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Mario Eduardo Martelotta Mariangela Rios de Oliveira Maria Maura Cezario cect okey eer OR ry Marcos Antonio Costa Sree RA ra Cg Marcio Martins Leitio Gooue cu Mario Eduardo Martelotia (org.) Mariangela Rios de Olvera ~ Maria Maura Cezaro ‘angelica Furtado da Cunha ~Sebestigo Votre ‘Marcos Antonio Costa - Victor Wison Eduardo Kenedy ~ Marcio Martins Lito fora Palomanes Manual de linguistica editoracontexto Estruturalismo Mac Antone Cotte Este capitulo trata da escola estruturalista, dando énfase as propostas de Ferdinand de Saussure e de Leonard Bloomfield. O legado de Saussure ‘A rigor, no podemos falar de um conceito sinico para o termo estrusuralismo. ‘Mesmo sem levarmos em consideracao ques antropologia, asociologia,apsicologia,entre outras éreas das ciéncias humanas, podem se apresentar sob a orientagio de uma teoria pade> “pao”, do latim a0 portugués, caracterizase como uma abordagem diacrOnica. 118 Manual de inguitica estruturalismo proposto por Saussure nao apenas aponta as diferengas entre cessas duas formas de investigacio, mas, sobretudo, registra a prioridade do estudo sincrénico sobre 0 diacrénico. Ou seja, para Saussure, o linguista deve estudar principalmente o sistema da lingua, observando como se configuram as relagbes internas entre seus elementos em um determinado momento do tempo. Esse tipo de estudo é possivel porque os falantes nao tém informagées acerca da histéria de sua lingua eno precisam ter informagées etimolégicas a respeito dos termos que utilizam no dia.a dia: para os falantes, a realidade da lingua é 0 seu estado sincrénico. Na defesa de tais ideias, o linguista utiliza, mais uma vez, a analogia entre 6 sistema linguistico e o jogo de xadrez, Conforme a andlise de Saussure, tanto no jogo da lingua como durante uma partida de xadrez estamos diante de um sistema de valores ¢ assistimos as suas modificagdes: assim como ocorre com os sistemas linguisticos, a disposicio das pecas no tabuleiro sofre continuas mudangas. A qualquer instante, porém, essa disposicio pode ser descrita conforme a posicéo das pecas naquele momento especifico do jogo, © mesmo acontecendo quando se trata da descrigéo de um estado particular de lingua. Nao importa o caminho percorrido: “o que acompanhou toda a partida nfo tem a menor vantagem sobre 0 curioso que vem espiar 0 estado do jogo no momento critico; para descrever a posiglo, é perfeitamente intitil recordar 0 que ocorreu dez segundo antes” (Saussure, 1975: 105). Além disso, argumenta-se que, embora nao sejam muitos os falantes conhecedores profundos da evolugao histérica da lingua que utilizam, todos nbs demonstramos dominar, ainda na infincia, os principios sistemsticos, as regras da lingua que ouvimos & nossa volta, AA descrigio linguistic sincrénica tem por tarefa formular essas regras sisteméticas conforme elas operam num momento (estado) especifico, independentemente da combinagio particular de movimentos (das mudangas) j4 ocorridos. Cabe observar ainda que 0 movimento de uma pedra no tabuleiro implica a constituigao de uma nova sincronia, uma vez que tal movimento repercute em todo 0 sistema. O conjunto das regras do jogo, porém, é mantido. Essasregras, como jf vimos anteriormente,situam-se fora do tempo do jogo esio préviasa sua cxisténciae realizacio. Eo proprio Saussure, contudo, que nos lerta quanto 20 ponto em que aanalogia entre 0 jogo de xadrez eo sistema linguistico se mostra falha: a acSo do jogador a0 deslocar uma pedra e, consequentemente, exercer uma alteragio no sistema ¢ intencional. Na lingua, diferentemente, nada ¢ premeditado, “é espontanea e fortuitamente que suas pesasse deslocam —ou melhor, se modificam” (Saussure, 1975: 105). O signo linguistico ‘Uma ver. compreendido que a lingua representa um conjunto de elementos solidérios, uma estrutura, cabe-nos conhecer a natureza desses elementos. Saussure afirma que a lingua éum sistema de signos. O signo é, portanto, a unidade constituinte Estrutvraismo 119 do sistema linguistico. Ele ¢ formado, por sua ver, de duas partes absoluramente insepardveis, sendo impossivel conceber uma sem a outra, como acontece com as duas faces de uma folha de papel: um significante e um significado. Poderiamos dizer que o significante consiste numa sequéncia de fonemas, como acontece, por exemplo, com a sequéncia “linguagem”. Precisamos, porém, de uum pouco mais de cautela para entender o verdadeiro sentido atribufdo por Saussure 20 conceito de significante. Comecemos por compreender que, de acordo com a proposta cstruturalista saussureana, a lingua é uma realidade psiquica. Como jé dito, um tesouro ~ um sistema gramatical — depositado virtualmente no cérebro de um conjunto de individuos pertencentes a uma mesma comunidade linguistica. ‘Assim sendo, as faces que compéem o signo linguistco sio ambas psiquicas « estio ligadas, em nosso cérebro, por um vinculo de associagio. Sendo assim, 0 significante, também chamado de imagem acistica, nio pode set confundido com 0 som material, algo puramente fisico, mas deve seridentificado com a impress ps{quica ddesse som, a representacio da palavra enquanto fato de lingua virtual, estando a fala absolutamente excluida dessa realidade. A outra face do signo, o significado, também chamada de conceit, representa ‘o sentido que € atribuido ao significante — 0 sentido, por exemplo, que atribuimos 20 significante “linguagem’ anteriormente mencionado como “capacidade humana de comunicasdo verbal”. Daf o entendimento de que o signo, unidade constituinte do sistema linguistico, resulta da associagdo de um conceito com uma imagem actistica. A arbitrariedade do signo linguistico A filosofia desenvolvida na Grécia antiga é um marco inicial, no Ocidente, do debate sobre as relagdes entre a linguagem ¢ 0 mundo. A discussio era se os recursos linguisticos através dos quais as pessoas descrevem o mundo & sua volta sio. arbitrérios ou se esses recursos sofrem algum tipo de motivacéo natural, Essas duas teses epresentam desdobramentos das especulagies filosdficas que dividiram os gregos na antiguidade cléssica em convencionalstas © naturalinas. Enquanto os primeitos defendiam que tudo na lingua cra convencional, mero resultado do costume ¢ da tradigio, os naturalistas firmavam que todas as palavras eram, de fato, relacionadas por nacureza &s coisas que elas significavam. Que relagio podemos observar entrea sequencia “linguagem” eo sentido a ela aribuido? Quando nos referimos a “livro” como “conjunto de folhas de papel capaz de guardar uma obra lterdra, cientfica, aristica, et.”, haveria alguma motivagio especial para a escolha desse termo ("livro"), ¢ nao a de um outro qualquer? Afirmar que o signo linguistico € arbitrério, como fer Saussure, significa reconhecer que ndo existe uma relagio necessira, natural, entre a sua imagem actstica (seu significante) ¢0 sentido a que ela nos remete (seu significado). Isso significa dizer 120 Manual de inguistico ‘que o signo lingu{stico no é motivado, e sim cultural, convencional, jé que resulta do acordo implicito realizado entre os membros de uma determinada comunidade. “Trata-se, portanto, de uma convengio. A arbitrariedade do signo linguistico pode ser mais bem compreendida quando observamos a diversidade das linguas. Cada lingua apresenta um modo particular de expressar os conceitos: ninguém discute, por exemplo, se “livro” ou book se aproximam mais, ou menos, do conceito apresentado anteriormente. Por outro lado, poderiamos argumentar que certas unidades linguisticas apresentam-se como contraexemplos da arbitrariedade. As onomatopeias (do tipo “au-au’, “tic-tac”* parecem ser motivadas, ndo arbitrérias. No entanto, argumenta Saussure, elas “no apenas so pouco numerosas, mas sua escolha € jd, em certa medida, arbitréria, pois no passam da imitaglo aproximativa. j meio convencional de certosruidos” (1975: 83). Contudo, Saussure reconhece que a arbitrariedade € limitada por associagoes ¢ motivagées relativas: assim, “vinte” é imorivado, mas “dezenove" no 0 é no mesmo rau, porque evoca os cermos dos quais se compde, “dex” € “nove” ‘Saussure observa ainda que o principio da arbierariedade do signo linguistico rndo implica a compreensio de que o significado dependa da livre escolha do falante. A lingua, como ja apresentado anteriormente, € social, nao estando ao alcance do individuo nela promover mudangas. Relacées sintagmaticas e relagdes paradigmaticas Sendo a lingua um sistema, cabe-nos compreender a forma como as unidades, constitutivas desse sistema encontram-se relacionadas umas as outras. Quando descrevemos essas relagbes, estamos explicitando a organizagao dos elementos constituintes da estrutura linguistica ¢, em tltima instancia, reconhecendo 0 fancionamento do sistema. Comecemos por entender que o signo linguistico exibe uma caracteristica bastante particular, a qual, embora considerada demasiadamente simples, torna-se fundamental para 4 compreensio da lingua como um sistema: 0 signo linguistico representa uma extensio, Isso significa que, ao ser transmitido, ele consticui uma sequéncia cuja dimensio s6 pode ser mensurivel linearmente. Decorre dai o chamado cardter linear da linguagem articulada. Uma frase, por exemplo, é constituida por um certo niimero de signos linguisticos que sao apresentados em linha, no tempo, um apés 0 outro, Sabemos, contudo, que, por se tratar de um instrumento de comunicacio, a frase deve ser construida de acordo com determinadas regras. Por isso mesmo, a distribuigao das palavras (dos signos) nfo ocorre de maneira aleatéria, ¢ sim pela cexclusio de outros possiveis arranjos distribucionais. Quando combinamos duas ou mais unidades (por exemplo: “re-ter”s “varias pessoas”; “a linguistica estrutural”; “eu tenho alguns projetos para a minha vida’, Esnuturatsmo 121 etc.) estamos compondo sintagmas. As relagoes sintagmiticas decorrentes do cariter linear da linguagem dizem respeito as articulagées entre os sintagmas e relacionam-se as diversas possibilidades de combinagio entre essas unidades. Devemos, portanto, entender como sintagmaticas as relagdes in praesentia, ou seja, entre dois ou mais termos que esto presentes (antecedentes ou subsequentes) em um mesmo contexto sintético. Por englobar diferentes niveis de andlise, a nogio de sintagma deve ser compreendida de uma maneira ampla. a) No nivel fonol6gico, as unidades se combinam para formar as sflabas. Quanto as restrigdes impostas pelas regras do sistema lingu{stico, sabemos, por exemplo, que a lingua portuguesa no admite silaba formada sem som vocilico. Ex: Ca-sa, bar ky “VY cv cvc b) No nivel morfoldgico, os morfemas se unem para formar a palavra, ou sintagma vocabular, como caracterizam alguns autores. Desse modo, prefixos e sufixos respectivamente antecedem e sucedem o radical (com Rad (= radical), VT (= vogal temitica), Pref (= prefixo) ¢ Suf (= sufixo)). Ex: Menin - 0, in - feliz - mente vu vv Rad VT Pref Rad Suf €) No nivel sintético, as palavras se combinam para formar frases. Einadmissivel como frase construgbes tais como “De gosta bolo menino o”. (SN («sintagma nominal), SV (-sintagma verbal)). Ex: O menino ~ gosta de bolo, v v sN sv ‘Além das relagbes sintagméticas que dizem respeito & distribuigao linear das tunidades na estrutura sintitica, as linguas apresentam relagoes paradigmsticas ou associativas que dizem respeito A associacio mental que se dé entre a unidade linguistica que ocupa um determinado contexto (uma determinada posicéo na frase) e todas as outras unidades ausentes que, por pertencerem & mesma classe daquela que est presente, poderiam substitu(-la nesse mesmo contexto. ‘As relagdes paradigméticas manifestam-se como relagbes in absentia, pois caracterizam a associagio entre um termo que esté presente em um determinado contexto sintético com outros que estéo ausentes desse contexto, mas que sio importantes para a sua caracterizagio em termos opositivos. ‘Ocorre que os elementos da lingua nunca estio isolados em nossa meméria. Eles io armazenadosem termos de determinados tragos que os caracterizam, como estrutura, 122 Manual de inguistica classe gramatical, tipo semantico, entre outros. Assim, a palavra“livrero”, por exemplo, cestdassociadaaclementoscomo “livro”“livraria’apartirdo radical queest{nabase desses clementos.Poroutro ado, podemosestabelecer uma outra série derelagbesparadigméticas tomando como base o sufixo: “leiteiro”, ‘sapateiro”,“garimpeiro”, entre outros. De algum modo essa organizacio dos elementos linguisticos na nossa meméria, para Saussure, € importante na caracterizagdo de uma frase. Por exemplo, podemos substituir uma desinéncia verbal de pessoa e ntimero por outra do mesmo tipo (estudas! cestudamos), um adjetivo por outro adjetivo ou locucio adjetiva (Ele & hondoso/Ele é ‘catidoso/ le é da hem), um substantivo por outro substantive (Gostaria de comprar um livro/Gostaria de comprar uma fizenda), etc. Para Saussure, além da possibilidade de ‘ocorréncia em um mesmo contexto, as relagBes paradigméticas so ambém decorrentes ‘da semelhanga de significagio (educacio/aprendizagem), da semelhanga sonora (livro! Morfemas. > Fonema. 126 — Manual de inguisica “Tanto. teoria proposta por Sapir- Whorf como o modelo de anlise istribucional formulado por Bloomfild inserem-se nasituacio linguisticaespectfica dos Estados Unidos naquele incio de século, Havia no continente americano cento e cinguenta familias de Jinguas amerindias — 0 equivalence a aproximadamente mil linguas ~ apresentadas sob a forma de material lingu‘stico oral ainda nao descrto, o que representava um grande problema para os administradores ¢ etndlogos da época. A perspectiva antropolégica presente nos postulados de Sapir-Whorf ea psicologia comportamental que influenciou asidcias de Bloomfield encontram terreno fértil esse contexto particular. Esse contexto, portanto, marcou o estruturalismo dos Estados Unidos, diferenciando-o da linguistica europeia. Pode-se dizer que, enquanto Sapir foi 0 pioneiro, Bloomfield foi o consolidador da linguistica naquele pais, criando uma teoria mais bem delimitada do que os linguistas anteriores. Exercicios 1) Comenteaafrmativa saussuriana: A lingua é tim sistema cas partes podem e devem ser consideradas em sus solidariedade sincrdnica” (Saussure, 1975). 2) Defina os conceitos de “lingua” e “fal. 3) Um dos postladas de base da linguica estrutural € que o signo é atbitréti, Explique o que significa esa afirmagdo, 4) A lingutsticaestrutural reconbeceo principio saussuriano de que todo o mecanisme lnguico reponse sobre relagies de dais ripos:sintagrndicase paradigmdcicas, Explique tl principio. 5) A afiemativa de que “a lingustica tem por nico ¢ verdadeiro objeco a lingua considerada em si mesma e por si mesma’, que Fnaliza 0 texto do Curso de lingutca ge, é Fundamental para que possums compreender s pestlado de Saussure. Faga alguns comentsroe a respeito desta questo. 6) Aponce tits caracteristicas ds lingulstica deseritiva norte americana (istibucionalismo) que fizem dela urna vertence do estrutualismo stussuriano, Notas "A nostic er ade stem, propsta por Susur. A nogio de estrturase desenvelve do term saussusiane: tendo sido etabeleco qu ingas consi um sims, cumpre ceablecer com se extra exit. Essa arctica se dexenvolveu de modo mais forte ma chamada Escola de Copenhaguc, bretido om Lis Hille As chamadas esos de Prag ede Genera, desenvolvendo uma inka um pouco dfrence,procurram, rehicionar es estrtira com 3 neo de "go Saussure caracterza as onomaropias autavcas como aguelas que representa imitaes aproximatvas ei meio ‘Sovencionais de cet rullo, rn oposiga Agus que impresionam por ea sooridade sugetv, como, por ‘xemplo, ina chover pia. + Ocerratlsmo europe et represented principalmente pls inguisia Funcionl deena pela Ecol de Praga. As quetdesrelaconadas aca vertene so watadas em capital expeic,

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