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FICHA INFORMATIVA 1 Linguagem e estilo em Memorial do convento Saramago criou um estilo de escrita pessoal ¢ inovador, que se harmoniza com o modo criativo como narra os seus enredos. Uma das manifestagdes desta originalidade encontra-se na transgressio de algumas regras formais do registo do discurso e no modo como usa varios registos linguisticos (como o popular). 0 tom oralizante e a pontuacao © Uso pessoal ¢ original das regras da pontuagao, que rompe com certas normas instituidas: — introduce do discurso direto sem uma marcacao formal que o indique, como os dois pon- tos ou o travesséo; — utilizago de maidscula apés virgula em casos como o discurso direto; — recurso a virgula para substituir 0s pontos de interrogacao e de exclamacao, sem que o lel- tor deixe de perceber que se trata de uma pergunta ou de uma frase exclamativa. * Resultado deste uso pessoal e inovador da pontuacdo: — efeito oralizante do enunciado narrativo; — ritmo e fluidez do discurso. O narrador ‘= Assume-se como a voz dominante, e do seu discurso emergem as vozes de outras persona- ‘gens, dando origem a uma polifonia no texto. ® Interpela diretamente o leitor, criando cumplicidade e empatia, @ conferindo ao texto um tom dialogante e conversacional. + Mobiliza linguagem do registo popular, como provérbios e aforismos, que, em certos casos, ‘s4o daliberadamente deturpados, ou 0 polissindeto e a enumeracao. © Apropria-se da linguagem religiosa, frequentemente com um propésito crtico, * Cultiva a frase longa elabirintica, como se encontra na literatura e na oratéria barrocas. » Recorre aironia como recurso expressivo ao servigo da critica sociale politica. Recursos expressivos e outras marcas do discurso «lAlgora vai & casa do noviciado da companhia de Jesus, agora a leroja paroqulal de Anafora S. Paulo, agora faz a novena de S. Francisco Xavier [...>. Comparagdo _«(E] assim fica, enroscada come toupeira que encontrou pedra no caminho.» Enumerago _«{Ulma babel cortada a meio woo, cordas, panos, arames, ferros confundidos, «D. Jodo V levantou-se da sua cadeira, beijou a méo do provincial, humildando 0 poder da terra.20 poder do céu,[...1se este rei nao se acautela acaba santo.» Ironia Recursos expressivos Metafora «IA\ procissao ¢ uma serpente enorme que nao cabe direita no Rossi». Hibridismo de Promessa dre. rd dapassarola «Queres tu vir ajudarmes ' any BénsH0 da primera peara do convento. strés ans interes havam passado ' Regresso de Bartolomeu da Holanda. «desce que paras ! rag Concho 9 yoo dapassars Bates (1 por estar andera | Partcipagdo de Baltasar nas obras do convento {orga a vid, trinta® nove anos 2Banos ree DétbiodeD. ko Vdeaumentarasdimensiesdocomento. «Endo & nesse da que se fad a : Marca da data da sagracéo. sasrarao da baslicado Matrar | 4 Saniversio doreiD_Jo8o¥. «vinte © dos de outubro do ano da ' a7a0 _S28Fag30 do convent de Mata, sraga de mil setecenta etrintae 1 Desaparecimento de Baltasar (dia anterior &saaracl0). «Amant vou 20 Ment Junto ' Inieio da demanda de Blimunda par Baltasar. capo a0 as fastas ca searacto> ’ ‘Auto de & em Lisboa, em 18.de outubro. +0 da pont, eum que fazia come 1739 Reencontrodelimunda Batasar, um dos upicadosnum auto. dias de bonitrates e se chamava dete da Inqusica. ‘Artoio José da Siar 3. Tempo do discurso ‘pante e afastado temporalmente da intriga que organiza e © natrador principal, nao parti controla, utiliza nao raras vezes anacronias ——__ 7 Referéncia abatalha de Antecipacdo do futuro das personagens Os nove anos em A busca de Bli- Jetez de los Caballeros (ex a morte de Alvaro Dogo) oureferén- que Blimundapro- muda por todo 0 ‘1 ao aitimo auto def ciasaacontecimentos/épocas ers. arevo- curou Baltasar, pals. ha dotsanos.. lugde do 25 de Abril ova ida Lua). Dimens4o simbélica Certos elementos do romance Memorial do convento assumem um valor simbélico, na medida em que ganham um significado maior e contribuem para a construcio dos sentidos da obra. atta ‘Aalcunha da personagem aponta para a sua ligacao a realidade e para o seu prag- Sateselg _ Matismo, pois Baltasar vé «as claras». O numero sete tanto sugere a mudanga ea renovacao como o fechamento de um ciclo (ex.: asemana).. Aalcunha de Blimunda sugere que a personagem vé «As escuras», pois tem pode- Blimunda, _ res ¢ perceciona o que esta oculto. O facto de a Lua ser um elemento feminino © Sete-Luas deo Sol um elemento masculino sugere que as duas personagens se completam e que vivem 0 amor na plenitude. A colher que Blimunda e Baltasar partilham sugere a comunhdo plena entre as Acolher “maquina voadora» ena concretizacdo do sonho de voar. Obra arquitet6nica grandiosa que representa o poder ea soberba do rei, mas tam- Comment _pémasua insensibilidade perante o sofrimento eo desperdiclo de vidas humanas que a construgao deste monumento originou. Simboliza a concretizagao do sonho, quando associado a ciéncia e a alquimia, e, Passarola _consequentemente, 0 progresso da Humanidade alicercado na vontade dos homens. Vontades Representa o desejo, a capacidade criadora e a determinacao dos individuos em humanas realizar um sonho e em contribuir para o avango da Humanidade. Pelo esforco colossal e pelos numerosos meios envolvides no seu transporte, Agrande a grande pedra, que seré a base da varanda da fachada do convento, remete para pedra —_agrandezaépica do trabalho humano, mas também para a dureza das condiges de trabalho e para o sofrimento e perdas de vidas que o seu transporte acarreta. ‘A musica, que acompanha a construgdo da passarola e cura Blimunda da sua Amisica _estranha doenga, simboliza a harmonia entre os seres e a uniao inexplicavel entre arealidade e a transcendencia, Amdo Amdo amputada de Baltasar sugere as limitacas do ser humano, mas também o esquerda esforgo.e a capacidade de as ultrapassar. Na morte de Baltasar, no auto de fé da Inquisigao, representa-se o fim de uma autodefé vida, mas também a libertagao das limitagoes do humano, quando a vontade final desta personagem se liberta do corpo e Blimunda a recolhe (perpetuacao do amor). Caracterizacdo das personagens — relaco entre elas Baltasar, Sete-Séis onsans Sete-Sbis porque v8 «8s claras» Homem do povo: pouco instruido e humilde. + Maneta da mao esquerda, perdida na guerra de suces- ‘s4o.de Espanha, onde fol soldado. + Ligado amorosa @ espiritualmente a Blimunda, que Conhece no auto de f6 onde Sebastiana 6 sentonciada, Forga bracal nia construgéo da passarola, acalonta 0 sonho de voar. * pds 0 yoo e a queda da passarola,é trabalhador das obras do convento de Matra. + Morre num auto de fé da Inquisi¢o, apés ter vaado ac\- dontalmente na passarola = Encarmaa condicio humana, a crueldade da guerraea forgado trabalho. Bantolomon Lewrence, 0 padre voador + 0 , numa ‘communho espittual « Simboliza o desconhecido eo transcendental, a excecio- ralidade humana, q) Sebashiona, a mae visionaria + Me de Blimunda, sontenciada a ser agoitada em pblico ea oito anos de degredo em Angola, * Anteve e abencoa o amor dos protagonistas. shA familia de Moafrun, 0 abrigo + Representativa do povomafrense no contexto da cons- ‘truco megalomana do rel * Orefigio de Baltasar e Blimunda, apés ooo e queda, da passarola. ‘\) Deeninicw’ Scanbattir, 0 misico eminice Scant + Masico italiano, professor de misica da infanta D. Maria Barbara. + Partilua do segsedo e colabora na construcao da passa rola, adicionando-thea componenteestética, * Cura Blimunda através do poder da sua misica. @yD. Mania Ana Josefa, a ebrancaustriaca Esposa do rel, passivae conformada, 0 seu Papel resume-se a procriar, a dar ao trono ‘um sucessor. Devota e submissa, vive um casamento contratual, sem amor. Aceita a imposigdo de um cédigo ético, ‘moral e religioso opressor, do qual apenas se lberta em sonhos, Personifica atipica mulher aristocrata que ‘casa por conveniéncia e que se firma ape- nas pela maternidade, ‘m)) Descendéncia, a sucessao ao trono —__ * Infanta Dona Maria Xavier Francisca Leonor Barbara, cuja concegao con- duziu a promessa da edificago do convento de Mafra. ‘© Ocasamento real «a0 todo dard seis filhos». + A construcia de palivio, cumprimento de uma promessa Quem a cumpriu? wea), Povey 0 herdi de «A a Z» | Pove, + Ovverdadeiro protagonista de Memorial do convento, enquanto construtor da obra prometida pelo rei («56 para isso escrevemos»). * Massa coletiva e anénima, que fica muitas vezes esquecida na Hist6ria, embora saja com 0 seu sacriticio (e, por vezes, com a prépria vida) que os monumentos sao edificados. = Apesar de analfabetos, aleliados, feios, sujos — um «cortejo de lzaros e quasimodos> ~ surgem figuras surpreendentes, animadas de coragem e resiliéncia, detentoras de sentimentos puros, como amor ea amizade desinteressados, a solidariedade, de que é exemplo o par Baltasar e Blimunda. * Simboliza a nobreza de carater, o espfrito de sacrificio, o triunfo do sonho apesar da adversidade, Linguagem e estilo “Tom oralizante —dialogante e conversacional, zproximando a escrta da oralidade, Uso pessoal e inovador da pontuaczo. ‘Gonstrugao de frases longas,articulando vérias modalidades de reproduraio do discurso no discurso. © Polonia no texto — vazes do narradore de outras personagens. Mobilizagao de linguager de registo popular (como provérbios, aforismose expressées idiomaticas). Uso da ironia ao servigo da critica social e poltica, Intertextualidade com autores e obras portugueses e estrangeiras.

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