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PRINC{PIOS E POSTURAS EM OP Maria Elci Spaccaquerche s primeiros estudos sobre a questéo vocacional datam do ©)ice do século XX, decorrentes das demandas do desenvol- vimento industrial. Muitas teorias foram elaboradas desde entao, enfocando a questo vocacional. Elas vao desde o modelo pedago- gico, no qual a Orientacao Profissional acontece na escola, sendo o orientador um professor da disciplina “Orientag&o Vocacional”, até o modelo psicolégico-clinico, onde o orientador é um psico- logo que desenvolve seu trabalho num consult6rio, nos moldes de um estudo de caso. Durante décadas, a Orientacao Profissional sob os moldes das teorias psicolégicas procurava entender as ca- racteristicas do orientando, através de testes. Os testes revelavam um perfil profissional, a partir do qual o psic6logo sugeria uma ou mais profissdes para 0 cliente. O papel do orientando era bastante passivo, como se pode deduzir. No final do processo, ele recebia um laudo, indicando a profissao que lhe era mais adequada. Nas escolas, a.Orientacao Profissional, por sua vez, co- mumente tem seu foco principal na informacgao sobre cursos € profissdes, através de. “feiras de profissGes”, palestras de pro- fissionais, ou trabalhos de alunos sobre profisses de interesse, deixando de lado suas caracteristicas pessoais. Nos anos 70 surgiu a proposta de Bohoslavsky (1971), cuja abordagem clinica entende a Orientagao Profissional/vocacio- nal como um processo dinamico, envolvendo tanto os aspec- tos psiquicos do orientando como a necessidade de informacao Para uma escolha consistente. A novidade maior dessa abor- dagem foi conferir ao orientando um papel ativo no processo, 37 Maria Elci Spaccaquerche e Ivelise Fortim Orientacéio profissional: passo'a passo Je nao um receptaculo de informagoes, mas um ser sendo él | do orientador passa a ser, entao, 0 de aun 7 © pape! escolhe. O P’ ua escolha, levando-o a perceber e Teconheg, er oorientando na sl as desse process. ; _ = ne falar de sua proposta, a “modalidade clinica”, diz Bohos. lavsky: “@ escolha de uma carreira eum trabalho podem ser ay. xiliados se 0 joven conseguir assumi a situagao que enfrentg 6 ao compreendé-la, chegar a urna decisdo Pessoal Tesponsével, (,. o psicélogo deixa de assumir um papel diretivo, ndo porque des. conhega as possibilidades de um bom ajustamento, mas Porque considera que nenhuma adaptacdo a situagdo de aprendizagem oy trabalho é boa, sendo supde uma decisdo auténoma’ (1971, p. 29), Assim a Orientagao Profissional nao é um processo de ajus- tamento social, nem de enquadramento ao mercado de trabalho, ainda que esses e outros itens sejam levados em consideragao, tanto pelo orientador como pelo orientando. Entendemos Orienta¢ao Profissional como um processo de aprendizagem de escolha, que acontece dentro de um contexto de interacao entre orientador € orientando, com papéis e focos definidos. E através da reflexdo feita junto ao orientador que o orien- tando aprende a destacar aqueles aspectos que sao essenciais para a sua escolha. Aprende a se reconhecer, observando suas caracteristicas e habilidades; e aprende sobre as profissoes ¢ 0 mercado de trabalho, sendo esses os dois vetores principais para sua escolha. E, ainda, aprende a escolher, ou seja, a estabelecet critérios para essa e futuras escolhas. A Orientaco Profissional acontece dentro de um context onde interagem pelo menos duas pessoas: um orientador € um aia: ah sao tr€s focos a considerar nesse aan ieaie a eee e © processo de orientagao ee i detalhadmerte cen livro, a um deles sera at mee uals Nees rai Sans aqui os principios gerais a P@ 10 se desenvolve, 38 1. Quanto ao orientando Em geral, quem busca a Orientagao Profissional sio jovens na faixa dos 15 aos 20 anos que precisam direcionar seus estu- dos para um campo profissional. No entanto, cada vez mais, ob- servamos jovens/adultos procurando a Orientagao Profissional, depois de concluido o ensino médio, e muitas vezes ja cursando uma universidade. Diversas sao as raz6es para isso. A primeira delas, para citar a mais frequente, é a percepcdo de que escolheu um curso errado. O que pensava sobre 0 curso ndo corresponde com a vivéncia que esta tendo. Outra razdo é a inseguranga que sente com a escolha que fez. Ele se vé diante de muitas op¢oes, ¢ inicia um processo de duvida sobre o curso que escolheu. Uma terceira possibilidade de busca tardia pela orientaco, também bastante frequente, é a financeira, ou seja, o jovem co- loca o trabalho antes da capacitacao profissional, por necessida- de de sustentar-se, ou mesmo a propria familia. Pode ainda ha- ver o adiamento por motivo de satide ou mesmo impedimentos familiares. E ainda existem os casos daqueles que ja trilharam um bom caminho profissional, mas resolvem rever a carreira, seja por ocorréncias externas, seja por motivacoes internas. O ponto comum entre eles é que todos estao diante de mudangas profundas no seu contexto de vida. E suas escolhas constituirao | a base de seu futuro profissional e pessoal. Quando a questao profissional ocorre na idade adulta, ha o vislumbre de uma nova oportunidade de vida e de transformacao de suas identidades. A Orientagao Profissional, portanto, s6 pode acontecer como um processo viavel para 0 orientando se ela for contextua- lizada, compreendida no mundo em que ele vive. Se assim nao for, corre-se o risco de realizar um trabalho de ajustamento ou de imposigao de valores que julgamos verdadeiros. O orientador deve, pois, considerar como relevante 0 contexto psicossocial do orientando. Citando alguns aspectos desse contexto, temos: a familia, os valores, lazeres € afazeres, amigos, escola, religiao, bem como ambicées pessoais e perspectivas de vida. Maria Elci Spaccaquerche e Ivelise Fortim 39 —— 7 “Em primeiro lugar, supOe-se que um psicSlogo cliney g s6lida base de conhecimentos de psicologia, suas tdonja Una : - cas mentos teéricos e uma informacdo especifica sobre 9 © funda, desenvolverd seu trabalho” (Bohoslavsky, 1971, p, 40/41)” We 2. Quanto ao orientador A base teérica para a Orientacao Profission; nhecimentos da psicologia do desenvolvimento, gia social, da compreensdo de teorias de Personali testes de personalidade e interesses, além de con| atualizados sobre mercado de trabalho e sobre os tentes para a capacita¢ao profissional e desenvo carreira. lal inclyj co a dsicolo. ade, ¢ dos hecimentos Cursos exis. Ivimento de Considerando que 0 Processo de Orientacao Profissional ¢ semelhante ao de uma terapia breve, a ética do psicélogo orien. tador Profissional segue as recomendac6es do Conselho Federal de Psicologia. © respeito humano e 0 sigilo quanto a privacidade, além da escuta atenta sao os baluartes da Etica dentro do trabalho de Orientacao Profissional. Quando 0 orientador é ainda um estudante de psicologia, a etapa do “pensar”, da reflexao, e levantamento de hipéteses sobre as questées trazidas pelo orientando, acontece em grande parte durante a supervisao. Mas € importante que o estagiario treine ¢ fique atento para que isso acontega dentro da propria sessdo. Bohoslavsky define 0 VER, PENSAR e ATUAR, como mo- mentos necessarios para a estratégia clinica: “Convém frisar que os trés momentos constituem uma unidade e que sb podem ser diferenciados para fins diddticos. Também é posstvel que, no teint mento de um psicélogo clinico, os trés momentos sejam desenvolr dos independentemente, um em continuagao do outro. enuretanld, 0 que caracteriza a estratégia clinica é, como dissemos, 4 wee entre investigagdo e agdo; entre teoria e pratica, entre conhecer fazer” (Bohoslavsky, idem, a) 40 g 8 é 8 & 8 8 d ES 3 g 2 g g B e 8 8 z 5 £ o 3. Quanto ao processo de orientagao Para que o trabalho de Orientacao Profissional nao se redu- Za auma sequ€ncia de informagées sobre cursos e faculdades, e nem se amplie para um processo terap€utico, é necessario focar na reflexao do orientando, e em cada Passo do processo. Du- Tante as sessoes, 0 orientador deve ser um observador ativo, ou seja, nado um mero colecionador de dados acerca do orientando, nem um mero ouvinte. Da mesma maneira que ocorre na clini- Ca, NOS processos terapéuticos, ao observar seu cliente, o psicd- logo deve pensar a respeito, ou seja, levantar hipdteses e atuar na medida necessaria para o desenvolvimento do trabalho. Esse olhar atento e ativo inclui nao sé a fala do cliente, o aspecto ver- bal, mas a postura € 0 gestual. Esse € 0 trabalho do psicélogo: ir além do formal, observar a metalinguagem, buscar o significado para a compreensao da dinamica psicolégica do cliente, procurar entender as metaforas da sua linguagem, e nao se prender aos relatos de maneira pu- ramente factual e jornalistica. “Actedito que o ser humano no mundo pode desenvolver-se, gradual e naturalmente, quando se percebe interiormente através de um processo de observagdo e reflexdo de si mesmo. Este é 0 Pressuposto bdsico de qualquer psicoterapia, em Orientagdo Profis- sional também, se entendida como terapia breve e focal” (Andrade, 1995, p. 194). Referéncias Bibliograficas ANDRADE, Liomar Quinto de. “Identidade Profissional — uma ex- periéncia metodolégica na escola-empresa”. In: Bock, A. M. B. et al. A Escolha Profissional em questdo. Sao Paulo: Casa do Psicdlogo, 1995. as Bohoslavsky, R. Orientagdo Vocacional: estratégia clinica. Tradu- Gao de Jose M. V. Bojart. Revisdo e apresentacao: Wilma Mi- lan Alves Penteado. Sao Paulo: Martins Fontes, 1977. 41 a Maria Elci Spaccaquerche e Ivelise Fortim

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