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A RATIO DECIDENDI DA DECISAo 00 STF No RE 573.232 E SEU IMPACTO NA JURISPRUDENCIA DO STJ THE RATIO DECIDENDI OF SupREME Coun's oecision iw RE 573,232 AND ITS IMPACT ON SurERIOR CouRt’s JURISPRUDENCE ‘Viviane Staueina Rooricues este e Doutoranda em Dito Proessal Cipla Faculdade de Divito da USP. Advogoéa vsr@yeetvogatiascombr ‘Atea 0 Drea: Constitucional Processual Beso: O aco do SIF no RE 572222 no Aasmt: The STFS Jeon in RE 572290 does opeatnn tied das assocagses civ para not analyze te associations legitimacy for Gace, Fre ate 0s coletvas. A controvtsia actions. The point under judgement wes ane soles ganifto dos membros doqrupo que definition of which members of te gowe cor Fae wane tC da decisio profeida em take advantage fom 2 decbion in vain sooo weed egy Guando © autor aresentacom a when the plaintiff exhibits a lst of renton eae ical Hsta de associados © por iso 2 in his lawsuit. and, therefore, the esoe mene sree atti 2 0 devo pracesso legal e discussion was the due roces of len not oe nao alegitimidade legitimacy, Prusmas-cHnve:Leaitimidade ~ Ago coletiva - _Kevwonost ass action — Assoviages = Lista de associados, Association ~ List of members, vino: 1. Breve apresentagdo do caso concreto - 2A deciséo do STF sobre o tema de te- Pete aeesgal 3-0 cortetoalcance do pronunciamento do STF 4, Amnecessdig atengo Sra Carstntl de aeéedBo do STF proferido no RE 573.282 eo seu impacto perate 9 5,Conclusies 1. Breve APRESENTAGAO DO caso CONCRETO Em julgimento do Plendrio do STE iniciado em 25.11.2009 ¢ eoncluido em 14.05.2014, foi decidida questio de relevancia juridica e social declarade 300 Revista Brasiteia oa Anvocacin 2016 © RBA2 de repercussio geral por aquela Corte em 15.05.2008 em torno da expressiio “quando expressamente autorizadas” presente no ine. XXI do art. 5.° da CE Trata-se do RE 573.232, que foi selecionado como tema 82 de repercussio geral e possuia o seguinte enunciado original: “Legitimidade de entidade asso- ciativa para promover execugées, na qualidade de substituta processual, inde- pendentemente da autorizacao de cada um de seus filiados”. © caso conereto apresentou-se como acao voltada a defesa de interesses de membros do Ministério Publico do Estado de Santa Catarina em que se discutiu perante a Corte de origem (TRF da 4.* Regio) o aleance subjetivo da execugio de sentenca proferida em aco promovida pela Associagao Catari- nense do Ministério Piiblico (ACMP). O recurso examinado pelo Supremo foi interposto pela Unido Federal pretendendo a limitagao da execucao para aque- les que, quando da propositura da demanda, tivessem outorgado a associaga0 autora autorizacao expresst para tanto. © acordao recorrido possuiu a seguinte ementa: Processual civil. Exceugilo de sentenga, Inclusio no polo ative da demanda Legitimidade da assoeiagio para ajuizar agao. F pacifico o entendimento nesta grégia Corte no sentido de que os sindicatos e associagdes, na qualidade de ° substitutos processuais, estio legitimados para ajuizar agoes, nao apenas man- distir damentais, visando a defesa dos direitos de seus fiiados independentemente frisor de autorizacao de cada um deles ou em assembleia. Precedente do ST). cculds E possivel extrair do relatorio preparado pelo Min, Ricardo Lewandowski tituig {que a Uniao Federal recorrente apoiou a tese de ofensa aos arts. 5.°, XXI ¢ autor XXXVI, ¢ 8°, IIL, da CF na alegagao de que fend la re para ment listad de jul asser nao pela leitura da petigao inicial do processo de conhecimento, referida agao fot ajuizada em regime de Representacdo, sendo referido, inclusive, expressamen- te, que a legitimidade da associagao estava configurada pelo motivo de que foram juntadas autorizagoes espeeificas, “outorgadas por cada um dos asso- ciados atuantes na prestagao de servico a Justia Eleitoral”, Instada a apresentar parecer, a Procuradoria-Geral da Reptblica opinow Ne “viabi pelo desprovimento do recurso da Unido Federal, acentuando que havia r cela ¢ terada jurisprudéncia do Supremo declarando ser dispensivel a autorizacao expressa de filiados para atuagao de associagdes de classe ¢ sindicatos baseada titulo no art, 5.°, XI, da CE quele essa 2. A DECISAO 00 STF SOBRE 0 TEMA DE REPERCUSSAO GERAL Preliminarmente, constou do voto do relator que, em tema de (@legitimi- dade suscitado pela recorrente, nao havia sido atendido no recurso 0 requ Toovou Wivare Sauer. A rato deedenda dec doi ro E S732 seu impacto ajuda do ST. evista Bosca do Advocaia vo 2.201 299-309. Si Polo: 84, jul -st 2018. Ew Desinaue renee nto com Felagao ao art. 8°, IM, da CF, o que impedia o scr? Go Supremo acerca de referido dispositivo constitucienal na Bexaminado na ocasiao, cine tO= como dito, relacionado a interpretacdo da expresso “quan- br ete egutorizadas” inscrita no inc. XXI do art. 5.°da CF —o relator Jo dite pans oa Jutisprudencia do Suptemo colhiam-se julgaos Eivlo que para a propositura de acao coletiva bastarin ay aoc, iacoes, [ct autorizagao em assembleia-geral ou valerse de previese tar seus E todo seu voto foi direcionado a declaracao das, associagdes civis, @ dos instrumentos da democracia participativa, ao antevendo na (io exigencia de que se colhesse au pena de esv a Biales. O relator entao coneluiu que 0 acardio recomide estaria de ha jurisprucencia do Supremo, podendo as associagoes vis ingres- zo tanto em fun¢ao do estatuto social quanto de deliberagao em feral, defendendo os interesses de membros da classe ainta que outorgado autorizacio especifica Marco Aurélio, a0 proferir sew voto, fez questio de mencionar a chute as figuras da representacao ¢ da substituicio processual, ma 2 caso concreto era péssimo para ilustrar aquiela duali Fa uadrat a situagio fétien como representacao ou como subs, ' decorria justamente do fato de que a propria Associagao Fae cot # Peticao inicial lista de associados que seriam hens, {ucla jurisdicional perseguida e foi essa lista que balisou defesa 3 Associacao em questio detivesse também previsi estetuta imento da demands, E a controvérsia especifica objeto de julga- Sh Porque membros do Ministerio Puiblico, que nao having sido seit! Pela Associagao, pretenderam se habiltar em exeeugao ese bencficiar da sentenca, Bc do Min. Marco Aurelio, a juntada das autorizacoes indviduais 2 efesa ca Unito quanto aqueles que seriam beneficiaries ty par- fice iMesmO, a representacio que desaguou, julgada a lide no Fe tes forma, a habilitacdo de interessados diferentes da Simente mencionados violaria o direito de defesa da Un senda Mo provimento do reeurso, por seu voto. O Ministto adicann, que Equer esclarece o aleance do art. 5.°, XXI, da Ce Brera Sc Buimtes a esses votos, muito se questionon a respeito mrontade pela autora ao estar em juizo eo relator enfaizou gue, ropositura, NG Ware Sue A at deendids dso do ao EEE seu pact aspires anet rsa do Adore 2 ano Ip, 298-503 Sto Pao. jl-et 2016 301 da expresso art, 5.° da CE ¢ repercussi0 antidade asso- rcessual, inde- de interesses hha em que se e subjetivo da vciagao Catari- lo Supremo foi lo para aque Jo A associ vo da demanda cendimento nes na qualidade de ‘nao apenas man ependentemente tedo ST) > Lewandowski arts. 5.°, XXL € referida agao foi ve, expressamen= 0 motivo de que vda um dos asso- publica opinow fo que havia rei- al a autorizagao idicatos baseada wu 1a de (legitimi- uso 0 requisi= to do prequestioi mento com relaco ao pronunciamento do Supremo acerca de contexto examinado na ocasito. art. 8°, III, da CE 0 que impedia o eferido dispositive constitucional no Sobre o mérito~ como dito, relacionado a do expressamen erpretacio da expresso “quan. autorizadas” inscrita no ine. XXI do art. 5.° da CF ~o relator realgou em seu voto que da jurisprudéncia do Supremo colhiam-se julgados reconhecendo que para a propositura de acao coletiva hastaria as associacdes civis colher autorizacio em assembleia-geral ou valer-se de previsio dos seus estatutos. E todo seu voto foi direcionado a declaracao das associacdes civis como um dos instrumentos da democracia particip antevendo na Constituicao exigéncia de que se colhesse autorizagao individual dos associa- dos, sob pena de esv ribuigao que o constituinte originario cometera a tais entidades. O relator entao concluin que 0 acordao recorrido estaria de acordo com a jurisprudéncia do Supremo, podendo as associacdes eivis ingres- sarem em ju to de deliberagao em assembleia-geral, defendendo os interesses de membros da classe ainda que tanto em funao do estatuto social q ngo tenham outorgado autorizagao specifica. © Min, Marco Aurélio, ao proferir seu voto, distincao entre as figuras da representagao questo de mencionar a la substituicdo processual, mas a ilustrar aquela dualidade. A difi- culdade para enquadrar a situagao fatica como representagio ou como subs. tiuicdo processual decorria justamente do fato de que a propria Associagao autora apresentara com a peticio inicial lista de associados que seriam ben frisou que 0 caso concreto era péssimo i ficiados da tutela jurisdicional perseguida e foi essa lista que balizou a defesa daté, embora a Associacao em ques! 10 detivesse também previsio estatutaria pa © ajuizamento da demanda. E a controvérsia especifica objeto de julg mento surgira porque membros do Ministerio Publico, que nao haviam sido listados desde a inicial pela Associacao, pretender: de julgado e se be m se habilitar em execucio iciar dla sentenga No entender do Min “viabilizou a defesa co Aurel o, a juntada das autorizacdes individuais da Uniao quanto aqueles que seriam beneficiarios da pa € limitou, até mesmo, a representacdo que desaguou, julgada a lide, no forma, a habilitagao de interessados diferentes d mente mencionados violaria o direito de defesa da Unitio, sendo titulo executive”; e, dessi queles ini ¢ss1a razio do provimento do recurso, por seu voto. O Ministro adiciona que asituagio sequer esclarece o aleance do art. 5.°, XXI, da CE Nos debates orais seguintes a esses votos, muito se questionou a respeito da qualidade ostentada pela autora ao estar em juizo € o relator enfatizou que, quando da propositura, a dese do STF vo BE 2 an 299-909, So Plo: E, RU. jl 302 Resta Baasaina o& Aovocsc 2016 # RBA2 era um momento de penumbra, um momento cinzento em que 6 Supremo ‘Tribunal e a doutrina nao tinham assentado essa tese com tanta clateza, Por isso, ad cantelam, eles ingressaram com autorizagbes, mas a associagio i cou o permissivo constitucional e a sua condigio de substituta processual. Em voto vista, o Min, Joaquim Barbosa indicou a distincao entre o enun- ciadlo do art. 5.°, XX1, de outros dispositivos constitucionais relacionados ao processo coletivo, como os arts. 5.°, LXX, b, €8.%, IIL. Acrescentou que o dis- positivo em questo efetivamente trata da figura de representagao processual, que exige das associacdes previsio estatutiria © autorizagao em assembleia como pressuposto processual da acao movida pela associacao civil. E, ainda, Pronunciou que os limites subjetivos da coisa julgada previstos no art. 472 do CPC (de 1973) seriam insuficientes para caracterizar a sentenca de um processo coletivo, de modo que nao ha infracao a preceito constitucional a utilizagao de titulo judicial por interessado que nao concorreu para a delibe- racdo favordvel ao ajuizamento da demanda coletiva. Assim, por razoes diver sas do voto do relator, o Min. Joaquim Barbosa também negou provimento a0 recurso, Em seu turno, 0 Min, Teori Zavascki também proferiu voto vista, tendo fei- to importante esclarecimento de que o tema de repercussio geral foi enunciado de forma equivocada, influenciada pela ementa do acérdiio recortida, Desta- cou que 0 verdadeiro debate concentra-se na legitimidade ativa do associado para a execucao da sentenga coletiva, e nao na Iegitimicade ativa das associa- oes, coisa diferente, inclusive, da legitimidade para mandado de seguranca coletivo que tem regramento constitucional proprio (art. 5.°, LX), além de entendimento sumulado do Supremo (Stmulas 629 ¢ 630). E que a expressio “quando expressamente autorizada” tem sido interpretada pelo Supremo como exigencia de apresentacdo de ato individual do associado ou de deliberacio assemblear (Rel 5.215), estando esse entendimento alinhado com 0 paraigrafo tinico do art, 2.°-A da Lei 9.494/1997. Sobre © caso concreto, 0 Min. Teori observou que, a despeito desse pano- rama, ‘ago foi proposia apenas em favor dos que apresentaram autorizacoes indivi duais expressas, sendo que o pedido ea correspondente sentenca limitaram-se «esses associadas. Somente esses, portanto, nas especiais cireunstancias do 380, estio munidos de utulo executivo indispensivel para o cumprimento do Julgado em seu favor, tazdes pelas quais 0 entendimento exarado no acérdio recorrido estaria incorreto, acompanhando © Min. Teori o voto 0 Min. Marco Aurélio. AD tratan indivic previs: das em on Carme Min. C Aurélic Assi prepare controy 3. Oc Prim do pelo repercus como as haquele dade ativ julgamer Atul contetide » re Puder, posto pel inicialme toni, Viviane Sigueira A vatio deiaendi da decisbo do STF no RE 579 232 ‘Seu impact na jursprudéne do SU, Revista Briere do Advoccia. ol 2. 3F0 1. 299-209 S30 Paulo: 4 jul-set, 2016 ‘0-em que © Supremo ras a associagao.inyo- bstituta processual, ingao entre 9 enun= nais relacionados a0 rescentou que 0 dis= ientacio processual, nbleia acio civil. E, ainda, revistos no art. 472 de um agao en ra senten ito constitucional a corren para a delibe- m, por rs egou provi es diver jento a0 voto vista, tendo fet 0 geral foi enunciado lao recorrido. Desta- le ativa do associado ade ativa das associa- indado de seguranca 5.2, LXX), além de 2). E que a expresso tpelo Supremo como Jo ou de delibe sado com o paragrafo aco, dlespeito desse pano- am autorizacoes indivie esentenca limitaram-se sciais circunstancias do P mprimento do dao recortido estaria co Aurélio, Desinavt «303 A Min. Rosa Weber também seguiu 0 voto do tiltimo, esclarecendo que se tratando de acao coletiva proposta por associngao, exigivel seria autor! individual ou autorizacao especifica por assembleia. eral, sendo insuficiente a Horizar a associacao 0 aj das em defesa dos interesses dos associados, previsao estatutairia g mento de demat Min. Luiz Fux filiou-se ao voto do Min, Marco Aurélio, enquanto a Min. Carmen Lticia seguiu o voto do Min, Lewandowski. Em seguida, foi a vez do Min, Celso de Mello de acompanhar a divergéncia inaugurada pelo Min, Marco Aurelio. Assim, 0 voto da maioria venceu ¢ o acérdao redundow na seguinte ementa, preparada de forma cuidadosa para representar a posigdo do STF acerca da controversia posta sob julgamento Representacao ~ Associados ~ Art. 5.°, XXI, da CE Aleance. © disposto no art, 5°, XXI, da Carta da Reptilica encerra represen io especifica, no cangando previsao genética do estatuto da associagio a revelar a defesa interesses dos associados. Titulo executive judicial ~ Associacdo ~ Benefic rios. As balizas subjetivas do titulo judicial, formal lo em acao proposta por associacao, ¢ definida pela representacio no processo de eonheci acdo expressa dos associados € a lista destes juntada a inicial 3. O CORRETO ALCANCE DO PRONUNCIAMENTO DO STF Primeira observa do pelo STF no RE 10 de extrema relevancia a respeito do acérdio proferi- 2.232 € no sentido de que o enunciado do Tema 82 de repercussio geral efetivamente era inadequado para elucidar a controvérsia, como assinalou o voto do Min. Teori Zavascki. Dil lava naquele enunciado, nem a sittacio se apresentava como discussio de legitimi- dade ativa da inte do que se revel tidade civil para a propositura de acdes coletivas, tampouco 0 julgamento deveria ser norte Jo por requisitos de legitimidade. Atualmente, o enunciado do Tema 82 jA consta corrigido com 0 seat te contetido que expoe o cere da questo aprecinda pelo Supremo: Possibilidade de execugao de titulo judicial, decorrente de agao ordinaria coletiva aj ada por entidade associativa, por aqueles que nao conferiram autorizacio individual 2 associagto, no abstante haja previsio genérica de representacio dos associados em claustila do estatut, Pudera fosse assim, ja que nao se debatew no recurso extraordinario inter posto pela Unio Federal a legitimidade da Associagao de classe para propor inicialmente a acao coletiva visando a defesa dos interesses de membros do 304 —_-Rewsta Brass 08 ADvocacia 2016 # RBA 2 Ministério Publico local. © tramite do processo em sua fase de conhecimento | estava superado ¢ nao se veiculou no recurso levado ao STF impugnagioa atuacao da Associacao de classe enquanto legitimada para aquela fase jé finda do procedimento, Houve sim, em sede de cumprimento de sentenca, indeini= ‘cio sobre quem seriam os membros da classe beneliciatios de decisio favorivel na agio em questao, na forma como posta, ¢ foi esta controversia que recebeu o deslinde pelo acordao aqui estudado. Interessa-nos, entao, examinar qual & ratio decidendi do acérdao proferido no julgamento do RE 572.232, a fim de contribuir para a compreensio de um pronunciamento do STF de tamanha relevancia social e juridica. Feita entao a correcao do enunciado do Tema de repercussio geral sob jul- gamento do Supremo, convém identificar no caso concreto quas sio as ci ccunstincias de fato que, reunidas, levaram a tal desfecho. Para tanto, nio seria incorreto afirmar que quase todos os votos proferidos pelos integrantes do STE ainda que divergentes entre si, apontam aspectos importantes do caso concre- to, em contraste com regras dos processos coletivos, qute agora procuraremos apontat. E verdade que a jurisprudencia do Supremo até entio firmada nio exigia autorizacao individual dos filiados de associagao de classe para propositura de acto gentiinamente coletiva, sendo suficiente para aquela Corte a previsio estatutdria ou a autorizacao colhida em assembleia-geral (AO 152/RS). O que faz todo sentido com a logica da autonomia de personalidade juridien das as- sociagoes, mesmo que voltadas & defesa de interesses especificos, pois elas nao dependem de autorizagio individual de seus filiados para agir, na medida em que formam um corpo coletivo com vontade formada em assembleia. Esse é 0 alcance constitucional que ja fora dado pelo Supremo a expressa “quando cexpressamente autorizada” presente no inc. XI do art. 5°, que literalmente $6 toca em tema de legitimidade das entidades associativas “para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente” Mas 0 caso sob julgamento nao € mesmo um bom ilustrative da distingio entre representacao € substituigae processual. A Associagao autora suposta- ‘mente se apresentara em juizo como “substituta processual”, para a qual, no fundo, seria dispensavel até mesmo autorizacio em assembleia, ja que a legi- timacao descende da propria lei (Lei da Acao Civil Publica e Codigo de Defesa do Consumidor). Mas, dadas as incertezas que pairavam perante os tribunais do pats sobre o que seria exigivel das entidades associativas para se creden- ciarem validamente em aces coletivas, a peticao inicial fora acompanhada da lista de associados de entao. Frise-se, porém, que para a correta identificagio Tones Viviane Squaa A ratio decidendica deco go STF no RESTOTI2 ‘seu impaeto a jurisprdéncia do ST Revit Basia do Aavococa, 2a 1p. 298-208 Sto Paulo i, Tulse. 2016, do cast midade ou que do for que ef se para torizag do pre qual te €, port aquela Nes ma cor teriam fesa ap aleanee legal. 1 termos indicac relacio da liber XXT de ‘mente extraju respeit tendim Qua ciagio: e, nas para a: foi indi fase de conhecimento 0 STF impugnagao d raaquela fase ja finda de sentenca, indefini ssde decisio favoravel, atroversia que recebeu ido acordao proferido de um a compre juridica eto quiais slo as cit- >, Para tanto, los integrantes do STF, tantes do caso concre- te agora procuraremos seri tio firmada nao exigi lasse para propositura quela Corte a previsao al (AO 152/RS). O qu alidade juridica das as- pecificos, pois elas na ara agir, na mectida em em assembleia, Esse € rho a expressa “quando 5.*, que literalmente so “para repr ar seus ilustrativo da distineao vcingao autora suposta- essual”, para a qual, no ‘sembleia, ja que a legi- dica e Codigo de Defesa am perante os tribunais siativas para al fora acompanhad racorreta identificacao Ew Desraaue do caso como ilustracao de representacao processual ou substitui¢ao (egiti- midade extraordindria), nao bastava examinar quem era a Associagto autora ou quem seriam os seus filiados; eta preciso ponderar a natureza do pedi- do formulado na peticao inicial (se para beneficiar os membros listados ¢ mente autorizaram o aj mento ~ caso de representacio ~ ou beneficiar qualquer membro da categoria, independentemente de au- torizacao, como ¢ incrente a legitimacao extraordinaria — caso de substitui- cao processual). Em nenhum momento do julgado foi esclarecida ipsis literis qual teria sido a extensao da pretensio dedu: €, portanto, o julgamento do caso em questao a aquela distingao. la pela Associagao de classe! ba m no por nao elu Nesse panorama, nao ha como recusar prima facie a ideia de que, na for- ma como submetida ao crivo do Supremo, uma lista de benefickirios ~ que teriam autorizado a propositura da demanda e direcionado o aleance da de- fesa apresentada pela entao ré Unido Federa alcance do titulo executivo, dado o n = tem a aptidao de limitar 0 ssirio respeito ao devido proceso legal. Isso porque se a ré foi levada a crer ~ fi , 0 julgado nao revela os termes literais do pedido — que o objeto da demanda era sstrito aos filiados indicados na lista que acompanhou a peti¢ao inie testo posta mais se relaciona reflexamente com o contetido do inc. LIV (“ninguém sera privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”) do que com o ine XXI do art, 5° constitucional (“as entidades associativas, quando express mente autorizadas, tem legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente”). Afinal, como a julgado 1 respeito a legitimidade das associacdes de classe, nao ha como eleger 0 en- tendimento ali exarado como representativo da jurisprudéncia do Supremo acerca do inc. XXL Luado, se ot Quando do julgamento, nao havia discordia sobre a legitimidade da Asso- ciagdo de classe, para falar como represemtante ou como substituta processual &, nas duas hipoteses, quai iam 05 pressupostos processtiais necessérios para a admissibilidade da acio desde quando ajuiz ida. O verdadeiro dissenso 10 do devido processo legal porque, no caso conereto, as circunstancias da causa sugeriram ~ nao se pode afirmar com certeza, pot foi indiretamente a resp 5 © Min, Teori observou que: 0 foi proposta apenas em favor dos que apresentaram autorizacoes individuais expressas, sendo que o pedido ¢ a correspon- dente sentenca limitaram-se a esses associados. Somente esses, portanto, nas espe- incias dlo caso, esto munidos de titulo executivo indispensivel para © do julgado em seu favor {rai deoiend da deasio do SIF no RESTA DID 0 ra jurspiudincia do SU, 299-300, S20 Pao: E.R, jst. 2016. 305 sis Da Aovocacin 2016 falta de esclarecimento pontual no acdrdio ~ que a fase de conhecimento foi toda pautada por uma limitagio no objeto do processo causada pela lista de filiados juntada pela Associacao autora. A utilizagao do contexto do ine, XXI do art. 5.° s6 se explica para escla- recer que a limitacdo produzida pela lista de beneficiarios fez com que a Associacao se comportasse como representante daqueles que @ autorizaram ademandar.? E limitagao tal de objeto nao € da esstneia dos processos coletivos que, quando atingidos por normas como a do paragrafo nico do art. 2.°-A da Lei 9.494/1997, sio distorcidlos € distanciam-se do regramento especial de todo © microssistema desenhado para a defesa de direitos transindividuais.) Esse sistema nao se confina aos limites subjetivos das partes ou de seus associados, ¢ foi legislado para que 0 processo coletivo atue em favor de toda uma classe, ‘categoria ou grupo, ainda que nao se possa identifica-los. Nao se quer assim recusar a possibilidade de identificagao in concreto dos titulares dos direitos transindividuais discutides em juizo, 0 que pode livre- mente ocorrer tanto com os titulares de direitos coletives stricto sensu quan- to de direitos individuais homogeneos. O que se torna incorreto, porém, & tansformar qualquer tentativa de identificacao em fronteiras subjetivas para © objeto do processo e, consequentemente, para o aproveitamento da coisa julgada, quando 0 alcance limitado ¢ natural apenas aos processos tradicio- nalmente pautados na legitimidade ordinaria e nos limites circunseritos da coisa julgada as partes do processo. O proceso coletivo nao pode receber tratamento puro € simples de processo individual com litisconsoreio ativo multitudinatio. Esse o objeto do julgamento nao foi aberta e diretamente o contetido do ine LIV do ant. 5.° da CF, muito menos se pode entender que o STF se pronunciou sobre o aleance da coisa julgada em processos coletivos, que possttem regra- mento infraconstitucional proprio, no art. 103 de CDC, que nao integrou a 2. Comportaniento distinto dos Sindicatos que, por forga de norma constitucional dis tinta (art. 8, IHD, nao dependem de autorizagao espeeifica ¢ individual para atwarem ‘como representantes dos seus filiados. Isso notadamente quando se recorda que para os mandados de seguranca coletivos, dado 0 teor do ine. LXX do art, 5.° da CF, 0 Supreme ja afastow expressamente a ext igencia do paragrafo unico do art. 2.%-A da Lei 9.494/1907 (STF, AgRE 885047 AgRg, .* L., j. 23.06.2015, rel. Min, Cérmen Lucia, processo eletronico Dje-151 divulg 31.07.2015 publ. 03.08.2015). pretens para a Aid mais re aguarde tos vine 4. At PRC Oae na posir ocorter do. Con especial pecial a Fora juulgado como bi agdes ec T,, j. 02 de de to acérdao premissa interesse questao | cisao que rel. Min, Nao f dar ao pr pervenie: respectiv: minarao possuem eons Viviane Siqueira. A ratio decidendi da decsao do STF no RE 573.232, {5 impacto na jursprasencia o SU evista Brose de Advacooa. vol. 2- ano 1p 299-208 S30 Paso: RU ul st. 2016 Je conhecimento foi ausada pela lista de + explica para escla- trios fez com que a Sque a autoriz ‘am. 13505 coletivos que, A da Lei nto especial de todo ydo art, 2, ansindividuais.’ Esse de seus associados, rde toda uma classe agio in concreto dos 0 que pode livre- as stricto sensu quan- tincorreto, porém, ¢ Ieiras subjetivas para tcitamento da coisa ks processos tradicio- fites circunscritos da eber §lutisconsorcio ativo fho nao pode ret Reo conteude do ine {0STF se pronunciou Sque possuem regra Eoque nao integrou a ma constitucional dis Jedividual para atuarem de seguranca coletivos, wexpressamente a exi F ARE 885047 AgRg, nico DJe-151 divulg Em Disiaque 307 pretensio recursal da Unio no RE 572,232 e muito menos serve de parametto para a ratio decidendi do acordao proferido pelo STE A identificacao desses contornos do julgado do Supremo torna-se ainda ais relevante sob a égide do atual Codigo de Proceso Civil, com o qual se aguarda uniformidade de julgamentos e correta apreensio dos pronunciamen- tos vinculantes emanados de tribunais superiores, 4, A NECESSARIA ATENCAO A RATIO DECIDEND! DO ACORDAO DO STF ProFeRIDO NO RE 573.232 E 0 Seu impacto PeRANTE O STJ © acérdio proferido pelo STE no RE 5 na posicdo atual do STJ em temas ligados a 32 tem potencial para impactar acoes coletivas, 0 que $6 pode ocorrer se compreendida, como dito acima, a corr 1 ratio decidendi do julga- do, Consta que em sede de especial (EREsp 953.431), pre pecial & decisio do Supremo, mbargos de divergencia interpostos em recurso inde-se alinbar © pronunciamento da Corte Es Fora essa ocasidio que se aguarda, depois do julgamento do STF existiu julgado da 3.* T. do STJ que interpretou 0 acérdao proferido no RE 572.232 como balizador de todas as hipote: s de atuagao das associagdes civis em agoes coleti /MG, rel. Min, Jodo Otivio de Noronha, 3.* T., j. 02.06.2016, DJe 10.06.2016). A 2.* T. do ST] também teve oportunida- de de tocar o tema tratado no RE 572.232, e igualmente compreendeu que 0 acdrdao sedimentava o modo de as associacdes agirem em juizo representan- do interesses de filiados (TRF 3.* Reg., AgRg no AgRg no REsp 1564159/PE, 2.°T., j. 23.02.2016, rel. Min. Diva Malerbi, desembargadora convocada, Dje 01.03.2016) Em outro en: jo. premissa de que as associagdes agem exclusivamente como represe! * houve por bem adotar posicao de que, mesmo na ntes de fo autora em interesses de outrem, seria razoavel conceder prazo a Assoc questio para completar a inicial com a lista de associados beneficiirios da de- isto que se pretende obter (AgRg no REsp 1424142/DF, 2.* Tj. 15.12.2015. rel, Min, Herman Benjamin, DJe 04.02.2016). Nao fossem as ressalvas acima aludidas a respeito do al dar ao pronunciamento do STE pervei respectiva sentenca, porque do primeiro ¢ que emanam os vetores que deter- minarao a amplitude do julgado proferido em acao coletiva; (ii) associagoes possuem vontade prépria para, autorizadas por lei, atuarem como k wee que se deve importante frisar que: (1) autorizagoes su- Jo possuem 0 condo de limitar 0 aleance do pedido ow da 308 Rewsta Brasiteiea os Anvocscia 2016 © RBA2 falta de esclarecimento pontual no acordao ~ que a fase de conhecimento foi pretensao rect toda pautada por uma limitacio no objeto do proceso causada pela lista de para a ratio de filiados juntada pela Associacao autora, ‘A identific A utilizacio do contexto do ine. XXI do art, 5.° s6 se explica para esclae mais relevante 0 produzida pela lista de heneficirios fez com que a aguarda unifor torizaram tos vinculante recer que a limita Associacao se comportasse como representante daqueles que a ademandar? E limitagao tal de objeto nao é da esséncia dos processos coletivos que, 4. Anecess quando atingidos por normas como «do parigrafo tinico do art. 2.°-A da Let . 9494/1997, sio distorcidos ¢ distanciam-se do regramento especial de todo PRORERIDA © microssistema desenhado para a defesa de direitos transindividuais.’ Esse ‘i O acordao sistema nao se confina aos limites subjetivos das partes ou de seus associados, wm posigho aw ¢ foi legislado para que processo coletivo atue em favor de toda wma classe, i ocorter se com categoria ou grupo, ainda que nao se possa identifica-los. do. Consta qu Nao se quer assim recusar a possibilidade de identificagao in concreto dos especial (EREs titulares dos direitos transindividuais discutidos em juizo, 0 que pode livre- pecial A dec ‘mente ocorrer tanto com os titulares de direitos coletivos stricto sensu quan- to de dircitos individuais homogeneos. O que se torna incorteto, porém, € ubjetivas para © objeto do proceso e, consequentemente, para 0 aproveitamento da coisa julgada, quando 0 alcance limitado € natural apenas avs processos tradicio- nalmente pautados na legitimidade ordinaria e nos limites circunscritos da coisa julgada as partes do processo, O proceso coletivo nao pode receber tratamento puro e simples de processo individual com litisconsorcio ativo multitudinario, i Fora essa c julgado da 3" como balizade agaes coletivas T,, j, 02.06.20. de de tocar ot acordao seditn do interesses d DPT j, 25:03, E se 0 objeto do julgamento nao foi aberta e diretamente o conteudo do ine. 01.03.2016) LIV do art. 5.° da CF, muito menos se pode entender que o STF se pronunciou sobre o alcance da coisa julgada em processos coletivos, que possuem regra mento infraconstitucional proprio, no art, 103 do CDC, que nao integrow a ransformar qualquer tentativa de identificagao em fronteir. Em outro er premissa de qu interesses de 0 questio para e a cisao que se pr 2. Comportamento dlstinto des Sindieatos que, por forga de norma constitucional dis: rel. Min, Herm: tinta (art. 8" 1H, nao dependem de autorizacao espectia e individual para atuaem como representantes dos seus filiados, 3, Isso notadamente quando se record que para os mandados de seguranga coltives, Nao fossem dar ao pronunc pervenientes dado 0 teor do ine. LXX do art, 3." da CE o Supremo jé afastow expressan 7 igeneia do paragrafo Unico do ar 2°-A da Lei 8404/1097 (STF, AgRE 885047 AgRs, respectiva sent 22 T,, j. 23.06.2015, rel. Min, Cirmen Lucia, processo cletrOnico DJe-151 divulg minario a amp 31.07.2015 publ. 03.08.2015), possuem vontay Tonvcus Viviane Sigua, A ratio deldenl da dcciso to STF ra RERTA232 Te ‘seu impact ma jursmrdenia do ST Revit Brasilia do Advocoa vl. 2. an 1p 95-305, Sdo Pave: ET, jh 0 2016 evista 308 Rewsta Brastana oa Avocke 2016 © RBA2 extraordinarias na defesa de interesses transindividuais, em especial quando 05 referidos interesses mio forem titularizados exclusivamente por filiados (na hipotese de serem direitos difusos, por exemplo), razio pela qual autorizagoes individuais tornam-se ainda mais inocuas; (ii) ao lado de prometida evolucio do sistema no sentido de unilormizacao da jurisprudéncia, para tratamento isondmico de casos identicos, torna-se incoerente um retrocesso que trans- forme acées coletivas em meras agoes de carater individual com litiseonsércio ative multitudinario, suprimindo 0 sew potencial de tratamento coletivo de questdes repetitivas. Portanto, com a devida venia, conforme a ratio decidendi acima deserita sobre 0 acordao proferido pelo STF no RE 572.232, nao se deve generalizé-lo aplicando o regime da representacao processtal a todas as hipoteses de atuacao deassociagdes de classe em aces com pretensdes coletivas. Perante o ST), deve prevalecer a sua correta jurisprudencia de que, na qualidade de substitutas processuais, as associacdes eivis prescindem de autorizagao especifica de seus filiados para demandarem por assuntos de espectto coletive (REsp 1189273/ SC, 4°T., j 01.03.2011, rel. Min. Luis Felipe Salomao, DJe 04.03.2011), sob pena de negativa de vigencia ao art. 82, 1V, do CDC. 5. Concwusdes ‘Com os presentes comentarios a0 acordao do STF proferido no RE 572.232, espera-se que a ratio decidendi de referido julgamento torne-se mais acessi- vel e perceptivel aos operadores do processo. Especialmente em tempos de precedentes vinculantes, ¢ dever dos tribunais dedicar atengao a estabilidade, integridade e coeréncia da jurisprudéncia (art. 926 do CPC), 0 que somente se aleanca com o cuidado em estabelecer as verdadeiras semelhangas entre um caso e um precedente ou destacar as dessemelhangas que afastam a aplicagio do iiltimo. Se nao for assim, o sistema poder ganhar em eficiéncia, com a climinagao breve de conflitos, mas nao atenderd ao escopo de defesa do orde- namento. Touma: Vivre Sua, A roto deidend da desis do STF no RE S732 ‘cseuimpaeto na jurspradénca do SU Reva Brose da Advoccin. v0.2. 270. 299-309, Sco Palo: 4, just 2016.

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