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O Pesilonte dor Papiildra Excelentissimo Senhor Conselheiro Presidente do ibunal Constitucional Exceléncia, Nos termos do n® 1 do art.2 2782 da Constituicao, bem como don? 1 do art.2 512 en? 1 do art.2 572 da Lei n2 28/82, de 15 de novembro, venho requerer ao Tribunal Constitucional, com os fundamentos a seguir indicados, a apreciagao da conformidade com a mesma Constituicdo das seguintes normas constantes do Decreto n® 134/xV da Assembleia da Reptiblica, recebido e registado na Presidéncia da Republica, no dia 18 de janeiro de 2024, para ser promulgado como lei: - a norma constante do artigo 62. 2 0 Decreto em apreciaco, no seu artigo 62, cria um novo regime especial aplicavel aos pedidos pendentes de concessao de nacionalidade a descendentes de judeus sefarditas portugueses, introduzindo critérios suplementares para tal concessao. 22 Com este novo regime especial, visa o legislador parlamentar sanar, com eficécia retroativa ou, a0 menos, retrospetiva, a inconstitucionalidade, orgénica e material, do artigo 242-A do regulamento da nacionalidade, aprovado pelo Decreto-Lei n.2 26/2022, de 18 de margo, tal como foi invocada pelo Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto, € O PResilonte dew Papillon amplamente noticiado pela imprensa, 0 qual introduziu requisitos adicionais para a concessao da nacionalidade a descendentes de judeus sefarditas portugueses. 32 Este novo regime parece ainda violador do principio da protegao da confianga, insito a0 principio do Estado de Direito, tal como consagrado no artigo 2° da Constituicao, tal como, pelos efeitos retroatives, violador da proibicdo de retroatividade de norma restritiva de direitos, liberdades e garantias, constante do n.° 3 do artigo 182 da Constituigao. 42 Com efeito, correndo nos Tribunais outros processos que invocam igualmente a inconstitucionalidade da norma em causa, ¢ compreensivel que os requerentes, em particular aqueles para quem esse reconhecimento poder representar 0 respeito pelo direito & vida, aguardem, com esperanga e angustia, tal como as suas familias, 0 desfecho desses processos, confiantes na sua argumentacao, sendo que a unica justificagdo para a norma agora aprovada é a de o legislador procurar sanar retroativamente essa inconstitucionalidade, intervindo, por via legislativa, em processos em curso nesses Tribunais. 52 De facto, no contexto atual, a alteragao em causa pode projetar-se na situacdo dos reféns israelitas e de outras nacionalidades, do Hamas, em Gaza, varios dos quais tém pendentes pedidos de concessio de nacionalidade portuguesa, como descendentes de judeus sefarditas portugueses. Como é sabido, nestes casos, a detenc3o de uma nacionalidade diversa da israelita tem conduzido & sua libertacao, como jé aconteceu com uma luso-israelita. A cria¢ao de obstaculos adicionais a concessao da nacionalidade O Residente cle Pepiiblva portuguesa nestes casos, pode mesmo ser considerada atentatoria do principio da dignidade da pessoa humana, consagrado no artigo 12 da Constitui¢ao, bem como até, objetivamente, do direito 8 vida, consagrado no artigo 242 da Constituicéo, na medida em que a conclusdo dos processos em curso de atribuicgo da nacionalidade portuguesa, a0 abrigo da lei ainda em vigor, pode significar, como jé significou, a possibilidade de libertago pelo Hamas e a propria sobrevivéncia. Recorde-se que jé faleceu em cativeiro um requerente da nacionalidade portuguesa ao abrigo da mesma lei. Ante o exposto, requer-se, nos termos do n? 1 do art. 2782 da Constituicéo, bem como don? 1 doart.2 512 en? 1 do art.2 572 da Lei n® 28/82, de 15 de novembro, a fiscalizacao preventiva da constitucionalidade das normas constantes do artigo 62 do Decreto n? 134/XV da Assembleia da Republica, por violacao do disposto nos artigos 12, 2° e 18.2, 1.23, 2 242, todos da Constituicio da Republica Portuguesa Apresento a Vossa Exceléncia os meus mais respeitosos cumprimentos. lisboa,2.2.de janeiro de 2024 0 Presidente da Republica

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