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OBRAS COMPLETAS DE MARIO DE ANDRADE MARCOcdeANDRADE v Os conlos - . de belazarte BRANCA DE CASTRO 78 EDIGRO LIVRARIA MARTINS EDITORA S.A LIVRARIA ITATIAIA EDITORA LIMITADA i digo espectal para EDITORA ITATIAIA LIMITADA, Belo Horizonte BELO HORIZONTE: Rus ds Babi, 902 ~ Fones: 222-8630 ¢ 224.0763, ‘Av, Afonso Pena, 936 — Fone: 226-8181 « 222.7884 Bt ‘MARIO DE ANDRADE Mas seu Gomes bem percebia que agora era tarde pra comecar 0 amor. Havia uma modista inteirinha entre os dois e trés anos de costume com a modista no sentimento, Meio sorrindo desapontado: — Que criangada, Dores! Foi o grito maior, se esoutou da rua. Sou Gomes: fugiu pela porta. Ela ficara parada, présa na cintura pelos bragos da mai, ofegando, béca aberta, cada lho destamanko bem na frente brilhando claro claro. 6 deu tento de si ‘com a bofetada. Nao ardeu. Nem essa nem as outras nem os cocres @ tabefes pelas costas, peito, cabeca. Foi chorando pra cama, com uma. dor de angiistia aguda, som ninguém dentro do corpo. Mas, trés meses depois estava curada. Vv * Tamulo, timulo, timulo (4926) Belazarte me contow: Caso triste foi o que sucedeu lé em edisa mesmo. .. Bu sempre falo que a gente deve ser enérgico, nunca @esanimar, que se entregar ¢ covardia, porém quando nda mesmo, nie tem vontade néio tem pac ia que faga desgraga pacar. Um tempo andei mais endinheirado, com emprégo 2 arvanjando sempre uns bisca- tes por ai, que me deixavam viver & larga. Dinheiro far edeega em bélso de brasileiro, enquanto nfo se ggasta nfo hé meios de sossegar, pois imaginei ter um do s6 pra mim, Achava gostoso ésses pediacos de ma: 0 dono vai saindo, vem 0 eriado com chapén ala na mio, “Prudéncio, hoje nao béio em casa, revendo sair, pode, 'Té logo.” “Té logo, seu Bela- a ‘Veio um criado mas eu nfo simpatizava com éle io. Sei 14 se, pereebeu? uma naite pediu a conta € dei gracas. Level uns pares de dias assim, até que jndo ver uns terrenos longe, estava no mesmo banco do bonde um tizia extraordindrio de simpéitico. Que olhos sossegados! voc? n&o imagina, Adogavam tudo ‘que nem verso do Rilke. Desci matutando, vi os ter- ronos, peguei o mesmo bonde que voltava. Tnstinto é uma euriosidade: quando o condutor veio cobrar a passagem e perecbi que era o mesmo da ida, tive a 88 MARIO DE ANDRADE certeza que o negrinho havia de estar no carro. 0) ra trés, pois nio 6 que estava mesmo! Encontrei os $ déle, dito e feito: senti uma dogura por dentro, uma ealma Ienta, pensei: esta ai, disso é que vocd carece pra eriado. Mudei de banco’e meio juruvia pusei conversa: — Me diga uma coisa, vocé nao sabe por acaso de algum mogo que queira ser meu criado? Mas quero brasileiro ¢ préto. Riu manso, apalpando a vista com a pilpebra. Me olhou, respondendo com yor silenciosa, essa mes- ma de gente ensa_nem viveu passado: — Tom eu, sim senhor. 0 senhoF quévéndo. .. .— Eu, eu quero sim, por que niio havia de que- rer? Quanto voc pedet Etc. E éle entrou pro meu servigo. ~~Quiando indaguei o nome déle, falou que chamava Elis, Ellis era préto, jé dissé... Mas uma bonitera de pretura como nunca eu tinha visto assim. Como linhas até que nao era essas coisas, meio nhato, porém aquela, cbr elevava o meu criado a tipo-de-beleza.da raga ti Com dezenove amos sem neiitin poucadinko de barba, 2 epiderme de Ellis era um esplendor. Nao briluava mas néo brilhava nada mesmo!» Nem que éle estivesse trabelhando pesado, suor corria, ficava o riseo da géta feito rastinko de lésma e 6. Bastava que lavasae a cara, pronto: voltava o préto opaco outra vez, Era dove, aveludado o préto de El gente se puna gy) mifiitahde que Havia d¢ Ser bom passar a mio naquela cor hiiilde, mio qué “andou todo o dia apertando 08 CONTOS DE BELAZARTE 89 passe bem de muito branco emproado e filho da mie. Billis. trazia -o cabelo sempre bem rocado, arredon: dlando 0 céco. Pixaim finiuho, tio 260 que era ver piri de beira-rio. Beigo, ndo se percebia, negro tam- bém. $6 mesmo o olhar amarolado, cdr de dleo de babosa, € que descansava no moio-daquela igualdade perfeita. 18 verdade que os dentes exam brancos, mas isso raramente se enxergava, porque Ellis tinha-um sortiso apenas entreaberto, Hstava muito igualado com o movimento da miséria pra ‘andar mostrando gengiva a cada passo. A gente tinha impressio de que nada o espantava mais, e que Ellis via tudo préto, ‘do mesmo préto exato da epiderme. Como criado, manda a justiga contar que Sle nfo foi inteiramente o que a gente est acostumado a chamar de eriado bom, Nao 6 que fsse ruim nio, ‘porém tinha seus carnegies, moleza chegou ali, parou. Limpava bem as coisas mas levava uma vida pra lim- noite que ficasse em casa, Mas no sentido de criado moral, Ellis foi sublime. De inteira confianga, dis- ereto, e sobretudo amigo. Quando, eu asperejava com le, escutava tudo num desaponto que 86 vendo. Sei que eu desbaratava, ia desbaratando, ia ticando sem sssunto pra desbaratar, meio com dé daquele tio hu- milde que, a gente percebia, nfo tinha feito nada por mal. Acabava sendo eu mesmo a*discutir comigo: — Sei bem que de tanto lavar copo vem um dia em que um escapole da mio... Esté bom, veja se nao quebra mais, onviut seu Belazarte, 90 MARIO DB ANDRADE E ficava esperando, jururu que fazia dé. Eu 6 que cneafifava. Com aguéle dlho de pomba me se- guindo, arrulheindo pelo meu corpo numa bulha pena- rosa de carinho batido, ew nem sabia o que fazer. va numa gravata, reparando que tina pegado arrunja nio-sei-o-gué, acabava sempre deseo- pocira na roupa, fia manch: ¥ a, qualquer assim: Hanmer co. _= Ellis, ane limpe isto. . a vim chegando meio encolhide e limpava. ntiio dtho-de-babosa pousava em justi . mi Cr ee 3 inha justiga, tre- — Esta bom assim, sou Belazerte? — Esté. Pode ir. Ja, Porém ficava rondando. Mesmo que fosse 1é no andar térreo trabalhar, me levava no pensamento, ia imaginando um jeito de me agradar. 1 nao tinha mais parada nos agradinhos diseretos ehquanto eu niio via pra Ge, Entio gengiva aparecia. Quando che- gave de noite ja sabe, vinha pedindo pra ir no cinema, on tinha pena, deixava, 1 quantas vézes ainda nfo acabei dando dinheiro pro cinema! Nesse andar 6 légico que eu mesmo estava fazendo arte de fiear-sem eriado. Foi'o que sucedeu, EIl tomou eonta de mim duma vez. Piorar, piorou néo, mar j€ostava difioll de dizer quem era o criado ds 268 dois. "Sim, porque, afinal das eontas queHt @GFaGOT quem serve ou quem nio pode mais passar sem 0 servigo, digo mais, sem a eompanhia do outro? 0S CONTOS DE BELAZARTE aL _- Bilis, voce j6 sabe ler?.... Uhm... acho que ‘you ensinar francés pra voeé, porque se um dia eu for pra Europa, nfo vou sem voce. — Si seu Belazarte for, en vou também, Sempre com o mesmo respeito, As vézes eu che- gava em casa sorambético, mofdo com a trabalheire do dia, Ellis nfo falava nada, nem vinba com antola- gio, porém nio arredava pé de mim, deseobrindo 0 que eu queria pra fazer, Foi uma dessas vézes que escutei @le falando no portio pra um eompanheiro: — Hoje nio, seu Belazarte earece de mim. - 'Até achei graca. [ primcipiei verificando que aquilo néo tinh jéito mais, Ellis nao trabalhava. Fxtava tomando um lugar muito grando_em_ minha vidas~Polf tntao vamos fazer alguma “coisa pelo futuro “AME Accidi. Entramos os dois numa explieagio que ‘me abaten, por causa dos sentimentos desencontrados que me pereorreram. lis me confessou que ponsava ‘mosmo em ser chofer, mas nfo tinha dinheiro pra tirar ‘a carta, Tive ciimes, palavra, Secretamente eu achava gue éle devia 86 pensar om ser meu eriado. Mas venei o sentimento bésta @ falei que isso era o de menos, porque ea emprestava os cobres, $6 que nao pude vencer a fraqueza ©, com pretexto de esclarecer, ajuntei: . _— Voeé pense bem, decida e volte me falar. Cho- fer ¢ bom, a& bem, 86 que é offcio perigoso ¢ jé tem mito chofer por af, Muites vézes a gente imagine que fz um giro e faz max é mm girau. nfim, tedo isso 6 com voed. J& falei que ajudo, ajudo. —~ 92 MARIO DE ANDRADE Foi entio que @le me confessou que precisava ganhar mais porque estava com vontade de casar. — Ellis, mas que idade voeé tem, Ellis! —— Dezanove, sim senhor, — Puxal e vood ja quer casar! Deu aquéle sorriso entreaberto, sossegado: — Gente pobre earece casar cello, sex Belazarte, sendo vira que nem cachorro sem dono. Néo entendi logo a comparagio, Ellis esclarecou: = Pois 6: cachorro sem dono nio vive comendo Jixo dos outros?.. Br Meio que me despeitava tam F de mais outta pessoa qiie“do patrao, ‘porém ja dade Westas"Sgoismos. Per- que nem eu mesmo, seu Belazarte. Se chamia Dora, Encabulou, tocando na namorada. Palei mais vez pra Ble pensar bem ‘no que ia fazer © me 0) Dias depois éle veio: — Seu Belazarte... andei matutando no que o senhor me falou, semana atrés,.. — Resolveu? — Pois outdo a gente pode fazer uma coiva: espero 0 dia dos anos do senhor ¢ depois saio, Tive um despeito machueaiido. Decerto fui duro: — Esta bom, I Nilo se mexcu. Depois de algum tempo, m 08 CONTOS: DE BELAZARTE 93 — 0 que & ! — Mas... seu Belazarte... en quero sait por | bem da casa do senhor... até a Dora me falou quo... me falou que decetto o senhor accitava ser nosso padrinho... { Custou éle falar dé tanta comogdo. Olhei pra éle. © 6leo de babosa destilava duas lagrimas negras no pretume liso. Me comovi também. — Sai por bem, 6 légico! Nao tenho queixa ne- | nhuma de voo8. a — Quando o senhor quiser alguma coisa, me cha- ' me que eu venho fazer. O senhor foi muito bom pra mim... — Nao fui bom, Ellis, fui como devia porque voot também foi direito. — Botei a méo no ombro déle pra sossegar 0 como- vido solugante, estava engasgado o pobre! Sem se esperar, répido, virou a cara de ledo, encolheu 6 éizbro, beijou minha mao, partiu fechando a porta. kexj J4 me sentava outra vez, pensando naguele heijo due fasin «minha mio tao s8hibeaada pore a, humanidade, a porta abriu de leve. EH éle, nfo so mostrando: — Seu Belazarte, 0 senhor no falou que acei- tava... ‘Até me ri. — Aceito, Bilis! Quando que voc casa? — Se arranjar licenga logo, caso no 8 de dezembro, sim senhor, dia da Virgem Maria. 3 Néo me logrou porém logrou a Virgem Maria. Seiu de casa dias depois do mou aniversério, e nem thei KE 94 MARIO DE ANDRADE dom Dona Repiibliea fz anos, casou com a Dora, num @ia claro que parecia querer durar a vida inteira, Cheguei do casamento com ‘uma felicidade artistica dentro de mim. Voc nfo imaginou que coisa mais Yonita Ellis e Dora juntos! Mulatinha lisa, lisa, cér de Our0, Isto 6 GF de leo de babosa, cér de‘olhos de Ellis! F nos olhos ento todo ésse pretume impossivel que o médo pde na cdr do mato & noite. Vocé decerto que jé reparou: A gente vé uns olhos de menina boa ¢ jura: “Palavra que nunca vi lho tao préto”, vai ver? quando muito 6lho 6 cdr de fumo de Mapingui. 3 © reesio da: gente que bota escureza temivel nos elhos désses nossos pecados... Que gostosa a Dora! Era uma pretarana de eabelo acolchoado e corpo de potranguinha independente, Tinha um vesse penando. muito mas o carogo fina dado de erescer mo lado esquerdo agora. Na véspera tivera uma vertigem, ainguém sabe porque, junto do’ filho morrondo, Foi pra eama com febrao de qnarenta e um no eorpo tremido. Fra a tubereulose galopante que, sem nenhum respeito pelas reguas da cidnde, estava fazendo conto @ vinte por hora na raia daquele’ péito aperfado. e depimenle DESEO ‘dos; cheios de mios, néo Cy x “Ne Tee, pra iv velo, em, falando » onze semanas em Mt, porgue virara er @ talvez pela primeira vex na vida, inventava essas juenas faceirices com que a gente negaceia o am daqueles por quem se sabe amado, Mantimento, rei 08, Youpa, tudo minha mie 6 que providenciava py lo, conforme desejo meu. Pais de sopetao vinha fam, pedido engragado, que Bilis queria comer’ sopa da ha casa, que se eu nao podia mandar pra éle fis igualzinha Aquela que usara no batizado do des- a duma vex, Da minha parte era tudo agota gestos mecinicos. de protetor, meu Deus! como a vida esporada se meen No sei... Ellis ereio que nao, inas cu jd muito que estava acostumnado a x 0. E aquela espera da morte ja pra rte longa, ‘um anda¥ na yandaia di i i \ | } 0S CONTOS DE BELAZARTE 101 mas Hillis estava ireito de contar na do passado. Era amigo déle, jur morto, e com a morte niio se tem (a viva. file, isso en soube depois, éle sim, estava vendo essa morte jé chegada, numa contemplacio sublime do passado, Unica realidade pra éle. Dora tinha sido uma fungio.” A vida pratica nao féra senio comer, dormir, trabalhar. No que se agarraria aquéle morto em férias? Em mim, 6 l6gico. Isso eu soube depois... Levava o dia falando no amigo, pensando no amigo. J tédas aquelas faceirices de pedidos e ‘vontadinhas de erianga, nio passavam de jeitos de se recordar mais objetivamente de mim. De se aproxi- amar de mim, que nio ia vé-lo, Cheguei em casa pra almogar, a mie do Ellis viera dizer que @le estava me chamando, nfo gostei nada. Se agora éle principiava pedindo mais isso, eu que tenho'um bruto horror de tisica... Enfim mandei a -eriada 14, que depois do almogo ia. - Quando cheguei na porta, os uivos da mae déle sme deram a noticia inesperada. Sim, inesperada, porque jé estava acostumando a ficar esperando ¢ perdera a nogio de que o esperado havia mesmo de vir, Entrei. Estavam uma italianona vermelha de tanto chéro por tabela ¢ dois tizius fumando. — Morea! — Ahm, su Beladzarte, tanto que 0 povero esté chamando o sinhére! — Mas 34 morreu, 6! — Que esperandzs cham... — Onde éle esta? desde manhizinha esté 102 MARIO DE ANDRADE Um dos tisius: j — Esté 16 dentro, sim senhor, Jogou o cigarro ¢ foi mostyando caminho, Segui tris. Pulei por cima dos uivos saindo duma furnn que nunea vin dia, ¢ 14 numa sala mais larga, com entrada em areo sem porta dando pro quintal interior, |. hum eanto invisivel, chorava uma vela, era ali, Bilic Vasquojava com as borlas dos earogos dependuralos Pros Tados, medonko de magro. Esiava morrendo desde manha, sempre chaman lo por iim, - Mas por que no me avisaram! Bram nfo sei quantas vézes que agarravam a ‘ela nas mios déle 36 em cruz, pra sempre fantasiadas cngulia em so e pegava me chamando outra ven Afinal parara de chamar fazia mais de hora, . Paroos i ahe a coisa estava chegando. Falei baixo, som querer f me acomodando com o siléncio da morte: = Bllis!... oh Ellis Nada. 86 0 respiro serrando na madeira sea da soiganta, Os outros me olhavam, esperando o bem Guo eu ia fazer pro coitado, Até parocia que 0 impor- tents ali era eu. Insisti, lutando com a amivaile dn mnerte, mais uniforme que a tainha, Com monte c tndo,"ai€ me parece que ou insistia mais pra vencer a Predomiindnela da morte, e aqueles assistentes néo me Serem Perder muma lute. Botei a méo na testa mérne » havia de me sentir. ~ Elis! sou eu, Bist... Sossogue que ja che- Such ouviu! Estou juntinko de vooé, ouviu!...Milist O solugo ‘Parou, 08 CONTOS DE BELAZARTE. 103 — Pronto! Amnsim que esti fatchendo desde aay? we manhin, 6 povero... Tica fa vol Masia! yo? bate 8 veep or BMT Bild abriu as pélpebra: prineipion sbrindo, pas : “resin que mio parave. mais de, as ab Bice \—asaaiveatadas mas éleo de babosa niio vé que escorr an mais! pupilas fixas, vetas, flechando o teto préto. Pus inka care onde clas me focalizassem, — n™ “Seton agi, Elis! Nao tenha médo! vocé est LS mo enxergando, hein! ; - a sim, sou Belazarte. Viu! desde manhi aue esti de dlho fechado. Ble queria muito be... bem © seuhor! também... também o senhor tem sido muito S : ‘i ! wai! mv bom pro coitado... de meu filho, ail... aaai! mew i 4 Yabn! ahn!... filho esté morrendo, abn! al ; — Ellis! voe8 est precisando de alguma coisa, En fag ; ; A gelatina.me reeebia sem brilhar. As pilpebras foram corrando um bocado. Instintivamente upressei a fala, pra que os olhos inda recebessem meu carinho: —" Bu fago tudo pra vous! nio quero que te falte nada, ouvin bem! ; Us olhos se esconderam de fode com muita calma.. — Meu filho morreu! ai, ait... Aaail. | Tive um momento de desesparo porque Ellis no dava sinal de me sentir. Insisti mais, ajoelhan eo junto da cams, _ _ — Ora, 0 que 6 isso, Ellis)... — aban... s6 falava no senhor, abn... ontem ahaa, que, alm, melhorando ‘ jerrar todos mesino disse pra n : cavava um pogo... fando, agin... pra e oa MARIO DE ANDRADE 0s mi... micrébios pra despois, pedir pra morar, ahn... no poro da easa do senhor... aail — Levom éla! nio vale a pena éle estar escutando dene chéro! Transportaram os uivos. Estaria escutando ain- dat Insisti numa esporanga exacerbada pela anedota da negra, sem querer, perverse, voz pura, doce de caricia: oo “= Bilis! voc’ no me responde mesmo! Abrin um pouco os olhos outra vez. Me via! «foi to humilde que nem teve o egofsmo de sustentar contra mim a indiferenga da morte. 0 olhar déle teve uma palpitagéo franca pra mim, Elli obedecia ainda com ésse olhar. Fosse por amizaile, fdsse por servilismo, obedeceu. Isso me féz confundi extraordindriamente com os manejos da vida, a morte déle. Desapareceu mistério, fatalidade, tudo o havia de grandioso nela. Foi ia morte familiar. Foi ia morte nossa, entre amigos, diveitinho aquéle dia em que resolvemos, meu anivérsério passado, éle ix buscar 0 casamento e a choferagem de ganhar niais. Cerrava os ols ealmo. Pesei a mio no corpo dale pra que me sentisse bem. Ao menos assim, Ellis ficava seguro de que tinha ao pé déle o amigo que sabia as coisas. Entio ndo o deixaria sofrer. Porque sabja-as-voisas \_ Mimero tts. SN VI Pia nfo sofre? (1926) Sofre

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