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Pragmatica José Luiz Fiorin Veja agora Senhora est bom melhor! Mas, fancamente, acho que a sao devia ter uma dara de companiat a.com td prazer disse a Rain. ~ Dois pence por semana & doce todos os outs dis, Alice no pe deixar der, enquato respon: Nao esto me cantar ‘do.-e lo gosto ita assim de dees, ~# doce de muito boa qualidade — amo a Raina ~ om, nj, pelo menos, do estou querend, Hoje voed nao podria tr, om pelo menos nem pelo mais disse a Raina. Arogm & dove aman e dace ontem ~e nunc doce hoje. ‘Algumas vers tem dese “doe hoje” objetou Alice io, no pode — disse a Raina, Tem de er sempre doce tos 0 ours dias ora, 0 ia de hoje nao & uo da qualgu, como voc sabe, Aes (Carol, Lewis, As aventras de ee 3 e, So Paso, Summ. 182), 1. Introdug¢Go Nessa passagem, Alice ea Rainha Branca discutem sobre o sentido de certas palavras como hoje © outros. Interessa-nos aqui a discussio sobre o significado do termo hoje. Para a Rainha, o sentido das palavras ontem, hoje ¢ amanhd &fixo, Por isso, se a regra é doce amanha e doce ontem, Alice nio poderd nunea ter 0s doces, J4 Alice mostra que o sentido dessas palavras esta relacionado ao ato de produzir um enunciado e, por isso, algumas vezes “tem de ser doce hoje”, jé que hhoje & 0 dia em que um ato de fala é produzido. O significado da palavra hoje se dé na relagao com a situagdo de comunicagao, No primeiro volume, vimos que a Pragmitica é ciéncia do uso linguistico, estuda as condigdes que governam a utilizago da linguagem, a pritica linguistica Um dos dominios de fatos linguisticos que exigem a introdueao de uma dimensiio pragmatica nos estudos linguisticos é a enunciagao, ou seja, 0 ato de produzir enunciados, que sio as realizagées linguisticas coneretas, Essa exigéncia se dé, porque ha certos fatos linguisticos, que sé so entendidos em fungao do ato de enunciar. E 0 que acontece, por exemplo, com os déiticos, que séio elementos linguisticos que indicam 0 lugar ou © tempo em que um enunciado ¢ produzido ou enti os participantes de uma situagdo de produgdio do enunciado, ou seja, de uma enunciacao. Sao déiticos os pronomes pessoais que indicam os participantes 162. Inroduede & Linguistica da comunicagao, ew/tw; 08 marcadores de espago, como os advérbios de lugar e os pronomes demonstrativos (por exemplo, aqui ld, este, esse, aquele), 08 marcadores, de tempo (por exemplo, agora, haje, omiem). Um déitico sé pode ser entendido dentro da situagtio de comunicago e, quando aparece, num texto escrito, a situa- ‘glo enunciativa deve ser explicitada. Se encontrarmos um bilhete em que esteja escrito Ontem trabalhei muito aqui, nio entenderemos plenamente a mensagem, pois no saberemos quem trabalhou, quando é ontem e onde ¢ aqui. Em resumo, nfo se pode saber 0 sentido do eu, do onzem e do aqui da mensagem, pois falta 0 conhecimento da situago de comunicagio, No caso dos diticos, nao adianta s6 ‘ conhecimento do sistema linguistico, pois o que é preciso, para entendé-los, & conhecer a situagdo de uso. Neste capitulo, dedicado a andlise pragmitica, vamos estudar a déivis, Todo enunciado é realizado numa situagdo definida pelos participantes da comunicagao (ew/u), pelo momento da enunciagao (agora) e pelo lugar em que o enunciado & produzido (agus), As referéncias a essa situagio constituem a déixis eos elementos linguisticos que servem para situar 0 enunciado sao os diticos. E preciso refletir um pouco melhor a respeito da enunciacao, antes de comegarmos a estudar os déiticos. 2. A enunciacao © primeiro sentido de enunciagto é, como vimos, 0 de ato produtor do enunciado. Benveniste diz que a enunciagao é a colocagio em funcionamento da lingua por um ato individual de utilizagao (1974, 80), ou seja, um falante utiliza-se da lingua para produzir enunciados. Se a enunciagao é a instincia constitutiva do enunciado, ela é a instincia Linguistica logicamente pressuposta pela propria existéncia do enunciado, o qual comporta seus tragos e suas marcas (Greimas € Courtés, 1979, 126). O enunciado, por oposi¢do a enunciagio, deve ser concebido como o“estado que dela resulta, independentemente de suas dimensdes sintagmé- ticas” (Greimas ¢ Courtés, 1979, 123). Considerando dessa forma enunciagio e ceunciado, este comporta frequentemente elementos que remetem a instiincia de ‘enunciago: pronomes pessoais, demonstrativos, possessivos, adjetivos e advér- bios apreciativos, advérbios espaciais e temporais, etc. Esse conjunto de marcas cenunciativas colocado no interior do enunciado nio é a enuneiagao propriamente dita, cujo modo de existéncia é ser o pressuposto légico do enunciado, mas é a enunciagdo emmnciada. Teriamos, assim, dois conjuntos no texto: a emunciagdo ‘emunciada, que é 0 conjunto de marcas, nele identificveis, que remetem a instaneia de enunciagao; 0 emmciado, que ¢ a sequéncia enunciada desprovida de marcas de enunciagao. Quando se diz.4 Terra é redlonda, tem-se o enunciado, pois 0 texto aparece sem as marcas do ato enunciativo, No entanto, quando se afirma Ew digo Pragmatca 163 que a Terra é redonda, enuncia-se no enunciado o proprio ato de dizer. Tem-se, enti, a enunciagao enunciada, E na linguagem e por ela que 0 homem se constitui como sujeito, dado que, somente ao produzir um ato de fala, ele constitu-se como eu (Benveniste, 1966, 259). Eu &aquele que diz eu. O eu existe por oposiedo ao tu. Dessa forma, o ew estabelece uma outra pessoa, aquela a qual ele diz tu e que Ihe diz av, quando, por sua vez, toma 4 palavra, A categoria de pessoa ¢ essencial para que a linguagem se tome discurso, ‘Como a pessoa enuncia num dado espago e num determinado tempo, todo espago ¢ todo tempo organizam-se em tomo do “sujeito”, tomado como ponto de referéncia. Assim, espaco e tempo esto na dependéncia do eu, que neles se enuncia. O agui é 0 espago do eu € 0 agora & 0 momento da enunciagao, A partir desses dois elementos, organizam-se todas as relagdes espaciais e temporais, Como a enunciacdo ¢ 0 lugar de instauragao do sujeito e este é o ponto de referéncia das relagdes espagotemporais, ela & 0 lugar do ego, hic ef mine. Ben- veniste usa 05 termos latinos ego (eu), hic (aqui), mune (agora), para mostrar que essas categorias, de pessoa, de espago e de tempo, nao existem apenas em algumas linguas, mas sio constitutivas do ato de produgao do enunciado em qualquer lingua, em qualquer linguagem (por exemplo, as linguagens visuais). Num texto, vemos que aparecem diversos eu, que remetem a diferentes instancias enunciativas. Observe o texto que segue Encontreme com Pedro, que me disse Estou muito insaisfeito com minha relagdo com Ada Nele, 0 eu que diz que se encontrou com Pedro no remete mesma instaneia enunciativa que aquele que afirma estar insatisfeito com sua relagdo amorosa. Ha, num texto, basicamente trés instancias enunciativas. A primeira é a do enunciador € do enunciatério (lembremo-nos de que para cada eu existe neces- sariamente um 1) Esse primeiro nivel ¢ 0 da enunciagio considerada como o ato implicito de produgtio do enunciado e logicamente pressuposto pela propria exis- téncia do dito, Assim quando se diz Eu afirmo que todos virdo, 0 emumciador é 0 ew que diz isso, ou seja, um ew implicito, nao projetado no enunciado: (Eu digo) Eu afirmo que todos virdo, O enunciatério é 0 tu a quem ele se dirige. Enunciador € enunciatirio correspondem ao autor e leitor implicitos ou abstratos, ou seja, & imagem do autor e a do leitor construidas pela obra. O enunciatario, como filtro ¢ instineia pressuposta no ato de enunciar, é também sujeito produtor do discurso, pois 0 enunciador, ao produzir um enunciado, leva em conta o enunciatirio a quem ele se dirige. Nao é a mesma coisa fazer um texto para criangas ou para adultos, para leigos numa dada disciplina ou para especialistas nela, O segundo nivel da hierarquia enunciativa é constituido do ew e do tw talados no enunciado, No nosso caso, é 0 ew de Eu afirmo que todos virdo, Sto chamados narrador ¢ narratirio. Eles podem permanecer implicitos, como, por exemplo, quando se narra uma histéria em terceira pessoa. 164 Intredugao & Linguistica I terceiro nivel da hierarquia enunciativa instala-se, quando o narrador da ‘voz a uma personagem, em discurso direto. No exemplo mais acima, é 0 eu que afirma sua insatisfagio com sua relagio com Adélia. O eu ¢ 0 tu desse nivel sto ‘chamados interlocutor e interlocutirio, Passemos ao estudo mais detalhado das categorias de pessoa, espago e tempo, que constituem o que Benveniste chamava 0 aparelhio formal da enunciagao. 3. A pessoa Benveniste mostra que as tr6s pessoas nilo tm o mesmo estatuto. Ha tragos ‘comuns na I* ena 2* pessoas, que as diferenciam da 3*. Fm primeiro lugat, enquanto ‘ewe fu sio sempre os participantes da comunicagao, o efe designa qualquer set ou nfo designa ser nenhum, Com efeito, usa-se apenas a 3" pessoa, quando a pessoa nfo é determinada, notadamente na chamada expressdo impessoal, em que um processo é relatado como puro fendmeno cuja producdo nao esta ligada a qualquer agente ou causa (por exemplo: Chove, Faz sol, Faz dois anos). Depois, et tt 0 reversiveis na situacdo de enunciagdo. Quando dirijo a palavra a alguém, ele é 0 ‘tu, quando ele me responde, ele passa a ser eu e eu tomno-me tu, No entanto, no & possivel a reversibilidade com o ele. A 3* pessoa & 2 ‘inica com que qualquer coisa 6 predicada verbalmente. Com efeito, uma vez que ela ndo implica nenhuma pes- soa, pode representar qualquer sujeito ou nenhum e esse sujeito, expresso ou nao, no é jamais instaurado como participante da situagtio de enunciagao. Por essas raz0es, a chamada categoria de pessoa possui, para Benveniste, duas correlagde 1) ada pessoalidade, em que se opdem pessoa (eu/ni) e ndo pessoa (ele), ou seja, participantes da enunciaglo e elementos do enunciado; 2) a da subjetividade, em que se contrapéem eu vs i; a primeira é a pessoa subjeriva e a segunda é pessoa nao subjetiva (1966, 230-232). Nao se pode esquecer que € a situagio de enunciagao que especifica o que & pessoa e 0 que € ndo pessoa, pois ¢ ela quem determina quem sdo os partici- pantes do ato enunciativo e quem nao participa dele. Chamaremos, entdo, pessoas enunciativas aquelas que participam do ato de comunicagdo, ou seja, 0 eu € 0 tt, € pessoa enunciva aquela que pertence ao dominio do enunciado, ou seja, 0 ele. Uma outra diferenga entre a 3* pessoa e as demais reside no fato de que esta, em portugués, apresenta uma forma de feminino e faz.o plural como todas as outras palavras da lingua, com o acréscimo de um morfema s. As duas outras pessoas nao tém formas especificas para o masculino e o feminino e tém formas distintas para o singular e 0 plural, O fato de termos formas distintas para as chamadas I" ¢ 2 pessoas do plural mostra que no hé nelas uma simples pluralizagao, enquanto na 3* isso ocorre. Embora haja um vés pluralizado, nds e vds so antes pessoas amplificadas (eu + outra pessoa ou tu + terceira pessoa). saul Pragmética 165 Os significados das pessoas sao: eu: quem fala, ew € quem diz ew; ‘: aquele com quem se fala, aquele a quem 0 eu se torna o enunciatario; liz. m1, que por esse fato ele: substituto pronominal de um grupo nominal, de que tira a referéncia; participante do enunciado; aquele de que ewe tw falam; ‘nds: no & a multiplicagao de objetos idénticos, mas a jungzio de um ew com um ndo eu; ha trés nds: um nds inclusivo, em que ao ew se acrescenta um. ‘u (singular ou plural); um nds exclusivo, em que ao eu se juntam ele ov eles (nesse caso, 0 texto deve estabelecer que sintagma nominal o ele presente no nds substitui) e um nds misto, em que ao en se acrescem (singular ou plural) e ele(s). vids: um ves €0 plural de ve outro é um vés, em que ao tse juntam ele ou eles; eles: pluralizagao de ele. Basicamente, trés conjuntos de morfemas servem para expressar a pesson: 0s pronomes pessoais reios € obliquos; os pronomes possessivos e as desinéncias mimero-pessoais dos verbos. Os pronomes pessoais exprimem as pessoas pura e simplesmente, Os retos exprimem a pessoa em funciio subjetiva e os obliquos, em funedo de complemento. Os adjetivos possessivos sto uma variante dos pronomes pessoais, empregada quando se expressa uma relagdo de apropriagdo entre uma pessoa (0 possuidor) ¢ ima “coisa” (0 possuido). Quando o possessivo acompanha nome concreto comprivel, significa posse (meu livro, minha casa); quando esti associado a nome de lugar, indica lugar em que se nasceu, lugar em que se mora (minha cidade, meu pais); quando esta junto a nome designativo de parentesco, assinala a relagdio de consanguinidade ou de afinidade (meu cunhado), quando esté em companhia de nome designativo de insti- tuigdo, marca pertenga (minha escola, meu regimento); quando esta unido a nome referente a pessoa, denota relagdo afetiva intensa (minha querida, meu amor). Ha nomes que nao admitem a presenga de possessivo, a menos que sejam usados em sentido figurado, como, por exemplo, mundo, meridiano, céu, chuva, 36 0s nomes abstratos tém uma classificagao diferente, Podem ser de aco, processo e estado. Quando um possessivo acompanha um abstrato de agi, indica o agente (minha partida = eu parto); quando esti associado a um abstrato de processo, assinala 0 paciente (minha morte = eu morri); quando esta em companhia de um abstrato de estado, marca posse de um dado atributo (minha tristeza = eu estou triste). 166 Introducdo Linguistice 4,0 tempo ‘Uma coisa ésituar um acontecimento no tempo cronolégico e outra é inseri-lo no tempo da lingua. O tempo linguistico é diferente tanto do tempo cronoligico, quanto do tempo fisico. Este é 0 tempo mareado, por exemplo, pelo movimento dos astros, que determina a existéncia de dias, anos, etc. Aquele é 0 tempo dos acontecimentos, o tempo do calendario (Benveniste, 1974, 73). (0 que o tempo linguistico tem de singular é que ele € ligado ao exercicio da fala, pois ele tem seu centro no presente da instancia da fala. (Benveniste, 1974 73). Quando o falante toma a palavra, instaura um agora, momento da enunciagao. Em contraposigio ao agora, cria-se um entdo. Esse agora é, pois, 0 fundamento das oposigdes temporais da lingua. tempo presente indica a contemporaneidade entre 0 evento narrado ¢ 0 momento da enunciagdo. Mas, como nota Benveniste, esse presente, enquanto func do discurso, nao pode ser localizado em nenhuma divisio particular do tempo cronolégico, ja que ele as admite todas e, ao mesmo tempo, nao exige ne- nhuma, Com efeito, 0 agora ¢ reinventado a cada vez que o enunciador enuncia, 6 a cada ato de fala um tempo novo, ainda nao vivido (1974, 74). 0 agora gerado pelo ato de linguagem constitui um eixo que ordena a categoria da concomitancia vs ndo concomitdncia. A nao concomiténcia, por sua vvez, articula-se em anterioridade vs posterioridade. Assim, todos 0s tempos esto intrinsecamente relacionados & enunciaco, Com a categoria da concomitdncia vs nao concomitancia (amterioridade vs posterioridade), criam-se trés momentos de referéncia: um presente, um passado e um futuro. © momento de referéncia pre- 1m agora, pois ele coincide com 0 momento da enunciagaio. O momento de referéncia passado indica uma anterioridade ao momento da enunciagao; 0 futuro, uma posterioridade a esse momento. Os momentos de referéncia pasado e futuro precisam ser marcados no enunciado (por exemplo, Em 1822, Na semana que vent, No século passado, etc.). Nesse caso, faz-se uma ancoragem do tempo linguistico no tempo cronolégico (Benveniste, 1974, 77). No entanto, como o momento da enunciagao pode ser colocado em qualquer divisio do tempo cronolégico (por exemplo, pode-se dizer Estamos hd cem milhdes de anos. Os dinossauros passeiam pela Terra e, nesse caso, 0 agora esti colocado no passado cronolégico remoto), ‘0 tempo linguistico é que comanda as mareagdes cronologicas referidas no texto. (0 tempo do discurso sempre uma criagao da inguagem, com a qual se pode ‘transformar o futuro em presente, o presente em passado e assim por diante. A temporalidade linguistica marca as relagdes de sucessividade entre os eventos representados no texto. Ordena sua progressio, mostra quais sao anterio- res, quais so concomitantes © quais sio posteriores. Isso significa que se aplica novamente a categoria concomiténcia vs néio concomitdncia (anterioridade vs posterioridade) a cada um dos momentos de referéncia e, assim, obtemos um tempo Progmética 167 que indica concomiténeia 20 presente, anterioridade ao presente, posterioridade a0 passado e assim sucessivamente. Ha, pois, ttés momentos significativos para a determinagao do tempo linguistic: ME - momento da enunciagio; MR - momento de referéncia (presente, passado e futuro); MA- momento do acontecimento (concomitante, anterior ¢ posterior a cada uum dos momentos de referencia). O tempo é, pois, a categoria linguistica que marca se um acontecimento é concomitante, anterior ou posterior a cada um dos momentos de referéncia (pre- sentc, passado e futuro), estabelecidos em fungiio do momento da enunciagao, Existem na lingua dois sistemas temporais: um relacionado ao momento de referéneia presente e, portanto, diretamente ao momento da enunciagao, ja que o ‘momento de referéncia presente é concomitant ao momento da enuunciagao, e outro ordenado em fungio de momentos de referéncia passado ou futuro instalados no enunciado, Assim, temos um sistema enunciativo no primeiro caso e um enuincivo no segundo. Como 0s momentos de referéncia instalados no enunciado so dois, ‘temos dois subsistemas temporais enuncivos, um do pretérito ¢ um do futuro. ME (presente implicito) Bee Sistema enunciativo Sistema enuncivo concomitincia no concomitiincia MR presente oso anterioridade posterioridade MR pretérito MR fiaturo ara determinar os tempos linguisticos de cada um dos subsistemas, aplica-se, como foi dito acima, a categoria concomitdncia vs ndo concomitancia (anterio- rridade vs pasterioridade) a0 momento de referéncia, 1. Os tempos enunciativos, ou seja, os do sistema do momento de referéncia presente, ordenam-se da seguinte maneira: MR presente eee ret concomitincia _niio concomitancia presente ee anterioridade posterioridade pretérito perfeitol futuro do presente | | 168 Infrodugo & Linguistica 1 A) presente marca uma coincidéneia entre o momento do acontecimento e ‘o momento de referéneia presente. Deve haver no presente uma tripla coincidéncia: MA = MR= ME. No entanto, é necessério precisar 0 que é a coincidéncia mencio- nada, jé que o momento da enunciagao é dificil de delimitar, na medida em que foge sem cessar. Na verdade, o presente é uma abstrago do espirito, uma vez que ele se recompde com instantes que acabaram de passar e com instantes que ainda vio passar. Por isso, a parcela de tempo do momento de referéncia que esté relacionada ‘a momento da enunciagio pode variar em extenso. Assim, a coincidéncia assina- lada no deve ser entendida apenas como identidade entre esses dois momentos, ‘mas também como nao identidade entre eles, desde que o momento de referéncia, tendo uma duragio maior que o momento da enunciagdo, seja em algum ponto simulténeo a este, Poderiamos dizer que o que marca a coincidéncia, nesse caso, Eo englobamento do momento da enunciagao pelo momento de referéncia. Trés casos de relagdes entre momento de referéncia © momento da enun- ciagao podem ser elencados: a) Presente pontual: quando existe coincidéncia entre MR e ME. ‘Um reimpago fulgurs no céu Ocevento fiulgurar ocorre no momento de referéncia presente. Como este é um ponto preciso no tempo, ha coincidéncia entre ele e 0 momento da enunciacao, b) Presente durativo: quando o momento de referéncia é mais longo do que ‘omomento da enunciagao. A duragdo € varidvel, pode ser pequena ou muito longa, Ademais, pode ser continua ou descontinua, Quando for descontinua, temos o pre- sente iterativo; quando for continua, temos 0 chamado presente de continuidade. Neste ano, minsio um curso de Linguistica para os alunos do primero ano. O momento de referéncia tem a durago de um ano, E mais longo do que ‘momento da enunciago, mas, em algum ponto, é simultineo a ele. O tempo do acon- tecimento indieado pelo verbo ministrar coincide com 0 momento de referéncia, Neste milénio, a humanidade progr muito materialmente, O momento de referéncia é um milénio eo tempo do progresso coincide com cle. Nesses dois casos, temos um presente de continuidade, pois o momento de referéncia é continuo. ‘Aos silbados, nossa banda apresenta-se na cantina da Faculdade. ‘O momento de referéncia (sibados) repete-se. Por conseguinte, também o faz ‘o momento do acontecimento (apresentar-se). H4, portanto, uma coincidéncia entre eles. No entanto, nao se reitera 0 momento da enunciagdo. Este & um sé e coincide apenas num determinado ponto com o momento da referéncia: no presente da enun- cciagdo a reiteragio enunciada ocorre. Temos aqui o presente iterativo. Progmética 169 ©) Presente omnitemporal ou gnOmico: quando © momento de referencia 6 ilimitado e, portanto, também o ¢ 0 momento do acontecimento. E 0 presente utilizado para enunciar verdades eternas ou que se pretendem como tais. Por isso, 6a forma verbal mais utilizada pela ciéncia, pela religiio, pela sabedoria popular (maximas e provérbios). (© quadrado da hipotenusa ¢ igual & soma do quadrado dos catetos. (© momento de referéncia é um sempre implicito, que engloba o momento da enunciagio, Como o momento do estado (2) coincide com 0 momento de refe- réncia, o presente omnitemporal indica que o quadrado da hipotenusa ¢ sempre igual a soma do quadrado dos catetos. Em portugués, usa-se, em geral, principalmente na linguagem oral, o presente progressivo (presente do indicativo do auxiliar estar + gerindio) para exprimir 0 presente pontual ou 0 durativo. Eo que estoudizendo, Neste ano, esion esrulando bastante B) 0 pretérito perfeito I marca uma relagao de anterioridade entre o momento do acontecimento ¢ 0 momento de referéncia presente. Luiz Felipe Scolari assumiu a selegdo para salvar a pétria do vexame da eliminagio de uma Copa (VEIA, julho de 2002, Ed. 1758 A, p. 22) ‘O momento de referéncia presente & um agora, Em relagao a ele, omomento do acontecimento (assumir) € anterior, ou seja, em algum momento anterior a0 ‘momento em que estou falando, Scolari assumiu a selegao. E preciso notar uma diferenga existente entre o portugues e outras linguas romanicas, por exemplo, o francés, 0 italiano ¢ romeno, no que concerne a0 uso do pretérito perfeito. Em francés, a diferenga central entre 0 passé composé © o passé simple, & que este é um tempo enuncivo, enquanto aquele é um tempo enunciativo, O passé composé indica uma anterioridade em relagao ao presente; © simple, uma concomitancia em relagio « um momento de referéneia pretérito Em italiano, a diferenga entre 0 passado composto ¢ 0 passado simples éa mesma. Por exemplo, diz-se due anni fa andammo in Seozia e Dio ha creato il mundo. No primeiro caso, usa-s¢ 0 passado simples, porque o acontecimento fomos @ Excécia & concomitante ao marco temporal /id dois anos; no segundo, utiliza-se © passado composto, porque o acontecimento criar o mundo ocorre num momento anterior ao momento da fala. Jé em portugués o pretérito perfeito simples é usado nos dois casos, porque o pretérito perfeito composto no tem propriamente uma funedo temporal, mas sim aspectual. Com efeito, se se diz Jodo tem lido até tarde neste més, tem lido localiza o inicio do acontecimento num momento anterior 10 ‘momento de referéneia presente e, ao mesmo tempo, indica sua continuidadle no | | | | | 1 170. Introduce @ Linguistica ‘momento presente. Dessa forma, tem um valor aspectual iterativo e inacabado. Por isso, o pretérito perfeito simples acumula em portugués duas fungdes: anterioridade em relagio a um momento de referencia presente e concomitancia em relagiio a uum momento de referéncia pretérito. Temos, por conseguinte, do ponto de vista funcional, dois pretéritos perfeitos: 0 1, que & tempo do sistema enunciativo e 0 2, que pertence ao sistema enuncivo. © passado composto s6 conserva seu valor de anterioridade em casos muito restritos, para expressar um fato que acabou de ‘corter, Por exemplo, wim orador termina seu discurso dizendo Temho dito. €)0 futuro do presente indica uma posterioridade do momento do aconteci- ‘mento em relagio a um momento de referéncia presente. Ronaldo nunca mis jogarc em plenas condigdes. © acontecimento (jogardi) posterior ao momento de referéneia presente. 2..Os tempos enuncivos ordenam-se em dois subsistemas: um centrado num. ‘momento de referencia pretérito e outro, num momento de referéncia futuro, 2.1. 0 primeiro subsistema é o seguinte: MR pretérito Ta concomitancia no concomitincia eee a acabado inacabado _anterioridade -—_posterioridade pontual durativo —_pretérito mais limitado no limitado que perfeito ene pretérito Pretérito perfeito2 imperteito impertectivo perfectivo futuro do futuro do pretérito _pretérito simples composto A) A concomitincia do momento do acontecimento em relagdo a um mo- mento de referéncia pretérito pode exprimir-se tanto pelo pretérito perfeito 2 quanto pelo pretérito imperfeito. E preciso, pois, estabelecer outro eixo para distinguir 0 valor desses dois tempos verbais. A diferenga entre eles reside no fato de que cada tum deles tem um valor aspectual distinto: 0 pretérito perfeito 2 assinala um aspecto limitado, acabado, pontual, enquanto o pretérito imperfeito marca um aspecto nao limitado, inacabado, durativo, Se tomarmos duas fiases tais que No dia 30 de junho de 2002, 0 Brasil ganhou 0 pentacampeonato mundial de futebol ¢ No dia 30 de junho de 2002, 0 Brasil ganhava 0 pentacampeonato mundial de futebol, veremos que tanto ganhou Progmatica 171 ‘quanto ganhava indicam concomitincia em relagao a um momento de referén pretérito (30 de junho de 2002). No entanto, no primeiro caso, considera-se a ago como algo acabado, como uma descontinuidade (um ponto) na continuidade do momento de referéncia e, portanto, como algo dinamico, visto do exterior; no segundo, a acdo é considerada como inacabada, continua dentro da continui- dade do momento de referéncia, como algo estitico, visto do interior, durante seu desenvolvimento. Quando se apresentam miiltiplos estados ou transformagdes, o pretérito perfeito apresenta-os como sucessivos, ou melhor, como concomitantes em relagaio a diferentes momentos de referéncia pretéritos, marcados prineipalmente nas nar rativas orais por depois, em seguida, e entdo, ¢ af, ete. Por isso, 0 pretérito perfeito 0 tempo por exceléncia da narragao. Em abril de 2000, o tigamento do joetho direto de Ronaldo romper-se em plena final do campeonato italiano, O eraque fo operado, fer muita fisioterapia, voltow a brithar na Copa do Mundo de 2002 primeiro pretérito mostra um fato concomitante a um marco tempo- ral pretérito (em abril de 2000). Os dois seguintes indicam a mesma relagio com marcos temporais implicitos como depois, a seguir, em seguida. O tl- timo indica concomitincia em relagZio ao marco temporal na Copa do Munclo de 2002. CO imperfeito, a0 contro, apresenta os fatos como simultineos, como formando tum quadro continuo, ou melhor, como vinculados ao mesmo momento de referéncia pretérito, Por isso, € 0 tempo que melhor atende aos propésitos da descrigdo. ‘Aluz de um antigo candeciro de querosen, reverherava uma toa de lino claro, onde & Tougarolucia escakdada de fresco as garafas braneas, ceias de vinho de eau, espalhavam em tomo de si reflexos de ouro; uma torta de camarBes esalava sua erosta de ovos; tum amigo ssado rina aimobildade esignada de un paciente; uma cuia de farina sea simerizva com ‘otra de farinha-d'agu; no centro, o tavessto do aroz, solo, avo, erguiase em ptimid, enchendo o ar com o seu vapor cheiroso. (AZEVEDO, Aluisio (1973), 0 madato. Sto Paulo, Livraria Martins Editora, p. 188-189) ‘O momento de referencia pretérito é 0 momento do jantar. Os sete pretéritos imperfeitos remetem ao mesmo momento de referencia ¢ néio indicam agdes ou estados sucessivos, que aludem a momentos de referéncia subsequentes. Por isso, compéem uma simultaneidade, que gera um efeito de sentido de estaticidade. B) O pretérito mais que perfeito indica uma relagao de anterioridade entre o momento do acontecimento e 0 momento de referéneia pretérito, Ha duas formas desse tempo verbal: a simples e a composta, No comando da selegdo desde junho de 2001, quando foi chamado para substituiro tecnico Leto, que substiira Wanderley Luxemburgo, cle chegou para salvar a patria.) (VEIA, julho de 2002, Ed. 1758 A, p.23) 172. Inroducdo & Linguistica (O momento de referéncia, ja tomado como pretérito, é junho de 2001. 0 pretérito mais que perfeito substituira indica um fato que ocorreu antes desse momento de referéncia. [No dia seyuimte ele partiu para Franga, onde tna viviclo por muitos anos © momento de referéncia pretérito & no dia seguinte. O pretérito mais que perfeito fala de um acontecimento anterior a ele. Deve-se lembrar que a forina analitica vai substituindo a forma sintética na lingua falada, Isso se deve ao fato de que, nas inguas romanicas, foram eriadas formas compostas para expressar 0 aspecto acabado (perfectivo) e, desse modo, a forma analitica do pretérito mais que perfeito exprime, ao mesmo tempo, arelagao de anterioridade e o aspecto perfectivo, enquanto a forma sintética apresenta apenas a relagio de anterioridade. Como, no pretérito mais que perfeito, a anterioridade a0 pretérito é, por definigéio, acabada, & natural que a forma sintética va sendo ‘menos usada, ‘©)0 futuro do pretérito exprime uma relagio de posterioridade do momento do acontecimento em relagdo a um momento dle referéncia pretérito. (© quauro era dramatico eslguns médicos especularam que Ronaldo jamais vllaria a jogar como antes (VEIA, jlo de 2002, Edigdo 1758 A, p.27) O momento de referéncia pretérito é 0 instante em que o quadro da lesdio de Ronaldo era dramatico. O voltara jogar é um fato que se daré em momento posterior 49 momento de referencia. Dai porque é expresso com o futuro do pretérto. A forma composta marca, assim como a simples, um fato posterior em relago a um momento de referéneia pretérito. No entanto, ela indica também um fato anterior a outro acontecimento no futuro. Em outras palavras, para o uso do futuro do pretérito composto, levam-se em conta dois momentos de referéncia: ele & posterior a um e anterior a outro, A distinedo entre as duas formas do futuro do pretérito poderia ser considerada aspectual: o simples é imperfectivo e 0 composto € perfectivo, Claro esti que esses aspectos devem ser considerados em relagaio a perspectiva temporal em que se colocam esses tempos. Todos supunham que, quando © novo ano ehegasse o dar feria parado de subi Nessa frase, o momento de referéncia pretérito ¢ 0 momento da suposigo, Em relagdo a ele, 0 novo ano é posterior. Em relagdo a esse momento, a estabili- zago do délar é anterior. A estabilizagao do délar é, ento, posterior ao momento da suposigdo e anterior a0 novo ano. 2.2. O subsistema organizado em tomo de um momento de referéncia futuro apresenta a seguinte estrutura: Pragmatica 173 MR futuro a concomitincia no concomitincia presente do a futuro anterioridade posterioridade futuro anterior futuro do futuro A) O presente do futuro no tem em portugués uma forma especifica. E expresso por um futuro do presente simples ou um futuro do presente progres sivo (futuro do presente do auxiliar estar + gertndio) correlacionado a um marco temporal futuro. [No momento em que eu chegar, telefomarel para voe8. (© momento de referéncia futuro é 0 momento da chegada. Em relacio a ele, ato de telefonar é concomitant. B) Aanterioridade em relagdo a um momento de referéncia futuro é indicada pelo futuro anterior, que, em nossa nomenclatura gramatical, & chamado futuro do presente composto. [No final do ano, cere termrnado meu cuts. ‘O momento de referéneia futuro & no final do ano Em relagao a ele o término do curso é anterior. ©) A posterioridade em relagdo a um momento de referéncia futuro é indicada pelo futuro do presente simples, que sera, nesse caso, um futuro do futuro. Esse futuro estara correlacionado a outro(s) futuro(s). A ulterioridade de ‘um em relagdo a outro ser marcada, implicita ou explicitamente, pela palavra depois ow um sindnimno Depois de passar pela Faculdade, ie’ a sua casa (© momento de referéncia futuro 0 passat pela Faculdade. Em relagio a ele, a ida a casa do interlocutor é ulterior: (Os advérbios de tempo articulam-se também em um sistema enunciativo © um enuncivo. Aquele centra-se num momento de referéncia presente, concomi- {ante ao momento da enunciagao: este organiza-se em torno de um momento de referéncia (pretérito ou futuro) inscrito no enunciado, o que significa que, no que tange aos advérbios, nio existe um subsistema relacionado a um MR pretérito ¢ outro, a um MR futuro. Os advérbios enuncivos servem tanto para indicar o tempo pretérito como o tempo futuro. A cada um dos momentos de referéncia (enunciative te enuncivo) aplica-se a categoria concomitdncia vs ndo concomitdncia (anteriori- dade vs posterioridade), sisi 174 Introduce & Linguistica A) Advérbios do sistema enunciativo | Anterior Concomitante Posterior ha pouco agora daqui a pouco logo ontem hoje amanha ha uma (duas) sema- neste momento dentro de ou em um(ay nas/meses/anos, ete. nesta altura (duas, ete.) semana(s)’ | més(es/ano4s), etc no més/ano, ete. no préximo dia 20, 21, passado eic,/més/anofete. no tilimo mésidia 5, 6, ete, B) Advérbios do sistema enuncivo Anterior Concomitante Posterior nna véspera entao na antevéspera no diwmés/ano, etc. no mesmo dia/més’_no dia/ms/ano, etc. anterior ano, etc. seguinte um(a) semana/ uum(a) dia/semana/més/ més/ano, ete. antes ano, ete. depois dai/ali uma(a)(s) horas! dias, ete. 5. O espacgo Oespaco linguistico ordena-se a partir do ric, ou seja, do lugar do ego. Todos 0s objetos sio assim localizados, sem que tenha importincia seu lugar fisico no mundo, pois aquele que os situa se coloca como centro e ponto de referéncia da localizagio, | Oespago linguistico ¢ expresso pelos demonstrativos por certos advérbios | de lugar. 0 espago linguistico nao é 0 espago fisico, analisado a partir das categorias geométricas, mas é aquele onde se desenrola a cena enunciativa. 0 pronome demonstrativo atualiza um ser do discurso, situando-o no espaco. Segundo intimeros linguistas, essa classe de palavras tem duas fungdes distintas: uma de designar ou mostrar (déitica) e uma de lembrar (anaférica). Progmética 175 [A primeira fungao é muito importante, pois da mesma forma como nao se pode discursivizar sem temporalizar, também no se pode falar do mundo sem singu- larizar og seres a que nos referimos. Nao se podem construir discursos apenas com referéncias universais. 0 demonstrativo partilha com o artigo a fungao de designar seres singulares, mas no tem como este a fungao de generalizar. Por outro lado, ainda o diferencia do artigo sua capacidade de situar no espago (0 demonstrativo tem também a fungaio de localizar no tempo (por exempto, neste ano); neste capitulo, esse uso nao ser estudado). A fungao anaforiea, que exemplificaremos mais adiante, por seu lado, ao retomar (relembrar) 0 que fora dito, é um dos mecanismos de coesio textual, Ao lado dessa, hd também a fungao cataférica, ou seja, de anunciar o que vai ser dito. Todas essas fungdes sdo faces de um mesmo papel desempenhado pelos demonsirativos: designar seres singulares que esto presentes para os participantes da enunciagao seja na cena enunciativa, seja no contexte. ‘As gramiaticas dizem que o portugués tem um sistema tricotémico de demons- trativos. Em fungi déitica, este e esse indica o espago da cena enunciativa e aque- Je, o que esta fora dela, Este, por sua vez, marca o espago do enunciador, isto €, 0 que est préximo do eur; esse, o espaco do enunciatério, ou seja, o que esta perto do n. Ganhei este anel de meu pai - disse, segurando a joia entre os des, Esti ocupada essa cadera ao seu lado, \Voc® sabe quem é aguele homem que esti parade na ports? Em fungao déitica, no portugués moderno, esti havendo uma neutral: zagtio da oposigdo este/esse, Os dois demonstrativos tornaram-se equivalentes © esto em variagao livre, sendo que hi um nitido predominio do segundo sobre 6 primeiro. Isso significa que 0 portugués esta transitando de um sistema tri cotémico para um dicotémico, em que haverd os seguintes valores: esse (este) assinala proximidade dos participantes da enunciagto e aquele, distancia desses participantes. Esse livto que est na minha mao € muito antigo. Essa caneta ai é sua? Aquela mulher 62 mae da Ruth Em fungdo coesiva, a doutrina tradicional ensina que esfe & empregado em fungaio cataforica; esse, em fungio anaférica, indicando o que acabou de ser dito e aguele, também em fungao anaforica, marcando o que foi dito ha algum ‘tempo ou noutro contexto, Eu he dei esta informagi, que sua casa iia lel. Serviram quiabo e jlo, Ele nde comia essas coiss. Eu analisava ber textos, mas aguele do vestibular me deixou canfus. 176 Inosucae 6 Linguistica Essa normatiza¢ao tem muito de convencional, pois, na func anaférica, desaparece a oposigo esie/esse, havendo, no primeiro, um matiz de énfase, que rio esté presente no segundo. Mattoso Cémara diz que a diferenga linguistica se tormou uma distingdo estlistica. Dessa forma, também em fungao anafériea, o sistema seria dicot6mico (1970, 113-114) Quebrou virias garrafase diversos pratos © copes. Essesobjetos estavam no atmirio. Tinkam em easa um flhote de pantera, Pensavam que era manso. No entanto, um dia, este bicho mostrou sua natureza. Quando dois termos devem ser retomados, este refere-se ao que foi dito por iiltimo (estando, por conseguinte, mais préximo do enunciador) e aquele, ao que foi dito primeiro (estando, pois, mais afastado do enunciador): Ee dividi-se entre © Curso de Letras ¢ 0 de Joralism, Este era de noite © aque, de rank portugués tem uma série de demonstrativos neutros: isto, isso, aguito. Caracterizam-se por nio ter munca a fngio de determinante e por referir-se sem- pre a coisas. Isto que estou bebendo ¢ eachaga. Que € isso que vooé tem na milo? Que auto que ele esti jogand no fixe? Como nessa série se neutralizam as oposigdes de género e de niimero, seus ‘componentes nao se prestam bem A fungio de remeter a um elemento especifico do contexto, Por isso, do usados para reportar-se a todo um segmento do texto, que ‘comporta varios lexemas, ou a uma situagdo complexa. E por essa raziio que, apés uma longa argumentagdo, em conclusao, emprega-se isso, que retoma o contetido nocional que 0 precede, que recupera o plano da expresso ¢ 0 do contetide do que acabou de ser exposto. CConteisthe que aquela muther era amante de seu pai e isso 0 abalou profundamente. 0s advérbias de lugar constituem duas séries: uma tricotémica, agui, ai, ali, € otmica, cd, ld. Aqui e af marcam o espago da cena enuneiativa, sendo que este assinala 0 espago do i © aquele, 0 do eu; ali indica o espago fora da cena enunciativa, ‘Quem chega agniem nossa cidade, logo vem me procur. uma di Vou are bro sua cara, Se pudesse fcaria ao dia inti, Ca marea o espago da enunciagao e 14, 0 espago fora do lugar da cena cenunciativa, Acold opde-se a /4, para que se possam distinguir dois locais fora do espaco da enunciagao. Pragmética 177 Venha ed Vii pra ld eno me amole. Como ensina Mattoso Camara, as duas séries interferem uma na outra, 0 que ocasiona os seguintes resultados: cd e agui se tommam variantes livres, sendo que o portugués do Brasil prefere o segundo ao primeiro; 1d acrescenta-se A série aqui, ai, ali, para assinalar um lugar além do ali (1970, 114). ‘Hii que cabe muita gente au, Alina casa de meu imo cabem mais uns us. £4, do outro Jado da rua, na casa de meu cunhado, cabe 0 dobro. So enunciativos os marcadores de espago linguistico, quando se ordenam em relagdo ao lugar da emunciagaio. ‘Minha terra tem palmeiras, Onde canta 0 Sabi saves que agu! gorjeiam, [Nao gorjeiam como fa (Goncalves Dias, Cangio do Exili, In: BANDEIRA, Manuel. Poesla dla fase romantica Rio de Janeiro, Ediouro, 1967, p. 42) 0 agui é enunciativo, porque é 0 espago do enunciador. Por sua vez, 0 Id, apesar de, na lingua, indicar um espago fora da cena enunciativa, no processo de discursivizagao passa a ser determinado em Fungo do agui € tomna-se um espago enunciativo. ‘Sio enuncivos ai, al, ld, naguele lugar, etc., quando, em fungio anaférica, retomam um espago inscrito no enunciado, Nesse caso, seu valor niio é determinado pelo espago do enunciador. Continuando a deseer, chegava-se bea do ro, que se curva em seiogracioso, sombreado pelas grandes gameleiras eangelins que cresciam ao longo das margens. ‘Aiainda a indistia dos homens tnha aprovetado habilmente a natureza para criar meios de sezuranga edefesa (ALENCAR, José. O guaran Sto Paulo, Saraiva, 1968, p.2). ‘Um cénego da capela imperial lembrou-se de fazer-me entrar all de sactsto. (MACHADO DE ASSIS. Obra completa, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1979, vol. I, p. 154) Pensando bem, a procura da avé comepara bem antes, tinha sido em Paris. Foi ld que se ineressou a serio por Lueji (PEPETELA. Lui, Luanda, Unido de Escritores Angolanos, 1989, p. 154). | | | | | | i | i 178 infroducde 6 Linguistica I 6. Discursivizagdo das categorias enunciativas Os mecanismos de instauragdo de pessoas, espagos ¢ tempos no enunciado sfo dois: a debreagem e a embreagem. Debreagem é a operagiio em que se pro- jetam no enunciado a pessoa, 0 espago e o tempo (Greimas e Courtés, 1979, 79), Hi, pois, uma debreagem actancial (= de pessoa), uma debreagem espacial e uma debreagem temporal. Podem construir enunciados com as pessoas, os espacos e os tempos cenunciatives ou com as pessoas, 0s espacos e os tempos enuncivos. No primeito caso, em que aparecem no enunciado o ex/tu, os tempos do sistema enunciativo (presente, pretérito perfeito 1, futuro do presente) ou os espagos ordenados em relagio ao espago da entinciacao, temos uma debreagem enunciativa. No segundo, quando 0 ew/tu nao aparccem, 86 ocorrendo o efe, quando a narrativa é contada ‘com os tempos do subsistema do pretérito (pretérito perfeito 2, pretérito imperfeito, pretérito mais que perfeito, futuro do pretérito) ou do futuro (presente do futuro, futuro anterior, futuro do futuro) e sao instalados espagos que ndo se organizam em relagio ao espago da enunciagdo, temos uma debreagem enunciva. Resolvosme a contr, depois de muita hesitaao, casos passados hi dez anos ~e, antes de comegar, digo os motivos porque silence e porque me decid. (RAMOS, Graciliano, Memérias do edrcere. 7 ed. Sao Paulo, Martins, 1972, vol 1, p- 3) Nesse caso, ha uma instalagdo no enunciado do ew enunciador, que utiliza 0 tempo da enuneiagao (presente, pretérito perfeito 1). Trata-se, nesse caso, de debrea- gens actancial ¢ temporal emunciativas. No exemplo acima da Cancdo do Exilio, de Gonealves Dias, hd uma debreagem actancial, espacial e temporal enunciativas. Rubito tava aenseads, ~ eram oito horas da man. Quem o visse, com os polegares metidos ‘no cordto do chambre, a jancla de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaco de gua quiets. (MACHADO DE ASSIS. Obra completa, Rio de Janciro, Nova Aguilar, 1979, vol. Ip. 643) texto principia com uma debreagem actancial enunciva, quando nele se estabelece o participante do enunciado, Rubido. O verbo firar, no pretérito imper- feito do indicativo, indica uma ago concomitante em relago a um marco temporal pretérito instituido no texto (eram ito horas da manha). Como o tempo comega a ordenar-se em relago a uma demareaeIo constituida no texto, a debreagem temporal é enunciva. Alids, o visse que vem a seguir est relacionado niio a um ‘agora, mas a um naquele momento, 0 que corrobora a enuncividade. O espago estabelecido no texto no é 0 agui da enunciagao, é um ponto marcado no texto, 4 janela de uma grande casa de Botafogo (= naquele lugar). ‘A debreagem enunciativa ea enunciva criam, em principio, dois grandes efeitos, de sentido: de subjetividade e de objetividade. Com efeito, a instalacao dos simulaeros Pragmética 179 do ego-hic-rune enunciativos, com suas apreciagdes dos fatos, constrdi um efeito de subjetividade. Jia eliminagao das marcas de enunciacio do texto, ou seja, da enunciagio enunciada, produz efeitos de sentido de objetividade, Como o ideal de eigncia que se constitui a partir do positivism & a objetividade, o discurso cientifico tem como uma de suas regras constitutivasa eliminagdo de marcas enunciativas. Também o jomalismo com seu ideal de objetividade, de neutralidade e de imparcialidade constréi textos sem as mareas da enuneiago. Lembramos que nilo existem textos objetivos, pois eles sio sempre fruto da subjetividadee da visto de mundo de um enunciador. O que hi sio textos que produzem um efeito de objetividade. A embreagem é“o efeito de retorno a enuneiaga0”, produzido pela neutrali- zago das categorias de pessoa e/ou espaco e/ou tempo, pela denegacao, assim, da instincia do enunciado. Como a embreagem concemne is trés categorias da enunciagio, temos, da mesma forma que no caso da debreagem, embreagem actancial, embreagem e pacial e embreagem tempors Aembreagem actancial diz respeito a neutralizacdo na categoria de pessoa. Toda embreagem pressupde uma debreagem anterior. Quando o Presidente diz O Presidente da Repiiblica julga que 0 Congreso Nacional deve estar afinado com o plano de estabilizacdo econémica, formalmente temos uma debreagem enunciva (um ele, o Presidente), No entanto, esse ele significa ev. Assim, uma debreagem cenunciativa (instalagao de um ex) precede a embreagem, a saber, a neutralizagao da oposigio categérica ewele em beneficio do segundo membro do par, o que denega o enunciado, Denega justamente porque o entmciado & afirmado com uma debreagem prévia, Negar 0 enunciado estabelecido é voltar A instincia que 0 precede e € pressuposta por ele. Voce Jd, que & que est fazendo no meu quintal? A embreagem espacial conceme a neutralizagées na categoria de espago. Lat esti, nessa frase, empregado com o valor de ai, espaco do tu, Esse uso estabelece uma distancia enire 0s participantes da enunciagao, mostrando que a pessoa a quem enunciador se dirige foi colocada fora do espago da cena enunciativa. ‘Aembreagem temporal diz respeito a neutralizagbes na categoria de tempo. ‘Tomemios como exemplo 0 poema Profimdamente, de Manuel Bandeira: Quando ontem adormeci Na noite de So Joao Havia alegria e rumor trandos de bombas luzes de Bengal Vozes cantigas¢ isos ‘Ao pe das fogucira acess No meio da noite despertei [Nilo ouvi mais vozes nem risos ‘Apenas baldes Possavam errantes 180 infrodugto & inguistico Silenciosamente ‘Apenas de vez.em quando ruido de um bonde Cortava osiléncio Como um tine. Onde estavam os que hi pouco Dangavam Cantavam, Etiam ‘Ao pe das fogueiras acesas? Estavam todos dormindo Fstavam todos deitados Dormindo Profundamente i (Quan cu tnha seis anos [Nao pude vero fim da festa de Sto foo Porque adormeci Hoje no ougo mais as vozes daquele tempo Mina ave Meu avs Totdnio Rodrigues Tomisia Rosa Onde estio todos eles? ~ Esto todos dormindo Estdo todos deitados Dormindo Profundamente (BANDEIRA, Manuel, Poesia completa e prosa, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1983, p. 217.218). Quando chegamos & segunda parte do poema, compreendemos que ontem na véspera do dia de Sao Jodo do ano em que o poeta tinha seis anos (naquele ‘emmpo). Essa neutralizagio entre 0 tempo enunciativo ontem e o tempo enuncivo na véspera, em beneficio do primeito, é um recurso para presentificar 0 passado e, assim, reviver o que aconteceu naquela noite de Sto Joiio, em que o poeta adormece e vive, no tempo antes, rumor c alegria e, no tempo depois, silencio, Nessa noite, vigilia do pocta corresponde o sono profundo dos que tinham dangado, cantado e rido ao pé das fogueiras acesas. Ao fazer a debreagem enunciva, no inicio da segunda parte (quando en tinha seis anos...) 0 pocta afasta 0 que revivera, transformando-o em lem- branga, Ha entdo uma debreagem enunciativa e volta-se para a vida presente. A vigilia de outrora corresponde a vida de hoje; ao siléncio daquele tempo corresponde a nao vida atual. © poeta esti vivo e s6, pois todos os que cle amava esto mortos ¢ enterrados (dormindo e deitados). No passado tivera Progmatica 181 essa experiéncia da auséncia, que revive, presentificando 0 passado. A em- breagem temporal resgatou o tempo das brumas da meméria € recolocou-o 1a novamente. Todos esses mecanismos produzem efeitos de sentido no discurso. Nao & indiferente 0 narrador projetar-se no enunciado ow alhear-se dele; simular uma concomitincia dos fatos narrados com o momento da enunciagao ou apresenti-los ‘como anteriores ou posteriores @ ele; presentificar o pretérito; enunciar um eu sob a forma de um ele, etc, Com a debreagem parece que a linguagem imita os tempos do mundo, os espagos do mundo € as pessoas do mundo. No entanto, com a embreagem, quando se apresenta uma primeira pessoa como segunda, ‘uma terceira como primeira, um futuro do presente como presente, um futuro do pretérito como um pretérito imperfeito, um /c como ai, etc., mostra-se que pessoas, tempos e espagos so criagdes da linguagem e ndo decalque da reali- dade. E assim esse modo de enunciar vai eriando sentidos como aproximacao, distanciamento, atenuagdo, irrealidade, ete. Exercicios 1. Quais os modos de enunciagio (debreagem enunciativa, debreagem enunciva ou embreagem) de que se vale o narrador para instaurar no texto os tempos verbais em itilico? Explique o valor de cada um desses tempos: a) Aqui sou portugués! Aqui pode respirar & vontade um coragao leal, que nunca desmenti a {€ do juramento, Nesta terra que me foi dada pelo meu rei, € conquistada pelo meu brago, nesta terra livre, tu reinardis, Portugal, como viverds n’alma de teus filhos. Eu 0 juro! (ALENCAR, José, O guarani. Sdo Paulo, Saraiva, 1968, p. 19) ) Quando, pois, em 1582, foi aclamado no Brasil D. Felipe If como suces- Sor da monarquia portuguesa, o velho fidalgo embainhou a espada retirou-se do servigo. Por algum tempo esperow a projetada expedigio de D. Pedro da Cunha, que pretendeu transportar ao Brasil a coroa portuguesa, colocada entio, sobre a cabeca de seu legitimo herdeiro, D. Ant6nio, prior do Crato. Depois, vendo que esta expedi¢ao nao se realizava, e que seu brago e sua coragem de nada valiam ao rei de Portugal, jurou que ao menos Ihe guardaria fidelidade até a morte. Tomou seus penates, 0 seu bras, as suas armas, a sua familia, e foi estabelecer-se naquela sesmaria que Ihe concedera Mem de Sé. (ALENCAR, José. O guarani. Sa0 Paulo, Saraiva, 1968, p. 19). 182 Inftodugdo & Linguistica ©) No domingo, uma frente fria deivard o eéu nublado. Depois que a frente fria chegar, produzir-se-4 uma inversio térmica. Antes, porém, a tem- peratura ferd cafdo muito, 2. Explique se os advérbios ou locugdes adverbiais em itilico pertencem ao sistema cenunciativo ou enuncivo. Justifique sua resposta. 4) Trés anos depois, ele reencontrou o fillio que fora raptado. b) Na semana passada, ela voltou de Paris. ©) Hé trés meses nao mora mais aqui. 4) Dagui a dois dias, serei operado. ©) Dali a dois anos, estar formado. 3. Passe os verbos grifados para os tempos correspondentes do sistema enunciativo, fazendo, para isso, as alteragdes necessérias Um dia, 0 presidente disse que lastimava 0 tempo que perdera a tentar eonvencer 0 Congresso a aprovar as reformas constitucionais e que, um. eventual segundo mandato, dedicaria suas energias aos programas sociais do governo. 4, Passe os verbos grifados para os tempos correspondentes dos subsistemas do pretérito e do futuro, fazendo, para isso, as alteragdes necessérias: Para o cidadao da classe média, esse debate sobre a aposentadoria dos funcionéios piiblicos pouco significa, pois, no seu caso, a Previdéncia foi continuard sendo wm sistema injusto. 5, Explique o valor dos tempos das palavras grifadas. a) Um passaro de plumagem azul risca 0 eéu. b) Deus ajuda quem cedo madruga. ©) Habituei-me a caminhar todos os dias. 4) Farei o que vocé me pede. €) Durante 0 campeonato brasileiro, ele nao vivia uma boa fase. 1) Na copa de 2002, o Brasil nto perdew nenhum jogo, 2) Esti terminado 0 ano de 1992, Sob a regéncia do presidente da Repibli- ca uma quadrilha assumira © controle da maquina do Estado (Veja, 30/12/1992, Ed. 1268, p. 21) h) As dez horas, comegou 0 julgamento. Como o advogado e o promotor falariam por uma hora cada um, a sessio duraria por volta de trés horas. Pragmatics 183 i) Em oito dias, tere’ terminado 0 servigo. i) No momento em que eu Ihe der o sinal, voc’ soltard os rojses. 6.0s ew que aparecem no texto pertencem ao mesmo nivel enunciativo? Justifique sua resposta, Foi Virgilia quem me deu a noticia da viravolta politica do marido, certa ‘manha de outubro, entre onze e meio-dia; falou-me de reunides, de conver sas, de um discurso. — De maneira que desta vez fica vocé baronesa, interrompi cu. (Machado de Assis. Memérias pdstumas de Brés Cubas, cap. XLII) 7. Explique o modo de enunciagao (debreagem enunciativa, debreagem enunciva, embregaem) utilizado para a instaurago das pessoas da instancia da narracio nos textos abaixo: 8) A Universidade esperava-me com as stias matérias érduas; estudei-as muito mediocremente, e nem por isso perdi o grau de bacharel; deram-mo com asolenidade de estilo, ap6s 0s anos da lei; uma bela festa que me encheu de orgulho e de saudades. Tinha eu conquistado em Coimbra uma grande nomeada de folio: era um académico estroina, superficial, tumultuario ce petulante, dado as aventuras, fazendo romantismo pritico e liberalismo te6rico, vivendo na pura f& dos olhos pretos e das constituigdes escritas. (Machado de Assis, Memérias péstumas dle Brés Cubas, cap. XX) +b) Um criado trouxe o café. Rubitio pegou na xicara e, enquanto Ihe deitava agiicar, ia disfargadamente mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, curo, eram os metais que amava de coragdo: nao gostava do bronze, ‘mas 0 amigo Palha disse-Ihe que era matéria de prego, e assim se explica este par de figuras que aqui esta na sala: um Mefistofeles ¢ um Fausto. (Machado de Assis, Quincas Borba, cap. 11) '8.Nas frases abaixo, ocorrem casos de embreagem actancial, Mostre o valor da pessoa das palavras grifadas e explique no lugar de que pessoa essas formas esto sendo usadas, 1a) Senhor, responde cordeiro, que Vossa Majestade nao se encolerize; mas, 0 contririo, que ele considere que, estando eu a beberna corrente mais de vinte passos abaixo dele, nao posso sujar sia agua. (La Fontaine) b) Nao nego que os catdlicas vos salvais na Igreja Romana. (Vieira) ¢) Sim, eu agora ando bem. E tu, meu Luis, como vamos saiide? (Graciliano Ramos) d) Sabeis, Senhores, porque tememos o pé que hayemos de ser? E porque néio {queremos ser 0 p6 que somos. Sou pé ¢ hei de ser p6 por vontade. (Vieira) Inroduco é Linguistica t €) Aires amigo, confessa que ouvindo ao mogo Tristio a dor de nio ser amado, semtiste tal ou qual prazer, que aliés nao foi longo nem se repetiu. (Machado de Assis, Memorial de Aires). 9. Nas frases abaixo, ocorrem casos de embreagem temporal. Mostre o valor temporal das palavras grifadas e explique no lugar de que tempo essas formas estio sendo usadas. Explique também 0 efeito de sentido criado com a utilizagaio de um tempo pelo outro, a) Nao Ihe esconderei que estou muito aborrecido com voce. b) Fora, vivia com o espirito no menino; em casa, com os olhos a observi-lo, a miré-lo, a perguntar-Ihe donde vinha (Machado de Assis). ©) Para ciimulo do azar dos seus filhos, 0 pai fora assassinado em Sto Paulo, dias antes da morte da mae. 4) Precisava tirar a limpo aquela histéria, ver se Isabel nflo feria ido a outro, concerto naquela noite. ©) Se fizermos ) Agora eu fi 8) Corriao ano de 1944, ea culpa do colonialismo mal comecara a despontar, Vien se tornaria o responsiivel pelas relacSes do governo de Saigon com © exterior e publicard uma Historia do Vietna. .feremos alcancado uma grande vit6ria, © papel de professor. 1) A julgar pelo comportamento do ministo ¢ de seus assessores €nisso que esto pensando, numa forma de dolarizago crescente do processo que no seu final se- ‘ia capaz.de dar um alivio & moeda brasileira e aplacar o foguete dos pregos. i) Aqueles para quem a idade jé desfez o vigo dos primeiros tempos, nio se terdo esquecido do fervor com que esse dia é saudado na meninice ¢ na adolescéncia (Machado de Assis) J) A verdade é que sinto um gosto particular em referral aborrecimento, quando certo que ele me lembra outros que no quisera lembrar por nada, 10. Nas frases abaixo, ocorrem casos de embreagem espacial. Mostre o valor espacial das palavras grifadas e explique no lugar de que marcadores de espaco essas formas esto sendo usadas, ) Eu s6 queria estar li para receber estes cachortos a chicote (José Lins do Rego) b) Ei, vocé /4, que & que esta fazendo na minha sala. ©) Revia na imaginagao esse filho tio querido. 4) Venha de 14 essa resposta, vamos. Pragmética 185 Bibliografia scsorws nsrunicnsociisre soni (1966) Grane lib romsne. Bucrest, Eto da Academia, vl sur Mikhail (1979) Marismo ejlsafie da linguage. So Poul, Huts tyanos, Diana Luz Pessoa de (1988) Teoria do discus: faulamentossemidicos. Sto Polo, Atal event Emile (1966) Problémes de nuiigne geno. Pars, Callimad, vol. L (1974) Problémes de lingustique générale. Pass, Galina, ol. I ‘haa m,Joaguim Mattoso (1970), Esra cla Lingua Pormsuexo.Petréplis, Vores cxavon, Jean (1987) @nonciaion. 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No segundo volume, deve-se ler 0 capitulo intitulado O aparetho formal da enun- ciagao, em que Benveniste apresenta uma visio geral da questao dos elementos linguisticos com 0s quais se povoam os enunciados de pessoas, localizadas mum dado espaco num determinado tempo. rior, José Luiz (1996). As asticias da enunciagdo: as categorias de pessoa, espaco e tempo. Sio Paulo, Atica Nesse livro, que serviu de base para a redagdo deste capitulo do volume II de Introdugao Linguistica, 0 autor estuda minuciosamente as categorias de pessoa, de espago e de tempo, bem como a maneira como so discursivizadas ¢ os efeitos de sentido que se criam com seus diferentes modos de discursivizacio.

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