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Aclimatologiadinimica na perspectiva da anise rtmica, Antonio Giaconini Ribeiro A CLIMATOLOGIA DINAMICA NA PERSPECTIVA DA ANALISE RITMICA RESUMO: of, Dr. Antonio Giacomini Ribeiro Instituto de Geogratia Universidade Federal de Uberlindia Este artigo procura fazer uma reflexao a respetio da Climatologia Dindmica por meto der discussio do processo da construgao das bases tedrica ¢ metodolégicas da andlise ritmica, proposta por Carlos Augusta de Figueiredo Monteiro e caleada nos preceitos de M. Sorre, 0 ‘introdutor do conceito revoluctondrio de clima haseado na sucesso habitual dos tipos de tempo. Palayray-chaye: Anilise ritmica, Climatologia Dina nica. Tipos de tempo. Tihs paper mtends to do a considerations about the Dinamic Climatology through adiscuiion of the construction processes and the theoretical an methodological basis uf the rhytmical analysis. proposed by Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro and supported in the precepts Of M. Sorre, the introducior of the revolutionary concept of climate based on the usual succession on the weather types. Keywords: Rhytmical analysis, namic Climatology, Weather types 1. Introdugao A abordagem da Climatologia Dindmica busca relacionar os fatos da cireulactio atmosférica, a atuagao dos centros de agao e de sistemas tais como os anticiclones, as depresses, as massas de ar e as frentes, com os fatos do tempo e do clima, ‘Traduz-se em um esforgo para apreender a dindmica, a variabilidade e 2 génese dos fendmenos climaticos. No Brasil, 0 grande precursor da Climatologia Dindmica foi, sem ditvida, o gedgrafo Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro. As proposigGesdesse autorassumiram um cardter eminentemente te6rico-metodoligico, além da inegivel contribuigdo em termos do entendimento do funcionamento dos sistemas climéticos que agem no territério brasileiro. MONTEIRO (1951; 1962: 1963% 1963b; 1964; 1969; 1971; 1973 € 1991) é mentor de uma verdadeira “Liscola de Climatologia”, construida através da apresentagio de varios trabalhos & comunidade cientifica, quase todos aplicados ao Brasil Mcridional ¢ do Sudeste, cada qual representando um avango no sentido da construgao do que se convencionow chamar Sparadigma da andl ie ritmica”, A perspectiva da chamada “andlise ritmica” encontra fundamento metodolégico no conceit de clima formulado por Max Sore, pois, a0 apresentar o termo “ritmo”, Monteiro aponta a importdncia da sucesso habitual dos tipos de tempo, o que exige um acompanhamento diario ou até mesmo hordrio das condigbes atmosférieas no espago aserestudado, ‘Trata-se ‘Sociedade Naureza, Uberindia, (2a), 7-63, julsdez, 2000 a7 Actimatologia dni de uma nova estratégia metodologica que encara © clima como sendo um sistema complexe, dinamico, com enorme nimere de varkiveis, 0 que desaconselha o uso de modelos em termos de “estados médios”. ‘A abordagem estabelecida por Monteiro destaca-se pela adogao da ruptura em relagto & tradicional ¢ elassiea definigao de clima formulada por Hann no inicio do século. AS raizes dessa ci s de Sorte, conforme citado anteriormente, enquanto 10 esido apoiadas nas i as propostas de carditer mais pragmatico tém © ‘marco inivial nos trabalhos de PEDELABORDE. (1957; 1959), tidos como pioneiros no pracesso de incorporagao dos avangos da meteorologia sindtica & climatologia geografica, ‘A diferenga basica da linha de analise de Pédelaborde, em relagdo a proposta de ‘Monteiro, esti no fatode que o primeiro. apesat de incorporar os “tips de tempo” como elementos basicos da abordagem dindmica, insiste na considerago dos mesmos em termos de somatérios, Fistes, sd0 enearados como meio para se chegar As caracterizacoes climaiticas. Por outro lado, Monteiro enfatiza 0 mecanismo seqiiencial dos tipos de tempo, destacando-s as peculiares irregularidades, 4 que estas constituem-se nos pontos fundamentais da abordagem interativa entre o clima e as demais esferas gengrificas termos, cronolégicos, as contribuigdes de Monteiro para a climatologia dindmica apareceram com maior significdncia no periodo de 1951 a 19754 partir deste ano 0 autor opta por uma nova diretriz de investigacao ligada a climatologia urbana, & problemética ambiental e, mais tarde, a estudos relacionados cultura, filosofia e epistemologia geogratica. ‘Apesar de passados cerca de 30 anos, tais ‘Gootednde & Natarera, Uberlandia, 12 (24): 47402, jul 48 perspestivadaanaliseritmica, mtn Gtacemins Ribeiro proposigdes merecem uma reflexdo pelo que elas representaram e continuam representando para as pesquiisasatinentes a climatologia geogrifica brasileira, 2. A construgio do paradigma da andlise ritmica O primeiro trabalho climatolagico do principal mentor da andlise ritmica diz, respeito ao clima do Centro-Oeste bras! leiro (MONTEIRO, 1951). Trata-se de um estudo realizado ainda sob o prisma analitico/ tradicional Apresenta-s de compreensao climatica. subdividido em trés partes. Na primeira parte, Monteiro analisa a atuagéo dos printipais _clementos meteorolégicos. destacando a intima relagio entre a temperatura ¢ 0 relevo da regitio. Quanto as pressdes e vents, a andl recorre a um cstudo da circulagic geral atmosférica sul- americana, enfatizando a repercusséo da mesma no Centro-Oeste brasileiro. Como resultado. observou-se que a quantidade de chuvas que precipita na regido apresenta-se fortemente correlacionada com 0 relevo, observando-se, ainda, que © comportamento pluviométrico sazonal é tipicamente tropical (verdes chuvosos: ¢ invemos secos). A classificagio do clima do Centro- este é apresentada na segunda parte da obra quando Monteiro utiliza © modelo de classifieago proposto por Képpen para demonstrar que os tipos de clima basicos enontrados na regido sao Aw e Cw. Na terceira parte do trabalho reside 0 motivo pelo qual a obra pode ser citada como precursora no trato das proposigées acerca de uma Climatologia Dindmica verdadeiramente _Aclimainlogia dinsimiea na perspectiva da anise ritmicn, Antonio Giacomin Ribeiro geogrifica. Nela, 0 autor aborda as relagdes entre o clima e as demais esferas geogréificas, salicntando a influéneia climétiea sobre 0 revestimento vegetal, as repercussdes sobre as atividades humanas ea importdncia da fisiografia regional na determinagao dos aspectos climaticos. O trabalho sobre o clima do Centro-Oeste ¢ seguida da produgao de uma série de estudos individuais que vao culminar no surgimento da ‘entdo nova proposta de anilise elimatica. Fm 1962, a questio das classificagdes Jiticas merece um tratamento especial no trabalho “Danecessidade de um caréter genético A classificaydo climatica: algumas consideragdes metodologicas a propasite do estudo do Brasil meridional”. Ne oportunidade, Monteiro demonstra a insuliviéncia do método analitice para a busea de compreensio da génese e, sobretudo, para as classificagdes climaticas apresentando os principais pontos das cogitagoes que, naquela época, o preceupavam. le destaca a necessidade de avangos em dircgie a consideragao do ritmo didrio através do uso de seqiiéncias de cartas sindticas, correlagéies com outros fatores da quadro geografico. aperfeigoamento da classificagio genética dos climas e de um sistema de distingio de climas locais dentro dos quadros regionais, com énfase nagénese dos mesmos. el Seno trabalho dedicado ao Centro-Oeste MONTEIRO aplics a classificacdo de Koppen, neste de 1962 ele afirma: Prendendo-se avs valores médion mensais Jos principaiv elementos. este elassificacto ‘nao tem 0 menor significado na diversificagaa dos climas locais deniro do quadro regional Conhecendo-se a génese da circulagao ¢ 0 ritmo de sucesso dos tipos de tempo torna- se inadmissivel accitar que Santos tem 0 mesmo tipo de clima que Belém do Pari. E sahido que causas diferentes conduzem a resultados semelhantes,..”(MONTEIRO, 1962) Em 1963 foi publicado, pelo IBGE, 0 quarto volume da série “Geografia do Brasil”, este dedicado a Grande Regido Sul. O capitulo 3, correspondente ao estudo do clima daquela regio, foi elaborado por Monteiro. Nesta obra, ele deixa claro a sua nova maneira de conceber co fendmeno climatic, dedicando a maioria das paginas ao estude da dindmica atmosférica, buscando as bases para a explicacao da génese do clima regional. E feita uma anélise da circulapdo regional, destacando as seqiiéncias tipicas do tempo no decorrer do ano. Grande atengio & destinada a andlise geogratica dos elementos climaticos, concebida a partir da consideragio da influéncia dos fatores geogrificos na circulago regional ¢ da correlagdo dos fatos do dominio elim. agueles de outros dominios. Ainda no inicio da década de 60 foram publicados os estudos “Sobre a andlise geogrdfiva de seqléncias de cartas de tempo” (1963b) ¢ “Sobre um indice de participagaio d massas de ar ¢ suas possibilidades de aplicagao io climatica” (1964). © primeiro enfoca questbes referentes A utilidade da andlise geografica de cartas de tempo no estudo geogrifico do clima, salientando que tal alternativa prende-se aos principios da metodologia prépria da ciéncia geografica, constituindo-se em exereicio importante na formagdo superior de um ge6grafo, permitindo a explicagdo para que se cheaue A sintese de compreensto, O segundo reforga a questio da classificagdo genética do clima, procurando demonstrar a eficiéncia do “indice de participagdio das massas de ar” na delimitagdo dos climas zonais. Constatou-se que o Aclimatolog conhecimento das variagées desses indices dentro das faixas zonais, combinado a elucidagio da influéncia dos fatores geogrificos, pode oferecer subsidios 4 compreensao do ritmo Climatico, auxiliando a delimitagio dos elimas regionais. Na eseala local, os indices nd teriam aplicabilidade, devendo-se antes mobilizar as variagdes quantitativas dos clementos, subordinados & unidade qualitativa do ritmo” ‘Ao final desse trabalho, Monteiro reforca a necessidade de considerar a dindmica das massas de ar, no apenas na explicaydo dos climas mas, também, na sua propria definigao. ‘Alguns autores afimam que 0 marco principal da construgao daabordayem da andlise ritmica deve ser considerado o trabalho “A dinamica elimética e as chuvas no Estado de Sa0 Paulo (Estudo Geografico em forma de Atlas) concluido, segundo 0 autor, em 1964 ¢ publicado somente em 1973. Neste trabalho, Monteiro faz um esquema das feigdes climaticas individualizadas no territério paulista, inserindo- as nas células climaticas regionais que se articulam comas faixas zonais. Na oportunidade, Estado de Sio Paulo eram de origem predominantemente frontais em todas as estagdes do ano, principalmente no invemno. verificou-se que as chuvas no Atese de doutoramento, denominada~ Frente Polar Atlantica e as Chuvas de Inverno na Fachada Sul-Oriental do Brasil (contribuigao metodoligicaa anilise ritmica dos tipos de tempo no Brasil)”. pode ser considerada como uma ampliagdo espacial do estudo da “Dindmica climatica ¢ as chuvas no Estado de S: Segundo Monteiro, a posicio transicional ce Sa0 Paulo, entre duas faixas climaticas zonais ¢ na encruzilhada de trés climas regionais, deixava 10 Paulo, dinimica na perspectiva daandlie rimiea. Antonio acomin! Ribeiro em suspenso as variagdes quantitativas das chuvas ao longo da propagaaa latitudinal da Frente Polar Atlantica, Assim, ao estender scu ‘estudo, bascando suas observagées nos invernos de 1957 e 1963, 0 autorconchiiu que os méximos de pluviosidade realmente estavam intimamente relacionados & participagao da Frente Polar © que as variagdes de intensidade das invasdes polares geravam alternancias de posi¢do da Frente, entre o Praiae 0 Tropico, condicionande resultados pluyiais contrastantes naquelas regides, No que diz respeito 4 metodologia, na oportunidade Monteiro recorrev ao uso de como formade superar as dificuldades impostas pela ampla escala espacial adotada, Da mesma forma, quanto a eseala temporal, ele propés 0 uso de anos- padrio, ja que o-uso de periodos longos tomava praticamente invidvel a escala didria! . Com relagdo 4 andlise ritmica, ao final do trabalho, Monteiro afirma: transectos. eixos de observ: * jemos a impressao de que poderemos comeluir que a andlise citmica ndo deve ser apenas uma necessidade motivada pelo faio de encurar @ ‘sucesso habitual’ como a exséncia gengrética do lima, mas porgue ela Ema impasigéo inminsvea a0 dinamisma do comportamento atmosférico” (MONTEIRO, 1969), Aindana tese de doutoramento, Monteiro, salienta que a abordagem dinamica da “andlise rimica” nao pretende invalidar ou substituir completamente a abordagem tradicional, de cardter eminentemente estatico. As duas técnicas de andlise, apesar de assumirem atitudes diferentes em suas projecdes temporais e espaciais, se complemeniam. O autor apontou as principais diferengas e semelhangas entre a duas propostas metodologicas, as quzis podem analitica T Ne tabalhos “Sobre um inv de panisipayn dis msssas de ee saas possibilidades de apicaco a clssifcago climates” ¢ “A dinimics limiticn eas eayas no Galads de S20 Paulo (etude geogrice er forma ye a7-62 jude 2000 feats)” Monteita havi sugende 0 uso dos anes-paao Aclimatologia dinimica na perspective andlseetmiea,Aonio Giacomint Retry ser sintetizadas da seguinte forma: + O tratamento estético utiliza-se de longos periodos de observagiio mensuragdo dos fendmenos meteorologicos, enquanto o dindmico deve preferir a amostragem de individualidades do tempo cronologico. que sejam expresses reais. mas 4 Ambas as alternativas estdo apoiadas na considerago conjunta do tempo e espago, premissa basica para a compreensiio dos fendmenos naturais numa perspectiva geogrifica. 4 0 tratamento estético propoe expli- citar as variagdes espaciais ¢ esta projetado para generalizagdes. O se: gundo apresenta natureza dindmica, visando compreender as variag6es no tempo através da énfase nas particu- laridades genéticas dos fendmenos. Enquanto a abordagem tradicional possui grande preoeupaco com os valores quantitatives e com a exigéncia de uma base espacial mais ampla, a abordagem dinimica pode se desenvolver a0 longo de eixos capazes de refletir os mecanismos da circulagao atmosférica regional apresentando preocupagdes com as afinidades conferidas pelo sitmo, que so qualitativas, Finalmente, MONTEIRO (Ibidem: 14) diz.acreditar que a verdadeira compreensdo da sintese climética de um lugar adviré do equilibrio entre os dois tratamentos. ['salientada a necessidade da andlise minuciosa, tanto do ritme temporal, quanto da distribuigao espacial via tratamento estatistico convencional. pois representam padroes referenciais importantes, apesar de insuticientes, se tomados isoladamente. do fendmeno. Com relagao a esse equilibrio entre es duas formas de abordagem. RIBEIRO, A. G. (1977) afirmou que “a utilizagao paraleta das duas abordagens sugere a sua integragao, sendo ambas estudo ¢ caracierizacéo climatoldgica de qualquer drea, devendo-se enfatizar uma ou outra em fungdo de objetivos especificas a que se propée cada pesquisador’”. Ao estudar o clima de Estado do Acre, oreferido autor adotou, paralelamente, as duas abordagens e chamou atengo para o fato de que 0 termo “tradicional”, wo ser utilizado para idcntificar a abordagem analitica, confunde- secom antigo eatrasado, gerando inclusive, uma conotacdo pejorativa para com aqueles que aplicam aquela opgiio metodoldgica. complemeniares ao Apesar da importéncia das obras anteriormente citadas, foi o artigo publicado por Monteiro em 1971, “Analise Ritmica em Climatologia: problemas da atualidade elimi em Sio Paulo e achepas para um programa de trabalho”, que definitivamente concluiu o processo de construgio do novo programa de anilise climatica. Neste, o autor reafirmou a necessidade de se considerar o ritmo elimatico, fornecenas bases metodolégicas da abordagem proposta, além de ressaltar a importdncia das correlagGes entre 0 ritmo climatico e as outras esferas geogrifieas. E é exatamente no campo das correlagdes, visando resalucao de problemas geograficos regionais, que surgiu uma série de contribuigdes advindas das orientagdes de Monteiro no Laboratorio de Climatologia, do antigo Instituto de Geografia da USP. A maioria delas refere-se a correlagdes entre o ritmo climatico e as atividades humanas, tais associagdes propostas para 0 calendirio agricola como as ‘Socisdde & Natureza, Ubertandia, 12(24) 72, julrde7, 2000 sl “Acsinaologia dnsmica na perspeciva da ndliseritmien, Antonio Giacorint Ribeiro do arroz em Sao Paulo (GUADARRAMA, 1071), para o balanco hidrico no Oeste Paulista (TARIFA, 1973), para a atividade de extragio, de sal em Cabo Frio (BARBIERE, 1974), para ‘© consumo de dguaem Bauru (RIBEIRO, A. G. . 1975) e para o calendario agricola do trigo, no sul do Estado de Sao Paulo (CAMARA, 1976), 'A partir de 1975, Monteiro mudou 0 centro de suas atengdes pana uma investizagio Tigada ao clima urbano e aos estudos ambientais” Fm fins da década de 70 ¢ inicio dos anos 80, dirigiu-se com maior énfase a reflexes acerca de questies ambientais ¢ da epistemologia da Geografia no contexto da Ciéncia, Filosofia e Cultura, Fm 1991, fazendo um balango de sua participagdo nos estudos de climatologia, afirmou que the faltou uma elaboragao rmatematica e um tratamento estatistico adequades as elaboragées conceituais ¢ ao referencial teorico adotade. Ele responsabilidade da continuago das investigagdes & nova geragto de alunos © de professores em exercicio nas instituigdes brasileiras, transmitiu a 3. As bases tedricas e metodologicas da andlise ritmica O paradigma da analise ritmica pode ser considerado como uma das poucas contribuigtles da geografia brasileira no sentida da inovagio quanto & forma de entender e fazer a climatologia gcogrifica. Conforme ja mencionado, inspiragio inicial de Monteiro para 0 seu desenvolvimento apoia-se nos principios © no coneeito de clima enuneiados por Sorre® ¢ nos pressupostos da climatologia dinamica propostos por Pédelaborde. Tim 1975 ps (rbanane Bias ‘ome, Maximitien Gedera francs (1880-1902 seguido dascola ‘Se weagraia humana Triemetou emedemizos, rosquadios de uma tatronsee ural 988) No capitulo introdutério do “Lraité de Climatologie Biologique et Médieale”.ao yersar sobre o objeto e método da climatologia, Maximilien Sorre apresenta cinco regras ou principios gerais pare uma abordagem climatologica do ponto de vista da biologia humana: = Primeira Regra: Os valores numéricos que devem ser obscrvados para as escalas diversas sdo os valores criticos para as principais fungdes orgainicas; * Segunda Regra: Uma definigao Climatologica deve abranger atotalidade dos elementos do clima susceptiveis de ait sobre o organisino: « Terceira Regra: Os elementos: climaticos devem ser considerados em suas interagdes: * Quarta Regra: Qualquer classifieagio climatica deve acompanhar de perto a realidade viva; © Quinta Regra: 0 fator tempo (duragao) € essencial na definigdio dos climas. ‘A fustio das regras acima citadas resultou na seguinte definigfio de clima: “On appelle climat la séric des états de l'atmosphére au- dessus d'un lieu dans leur succession habituclle”. Esta definiggo de clima foi apresentada por Sorre em trés diferentes oportunidades. O cenunciado desta definigao, associado aquetes das regras anteriormente citadas, conduz & interpretagio de que: cau suns de irvedoctncin “Terie Clima Urhar, qu se trsfrmouem efencanbigatria a estuds dena ossibiista, aha no seni de interarosestnds de weal sie ans Hes gvolurkmsta es preps de sus dscptina Grande neces a oe Toriedasiexe Natweza, Uberlindin, 12 (24): 47-62, pal 52. ‘Aclimatologiadindmica naperspectiva da analiseritmica, Antanto Giacomin Riberro a) embora 0 clima de um lugar seja produto de uma abstrago, produzida a0 longo do tempo, ele define partir de situagdes verdadeiras ¢ concretas, estados atmosféricos denaminados tipos de tempo produzidos pela interagao dos elementos atmosféricos (3° regra) ¢ sea influentesna realidade viva (4 regra) segundo limites estabelecidos a partir de pardmetios eriticos assumidos de acordo com a necessidade de sua aplivagio (1* regra); b) abar toda série de estados atmosféricos, nfo deixando de lado aqueles que raramente ocorrem, mas que sdo de suma importincia para a organizagao do espago pelo scu elevado potencial de impacto sobre as paisagens ena sociedade (2* regra) ¢) a sucessio habitual dos estados atmosféricos induz a nogao de ritmo ¢ durago, ambos fundamentais na estruturagio dos estados atmosféricos @ nas relagdes com a organizacao espacial (5* regra). Outro importante autor da Climatologia Dindmica, que também absorveu 0 conceito de clima de Sorre ao tratar do clima da Bacia Parisiense, foi Pierre Pédelaborde. A respcito da obra deste climatologicta, RIRFIRO. C. M. (1982) aponta que “o autor expoe ax bases do chamado método geogrifico da climaratogia fisica 1 ~ a pesquisa dos caracteres gerais da cireulagita atmosfirica da regia 1 deserigQo dos tipas de tempo; 3 - a definicao do clima deduzida da tolalidade dos tipes de tempo: 4 a pesquiva dos facies regionais e locais desse clima em fangao da geografia da bacia. Ottipa de tempo constitui a nocdo fundamental e comtral do trabalho de Pédetaborde. Na primeira parte ele se propBe @ examinar a cireulagao geral da aimosfera no momento em que explica 0 clima da Basia Parisien esse propésito, 0 autor situa aver om sum conlento referenctal mats amplo e anatisa 0 fluxo W, suas ondulagdes © movinentos e, Com ‘meridwnais. Na segunda parte, as condigies pengrificas do clima e ox efeitos combinados dos fatores geogrificos regionais ew cireulavto planetéria. Na terceira parte ele define o clima da bacia pela frequéncia ¢ variabilidade dos tipos de tempo e das massas de on; as diswibuigles anuais sazonais desse frequencia ¢ dessa variabilidade. A partir desie exame, 0 autor apresenta um eatiloge de sipos de tempo para todas as situagées possiveis ¢ dai uma distribuivdo das variagies climaticas regionais. A quarta parte descreve os fies regionais e locais em funcito a geogratia da Bavia Parisiense" (RIBEIRO, M,, 1982), Ainda Pédelaborde, em “Introduction a I'Etude Scientifique du Climat”, traduz 0 que Sorre denomina de estado atmosféries como tipo de tempo, utilizando-se da definigao de A. Baldit: “o tempo no sentido que os meteorologistas atribuem a esta palavra é 0 conjunto de valores que, mun dado momento € num lugar determinado, caracterizam o estado atmosférico”. F.continva: Trés idéias devem ser firadas nesta definigdo: I valores. isto quer d ‘atuam nao de forma isolada, mas pela sua combinagio. A sensaea fisioligica resulta da rnatureza da combinaci. 2°- A eombinacdo & ‘efémera ¢ instanténea. Ela existe mum dado momento, mas ela é diferente mo momento seguinte. Ela 6 de tal maneira elemeatar, e do varidvel, gue uma dada combinagao € tntca “A drvore de men jardin nd florescora jamais duas vezes nas mesmas condligoes de Liminosidade e estado Trata-se de xm conjunto de que os elementos temperatura, Sociedade & Natureza, Uberlandia, 12 (DA) 47-62, ule, 2000 33 Actimatolngia dnd ra perspociivada anise rtmica, Antonio Giacomini Ribeiro higrométricn’, escrevew Sorre em 1934. 3° ~A combinagdo esté presa a um lugar determinado, isto 6, num ponto da superficie da Terra" (PEDELABORDE, 1959). Com base na conceituagio apresentada, Pédelaborde br adefinigao do clima de um lugar ov regido através da catalogagao dos tipos de tempo, procurando abarcar a totalidade dos mesmos, suas freqiiéncias durante um longo periodoe suas géneses, considerando.os sistemas atmosféricos atuantes na area estudada. Em outras palavras, segundo TARIFA (1973), ‘preveupasse em definir mo tempo ¢ no espayo a evolugdo e a génese dos tipos de tempo, sem analisar como se articulam esses diferentes tipos € quais os reflesos produzidos no meio geogrifice, por estes distintos arranjos de estados atmosféricos A construgio do paradigma da anélise ritmicaem climatologia por Monteiro, conforme jddestacado, foi se dando através da elaboragio de um conjunto de trabalhos, Em todos eles, sempre, algum aspecto tedrico ou pritico foi sendo aprofundado e desenvolvido, culminando com a Tese de Doutoramento, de 1969,"A Frente Polar Atlantica © as Chuvas de Inverno na Fachada $ul-Oriental do Brasil”, apresentada no sentido de uma “contribuigaio metodolégica a analise ritmica dos tipos de tempo” A preocupacio com o impacto climatic na organizagdo espacial, expressa na tese de Monteiro a respeito da Frente Polar Atlantica e as chuvas no Brasil de Sudeste, €0 que diferencia a abordagem da andlise ritmica do tratamento dindmico adotado por Pédelaborde. Esta amarragao entre 0 comportamento do clima eas demais esferas geogrificas tomna-se possivel através da andlise do tempo em seqiiéncia continua, isto é, através do encadeamento dos estados atmosféricos, definidor do ritmo € nao weeds & Nalureza, Uberiandia, (24): 34 como far.o geografo francés, apenas catalogando 0s tipos de tempo. £ pela sucessav que se percebem as diferentes cambinogBes dos elementos climaticos entre $1 ¢ suas retacdes com os demuis elementos do quadro geogrdfies. Ea sequencia que conduc ao ctime, ¢ 9 roma & a esténcia da anitise dinimiea” (MONTEIRO, 1969) ‘A respeito da abordagem adotada por Monteiro, TARIFA (1973) € da opinido de que este autor, “introduzindo a andtise geografica dos tipas de tempo no Brasil, visou sempre ndo a caialogacao de tipos habituais, mas 0 encadeamento das situacdes atmosféricas diferenciadas em disiinaos tipos de tempo e seus efeitos no complexo geogrifico”. Ainda sobre a individualidade e, até mesmo, a originalidade do paradigma da anélise ritmica em climatologia, RIBEIRO, C.M.,(1982) admite que, pela influéncia de Sore, ‘rion para a climatologia brasilewa (..) uma norma de age, um verdadeiro paredigma a oviemiar as pesguisas neste dominio. Monteiro, na condicao de pesquisador de méritos reconhecidos, chegou a eriar una ‘escola” de climalologia dinamica, ao seguir as bases frances estabelecidas pelo geigrofo © artigo denominado “Andlise Ritmica em Climatologia: problemas da atualidade climatica em Sao Paulo e achegas para um programa de trabalho”, Monteiro (1971) representa um marco na produce climatalégies brasileira, Seu carater nitidamente metodologico deu-Ihe uma posiso singular na literatura cientifica no campo da climatologia no tempo em que esta disciplina tinha poucos representantes € estava presente em rarissimos, centros de pesquisa, Sendo assim, o contedde A climatalopia dindmica na perspectiva da analisestmica, Artonte Guacomies Ribeieo de tal obra merece uma atencdo especial. Na oportunidade, o autor introduziu 0 tema da andlise ritmica a partir da constatagio das conseqiléneias, no espago geogrifico, das irregularidades do ritmo climatico, notadamente aquelas assvciadas a distribuigao das chuyas no territorio paulista, que ocasionam problemas urbanos relacionados as secas - abastecimento de gua e racionamento de energia elétrica - a0 lado de problemas derivados de intensos periodos chuvosos. provocadores de inundaeties e calamitosos deslizamentos na Serra do Mar. Nao s6 o territorio paulista, segundo o autor, tem sido afetado pela irregulatidade do ritmo climatico, mas todo o territorio brasileiro, a ponto de que “a agressividade do ritmo climético tem que ser. pois, considerada no complexo geogrdfico brasileiro, como uma realidade vigente nos meados do século XX" (p.2). A explicagio destas imegularidades seria possivel através do entendimento “dos mecanismos de sucesso dos tipos de tempo (p.2). ‘Ao iniciar a parte conceitual e metodologica do artigo, MONTEIRO (1971) indica que o “conceito de ritmo, expresso da sueessio dos estadas atmosféricos, conduz, implicitamente, ao conceito de habiiual, pois ha variagdes ¢ desvios que geram diferentes graus de distoretes até atingir padrdes exiremos” (p-4). A. caracterizagto do clima de determinado local demanda, antes de tudo, a necessidade da indicago de seu regime pluviometrico,o elemento mais significative para a configuragdo das questées climaticas relacionadas com a organizagio espacial, entio vigentes no Estado de Sao Paulo. “Uma repeticao das variagdes mensais em véirios ¢ sucessivos anos é 0 fundamento da nocao de regime" (p.6). Assim, 0 autor coloca a idéia de limite, como ano seve, ano chuvoso, ano normal, més seco, més chuvoso ou més normal. Os critérios para estas definigdes oseilam entre estatistico ¢ o empiricamente aceitavel. Entretanto, “apenas a pariir da escata didria é possivel associar @ variagdy dos elementos do clima ‘ay tinas de fempo que se sucedem segundo os cireulugde regional. Assoviando-se, nesta escala, a variaga@o de todos 02 elementos, concomitantemente, a mecanismos da interpretagdo & sobremodo enriguecida pelo dinamismo que se reveste" (p9). Do exposto, 0 autor apresenta uma primeira conclusio importante: 6.20 ritmo climitico sé poderd ser compreendide através da representagao concomitante dos elementos fundamemais do clima om anidedes de tempo cronaldgicn pelo menos diérias, vompativeis. com a representacao da cireulacdo aimosférica regional, geradora dos estados aimosféricos ‘que se sucedem ¢ constituem 0 fundamento do ©. ‘A andlise climatolégica, assim conduzida, reveste-se de um cariter predominantemente qualitativo; desvantajoso por um lado, mas por outro, possibilita uma correlagZo mais ampla com os elementos da organizagao do espago geografico. E ¢ justamente desta necessidade que deriva uma segunda norma de trabalho, proposta pelo autor: “$6 a andlive ritmica detathada ao nivel de ‘tempo’, revelanda @ géneve dos fenémenos climéticos pela interagdo dos elementos ¢ ‘fatores, dentro de uma realidado regional, € cap consideragae dos diferentes ¢ variados problemas geugraficos desta regiao (p12) de oferecer pardmetros vilidos 6 Gociedade & Naturera, Uneriandia, 221) julien 2000 55 A climatologia dinamica napergpectiva da anise rumica, Anton Giacomini Ribeiro A compreensao fundamental do clima tem como ponto de partida a regio, pois 0 (ritmo de sucessiio dos tipos de tempo sw expressa no espaco geografico na escala regional. Ox mecanismos da cireulagao uemosférica, partindo de cenuros de avao ou unidades colulares, sistemas’ que se definem sob a influéncia de individvalizam-ce om faiores geograficos continent expressam regionalmente através da ritmo de sucess@o dos tipos de tempo. A individualidade regional & assegureda pela maneira na qual os estados do tempo ce sucodem ow envadciam, portant uma visio qualitativa As vartagdes locais deniro de gquadra regional so respostas idle varios fatores, altinude, relevo, expresses numa individualizagao ecalégica, que se revela por variagdes quantitativas (p.12), sta afirmagio representa uma orientagio no sentido da definigio da escala espacial dos dois mais importantes niveis da abordagem climatolégica em Geografia, 0 regional € o local. Finalmente, uma tereeira norma é assegurada no sentido da relaeao entre © ritmo climatico (qualidade) ¢ a expresso Guantitativa dos elementos componentes do tempo: Nu undlixe rlumica as expressoes quantitativas das elementos climiticos ostdo indissoluvelmente ligadas 4 génese ou qualidade dos mesmos ¢ os parémetros resultantes desia undlise devem ser considerados levando em conta a posicdo do expage gongrdfico om aus se define. Com ino queremos adverir que, « possivet aplicagiio destas anilises deve ser integrada no espace regional © que os pardmetros admitides: como ides para uma regido, nto poderdo ser accitos, @ priori, pura uma regido diferente (p13), AS bases meteorologicas para a identificagio dos tipos de tempo sao de fundamental importancia. Regis representativos de observagGes a superticie, gerados por estages de I* classe. sio essenciais. Camas sindticas acompanhadas por imagens de satélites e radares meteoroligicos, em diferentes horirios, complementam 0 plano de andlise interpretacao. Entretanto, 0 que esti em jogo. segundo o autor, sdo os dois elementos fundamentais para a energizaedo dos sistemas atmostéricos geradores dos tipos de tempo: a radiagao solare a circulagao secundaria. Embora sejam elementos que possuem um grau de interagdo extremamente complexo, podesse dizer, lworicamente, que a radiagao solar ¢ responsavel pelo fluxo vertical de cnergia, cnquanto a circulagdo secundaria contribui para acelerar as trocas de cnergia por advecgao, realizando as trocas laterais nos sistemas considerados. ros Monteiro lamenta a falta de tradigao dos gedgrafos climatologistas em relagdio aos, esiudos do fendmeno da radiacdo. Por outro lado, a definigao dos sistemas atmosféricos est na dependéncia do desenvolvimento da metcorologia sinotica, Felizmente, esta tem se desenvolvico satisfatoriamente desde a edigdo do artigo em andlise, possibilitando uma melhor exploragao dos modelos sugeridos pelo autor, Quanto aos grificos de andlise ritmice, baseados na participacéo dos sistemas atmosféricos, 0 autor acredita que, para a unidade didria de andlise, ndo ¢ desejavel fragmentar em demasia a caracterizagao dos sistemas atmosféricos. Porém, esta possibilidade ficou em aberto para futuras investigagies. Osubtitulo “achegas para um programa de trabalho” tem significado pritico, jd que 0 autor oferece subsidios para encaminhamentos futuros em trés dreas de aplicagdo dos resultados da andlise ritmica, extrapolando a simples A climatologia dinamica a perspectiva da analsertmica, Axtonio Giacomin Rebesro aplicagao do paradigma as classificagdes climaticas. Para MONTEIRO, os problemas de natureza ecologica relacionados com aevalugio das vertentes tropicais, com a dinamica do escoamento pluvial ¢ fluvial e com a dinamica’ da gua no solo, através do balango hidrico, constituem-se em campo privilegiado para a aplicagdo da andlise ritmica. Outro setor de interesse seria a aplicago para o entendimento de problemas rurais, os mais diretamente envolvidos com a estruturagio do calendirio agricola e a produtividade das culturas Problemas urhanos envolvendo a poluigao atmosférica também fazem parte das preoeupagdes do autor, no sentido da aplicabilidade da analise ritmica em climatologia, ‘Centralizande em wna preocupacde com o ritmo, tomado como esséncia do fato climatico, ele se diversifiea sob varios angulos do prisma geografico” (p.19). Com esta declaragio Monteiro finaliza ceu artigo ¢ fa2 uma espécie de proclamagao, convidando, a quantos tiverem interesse, para a construc2o de uma climatoloyia brasileira, no sentido de “wma coniribuicdo que. partindo de principios universais, deve se expressar om lermos de imvestigacao caleada na yivencia de una realidade bestante original @ com técnicas adequadas”. Finalmente, ¢ oportuno ¢ justo considerar, ainda, que a proposta paradigmitica da andlise ritmica foi elaborada e aplicada a partir dos conhecimentos da circulagao atmosférica no Brasil. F, assim sendo, no se pode deixar de considerar a produgio cientifica do meteorologista Adalberto Serra. Suas contribuigdes, as vezes em cooperacio com Leandro Ratisbonna, so inestimaveis para a metcorologia ¢ para a climatologia brasileiras. Dos seus numerosissimos trabalhos merecem destaque pelo menos trés: “As messas de ar na América do Sul”, “As ondas de frio da Bacia Amavoniea” “Circulagao Superior’ os dois primeiros publicados no inicio dos anos 40 e 0 tereciro nes anos 50, “As massas de ar na América do Sul” trata das regides de origem, das caracteristicas ¢ propriedades das massas de are das frentes polares que agem no continente. “As ondas de frio na Bacia Amazonica” focaliza com muita propriedade as frentes polares nas suas trés trajetérias pela América do Sul, particularmente no Brasil, enfatizando aquelas que chegam até a Amazénia, onde provocam o fendmeno da friagem. Os ‘autores optaram pela andlise de trés episddios neste artigo, Outracontribuicdo indispensavel & “Circulagao Superior”, minuciosa analise da circulagdo atmosférica publicada em dois alentados artigos da Revista Brasileira de Geografia. ode Serra no &, neste momento, objeto de uma revisdo. Contudo, ¢ importante destacar que sem estas irés obras mencionadas nfo seria possivel 6 desenvolvimento da climatologia dindmica no Brasil na sua concenedo de analise ritmica. Se Sorre ¢ Pédclaborde forneceram as bases tedrico-metodolégicas, Serra e Ratishonna constmuiram as bases conceituais meteorolégicas, alias, fato reconhecido pelo proprio Monteiro. Muito vasta ¢ minuciosa, a produ ‘Comentarios ¢ concludes A aplivagdo do paradigina da andlise ritmica em climatologia revelou-se frutifera para a climacologia brasileira, gerando mais de tres dezenas de trabalhos de pesquisa original, principalmente aqueles associados ao Laboratorio de Climatologia do Instituto de Geografia da USP. Por outro lado, sucessivas avaliaedes foram empreendidas pelo prof. Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, com destaque Sociedade Neturcan, Oh Sa, (2 (24) A762, jul dee 2006 A cumatologia dinamnica na perspectiva da analise ritmica, tonto Gitacomin Hibwira para sua ‘Tese de Livre Docéncia e para o livro “Clima ¢ Excepcionalismo”, publicado cm 1991, com a intengio de realizar um “balango final” em suas atividades relacionadas com a naivlogia e coma geografia. Uma analise do desenvolvimento, progresso e perspectiva da climatologia geografica brasileira sob o enfoque dinamico, assoviado ao paradigma da anilise rftmiea, foi realizado por ZAVATINI (1992.e 1996), quando reconhece aimportancia tedrica e metodolégica deste paradigma, mas Jamenta a caréncia de estudos consequentes gerados pela climatologia geogréfica nacional no intento da solugdo de problemas selativos a organizagao do espago nacional, na trilha da andlise ritmica, Embora seja por demais arriscado elaborar uma critica a uma proposta tio amplae ue ja foi exaustivamemte revisitada pelo proprio autor, vale a pena tecer algumas consideragécs. Em primeiro lugar, aponta-se as dificuldades na utilizagio do paradigma da anilise ritmica para a elaborago cartogrifica de classificagdes climaticas. MONTEIRO (1973), quando da elaboracdio do “Atlas das chuvas” do Estado de Séo Paulo, apos exaustivo process manual de tabulagao, ordenacao anilise de dados sinéticos e de superficie, terminou por propor uma espacializaao do clima através de indices de participagdo dos sistemas atmoaféricos. Na oportunidade, os limites entre Os principais tipos apresentaram lacunas ¢ taixas: transicionais que podem comprometer a aplicabilidade do considerado. Enfim, a representagao espacial dos clementos da andlise ritmica ainda ¢ um sistema taxondmico problema a ser equacionado. A questo que se coloca éa seguinte: até que ponto a representagio cartogrifica da Sociedade & Naturezs, Uberlandia 1 24): 47-02, jaldez, 2000 58 espacializago da atuagdo des sistemas atmosléricos é um instrumento efieaz, diante da possibilidade mais conereta ¢ objetiva de mapear as respostas geradas nos diferentes, lugares da superficie da ‘Terra? Neste sentido, importante encaminhamento foi dado por SANT’ANNA NETO (1990), que propde a sspacial que construgao de um painel témporo- permite a visualizagio simultanea da distribui do fendmeno climatico no espago geografico e sua variag@y temporal, Embora este seja um caminho promissor, a representagio espacial dos elementos da andlise ritmica continua apresentando dificuldades que poderao ser equocionadas através de pesquisas que visem novas solugdes para 0 paradigma da andlise ritmica. O emprego de técnicas da informatica pode facilitar a manipulagao da grande quantidade de dados envolvida na elaboragao t8mporo-espacial requerida pelos preceitos da . ZAVATINI (1983 © 1990) apresenta interes: auxilio da modelagem estatistica amplia a espacializagao genética do clima do Estado de ‘SA Paulo para o vizinho Estado de Mato Grosso do Sul (ZAVATINI, 1990), andlise ritmic: intes contribuigdes e com o A abordagem diria para a determinagao das seqdéncias de tipos de tempo induziu a utilizagdo dos anos-padrio, para que situagdes significativas, normais ou extremas, pudessem seranalisadas. A escolha do ano-padrao foi feita, inicialmente, através de eritsrios perceptivos, buscando a sua repercussiio na organizagio do espago geografico. Posteriormente, muitos autores passaram a utilizar critérios estatisticos, para sua definigio, como propte TAVAR| (1976). Seria interessante, agora, o emprego de um critério misto, que ndo desprezasse os pardmetros estatisticos, mas que estes calibrados segundo os objetivos desejados na A climatologiadindonica na porspeciiva da andlise rtmien, Antonia Giacomint Rabetro aplicagdo do estuda. Por exemplo, 0 “ano seco’ tem um significado para os propdsitos da agricultura que nao seri, necessariamente, o ‘mesmo para o sistema de geragio hidrelétrica, pois 0 que estd em jogo ndo so os totais quantitatives de chuvas, mas sim a sua distribuigio temporal, interferente, de modo diferenciado, no calendario das atividades agricolas e nas operagses dos reservatérios das usinas hidrelétricas. Monteiro sempre insistiuna necessidade de uma abordagem energética dos sistemas atmosféricos e, por outro lado, em varias oportunidades lamentou 0 desinteresse dos pesquisadores em aprofundar o tema. Apenas uma pesquisa foi realizada nesse sentido. limitada & andlise de um ano e a locelidade de Presidente Prudente - SP, utilizando-se do metodo de estimativa do balango de energia que, alias, na escala didtia, “mostrou-se eficiente critério para a diferenciagdo dos principais tipas de tempo" (TARIFA& MONTEIRO, 1972). Novas pesquisas devem ser conduzidas neste sentido, pois ¢ de fundamental imporvéncia @ determinagao do saldo energético no interior de cada sistema amosférico, em interago com as diferentes feigdes da paisagem, para adelinicaa dos riumos biolégicos das comunidades vivas que compéem os diferentes ecossistemas. Retomar a nogdo de ritmo implica na discussio do termo habitual, que traz implicitamemte, a idéia de sucessito de estados médios, Para confirmar esta expectativa, temos © oposto, ou seja, as arritmias. Estas sao representadas pela ocorréncia de estados raros, pouco provaveis na sueesstio habitual dos estados médias, isto ¢, do ritmo. Por isso. representam estados para os quais a sociedade © a natureza no possuem defesas satisfatoriamente desenvolvidas, o que significa, durante asua ocorréncia, um desastre ou um azar, conforme a literatura de lingua inglesa, um “haserd’. Seria suficiente um paradigma caleado fio habitual de estados atmosféricos para incluir no sew universo portanto, fora na analise de suc aralitico os estados nio habituai do ritmo? Na base da concepgio de Sore esta a possibilidade de agregar o conhecimento sobre 0 comportamento atmosfético Aquele dos seres, vivos, conforme menciona em sua quarts regra. Numa perspectiva mais ampla, esta oportunidade se estende andlise das paisagens, através da abordagem geossistémica, como pode-se observar. em BEROUTCHACHVILI & BERTRAND, 1976. ‘0 geossistema designa um geogrifico nanural homoganeo axsociado a sistema um territério, Ble se caracte por waa morfologia, isio ¢ pelas esiruturas espaciais verticals (os geohorizonses) € hortontais (os geoficeis), um fancionamento, gue engloba 2 conjunto de iransformagées dependentes de energia solar & gravitacional, dos victos da agua, dos movimentos das massac de ar & da geomorfogenese: um comportamento especifico, isto 6, para as mudangas de estado que intervim no geossistema em uma sogiiéneia temporal” A integragao do comportamento almostérico aos demais elementos da paisagem, configurando um conjunto (geossistema) dinamicamente estruturado pode ser compreendida. com éxito, através da utilizagao do paradigma da andlise ritmica, abordando, reciprocamente, a sucessdo de estados atmosféricos € a de estadus da paisagem. Este pode ser um esperangoso caminho para novas investigagdes, principalmente no momento em que se exige do profissional geégrafo uma importante participagio nos estudos de avaliagaio de impactos sécio-ambientais jufee7- 2000 3” inde & Natureva, Ueland, 12(24):4 A.climatologia dinivica na perspectiva di andlisertmiea, Anionto Giacomina Ribeiro Enfim, acredita-se que a fecundidade da proposta do paradigma da andlise ritmica em climatologia, desenvolvido a partir dos pressupostos conceituais apresentados por Sorte, esti nas possibilidades de sua aplicagdo para a compreenstio des processos proprios da natureza e das relagies entre a sociedade e a natureza. Apos cerca de 30 anos de sua proposig&io, verifica-se que existem importantes questées em aberto, a espera de encaminhamentos, o que nao invalida a esséncia de sua perspectiva, pois os pressupostos de Sorre - hase da andlise ritmica - continvam atuais. 5. Referéneias bibliograficas BARBIE B. 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