolvidas, horário de chegada, freqüência durante os dias de semana, faixa etária,
sexo e tipo de trauma. Foi observado que o número de ocorrências dobrava nos finais de
semana e que o pico no atendimento ocorreu entre 18:00 e 0:00h; ao contrário do que
acontece nas grandes metrópoles, os ferimentos por arma de fogo e arma branca foram baixos.
O autor concluiu haver necessidade de treinamento específico para manuseio e transporte de
politraumatizados, por parte dos médicos que atuavam no serviço, face à constatação de falta
de preparo da equipe de plantão no que cncerne à remoção de pacientes para uma unidade de
maior complexidade.

Deslandes et al. (2000) analisaram a morbidade hospitalar por acidentes de trânsito em


hospitais públicos do Rio de Janeiro, identificando alguns parâmetros para a clientela
57

atendida, relativos aos diferentes agravos sofridos e ao atendimento prestado. Foram


estudados dois hospitais municipais do Rio de Janeiro. Definiram como acidentes de transito
os atropelamentos, colisões e outros. A coleta de dados foi realizada durante dois meses, pelas
equipes de plantão de 12h, ao longo de todo o período estudado, perfazendo um total de
24h/dia de coleta. As causas declaradas pelos pacientes ou, na impossibilidade deste, pelo
socorrista ou acompanhante, foram a fonte de classificação dos eventos. Como resultado, 320
casos foram atendidos no hospital 1 e 290 no hospital 2. Em ambos os hospitais, os homens
foram os mais atingidos (69,3%). A faixa etária mais afetada foi a de 20 a 39 anos (60,5%) no
hospital 1 e ( 47,5%) no hospital 2. Dentre os 610 casos estudados, predominou o
atropelamento (49,3%), seguido pelas colisões (35,6%) e outros acidentes (15,1%). Os autores
concluíram que a análise dos dados poderia contribuir para uma melhor organização das
equipes de trabalho, maior rigor no registro hospitalar, além do conhecimento dos aspectos
que deveriam ser mais enfatizados nas campanhas de prevenção.

Evidencia-se com clareza a importância desses tipos de estudo, uma vez que têm contribuição
quase que imediata na tomada de decisões dos gestores, bem como para a melhoria da
assistência prestada à população específica.

Ribeiro (1998), com o objetivo de verificar a adequação dos serviços de urgência e


emergência para as vítimas de violência no Pronto Socorro Municipal da Lapa,(PSM-Lapa),
São Paulo, no período de 1991 a 1996, analisaram as seguintes variáveis: estrutura e processo
de morbidade, mortalidade, remoções hospitalares e padrão de resolutividade. Tanto no
estudo da morbidade quanto no da mortalidade, constataram maior freqüência do sexo
masculino, na faixa etária de 20 a 49 anos. As doenças do aparelho respiratório, as lesões e os
envenenamentos foram os grupos diagnósticos mais freqüentes no estudo da morbidade. As
causas externas e as doenças do aparelho circulatório foram os principais grupos de causas de
morte. Os autores se preocuparam em conhecer o perfil das vítimas de violência para, a partir
daí, reordenar o atendimento de acordo com a complexidade dos casos, o fluxo e a capacidade
de trabalho da equipe de emergência e a capacidade instalada dos serviços de urgência e
emergência, buscando assim qualificar o serviço e proporcionar agilidade com resolutividade
dos casos.
O estudo constatou que o PSM-Lapa, diante de casos graves, além de um primeiro “socorro”,
tinha a resolutividade de“não atrasar” a remoção para locais que dispunham de tecnologia
adequada para o atendimento de urgência /emergência. Pelas características verificadas,
58

concluíram que o PSM - Lapa era um recurso de saúde com padrão de resolutividade bem
próximo àquele que as unidades básicas de saúde poderiam ter, diferenciando-se destas
apenas quanto a alguns equipamentos, RX, respirador, ortopedista, funcionamento 24 horas e
sistema de remoção.

A demanda em psiquiatria foi estudada por Santos M. E et al (2000) e Horita et al (1996). O


primeiro trabalho, realizado no Serviço Regionalizado de Emergências Psiquiátricas do
Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP), objetivou caracterizar a clientela e o
atendimento. Os resultados evidenciaram que a maioria dos pacientes era do sexo masculino,
sem vínculos conjugais, com baixa escolaridade, profissionalmente inativa e morava com
familiares. Os diagnósticos mais freqüentes foram: transtorno de uso de substância psicoativa
(26,3), esquizofrenias (15,5%), episódio maníaco (11,8%), depressão maior(10,9%) e
transtornos não psicóticos (10,9%), havendo diferenças entre sexos quanto à proporção de
algumas categorias diagnosticadas. Cerca de 20% dos atendimentos resultaram em internação
hospitalar ,e 60% em encaminhamentos para seguimento ambulatorial. Ao final do estudo foi
observado que o serviço atendeu pacientes com quadros psiquiátricos graves, em real situação
de urgência, ocorrendo uma ampliação das funções do serviço de emergências psiquiátricas e
sua efetiva inserção na rede pública de serviços de saúde mental.

Em seu estudo, Horita et al. (1996) objetivou avaliar os atendimentos do pronto socorro do
Hospital São Vicente de Paulo-DF, especializado em psiquiatria, no ano de 1995. Foi
selecionada uma amostra aleatória e sistemática de 950 guias de atendimento de emergência
(GAE), correspondendo a 7,7% do total de atendimentos. O autor buscou identificar os
atendimentos não caracterizados como emergência psiquiátrica, verificando sua procedência e
outras características, como sexo, idade, horário de chegada no hospital. O estudo constatou
que 43,47% dos atendimentos não se caracterizavam como emergência e que Ceilândia
contribuiu com 29,2% da demanda geral e o entorno com 18,4%. Quanto às características
pessoais dos pacientes, não houve predominância de um sexo em relação ao outro e a faixa
etária predominante foi de 25 a 35 anos. O conhecimento do perfil dos atendimentos pôde
subsidiar a reestruturação dos serviços, proposta pela reforma psiquiátrica e pela III
Conferência de Saúde do DF.

Castro (1991) e Del-Ben et al (1999) estudaram o perfil da demanda e correlação com o


modelo assistencial. O primeiro autor procurou conhecer o perfil da demanda dos serviços de
59

pronto atendimento do Hospital Umberto I, em São Paulo, dos pronto atendimentos de


adultos, de crianças, e de gineco-obstetrícia. Os dados amostrados são referentes ao ano de
1990. Foram estudadas as variáveis: idade, sexo, residência, horário de atendimento,
diagnóstico, complexidade dos atendimentos (portes) e encaminhamentos. Os dados foram
coletados através da ficha de atendimento ambulatorial. O autor analisou os dados obtidos,
comparando-os com a rede de unidades básicas de saúde, inserindo-as na perspectiva de um
novo modelo assistencial, no cenário de transição do Sistema Nacional de Saúde do Brasil,
enfatizando a questão da regionalização e descentralização destes tipos de serviços. Este
estudo tem uma certa semelhança com o estudo ora realizado, na medida em que o autor
enfatiza a questão da descentralização e busca conhecer o perfil da demanda, comparando
com a rede de unidades básicas; a única diferença é que Castro estuda o perfil da clientela
ambulatorial e não de emergência, como no caso presente.

Já Del-Ben et al. (1999) objetivaram verificar as mudanças ocorridas em um serviço de


emergências psiquiátricas de um hospital universitário de Ribeirão Preto (SP), através do
estudo denominado “Políticas de saúde mental e mudanças na demanda de serviços de
emergência”. Foram coletados dados referentes a sexo, faixa etária, procedência e diagnóstico
principal, no período de 1988 a 1997, bem como sobre as mudanças nas políticas de saúde
mental, na região. Observaram que o aumento anual do número de atendimentos acompanhou
o progressivo envolvimento do serviço de emergência psiquiátrica na rede de serviços de
saúde mental. Concluíram que as mudanças observadas correlacionavam-se com as
modificações das políticas de saúde mental na região de Ribeirão Preto, como a instalação da
Central de Vagas Psiquiátricas, em 1990, redução dos leitos psiquiátricos, e / ou ampliação
dos serviços extra-hospitalares, em 1995. Neste estudo foi possível observar a correlação
entre o estudo de perfil e o modelo assistencial.

Outros estudos sobre o perfil de clientela em serviço de emergência merecem ser citados,
como o de Sanchez et al. (1998) e o de Farjado-Ortiz; Ramirez-Fernandez (2000), ambos
realizados na cidade do México. O primeiro estudo tinha como objetivo determinar o perfil da
demanda dos atendimentos do serviço de urgência do Hospital de la Cruz Roja Mexicana, em
1996. Foram analisados 9.515 casos, através de estudo descritivo, observacional, transversal e
retrospectivo. Constataram que 62% dos atendimentos correspondem ao grupo etário de 15 a
44 anos; a especialidade médica com maior número de atendimento foi a medicina interna,
60

com 29.43%; foram classificadas como verdadeiras urgências 63.1%; e se internaram no


hospital 11.7% dos casos.

No estudo de Farjado-Ortiz; Ramirez-Fernandez (2000, p. 165), sobre perfil de clientela de


emergência, o objetivo principal foi a análise do que é urgência verdadeira ou não. O estudo
foi do tipo descritivo, observacional e retrospectivo, realizado no serviço de urgência do
Hospital de Especialidades do Instituto de Seguridade e Serviços Sociais dos Trabalhadores
do Estado de Puebla, México. Foram revisados os atendimentos de 1996 do serviço de
urgência; a população de estudo compreendeu todos os usuários deste serviço, maiores de 14
anos de idade; o objetivo era determinar as cifras absolutas e percentuais de urgências
verdadeiras e não verdadeiras. Foi definido como urgência verdadeira : “la atention médica
proporcionada en el servicio de urgências, después de otorgarse la misma; el usuário por
indicaciones médicas debió permanecer em el hospital”. Dos 26.005 atendimentos realizados,
35,88% foram classificados como urgência verdadeira. O resultado por turno, considerando se
era verdadeira urgência ou não,revelou: matutino, 33,64%; vespertino, 27,53%; noturno,
20,61%; finais de semana, 18,22%. Os meses com menor número de atendimentos foram
abril, julho e agosto. Para cada atendimento de urgência verdadeira se atendeu 1.78
qualificadas como urgência não verdadeira. O estudo mostrou que as urgências verdadeiras,
por jornada de trabalho, nos finais de semana, representaram 23,15% e, na jornada noturna,
50,10%. Observa-se que, no final de semana, há maior concentração dos atendimentos de
urgência não verdadeira. Os autores refletem que esta ocorrência pode ser devida à não
existência de outros serviços funcionando durante este período (Tabela 7).

Tabela 7. Razão de urgências verdadeiras e não verdadeiras, por turno de trabalho.


Hospital de Especialidades, ISSSTEP, 1996
Turno de trabalho Razão de urgência verdadeira e
não verdadeira
Matutino 1 / 1.39
Vespertino 1 / 1.87
Noturno 1 / 0.95
Finais de semana 1 / 3.31
Média mensal 1 / 1.78
Fonte: Farjado Ortiz, G.; Ramírez-Fernandez, 2000, p. 162.
61

Torna-se evidente que este é um problema geral, não se restringe a um lugar ou a um país,
visto que o estudo mencionado foi realizado na cidade do México e que o Brasil convive com
problema similar. O presente trabalho aborda tema semelhante, ao analisar o que é
considerado adequado para o Serviço de Emergência do Hospital da Restauração, a partir da
constatação de que este Serviço vive diuturnamente lotado e atendendo casos considerados
inadequados para a sua missão.

A resolutividade do Programa de Saúde da Família no município de Volta Redonda, Rio de


Janeiro, foi objeto de dissertação de Mestrado em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ
(D’AGUIAR, 2001). O grau de resolutividade do PSF, confrontando seus propósitos teóricos
com a prática, foi analisado a partir dos seguintes elementos:

a) O perfil dos médicos envolvidos no PSF, levando em consideração o percentual de


participação de médicos generalistas, com base nos dados da pesquisa “Perfil dos
Médicos e Enfermeiros do Programa Saúde da Família” realizada por Machado, em
2000, bem como o levantamento de campo realizado em Volta Redonda;
b) O grau de resolutividade das Unidades de Saúde da Família (USF), porta de entrada
do Sistema, e da rede médico-assistencial do município de Volta Redonda, estimado a
partir do volume dos casos referenciados, pelas USF, a especialistas, e verificado
através de dados levantados num dos módulos do Programa Saúde da Família e no
Distrito Sanitário, concernentes aos casos referenciados para as consultas de
especialistas, durante o primeiro semestre de 2000;
c) O tempo médio de espera para as consultas de especialistas, calculado com base na
diferença entre a data da referência e a do atendimento, pelo especialista.

O trabalho de campo foi desenvolvido nos meses de julho e agosto de 2000 e consistiu em três
atividades básicas: 1- entrevistas com os principais intervenientes no PSF, a Secretaria
Municipal de Saúde, a Coordenadora do PSF e todos os médicos e enfermeiras responsáveis
pelas Unidades de Saúde da Família do município de Volta Redonda; 2- coleta de dados nas
USF, relativos aos atendimentos realizados durante o primeiro semestre de 2000, assim como
os ligados à transferência dos pacientes para outros níveis da rede; 3- coleta de dados, nas
estruturas de referência, sobre os pacientes referenciados e sobre a contra-referência dos
mesmos. O principal objetivo era colher informações e dados que pudessem servir de suporte
para a análise do grau de resolutividade do PSF em Volta Redonda, tomando por base o perfil
62

e o desempenho dos profissionais que integram as equipes, a organização da rede de cuidados


e a operacionalidade do sistema de referência e contra referência. Foram elaborados um
roteiro para as entrevistas e quadros para a coleta de dados.

Foram constatadas algumas particularidades, como: inadequação do sistema de coleta de


dados referentes à produção dos profissionais das equipes do PSF; deficiente funcionamento
do sistema de referência e contra-referência dos pacientes; existência de vários fatores que
condicionam a produtividade e a resolutividade dos profissionais; precária integração do
Programa com a rede local dos serviços de saúde; alta rotatividade dos médicos e uma atenção
voltada para o campo assistencial, com poucas ações de promoção da saúde. Este estudo
serviu de base comparativa para o presente trabalho, no que se refere ao papel da atenção
básica no novo modelo proposto pelo Ministério da Saúde, quando considera o PSF como a
porta de entrada do sistema.

Em trabalho realizado por Meira et al (1992) no mesmo hospital ora estudado, sobre uma
análise do atendimento na emergência de adultos desta unidade, foram analisados 2000 fichas
de pacientes atendidos, escolhidas de forma aleatória, no período de janeiro à abril de 1991.
Foram avaliados a proporção de atendimento por especialidade, o destino do paciente e a
distribuição por diagnóstico clínico. Do total de pacientes analisados 55,04% era do sexo
masculino, 44,06% do sexo feminino. A clinica médica e a traumatologia contribuíram com
28,45% E 30,00% respectivamente. A clinica cirúrgica aparece em terceiro lugar, 16,35%,
com os ferimentos superficiais representando 53,03%. A neurologia e neurocirurgia
concorreram com 7,6% do total, e a cirurgia vascular com 0,9%. Do total dos atendimentos,
83,8% dos pacientes atendidos tiveram alta após o atendimento inicial, o que os autores
concluíram que a maioria dos pacientes que chegaram ao hospital fugiam do seu objetivo.

A próxima etapa deste estudo abordará o perfil epidemiológico de Pernambuco e de sua rede
assistencial, a fim de situar o Hospital da Restauração em sua real dimensão, no papel que lhe
compete como componente da Rede de Serviços de Saúde do Estado de Pernambuco.
63

3. PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E REDE ASSISTENCIAL EM PERNAMBUCO


64

3. PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E REDE ASSISTENCIAL EM PERNAMBUCO

Situado na Região Nordeste do Brasil, Pernambuco ocupa uma área de 98.311,616 km², com
uma população de 7.918.344 habitantes, distribuídos em 185 municípios. O PIB do Estado é
de 24 milhões, representando, aproximadamente, 20,01% do regional e cerca de 2,64% do
país. O PIB per capita de Pernambuco é de R$ 3.673 (três mil, seiscentos e setenta e três).
Mais de 70% da força de trabalho ocupada está no setor terciário, determinando a prevalência
desse setor na formação do PIB pernambucano (IBGE, 2001).

Segundo dados do IPEA, dos 32 milhões de indigentes no Brasil, no ano de 1990, 17.288.528
milhões estavam no Nordeste e, destes, 2.325.719 em Pernambuco. Quase metade da
população do Estado é considerada de baixa renda, incluindo os que não têm nenhum
rendimento e os que têm rendimentos inferiores a um salário mínimo.A esperança de vida ao
nascer, em Pernambuco, em 1997, era de 60,10 anos, para os homens, e 65,45 anos, para as
mulheres; já em 2000 foi de 61,06, para os homens, e 66,43, para as mulheres (IBGE, 2001).

Cerca de 30% da população acima de 15 anos, em 1995, era analfabeta


(IBGE/SUDENE/1995) e, desta, 54% residia no meio rural. Em 2000, o percentual de
analfabetismo, no Estado, decresceu para 24%, conforme dados do censo de 2001 (BRASIL,
2001). Segundo a COMPESA1, 80% da população não dispõe de rede de esgoto ou fossa
séptica e, pelos dados da CELPE2, 11,63% da população não tem energia elétrica.
Pernambuco conta, em seu território, com 85% de terras localizadas no Polígono das Secas.
Na área urbana, 37% das residências não têm água encanada.

No Estado, as doenças do aparelho circulatório constituem a primeira causa de morte


(30,74%), seguindo-se as mortes violentas (18,71%) e as neoplasias 10,27% (BRASIL, 2003).

A mortalidade infantil vem diminuindo, em todo o Brasil, em decorrência da adoção de


medidas voltadas para a atenção básica. Em 1997, apresentava um coeficiente de 37,00
mortes por mil nascidos vivos e, em 1999, de 31,00 por mil nascidos vivos. Pernambuco
também acompanha esta queda, apresentando, em 1997, 62,7 mortes por mil nascidos vivos e,
em 1999, 58,2 mortes por mil nascidos vivos (BRASIL, 2003). Contudo, vale ressaltar a

1
Dados referentes ao ano de 1998, colhidos na própria instituição.
2
Dados referentes ao ano de 1998, colhidos na própria instituição.
65

gritante diferença entre a capital e algumas regiões do interior, quanto a este mesmo
parâmetro: em 1998, o Recife teve taxa de 39,34 mortes por mil habitantes e Brejo
Pernambucano de 98,52 por mil habitantes. Na faixa etária de 20 a 44 anos ocorreram 7.294
óbitos, representando 15,41% do total, sendo 43,65% por causas externas e 88,98% do sexo
masculino; a segunda causa de morte, nesta faixa, foram as doenças do aparelho circulatório,
com 800 óbitos (11%) (PERNAMBUCO, 2000a).

O total de leitos para internação disponível no SUS, em Pernambuco, é de 18.299, sendo


9.421 públicos e 8.878 privados (com fins lucrativos, 6.009, e sem fins lucrativos, 2.869)
(BRASIL, 2003).

Dos municípios pernambucanos, 100% encontram-se em gestão plena da atenção básica; na


Região Metropolitana apenas 5, em 2000, encontravam-se na gestão plena do sistema
municipal (Recife, Camaragibe, Cabo de Santo Agostinho, Moreno e Olinda
(PERNAMBUCO, 2000a).

As principais razões de internações na rede hospitalar do SUS-PE, em 1998, foram: parto


único espontâneo, pneumonia e diarréias, representando a primeira, a segunda e a terceira
causa de internação hospitalar, respectivamente (PERNAMBUCO, 2000a). No ano de 2000,
as doenças femininas, ligadas à obstetrícia, continuaram sendo a primeira causa de internação.
As doenças infecciosas e parasitárias têm taxa de internação superior à das causas externas e
as doenças do aparelho circulatório, o que demonstra sua importância na morbidade da
população (Tabela 8).
66

Tabela 8. Proporção de internações hospitalares (SUS) por grupos de causas.


Pernambuco, 2000
Grupos de causas Pernambuco
Gravidez, parto e puerpério 24,56
Demais causas 18,92
Doenças do aparelho respiratório 12,39
Doenças do aparelho digestivo 8,11
Transtornos mentais e comportamentais 7,89
Doenças do aparelho circulatório 7,64
Doenças do aparelho genito-urinário 6,91
Doenças infecciosas e parasitárias 5,70
Causas externas 5,42
Neoplasias 2,47
Total 100,00
Fonte: (BRASIL, 2003).

Os grandes hospitais se concentram na capital, Recife. Ao todo são cinco, que compõem a
referência terciária do Sistema, tanto em emergências, como para casos de internamento nas
grandes especialidades: traumatologia, ortopedia, cirurgia vascular, neurologia e
neurocirurgia, oncologia, urologia, ginecologia, gestação de alto risco, etc. Deverão constituir
o elo na cadeia de cuidados de saúde. Existem ainda os hospitais especializados, na área de
doenças infecto-contagiosas, saúde mental e hemodiálise; conta ainda com dois hospitais
universitários, sob gestão estadual e com hospitais regionais de média complexidade, com
responsabilidade para atender os casos de urgência e emergência em sua região.

Por ser a capital do Estado de Pernambuco e concentrar a maioria dos serviços de saúde de
alta complexidade, incluindo-se o hospital objeto deste estudo, serão ressaltados alguns
aspectos da epidemiologia na cidade do Recife.

O Recife tem uma extensão territorial de 218 km² e população de 1.422,905 habitantes
(IBGE, 2001), o que representa cerca de 18,19% do total populacional do Estado e 41,73% da
Região Metropolitana; é totalmente urbana, dividida em 94 bairros e seis distritos sanitários.
Em relação ao saneamento básico, 12,7% dos domicílios urbanos da Região Metropolitana do
Recife não são servidos de abastecimento d’água com canalização interna ligada à rede geral,
67

67,9% não possuem esgotamento sanitário com rede coletora e 27,8% não dispõem de coleta
diária de lixo 30% da população da RMR tem renda inferior a ½ salário mínimo (IBGE,
2001).

A rede de saúde do município era composta por 35 unidades básicas, antes da


municipalização, em 1993. Em 1994, passou a incorporar com mais 21 unidades e hospitais
foram municipalizados. Em 2002, conta com 45 unidades de saúde da família, 54 unidades
básicas de saúde, 2 unidades mistas, 10 ambulatórios de especialidades, 2 ambulatórios em
hospitais especializados e uma unidade móvel terrestre (Quadro 3) (RECIFE, 2002).
68

Quadro 3. Unidades Ambulatoriais segundo o tipo, Recife, 2001


Tipo de unidade Público Universitário Filantrópico Sindicato Privado Total
*
Unidade de Saúde da 45 0 0 0 0 45
Família
Unidade Básica de 54 0 1 2 0 57
Saúde
Unidade de Vigilância 2 0 0 0 0 2
Sanitária
Unidade Mista 2 0 0 0 0 2
Unidade Móvel 1 0 0 0 0 1
Terrestre
Ambulatório em 2 0 0 0 2 4
Hospital Especializado
Ambulatório em 0 0 6 0 0 4
Hospital Geral
Ambulatório de 10 7 0 0 3 14
Especialidades
Unidade de Serviços de 2 0 1 0 29 32
Apoio Diagnóstico e
Terapêutico
Centro/Núcleo de 0 0 1 0 1 1
Reabilitação
Centro de Atenção 1 0 0 0 0 2
Psicossocial
Total 119 7 9 2 35 188
Fonte: (RECIFE, 2002)
* Houve um crescimento do número de unidades de saúde em cerca de 28,5%,em relação à rede existente no ano
de 2000.

A rede ambulatorial da cidade do Recife é constituída por 188 unidades de saúde, que
realizam procedimentos básicos, bem como ações de média e alta complexidade. As unidades
que a compõem são de caráter público, municipal, estadual, universitário, filantrópico,
sindicato e privado, conforme explicitado no gráfico 2.
69

Gráfico 2. Unidades SIA/ SUS ,segundo o Tipo de Prestador SUS / Recife 2001

2 7 9
35

16

119

Filantrópico Privado Público Estadual


Público Municipal Sindicato Universitário

Fonte: (RECIFE, 2002).


Não inclui o Centro de Saúde Lessa de Andrade.

No ano de 1999, ocorreram 9.885 óbitos de residentes na cidade do Recife, correspondendo a


uma taxa bruta de 7,19 por mil habitantes, dentro dos padrões considerados normais,
independente das condições de desenvolvimento. A maioria dos óbitos aconteceu na faixa
etária acima dos 60 anos, seguindo-se a faixa de 20-49 anos e a de 50-59 anos. Na faixa
menor de um ano ocorreram 6,24% do total de óbitos. A mortalidade segundo a causa básica,
em Pernambuco, não difere de muitas outras regiões ou estados, o mesmo acontecendo no
Recife que, no ano de 1999, teve uma taxa de mortalidade decorrente das doenças do aparelho
circulatório de 31,0%, causas externas 14,80% e neoplasias 13,06%. A mortalidade infantil
correspondeu a 6,24% do total de óbitos (RECIFE, 2002). Como substrato ao embasamento
do trabalho serão feitos, a seguir, algumas considerações sobre o Hospital da Restauração, seu
perfil e os propósitos a que se destina.
70

4. O HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO: PERFIL E MISSÃO


71

4. O HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO: PERFIL E MISSÃO

O Hospital da Restauração é uma organização pública, prestadora de serviços de assistência à


saúde, sendo o principal hospital de referência para emergências e traumas do Estado de
Pernambuco. É um hospital de grande porte, com capacidade instalada para 535 leitos.

O Hospital da Restauração pertence à Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Pernambuco.


Fica situado na cidade do Recife, à Av. Agamenon Magalhães, s/n, no bairro do Derby, em
localização central, o que facilita o acesso a partir de qualquer área da cidade e de toda a
Região Metropolitana. O Hospital presta serviços de saúde à comunidade pernambucana há
mais de 30 anos, caracterizando-se como um hospital de emergência.

Antes da existência do HR as emergências eram atendidas no Hospital de Pronto Socorro do


Recife, que posteriormente seria transferido e transformado em novo hospital, chamado
Hospital da Restauração, em 1967, começando a funcionar dois anos mais tarde. Seu nome
constitui uma homenagem à grande data nacional, o tricentenário da reação nativista que
expulsou definitivamente os holandeses do Brasil. No início, no antigo HPS, eram apenas 60
leitos, 500 funcionários e 79.000 atendimentos por ano.

Atualmente, o HR tem uma média mensal de 800 internações, 700 cirurgias, 12300
atendimentos ambulatoriais e 12000 emergenciais. Tem um custo anual, em média, de C$
13.000,00 (treze milhões de reais), segundo informações do setor de contabilidade do hospital
(Anexo B).

Seu quadro de pessoal é constituído por mais de dois mil funcionários, entre pessoal de nível
superior, médio e elementar, sendo os serviços de limpeza e manutenção realizados por
empresas terceirizadas.

Há mais de quatro anos o HR vem sofrendo reformas estruturais, para recuperação do prédio e
readequação dos serviços. Estas reformas fazem parte das prioridades do Governo do Estado e
contam com verbas federais para a reestruturação, tanto estrutural como de equipamentos,
incluindo também a capacitação de recursos humanos, através do Projeto REFORSUS, além
de outros melhoramentos.
72

O HR tem também a função de formador de recursos humanos, através das Residências de


Medicina, Enfermagem, Farmácia e Buco-Maxilo, além de constituir um campo de estágios
para as escolas da área da saúde da rede de ensino de nível superior e médio.

A clientela atendida é universalizada e gratuita, muito variada, e não conhecida em detalhe.


Estima-se que sejam atendidos indivíduos de todas as classes sociais, provenientes das mais
diversas regiões do Estado, embora a grande demanda seja de pessoas não cobertas por
qualquer plano privado de saúde e procedentes do Recife e Região Metropolitana.

Atende por dia, na emergência de adultos, cerca de 500 pacientes, procedentes das várias
regiões da cidade do Recife, como também da Região Metropolitana e de todo o Estado, além
de outros estados. Apesar de sua vocação para emergência, atende todos os pacientes que lá
chegam, o que, no decorrer dos anos, vem acarretando um alto custo e descontrole dos gastos
para os gestores, sobrecarga de trabalho para os funcionários e baixa qualidade da assistência
prestada aos pacientes. O que se vê normalmente são pacientes distribuídos por todos os
lugares da emergência, mesmo aqueles teoricamente inapropriados para um paciente ficar
internado, como é o caso dos inúmeros pacientes que ficam em macas, nos corredores, e
muitas vezes no chão. Esta problemática faz parte do dia-a-dia do hospital há vários anos, o
que ocasionalmente provoca denúncias na imprensa (Anexo A), agravada pelo acúmulo de
pacientes no aguardo de pareceres dos especialistas.

Esta situação contribuiu decisivamente para motivar a realização deste trabalho, a fim de
melhor conhecer esta clientela, a partir da análise de algumas variáveis, como procedência,
sexo, idade, diagnóstico de entrada, dentre outros. Esta identificação permitirá um melhor
planejamento interno e especificamente do setor, apesar do conhecimento generalizado de que
o problema de superlotação não pode ser resolvido com decisões internas e, sim, com o
reordenamento da demanda. A partir deste pressuposto - reordenamento da demanda - sentiu-
se a necessidade de fazer uma correlação com a assistência básica, principalmente com o PSF,
considerando ainda que, na cidade do Recife, a partir da municipalização dos serviços de
saúde, no ano de 1994, foram construídas policlínicas dirigidas ao atendimento das
populações, sendo de se esperar que tenham contribuído para melhorar o acesso aos serviços
de saúde por parte da clientela.
73

A sistemática de funcionamento do serviço de emergência é similar à dos demais serviços


desta natureza: ao chegar o paciente, é preenchida uma ficha onde constam todos o dados, ou
seja, data e hora de chegada, nome, filiação, profissão, idade, endereço, sexo, informados por
ele ou pelo acompanhante, em seguida é encaminhado ao consultório da especialidade; nos
casos de politraumatizados ou violência, o paciente segue diretamente para a unidade de
trauma. Nesta ficha (Anexo C) consta também a história da doença atual e o diagnóstico. A
ficha constituiu a fonte de informação deste trabalho. Após a alta do paciente, a ficha
respectiva é encaminhada ao Serviço de Contabilidade e Finanças (faturamento), para as
devidas transcrições e elaboração do boletim de produção/fatura mensal, que posteriormente
será encaminhado ao Ministério da Saúde, para pagamento. Depois de faturada, a ficha é
enviada para o Serviço de Arquivo Médico (SAME) do hospital.

A emergência do Hospital da Restauração, sua grande porta de entrada, conta com uma
equipe multiprofissional, capacitada para o atendimento de pacientes portadores de patologias
neurológicas, emergências clínicas e politraumatizados. A equipe abrange várias
especialidades médicas, (neurocirurgiões, neurologistas, cirurgiões gerais, cirurgião vascular,
oftalmos, buço-maxilo-facial, endoscopistas e clínicos, como também enfermeiros, assistentes
sociais e auxiliares de enfermagem. Conta também com uma equipe de apoio. Na emergência
de adultos há dois consultórios de traumatologia, um de oftalmologia, um da vascular,um de
neurocirurgia,um de neurologia, dois de clínica médica e um de buço-maxilo-facial; uma sala
para administração de medicamentos, uma sala para realização de pequenas suturas, uma sala
para redução e uma sala para colocação de gesso. Existe ainda uma unidade de trauma, para
acomodar os pacientes politraumatizados, com capacidade para 12 leitos, com uma sala de
cirurgia acoplada e uma unidade de cuidados intermediários (UCI), com capacidade para 8
leitos. A capacidade instalada da emergência de adultos é de 70 macas/leito, excluindo os
leitos da unidade de trauma e UCI. Ao todo, a capacidade da emergência é de 90 leitos.
Enfatiza-se que todos os serviços especificados funcionam por 24 horas.

O HR conta também com um ambulatório de egressos do próprio serviço, nas especialidades


referidas, incluindo os serviços de fisioterapia motora, psicologia, endocrinologia e um
serviço ambulatorial para queimados, funcionando apenas nos dois turnos, de segunda a
74

sexta-feira. Conta ainda com três UTIs, duas de adultos, com 9 leitos cada, uma de crianças,
com 13 leitos, e outra para tratamento de queimados, com 25 leitos, para adultos e crianças. 3

O HR conta com serviços próprios de apoio diagnóstico em radiologia, incluindo tomografia


computadorizada, serviço de endoscopia, laboratório de análises clínicas, patologia,
eletroencefalografia, ultrassonografia e serviços terceirizados de ressonância magnética,
angiografia, ecocardiograma, banco de sangue (HEMOPE) e serviços de diálise e
hemodiálise.

Seu financiamento é feito através do faturamento dos atendimentos ambulatoriais, de


emergência e internações, seguindo a proposta do SUS. A emergência conta com toda a
tecnologia disponível para o bom atendimento dos pacientes, tanto em material quanto em
equipamentos. O grande problema é a demanda excessiva, tendo como conseqüência a
danificação rápida dos equipamentos e os custos hospitalares sempre elevados. A taxa de
ocupação hospitalar é de 95,4%, o tempo médio de permanência nos leitos é de 12,8 dias. A
clinica vascular ocupa, em média, mais tempo de permanência, 19,7 dias, seguido pela clínica
neurológica, com 19,1, e a neurocirurgia, com 17,1 dias. A clínica médica tem um tempo
médio de 16,2 e a traumato-ortopedia de 15,4 dias. Por outro lado, a clínica cirúrgica tem uma
média de permanência bem abaixo das outras, 5,0 dias, o que com certeza facilita o
andamento desta clínica, evitando que seus pacientes permaneçam muito tempo na
emergência, esperando vaga para internamento, como freqüentemente ocorre com as clínicas
neurológicas, de modo menos freqüente com a vascular, provavelmente devido à demanda
desta clínica ser bem menor. Segundo informações colhidas junto a Comissão de Infecção
Hospitalar, o HR, em 2001, teve uma taxa de infecção de 20,96%, e 14,77%, em 2002.
Segundo dados do setor de estatística, a taxa de mortalidade geral é de 6,4% e a taxa de
mortalidade institucional de 5,5% (Anexo D)

O HR se propõe atuar como referência em neurocirurgia, neurologia, queimados, intoxicações


e atendimento de emergência aos politraumatizados; prestar assistência de alta complexidade
nas especialidades de clínica médica, cirurgia geral, pediatria clínica e cirúrgica, traumato-
ortopedia e cirurgia vascular periférica, e constituir um centro formador de recursos humanos
para a saúde (Anexo E).

3
Nos períodos estudados o hospital contava apenas com 6 leitos de UTI para adultos e 4 de UTI pediátrica. O
bloco cirúrgico dispunha de 4 salas, atualmente dispõe de 10 salas.
75

Considerando as características do modelo assistencial de saúde vigente no Brasil, as


propostas de reorientação deste modelo pelo Ministério da Saúde, a importância do Hospital
da Restauração dentro da rede de saúde do SUS/PE; a complexidade da clientela preferencial
(pacientes politraumatizados, neurológicos, hemorragias, etc.) e ainda que o HR está
capacitado para atendimentos de alta complexidade e continua atendendo casos considerados
inadequados para o seu perfil, que poderiam ser atendidos pela rede básica ou nos pronto-
atendimentos, é que surgiu a motivação para realizar este trabalho, com o objetivo principal
de conhecer e analisar o perfil da clientela atendida na emergência de adultos deste hospital,
nos anos de 1993, 1997 e 2001, observando se houve mudança deste perfil após a
municipalização dos serviços de saúde, no Recife e Região Metropolitana.

Espera-se que o conhecimento deste perfil possa nortear o processo de planejamento e


reestruturação da emergência de adultos do Hospital, grande porta de entrada deste serviço e
da rede de saúde do Recife, como também de toda a rede pública de saúde do Estado, ao
mesmo tempo que poderá servir de subsídio na discussão com os municípios da Região
Metropolitana sobre a hierarquização do Sistema como um todo, atendendo assim o que
preconiza o art. 198 da Constituição Federal (1988), ao afirmar: “As ações e serviços de saúde
integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um Sistema Único”[...].
76

5. OBJETIVOS
77

5. OBJETIVOS

5.1-Geral
Analisar o perfil demográfico e epidemiológico da clientela atendida na emergência de
adultos do Hospital da Restauração, no ano de 1993, e comparar com os anos de 1997 e 2001,
para verificar se houve mudança no perfil desta clientela após a municipalização dos serviços
de saúde, iniciada em 1994.

5.2- Específicos

1- Caracterizar a população atendida na emergência do HR quanto a faixa etária e sexo,


em 1993 e nos anos de 1997 e 2001.
2- Identificar o mês, os dias da semana e o horário em que houve o maior número de
atendimentos, em 1993 e nos anos de 1997 e 2001.
3- Conhecer a procedência da clientela (cidade, região, etc.), em 1993 e nos anos de 1997
e 2001.
4- Quantificar os diagnósticos considerados inadequados para a emergência do HR em
1993 e nos anos de 1997 e 2001.
5- Classificar os municípios da Região Metropolitana do Recife quanto ao tipo de gestão
e cobertura do PSF nos anos de 1997 e 2001.
78

6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
79

6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

6.1 Tipo de estudo

Utilizou-se o estudo de séries temporais “em que se uma mesma área ou população (N1)
é investigada em momentos distintos no tempo (t1,t2,t3...), costumam ser classificados
pelos manuais de Epidemiologia como um subtipo de estudo ecológico”
(ROUQUAYROL,1994). Como vantagens deste tipo de estudo estão a sua facilidade de
execução, baixo custo relativo, simplicidade analítica e capacidade de teste de hipótese.
Ainda segundo Rouquayrol (1994), como problema deste tipo de estudo, têm-se, o pouco
desenvolvimento das técnicas de análise de dados e, este tipo de desenho impede a
redução, ao âmbito individual, do observado ao nível de agregado.

6.2 Área de estudo

O estudo foi realizado no Hospital da Restauração, na Emergência de Adultos daquela


unidade.

6.3 População de estudo e desenho da amostra

A população estudada foi a clientela atendida na emergência de adultos, nos anos de 1993,
1997 e 2001. Os dados foram coletados diretamente das fichas dos pacientes, arquivadas
no Serviço de Arquivo Médico (SAME) do HR.

A amostra foi dimensionada de forma a permitir a comparação de parâmetros referentes à


demanda ao referido Serviço, nos três anos considerados, além de propiciar a comparação
de parâmetros relativos a cada mês, dado o possível caráter sazonal de algumas demandas
específicas. Sendo assim, considerando um volume de 12.000 atendimentos mensais e
balizando o tamanho mínimo da amostra pelo objetivo de comparar pequenas proporções,
decidiu-se por amostrar 480 prontuários em cada mês, de cada ano. Este número foi
estabelecido dimensionando-se uma amostra aleatória para estimar prevalências mensais
da ordem de 3%, com erro absoluto de cerca de 1,5%. Este quantitativo mensal levou a
uma amostra de 5.760 prontuários para cada ano considerado, o que permitiu estimar
prevalências anuais de mesma ordem, com erro absoluto < que 0,5%. A seleção da
80

amostra se deu de forma sistemática, selecionando-se 1 a cada 25 prontuários do SAME


(12.000/480=25), ao longo do período.
A amostra foi constituída por 16.383 registros, referentes a todos os atendimentos
realizados nos anos de 1993, 1997, e 2001.
Foram excluídas do total da amostra 723 fichas, consideradas inválidas para a análise das
especialidades, neste estudo, em virtude de não conterem dados suficientes, ou seja, fichas
com diagnóstico em branco, de vítimas que chegaram sem vida ao Serviço, de pessoas que
desistiram do atendimento, restando, para análise das especialidades, 15.660 fichas.
Utilizou-se o total geral (16.383), para a análise das outras variáveis.

6.4 Elenco de variáveis

6.4.1 Variável dependente


- Diagnósticos

6.4.2 Variáveis Independentes

. Municipalização
. Programa de Saúde da Família / Programa de Agentes Comunitários

6.4.3 Co-variáveis

. Idade, Sexo, Dia, Hora e Procedência

6.4.4 Definição de variáveis

Diagnóstico – definido como os diagnósticos médicos encontrados nas fichas, condizentes


com os sinais e sintomas que o paciente apresentou no momento do atendimento no
hospital e que se encontravam registrados na ficha. Os diagnósticos foram classificados
em adequados e inadequados.
Diagnóstico adequado - todo caso demandado pela emergência de adultos do HR com
diagnóstico considerado dentro do perfil da Instituição (anexo F).
81

Diagnóstico inadequado – todo caso demandado pela emergência de adultos do HR que


se encontra fora da relação (anexo F), que pode ser resolvido pela assistência básica, ou
que o hospital não é referência.

Municipalização – definido como o processo em que o município assume a gestão


municipal do SUS, planejando, controlando, contratando, avaliando e executando os
serviços públicos de saúde.

Programa de Saúde da Família / Programa de Agentes Comunitários – definidos


como estratégias utilizadas pelo Ministério da Saúde para reorganização da atenção
básica, na lógica da vigilância à saúde, representando uma concepção de saúde centrada
na promoção da qualidade de vida (BRASIL, 2002).

Idade - definida como anos completos no dia do atendimento.

Sexo - feminino ou masculino.

Dia – dia da semana em que houve o atendimento.

Hora – hora do atendimento.

Procedência – definida como o endereço que consta na ficha do paciente.

6.4.5 Indicadores

Os indicadores foram definidos baseados na variável de estudo, nas variáveis


independentes e co-variáveis, ficando assim distribuídos:
Relacionados à variável de estudo ou dependente:
- % de diagnósticos adequados e inadequados para cada ano estudado.
Relacionados às variáveis independentes:
% de municípios municipalizados e tipo de gestão.
- cobertura do Programa de Saúde da Família.
82

Relacionados às co-variáveis:
média de idade da demanda atendida.
% da demanda atendida de cada sexo.
% da demanda atendida de acordo com o dia da semana.
% da demanda atendida de acordo com o horário de chegada.
% da demanda de cada região estudada (cidade, distrito).

Para análise dos dados foram elaborados os conceitos de: diagnóstico adequado e
diagnóstico inadequado. Para essa definição foi estabelecida uma equipe de experts em
emergência e traumas e entregue uma lista com os diagnósticos encontrados nos prontuários
pesquisados, aproximadamente 150 diagnósticos diferentes; destes, foram selecionados, por
esta equipe, experts, 39 diagnósticos considerados adequados, ou seja, aqueles que deveriam
preferencialmente procurar o Hospital da Restauração (Anexo F). Após esta seleção, foi
elaborada outra relação com a codificação dos diagnósticos, agrupados por especialidades
prioritárias para o atendimento no HR e, a partir daí, foram digitados.

6.5 Coleta de dados

A fonte de dados para este estudo transversal foi constituída pelas fichas de emergência
arquivadas no Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME) do Hospital da
Restauração. Na coleta da amostra, as fichas em branco foram desprezadas. Os dados foram
coletados pelo pesquisador e por um funcionário do próprio setor, devidamente treinado, de
forma a facilitar a uniformidade da coleta.

A coleta durou cinco meses, em virtude do setor estar em fase de reestruturação. Foram
coletados os dados relativos a idade, sexo, mês, dia da semana, hora de chegada na
emergência, procedência e diagnóstico médico.

Os dados referentes à adesão dos municípios ao processo de municipalização e implantação


do PACS/PSF, referentes aos anos de 1997 e 2001, foram coletados na Secretaria de Saúde
do Estado de Pernambuco. Nestas planilhas foram coletados o número de equipes do
Programa de Saúde da Família em cada município e o tipo de gestão em que estes
municípios se encontravam nos anos de 1997 e 2001.
83

6.6 Plano de descrição e análise

Os resultados foram organizados sob forma de tabelas e gráficos e analisados através de


testes de diferença de proporção, utilizando-se o software EPIINFO, versão 6.04. Foram
feitas comparações entre os períodos estudados, observando-se se houve variações no perfil
da demanda atendida, após a municipalização dos serviços de saúde no Recife e Região
Metropolitana.

6.7 Problemas metodológicos

Por se tratar de um estudo com dados secundários, existe o problema relativo à veracidade e
qualidade das informações colhidas nos prontuários, tanto pela legibilidade quanto pela forma
pouco descritiva dos dados anotados, até mesmo, algumas vezes, pela sua inexistência,
acarretando riscos para a compilação, análise e conclusão do estudo.

6.8 Considerações éticas

O estudo não trabalhou com a identificação dos pacientes, mesmo se tendo acesso a esses dados.
Como funcionária do HR, a autora foi devidamente autorizada, por sua Diretoria, para o acesso
ao SAME e ao sistema de computação de dados, ficando acordado que os dados seriam utilizados
apenas para pesquisa de cunho científico, não sendo permitido sua utilização para outros fins. A
solicitação da autora obteve parecer favorável da Comissão de Ética do HR, como também da
Comissão de Ética do CPqAM (Anexos G e H).
84

7- RESULTADOS E DISCUSSÃO
85

7- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como preâmbulo à apresentação e discussão dos resultados encontrados, optou-se por


acrescentar algumas informações, no sentido de aclarar melhor o objeto e metodologia do
estudo e também melhor se compreender a discussão a ser desenvolvida.

Assim, há que se colocar que, nos dados coletados, se incluem crianças de qualquer faixa
etária (embora se trate de uma emergência de adultos), uma vez que esta emergência atende
todas as faixas etárias, quando os casos são de violência, traumas, intoxicações e
envenenamentos, existindo no hospital uma outra emergência para crianças, para atendimento
dos demais casos específicos desta faixa etária.

Será feita uma abordagem das variáveis sexo, idade, procedência e diagnóstico, procurando
compará-las com dados encontrados na literatura, definindo o perfil e fazendo uma correlação
com o modelo assistencial vigente e inferências pertinentes às mudanças encontradas, quando
comparados os três anos em estudo.

Tendo o Hospital da Restauração um serviço de emergência que funciona durante 24 horas


ininterruptas, com uma equipe de profissionais qualificada em várias áreas de emergências
clínicas e traumáticas, acredita-se que as pessoas recorram a este serviço de emergência por
razões diversas, problemas de saúde, fácil acessibilidade, funcionamento durante 24 horas,
impossibilidade de recorrer aos serviços ambulatoriais e também por se encontrarem
angustiadas e apreensivas.

A partir da análise dos resultados encontrados, será possível conhecer e avaliar os motivos, de
alguma forma, que levam as pessoas a procurar a emergência do HR.

A amostra foi constituída por 16.383 registros, referentes a todos os atendimentos realizados
nos anos de 1993, representando 27,7% da amostra, 1997, com 32,6%, e 2001, com 39,7% da
amostra (Tabela 9), sendo observado um aumento no número de atendimentos com o passar
dos anos, provavelmente devido ao crescimento da população, de uma forma geral.
86

Foram excluídas do total da amostra 723 fichas, consideradas inválidas para a análise das
especialidades, neste estudo, em virtude de não conterem dados suficientes, ou seja, fichas
com diagnóstico em branco, de vítimas que chegaram sem vida ao Serviço, de pessoas que
desistiram do atendimento, restando, para análise, uma amostra de 15.660 fichas.

Tabela 9:Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001
Ano de referência n %
1993 4532 27,7
1997 5339 32,6
2001 6512 39,7
Total 16383 100,0

Em relação aos atendimentos por faixa etária, verifica-se que duas faixas (20 a 29 e 30 a 49
anos ), juntas, concentram mais da metade dos atendimentos, em todos os anos estudados,
coincidindo com os achados de Ribeiro et al. (1998), o que se justifica também por estas
faixas corresponderem ao período produtivo das pessoas, representando, assim, a parcela da
população mais vulnerável a agravos à saúde , condizentes com a missão do hospital.
Observa-se uma predominância de atendimentos na faixa específica dos 30 aos 49 anos,
passando de 27,1%, em 1993, para 34,4%, em 2001, diferindo do estudo anteriormente
realizado no mesmo hospital, por Meira et al. (1992), que apresentou predominância na faixa
de 21 a 30 anos, não se tendo uma resposta para este fato, embora possa ser ventilada a
possibilidade de ser relacionado ao aumento da expectativa de vida (Tabela 10).Constata-se
ainda reduções nas faixas de menor idade, em que os menores de 5 anos correspondiam a
4,3% dos atendimentos, em 1993, e, em 2001, este percentual reduziu-se para 2,9%, o mesmo
acontecendo na faixa de 5 a 9 anos, que passou de 5,9%, em 1993, para 2,8%, em 2001, e de
10 a 19 anos, passando de 20,6%, em 1993, para 15,6%, em 2001. A explicação para os
achados reside possivelmente no maior rigor aos cuidados preventivos voltados para esta faixa
etária, com a instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente, através da Lei nº 8.069/90,
como também na melhoria da assistência básica para esta faixa. Nos maiores de 50 anos
houve uma elevação, de 16%, em 1993, para 19%, no ano de 2001, também podendo ser
relacionada com o aumento da expectativa de vida da população. Observou-se diferenças
significativas ao comparar as prevalências por faixa etária, ao longo dos anos, em todas as
faixas. Já nos estudos de Salla et al. (1989); Deslandes et al. (2000); e Horita et al. (1996), as
87

faixas de maior atendimento foram, respectivamente, 20 a 29 anos, 20 a 39 anos e 25 a 35


anos, condizentes com as faixas mais prevalentes neste estudo.

Tabela 10. Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo a faixa etária
Ano de referência Total
Faixa etária 1993 1997 2001
n % n % n % n %
Menor de 5 197 4,3 300 5,6 191 2,9 688 4,2
De 5 a 9 267 5,9 256 4,8 185 2,8 708 4,3
De 10 a 19 932 20,6 973 18,2 1013 15,6 2918 17,8
De 20 a 29 1184 26,1 1303 24,4 1644 25,2 4131 25,2
De 30 a 49 1227 27,1 1601 30,0 2243 34,4 5071 31,0
50 ou mais 725 16,0 906 17,0 1236 19,0 2867 17,5
Total 4532 100,0 5339 100,0 6512 100,0 16383 100,0
χ2 = 217,8 p = 0,000 * 2 casos ignorados

Na tabela 11 os atendimentos estão estratificados pelos anos pesquisados e relacionados a


sexo e faixa etária, observando-se associações significativas, em todos os estratos, visto que,
em 1993, ambos, homens e mulheres, são mais prevalentes na faixa etária de 30 a 49 anos,
seguindo-se, para os dois sexos, a prevalência na faixa de 20 a 29 anos. Em 1997 e 2001 este
comportamento prevalece, porém com uma maior diferença entre estas faixas e as demais; na
faixa de 10 a 19 anos acentua-se a superioridade do sexo masculino, dado que coincide com o
estudo de Salla et al. (1989), na faixa de 30 a 49 anos: Nos estudos de Meira et al. (1992),
Deslandes et al. (2000), Santos M. E. et al. (2000) e Sanchez et al. (1998), a maioria dos
atendimentos foi para o sexo masculino, sem correlação com a faixa etária, enquanto Horita et
al. (1996) não encontraram diferenças importantes entre os sexos. Era de se esperar uma
diminuição nos atendimentos de mulheres, assim como houve redução no atendimento das
faixas etárias de menor idade, por conta dos maiores cuidados para esta categoria, na
assistência básica, com os programas de Saúde da Família e PACS, muito embora tenha
havido uma diminuição na faixa de 20 a 29 anos, quando se faz a relação entre os três anos.
88

Tabela 11. Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo o sexo e a faixa etária
Sexo
Faixa etária Masculino Feminino χ2 p value
N % N %
1993 24,02 0,0002*
Menor de 5 111 4,2 86 4,6
De 5 a 9 174 6,6 93 4,9
De 10 a 19 575 21,7 357 19,0
De 20 a 29 704 26,6 480 25,5
De 30 a 49 712 26,9 515 27,4
50 ou mais 374 14,1 351 18,6
1997 39,81 0,0000*
Menor de 5 161 5,3 139 6,1
De 5 a 9 156 5,1 100 4,4
De 10 a 19 595 19,5 378 16,6
De 20 a 29 799 26,1 503 22,1
De 30 a 49 896 29,3 705 30,9
50 ou mais 451 14,7 455 20,0
2001 72,52 0,0000*
Menor de 5 94 2,6 93 3,2
De 5 a 9 117 3,2 68 2,4
De 10 a 19 593 16,3 420 14,6
De 20 a 29 1009 27,8 635 22,1
De 30 a 49 1240 34,2 1003 34,9
50 ou mais 576 15,9 659 22,9
*Associação estatisticamente significativa (p < 0,05)

A tabela 12 expressa quantitativamente os atendimentos, por especialidades, em cada ano


pesquisado, verificando-se que a traumatologia é a especialidade com freqüência maior de
atendimentos, em todos os anos. Observa-se, nesta mesma especialidade, uma redução, de
1993 para 1997, de 3,7%, e um acréscimo, de 1997 para 2001, de 5,6%. Na clínica médica
ocorreu redução de 3,2%, de 1993 para 1997, e aumento de 2,2%, de 1997 para 2001. A
clínica cirúrgica aparece como a terceira especialidade procurada, com redução de 3,9%, de
1993 para 1997, e de 1,9%, de 1997 para 2001. A oftalmologia, que em 1993 era responsável
apenas por 1,7% dos atendimentos, em 2001 aumentou para 9,1%, para o que contribuiu,
certamente, a implantação, no Serviço, entre estes períodos, da residência médica em
oftalmologia, vinculada à Fundação Altino Ventura. Já a neurologia teve comportamento
constante em todos os três anos, com um percentual em torno de 10% dos atendimentos da
emergência. Apesar do aumento do número de atendimentos, não houve diferenças
estatisticamente significativas em relação às especialidades, nos anos estudados, quando
realizados os testes estatísticos.
89

Quando se compara os resultados de 2001 com o estudo de Meira et al. (1992), realizado em
1991, na mesma instituição, utilizando uma classificação também por especialidades, verifica-
se semelhanças com os achados deste trabalho. O estudo citado constatou uma prevalência de
30% para a clínica traumatológica; na clínica cirúrgica os dados foram praticamente iguais
aos encontrados em 2001, ou seja, 16,35%. Na clínica médica houve uma diminuição do
percentual, no total de atendimentos, de 3,4%, e na neurologia ocorreu um aumento de 2,4%.

Na clínica de Otorrinolaringologia foram constatadas as maiores variações: em 1993


apresentou 4,1%, aumentou 3,2% em 1997, baixando em 2001 para 1,3%. No estudo de Meira
et al. (1992), esta especialidade atendeu um número de pacientes igual ao constatado neste
trabalho para o ano de 1997, ou seja, 7,3%; quando comparado ao ano de 2001 observa-se que
ocorreu uma redução de 6,0% . Possivelmente, esta redução deve-se ao fato desta clínica ter
sido transferida para outro serviço, no ano de 2001, deixando o HR de ser referência, nesta
área. As especialidades de Oftalmologia, Bucomaxilofacial e Vascular praticamente
continuaram com os mesmos percentuais, nos três anos analisados.

Tabela 12. Distribuição, por especialidades médicas, dos atendimentos realizados na


Emergência de Adultos do Hospital da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001
Ano de referência Total
Especialidade 1993 1997 2001
n % n % n % n %
Traumatologia 1454 34,2 1594 30,5 2239 36,1 5287 33,8
Neurologia 450 10,7 469 9,0 619 10,0 1538 9,8
Clínica Cirúrgica 885 20,8 879 16,9 929 15,0 2693 17,2
Clínica médica 1106 26,0 1188 22,8 1548 25,0 3842 24,5
Oftalmologia 74 1,7 464 8,9 565 9,1 1103 7,0
OTL 173 4,1 382 7,3 81 1,3 636 4,1
BMF 52 1,2 161 3,1 131 2,1 344 2,2
Vascular 54 1,3 76 1,5 87 1,4 217 1,4
Total 4248 100,0 5213 100,0 6199 100,0 15660 100,0
χ2 = 0,850 p = 0,357

Na tabela 13 foram reunidos (nº e % ) os diagnósticos realizados, em cada especialidade-


referência para a emergência do HR, a fim de facilitar uma análise de sua distribuição, nos
três anos estudados.
Em relação à especialidade traumatologia, a maioria dos diagnósticos apresentou aumento na
quantidade de atendimentos realizados nos três anos pesquisados, com exceção das contusões,
que passaram de 29,7%, em 1993, para 26,3%, em 2001, com uma redução de 3,4%, e das
90

fraturas, com 25,8%, em 1993, e 20,3 %, em 2001, uma redução de 5,5%. Quando utilizado o
teste estatístico de proporção, evidenciou-se que as associações entre os anos e as diferenças
encontradas são estatisticamente significativas (p< 0,000). Quando comparado com o estudo
realizado na mesma instituição, em 1991, por Meira et al. (1992), observa-se uma grande
redução das contusões, de 20,86%, passando de 47,16%, em 1991, para 26,3%, em 2001. Já
em relação às fraturas, a redução foi menor, de 7,2%, passando de 27,5%, em 1991, para
20,3%, em 2001. No estudo de Salla et al. (1989) também as contusões aparecem em primeiro
lugar, com 8,4%, entre todos os diagnósticos estudados, não só da clínica traumatológica.

O que chama a atenção nos resultados deste estudo, em relação à traumatologia, é a tendência
de diminuição de atendimentos no decorrer dos anos estudados, não obstante ser o HR
referência na especialidade, por um lado, e a população e os níveis de violência no meio
urbano continuarem aumentando, por outro lado. O aparente paradoxo ressalta ainda mais, ao
comparar com os resultados do estudo de Meira et al. (1992). Este fato se deve possivelmente
à existência de outros hospitais de grande porte na cidade do Recife, que passaram a atender
todos os pacientes, sem discriminação quanto a ser ou não registrado na Previdência, o que
não acontecia antes da implantação do SUS, no caso dos hospitais do INAMPS; também deve
ter contribuído para esta redução a criação de policlínicas, na cidade do Recife, após 1995.
Não obstante, ainda é muito grande o número de casos atendidos nesta clínica, principalmente
aqueles considerados inadequados para o serviço.

A clínica neurológica apresenta uma certa estabilidade na distribuição dos diagnósticos, nos
três anos, o TCE apresenta-se com o maior percentual, o que se justifica, por ser referência
para o Hospital; no entanto, os quantitativos não variam muito no período estudado, ocupando
mais de 40% dos atendimentos, nesta clínica. Em seguida vêm os AVCs, 17,6%, em 1993,
com um aumento de 5,9%, em 1997, e uma diminuição de 2,0%, em 2001.Os diagnósticos no
grupo “outros” ocupam quase 30% de todos os atendimentos, nos três anos, sabendo-se que,
neste grupo, estão incluídas algumas patologias mais raras, como também as cefaléias e
paralisias faciais, entre outras. Os outros diagnósticos nas especialidades desta clínica
mantiveram-se praticamente iguais. As variações encontradas na neurologia, de um ano para
outro, foram consideradas significativas, quando realizados os testes estatísticos. Não há como
comparar estes resultados com outros estudos encontrados na literatura, em que não estão
discriminados os diagnósticos, mas apenas as especialidades e alguns diagnósticos.
91

Na clínica cirúrgica, observa-se que os ferimentos superficiais representam quase 35%, em


todos os anos estudados, chamando a atenção o fato de que estes diagnósticos são
considerados inadequados para o Serviço, podendo ser resolvidos na rede básica de saúde.
Ainda quanto aos ferimentos superficiais, verifica-se a ocorrência de redução importante,
quando comparados os três anos, com diferenças estatisticamente significativas, (p < 0,000),
passando de 41,0 %, em 1993, para 31,4%, em 2001, uma redução de 9,6%. No estudo de
Meira et al. (1992), realizado em 1991, foi encontrado valor ainda maior, 50,03%. Dentre os
outros diagnósticos de referência para o hospital, observa-se uma certa estabilidade nos três
anos, chamando a atenção os politraumatismos, que aumentaram de forma acentuada, de 14%,
em 1993, para 21%, em 1997, e 27,7%, em 2001, causando uma associação bastante
significativa em relação aos anos estudados, quando realizados testes estatísticos de
proporção, confirmando a vocação do hospital para o trauma. Quase 15% dos atendimentos,
nos três anos, tiveram diagnósticos classificados como “outros”, incluindo pacientes com
problemas ginecológicos/obstétricos, realização de endoscopias, hemorróidas, orquite, entre
outros. As lesões penetrantes, também consideradas de referência para o HR, apresentaram
um percentual bastante alto, com 10,9%, em 2001, mantendo-se estável em relação aos outros
anos. Apresentaram aumento de 2,12%, quando comparado ao estudo de Meira et al. (1992),
realizado em 1991, enfatizando que o referido estudo teve uma amostra de 2.000 prontuários e
o período estudado foi de 4 meses.

Na clínica médica observa-se um declínio muito grande do atendimento de casos de


gastroenterites, de 7,3%, em 1993, para 3,4%, em 2001, uma redução de 3,9%. Esta
diminuição pode estar associada à maior cobertura da assistência básica do Sistema de Saúde,
como também à melhoria das condições de vida da população.

Já os acidentes por animais peçonhentos e intoxicações exógenas apresentaram acentuado


crescimento; como se observa na tabela 13, os primeiros passaram de 2,4%, em 1993, para
5,5%, em 2001; já as intoxicações apresentaram pequenas variações de 0,9%, de 1993 para
2001, lembrando que estes serviços do HR são referência para todo o Estado de Pernambuco.
Quanto ao diagnóstico “outros” mantém-se muito semelhante entre os três anos estudados,
perfazendo um total de 54,8% dos atendimentos clínicos. Incluídos neste grupo estão as
viroses, distúrbios neurovegetativos, desnutrição, entre outros, chamando a atenção de que a
maioria destes diagnósticos são considerados inadequados para o hospital. Observa-se que as
doenças relacionadas ao aparelho respiratório apresentaram uma elevação significativa, de 2,8
92

%, em 1993, se mantendo com 2,9%, em 1997, atingindo 5,7%, em 2001, um aumento de


2,9%. Os diagnósticos de dor torácica e dor abdominal apresentaram o maior percentual na
especialidade clínica médica (em torno de 14%), com uma variação no ano de 1997, 3,1% a
menos, em relação a 1993, demonstrando um alto percentual de diagnósticos mal definidos. A
hipertensão arterial seguiu a mesma variação, diminuindo apenas em 1997, mantendo-se
praticamente com o mesmo percentual em 1993 e, em 2001,com um aumento de apenas 0,7%.

Na Oftalmologia, o que chama a atenção é o fato de os diagnósticos “outros’ representarem


aproximadamente 50% de todos os atendimentos nesta clínica, nos três anos estudados; neste
grupo estão incluídos catarata, glaucoma, corpo estranho no olho sem lesão de córnea, dor no
olho, não sendo considerados adequados para o hospital, pois não são caracterizados como
casos de emergência. Observa-se que, nesta clínica, não há grandes variações entre os anos.
Chama a atenção a quantidade de casos de conjuntivite, um diagnóstico não adequado ao
Serviço.

Na clínica de Otorrinolaringologia, todas as associações são significativas, quando se observa


a tabela e os dados apresentados. Os corpos estranhos no nariz e ouvido ocupam 7,4%, em
1993, aumentando para 17 %, em 1997, e 17,8%, em 2001. As otites sofrem uma redução em
2001, de 25,2%, quando comparado a 1993; em contrapartida, o diagnóstico “outros” abrange
quase 50% dos atendimentos, com um aumento, em 2001, de 14,7%, quando comparado a
1993, incluindo as amigdalites, faringites, rolhas de cera, entre outros. A grande maioria deste
grupo é considerada não adequada ao hospital. A diminuição dos casos de otites, em 2001,
pode ter sido em decorrência da transferência desta clínica para outro serviço, mesmo assim
muitos casos continuam sendo atendidos, não obstante o HR ter deixado de ser referência
nesta área. Já o aumento do grupo “outros” pode ser devido a que estes diagnósticos também
são atendidos pelo clínico geral.

Na clínica Bucomaxilofacial, pode-se observar, na tabela 13, que os traumas de face


correspondem a quase 58% de todos os atendimentos. O diagnóstico “outros” sofre uma
variação, ao longo dos três anos, subindo 2,6%, de 1993 para 1997, e decrescendo 12,1%, em
2001. Este grupo inclui as dores de dente, hemorragia alveolar, ferimento na região oral,
sendo a grande maioria considerada completamente inadequada ao Serviço, somando-se ainda
os abcessos dentários. Estes dois diagnósticos ocupam mais de 30% dos atendimentos, nos
três anos estudados. A queda no número de atendimentos provavelmente se deve ao fato do
93

HR não mais atender pacientes de odontologia, permanece apenas o atendimento relativo a


problemas bucomaxilofaciais.

A clínica vascular apresenta um alto percentual de diagnósticos em “outros”, na maioria


considerados não adequados ao hospital, incluindo as erisipelas, varizes, pé diabético, entre
outros diagnósticos mais raros, como aneurisma de aorta abdominal. As isquemias críticas
tiveram um aumento de 7,5%, em 2001, em relação a 1993, e as necroses de extremidades,
consideradas inadequadas para o HR, apresentaram um declínio também de 7,5%, de 1993
para 2001.As associações nesta especialidade não foram consideradas significativas.

Tabela 13. Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo o diagnóstico por
especialidade

Ano de referência
Especialidade/
diagnóstico 1993 1997 2001 Total
n % N % n % n %
Traumatologia χ2 = 41,7 p = 0,000*
Fratura 375 25,8 322 20,2 453 20,3 1150 21,8
Contusão 431 29,7 440 27,6 587 26,3 1458 27,6
Luxação 27 1,9 31 1,9 46 2,1 104 2,0
Entorse 300 20,6 342 21,5 534 23,9 1176 22,3
Torcicolo 20 1,4 35 2,2 45 2,0 100 1,9
Amputação traumática 05 0,3 05 0,3 03 0,1 13 0,2
Outros 295 20,3 418 26,2 567 25,4 1280 24,2
Neurologia χ2 = 26,7 p = 0,021*
AVC 79 17,6 110 23,5 133 21,5 322 20,9
TCE 201 44,7 207 44,2 218 35,2 626 40,7
TRM 04 0,9 03 0,6 04 0,6 11 0,7
HAS 01 0,2 - 02 0,3 03 0,2
Epilepsia 08 1,8 05 1,1 11 1,8 24 1,6
Crise convulsiva 35 7,8 31 6,6 55 8,9 121 7,9
TV cerebral 05 1,1 01 0,2 02 0,3 08 0,5
Outros 117 26,0 111 23,7 194 31,3 422 27,5
Clínica cirúrgica χ2 = 75,5 p = 0,000*
Ferimento superficial 372 41,0 290 32,5 293 31,4 955 34,9
Lesões penetrantes 97 10,7 108 12,1 102 10,9 307 11,2
Queimaduras 67 7,4 47 5,3 55 5,9 169 6,2
Obstrução intestinal 08 0,9 07 0,8 07 0,8 23 0,8
Abdome agudo 08 0,9 06 0,7 06 0,6 22 0,8
Abcesso 62 6,8 67 7,5 44 4,7 173 6,3
HDA 33 3,6 23 2,6 40 4,3 96 3,5
Pneumo/hemotórax 03 0,3 04 0,4 02 0,2 09 0,3
Politraumatismo 127 14,0 189 21,2 258 27,7 574 21,0
Outros 130 14,3 150 16,8 126 13,5 406 14,9
(Continua)
94

Continua)
Ano de referência
Especialidade/
diagnóstico 1993 1997 2001 Total
n % N % n % n %
2
Clínica médica χ = 94,7 p = 0,000*
Gastroenterite 81 7,3 54 4,5 53 3,4 188 4,9
HAS 130 11,8 106 8,9 193 12,5 429 11,2
DM 14 1,3 21 1,8 30 1,9 65 1,7
Afogamento 03 0,3 02 0,2 02 0,1 07 0,2
Dor torácica/abdominal 162 14,6 137 11,5 231 14,9 530 13,8
Acidente animal
peçonhento 26 2,4 47 4,0 85 5,5 158 4,1
Intoxicação exógena 18 1,6 26 2,2 38 2,5 82 2,1
DPOC + Inf.
Respiratória 31 2,8 35 2,9 89 5,7 155 4,0
Alcoolismo 45 4,1 29 2,4 50 3,2 124 3,2
Outros 596 53,9 731 61,5 777 50,2 2104 54,8
Oftalmologia χ2 = 14,3 p = 0,159
Lesão de córnea 12 16,2 85 18,3 89 15,8 186 16,9
Hematoma/hemorragia
ocular 06 8,1 17 3,7 14 2,5 37 3,4
Trauma ocular 06 8,1 43 9,3 47 8,3 96 8,7
Celulite periorbitária 02 2,7 05 1,1 07 1,2 14 1,3
Conjuntivite 18 24,3 102 22,0 109 19,3 229 20,8
Outros 30 40,5 212 45,7 299 52,9 541 49,0
OTL χ2 = 39,9 p = 0,000*
Corpo estranho
nariz/ouvido 11 7,4 63 17,0 13 17,8 87 14,7
Otite 64 43,0 143 38,6 13 17,8 220 37,2
Outros 74 49,7 164 44,3 47 64,4 285 48,1
BMF χ2 = 15,7 p = 0,046*
Avulsão traumática de
dentes 02 4,0 02 1,3 01 0,8 05 1,5
Trauma de face 32 64,0 83 51,9 82 63,1 197 57,9
Abcesso dentário 02 4,0 13 8,1 08 6,2 23 6,8
Luxações ATM 00 0,0 13 8,1 15 11,5 28 8,2
Outros 14 28,0 49 30,6 24 18,5 87 25,6
Vascular χ2 = 6,9 p = 0,546
Isquemia crítica 04 7,4 07 9,2 13 14,9 24 11,2
Linfangite necrotizante 03 5,6 01 1,3 04 4,6 08 3,7
Necrose de
14 25,9 12 15,8 16 18,4 42 19,5
extremidades
TVP 04 7,4 06 7,9 07 8,0 17 7,8
Outros 29 53,7 50 65,8 47 54,1 126 60,8

Em relação ao atendimento ter sido adequado ou não ao serviço de saúde observa-se, na tabela
14, que, no geral, 74,5% dos atendimentos foram inadequados. Embora o percentual de
atendimentos, no decorrer dos anos estudados, tenha aumentado em relação ao total da
95

amostra, houve uma queda na proporção destes atendimentos inadequados, como se pode
observar, em 1993 (76,2%), 1997 (74,0%) e 2001 (73,7%), causando uma associação
estatisticamente significativa, quando realizados os testes de proporção.
Segundo PEIXOTO; CAMPOS; BOTELHO (1990), a presença de grande número de
pacientes nos serviços de emergência de “causas comuns”, que neste trabalho foram
denominados inadequados, queixas típicas de serviços de atenção primária de saúde, é
decorrente do uso abusivo destes serviços por parte da população. Segundo os autores, o
crescimento dos serviços de emergência, no Brasil, pode ser observado empiricamente e, de
certa forma, vincula-se ao “ Plano CONASP”, de 1981, que modificou a forma de pagamento
hospitalar em todos os níveis, privilegiando a quantidade de atendimentos do serviço.
Diferentemente dos dados encontrados neste estudo, Farjado Ortiz.; Ramírez-Fernandez,
(2000, p. 165) constataram, em seu trabalho, que 35,88% dos atendimentos foram
considerados urgências não verdadeiras. Os autores definem, como urgência verdadeira, “...la
atención médica proporcionada en el servicio de urgências, después de utorgarse la misma; el
esuario por indicaciones médicas debió permanecer en el hospital”.

Já Salla et al. (1989) encontraram 60,6% de atendimentos caracterizados como não sendo de
urgência ou emergência, mais aproximados aos achados do presente estudo, de 74,5%. Estes
resultados demonstram claramente a utilização do hospital como uma “válvula de escape” dos
serviços de saúde, fato que prejudica o atendimento dos casos considerados adequados para o
serviço, uma vez que acarreta acúmulo de tarefas, sobrecarga para toda a equipe de
profissionais, contribuindo também para o aumento dos custos hospitalares. Por outro lado, o
fato também aponta para a ineficácia do Sistema de Saúde, incapaz de oferecer a esses
indivíduos um acesso mais fácil à rede de atenção primária, encaminhando-os aos serviços de
urgências e emergências. Ou, como ocorre na maioria das vezes, a própria população procura
o serviço como demanda espontânea; afinal, é ela quem define o que é urgência.
96

Tabela 14. Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo a adequação ou
inadequação ao serviço
Ano Adequado Inadequado Total
de referência n % n % n %
1993 1022 23,8 3276 76,2 4298 27,1
1997 1372 26,0 3911 74,0 5283 33,3
2001 1647 26,3 4618 73,7 6265 39,6
Total 4041 (25,5) 11805 (74,5) 15846 100,0
χ2 = 9,37 p = 0,009
Na tabela 15 observa-se redução nos atendimentos a pacientes procedentes do Recife e
aumento nos procedentes dos municípios da Região Metropolitana e outras localidades. No
Recife, os atendimentos passaram de 51,1%, em 1993, para 45%, em 1997, e 44,4%, em 2001.
O mesmo não aconteceu em relação à Região Metropolitana, responsável por 38,7% da
demanda, em 1993, aumentando para 44,9%, em 2001. O que chama a atenção é o fato do
Recife e RMR serem responsáveis por quase 90% dos atendimentos, restando, para as outras
regiões do Estado e fora do Estado, apenas 10%. Considerando que o Serviço é para todo o
Estado, que extrapola os limites territoriais entre municípios, é de se questionar as razões para
esta pouca procura por parte da população do interior, levando-se em consideração que os
atendimentos de quase a metade da amostra são para pacientes da cidade do Recife. Poder-se-
ia inferir que a população interiorana não estaria sujeita a urgências médicas com a mesma
freqüência daqueles que moram numa cidade grande, ou a densidade populacional menor
diminuiria naturalmente o risco de adoecer, ou ainda que esta população estaria sendo
atendida por outros serviços, tanto hospitais regionais, como outros grandes hospitais da
cidade do Recife. Quando se relaciona a procedência com os distintos anos do estudo,
verifica-se uma relação estatisticamente significativa, com p< 0,05.
97

Tabela 15. Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo a procedência dos
pacientes ( Recife e municípios da Região Metropolitana)
Procedência Ano de referência Total
dos pacientes 1993 1997 2001
N % n % N % N %
Recife 2316 51,1 2402 45,0 2889 44,4 7607 46,4
RMR 1756 38,7 2418 45,3 2922 44,9 7096 43,3
Outros 460 10,2 519 9,7 701 10,8 1680 10,3
Total 4532 100,0 5339 100,0 6512 100,0 16383 100,0
χ2 = 63,15 p = 0,000

Analisando os dados explicitados na tabela 16, relacionando os atendimentos realizados no


Recife e RMR à faixa etária observa-se, nas faixas etárias < 5 anos a 19 anos, decréscimo nos
atendimentos realizados em todos os anos , em todas as regiões, o que pode ser explicado,
como anteriormente já mencionado, pelo maior rigor das autoridades e instituições no
controle e prevenção de agravos à saúde nestas faixas etárias, a partir do Estatuto da Criança e
do Adolescente, em 1990, bem como a assistência prestada pelo Programa de Saúde da
Família, em que o atendimento às crianças é prioritário. A faixa de 20 a 29 anos apresenta
uma variação menor, aumentando, em 1997, para o Recife, e diminuindo nos outros
municípios e na RMR, o que talvez possa ser justificado pela própria idade, vez que a
juventude está mais exposta aos riscos da violência, bem como aos acidentes, geralmente
associados ao uso de bebidas alcoólicas, refletindo o dia-a-dia das grandes cidades. Já na faixa
de 30 a 49 anos e 50 anos e mais houve aumento em todos os anos, em todas as regiões. Os
atendimentos se concentraram mais na faixa etária de 20 a 49 anos, com mais de 58% de toda
a amostra, o que se pode justificar pelo aumento da expectativa de vida da população. As
associações entre os anos e as regiões de procedência são estatisticamente significativas.
98

Tabela 16. Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração, na cidade do Recife , RMR e outros municípios, nos anos de
1993, 1997 e 2001, segundo a faixa etária
Ano de referência
Faixa etária 1993 1997 2001 χ2 p value
N % N % N %
Recife 105,5 0,000*
Menor de 5 93 4,0 135 5,6 86 3,0
De 5 a 9 139 6,0 110 4,6 78 2,7
De 10 a 19 479 20,7 433 18,0 476 16,5
De 20 a 29 641 27,7 610 30,2 742 25,7
De 30 a 49 601 25,9 725 30,2 999 34,6
50 ou mais 363 15,7 389 16,2 508 17,6
RMR 96,9 0,000*
Menor de 5 81 4,6 139 5,7 88 3,0
De 5 a 9 100 5,7 119 4,9 92 3,1
De 10 a 19 374 21,3 455 18,8 443 15,2
De 20 a 29 440 25,1 591 24,4 725 24,8
De 30 a 49 494 28,1 707 29,2 1012 34,6
50 ou mais 267 15,2 407 16,8 562 19,2
Outros 29,7 0,001*
Menor de 5 23 5,0 26 5,0 17 2,4
De 5 a 9 28 6,1 27 5,2 15 2,1
De 10 a 19 79 17,2 85 16,4 94 13,4
De 20 a 29 103 22,4 102 19,7 177 25,2
De 30 a 49 132 28,7 169 32,6 232 33,1
50 ou mais 95 20,7 110 21,2 166 23,7
* Associação estatisticamente significativa (p < 0,05)

Observando a tabela 17, nota-se claramente a predominância absoluta da cidade do Recife na


demanda dos pacientes à Emergência de Adultos do HR, totalizando, nos três anos estudados,
mais de 50% da amostra, quando comparada aos demais municípios da Região Metropolitana.
Olinda aparece com 17% do total da amostra e Jaboatão com 13%, ambos tendo apresentado
um discreto aumento, em 2001, em relação ao ano de 1993. Os outros municípios da RMR ,
com exceção de Paulista, que apresenta 6,5%, têm um percentual igual ou abaixo de 3,0%.
Mesmo na Região Metropolitana, com a participação de grandes cidades, o Recife continua
detentor de metade dos atendimentos. Segundo Peixoto Filho; Campos; Botelho (1990),
parece ser lugar comum, entre os estudiosos dos serviços de emergência, que o fator
geográfico de residência na área do hospital está associado ao uso maior destes serviços. Os
autores verificaram, em seu estudo, que 83,7% dos pacientes eram oriundos de Florianópolis,
local em que se situa o hospital pesquisado.
99

Tabela 17. Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, por município da RMR
Ano de referência Total
Municípios 1993 1997 2001
n % N % n % N %
Araçoiaba 06 0,1 09 0,2 09 0,2 24 0,2
Abreu e Lima 64 1,6 102 2,1 145 2,5 311 2,1
Cabo 54 1,3 117 2,4 101 1,7 268 1,8
Camaragibe 112 2,8 169 3,5 166 2,9 447 3,0
Igarassu 47 1,2 67 1,4 99 1,7 213 1,4
Ipojuca 26 0,6 22 0,5 35 0,6 83 0,6
Itamaracá 01 0,0 10 0,2 16 0,3 27 0,2
Itapissuma 09 0,2 11 0,2 10 0,2 30 0,2
Jaboatão 510 12,5 659 13,7 735 12,6 1904 13,0
Moreno 11 0,3 17 0,4 22 0,4 50 0,3
Olinda 669 16,5 863 17,9 1020 17,6 2552 17,4
Paulista 188 4,6 300 6,2 465 8,0 953 6,5
Recife 2316 57,0 2402 49,9 2889 49,7 7607 51,8
S. Lourenço da Mata 53 1,3 69 1,4 99 1,7 221 1,5
Total 4.066 100,0 4.817 100,0 5.811 100,0 14.690 100,0

Quando se analisa o Recife e a Região Metropolitana, em relação aos atendimentos


considerados inadequados (Tabela 18), observa-se que somente na cidade do Recife a
diferença entre os anos estudados é considerada estatisticamente significativa (p < 0,05), ou
seja, houve de fato uma diminuição dos atendimentos considerados inadequados, entre os
anos de 1993, 81,2%, 1997, 78,3%, e 2001, 77,8%, significando automaticamente que os
casos adequados para o perfil da instituição aumentaram. Na RMR e outros municípios do
Estado não houve alteração significativa, ou seja, o número de atendimentos inadequados
continuou estável, mantendo mais de 70% para a Região Metropolitana e mais de 58% para os
outros municípios do Estado, com p > 0,05.
Pode-se inferir, a partir destes dados,que a diminuição de casos inadequados para os pacientes
da cidade do Recife pode ter ocorrido por conta da municipalização dos serviços de saúde
nesta cidade, com a criação de policlínicas funcionando nas 24 horas, absorvendo uma parte
da demanda anteriormente usuária do HR, além de, a partir de 2001, terem sido aumentadas as
equipes do Programa de Saúde da Família, nesta cidade.
100

Tabela 18. Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração, nos anos de 1993,1997 e 2001, segundo a procedência e
adequação dos atendimentos
Procedência/Ade- Ano de referência
quação do 1993 1997 2001 χ2 p value
atendimento n % n % n %
Recife 9,52 0,008*
Adequado 415 18,8 516 21,7 620 22,2
Inadequado 1783 81,2 1861 78,3 2163 77,8
RMR 1,33 0,515
Adequado 428 25,8 653 27,3 738 26,2
Inadequado 1231 74,2 1738 72,7 2075 73,8
Outros 1,84 0,398
Adequado 179 40,6 203 39,4 289 43,2
Inadequado 262 59,4 312 60,6 380 56,8
* Associação estatisticamente significativa (p < 0,05)

Em relação à inadequação dos atendimentos, por município da Região Metropolitana do


Recife, pode-se observar, na tabela 19, uma oscilação muito grande em quase todos os
municípios, quando se compara os três anos entre si, dificultando a análise, uma vez que
apenas dois municípios mantiveram uma diminuição do número de casos inadequados nos
anos, de forma consecutiva, Itamaracá (20%, de 1993 para 1997, e 17,5%, de 1997 para 2001)
e Jaboatão (2,7%, de 1993 para 1997, e 1,2%, de 1997 para 2001). Já Ipojuca, Itapissuma e
Paulista apresentaram um aumento do número de casos inadequados, nestes anos, Ipojuca (
7,7%, de 1993 para 1997, e 4,3%, de 1997 para 2001), Itapissuma ( 8,1%, de 1993 para 1997,
e 26,4%, de 1997 para 2001) e Paulista (7,7%, de 1993 para 1997, e 3,8%, de 1997 para
2001).

Os municípios de Recife, Olinda, São Lourenço da Mata, Abreu e Lima e Moreno


apresentaram um aumento nos atendimentos, no ano de 1997, quando comparado a 1993, e
uma diminuição, em 2001. Por outro lado, Araçoiaba, Cabo, Camaragibe e Igarassu
apresentaram uma diminuição em 1997 e um aumento em 2001.
Se a comparação for apenas com o ano de 2001 em relação ao ano de 1993, nove municípios
apresentam diminuição dos casos inadequados. Vale chamar a atenção para os municípios de
maior porte, que apresentaram a seguinte diminuição: Recife, 2,1%; Olinda, 1,1%; Jaboatão,
3,9%; Camaragibe, 1,9%.
101

O que pode ser inferido, a partir destes resultados, é que, em 1997, muitos municípios ainda
estavam no início do processo de municipalização, e mesmo aqueles que já adotavam este
processo desde 1994 ou 1995, ou que já tinham implantado o PSF, ainda contavam com uma
cobertura incipiente, não causando impacto na situação de saúde dos municípios. Já em 2001,
observa-se maior uniformidade na diminuição dos atendimentos inadequados, possivelmente
por conta da melhoria da assistência básica, nestes municípios. O município de Camaragibe
chama a atenção, pelo fato de ter sido um dos primeiros a implantar o PSF, com melhoria em
vários indicadores de saúde, e apresentar, neste estudo, diminuição do número de casos, em
1997 (2,5%) e um aumento do número de casos inadequados, em 2001 ( 0,6). Farias (1998)
afirma que o modelo de atenção, naquele município, é básico-centro, não estando estabelecida
a regionalização por níveis de complexidade, não havendo um sistema de referência e contra-
referência formal, preponderando a referência informal, envolvendo serviços fora do
município. O que se pode deduzir, a partir daí, é que o Programa de Saúde da Família, como
proposta de “porta de entrada” do Sistema de Saúde, “[...] não tenha poder para reverter a
configuração do modelo médico hegemônico. (FRANCO; MERHY, 2000, p. 3-8).

Já D’Aguiar (2001), como conclusão do seu estudo em Volta Redonda, afirma que o
Programa apresenta precária integração com a rede local de saúde, dentre outras
peculiaridades encontradas. O fato contribui para a formação de demanda espontânea, que não
consegue resolver seus problemas de saúde na rede básica, como preconiza o Ministério da
Saúde, deixando o PSF de ser a “porta de entrada” do sistema , e não utilizando os hospitais
para os atendimentos mais complexos e que requeiram maior tecnologia.
102

Tabela 19. Distribuição dos atendimentos inadequados na Emergência de Adultos do Hospital da Restauração, nos anos de
1993, 1997 e 2001, por município da RMR
Ano de referência
Distrito 1993 1997 2001 Total
N % I N % I N % I n % I
Araçoiaba 06 0,15 83,3 09 0,18 55,5 09 0,15 77,8 24 0,16 70,8
Abreu e Lima 64 1,56 60,9 102 2,09 75,4 145 2,48 74,5 311 2,10 72,0
Cabo 54 1,32 61,1 117 2,40 54,7 101 1,72 57,4 268 1,81 57,8
Camaragibe 112 2,73 67,0 169 3,46 64,5 166 2,83 65,1 447 3,01 65,3
Igarassu 47 1,15 70,2 67 1,37 59,7 99 1,69 69,7 213 1,44 66,7
Ipojuca 26 0,63 42,3 22 0,45 50,0 35 0,60 54,3 83 0,56 49,4
Itamaracá 01 0,02 100,0 10 0,20 80,0 16 0,27 62,5 27 0,18 70,4
Itapissuma 09 0,22 55,5 11 0,23 63,6 10 0,17 90,0 30 0,20 70,0
Jaboatão 510 12,4 71,4 659 13,50 68,7 735 12,55 67,5 1904 12,84 69,0
Moreno 11 0,27 63,6 17 0,35 70,6 22 0,38 54,5 50 0,34 62,0
Olinda 669 16,3 74,9 863 17,68 77,9 1020 17,42 73,8 2552 17,21 75,5
Paulista 188 4,59 67,0 300 6,15 74,7 465 7,94 78,5 953 6,43 75,0
Recife 2316 56,5 76,9 2402 49,22 77,4 2889 49,33 74,8 7607 51,29 76,3
São Lourenço da 53 1,29 50,9 69 1,41 73,9 99 1,69 61,6 221 1,49 62,9
Mata
Total 4.066 100,0 - 4.817 100,0 - 5.811 100,0 - 14.690 100,0 -
103

A tabela 20 apresenta as freqüências da demanda de cada distrito da cidade do Recife,


observando-se uma oscilação entre os Distritos e os anos, comparada à oscilação entre
os municípios da RMR, ou seja, não há uma lógica entre os anos e o aumento ou
diminuição de demanda e casos inadequados, embora as diferenças encontradas sejam
consideradas estatisticamente significativas, quando realizados os testes de proporção.
Em 1997, os Distritos I e VI tiveram aumento de demanda e de casos inadequados; o II
e o III tiveram aumento de demanda e diminuição de inadequados; o IV e o V tiveram
diminuição de demanda e aumento de inadequados. Já em 2001, os Distritos II, IV e V
diminuíram a demanda e os casos inadequados; o Distrito I aumentou a demanda e os
casos inadequados e os Distritos III e VI aumentaram a demanda e diminuíram os
casos inadequados. Quando se compara 2001 a 1993, só um distrito não apresenta
redução dos casos inadequados, o Distrito I, o que pode ser explicado pela
proximidade do HR a este Distrito, sendo utilizado pelos usuários como serviço de
atenção primária, de fácil acesso e alta resolutividade, como também pela ausência de
outros serviços públicos de complexidade menor, funcionando nas 24 horas, nesta
área. Em contrapartida, o Distrito VI apresenta a maior redução, considerando que
também houve aumento de demanda, caindo 24,5%, o que pode ser explicado pela
existência de uma policlínica nesta região, como também a expansão do Programa de
Saúde da Família.
104

Tabela 20. Distribuição do total de atendimentos realizados na Emergência de Adultos do Hospital da Restauração e
atendimentos considerados inadequados, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo a procedência por distrito da cidade do
Recife
Ano de referência
Distrito 1993 1997 2001 Total
n % I n % I N % I n % I
I 300 13,0 72,7 352 14,7 80,4 452 15,6 78,9 1104 14,5 77,7
II 545 23,6 78,7 579 24,1 78,5 609 21,1 76,8 1733 22,8 78,0
III 553 23,9 78,5 591 24,6 78,2 694 24,0 76,2 1838 24,2 77,5
IV 309 13,4 76,7 276 11,5 77,5 337 11,7 69,4 922 12,1 74,3
V 293 12,7 74,7 244 10,2 75,0 320 11,1 73,1 857 11,3 72,5
VI 311 13,5 70,4 359 15,0 73,2 477 16,5 45,9 1147 15,1 75,0
Total 2311 100,0 - 2401 100,0 - 2889 100,0 - 7601 100,0 -
χ2 = 31,7 p = 0,000
105

Quando se faz a relação do tipo de gestão (baseado nas Normas Operacionais Básicas
(93 e 96) dos municípios da Região Metropolitana e a cobertura do PSF, com a
diminuição dos casos inadequados na Emergência de Adultos do Hospital da
Restauração, observa-se que, no ano de 1997, como referido anteriormente, não se
pode fazer a correlação, provavelmente pelo incipiente grau de comprometimento dos
municípios com o processo de municipalização e pela baixa cobertura do PSF (Tabela
21). Já em 2001, a análise torna-se mais plausível, observando-se diminuição dos casos
inadequados, de forma mais uniforme, entre os municípios, comparando-se ao ano de
1993, antes da municipalização e implantação do PSF, com o objetivo de reestruturar
os serviços de saúde. Dos 14 municípios, apenas em 4 não diminuiu o número de casos
inadequados, no período estudado: Abreu e Lima e Itapissuma, embora contassem com
cobertura do PSF acima de 50,0% e estivessem no Sistema de Gestão Plena da
Atenção Básica; Ipojuca, com uma cobertura de 18,75% e Gestão Plena da Atenção
Básica, e Paulista, com uma cobertura do PSF de 30,10% e Gestão Plena do Sistema
Municipal.
Segundo o MS (BRASIL, 2000b), os principais benefícios, para os municípios em que
estão implantados o PACS e PSF, são a melhoria dos indicadores de saúde,
diminuição do número de exames complementares, de encaminhamentos de
emergência e de internações hospitalares (grifo do autor). Segundo ainda o MS
(BRASIL, 2002), o avanço dos municípios em relação ao sistema de gestão
representou maior responsabilização para eles e para os gestores municipais, como
também aumento da equidade dos recursos financeiros, por meio da implantação do
PAB (Piso Assistencial Básico), mas não garantiu a qualidade nem a efetividade da
atenção básica, nem o acesso dos cidadãos aos outros níveis de atenção. É o que se
pode constatar através dos dados apresentados. Dos seis municípios com Gestão Plena
do Sistema Municipal, Moreno foi aquele em que mais diminuíram os casos
inadequados (9,1%), vindo a seguir Cabo (3,7%) e Recife (2,1%). Nos outros dois,
Camaragibe e Olinda, a redução foi inferior a 2,0%. Em Paulista os casos inadequados
não diminuíram, pelo contrário, aumentaram 11,5%. Poucos são ainda os trabalhos
referentes à atuação do PSF, voltados para a avaliação de sua função maior, de
reordenador de demanda da atenção básica; o que há são trabalhos mais voltados para
106

a avaliação administrativa, realizada pelo próprio Ministério da Saúde. D”Aguiar


(2001, p. 113), ao avaliar a resolutividade do Programa, chega à conclusão de que

[...] o Programa de Saúde da Família, em Volta Redonda, ainda não


conseguiu incorporar o novo paradigma da promoção da saúde [...] e
continua concentrando a sua atuação na resolução dos casos de doença que
acorrem aos módulos e implementação de atividades enquadradas nos
programas considerados prioritários pelo Ministério da Saúde [...] mas a
própria assistência às doenças é de qualidade insatisfatória.

O autor enfatiza ainda que o Programa não consegue responder à demanda espontânea
e nem satisfazer os usuários. O nível de resolutividade objetivado pelo Programa só
poderá ser atingido , ainda na visão deste autor, quando se conseguir estruturar e fazer
funcionar uma rede hierarquizada de cuidados de diferentes complexidades,
estabelecendo um sistema de referência e contra-referência de pacientes, sem longas
filas, e que viabilize a troca de informações entre os vários níveis, o que é fundamental
para a garantia de um atendimento integral e contínuo.
107

Tabela 21. Correlação dos municípios da RMR com o Tipo de Gestão e cobertura do PSF, em 1997 e 2001, comparados ao ano
de 1993, quanto à proporção de casos inadequados atendidos na Emergência de Adultos do Hospital da Restauração
Ano de referência
MUNICÍPIOS 1993 1997 2001
% de Tipo de gestão % de Tipo de gestão Número de % de cobertura % de
Inadequados NOB/93 Inadequados NOB/96 equipes PSF PSF Inadequados
Abreu e Lima 60,9 Incipiente 75,4 PAB 17 57,97 74,5
Araçoiaba 83,3 - 55,5 PAB 04 53,19 77,8
Cabo 61,1 Incipiente 54,7 PSM 32 55,99 57,4
Camaragibe 67,0 Parcial/Semi-plena 64,5 PSM 31 95,79 65,1
Igarassu 70,2 Incipiente 59,7 PAB 16 78,14 69,7
Ipojuca 42,3 - 50,0 PAB 04 18,75 54,3
Itamaracá 100,0 Incipiente 80,0 PAB 03 50,96 62,5
Itapissuma 55,5 Parcial 63,6 PAB 04 67,21 90,0
Jaboatão 71,4 Incipiente 68,7 PAB 23 13,72 67,5
Moreno 63,6 Incipiente 70,6 PSM 06 37,36 54,5
Olinda 74,9 Parcial/Semi-plena 77,9 PSM 33 39,62 73,8
Paulista 67,0 Incipiente/Semi- 74,7 PSM 26 30,10 78,5
plena
Recife 76,9 Incipiente 77,4 PSM 82 14,59 74,8
São Lourenço da 50,9 Incipiente/Semi- 73,9 PAB 22 36,05 61,6
Mata plena
FONTE. Ministério da Saúde e IBGE- Pacto de atenção básica-2002. PAB - Plena de Atenção Básica / PSM – Plena do Sistema Municipal/SES-2003.
108

No gráfico 3 é possível visualizar os percentuais de atendimentos adequados no HR,


procedentes de sete municípios da RMR, em 2001, em relação a nove especialidades
médicas. Verifica-se que o maior número de atendimentos adequados, em 2001, foi de
pacientes procedentes da cidade de Paulista, em clínica cirúrgica, com mais de 40%,
seguido por Abreu e Lima e Olinda, sabendo-se que nestes atendimentos predominam
lesões penetrantes e politraumatizados. A Neurologia, incluindo a Neurocirurgia,
aparece com a segunda maior prevalência, Camaragibe ocupa o maior percentual nesta
clínica. Os diagnósticos prevalentes; nesta especialidade são os TCEs e AVCs. Observa-
se um alto percentual de atendimentos de Oftalmologia, procedentes da cidade do Cabo,
se igualando à cirurgia geral e pouco abaixo da Neurologia. Em Recife e Jaboatão, são
quase iguais os atendimentos neurológicos e de clínica cirúrgica, com predominância
para a clínica cirúrgica. Era de se esperar que a maior demanda de casos adequados
fosse do Recife, tanto pelo seu tamanho, como pela maior demanda no total da amostra.
Acredita-se que, em relação a estes casos, a atitude das pessoas é diferente: procuram o
serviço mais próximo, dependendo da gravidade e urgência. Assim, a demanda fica
equivalente, distribuída pelos outros grandes hospitais de emergência da cidade do
Recife.

Quanto ao fato de Paulista ocupar o primeiro lugar nos atendimentos adequados, em


clínica cirúrgica, vale salientar que este município também ocupou lugar de destaque
quanto aos casos inadequados, apresentando um aumento cronológico nos anos
estudados, o que significa que o município não responde de forma resolutiva aos seus
cidadãos, nem pela assistência de alta complexidade, nem pela assistência básica.
109

Gráfico 3. Distribuição dos atendimentos considerados adequados nos sete


municípios da RMR com maior demanda para a Emergência de Adultos do
Hospital da Restauração, no ano de 2001, de acordo com as especialidades
Médicas

45
40
35
30
25
%
20
15
10
5
0
Camaragibe Jaboatão Olinda Cabo Paulista Abreu Recife

Municípios

Traumatologia Neurologia C. cirúrgica C. médica OFT OTL BMF Vascular

No gráfico 4 está demonstrada a distribuição dos atendimentos adequados dos Distritos


da cidade do Recife na Emergência de Adultos do Hospital da Restauração, em 2001.
Observa-se que os Distritos I, VI, II e III são os que mais demandam na especialidade
clínica cirúrgica, refletindo a violência nestes quatro distritos. Nos distritos IV e V as
demandas de cirurgia e neurologia são quase equivalentes, já a oftalmologia, nestes dois
Distritos, chama a atenção, pelo alto percentual de casos, se aproximando da cirurgia
geral e neurologia, especialmente no Distrito IV. Sendo o HR um hospital de referência
para neurologia e neurocirurgia, justifica-se o alto percentual de demanda para estas
especialidades, em todos os Distritos.
110

Gráfico 4. Distribuição dos atendimentos considerados adequados nos Distritos da


cidade do Recife com maior demanda para a Emergência de Adultos do Hospital
da Restauração, no ano de 2001, de acordo com as especialidades médicas

45,0
40,0
35,0
30,0
25,0
%
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
I II III IV V VI

Distritos

Traumatologia Neurologia C. cirúrgica C. médica OFT OTL BMF Vascular

No gráfico 5 observa-se que a clínica médica e a traumatologia apresentam percentuais


altíssimos de inadequação, coincidindo com o alto percentual de demanda já detectada
na amostra destas clínicas, o que demonstra, mais uma vez, a ineficiência da assistência
básica, bem como a facilidade de acesso ao Serviço de Emergência, uma vez que não há
uma triagem, nem atendimento negado pelo serviço, tanto por fazer parte de um sistema
universal, como por uma questão da ética médica, ou mesmo pela falta de uma
retaguarda para a negação do atendimento, ou seja, atende a todos que lá chegam. A
clínica cirúrgica também apresenta altos percentuais de inadequação, em virtude do
grande número de ferimentos superficiais atendidos, o que poderia ser resolvido pela
assistência básica.
111

Gráfico 5. Distribuição dos atendimentos considerados inadequados por Distrito e


por especialidade, na cidade do Recife, na Emergência de Adultos do Hospital da
Restauração, no ano de 2001

60,0

50,0

40,0

% 30,0

20,0

10,0

0,0
I II III IV V VI

Distritos

Traumatologia Neurologia C. cirúrgica C. médica OFT OTL BMF Vascular

O gráfico 6 registra visualmente a prevalência dos atendimentos nos três anos


estudados, de acordo com o mês de atendimento. Em 1993, o mês de janeiro apresentou
os maiores percentuais, diminuindo de forma gradativa até o mês de agosto, voltando a
crescer no período de setembro a dezembro. No ano de 1997, o comportamento é
inverso, registrando-se um aumento no primeiro trimestre, com pico em abril, e uma
estabilização em todo o restante do ano, apresentando um ligeiro declínio em dezembro,
além da faixa dos outros anos (fato explicado pela não localização dos prontuários
relativos a este mês, durante a coleta dos dados). Em 2001, a prevalência dos
atendimentos não varia ao longo de todo o ano, com exceção de fevereiro, que apresenta
redução significativa, coincidindo com reduções nos anos de 1993 e 1997, o que
possivelmente pode ser explicado por se tratar de um mês mais curto, período do
carnaval, empiricamente conhecido como de diminuição dos atendimentos, por conta da
melhor organização e descentralização dos serviços pela Secretaria de Saúde do Estado
de Pernambuco e orientação à população, através de panfletos, acerca dos lugares em
que os atendimentos devem ser realizados, com o objetivo de desafogar as grandes
emergências para os casos realmente graves, ou seja, os casos adequados.
112

Gráfico 6. Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo o mês do
atendimento

14

12

10

8 1993
1997
%

6
2001
4

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês de atendim ento

Em relação ao dia em que os atendimentos são mais mais freqüentes, o gráfico 7 revela
que é a segunda-feira, com cerca de 18% dos atendimentos, confirmando o que se
observa empiricamente no dia a dia daquele Serviço. Em 1993, na sexta-feira e no
sábado há um incremento de demanda, diferentemente do que se observa nos anos de
1997 e 2001, em que, após a segunda-feira, os atendimentos se reduzem gradativamente
até o fim da semana, no entanto se mantendo num nível mais ou menos estável e mais
alto, de segunda a sexta-feira, quando comparado ao ano de 1993. Farjado Ortiz, G.;
Ramírez-Fernandez (2000) realizaram estudo similar, evidenciando que, nos finais de
semana, o percentual de atendimento é igual ao período matutino da semana, ou seja,
apresenta 28,83% dos atendimentos neste período. Esta certeza quanto ao dia da semana
em que há maior demanda vai servir como um facilitador na distribuição de escalas de
serviços, como também na definição de recursos materiais de forma diferenciada para
os dias da semana, otimizando os recursos, tanto materiais como humanos.
113

Gráfico 7. Distribuição dos atendimentos realizados na Emergência de Adultos do


Hospital da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001,
segundo o dia do atendimento

19

18
17

16
1993
15
1997
%

14
2001
13

12
11

10
Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sáb
Dia do atendimento

Em relação à hora mais freqüente de atendimento dos pacientes, na Emergência de


Adultos do Hospital da Restauração, nos três anos, o fluxo de pacientes se mantém mais
ou menos constante, com um pico no horário de 8:00 às 10:00 horas da manhã, e um
repico entre 12:30 e 20:30 horas (Gráfico 8). Observa-se uma redução no horário da
madrugada, entre 1:00 e 6:00 horas. Estes dados também podem ajudar na distribuição
de pessoal, nos plantões. O horário mais procurado coincide com o encontrado nos
estudos de Farjado Ortiz, G.; Ramírez-Fernandez (2000) e Peixoto Filho; Campos;
Botelho (1990), ou seja, as primeiras horas do dia e da noite.
114

Gráfico 8. Distribuição dos atendimentos na Emergência de Adultos do Hospital


da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo a hora do atendimento

10
9
8
7
6 1993
5 1997
%

4 2001
3
2
1
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Hora do atendimento

Ao comparar os dois gráficos dos horários de atendimentos (Gráficos 8 e 9), em relação


à adequação desses atendimentos, observa-se acentuada semelhança, tanto nos picos,
como nos horários menos movimentados. O que chama a atenção é que os casos
adequados apresentam picos e repicos por todo o dia, demonstrando que existe um
horário de grande pico, que coincide nos dois gráficos (das 8 às 11 horas) e um novo
pico, menor, entre 14 e 16 horas, e um outro grande movimento entre 18:30 e 20 horas.
Demonstrando que as urgências não acontecem num horário definido, mas durante todo
o dia, o que coincide com os resultados encontrados por outros autores, como Farjado
Ortiz; Ramírez-Fernandez (2000), que constataram 33,64% das “urgências verdadeiras”
no período da manhã, o período da tarde igual ao final de semana (28,83%), e à noite
percentual menor (14,48%). Este dado, do mesmo modo que os achados anteriores, vai
ser bastante útil na organização dos plantões.
115

Gráfico 9. Distribuição dos atendimentos na Emergência de Adultos do Hospital


da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo a hora e o diagnóstico
adequado

8,0

7,0

6,0

5,0
1993
4,0 1997
%

2001
3,0

2,0

1,0

0,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Hora do atendimento

Ao analisar-se o gráfico de atendimentos por dia da semana, relacionados aos casos


adequados (Gráfico 10), observa-se que, em 1993, a partir da segunda -feira começavam
a diminuir os casos, que só voltavam a crescer a partir da sexta-feira. Nos anos de 1997
e 2001 o que se observa é uma pequena queda, a partir da segunda-feira, continuando
praticamente estável durante toda a semana, demonstrando que em todos os dias, com
pequenas variações, estão chegando pacientes ao Serviço. O gráfico 10 mostra também
que, com o passar dos anos, o aumento não ficou limitado apenas aos finais de
semana.No entanto, quando se compara este gráfico ao de atendimento geral por dia da
semana (Gráfico 7), observa-se uma inversão no final de semana: no gráfico 7, o maior
pico ocorria na segunda- feira e, neste (Gráfico 10), acontece nos finais de semana (
sexta, sábado e domingo), confirmando a expectativa de que geralmente os finais de
semanas são o período em que acontecem os casos mais graves, devido aos dias de
lazer, em que se misturam bebidas ou outras drogas com automóveis, e as pessoas se
reúnem em festas normalmente regadas a bebidas alcoólicas, além das emergências
clínicas que normalmente ocorrem neste período.
116

Gráfico 10. Distribuição dos atendimentos na Emergência de Adultos do Hospital


da Restauração, nos anos de 1993, 1997 e 2001, segundo o dia da semana e o
diagnóstico adequado

18

17

16

15

14 1993
%

1997
13
2001
12

11

10
Domingo Segunda- Terça-feira Quarta- Quinta-feira Sexta-feira Sábado
feira feira

Dia do atendimento
117

8-CONSIDERAÇÕES FINAIS
118

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo ora realizado se mostrou de fundamental importância, do ponto de vista do


pesquisador, uma vez que não existia, em Pernambuco, nenhuma outra pesquisa com a
amplitude aqui desenvolvida, e sobretudo em se tratando de uma instituição de tanta
importância para a população pernambucana, como é o Hospital da Restauração, não só em
relação à assistência prestada, mas também pelo seu papel e real significação na história
recente da saúde, no Estado.

Conhecer o perfil da clientela que utiliza este hospital foi o objetivo maior do trabalho, para
servir de ponto de apoio e grande facilitador no planejamento das ações dos gestores.

Através dos resultados apresentados, pode-se caracterizar a Emergência de Adultos do HR,


tanto em relação às faixas etárias que a utilizam, como aos horários mais procurados, à
procedência dos pacientes e conhecer também os diagnósticos; além disso, tenta-se
estabelecer uma ponte entre estes diagnósticos e a assistência prestada pela rede básica de
saúde, inferindo se este perfil muda ou não a partir de políticas públicas definidas como
prioritárias para esta área, como é o caso do Programa da Saúde da Família.

O que se pode observar, através dos resultados e após a realização de testes estatísticos para
avaliar a significância das associações, é que a faixa etária que mais demandou serviços à
emergência foi a de 20 a 49 anos, a maioria do sexo masculino, e procedentes, em quase 90%,
do Recife e Região Metropolitana, chamando a atenção para o fato de que, dentre estes, mais
da metade são procedentes do Recife.

A conclusão que se pode tirar, em relação a estes dados, é que o Hospital da Restauração,
mais do que se poderia imaginar, atende prioritariamente a população da capital, desde a
atenção básica, para uma grande parcela, até os procedimentos mais complexos. Não estando
assim tão voltado para a demanda procedente do interior, como se imaginava.

Em relação à inadequação do atendimento, o HR supera o que se encontrou na literatura,


atingindo um percentual, relativo aos três anos estudados, de 74,5%, acima do encontrado no
estudo de Farjado Ortiz, Ramírez-Fernandez (2000), de 64,1%, Sanchez et al. (1998), de
36,9%, e Peixoto, Campos, Botelho (1990), que não realizaram avaliação deste tipo, mas
119

citaram estudos com dados similares, como Elliott e Vayda em 1978, com 56,5%, e White e
O’Connor em 1970, que encontraram 30,6%, de casos considerados não urgentes.

Em certas ocasiões, a avaliação do tipo de paciente e do uso dos serviços de emergência


depende dos parâmetros utilizados pelos diversos autores, dificultando comparações. Afinal,
cada emergência tem suas características próprias , assim como as populações.

Os motivos que levam as pessoas a utilizar os serviços de emergência podem ser os mais
variados, desde a não existência de outro serviço disponível, à necessidade urgente de resolver
um problema de saúde. Para o elevado número de pacientes com atendimentos considerados
inadequados, poder-se-ía levantar uma série de causas explicativas, algumas mencionadas por
Peixoto, Campos, Botelho (1990): interesse dos hospitais-escola em garantir elevado número
de atendimentos, assegurando assim a fonte de internação, como também a permanência
como local de experiência para os estudantes; manutenção do fluxo financeiro, através do
sistema de pagamento por consulta; acesso mais fácil do que o serviço de atenção primária;
suposição da população de que o médico é mais experiente; desinformação da população
sobre o funcionamento dos serviços de emergência; consultas negadas na assistência primária;
maior longevidade da população, aumentando o número de idosos nos serviços de
emergência, o mesmo acontecendo com o número de consultas por afecções leves e crônicas.

O Hospital da Restauração apresenta muitas características similares a estas, comprovadas


pelo elevado número de casos inadequados, encontrados no estudo. Sendo um hospital de
ensino, muitas vezes o interesse de quem atende (médico) não é o mesmo da instituição,
ocasionando um descompasso no decorrer das atividades do dia-a-dia, na unidade. No que
concerne à população, é patente o baixo nível de informação, ou seja, a desinformação sobre o
funcionamento dos serviços de saúde. Isto é claramente demonstrado no período de carnaval,
quando há um redirecionamento dos atendimentos, por determinação das autoridades, e se
verifica uma queda no número de casos atendidos na unidade.

Quando se analisa os atendimentos adequados, constata-se que apenas 25,5%, dentre a


totalidade, foram considerados detentores desta característica, neste estudo. Para alcançar este
resultado, levou-se em consideração os diagnósticos que deveriam preferencialmente procurar
esta emergência, em suas várias especialidades e considerando sua missão institucional.
120

Dentre as clínicas, os resultados reforçam a característica principal do HR, que é atender aos
politraumatismos, confirmando-se, através dos dados, a predominância da neurocirurgia, dos
traumas de crânio e, na clínica cirúrgica, as lesões penetrantes e politraumas.

Quanto ao mês de atendimento, dia da semana e hora, há um certo equilíbrio nos meses do
ano, com uma queda em fevereiro, coincidente com o período de carnaval, como se ressaltou
anteriormente. Em relação ao dia da semana, comprovou-se a suspeita, através da observação
empírica, de ser a segunda feira o dia de maior movimentação. O que pode ser explicado pela
falta de alternativas de serviços de atenção básica funcionando durante o final de semana,
ocasionando assim um acúmulo destas enfermidades para o atendimento na segunda-feira.

Em relação aos horários, a maioria dos atendimentos acontece durante o dia, tanto os
adequados como os inadequados, com algumas variações peculiares descritas na avaliação
dos gráficos respectivos.

A partir destas elucidações, é possível concluir que o Hospital da Restauração funciona como
“porta de entrada ” do Sistema de Saúde Pública, indo de encontro ao objetivo do Ministério
da Saúde, quando preconiza que a “porta de entrada” do Sistema deve ser a rede básica,
principalmente através do PSF. Ainda é cedo para qualquer conclusão mais profunda e segura
a respeito deste propósito, uma vez que a cobertura do PSF, na maioria dos municípios ainda
é incipiente. No entanto, vale ressaltar que o município de Camaragibe, com uma cobertura de
mais de 90% do PSF, contribui com 65,1% de casos considerados inadequados para a
emergência do HR. São paradoxos difíceis de explicar.

Fora do contexto do estudo, o que se pode deduzir é que os serviços de emergência devem ser
sistematicamente avaliados, para que se possa acompanhar sua evolução, a adequação às
políticas implementadas e se estas vão ao encontro dos anseios e a solução das necessidades
da população nesta área específica.

Em se tratando deste estudo, significou um esforço para começar a desvendar, de uma forma
mais global, esse grande “monstro” que é o Hospital da Restauração. Novos projetos deverão
surgir para melhor elucidar este enigma, não só voltados para seu perfil, mas também para
outros “segredos”, relacionados ao custo financeiro e resolutividade.
121

9- SUGESTÕES
122

9- SUGESTÕES

1. Elaborar protocolos para as especialidades, considerando a missão da Instituição.

2. Promover, juntamente com os órgãos públicos responsáveis, uma grande divulgação da


instituição, seus propósitos e objetivos, e como funciona a emergência do HR, com a
participação da imprensa, de uma forma geral, e envolvendo outros níveis da assistência.

3. Estudar, com a rede básica, mecanismos para o encaminhamento e a resolução dos casos
inadequados, na busca de solução para esta problemática, a médio prazo.

4. Treinar os médicos clínicos da emergência que fazem o primeiro atendimento, capacitando-


os para a tomada de decisões.

5. Distribuir responsabilidades, de modo que não seja apenas de alçada do profissional médico
a decisão sobre aceitar ou não o paciente para atendimento no Serviço, evitando assim
omissões, por medo do não cumprimento do código de ética médica.
123

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
124

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M. Z. Fundamentos metodológicos da


Epidemiologia. In: ROQUAYROL, M. Z. Epidemiologia e saúde. 4. ed. Rio de Janeiro:
Medsi, 1994. p. 157-183.

ALMEIDA, C. Novos modelos de atenção à saúde: bases conceituais experiências ou


mudança. In: COSTA, N. R. RIBEIRO, J. M. (Org.). Política de saúde e inovação
institucional: uma agenda para os anos 90. Rio de Janeiro: ENSP, 1996. p. 69-98.

ANDRADE, L. O. M. de. SUS passo a passo: normas, gestão e financiamento. São Paulo:
HUCITEC; Sobral: Edições UVA, 2001.

ARAÚJO, M. S. S. Água mole em pedra dura: as mudanças organizacionais na Secretaria de


Saúde Pública do Rio Grande do Norte após a implantação do Programa de Saúde da Família.
2000. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública)- Departamento de Saúde Coletiva, Centro de
Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2000.

ASSOCIAÇÄO BRASILEIRA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE. PÚBLICA. A


epidemiologia nos serviços de saúde. Inf. epidemiol. SUS, Brasília, DF, ano 6, n. 3, p. 7-14,
,jul./set. l997.

BARBOSA, R. R. et al. Estudo comparativo do quadro mórbido da clientela do serviço de


emergência de Sobradinho: exercício 1983/1984. Brás. méd., Brasília, DF, v. 23, n. 1/4, p. 16-
19, jan./dez. 1986.

BARROS, M. E. D. Política de saúde: a complexa tarefa de enxergar a mudança onde tudo


parece permanência. In: CANESQUI, Ana Maria (Org.). Ciências Sociais e saúde. São Paulo:
HUCITEC; Rio de Janeiro: ABRASCO, 1996. p. 113-133.

BONFIM, L. A. T.; BASTOS, A. C. S. O impacto sócio-cultural do Programa de Saúde da


Família (PSF): uma proposta de avaliação. Cad. saúde pública, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p.
429-435, abr./jun. 1998.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do


Adolescente, e dá outras providências. In: UNICEF. Legislação, normativas, documentos e
declarações. Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/eca01.htm>. Acesso em: 24 mar.
2003.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Assistência à Saúde. Sistema Único de


Saúde. Brasília, DF, [198-].

BRASIL. Constituição (1988). Da seguridade social. In: ______. Constituição da Republica


Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. cap. 2.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 545, de 20 de maio de 1993. Estabelece normas e


procedimentos reguladores do processo de descentralização da gestão das ações e serviços de
saúde, através da Norma Operacional Básica-SUS, 01/93. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 96, p. 6961-6965, 24 maio 1993. Seção 1.
125

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.742, de 30 agosto de 1996. Norma operacional


básica do SUS. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 170, p.
17064-17071, set. 1996. Seção 1.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Caderno de atenção básica:


Programa Saúde da Família. Brasília, DF, 2000a. Caderno 1: A implantação da Unidade de
Saúde da Família

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Programa Saúde da Família:


Informes Técnicos Institucionais. Rev. saúde pública, São Paulo, v. 34, n. 3, p. 316-319,
2000b.

BRASIL. Ministério da Saúde. Anuário estatístico de saúde do Brasil- 2001. Brasília, DF,
2001. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/saude/aplicacoes /anuario2001
/morb/introd.cfm>. Acesso em: 28 jan. 2003.

BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Saúde da Família chega a mais 219 municípios.
Notícias, Brasília, DF, 19 mar. 2002. Disponível em: <http://portalweb02.saude.gov.br
/saude/aplicacoes/.../noticias_detalhe.cfm?co_seq_noticia=283>. Acesso em: 10 fev. 2003.

BRASIL. Ministério da Saúde. Reduzindo as desigualdades e ampliando o acesso à


assistência à saúde no Brasil: 1998-2002. Brasília, DF, 2002.

BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS. Informações de saúde. Disponível em:


<http://tabnet.datasus.gov.br/tabnet/tabnet.htm>. Acesso em: 14 mar. 2003.

BRASIL. Ministério do Planejamento. Desenvolvimento social. In: ______. Orçamento 2001.


Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br/ orcamento/conteudo/orcamento_2001
/principais_quadros/desen_social.htm>. Acesso em: 10 fev. 2003.

BUENO, W. S.; MERHY, E. E. Os equívocos da NOB 96: uma proposta em sintonia com os
projetos neoliberalizantes ? In: CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE ON LINE, 10.,
1996, Brasília, DF. Temas em debate 2. Brasília, DF, 1997. Disponível em:
<www.datasus.gov.br/cns/temas/NOB96/NOB96crit.htm>. Acesso em: 24 mar. 2003.

CAMPOS, G. W. S. Reforma da reforma: repensando a saúde. São Paulo: HUCITEC, 1992.

CAMPOS JUNIOR, Campos, Eumildo de et al, Aspectos epidemiológicos de acidentados


atendidos no Hospital de Base de São José do Rio Preto, SP. HB cient., São Paulo, v. 5, n. 1,
p. 13-19, jan./abr. 1998.

CARVALHO, Eduardo Freese de et al. O processo de transição epidemiológica e iniqüidade


social: o caso de Pernambuco. RASPP- Rev. Assoc. Saúde Pública Piauí, Piauí, v. 1, n. 2, p.
107-119, jul./dez. 1998.

CASTRO, Cláudio G. J. de. O estudo da demanda do serviço de pronto atendimento de um


hospital como subsídio ao modelo assistencial do Sistema Nacional de Saúde. 1991.
Dissertação (Mestrado)- Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo,
1991.
126

COHN, Amélia. Mudanças econômicas no Neoliberalismo. In: LAUREL, Asa C. Estado e


Políticas Sociais. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997.

CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 8., 1986, Brasília, DF. Relatório final. In:
______. Anais... Brasília, DF: Centro de Documentação, Ministério da Saúde, 1987.p. 381-
389.

D’AGUIAR, J. M. M. O Programa Saúde da Família no Brasil. A Resolutividade do PSF no


Município de Volta Redonda (RJ). 2001. Tese (Doutorado)- Escola Nacional de Saúde
Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2001.

DEL-BEN, Cristina M. et al. Políticas de saúde mental e mudança na demanda de serviços de


emergência. Rev. saúde pública, São Paulo, v. 33, n. 5, p. 470-476, out. 1999.

DESLANDES, Suely; SILVA, Cosme. Análise da morbidade hospitalar por acidentes de


trânsito em hospitais públicos do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Rev. saúde pública, São Paulo, v.
34, n. 4, p. 367-372, ago. 2000.

DUARTE, Elisabeth Carmem et al. Expectativa de vida ao nascer e mortalidade no Brasil em


1999: análise exploratória dos diferenciais regionais. Rev. Panam. Salud Publica,
Washington, v. 12, n. 6, p. 436-444, dic. 2002.

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 2000.

FARIAS, Sidney Feitoza. Conclusão. In: ______. Modelo assistencial e responsabilidade


sanitária: os limites e possibilidades da atenção à gestante no Município de Camaragibe-
Pernambuco. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública)- Departamento de Saúde Coletiva,
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 1998.

FARJADO ORTIZ, G.; RAMÍREZ-FERNANDEZ, F. Utilización del servicio de urgencias


en un hospital de especialidades. Cir. & cir., México, v. 68, n. 4, p. 164-168, jul./ago. 2000.

FLEURY. S. M. Políticas sociais e cidadania na América Latina. In: CANESQUI, Ana Maria
(Org.). Ciências Sociais e saúde. São Paulo: HUCITEC; Rio de Janeiro: ABRASCO, 1997. p.
135-155.

FRANCO, Túlio; MERHY, E. PSF: contradições e novos desafios. In: CONFERÊNCIA


NACIONAL DE SAÚDE ON LINE, 10., 1996, Brasília, DF. Tribuna livre. Brasília, DF,
1997. Disponível em: <www.datasus.gov.br/cns/temas/ tribuna/PsfTito.htm>. Acesso em: 24
mar. 2003.

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Programa de agentes comunitários de saúde.


Brasília, DF, 1994.

GERCHLMAN, S. Conferência Nacional de Saúde em tempos incertos. In: ______. Política


de saúde e inovação institucional: uma agenda para os anos 90. Rio de Janeiro: ENSP, 1996.
p. 189-193.
GÓES, Sonia; ALMEIDA, B. T. Conhecendo a clientela do ambulatório do Hospital Nossa
Senhora do Loreto. Saúde em foco, Rio de Janeiro, v. 9, n. 20, p. 29-33, 2000.
127

HARTZ, Zulmira M. A. Pesquisa em avaliação da atenção básica: a necessária


complementação do monitoramento. Saúde para debate, Rio de Janeiro, n. 21, p. 29-35, dez.
2000.

HORITA, Rosa et al. Características clínico epidemiológicas dos atendimentos do pronto


socorro psiquiátrico do Hospital São Vicente de Paulo em 1995. l996. Rev. saúde Dist. Fed.,
Brasília, DF, v. 7, n. 3, p. 35-39, jul./set. 1996.

IBGE. População estimada. Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br.>


Acesso em: 23 mar. 2003.

IBGE. Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios - PNAD 2001. Rio de Janeiro, 2001.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br.> Acesso em: 23 mar. 2003.

JUNQUEIRA, L. P. A descentralização e a reforma do aparato estatal em saúde In:


CANESQUI, Ana Maria (Org.). Ciências Sociais e saúde. São Paulo: HUCITEC; Rio de
Janeiro: ABRASCO, 1997. p. 173-204.

MACEDO, C. G. Notas para uma história recente da saúde pública na América Latina.
Brasília, DF: Organização Pan-Americana da Saúde, 1997. (OPAS/BRA/HRD/005/97).

MEIRA, M. R. L. et al. Hospital da Restauração: análise do atendimento na emergência de


adultos. Rev. Hosp. Restauração, Recife, ano 3, p. 35-37, jul. 1992.

MENDES, Eugênio V. (Org.). A descentralização do sistema de serviços de saúde no Brasil:


novos rumos e um outro olhar sobre o nível local. In: ______. A Organização da saúde no
nível local. São Paulo: HUCITEC, 1998a.. cap. 1, p. 17-55.

MENDES, Eugênio V. (Org.). A reengenharia do sistema de serviços de saúde no nível local:


a gestão da atenção ‘a saúde. In: ______. A Organização da saúde no nível local. São Paulo:
HUCITEC, 1998b. cap. 2, p. 57-82.

MENEGUELL, S. N. et al. Internações hospitalares no Rio Grande do Sul. Inf. epidemiol.


SUS, Brasília, DF, ano 4, n. 2, p. 49-59, 1997.

MERHY, E. E.; QUEIROZ, M. S. Saúde pública, rede básica e o sistema de saúde brasileiro.
Cad. saúde pública, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. 177-184, abr./jun. 1993.

MISOCZKY, M. C. A Medicina de família, os ouvidos do príncipe e os compromissos com o


SUS. Saúde em debate, Londrina, n. 42, p. 40-44, mar. 1994.

MISOCZKY, M. C. A. O jogo da reforma do setor saúde no governo da social democracia


conservadora: 1995-2001. In: ______. O campo da atenção à saúde após a constituição de
1988: uma narrativa de sua produção social. Porto Alegre: Dacasa Editora, 2002. p. 109-125.
(Série pesquisa em saúde, 19).

PAIM, J. S. A reforma sanitária e os modelos assistências. In: ROQUAYROL, M. Z.


Epidemiologia e saúde. 4. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1993. p. 455-466.
128

PEIXOTO FILHO, Aldo José; CAMPOS, Henrique D. de; BOTELHO, Lucio José. Serviço
de emergência em clínica médica do Hospital da UFSC: estudo do perfil da demanda. ACM
arq. catarin. Méd., Florianópolis, v. 19, n. 1, p. 37-44, jan./mar. 1990.

PEREIRA, L. C. B. Uma reforma gerencial da administração pública no Brasil. RSP- Rev.


serv. pub., Brasília, DF, ano 49, n. 1, p. 5-35, jan./mar. 1998.

PERNAMBUCO. Lei nº 11.644, de 04 de maio de 1999. Autoriza o Estado de Pernambuco a


ceder o direito de uso dos imóveis que indica, e dá outras providências. Diário Oficial do
Estado de Pernambuco, Poder Executivo, Recife, p. 3-4, 5 maio 1999.

PERNAMBUCO. Secretaria de Saúde. Diretoria de Desenvolvimento Social. Relatório de


gestão 1995 a 1998.Recife, 1998.

PERNAMBUCO. Secretaria de Saúde. Plano de saúde para Pernambuco. Recife, 2000.

PERNAMBUCO. Secretaria de Saúde. Quadro de implantação do PACS por município.


Período de 91 a 97. Recife, [1998?].

PERNAMBUCO. Secretaria de Saúde. Quadro Situacional de Municipalização segundo as


NOBS 93 e 96. Recife, 2000.

POSSAS, C. A. Descentralização e democratização do sistema de saúde. In: CONFERÊNCIA


NACIONAL DE SAÚDE, 8., 1986, Brasília, DF. Anais... Brasília, DF: Centro de
Documentação, Ministério da Saúde, 1987.

RECIFE. Secretaria de Saúde. A rede de saúde- 2001. Recife, 2001. Documento de circulação
interna.

RECIFE. Secretaria de Saúde. Mortalidade proporcional de alguns grupos populacionais do


Recife-1999. Recife, 2000.

RECIFE. Secretaria de Saúde. Rede de saúde municipal Recife. Recife, 2000. Documento de
circulação interna.

RECIFE. Secretaria de Saúde. Rede Municipal de Saúde: dados referentes ao mês de


agosto/2002. Recife, 2002. Documento de circulação interna.

RECIFE. Secretaria de Saúde. Programa de saúde ambiental. Recife, 2001.

RECIFE. Secretaria de Saúde. Unidades ambulatoriais segundo tipo-2000. Recife, 2000.


Documento de circulação interna.

RECIFE. Secretaria de Saúde. Unidades ambulatoriais segundo tipo-2001. Recife, 2001.


Documento de circulação interna.

RECIFE. Secretaria de Saúde. Ambulatorial. Recife, 2001. Documento de circulação interna.


RIBEIRO, C. A. O padrão de resolutividade do Pronto Socorro Municipal da Lapa, São
Paulo. 1998. Dissertação (Mestrado)- Departamento de Epidemiologia, Faculdade de Saúde
Pública, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1998.
129

SALLA, José et al. Perfil da demanda de um serviço de Pronto Socorro, Santa Maria, RS.
Saúde (Santa Maria), Santa Maria, v. 15, n. 1/2, p. 71-80, jan./dez. 1989.

SÁNCHEZ, J. C. et al. Perfil de las demandas de atención médica en el servicio de urgencia:


9,515 casos. Cir. & cir, México, v. 66, n. 1, p. 21-23, ene./feb. 1998.

SANTANA, M. L.; CARMAGNANI, Maria Isabel. Programa Saúde da Família no Brasil: um


enfoque sobre seus pressupostos básicos, operacionalização e vantagens. Saúde soc., São
Paulo, v. 10, n. 1, p. 33-53, jan./jul. 2001.

SANTOS, M. A. et al. Hospital Municipal Barata: um estudo epidemiológico das


características da clientela e do atendimento. Saúde em foco, Rio de Janeiro, p. 34-39, 2000.

SANTOS, M. E. et al. Serviço de emergências psiquiátricas em hospital geral universitário:


estudo prospectivo. Rev. saúde pública, São Paulo, v. 34, n. 5, p. 468-474, out. 2000.

SEGURO SOCIAL DE SAÚDE (Peru). Perfil epidemiológico da demanda dos serviços de


ambulatório,hospitalar e emergência. Lima, 1999.

SEMINÁRIO DE EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS EM SAÚDE DA FAMÍLIA, 2000,


Brasília, DF. Relatório final. Brasília, DF, 2000.

SOARES, L. T. As atuais políticas de saúde: os riscos de desmonte neoliberal. Rev. bras.


Enfermagem, Brasília, DF, v. 53, p. 17, n. esp. dez. 2000.

SOUZA, H. M. Programa Saúde da Família: entrevista. Rev. bras. Enfermagem, Brasília, DF,
v. 53, n. esp., p. 7-16, dez. 2000. Entrevista realizada por Denise Elvira Pires de Pires.

SOUZA, H. M. Reforma da reforma: editorial. Rev. bras. saúde família, Brasília, DF, ano 2,
n. 4, p. 2-3, jan. 2002.

STROZZI, G. M.; ARAÚJO, V. I. de; DRUMMOND, J. P. Organização assistencial de


emergência na cidade de Florianópolis: presente o futuro. ACM arq. catarin. Med.,
Florianópolis, v. 13, n. 3, p. 185-190, set. 1984.
ANEXOS
ANEXO F

24 – Hemorragia ocular
25 – Hemorragia subaracnóidea
26 – Hifema traumático
27 – Intoxicação exógena
28 – Isquemia crítica
29 – Laceração de córnea
30 – Lesões penetrantes
31 – Linfangite necrotizante
32 – Pneumotórax
33 – Politraumatismos
34 – Obstrução intestinal
35 – Queimaduras
36 – TCE – Trauma de crânio
37 – Trauma de face
38 – Trauma ocular
39 – Trauma raquimedular
40 – Tumor cerebral

You might also like