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Capitulo 3 Metodologia e instrumental técnico-operativo da pratica profissional Walery Luci da Silva Maciel Neste capitulo, estaremos abordando as metodologias de intervengio e o instrumental técnico- operativo da pratica do Servico Social. Ao finalizar a leitura, o (a) estudante estar apto (a) para analisar e intervir na realidade, compreendendo suas atribuigdes profissionais a partir do desenvolvimento de competéncias éticas, tedricas e metodologicas, bem como para atuar contribuindo com alteracdes qualitativas nas interagdes sociais nos espacos sécio- ocupacionais, interagindo junto a equipes interdisciplinares nos mais diversos espacos profissionais. Se¢do 1 Consideragées em torno das abordagens individual, grupal e coletiva No momento em que detemos nosso estudo na dimenso técnico-operativa do Servico Social, fazemos isso lembrando, conforme até aqui estudado, da complexidade dos contextos e demandas com as quais trabalhamos. Estamos nos referindo a diversidade de espacos sécio- ocupacionais, seja na esfera publica ou privada, nos diferentes niveis de acdes nos quais somos demandados, seja na proposicao, planejamento e formulacao de politicas publicas, na articulacdo e ou gestéo de programas, projetos, movimentos ou organizacées sociais, bem como no atendimento direto. De acordo com Toso (apud MIOTO e LIMA, 2009), a complexidade da acao do assistente social pode ser compreendida a partir de um conjunto de fatores que as tornam altamente varidveis € sujeitas a continuas transformacées, quais sejam: os tipos de demandas que exigem formas de operacao flexiveis e personalizadas, a quantidade e multidimensionalidade dos problemas e demandas sociais, a multiplicidade de contextos institucionais com as peculiaridades das relagdes nos ambientes de trabalho, as incertezas quanto a disponibilidade de recursos, e, por fim, a complexidade das respostas somada a incerteza sobre seus efeitos, considerando o grande ntimero de varidveis intervenientes e a dificuldade em controlé-las. A esses fatores, podemos acrescentar 0 desafio da atuacao em equipes multidisciplinares e a interacdo que se faz necessdria com outras reas de conhecimento e na aco profissional. A dimensao técnico-operativa tem seu desenho a partir do projeto ético- politico da profissdo, que, construido de forma coletiva, consiste, de acordo com lamamoto (2003), na articulagéo entre a realidade sécio-historica na qual a profissao se movimenta, considerando seus limites e possibilidades, e a dimensao profissional, que compreende as respostas técnico-profissionais dos assistentes sociais. Essas respostas envolvem metodologias e instrumentais que, no cotidiano da acdo profissional, permitem a concretizacao dos projetos, bem como a intervencao, constituindo-se em elementos fundamentalmente necessarios a objetivacdo da aco profissional, sendo parte da direcao teérico- politica da profisso. (TRINDADE, 2001). De acordo com Santos (2013), na dimensao técnico-operativa podemos encontrar os objetivos € sua efetivacdo, as condicées objetivas e subjetivas para o alcance das finalidades. Por outro lado, exige 0 conhecimento de quem sao os usuarios, seu modo e estratégias de vida, suas demandas, os sujeitos e as relacées de poder. Conclui a autora E com essa compreensdo que oferecemos destaque, aqui, a dimensdo técnico- operativa, enquanto dimensio que em sua especificidade € a mais aproximada da prética profissional, e, que por ser assim, propriamente dita, necessariamente, expressa e contém as demais dimensdes. Ou seja, as acdes expressam as concepcées teérico-metodolégica e ético-politica do profissional, mesmo que ele rndo tenha clareza de suas concepcées e de seus valores, Nesta direcdo, a dimensao técnico-operativa envolve um conjunto de estratégias, taticas e técnicas instrumentalizadoras da acdo, que efetivam o trabalho profissional, e que expressam uma determinada teoria, um método, uma posicio politica e ética (SANTOS, 2013, p. 26). As intervengées no cotidiano do assistente social podem acontecer a partir de trés abordagens, a saber: de forma individualizada, grupal ou coletiva. Nao é nossa intengdo neste estudo ressuscitar as antigas abordagens de “caso, grupo e comunidade’, comuns 4 formacao e pratica profissional até a década de 1980, e que apés revisio e vigoroso debate tedrico-metodolégico, aprofundado nos anos 1990, passaram a ser abordadas a partir da teoria social critica, incorporadas numa viséo contextualizada e ampla da sociedade, das relacoes sociais e das manifestacbes da questao social Observe que a Lei 8.662/93, que regulamenta a profissdo do assistente social, estabelece, em seus artigos 4° e IX®, ao tratar da atuacdo desses profissionais sobre a prestacao de servicos diretos, 0s quais so de sua competéncia: a) a orientago social a individuos, grupos e a populacao; b) a assessoria e 0 apoio aos movimentos sociais em relacdo As politicas sociais, no exercicio e na defesa dos direitos civis, politicos e sociais da coletividade. Dessa forma, o interesse, neste momento de estudo, é discutir e refletir as possibilidades de atuagao do assistente social em cada uma dessas modalidades de intervencdo, considerando que podem acontecer de forma isolada ou concomitantemente e, ainda, que essas nao se dao de maneira estanque nem descontextualizada; antes, configuram espacos e formas de exercicio profissional, e estaréo sempre imbricadas na conjuntura maior da sociedade, nas relages de classe e de poder, nos contextos de trabalho, de consumo, de realizado da vida. Com esse pensamento corroboram Mioto e Lima (2009), ao afirmarem que a operacionalizacao da acao deve ocorrer a partir da articulagao dos conhecimentos entre o universal, o particular e © singular, estabelecendo relacdes entre o individuo e a sociedade. Sobre isso, complementam as autoras: E a partir das demandas postas pelos sujeitos, sejam elas de carater coletivo ou singular, que o Assistente Social, a partir da finalidade assumida como horizonte para suas agdes, define tanto 0 objetivo como o cardter da acao a ser empreendida, localizando-a dentro dos limites e possibilidades colocados pela natureza dos espacos sécio-ocupacionais. Essa definicdo é realizada através da investigagio e do conhecimento das necessidades da populacdo, expressas pelas suas demandas e pela realidade particular de suas condicées de vida, e em didlogo com o corpo de conhecimentos J produzidos sobre as particularidades das situacdes coerentes ‘com a matriz te6rico- metodolégica que direciona determinado projeto profissional. (MIOTO e LIMA, 2009, p. 39). Ainda de acordo com lamamato, © assistente social lida, no seu trabalho cotidiano, com situacdes singulares vividas por individuos e suas familias, grupos e segmentos populacionals, que sao atravessadas por determinacdes de classes. Sdo desafiados a desentranhar da vida dos sujeitos singulares que atendem as dimensGes universais e particulares, que af se concretizam, como condi¢do de transitar suas necessidades sociais da esfera privada para a luta por direitos na cena piblica, potenciando-a em féruns e espacos coletivos. Isso requer tanto competéncia teérico-metodolgica para ler a realidade atribuir visibilidade aos fios que integram o singular no coletivo quanto a incorporacao da pesquisa e do conhecimento do modo de vida, de trabalho & expressées culturais desses sujeitos sociais, como requisites’ essenciais do desempenho profissional, além da sensibilidade e vontade politicas que mover a acao. (AMAMOTO, 2009, p, 33). Abordagem individual A abordagem individual se da quando o assistente social se encontra diretamente com individuos ou usuarios, ou cidados beneficidrios, nas mais diversas situagées que materializam a questo social e manifestam-se na situa¢do problematizada por meio da queixa, da reivindicacao do direito, servico ou beneficio. Mioto (2014) apreende esse momento a partir do que denomina de processos socioassistenciais, 0 que corresponde ao “conjunto de acées profissionais desenvolvidas, a partir de demandas singulares, no ambito da intervencao direta com os usudrios em contextos institucionais” (MIOTO, 2014, p. 3). © olhar atento e criterioso, pautado pelo compromisso ético-politico e teoricamente embasado, permitira uma abordagem que resulte significativa e consequente. £ necessario que © profissional esteja atento condi¢éo de quem procura o atendimento, em situacdo marcada pela fragilidade, pela perda de patriménios (FALEIROS, 2011), pela necessidade de se fazer owvir de forma atenta e qualificada, de obter respostas claras e objetivas numa linguagem que, sem abrir mao da terminologia propria da area de atuacdo, seja acessivel e inteligivel ao piblico a que se dirige (SOUZA, 2008). Mioto e Lima (2009, p. 42) afirmam que a abordagem individual corresponde a0 conjunto de acdes profissionais desenvolvidas diretamente com usuarios nos diferentes campos de intervencao a partir de demandas singulares. Sua logica reside em atender o usuario como sujeito, visando responder a essas demandas/ necessidades numa perspectiva de construgdo da autonomia do individu nas relacdes institucionais e sociais, remetendo-o a participacao politica em diferentes espacos. A intervencdo, nesse momento, respalda-se na ideia do acolhimento. De acordo com o Dicionario Aurélio de Lingua Portuguesa (2015) e 0 Michaelis Moderno Dicionario da Lingua Portuguesa (2009), 0 termo acolhimento relaciona-se ao ato ou efeito de acolher; a recepcao, atengao, consideracio, refugio, abrigo e a agasalho. Acolher significa dar acolhida ou agasalho a; hospedar; receber; atender; dar crédito a; dar ouvidos a; admitir, aceitar; tomar em consideracéo; atender a. Dentro dessa perspectiva, Chupel e Mioto (2010) afirmam que o acolhimento compreende acées sobre 0 fornecimento de informacées, 0 conhecimento da demanda e a escuta do usuario. Vejamos: a. Fornecimento de informagées: De acordo com Cepik (2000), 0 direito informagéo & um direito civil, politico e social ao mesmo tempo. Ha informagées que se caracterizam como extremamente relevantes ¢ precisam ser repassadas ao usuario, considerando que se trabalha a partir de uma visio pautada pelo compromisso ético- politico de estabelecer condigées que levem ao empoderamento e autonomia (FALEIROS, 2011). Sao informacées de natureza diversa, circunscrita ao Ambito no qual se da © atendimento, ou ainda referentes a outras instituicées, politicas, programas ou servicos sociais essenciais a resolucéo da situacéo vivenciada. Conforme Mioto (2014, p. 6) De acordo com Silva (apud Mioto, 2014), a socializacao da Ressalta-se, nessas consideracdes, que o direito a informacao nao esta restrito apenas ao conhecimento dos direitos e do legalmente instituido nas politicas socials. Inclu-se © direito dos usuarios de usufruirem de todo conhecimento socialmente produzido, especialmente daqueles gerados no campo da ciéncia e da tecnologia, necessario para a melhoria das condic6es e qualidade de vida ou para que 0s usuarios possam acessar determinados bens ou servicos em situacdes especificas. Acresce-se ainda que o direito a informacio ndo se restringe ao acesso 4 informacao, Ele pressupde também a compreensdo das informagdes, pois @ ela que vai possibilitar seu uso na vida cotidiana formacées é fundamental para a viabilizacao de direitos, constituindo-se como uma acdo de fortalecimento do usuario no acesso a essas e como uma oportunidade de mudar sua realidade. Sustenta a autora que a perspectiva do direito nessas acdes se dé por meio de dois aspectos: 0 compromisso com a cidadania, entendida como um proceso de politizacao, e 0 entendimento do usuario como um sujeito de valores, com interesses e demandas legitimas que, mesmo referenciadas numa realidade imediata, estéo conectadas a uma realidade mais ampla e globalizada. b, Conhecimento da demanda do usuario: 0 acolhimento caracterizado ‘como conhecimento da demanda do usuario refere- se ao momento em que © profissional busca entender e conhecer 0 que motiva a busca do servico, da informacao ou do beneficio. Nesse momento, & necessario que © profissional esteja atento, pois essa situacdo, apesar de estar sendo vivida pelo sujeito de forma particular e, portanto, carregada de uma singularidade, néo é exclusiva desse sujeito. Considerando que, como seres essencialmente sociais, vivemos em sociedade, os problemas carregam em si a caracteristica de serem universais, portanto, eles nao ocorrem de forma isolada, esto interligados com contextos que the dao contetido e causalidade, constituindo sua esséncia. E preciso ter consciéncia desse fato para nao cair no ardil do senso comum e considerar 0 problema de forma individualizada e descontextualizada. Portanto, é necessario que o Assistente Social tenha um conhecimento te6rico profundo sobre as relacdes sociais fundamentals de uma determinada sociedade (universalidade), € como elas se organizam naquele determinado momento histérico, para que possa superar essas “armadilhas” que 0 senso comum do cotidiano prega - e que muitas vezes mascaram as reais causas e determinagdes dos fendmenos sociais. E na relacdo entre a universalidade @ a singularidade que se torna possivel aprender as particularidades de uma determinada situagao. (SOUZA, 2008, p. 123). Escuta: Inicialmente, 0 ato de “parar para ouvir” significa atender ao desejo do usuario: ser ouvido. Ao longo da histéria do Servico Social como profissio e como Area de construcdéo de conhecimento tedrico- metodolégico e técnico-operacional, a escuta do usuario aparece como pratica no relacionamento, passando inicialmente pela afetividade, mas que, no avanco do debate, adentra ao campo da mediagao e passa a incluir a totalidade das relacdes sociais, na qual estéo envolvidas dimensées politicas e problematizadoras. (CHUPEL e MIOTO, 2010). Ser ouvido, de acordo com Souza (2008), nao significa concordar com tudo 0 que o usuario diz; porém, implica estabelecer uma relacdo de respeito, pois se 0 usudrio ndo @ respeitado nesse direito bisico, ndo apenas estaremos desrespeitando-o, como prejudicando © préprio proceso de construcio de um conhecimento sélido sobre a realidade social que ele esta trazendo, comprometendo toda a intervengao. (SOUZA, 2008, p. 127) No processo de acolhimento, trabalha-se com a visdo da escuta qualificada como ferramenta essencial para que 0 usuario seja atendido e entendido numa perspectiva integral, possibilitando a construgao de vinculos, o respeito a diversidade e & singularidade no encontro entre esse usuario e 0 assistente social enquanto profissional. A escuta qualificada abre espaco para o estabelecimento de um processo reflexivo, por meio do qual o profissional, embasado em seu compromisso ético-politico, atua dentro de uma visdo socioeducativa, tendo como objetivo a formacéo da consciéncia critica. Para o alcance desse objetivo, faz-se necessario que sejam criadas as condicdes que irdo permitir ao usuario a elaboracao de forma consciente e critica da sua propria concep¢do de mundo, fazendo-se sujeito do processo de construcéo de sua histéria, da historia dos servicos e das instituigdes e da historia da sociedade (MIOTO, 2014). A escuta e 0 didlogo que se estabelecem nesta relacdo criam as condicdes necessarias para a formacao dessa consciéncia critica. Abordagem Grupal Os grupos fazem parte dos movimentos da sociedade, compondo seu préprio movimento. Vamos encontré-los nas comunidades, familias, ambientes de trabalho e lazer. O trabalho com grupos acompanha a histéria do Servico Social, constituindo, nos primérdios da profissdo, um dos métodos de trabalho. O trabalho com grupos, ou a “dinamica de grupos”, como era chamada inicialmente, surgiu como instrumento de pesquisa do comportamento humano em pequenos grupos, passando em seguida a ser largamente utilizado na area social e empresas como forma de garantir controle coletivo e a manipulacdo dos comportamentos por meio das relagdes grupais entao estabelecidas (SOUZA, 2008) No entanto, 0 trabalho com grupos pode se constituir em um importante aliado a praxis do assistente social. Tendo como base e referencial 0 compromisso ético- politico, o trabalho com grupos deve estar centrado na anlise e compreensio critica da dindmica e complexidade das diversas expressdes da questdo social e de como essas se manifestam no cotidiano do grupo A partir da reflexao critica, 0 assistente social pode levantar debates, discussdes, construir coletivamente estratégias de enfrentamento a situagées que exijam algum tipo de intervencao, sendo espaco privilegiado de mobilizacao e conscientizacao. No contexto do trabalho com grupos, o assistente social age como um facilitador, um agente que provoca situacdes que levam a reflexdo. Para tal, so necessarias habilidades teéricas, 0 que envolve 0 dominio do tema em debate ou da situacao para qual busca-se uma intervencao, de técnicas e instrumentos, bem como uma postura politica democratica, que permitira o desenvolvimento do grupo e de seus membros de forma particular. Nessa perspectiva, 0 trabalho com grupos é um grande aliado para o desenvolvimento de um processo participativo, pois permite uma interacdo interdisciplinar e multisetorial, as quais facilitam o surgimento de solucdes criativas e coerentes a realidade. De acordo com Cordioli (2001, p. 27), “um proceso participativo visa ndo somente a elaboragéo de propostas mais ajustadas realidade. Pretende mudar comportamentos € atitudes onde os individuos passam a ser sujeitos ativos no processo e nao objetos do trabalho dos outros". Conclui o autor afirmando que 0 processo participativo possibilita uma aprendizagem mutua, envolvendo todos, conceitualmente ou pela experiéncia, além de propiciar um ambiente estimulante onde 0s membros do grupo sentem-se mais seguros, mais confiantes pelo trabalho em equipe. De acordo com Eiras (2005), o trabalho com grupos depreende alguns entendimentos, entre os quais a autora destaca: d. Nos grupos e nas praticas grupais sido constantes os movimentos e tensées, os quais envolvem relagées de poder, numa unidade clivada pela diversidade; e, Os grupos tendem a assumir formas socioinstitucionais préprias, que embora relacionadas, tendem a ser auténomas, influenciando os horizontes éticos politicos que os constituiram; f. Os grupos e as praticas grupais, como manifestacdes coletivas, criam espacos de diferentes processos, passiveis de conhecimento e intervencio, constituindo Area proficua de producdo teérico- operativa especifica para esse tipo de trabalho, qualificando-o como trabalho profissional; g. 0 trabalho profissional com grupos necessita da compreensio sobre grupos e sobre as praticas grupais, apreendendo as singularidades e as particularidades de cada intervencdo, considerando os espacos socioinstitucionais e sécio-ocupacionais existentes e pertinentes as diferentes profissées. Para finalizar, trazemos a reflexdo de Ana Maria Vasconcelos que, analisando a interacdo no trabalho social em sua obra de 1985, faz uma afirmacao pertinente quando tratamos do trabalho com grupos, a despeito do tempo Assim, a nosso ver, as relagdes grupais e o trabalho com grupos sio por exceléncia © instrumento de trabalho coletivo e instrumento de organizagao. f através dessa relacéo e da forca que ela representa que 0s dominados podem explicitar suas reivindicacdes e seus interesses. Poderiamos dizer que 0 grupo e as relacdes grupais so um dos instrumentos sociais. Dessa forma, qualquer assistente social, que faca uma opgdo pelo trabalho voltado para os interesses das classes populares utilizara relac6es grupais, mas para isso tem de entender 0 que sao estas relacdes grupais e como se dao tendo em vista um trabalho coletivo (VASCONCELOS, 1985, p27). Abordagem coletiva A aco coletiva do Servico Social com comunidades ou movimentos sociais fez parte da constituicao hist6rica da profissdo, como também serviu de elemento por meio do qual foram € so realizadas pesquisas e estudos que, ao longo do tempo, tém constituido seu arcabouco tedrico e metodolégico. Na abordagem coletiva, os problemas ultrapassam os limites da singularidade, saem do particular e ganham terreno no coletivo, passam a ser vistos de forma global e abrangente, considerando a complexidade das relacdes sociais, de classe e de poder. Ha uma coletivizagdo das demandas particulares. Para Mioto e Lima (2009), no trabalho com a coletividade o Servico Social tem a oportunidade de atuar por meio dos processos politico-organizativos, quando as acées, ao serem articuladas, privilegiam e incrementam as discusses, encaminhando-as para a esfera publica, Nesses processos, 0 foco consiste em dinamizar e instrumentalizar a participacdo dos sujeitos, considerando seu potencial politico e seu tempo. Apesar de abarcarem as demandas imediatas, a acdo prospecta, a médio e longo prazo, a construcdo de novos padroes de sociabilidade, de novas e diferenciadas solucdes aos problemas que sdo comuns, guiada pela ideia de democratizacao dos espacos coletivos. A abordagem coletiva se dé de forma muito frequente em comunidades, mas o que vem a ser comunidade? De acordo com Souza, uma definicéo de comunidade seria a de um Conjunto de grupos e subgrupos de uma mesma classe social, que tém interesses e preocupacdes comuns sobre condicdes de vivéncia no espaco de moradia e que, dadas as suas condigées fundamentais de existéncia, tendem a ampliar continuamente 0 ambito de repercussdo dos seus interesses, preocupacdes € enfrentamentos comuns (SOUZA, 1999, p. 6 De acordo com a autora, 0 que da concretude e substancia a uma comunidade nao séo as fronteiras ou aspectos fisicos das moradias, mas o conjunto de relagdes e inter-relacdes de poderes e contra poderes que se estruturam a partir da infraestrutura fisica da area, a qual é definida nas estruturas fundamentais da sociedade. € justamente nesse ambiente de relacdes e inter-relacdes que acontece a ado do Servico Social, compreendendo seu context econdmico, politico e cultural, tendo como pano de fundo uma sociedade dividida em classes sociais, da qual ela nao esta descolada. Tendo como referencial a perspectiva ético-politica, a atuacdo do assistente social em projetos comunitarios deve estar voltada para a criacdo de estratégias que busquem a mobilizacao e 0 envolvimento dos membros da comunidade nas decisdes e agées a serem desenvolvidas, num processo de mobilizacao comunitaria, A atuagéo do profissional se da a partir de um profundo conhecimento da comunidade, seus aspectos sociais, culturais, fisicos e econémicos, suas liderancas e agentes politicos, suas organizacées, a forma como se constréi sua estrutura interna e externa de poder, bem como suas demandas e necessidades. A partir desse conhecimento, teré 0 profissional condicées de, junto e com a comunidade, esbocar e construir proposicées e projetos de enfrentamento aos problemas e demandas identificados. Ha que se considerar que, no atual contexto social em nosso pais, e frente as diversas manifestagées da questo social, novos espacos sécio-ocupacionais e novas demandas tém surgido ao Servico Social, espacos esses de cunho notadamente coletivo, como é 0 caso dos Conselhos de Direitos, dos Féruns, dos orcamentos participativos, das agendas que trazem em seu contetido problemas e desafios coletivos, para os quais os assistentes sociais tém sido demandados. HA que se resgatar, também, a atuacdo profissional junto aos movimentos sociais, 0s quais nos ultimos anos passaram por um processo de institucionalizacao, perdendo seu carater reivindicatério e contestador, necessario a todo processo democratico e de construcdo de uma sociedade justa e cidada. Esses sao ambientes e espacos, por exceléncia, que se constituem campo de atuagao do Servigo Social. Segao 2 Instrumental técnico-operativo e documentacéo So as finalidades que determinam 0 modo de atuar e a escolha por alternativas. Mas ha condig6es objetivas com as quais os homens defrontam-se, escolhem, criam @ aperfeicoam os meios de trabalho, dentre eles as propriedades naturals de que esses melos so portadores, Através do trabalho e do processo de objetivacdo 0 homem realiza no elemento natural a sua finalidade. Em outras palavras: as necessidades s4o sempre sociais e as finalidades so socialmente construidas. Sio as finalidades que orientam a busca, a selecdo e a construgdo dos meios. (GUERRA, 2007, p. 11). As finalidades profissionais esto inscritas num quadro valorativo e somente podem ser pensadas no interior desse quadro, entendido como acervo cultural de que 0 profissional dispée e que o orienta nas escolhas tedrico-metodologicas e ético-politicas, que, por sua vez, implicam projetar ndo apenas os, meios/instrumentos de realizacéo, mas também as consequéncias, (GUERRA, 2007, p. 30). Nesta secdo de estudo, estaremos refletindo acerca do instrumental técnico- operativo e da documentacao, uma das partes constitutivas da instrumentalidade do Servico Social em sua praxis cotidiana, Voltamos a enfatizar, chamando a atencao para as citagdes acima, que as finalidades e a racionalidade com as quais trabalhamos irao condicionar e determinar as escolhas que fazemos no que diz respeito aos instrumentos ¢ técnicas que estaremos utilizando em nosso trabalho cotidiano. Nao ha neutralidade nesta escolha, ja que ela vem imbuida de um conjunto de intencées éticas e politicas: Para o que trabalhamos? Com quais objetivos? Para quem? Qual a racionalidade que permeia nossas acdes? As respostas a essas questées iro orientar 0 modo como nos utilizamos dos instrumentos e técnicas e como geramos os documentos em nosso fazer profissional. De acordo com Santos (2013), os instrumentos e técnicas sao elementos que compéem os meios de trabalho, a dimensao técnico-operativa do Servico Social, ou seja, dizem respeito A operacionalizagéo do trabalho. Neste mesmo sentido, Trindade (2001, p. 3) afirma que o instrumental técnico-operativo compreende a articula¢do entre instrumentos e técnicas, pois expressam a conexdo entre um elemento ontolégico do processo de trabalho (os instrumentos de trabalho) e 0 seu desdobramento - qualitativamente diferenciado - ocorrido ao longo do desenvolvimento das forcas produtivas (as técnicas). Para Trindade (2001), Guerra (2007) e Santos (2013), os instrumentos e técnicas formam um conjunto dialeticamente articulados. Os instrumentos, como produtos da a¢do humana, séo os elementos mediadores e potencializadores do trabalho, isto é, 0s meios pelo qual se alcanca uma finalidade. As técnicas dizem respeito a qualidade no uso dos instrumentos, isto é, a0 quanto esses tornam-se mais “utilizéveis" diante das exigéncias de adequacao das transformacées da realidade, tendo em vista 0 atendimento das mais diversas necessidades sociais, historicamente determinadas. As técnicas se desenham a partir do modo como o profissional articula os instrumentos, considerando a sua pratica e 0 contexto em que atua, imprimindo sua subjetividade, com a qual vai moldando os instrumentos. Quando tratamos da documentacao, estamos nos referindo a uma parte da sistematizacao da pratica do Servico Social, isto é, do exercicio que compreende o registro da a¢do. De acordo com Azevedo (2013), a sistematizacdo possibilita a obtengdo de subsidios para a andlise e intervencdo, constituindo uma postura metodolégica que contribui para atribuir significado 4 praxis. A sistematizacéo ¢ uma forma metodolégica de elaboracao do conhecimento. E mais do que a organizacéo de dados, é um conjunto de praticas e conceitos que Propiciam a reflexao e a reelaboracao do pensamento, a partir do conhecimento da realidade (AZEVEDO, 2013, p. 173) A sistematizacéo que acontece por meio da documentacéo permite a reflexao da pratica de forma ordenada e critica, problematizando e identificando conflitos, contradicGes e as relacdes entre as diversas situacdes vividas e registradas. Mais do que uma mera obrigacdo, a elaboracdo de documentos permite que as informacdes sejam recolhidas, ordenadas e posteriormente refletidas, permitindo que se aprenda com o proceso vivido, retirando ligdes e experiéncias. Almeida (2006), analisando o carater relevante da sistematizacdo, assinala os seguintes aspectos: A sistematizacao configura etapa fundamental das elaboracées tedricas dentro da profissdo, possibilitando uma postura critica e investigativa; Realimenta a conduco do trabalho a medida que possibilita 0 reordenamento da experiéncia profissional por meio do processo a¢io-reflexdo; Possibilita maior autonomia do Servico Social nos espacos onde atua, auxiliando na identificacao dos limites ¢ avancos alcancados, bem como a identificacdo da contribuicdo efetiva de sua atuacdo; constando, dessa forma, como componente importante de visibilidade para o trabalho. Por fim, enfatiza o autor que a sistematizacdo se inscreve no trabalho do assistente social e nos processos de trabalho institucional, como parte da dindmica da profissdo e dos espacos sécio-ocupacionais, ndo sendo uma atividade esporadica. Consolida, também, uma nova dimensao em relacao as tradicionais formas de registro, permitindo a socializacéo num nivel de debate que contribua para o amadurecimento da profissao. Sobre isso, alertam Mioto e Lima (2009, p. 37): ‘A documentacio nao pode ser negligenciada na aco profissional, pois ela é essencial, tanto para © proceso de conhecimento/ investigacao da realidade, como para a sua sistematizacao e seu planejamento. Pelo fato de as acdes dos Assistentes Sociais estarem calcadas, basicamente, no uso da linguagem, a visibilidade da intervencao realizada s6 & obtida quando ocorre o registro eficiente da agdo. Além disso, os registros permitem congregar dados que podem resultar em avancos, tanto no momento em que se analisa a intervencéo, procurando estabelecer novas prioridades, reconhecer as demandas, dentre outros, quanto no momento de reflexao critica da realidade, dos espacos sécio-ocupacionais e de seus processos de trabalho, no intuito de ampliar 0 escopo de conhecimentos sobre a profissao e a sociedade. Instrumentos. Entrevista A entrevista é um dos instrumentos mais utilizados pelo Servico Social, estando presente ao longo da histéria da profissdo desde as primeiras produces académicas, como O Diagnéstico Social, de Mary Richmond, de 1950. Passando por diversas concepgdes e entendimentos no processo de elaboracao teérico- metodolégica do Servico Social, a entrevista manteve alguns preceitos que continuam fazendo parte de seu arcabouco tedrico-pratico, tais como a necessidade de conhecimento, a intencionalidade e 0 respeito pelos sujeitos, dispositivos esses que a caracterizam dentro do modo de operacionalizagao do trabalho pelo assistente social. Conforme Faermann (2014, p. 217), a entrevista, considerando as suas potencialidades, constitul-se numa importante media¢ao profissional, na medida em que possibilita ao assistente social direcionar 0 seu acervo de conhecimentos em favor das demandas dos usuarios, contribuindo para (© acesso aos seus direitos e para estimular processos de reflexio, de organizagio mobiliza¢ao sociopolitica. Podendo acontecer de forma individual ou coletiva, a entrevista possibilita a tomada de consciéncia por parte do assistente social, das relacées e interacées que se estabelecem entre a realidade e os sujeitos (LEWGOY e SILVEIRA, 2007). Permite, também, um levantamento de dados e informagées que possibilitarao 0 conhecimento de uma determinada realidade, corroborando para a futura intervencado De acordo com Souza (2008), para que se alcance os objetivos tracados, a realizacdo da entrevista requer rigoroso conhecimento tedrico-metodolégico, como também planejamento. Segundo Lewgoy e Silveira (2007), a realizagao da entrevista envolve trés etapas: Planejamento: Segundo as autoras, planejar significa organizar, dar clareza e precisdo a prépria agdo, ou ainda, alterar a realidade numa diregao escolhida, agir de forma racional e com intencionalidade, ter clareza dos principios e realizar um conjunto organico de acées. Dentro dessa perspectiva, é necessdrio que o assistente social tenha conhecimento e dominio dos pressupostos te6rico, ético, politico e técnico que envolvem a acdo € 0 contexto onde essa ocorre, a fim de que dé agilidade e consequéncia ao seu trabalho, tendo também clareza a respeito da finalidade da entrevista, onde se deseja chegar e quais os objetivos neste processo. Execugdo: A segunda etapa diz respeito 4 execucao da entrevista, que se inicia pelo estabelecimento de um acordo de vontades entre 0 usuario e 0 assistente social, no sentido de, juntos, trabalharem em torno da demanda, do cerne da entrevista. Nessa etapa, 0 foco para o profissional esta em ouvir, coletar dados, aprofundar as informagdes, tendo como referencial os objetivos tracados inicialmente. Busca perceber as necessidades, demandas, expectativas, manifestadas no decorrer do processo. Isso diz respeito a habilidade de escuta, questionamento e observacao do que nio é dito, mas que se configura no sujeito para quem se dirige o trabalho do assistente social. A observacdo permitird muitas vezes a decodificagao de uma mensagem, de um gesto, do siléncio, da pausa. Os questionamentos devem levar em consideracdo a relevancia e a validade da questo; a especificidade e a clareza. (LEWGOY e SILVEIRA, 2007, p. 237). . Registro: A terceira etapa diz respeito aos apontamentos feitos ao longo da entrevista. Segundo as autoras, trata-se de um documento intransferivel, pois diz respeito ao direito do usuario de ter a evolucdo de seu atendimento documentado, bem como 0 acesso aos dados registrados O registro da entrevista tem também como objetivo colaborar com o atendimento, a medida que as informacées podem ser partilhadas por outros profissionais, tendo como alvo um trabalho integral e multidisciplinar (resguardadas as situacdes que envolvam a necessidade de sigilo profissiona). Para isso, a linguagem deve ser clara, objetiva, gramaticalmente correta, nao contendo adjetivos que expressem juizo de valor. O registro das entrevistas faz parte da documentacao e sistematizacao da pratica do Servico Social, conforme vimos anteriormente, portanto, deve ser feito de forma cuidadosa, sendo observados os preceitos do Cédigo de Etica da profisso, no que tange a esse tema. FD cuanto» sua tiolosia, a enrevsta pode ser estruturada, semiestruturada ou aberta, ¢ sua escolha sera definida a partir da necessidade do momento, verificando-se qual contribui melhor para alcance dos objetivos. (BELEI et al., 2008; CHIZZOTTI, 2005). A entrevista estruturada é aquela que contem perguntas fechadas, tais como as que séo comuns nos formularios, sendo inflexiveis. A entrevista semiestruturada acontece tendo um roteiro previamente elaborado, em que as questées sao abertas, permitindo certa flexibilidade no processo. Esse é 0 modelo mais utilizado, pois, guiada por um roteiro de questdes, per uma organizacio flexivel e a ampliacéo dos questionamentos, a medida que isso se faca necessario. J na entrevista aberta é possivel uma liberdade maior, estando baseada no discurso livre do entrevistado, a partir das questées levantadas. Tanto o entrevistado quanto 0 entrevistador tem ampla liberdade nas perguntas e respostas. Observacao participante A observacdo participante diz respeito 4 aquisi¢ao do conhecimento de uma determinada realidade por meio da observacdo e interac. Observar compreende 0 uso de todos os sentidos (visio, audi¢ao, tato e olfato); porém, em se tratando da observacdo como um dos instrumentos de trabalho do Servico Social, essa adquire um carater diferenciado. Isso ocorre pois, na medida em que o profissional observa, ele também interage, estabelecendo uma relagao social com os outros sujeitos, os quais detém expectativas quanto as intervencdes que poderao acontecer ou quanto aos resultados do processo de observacao. Dessa forma, 0 profissional observa e é observado (SOUZA, 2008). Ainda segundo o autor, na medida em que o Assistente Social realiza intervencées, ele participa diretamente do proceso de conhecimento acerca da realidade que esta sendo investigada, Por isso, ndo se trata de uma observacdo fria, ou como querem alguns, ‘neutra”, em que o profissional pensa estar em uma posigio de nao-envalvimento com a situacao. Por isso, trata-se de uma observagdo participante, 0 profissional, além de observar, interage com o outro, e participa ativamente do proceso de observacao. (SOUZA, 2008, p. 126). FED chamamos sua aencio para ofato que a obseracio esti presente em todo o processo de trabalho do assistete soca, Sea ha eriteshy a condugio de ina Teulon Waa sta Gomictar O ola atento, inenclonalbaseade a vsdo de omer e mune constudo a parr do referencias tebrcometodologco «eco poltcy consti © dfcrendal da atunghe desseprotssion!‘epossbliard 6 aleane dos objeavs proposts Seslados por ee Visita domiciliar A visita domiciliar como instrumento técnico-operativo sempre esteve presente no cotidiano da praxis do Servico Social. Trata-se do momento em que o profissional adentra o privado, ou seja, 0 domicilio do usuario, tendo como objetivo a obtencao de um conhecimento mais aproximado da realidade entao relatada e vivenciada. De acordo com Souza (2008, p. 128), a visita domiciliar sempre foi um dos principais instrumentos de controle das classes populares que as instituicdes utilizavam, Uma vez que o usuario esta sendo atendido na instituicdo, ele esta acionando um espaco publico: quando a instituicio se propoe a ir até a casa do usuario, ela esta adentrando no terreno do privado, A residéncia € © espaco privado da familia que ld vive. Ter essa dimensio é fundamental para que o Assistente Social rompa com uma postura autoritaria, controladora e fiscalizadora, Para que a visita domiciliar resulte em um momento de interagao e que propicie a mediacio, so necessdrios alguns cuidados. De acordo com Amaro (2007), a ética e 0 respeito sao principios que devem embasar a visita domiciliar. Para tal, 0 compromisso ético-politico do assistente social estara pautando a atuacdo nesse tipo de intervengio, criando as condicdes necessarias a um trabalho diferenciado e profissional. Conforme Amaro (2007), alguns cuidados devem estar presentes na realizacdo da visita domiciliar: * O que fazer na visita? O assistente social precisa entender seu trabalho como um proceso educativo e no moralizador, de forma que as perguntas, questées e observacées devem estar guiadas por reflexdes associadas ao objetivo da visita, e ndo por julgamentos ou comentarios proibitivos e punitivos; * Por que visitar? De acordo com a autora, a visita domiciliar deve ter um objetivo definido, e partindo desse, deve ser realizada de forma racional planejada, tendo um roteiro que respeite 0 tempo e o assunto programados, ao mesmo tempo que permita © estabelecimento de uma relacio respeitosa e atenda as expectativas do usuario em suas duvidas e questionamentos; * Quando visitar? O profissional deve lembrar-se que seu objetivo é atender 0 usuario, portanto, a visita domiciliar deve interferir 0 minimo possivel em sua vida e rotina didria. Dessa forma, estéo descartadas as visitas “surpresa", sem um agendamento prévio, pois, além de carregarem um carater investigative e controlador, podem ser interpretadas como uma invasdo. Visitas domiciliares devem ser agendadas em dias e horarios que sejam propicios tanto ao profissional quanto ao usuario; * Com quem visitar? Em algumas situacées, a intervencdo ou assunto a ser tratado necessitara da aco de mais profissionais, dai a necessidade do assistente social se fazer acompanhar de outros técnicos da equipe de trabalho, 0 que deve ser acordado antes com o usuario. Mais que “companhia’, a presenca de outro profissional deve oferecer a oportunidade de mais um olhar, uma observacdo que estar contribuindo para o trabalho a ser realizado. Reuniao De acordo com Souza (2008), as reunides séo espacos coletivos, encontros grupais, os quais tém como objetivo o estabelecimento de alguma espécie de reflexdo ou encaminhamento sobre determinado assunto, ou ainda a tomada de decisao. As reuniées podem acontecer com a participacdo de diferentes sujeitos, populagio usuaria ou equipe profissional. © que a caracteriza € 0 fato de que o assunto ou a tomada de decisio prescindem de um coletivo, ndo podendo ser tratado por uma s6 pessoa. Para Souza (2008, p. 127), “essa postura ja indica que, ao coletivizar a decisdo, o coordenador de uma reunido se coloca em uma posicao democratica. Ao liderar uma reunido, o profissional precisa estar consciente de seu papel, 0 que significa adotar uma postura que privilegie: Y Ter firmeza quanto ao cumprimento dos objetivos da reuniao; ¥ Reconhecer que o espaco da reunido é um espaco politico de tomada de decisdo, o que envolve a negociagao, o jogo de forcas ¢ interesses; ¥ Como moderador, conduzir as discussdes de forma que todos tenham tempo e espaco para uma discusséo objetiva, uma participagio equilibrada, promovendo a aprendizagem e 0 estabelecimento de relacdes horizontais em prol da elaboracao criativa de solucdes para os problemas abordados, ou em torno da tomada de decisées que se facam necessdrias (COLETTE, 2001). Para a realizacao da reunido muitas técnicas podem ser utilizadas, sendo que a escolha deverd ser guiada levando em conta os participantes ¢ 0s objetivos a serem alcancados. Muito comum, a dindmica de grupo é uma técnica na qual so utilizados jogos, brincadeiras, simulacées de determinadas situagdes, tendo como alvo a reflexao acerca de uma determinada tematica. O assistente social como facilitador ou moderador atua como um agente que provoca situagdes que levem o grupo a reflexdo, 0 que requer dele tanto habilidades teéricas (a escolha do tema e como ele sera trabalhado), uma postura politica democratica, assim como a capacidade de controlar 0 processo da dinamica de maneira que os objetivos sejam alcancados (SOUZA, 2008). Articulacao Quando nos referimos a articulagéo como um dos instrumentos de trabalho do assistente social, estamos nos referindo a sua capacidade de trabalhar em rede De acordo com Bourguignon (2011, p. 4), 0 termo rede sugere a ideia de articulagio, conexao, vinculos, acées complementares, relacdes horizontais entre parceiros, interdependéncia de servicos para garantir a integralidade da atencéo aos segmentos sociais vulnerabilizados ou em situacao de risco social e pessoal. Nesse sentido, a articulacdo compreende a acao do conjunto integrado de profissionais de diversas areas, que partilham informacées, ideias, na gestéo e execucdo de servicos e programas que priorizam o atendimento integral ao usuario ou populacdes em situacdo de risco e vulnerabilidade social, na visdo da garantia e vivéncia de direitos. O trabalho articulado nas redes permite a criacdo de espacos onde as praticas de cooperacdo constituem um meio para encontrar saidas e solugées para a intervencao na realidade social complexa. As redes sociais, nesta perspectiva, sao consideradas alternativas no enfrentamento das expressées da questo social. Séo igualmente vinculadas a0 conhecimento da realidade local e de cultura. Pressupde, portanto, o fortalecimento da sociedade civil organizada, preparada para uma a¢do participativa frente a administracao publica, (MIOTO e SCHUTZ, 2011, p. 64). Dentro dessa perspectiva, a ideia do trabalho em rede exige grande sintonia com a realidade local, com uma sociedade civil fortalecida e organizada, com uma cultura de organizacao social e de profissionais capazes de mobilizarem-se e atuarem participativamente da e na administracao publica. Do profissional do Servico Social se demanda a capacidade de trabalhar de forma ‘interdisciplinar, articulando-se com outros profissionais e outras areas do conhecimento, tendo consciéncia da complexidade das diversas manifestacdes da questéo social. A questio social, do campo de trabalho e da atuacdo do assistente social tem seu desenho a partir de uma mescla de situagdes historicamente construidas com nuances socials, econdmicas, politicas e culturais. Assimilé-las é tarefa interdisciplinar. A compreensao da complexidade da questao social e de seus reflexos na vida humana e na sociedade exige uma visio ampliada a partir do cruzamento de ideias, estudos e pesquisas desenvolvidas em diferentes areas do conhecimento. Consequentemente, a agio em torno da questa social também deve acontecer por meio de um trabalho que precisa envolver a acao coletiva de diferentes profissionais. Trata-se de uma nova inteligibilidade no tratamento deste fenémeno que atinge a todos e a sociedade. (MORAES e MACIEL, 2015, p. 76). Mobilizacao A mobilizagdo como instrumento de acdo do Servico Social esta intimamente ligada ao trabalho coletivo, comunitdrio, conforme vimos anteriormente. De acordo com Abreu e Cardoso (2009), 0s processos de mobilizacdo e organizacdo resgatam o carater socioeducativo da acdo do Servico Social. O que iré determinar o objetivo dessa ado serd a postura profissional embasada no compromisso ético-politico de atuar “tendo como horizonte a conquista da emancipagao humana, passando pelas lutas democraticas e pelo fortalecimento de processos emancipatérios das classes subalternas e de toda a sociedade” (ABREU; CARDOSO, 2009, p. 9). lamamoto (2009, p. 6) corrobora com essa ideia quando afirma que Os assistentes sociais realizam assim uma acdo de cunho socioeducativo na prestacio de servigos sociais, viabilizando 0 acesso aos direitos e aos meios de exercé-los, contribuindo para que necessidades e interesses dos sujeitos socials adquiram visibilidade na cena publica e possam ser reconhecidos, estimulando a organizacao dos diferentes segmentos dos trabalhadores na defesa e ampliacao dos seus direitos, especialmente os direitos sociais. Afirma o compromisso com os direitos e interesses dos usuarios, na defesa da qualidade dos servicos socials. © desempenho da funcao do assistente social nos processos de mobilizacao social, na atual conjuntura, tem passado por transformac6es condicionadas pela reestruturacao produtiva e pelas reformas institucionais, as quais, sob orientago neoliberal, tém determinado alteracoes no campo profissional, isso se caracteriza por novas demandas e novos espacos sécio- ocupacionais. Dessa forma, destacam-se como demandas, espacos e estratégias de e para a mobilizacao e organizacao social: > Foruns e conselhos de direitos e de politicas: para que 0 processo de mobilizacdéo ocorra de forma coerente com 0 projeto ético-politico da categoria, a atuagao do profissional deve acontecer por meio de uma insercdo critica e de um compromisso politico, buscando a inscrigéo dos interesses imediatos dos usuarios na agenda das politicas publicas e sociais, mantendo 0 espacos de luta e de conquista no interesse das necessidades e demandas da populacao. > Comunicagao social: como estratégia de mobilizacdo, a comunicacao social pode ser amplamente utilizada pelo assistente social, por meio da linguagem escrita e audiovisual, divulgada pela midia, tendo como objetivo a construcao de uma consciéncia critica capaz de desenvolver agées coletivas que facam frente a ago dominadora. Desenvolve-se, também, na produco de material e de pesquisa que traga novas visdes acerca da questao social, enriquecendo e dinamizando 0 debate no meio profissional, bem como inovando praticas no sentido de propiciar o efetivo atendimento dos usuarios e da populacdo. Movimentos sociais: Com relacdo aos movimentos sociais, destacamos que a Lei n. 8.662, de 7 de junho de 1993, que regulamenta a profissao, estabelece, respectivamente, nos seus artigos 4° e 5°, as competéncias e atribuicdes privativas do assistente social. Nesse sentido, em seu Art. 4. V. preconiza “prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada as politicas sociais, no exercicio e na defesa dos direitos civis, politicos e sociais da coletividade”. v Dessa forma, salientamos o importante papel do Servico Social neste contexto onde sao gestadas e construidas reivindicacées, lutas sob as mais diversas bandeiras e temas, nas quais © profissional tem a oportunidade de atuar movido pela perspectiva de defesa e ampliagdo dos direitos da coletividade. Abreu e Cardoso (2009) ainda destacam como espacos e formas de mobilizacao social a participacdo do Servico Social no ambito da formacao e capacitagio de mao de obra, na formacao de grupos de producao, nos convénios entre entidades publicas e privadas, com vistas & insercdo do trabalhador no mercado de trabalho, bem como a atuacao em sindicatos € outros espacos de mediacao politica. Em todos esses espacos, demandas e estratégias de atuacdo, lembramos que é imprescindivel conhecer os sujeitos, a populacéo com a qual trabalhamos, explicitar a complexidade e a totalidade das dificuldades que perpassam suas expectativas e necessidades para garantir um Processo que resulte em autonomia e efetiva participacao. Estudo social Sendo utilizado principalmente para contribuir com decisées judiciais, o estudo social constitui um instrumento do Servico Social que visa a analisar determinadas conjunturas da realidade social a ser trabalhada, com o objetivo de apresentar respostas as demandas postas. De acordo com CFESS (2004), 0 estudo social consta de um procedimento metodolégico especifico do Servico Soci critica uma determinada situacdo ou manifestacdo da questao social, objeto de intervencdo I, que tem como finalidade conhecer com profundidade e de forma profissional, tendo como foco os aspectos socioecondmicos e culturais. Apesar de ser utilizado nas mais diversas areas de intervencao profissional, o estudo social na contemporaneidade se apresenta como suporte fundamental para a aplicagdo de medidas junto a Justi¢a da Infancia e da Juventude, a justica da familia, a justica criminal e as acdes judiciarias relacionadas a seguridade e previdéncia social. A solicitacao do estudo social pode ser feita ao assistente social tanto na condicao de funcionario do sistema judicidrio quanto na de “inteligéncia coletiva’ como espaco de troca de saberes e de geracao de novos De acordo com CFESS (2004), para a realizacdo do trabalho o assistente social estuda a situacdo, realiza uma avaliagdo e emite um parecer, por meio do qual pode apontar medidas sociais e legais a serem tomadas. O profissional dialoga, observa, registra, emite pareceres, podendo reconstituir acontecimentos que geraram situacées, objeto de seu estudo e anilise. Como fonte para coleta de dados, dispée de observacées, entrevistas, pesquisas documentais € bibliograficas a partir dos quais vai elaborando o estudo social, do qual poderao derivar laudos, pareceres, relatérios e outros documentos. Lembramos que “de sua fundamentacdo rigorosa, tedrica, ética e técnica, com base no projeto da profissao, depende a sua devida utilizagdo para a garantia e ampliacdo de direitos dos sujeitos usuarios dos servicos sociais e do sistema de justica” (CFESS, 2004, p. 43). DOCUMENTOS Diario de campo: sistematizando o estudo e a pratica profissional De acordo com Lima et al (2007) e Souza (2008), 0 diario de campo consiste no documento onde sao registradas as observacées, comentarios e reflexdes referentes ao cotidiano tanto do aluno em processo de formacdo em seu estagio quanto do profissional em sua atuacdo, podendo conter dados referentes a processos de pesquisa e dados do trabalho propriamente dito, Ja Lewgoy e Arruda (2003, p. 6) afirmam que “o diario constitui um instrumento capaz de possibilitar 0 exercicio académico na busca da identidade profissional.” O diario de campo se apresenta, portanto, como uma ligacdo entre teoria e pratica, academia, campo de estagio & supervisdo. Dessa forma, é recomendavel que seja usado diariamente, garantindo a maior sistematizacdo e detalhamento possivel de todas as situagées ocorridas no dia, além das entrelinhas nas falas dos sujeitos durante a intervengao (LIMA et al., 2007). Para Souza (2008), 0 diario de campo consiste num documento que auxilia bastante tanto 0 aluno quanto o profissional no trabalho cotidiano, pois permite a sistematizacdo das atividades e a posterior reflexdo tdo necessaria ao processo acao/reflexao. 0 diario de campo é importante porque o Assistente Social, na medida em que vai refletindo sobre 0 proceso, pode perceber onde houve avangos, recuos, melhorias na qualidade dos servicos, aperfeigoamento nas intervencées realizadas - além de ser um instrumento bastante interessante para a realizagio de futuras pesquisas. Ele @ de extrema utilidade nos processos de andlise institucional, o que & fundamental para localizar qualquer proposta de insercio interventiva do Servico Social. (SOUZA, 2008, p. 130). 0 diario de campo deve conter inicialmente a descricao do que esta sendo vivido, observado, falado. Essa descricao deve ser feita em linguagem clara e objetiva, porém, nao prescindindo de detalhes que posteriormente poderao ser uteis a andlise e reflexao Numa segunda etapa, 0 dirio de campo deve prever um espaco para a interpretacéo do que foi observado, 0 que ocorre a luz dos referenciais tedrico- metodolégicos e da racionalidade/intencionalidade que embasam a pratica. Por fim, hd que se prover um espaco para as conclusées preliminares, bem como o registro de duvidas, situacdes imprevistas e desafios. Dessa forma, 0 diério de campo adquire um cunho descritivo-analitico, além de um carater investigative e de sintese, consistindo em um referencial para construgao, desconstrugéo e reconstrucéo do conhecimento profissional e do agir por meio de registros quantitativos qualitativos. Com esse contetido, estudante e ou profissional estaréo munidos de material que permitira a andlise critica e reflexiva e a sistematizacao da praxis Alam da relevancia que 0 diario de campo encerra para o estudante ou profissional de forma particular, ele constitui, ainda, um instrumento muito util para a padronizacao, que ultrapassard o nivel do profissional e dos servicos e ira subsidiar a avaliacao e o planejamento de politicas, programas em niveis mais abrangentes, o que Lewgoy e Arruda (2003) chamam de “inteligéncia coletiva” como espaco de troca de saberes e de geracéo de novos conhecimentos. Relatério social: a descricao da intervencao do assistente social De acordo com o CFESS (2004), o relatério social como documento especifico elaborado por assistente social consta da apresentacéo descritiva e interpretativa de uma determinada situagdo ou manifestacdo da questdo social enquanto objeto de sua intervencdo profissional Portanto, € um documento que tem em seu conteddo descricées e interpretacdes das intervencées e agdes desenvolvidas pelo assistente social no seu cotidiano de trabalho. Para Souza (2008), o relatério social € uma exposi¢éo do trabalho e das informacées adquiridas ao longo da execucéo de uma determinada intervencao pelo assistente social, sendo instrumento privilegiado para a sistematizagao de sua pratica. Como qualquer outro documento no ambito da atuacao profissional, a elaboracao do relatério social deve ser conduzida pelos principios éticos, os quais deverao guiar a escolha do que deve ser registrado, considerando que alguns documentos sao de uso exclusivo do Servico Social e outros poderao ser expostos a anilise de outros profissionais, ou mesmo poderdo vir a pUblico (CFESS, 2004). Ainda no que diz respeito elaboracao do relatério social, deve ser levado em conta a quem ele se destina: se para profissionais da area, para outras categorias profissionais; se para uso interno ou externo. Essas definicdes iro determinar qual a linguagem mais adequada ou qual formato ird atender seu objetivo, considerando que trata-se de um relatério social, o que diz respeito A insercao do Servico Social na divisdo do trabalho por meio de um profissional que atua nas diferentes manifestages da questdo social. Sendo assim, os dados e fatos relatados estao carregados de significados e sdo de natureza social (SOUZA, 2008). Pericia social: a contribuicao do assistente social na tomada de decisdo E recorrente no meio académico entre alguns autores, que se considere o estudo social e a pericia social como tratando-se da mesma matéria, no entanto, com base no CFESS (2004), vamos identificar a Pericia Social como a avaliagdo, exame ou vistoria solicitada ou determinada no Ambito do judiciério, e que pode ser realizada por um conjunto de profissionais de diversas dreas do conhecimento cientifico, os quais séo designados para auxiliar a justica na elucidagdo da questo demandada. Em se tratando da atuacao especifica do assistente social, é identificada como Pericia Social, sendo realizada por meio do estudo social e, indo além desse, pois implica na elaboragio de uma laudo e na emissdo de um parecer. Para sua elaboracdo, o profissional se utiliza de técnicas e instrumentos pertinentes ao exercicio da profissdo, 0 que envolve a realizacdo de entrevistas, contatos, visitas, além de pesquisa documental e bibliografica, que venham e ser necessarias para o estudo, andlise interpretacdo da situacdo, e para a elaboragéo do parecer. Novamente o estudo requer todo 0 conhecimento acerca dos aspectos concernentes as diversas manifestacdes da questo social, além do dominio das competéncias profissionais: competéncia ético-politica, competéncia tedrico-metodolégica e competéncia técnica-operativa, conforme vimos anteriormente, e que irao habilitar o profissional do Servico Social a realizar a pericia social A realizagao da pericia social, possibilita ao assistente social a emissio de um estudo e um parecer social referentes a demanda’apresentada, o que resultara no laudo social. O laudo, de fato, € 0 resultado documental da pericia social, como veremos na sequéncia de nosso estudo. Parecer social: a opiniao fundamentada e profissional do assistente social O parecer social, de acordo com CFESS (2004), diz respeito a esclarecimentos e andlises, tendo como base 0 conhecimento especifico do Servico Social acerca de uma determinada questo ou de questées para as quais alguma decisdo precisa ser tomada. Trata-se de uma avaliacdo técnica e tedrica elaborada pelo assistente social, tendo como base dados entao coletados. 0 parecer social, segundo Souza (2008), da ao assistente social uma identidade profissional. Sem 0 parecer, 0 relatério elaborado torna-se uma simples descricdo de fatos, visto que é por meio do parecer que o profissional se identifica, posicionando-se diante das situacdes verificadas na realidade social, posicionamento que se da a partir do Cédigo de Etica profissional, os pilares basicos para sua avaliacao. Trata-se de exposicio e manifestacéo sucinta, enfocando- se objetivamente a questo ou situacdo social analisada, e os objetivos do trabalho solicitado € apresentado: a andlise da situagdo, referenciada em fundamentos tedricos, éticos técnicos, inerentes ao Servico Social ~ portanto com base em estudo rigoroso e fundamentado - e uma finalizagdo, de carter conclusivo ou indicative. (CFESS, 2004, p. 47). Por fim, Souza (2008) sugere que, além de uma avaliacdo referente ao passado, o parecer social também deve realizar uma analise prospectiva, demonstrando os’ possiveis desdobramentos que uma determinada situacdo podera apresentar e levantando hipoteses sobre possiveis consequéncias da situacdo. Salienta o autor que deve ainda constar do parecer novas acdes que poderdo ser desenvolvidas pelo proprio assistente social ou outros profissionais que estejam envolvidos com a situacao. Laudo social: 0 resultado da pericia social © laudo social € utilizado no meio judiciério como mais um elemento de prova, que vem subsidiar a decisdo judicial a partir do conhecimento especifico do Servico Social acerca da situagéo em julgamento. Sendo o documento resultante da pericia social, ele apresenta o registro das informagées mais significativas do estudo e da andlise realizada e o parecer social (CFESS, 2004). Chamamos sua atengao para o fato que a terminologia laudo é universalmente utilizada por todas as categorias profissionais que atuam na area de pericia, no entanto, 0 termo laudo social é prerrogativa do assistente social, que para tal foi contratado como perito social, © laudo social possui a seguinte estrutura: Introducao: texto onde consta a demanda judicial e o objetivo; Identificacao: relacéo dos sujeitos envolvidos; 3. Metodologia: descricdo da metodologia utilizada para sua elaboracdo, esclarecendo a especificidade da profissdo os objetivos do estudo; 4, Relato analitico: esclarecimento da construcdo historica da questdéo estudada e do estado social atual dela; 5. Concluséo ou parecer social: trata-se de uma sintese da situacdo, com uma breve anilise critica e o apontamento de conclus6es ou indicagées de alternativas do ponto de vista do Servico Social, no qual estara expresso 0 posicionamento profissional referente A questdo em estudo. Ainda no que se refere a sua elabora¢do, recomenda o CFESS (2004) que 0 laudo social néo precisa apresentar todo o detalhamento do estudo realizado (0 qual deve ficar registrado por meio dos documentos adequados, permanecendo arquivados no espaco de trabalho do profissional e disponiveis para consulta quando for necessario), excetuando-se as situagdes em que for julgado necessario uma apresentago mais detalhada, que resulte em maior clareza € entendimento, atendendo as diretrizes e principios éticos da profissdo Finalizando, lembramos a vocé mais uma vez a importancia da documentacao tanto neste momento de sua formagao quanto no futuro em sua atuacao profissional, pois é no proceso que envolve a pratica ¢ a reflexdo que iremos construindo 0 arcabouco teérico metodolégico que nos referéncia e nos diferencia em nosso fazer profissional © principio do qual se parte considera que a marca da contemporaneidade esta no papel desempenhado pelo conhecimento e, particularmente, naquele referente a0 direcionamento e 4 fundamental a documentacao do exercicio profissional de uma profisséo que se define por seu carter interventivo. (LIMA et al., 2007, p. 95). Pesquise, reflita, questione, escreva, anote, publique, seja curioso, inquiridor, construa e reelabore sua vida, sua formacao e sua pratica académica e profissional. Referéncias Bil graficas ABREU, M. M.; CARDOSO, F. G. Mobilizagdo social e praticas educativas. In: ABEPSS; CFESS (Org). Servico Social: direitos sociais._e competéncias _profissionais. Brasilia: Cfess/Abepss,UnB, 2009, p, 593-608, ALMEIDA, N. L. T. Retomando a tematica da “sistematizaco da pratica” em servico social. In: MOTA, A. E, et al. (Org.). Servigo social e satide: formacao e trabalho profissional. Sio Paulo: Cortez, 2006. AMARO, Sarita. Visita Domicil Editora AGE, 2007. : Guia para uma abordagem complexa. 2° ed. Porto Alegre AZEVEDO, Isabela Sarmet. A Relagéo Teoria/Método/Instrumentais: uma leitura a partir da concep¢ao de profissdo. In: Textos & Contextos. Porto Alegre, v. 12, n. 2, p. 325 - 333 jul./dez. 2013. BELEI, Renata Aparecida, et al. 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