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Porque 0 conceito de substfincia nio basta para explicar 0 processo de conhecimento humano, Aristételes realiza que matéria e forma nis f Pelo que recorre as nogées complementares_de_esséncio' (@onjunto ce propriedadies pelas quais um ser se define, iste é,0 que defi © ser) © acer (@quilo que: nao pode Ser pre por si, que ndo rede excstir por si mas 50 em gufrem). Acontece porém que por sua vez, a esséncia ¢ 0 ‘consequem tudo explicor, e para ulfrapassar o problema do movimento ou iransformaciio dos seres tevontado por Heraciito e erradamente interpretado pebs sofistas, Aristételes faz nowmente recurso a dois outros principios de significativa importéncic: acto (principio do movimento, do devir..o-que uma coisa é ta actualidade) e poténcia (possibifidede que uma substéncia tem de vir a ser algo, tem acto; principio que permite a um ser mudar de actualidede). Poténcis © acto sto dois principios inerentes a qualquer substancic: enquanto o acto explica a suc existéncia presente, o que ela é: a poténcia explica o que ela ainda niio €, mas pode vir a ser. As nocies de poténcia e acto permitem-nos diferenciar @ substéncia da os _conceitos sio ideins gerais e abstractes. Visto que o acidente € sempre : predicado de uma substiincin 2 nif 0 contrério’ Aristételes di de acidentes, que juntamente com ¢ substéncia, constifuem os dez Sestado (Sécrates é pobre) quantidade (Sécrates mede 1m75)*makdade {Sécrates é Fildsofo) Aacciio (Sécrates digloga com Gérgias), paixiio (Sécrates é julgado), (Sécrates é mestre de Plaiéo); lugar (Sécrates esta na Agora); (Sécrates esté na Agora ao meio dia) 'posicéo (Sécrates estd de pé)“Subsbawcds. Definir um coneeite pare Aristételes, é porfanto dizer algo de uma substancia: referir-se a sua esséncia ou forms, isto é, referir-se aos atributes que Ihe convém de tal forma que, se lhe faltassem, esta néo seria o que reaknente & Mas definir uma coisa é também caracterizi-la referindo-se aos acidentes, quer dizer, aos atributos que a substéincia pode ou néio ter, sem deixar de ser o que ela é Isto é, referir-se as caiegorias incapazes de existir por si préprias, mas que individualizam a coisa, distinguindo-a das outras. . A esta concepeto metafisica, que junta matéria e forma numa sé realidade, chama Aristételes, hilemorfismo™, que. consiste.em afirmar que toda a realidade Enquanto substéncia, é constitulda por dois principi issocidveis e imanentes: a : Matéria e a forma. A forme como acto, é o principio inteligivel, a ess€ncia comum.a. «todos of individwes da mesma espécie, pela qual ose ee 9 que siio; ees > ‘matéria como poténcia, é passividade, puna possibilidade de vir a ser algo, “foeme ¢ ro easngg € o.gata ea materia enquanto logo dos acdenes éa “Eatenci Pataca @ ato expan como dois seres podem entrar em relactio: a 7 poténcia é auséncia de perfeic&o, de movimento; é incapacidade da matéria por si 36, devin, isto é, tornar-se algo. E.gacte é ao contrério da poténcia, a realizacdo do Nea préprio ser. Considerando portanto o postylade parmenideo segundo o qual o ser é idénticn ! 20 pensar, Aristételes supera as SE ee aaa do conhecimento anteriores, inmtroduzindo e conceitos de poténcia e acto, pelos quais se compreende | mutabilidade, @ mudanca, 0 acidental, o individual de um lado, = Juniveral de uma coisa, de um ser, de outro lado. pe Contrariamente ao que muitos pretendem, Aristételes nfo nega o idealismo_de : Platiio mas reafirma ao lado deste, o naturalismo, Re colar aos sentidos, uma ~ __ importGncia significatiya no complexo processo de conhecimento. Em vez de negar-: © idealismo de Platdo, Aristételes dé origem a a ‘profundo pensamento * - < experimental e naturalist Mas ele é to idealista de quem aceita a: est aT eneca esas te ae ee anie eto - _ Sente-se solicitado por duas tend@ncias opostas; tga “ = leva a crer que as coisas sensiveis individuais, no_seu inconsistente fluxo, nia: ogem constitu a axe verdadeire objecta da conhecimento. | A positivista e empirica, que de outro, o leva a ver nas coisas o auténtico da realidad eo io object deste conhecneia Para Arist@elx canst u! portanto rincipios bdsicos mundo, néo as ic trascendent , mas mas sim as coisas _contingentes_e mu Beet ie 0 verdadeira = conhecimento, porque este no assenta nos sentidos, que sé mas tem como fundamento o verdadeiro se Ser, a essén¢ a ae diz que o conhecimento sé é possivel através dos obj ie nos permitem pela razdio, apreender a esséncia das coisas. a Be se ii iz 2 fase & ae duce 7 huis Cabral de Moncads: op. cit, p. 26, ~Ttlemorfismg” & uma palavra compasta por justaposigo do grego c ja Fe ‘ylé” (matéria) © “morphé” (Forma, cept), downs ave pam Avsickes, signin que odo o sr & wma = substincia nis: a mata pa fora Cane aa ‘onbecimento dos sofsis, Aristtcles quer sivetnie itor ° sue ta ue quer ifirmar que, ig SE pussivel quando tem 62 i ee Tw n+ 120 Acpnec eee Ora a esséncia ¢ uma Tdeia universal, capaz de aplicar-se d multitude de seres ou coisas © Aristételes para superar o dualismo ideia e objecto real, afirma que-a esséncia das coisas ndo esti fora, mas estd nelas mesmas, em poténcia: quando, ssa esséncia ganha actualidade, torna-se acto™. através de uma formé 5 isto é, constitui uma unidede no objecto que é simuttaneamente matéria «forme. Ao combinar as tendéncias especulativa e empirica, o¢ Ideias platénicas passam a chamar-se em Aristételes, forms (aquile que faz com que o ser exista) e conceita (aquilo que uma forma pretende significar oo materializar-se), os quais seriam incompreensiveis sem os acidentes (aquilo que ndo subsiste em si, mas em outrem € individualiza o ser). Portanto na teoria de coe eee Ane ete een partir do objecto singular afirmar seja o que for sobre a esséncia isas, que esta Slentrs ds meshos: Aviehtlas'desenvohieaa' Galen’ bevel partir da distingtio r rng ia a esséncia $6 existe pela possibilidade (poténcia), enquanto pela forma tal possibilidade se_torna acto, realidade (energeia). Movimento e transformag&o sto por isso mudangas constantes na relacdo entre matéria e forma, perceptiveis pelos acidentes, que sido; aquilo que os nossos sentidos captam por ilusdo. ff Quanto a problemética juridico-politica do direito e Estado, Aristételes coloca de inicio uma das questées fundamentais:"como devemos viver? O objective desta interrogactio é esclarecer a forma de prossecucio da “eudaimonia, isto €, da felicidade*O Estado € para Aristételes, uma sociedade autdrquica e auténoma de seres iquais, cujo objective é alcancar a felicidade"Concorda com Plato, que para “0 Estado conseguir realizar plenamente.o-seu verdadeiro objectivo, que é alegncar. o_bem ci ‘tanto a extrema como a ri desmedida devem evitadas. Embora elitista quanto o mestre,Aristételes ndo defende porém um Estado ideal, pelo que advoga a atribuictio da_maior parte dos direitos a classe es seres, é 0 raztip, que corresponde. Sempre a uma actividade determinada por um pelo pensamento, na vida intelectual e teorética. Se o homem é um ser racional, 0 seu fim sé pode residir na sua esséncia, que é precisamente buscar a sua realizacéo, a “eudgimonia", lade. Como a raztio é medida exacta, proporcdo, harmonia, daf_que como virtude, _£ssa_seja um meio-termo entre as vdrias tendéncias da natureza humana e estd na base de todas as ite ee fo Dom Quisote. 1991, pp 19-3 WB te 63 VS vis tudes Ebi : eel “ours sao spade vou o = & ema Faced. 2a We cowl muds < mag, ie Entre tos wrtes danoitics, Aritéees dstinge JUSTIGA, qe constitui o contetido das leis, dividindo-a em justica distributive*, que é aquela do Esfade nas suas laces com os aibtos © que Se exrime no Formule: ea eada un em base d qual se repartem os bens ¢ as honrarias publicas. principio de justica, p {ustica Entre as obras mois importantes de Aristételes, destacamos a “Palitica”, que _trata das relacdes entre o individuo e o Estado, considerando o homem como. qi animal plfice ou ser naturalnente socal e.a “Sten a Nicmaco", que trata da filosofia da acgao e da axiologia aristotélicas. & Especialmente em a “Politica”, Aristételes considera que o. » Eg te cheat natureza @ ndio do arbitrio dos homens, jé que sé no Estado, na convivencia com-os: seus semelhantes, 0 homem ati desenvolvimento completo; forma da existénci constitui uma auténtica realidade para além ~¥ida do individuo, que $6 nele e por ele existe. O Estado é um todo em relaciio ao. individuo na esfera da ¢ metafisicamente, antes & individual ‘det i verdadeiro ser substancial. ), também para Annee 36 os deuses ou os brustos podem viver fora da sociedade, jé que o télos ou fim u fim shtimne dor), akon, on estd verdadeiramente subordinado ao Esti NB. atoag saul voheettel Elsa aR evawein jucteien. Eber ¢ Bubore, etre aetniiecrenn hia _ © tend da cssdnciae otis do bone dt ap eins AG ae fey Sea erregede hut asmmocbvidae, qa ibentinady po i PuTeh > duglio ey te foci ficdede escomeil pensar vo 7 ar | EE GRRE ot oe al etme Heed € pr ioe, =i, a ron hoemaenia, Lo at sf wate a ie Bialncns ‘hk fete icoataieb, es ese sa vas “leg Akackr: op. Git. 202 Pra Sto Toms di Kein, por exp, ‘na realidade & proporcionalidade ‘da justica comutativa ¢ igualdade, emtendida como Bis Began — cwasbhae culate des by Cr oe c olde ihe ‘S6 no Estado 0 homem cons uma plena realizacdo da sua natureza e nao . tem outro fim que néo seja o “alpronavir a actualizagaio ou plena realizaciio do homem total, e conservé-la. A comunidade como um todo, no se resolve na ideia de mero somatério das partes ou elementos constituintes. Contrariamente a Platao porém, Aristételes. ndo apresenta um Estado ideal, prefere a fria Se en can enquanto $6 via dentro e absixo do Estado os sfaristételes considera outros organismos sociais “intermédios como a fami, 4s municipalidades e as cidades. Mas as concepedes do Estado em Platéo e Aristételes ndo divergem essencialmente, porque ambas exprimem a concepcio helenistica do homem e a mesma ideia de fim racional deste; ambas sdo autoritdrias, aristocrdticas e totalitdrias. fe Tanto em Platdo como em Aristételes, o individuo é do Estado e sé no Estado se pode realizar; néo hé para o Estagirita, como ndo havia para Platdo“uma perfeita * moralidade fora do Estado, cuja finalidade especifica abrange também a educactio a @ a formagiio moral do iduo- Em ambos ndo existem os chamados direitos da ‘ | “pessaa_humang” € menos, uma liberdade individual, como elemento limitador da ne | aceio politica do Estado: i, para o alcance da sua fe! es | de_soberenie, Conarmu" “oloassui ‘ ce pe que todos sto bons e Jegitimos. \e Se portente Cty fl im idedlogo de tendéncia refarmadaro, Aristételes 4 um tegrico.mais pura e um-sociglogo das coisas piiblicas, mas em relactio ao dineito a € ao Estado, ndo hd grande e significativa diferenca entre Platto e Aristételes:os ih ibis Pertenciam & mesma sociedade cultural e viviam uma mesma sttuacio histérica, i recusa a comunhdo de bens e de mulheres defendida por ee a © jntroduz a divistio de ngderes’(legislativo, executivo e judiciério), a figica verdadeira_ruptura_com Platdo reside no facto do pr renunciado a nenhuma das duas tendéncias mas combinou-as, Assim as Tdeias de Platto deixam de existi Aristételes, separadas das coisas num mundo trascendente e inalterdvel, passando a viver no interior das mesmas realidades Sensiveis (iman€ncia). Mas_ambos explicam a fundamental identidade das suas, concepedes acerca do homem, da sua | ora do 3 sisi e do Estado considerando que 0 direito e o Estado mais d durtos naturais pelos quais o homem aleanga'9 completo Pera Miers ea Sua natureza, buscando a realizagtio da sua *i 3 _RESUMINDO A ANTIGUIDADE GREGA 1.)Para os pré-socrdticos, preocupados em encontrar a :* ou principio que _ - funda’ o universo, oposicao entre lei da i social ( "nomos”). Q. cosmos como “Logos”, é Re ee Gar ae ca eet eo de maneit inde i do universo, dando assim lugar “Sa. cnet. = no do direito, ao jusnaturalismo cosmolégico. Go movimento sofistico aparece em resposta a democracia ateniense, muito Sefstas ligado 4 discussiio de interesses comunitérios, discursos e elocucbes pilblicas, a 315 squs. we manifestacio e deli em audiéncias politicas, ao canvencimento dos pares: a ao alcance da notoriedade no espaco da. praca publica, @ demonstracto pelo {01 'M ots raciocinio dos ardis do homem em interaccio social, suscitando a formagiio de especialistas na arte do discurso: «o grande servico dos sofistas foi voltar a ,, cxmoy filosofia para o estudo do homem, considerado, quer coma ser individual, quer como for ok ser social. Os sofistas sto importantes por ter relevado a técnica para a dominagdo 25.7: do discurso assemblear e pela rediscusstio da dimenstio do homem como ponto de ae te + partida para as especulagdes»™. are Os sofistas stio na verdade os primeiros pensadores a colocar 0 homem no. a centro das preocupacées filoséficas: com eles surge verdadeiramente falando, uma ee B filosofia do direito e do Estado. Mas ao tomar exclusivamente os sentidos como Jetrinyabch fonte tinica de conhecimento, relativizam a ciéncia, a verdade e 2,justo_em gi ote rindo-se_a_um direite natural assente_na_oposicto_c natureza (physis)_e (nomos). Desta observacéo resulta que face. a, imutabilidade das leis da natureza, ressalta a contingéncia das leis humanas ou positivas: daf concluem os sofistas que a justica é apenas a conveniéncia do mais forte e a lei humana é uma criacio arbitréria” Defendem ainda que a natureza néo é regida pela *isonomi 4 Isto é, a tinica lei realmente valida e respeitdvel para os sofistas é aquela da natureza, Mas a natureza fez os homens desiguais (fortes e fracos, dominadores & ¢dominados; senhores e escravos).” E sempre que o Estado impée_a_lei_humanay perante a lei natural, corrompe e viola o direi da natureza, e qualquer tentativa y“ de igualizar os homens perante a lei positiva, plesmente uma arbitrariedade. Assim sendo, a jus pura convencio e criacéo humana, sem.fundamento na lida do justo (ser forte, aristocrata, explorador, senhor fraco, explorado, escravo e dominado). aoe wef za 9 Bates o- ao tle Ie op il. pp. $0. CF notas de rodaps a. ee t~t”t~— A lei humana € portanto para os sofistas, uma limitagdo artificial: um wel instrumento de suporte de situages anti-naturais, jé que o direito da natyreza é ; corrompido sempre que o Estado impde a igualdade perante a lei e o direito. Aleié vista como puro instrumento de presstéo dos mais poderosos sobre os mais fracos (Trasimaco), ou dos mais fracos sobre os poderosos (Cilicles). i i lize ica 1 Ihe 0 elemento ético, estabelecendo a ligacdo entre lei humana e a e objec tividade dos princfpios da razdoEm vez de ra {physi} ao [romos) ‘ Sécrates faz coincidir a legalidade com a justica, afirmando que o que é justo € - legal_e o que legal é justo. As leis humanas (direito positivo) ndo silo para i Sécrates, entidades contingentes ao servico de interesses dominantes, mas fiel re ‘traduc&o da justica e de uma axiologia que se impde a0 homem como realidade i superior e objectiva. Os. elementos essenciais desta realidade sdo inteligiveis ime através da actividade intelectiva da razio. I Quanto @ justica, Sécrates parte do principio que é preferivel sofrer a = injustica a cometé-la e, no caso de té-la cometido, preferivel é expid-la. safrendo- ie {eis positivas e partilham de seu cardcter lo. Sécrates é tGo importante na histéria da filosofia, que tentar . Porque como diz Sécrates a Glasco em”A Repiblica’, se & administracio dos negécios piiblicos vém ter os pobres e évides de beneficies pessoais, movides pela ideia de enriquecimento, o Estado niio poderd ser bem governado, pois o poder seré objecto de rivalidades © a querra fratricida e intestina que eclodird entre eles os perderd tanto a eles mesmas quanto a todo o Estado. Os que governam nilio devem Ser amantes do poder, porque-se o forem, a rivalidade faré com que brotem dissidéncias entre os pretendentess” 5, Aristételes € tembém tio adversirio dos sofistas quanto Platéo eo ponto de partida da sua reflexio é 0 mesmo do Mestre. Ele reconhece como Platae que as. goisas correspondem no seu ser a algo que acta como modelo des mesmas, mas a iguais, entdo a justica € 0 que garante o principio ‘iqualdade; apodera da parte que the cabe, é 0 i Le Politicamente o modelo aristotélico de sociedade é — constituldo fu dois elementos: « familia e o individuo. A familia é © micleo de todas as formas sociais posteriores, onde predomina a autoridade paternal - Sobre 0 escravo, que pelo seu desenvolvimento dd lugar oo Estado (Pélis), sociedade: i ‘organizada.’ procura desenvolver a sua natureza, enquanto 0 Estado € uma comunicade de cidadaos iquais, orientada para a obtenciio da felicidade, como Bem comm. Justo por lei, que se baseia na equidade, a permite a adequaciio e adaptabilidade da justicn a cada caso = —Sanidede-que para Aristételes, humaniza o direita na hase da justica, e divide-se em distributiva (quando regula as relacies entre o Estado e seus componentes) € Feds oe Gis em comutativa (quae colabora mela judicial (quando € imposta com a i fio des aatoridades Judiciais). Negor a infiuéncie ia do aristotelismo ates o a ocidental equivaleria a dizer que.a histéria dos ciéncias comegou apems no se isto sendo me se) ft c i: Boge bt for) 12° a IT. CRISTIANISMO E IDADE MEDIA é ( O naseimente da Tema Cristoleonstitu historicamente.a maior revolt de. = todos os tempos. Como facto religioso, 0 Cristianismo criow uma nova situagdo : espiritual para a cultura do Ocidente, que ndo tem paralelo na histéria; constitui a a imaior viragem ocorrida desde o despertar do pensamento especulativo dos gregos. = Este grande facto religioso teve a sua «situacdo histérica» unica bem marcada e encontrou os seus antecedentes bem determindveis, nao sé nas melhores tradigdes = do profetismo hebraico, como no ambiente do mundo helenistico e no sincretismo de formas de vida, de pensamento e de civilizaco, orientais ¢ ocidentais. O Cristianismo que tem em Jesus Cristo asua personagem central, “Mesias” da ~ —_profecia_biblica e “Logos” encarnado da especulacto metafisica dos gregos e alexandrinos, esté, enquanto facto histérico, culturalmente condicionado, e no menos condicionou a cultura ulterior dos povos da Europa desde o mundo romano até aos nossos dias®. * A época mais marcante e absorvente do Cristianismo na cultura europeia, ~ — chama-se Tdade Média e a filosofia que constituiu a sua mais alta expressio, chamou-se Escoldstica®. A filosofia medieval ou escoldstica é uma conciliagéo da. raziio e £4, da filosofia e teologia: as suas principais probleméticas assentam na questéo da relactio entre fé e saber e a consequente tentativa de superar a na tentativa crescente de conciliar Aristételes com as concepcées cristas, A filosofia cristd é a filosofia construlda, vivida e essencialmente realizada, como Pensamento, pelo homem cristdo, que na Idade Média tem na querela dos universais, um dos seus problemas centrais, ao pér a questtio de saber se aos termos gerais corresponde uma realidade prépria ou se sto apenas o resultado do = Pensamento e da lingua. Mas como passou 0 Cristianismo de um facto inicialmente religioso, a um complicado “facto teorético", a uma filosofia que néo tardou a t inserir-se na histéria do pensamento europeu como um grandioso conjunto de solugdes racionais, de ordem tesrica e prdtica, dadas aos mais prementes ito humano? © Cristianismo surgiu com um pequeno numero de doutrinas filosdficas, mas com um grande nimero de ideias morais e religiosas; ao encontrar-se com a Filosofia grega e helenistica, viu-se na necessidade de sustentar com ela uma grande uta: ou rejeitdé-la por completo ou ento aproveitar e assimild-la para se robustecer com ela. A uma dada altura, tornou-se portanto necessério o Cristianismo definir muitas das suas posigées filoséficas e teolégicas, dando lugar @ conceitos e ideias novos, antes desconhecidos dos europeus. Entre as vérias ideias ¢ nepresentacdes, que surgem com o Cristianismo e influenciam a vistio do mundo” greco-romana, hd a destacar acima de tudo: a crenca num Deus pessoal, Pai Todo-poderoso: criador do mundo "ex nihilo", Providéncia inteligente e activa cuja vontade é simultaneamente lei e norma para todos os seres. A crenca na existéncia de uma alma individual absokstamente livre, criada & imagem e semelhanca de Deus mantendo com Ele as relacdes de pai e filho, como entre um tu e um eu: a ideia de um "pecado original" como destacamento do homem da vontade divina. A redenciio do homem por Cristo, encarnactio do "Logos" e segunda pessoa de um Deus Trino; a construc de uma histéria universal e de uma filosofia da histéria, cujos momentos césmicos capitais, sto a criagiio do mundo e do homem, a queda deste, a redenciio e 0 juizo final na consumacio dos séculos”. Logo no inicio do Cristianismo, hé com Sto Paulo, um reconhecimento da esfera politica da vida, Jd que a comunidade e © Estado foram criados por Deus, nao havendo poder que niio vera Dele. Sendo assim, é obrigacdo de consciéncia os cristdos obedecer-Ihes € rezar por eles, jd que todo aquele que resiste ao Estado opde-se a ordenactio de Deus,.A sociedade deve portanto realizar como a Igreja, o ideal de uma perfeita imagem do corpo de Cristo, como organismo dentro do qual, o todo e as partes so uma unidade na multiplicidade, a partir da interioridade do *homem novo". Depois de Sao Paulo, o direito natural torna-se teocéntrico e com o tempo, surge a desvalorizactio do politico", em detrimento do religioso. Quer dizer que depois de Sio Paulo, o direito natural dos gregos passa a identificar-se para os cristéos, com a vontade de Deus; a justica vista na Antiguidade como méxima virtude no homem e no Estado, transforma-se numa relaciio viva e existencial entre o homem © Deus. Em matéria de filosofia juridica, passa a predominar uma concepctio negativa do Estado e o homem é visto como tendo uma natureza sujeita a0 pecado e ao descontrole das paixdes, Desta vistio ‘antropolégica, surgem dues ideias dominantes que servirdo de base 4s construcées universalistas do Pensamento juridico-politico cristaio: 0 agostinianismo e o tomismo. Se jd em S. Paulo 0 direito e o Estado sto vistos como manifestacéo duma lei natural e da vontade de Deus, na Patristica a Igreja é entendida como uma comunidade de espirito, impla 9 no seio de uma comunidade de homens. n B.1 SANTO AGOSTINHO (350-430 de) Para apresentar o pensamento de um grande filésofo, diz Chatelet, o melhor Processo é escolher uma ideia mestra, em torno da qual tudo, ou quase tudo, se ‘organiza®*. No caso de Aurélio Agostinho, para melhor sifuar o seu pensamento, vamos fazer uma breve retrospectiva do momento histérico que o torna possivel. Ultrapassadas as crises dos primeiros séculos, por votta do séaulo TV d.C, noves problemas e nova situagio histérica se apresentavam para o Cristianismo, que tinha de prover as suas miltiplas necessidades, de organizaciio politica e juridica interna e ds da disciplina das suns priprias relages com o Estado. Uma nova situaciio histérica concreta fazia enriquecer 0 dogma cristae e dave-the projeccies novas, de indole politica, que permitia o alargamento das primitivas concepcées da Igreja acerca do direito e do Estado. Eo maior jusfilésofo da Ioreja, até ao século XII e toda a filosofia cristt do direito e do Estado até a Tdade Média foi por ele inspirada. O maior problema que. se colocava aos intelectuais do Tempo de Santo Agostinho, era de suber em que _ medida o Cristianismo devia ser considerodo responsive! pelo descalabro do Estado romano e do mundo antigo. Fortemente influenciado por Platiio de um lado © pelo neoplatonismo plotiniano de outro, para responder a esta preocupacio, Santo _ ‘Agostinho recupera 0 conceito de “ideia” de Plato mas considera-o em relacii.a_ ™ glace diima, Porque na rend, ‘Santo Agostinho acredita como Platiio, que as Deus ¢c partir dos quais criou as coisas. imitans © ee. ele retira a ideia segundo a qual toda a existéncia tem origem divina. Considerando 0 Cristianismo como fonte da verdade, ‘S&i Agostinho é do ponto de vista que raziio e fé séo insepardveis, j6 que a razfio gsté na fé e na fé repousa a raziio: Conhecimento € € percorrem o mesmo caminho comum para Deus: «a fé passard, mas a inteligéncia subsistird eternamente. Prolongada pela razfo, a fé € também preparada pela raziio. Nao se sabe tudo 0 que_ ‘se cré, mas cré-se em tudo o que se sabes”. [tere ire le a ~ © 0 principio de justiga reside segundo Santo Agostinho, na vontade divina € Justo é 0 que Deus quer porque o quer. A justica exprime-se assim num complexo de preceitos e imperativos, emanados de Deus, que o homem deve observar para merecer a -salvacto eterna. Santo inho foi. primeiro pensador cristtio a construir_ uma doutrina_geral assente em dois conceitos bisicos que bre sto dé-direito e de que sua concepciio de Estado = condicionam_sobremaneira a sua vi: 3 é devedora: Deus™, concebido eminentementeé como vontade e o “pecado original”, _ que lhe permite fazer uma leitura muito pessimista da condic#o humana. Segundo o bispo africano, 0 original atingiu o homem até a sua substéincia, condi¢do, aquele a quem Deus, — portanto Deus como emi desnaturagio da subsfancia humana, Santo Agostinho distingue 3 tipos de lei hierarquicamente estruturadas: i" a) A Lei Berna, que surge conexada com a ideia de “creatio ex rihilo", é divina, porquanto referida a Deus como sua razio, imutdvel (porque exercida sein = condigdes temporais para a sua execucio) e universal (porque sendo imutével, é - absoluta, perfeita, infalivel, infinit boa e justa; a tudo ordena); é expressiio -: da_vontade de Deus. A_lei eferna’ é cogndscivel através da Jei_naturel, mas» incompreensivel para o homem: a «lei eterna, enquanto vontade de Deus, prescreve ~~ a.conserva ordem natural e profbe a sua perturbacio». E a fonte ditima da = _ lei humana, por intermediaciio da'Yei natural. “ b) A Lei natural, como reflexo da lei eterna, é a transcricdo da vontade divina. it no_coracto do homem: A lei natural € imutdvel, permanente e universal como a lei=-~ eterna e serve de inspiractio & lei humana ou positive. A lei natural é o elemento « intermédio entre a lei eterna ea lei positiva, de criagdéo humana fa ¢) A Lei humana ou positiva é uma criacdo do homem, que como conjunto de yA normas, serve para regular as relacées “inter_homines". Contrariamente as leis eterna e natural, a lei_positiva é por _esséncia mutdvel, temporal _e imperfeita; = sujeita a desvios e incorrecciio, que derivam directamente das imperfeicées e da pobreza de espirito humanas. Encontra a sua tiltima fundamentacéo na_tei eterna, = através da mediaciio da lei natural. E de notar que para Santo Agostinho, sé uma lei positiva inspirada na | iderada paradigma da lei natural, constituir- = 4 em verdadeiro direito. Outra nota de realce na doutrina juridico-polftica = Francois Chatelet; op. cit, p. 224. O methor meio de comproendr seste Deus, upee mprecnier seste Deus.supremo que se conhece nfo 0 cones. 6 procrtar peel «a nc¢30 ie Das, qe cansise cm ser oq ee B80 & Porque nifo é nada do que se pode imasinar desde a base ao cimo da cringion. 14 Desta teoria do direito e do Estado de Santo Agostinho, decorrem portanto duas interpretacies: de um lado, o direito é visto como fundamenté is imazia je 9 Estado“j6 que a Igreja é depositdria na histéria, das Verdades_e princpios do Cristianisno e tnica Sesedal peace peer oe deve dar moralmente, E de outro lado hd minimizaco do pape! do Estado em a 1, criando.a conviccdo que esta é apenas in instrumento essencl 0 plano divi i fi real els iB Ea 2 Pp \. criado e querido por Deus”. Em matéria de direito e Estado portanto, o pensamento de Santo Agostinho representa o ponto mais alto, na cristianizacto do helenismo..———_-___ ~ Com finhO, © conceito de Igreja “corpus mysticum” de Cristo, dé lugar ao de Igreja instituigo, que aspira a um dominio universal, sendo assim impossivel evitar a superveniéncia das lutas entre Igreja e Estado. Mas a excessiva trascendentalizacdo do direito e sua redugio ao “momento” voluntarista da natuneza humana, por virtude do dogma do «pecado original», conduziram em Agostinho, a uma subestimaciio desta,mesma natureza e da vida da sua imanéncia. Outra observaciio que se impde é.que ém Santo Agostinho, os conceitos de “Civitas Dei" © Igreja nem-sempre ndem a grandezas homogéneas, como pode as vezes parecer: ‘considera a ja como comunidade dos santos; outras vezes, como instituto de salvacio politicamente organizado, no seio do qual existem também como elementos da civitas terrena,shomens que vivem segundo ‘a carne € 0 00, corruptiveis.como os demais. A Igreja que vive no meio da “civitas terrena” & cresce lado a lado com esta, representa por isso um ideal, uma “utopia”, uma forma de vida. E qualquer teoria cristd sobre relacdes entre o Estado e a \Igreja, dio pode deixar de oscilar, em Santo Agostinho, conforme o conceitd de Igreja tomado em consideracio, entre a realidade supra-sensivel e a realidade sensivel, histérica®. WM b rudy Aba 2 bal * Fm verdde 0 que Santo Agostinho quer dizer & que scndo tudo quanto existe no universo, una eriagSo (directa. ‘on indirecta) de Dens, 0 Estado enquanio eséncia met também foi por Ele criado. como alisis qualquer ser. De mangira que mesino sem © pecado original, ado por © homens em comum». Na ade. no existe m Estido concrete, que como Jhomens pecalores skio enfermc cm si os efeitos do pecado original que anulow no homent, a grag iano iniciais com Deus. x ts Cabral de Moncada: op. cil. pp. 64-65. CTnota de rodapé 15 B.2 SAO TOMAS DE AQUINO (1225-1274) As conviceées filoséficas e politicas de Sto Tomds de Aquino sto fortemente condicionadas pela sua concepcdo crista, teocéntrica, do mundo e da vida. Como “fambéin pela assimilactio e “cristianizacto" da_filosofia _aristotélica, assim como pelos elementos da nova situaciio histérica, étnica, social e politica, que caracterizam a Escoldstica nos séculos XII e XIII. Para melhor compreender sua doutrina de lei, convém enquadrar Sai Tomés no espaco e no tempo, considerando algumas des importantes condicionantes histéricas e culturais de seu pensamento. Comecemos por observar que, caido o L. do Ocidente em bdrbaros, a nica poténcia que durante quose um milénio, fica de pé no meio do goes e da confusio gerais é f Tareja Catdlicay que foi se transformando pouco a / ~ Pouco, numa it fica, social & jose, ao mesmo passa a considerar-se herdeira ¢ continuadora da ideia romans de unidodie. “# Embora conservando-se “catélica", para conseguir cristionizar os bérbaros e hovas dos povos germiinicos, entre os quis se destacam: a ideia de i - ., ii ics use inciividloo, um i es a r inerente ns Personae, soja um incviduo, um grupo Etvica Perante a necessidade sempre crescente de evangelizar os povos do Norte Sad Europa, foi se tornando cada vex mais imperiaso a Tareja assnster alguons ticaneaoe muito rapidamente surgiram entre eles, a rivalidade e o citime. i 2 4 Carles Magra porém, este sonbo da aianca entre Sacericig e Império desfex ae Luis Cabral de Moncada; op. ci. p. 69 76 Em consequéncia da evolucio histérica, cultural e social do encontro entre a cultura bérbara € o Cristianismo, que egore rivalizam com ciime reciproco, a partir de meados do séc X dC."surgem em matéria politica, duas dosrtrinas polfticas que Permanentemente se. confrontam: em matérias temporais, 05 Pontifices defendem g “teocracia papal” ou “curialismo” e pretendem, como: representantes s directos de Deus ter plenitude do poder, ncbssive ve sobre o Estado. E"por sua vez 0S BrinPes i adtogam "a.direito divino dos rei, ser os de Deus na ‘terra, com uma interferéncia cada vez marcado da tanto. a Tgreja como, Estado consideram-se os continuadores ¢ herdeires da ideia romana de uni E das hrtas entre os dois poderes temos que por um lado, a realeza foi_ = : ae umn “Cesaropapisme Tgreja em face do poder civil, no tardou em orrogar-se o direita de excomungar 05 reis e imperadores, amulando es deveres de fidelidade dos sibditos para com eles, arvorando-se em tinico juiz das: condicdes de legitimidade de todos os soberanos temporais (“teocracia papal” ou “curialismo”). Apés Santo Agostinho e com a queda do Império Romano do Ocidente, uma longa noite cai sobre o mundo cristéo ocidental e tudo o que eram letras, ciéncia, ilustracéo € cultura, entrou em profundo declinio. Todas as ciéncias necessérias Para a existéncia duma cultura de espirito desapareceram no seio da sociedade- 2ivi1,"S6 a Igreja soube oferecer algum asilo ao que conseguira salvar-se da cultura antiga, pelo que o saber refugiou-se nos mosteiros e nas escolas episcopais. Todos esses condicionalismos histéricos acrescidos 4 recepeiio de Aristételes na Europa do séc XIT, siio o ingrediente que permite o surgimento do pensamento teoligico, filoséfico, juridico e politico de Sao Tomés de Aquino, que sequindo os passos de Santo Agostinho, procura fazer uma sintese da teologia com a filosofia, reconhecendo que a teologia baseia-se na fé e a filosofia na razz. eee Dee ws sede facil dono de terras, q $= © tronsmite cos filhos ‘como heranca, juntamente com seus bens e vassales:*defende Sto Tomds que aes comets, tanto com a ajuda da Revelacio cristé, 4 luz da raziio, de maneira que teologia e filosofia sto dois caminhos Ei earles que perseguem um objectivo comum, que é a busca da verdade. Os dois métodos coexistem e influenciam-se mutuamente, porque a raziio ndo possui_ resposta para todas as questées, por haver verdades s6 inteligiveis pela | Revelagiip. esta recorre 4 razdo para fundamentar as verdades de fé. cates Tree ea ee Bhi, dryer Auer = egw : Ty Logo no infcio da sua reflexiio acerca do direito e Estado, 0 "Doctor Angélico” coloca aquela pergunta muito recorrente, desde a Antiguidade greco-romana: «é mais conveniente para a comunidede civil, estar sob um regime de leis ou de = homens»? Naturalmente que repudiando a argumentactio dos sofistas, opta pelas posicdes de Platiio Aristételes, e defende que'«é mais conveniente 0 regime das 5 [eise que dos homens®“Como fonto de partida e concepsdo fundamental que dominam todos os horizontes do seu pensamento em matéria de filosofia juridica e politica, é de destacar a diferente atitude de Sdo Tomds de Aquino perante 0 : dogma do «pecad originals e 0s seus efeitos sobre a natureza criada, nas relacies com a graca divina. - Cantrariamente a Santo Agostinho, So Tomds defende que os efeitos do pecado ndo foram tao destrutivos: “pecado original” ndo se tornou substéincia mas simples mécula para a natureza humana’®, Apesar do pecado de Addo e Eva, hd ‘ainda no homem, depois do pecado, algo de bom: uma virtude original, de, com a ajuda da graca, Ihe permitir colaborar mais activamente na obra da ‘sua = salvacdo. Para o Aquinate. portanto, os efeitos do pecado original no foram #60 destrutives, porque a graca yem apenas, completar a natureza. Por isso enquanto a visdo agostiniana do mundo é pessimista porque emerge dum passado maniquelsta €~ de uma vida desregrada, pressente a crise e 0 desabar trdgico do mundo € da civilizagdo romanos; a visto do mundo de Sto Tomds de Aquino ¢ extremamente: - = optimista porque emerge de um mundo de novas formas de vida, de um mundo em formactio, no qual jd se delineiam os elementos das novas nacionalidades europeias, origem dos Estados modernos. arses ‘A construc tomista do social se nos mostra por isso mais directamentexse- tributéria daquele pequenino desvio de atitude initial perante o problema da graca. = vontade e a inteligéncia, ou entre o bem € 0 juste. Enquanto em Santo Agostinho = _ Deus é essencialmente vontade, sendo o bem a simples manifestacio do seu querer indeterminista* em SdoTomds, Deus é antes de tudo um ser de natureza intelectual, sendo o bem a manifestacio da sua_vontade em_harmonia com essa = natureza, Seque-se que para Sao Tomas Deus ndo pode deixar de querer o bem, j que este é 0 bem. pode det o bere Deg D Sgn rosea! » ayeieal see: $i '™ Luts Cabral de Moncada; op. cit, p. 77 fi oie (F145 Mata Lats teaucs 9 ues ie creed ys ” Eduardo C.B. Bittar ¢ Guilherme Assis de: Almeida: op. cit. p. 203 B Como bom aristotélico, St Tomés vé o homem como uma substancia composta de corpo. (matéria) e alma (forma), mas o que o particulariza em meio a outros seres dotacios de alma (plantas e animais), é a faculdade intelectual. Portanto para © Aquinate, somente a razto aufere ao homem o conhecimento a partir da experiéncia sensivel das coisas; o intelecto sé constréi a conhecimento pela interacgdo com os préprios objectos de conhecimento. Em consonancia com o pensamento da época, quanto a teoria do conhecimento, que justifica a sua filosofia do direito e do Estado, Tomds de Aquino quer dizer que, embora seja a faculdade intelectual a fazer do homem um ser livre, «nada esté no intelecto q primeira néfo tenha passado pelos sentidos»>'. 2 A liberdade consiste, em Sto Tomds de Aquino, «na possibilidade do homem escolher entre,inimeros valores que se apresentam como aptos & realizaggio de um bem». Isto é, @ Jiberdade € «a.capgcidade do homem julgar aquilo que é certo e aquilo que € errado, aquilo que é justo e aquilo que € injusto». Para Sdéo Tomas de Aquino, ao lado do direito esté o Estado, e para fundar a sua ideia de direito, Partiu do conceito de “Logos” (inteligéncia divina, esséncia criadora e simultaneamente principio ordenador do mundo), como fundamento da Lei eterna e Lei natural. E tal como Santo Agostinho, também Tomés de Aquino admite na sua concepetio de direito, trés tipos de lei: a) a Lei eterna, promulgada por Deus © que tudo ordena, em tudo esté, tudo rege. A lei eterna’é uma lei divina, * intemporal e inespacial, principio e fim do todo universal, uma vez que «todo 0 conjunto-do universo-estd-submetide ao governo da raziio.divina». A lei eterna € directriz para tudo, & uma ordem j iva, regente do todo, a partir da raztio divina, que a tudo inspira. Portanto,a lei eterna é manifestagiio da raziio divina que governa o mundo, através da sua providéncia; é a expresstio mesma da razéo divina, insepardvel dela, que governa todo o universo, como fim ao qual este tende. A lei eterna caracteriza-se por ser imutdvel e universal. at »).ALei-natural é 0 fundamento de toda a concepcdo tomista de direito, segundo a qual o bem deve ser feito © o mal evitodo. & uma lei comum tanto aos racional do homem na ordem césmica, que estatui aquilo que o homem deve fazer ou deixar de fazer, segundo o principio de ordem Prdtica. Em S. Tomds de Aquino, a lei natural caracteriza-se também pela universalidade e imutabilidade, directamente cognoscivel através da razéo humana. oteed, ” 18" duardo CB, Bittar e Guilherme Assis de Almeid: op. cit. p. 194: « Restate pies P. cit. p. 193: whihil st in intellectu quod non prius frerit 79 A tendéncia de agir segundo o bem, designada pela raziio, é a forma especifica do homem participar na ordem césmica, porque é a raziio que pelos seus recursos aponta os fins a prosseguir. A lei natural é portanto a forma racional e. intelectual de participactio do homem na lei eterna, animada pela liberdade e pelo lenitivo da vontade, que caracteriza a lei natural. Fe segundo Sto Tomds de _ Aquino, por princfpios extrafdos da experiéncia,“a lei natural tem trés E uma lei racional, uma vez que é fruto da razio pritica e sinderética'™ do homem: € uma lei rudimentar, visto que sé pode servir de principio norteador ou origem do direito positivo ou humano, e néio corresponde a totalidade do direito. E também uma lei insuficiente e incompleta, porque necessita da lei humana para poder efectivar-se; isto 2, necessita de leis positivas complementares que tornem concreto 0 que reside na natureza'™, E muito importante observar que seguindo Aristételes, também Sao Tomés de Aquino distingue o justo natural (lei natural) do justo por lei (direito positivo), pelo que somente seria lei o preceito substanciaimente justo e justo seria naturalmente 9 que acorda com a raziio. O ‘Musto natural é imprescindivel para a aplicagdo do justo por lei, da justica “inter homineg". c) A Lei humana ou positiva, que nidio, possui forca por si, é uma criag#io do préprio homem, como fruto da convencdo; & a concretizacio e aplicagiio particular” dos principios da lei_natural na sociedade humana. Em Tomds de Aquino, @ lei. ‘positive néio & um mal necessdrio, mas algo que parte de uma exigéncia da prépria lei natural, na medida em que a lei humana deve retratar o que a lei natural preceitua e deve preceituar o que é dado pela natureza, o que da natureza decorre. e niio 0 contrério®Sequndo Séo.Tomés, «tudo o que é contrério & lei natural € juridicamente injusto, ilegitimo e iniquo»'™. A lei humana enquanto *jus positum® & derivada do justo natural, que é 0 pardmetro para a actuagiio do direito positive. Portanto, «toda a lei criada pelos homens sé teria natureza de lei se em consondincia com a lei natural; sé seria justa se ndo contrariasse a natureza». E a inteligéncia humana, no tendo sido totalmente pervertida pelo pecado, pode ainda elevar-se, em parte, ao conhecimento das leis eterna e natural e ao do bem pelos seus préprios recursos. segundo os Escolisticos, uma faculde maura de julgar com recth, Yom senso ou 50 “Ando GA Bitar e Guitrme Asis de Almelo. cit p. 156 "4 fdem, p. 200. Ca nota rodupé n+ Len Apesar de distinguir como Santo Agostinho, trés tipos de leis, Stio Tomds de Aquino néfo estabelece nenhuma ordem jhierdrquica entre elas, de maneira que apenas aei eterna esté acima des outras duas, porquanto manifestacio da razdio divina que. governa o universo. A lei natural € a humana colocam-se ap mesmo nivel, visto que a lei natural é principio e fonte da lei positiva. E de suma importéncia rotar que em So Tomés de Aquino, a lei eterna € 0 principio regulador © normativo da actividade do mundo, enquanto a lei natural é a participagiio da lei eterna na criatura. Convém observar ainda que niio se deve confundir Tomds, lei Stemna ¢ le diving, que nio slo a mesma coisa. E que enquanto a lei eterna é expresstio da razio divina, insepardvel dela, que governa todo o universo;¥a lei diving €.a mais alta forma de participacio da lei eterna aos homens, dada por Deus. é lei revelada e chama-se direito divino em Sto Tomés de Aquino,

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