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TSBN 8S-326- ABLE ale UW AMintia. do mund® = SP Edincs, ; Ed. Voys — 499% POOR PO Gourde Pierre Bourdieu Compreender Bu nio gostaria de me prolongar aqui de maneira muito insistente em refle- x6es sobre teoria ou método destinados somente aos pesquisadores. "NOs s6 fa- zemos nos glosar uns aos outros”, dizia Montaigne. E mesmo se nfo fosse por isso, mas por qualquer outra razo, eu gostaria de evitar as dissertapses escolés- ticas sobre hermenéutica ou sobre “a sinuagio ideal de comunicasio"; na verdade, en ereio que no hé mancira mais real e mais realista de explorar a relagio de comunicagio na sua generalidade que ade seater aos problemas inseparaveimien- te priticos e tedricos, © que decorre do caso particular de interagao entre 0 pes- quisador e aquele ou aquela que ele interroga. Nao creio que por isso se possa remeter-se 20s inumerdveis escritos ditos metodol6gicos sobre as tScnicas de pesquisa. Por mais tteis que possam ser para esclarecer tal ou qual efeito que o pesquisador pode exerver ‘sem o saber”, Thes falta quase sempre o essencial, sem duivida porgue permanecem dominados pela fidelidade a velhos principios metodolégicos que sio frequentemente decor- rentes, como o ideal da padronizago dos procedimentos, da vontade de imitar os sinais exteriores mais reconhecidos do rigor das disciplinas ciemficas; no me parece, em todo caso que eles levem em consideragéo tudo aquilo que sempre fizoram, e sempre souberam os pesquisadotes que respeitavam seu objeto ¢ os mais atentos as sutilezas quase infinitas das estratégias que os agentes soci desenvolvem na conduta comum de sua existéncia. Muitas dezenas de anos de prtica da pesquisa sob todas as suas formas, da ctnologia 8 sociologia, do questiondrio dito fechado & entrevista mais aberta, con venceramme que esta prética nfo encontra sua expressio adequada nem nas prescrigdes de uma metodologia freqientemente mais cientista que cientfica, nem nas precaugSes anticientficas das misticas da fusio afetiva. Por estas razdes rie parece indispensavel tentar explicar as intenges e 0s prineipios dos procedi rentos que nés temos colocado em prética na pesquisa cujos resultados apresen- 63 | } {amos aqui. 0 letor poder assim reproduzir na letra dos textos trabalho de 4 cconstrugao e de compreenso de que eles sto 0 prodato.! Anda que a relacio de pesquisa se ditings da maicra das rocas da exitén, cia comum, } que tem por fimo mero conhecimento, ela continua, apesar de dg, uma relagdo social que exerce efeitos (varidveis segundo os diferentes pardmne, {tos que a podem afetar) sobre os resultados obtidos.’ Sem divida ainterrogacto sibs capc de fear a respons: acntece encanta, ie hese nse ‘nao se pode confiar somente na boa vontade, Porque todo tipo de distorgéesestig. inscritas na propria estrutura da relagéo de pesquisa. Estas distorgbes devem sey "econhosidase dominadas isso na pra tealizagdo de uma pética que rene ser refletida e metédica, sem ser a aplicagdo de um método ou a colocacée en, Pratica de uma reflexao teérica, er S6areflexividede, que € sindnimo de métedo, mas uma relexividade refx bascada num “trabalho”, num “olho” sociolégico, permite iecenn cs campo, na propria condugto da entrevista, os efeitos da esrutura social na qual elas realiza, Como pretender fazer cigncia dos pressupostos sem se esforya para conseguir uma ciéncia de sens proprios pressupostos? Principalmente esforan, do-se pars fazer um uso reflexivo dos conhecimentos adquiridos dacigncia spiel ara controlar os efeitos da prépria pesquisa e comegara intomropagto jd domi. nando 0s efeitos inevitiveis das perguntas. O sonho positivista de uma perfeita inocéncia epistemolégica oculta na ver. dade que a diferenga no é entre a ciéncia que realiza uma construgao ¢ acuela que nfo o faz, mas entre aquela que o faz sem o saber e aquela que, sabendo, se "cn sea ftp a tn rnc cen “Sem ee eno tite Sam mos (Rosine Chi, Yet Delsar, Miche Pook, Abelalek Sead pips ose doer Soma eg ences tee eerie sescitaram nova ergs (defo cu de interpret} levando ata segunda otra, En concen Spoons aca cnants Sree taeuntacem en cet revista que cles cstaram conduaindo foram regolamente sbmetidas 8 iscoseoGurne nc sone San cy aie neem mecaeeeenomemrae ne np oe a gies cane 2 A spnito tradicional entre os metodo dts quamaives, come a yesquisa yor quien, os modes os qualatvos come a etevit, mascara gue eles en em comm se splsen nes ncsooes aaa _guesoemsoba ress de etna scl. Os defesaes des catsoras de mao emem conus Teese ets esata, smo os enometedlogos, caja visto aubjetvste do mentee os las roe ‘ok efetos que as extuurs objets ecrem ado foment bre nteag es (ete maicare exeareoe, mole espa vasa, mason topo sas eo on esforca para conhecer e dominar o mais completamente possfvel seus atos, inevi- tiveis, de construgio e 0s efeitos que eles produzem também inevitavelmente. ‘Uma comunicagao “nao violenta”” ‘Tentar saber 0 que se faz quando se inicia uma relago de entrevista 6 em primero lugar tentar conhecer os efeitos que se podem produzir sem o saber por esta espécie de intrusco sempre um pouco arbitriria que esté no principio da troca (especialmente pela maneira de se apresentar a pesquisa, pelos estimulos dados cou recusados, etc.) tentar esclarecer 0 sentido que o pesquisado se faz da situa- 40, da pesquisa em geral, da relacdo particular na qual ela se estabelece, dos fins que ela busca e explicar as razées que o levam a aceitar de participar da troca, E efetivamente sob a'condigdo de medir a amplitude e a natureza da distincia entre a finalidade da pesquisa tal como € percebida ¢ interpretada pelo pesquisado, a finalidade que o pesquisador tem em mente, que este pode tentarreduzir as dis- torpées que dela resultam, ou, pelo menos, de compreender o que pode ser dito e © que néo pode, as censuras que o impedem de dizer certs coisas e as incitagdes, que encorajam a acentuar outras. Eo pesquisador que inicia o jogo e estabelece a regra do jogo, € ele quem, geralmente, atribui a entrevista, de maneira unilateral e sem negociagiio prévia, 08 objetivos e habitos, as vezes mal determinados, ao menos para o pesquisado. Esta dissimetria € redobrada por uma dissimetria social todas as vezes que 0 pes quisador ocupa uma posigdo superior ao pesquisado na hierarquia das diferentes espécies de capital, especialmente do capital cultural. O mercado dos bens lin- siisticas ¢ simbélicos que se institui por ocasito da entrevista varia em sua estru- tura segundo a relagdo objetiva entre o pesquisador e o pesquisado ou, o que dé ‘no mesmo, entre todos os tipos de capitais, em particular os linglsticos, dos quais esto dotados. Levando em conta estas duas propriedades increntes & relagio de entrevista, esforgamos-nos para fazer tudo para dominar os efeitos (sem pretender anulé- los); quer dizer, mais precisamente, para reduzir no maximo a violéncia simbélica que se pode exercer através dele. Procuron-se entio instaurar uma relagio de escuta ativa e metédica, to afastada da pura ndo-intervengao da entrevista nfo dirigida, quanto do ditigismo do questionério. Postura de apaténcia contraditsria que nio é ficil de se colocar em pritica. Efetivamente, ela associa a disponi- bilidade total em relagao& pessoa interrogada, a submissdo a singularidade de sua histéria particular, que pode conducir, por uma espécie de mimetismo mais ou ‘menos controlado, a adotar sua linguagem e a entrar em seus pontos de vistas, em seus sentimentos, em seus pensamentos, com a construgdo metédica, forte, do conhecimento das condigdes objetivas, comuns a toda urna categoria 9s Para que seja possivel uma relagdo de pesquisa o mais préxima posstvel do limite ideal, muitas condigdes deveriam ser preenchidas: néo é suficiente agit, como. faz espontaneamente todo “bom” pesquisador, no que pode set consciente cu inconscientemente controlado ma interaedo, principalmente o nivel da lingua. gem utilizada e todos os sinais verbais ou nao verbais préprios a estimular a co laboragdo das pessoas interrogadas, que no podem dar uma resposta dignadesse rome & pergunta a menos que elas possam delas se apropriare se tomarem os sujeitos. Deve-se agir também, em certos casos, sobre a propria estrumura da re. lado (e, por isso, na estrutura do mercado linglifstco e simbélico), portanto na propria escotha das pessoas interrogadas e dos interrogadores. Aimposigio Algumas vezes & surpreendente que 05 pesquisados possam ter tanta boa vontade e complacéneia para responder a perguntas tao absurdas, arbitrérias ou deslocadas como tantas daquelas que the so frequlentemente ‘administradas", principalmente nas pesquisas de opinido. Isto posto, & su- ficiente ter feito uma unica entrevista para saber a que ponto é alficil con- ‘entrar continuamente sua ateneao no que esté sendo dito (e ndo somen- te nas palavras) e antecipar as per- guntas capazes de se inscreverem “naturalments" na continuidade da conversaae seguindo uma espécie de "nha" teria. Isto quer dizer que ninguém estd livre do efsito de impo- ‘sipgo que as perguntas ingenvamen- te egocéntricas ou, simplesmente, ‘desatentas podem exercer e sobretu- do livre do efeito contrério que as res- postas assim extorquidas correm 0 risco de preduzir no analista, sem- Mas ou nao pence niece agora. Eu pre disposto alevara sério, nasua —_ainda no pensei nisso porque eu es- Interpretapdo, um artefato que ele fou... Eu no soi, porque nao [rs0s), ‘mesmo produ sem o saber: Assin eu nao sei, nunca se sabe...” por exemplo, quando um pesqusador Continuando a ser tanto atencioso quanto aterto, pergunta & qusima- roupa a um operério metaldrgico, ue acabava de Ihe dizer quania sorte ele teve 0b far toda sua vida na mesma oficina, $9 ola, ‘pessoalmente’, esta: va, ‘presies a partir de Longe @ ele ‘obtém, depois de passado 0 primeiro momento de franca surpresa, uma resposta delicada do tipo daquelas que 0 pesquisador e 0 codiicador apressado dos institutes de pesquisa registrardo como uma aquiescincia; “Agora [tom de surpresa]? Para qué? Part. Eu ndo vejo a uilidade... NE, eu nfo creio que eu deixarei Long: wy... Essa idéia ainda ndo tinha me passado pela cabera... Além disso ‘minha mulher ainda trabaiha. Isso ‘pode ser um frei... Mas deixar Long wy... Eu néo sel, pode ser, por que nd0?... um dia... Eu no sei nda... 5 ‘Tomou-se por isso a decistio de deixar aos pesquisadores a liberdade de esco- Iher os pesquisados entre pessoas conhecidas ou pessoas &s quais eles pudessem ser apresentados pelas pessoas conhecidas, A proximidade social e a famili- aridade asseguram efetivamente duas das condigées principais de uma comuni- ccagdo “ndo violenta”. De um lado, quando 0 interrogador esté socialmente muito _ Préximo daquele que ele interroga, ele the dé, por sua permutabilidade com ele, ‘garantias contra a ameaga de ver suas razbes subjetivas reduzidas a cansas obje- tivas; suas escolhas vividas como livres, reduzidas aos determinismos objetivos revelados pela andlise. Por outro lado, encontra-se também assegurado neste caso tum acordo imediato e continuamente confirmado sobre os pressupostos concer- nentes aos contetidos ¢ &s formas da cominicagao: ess acordo se afirma na emis sio apropriada, sempre dificil de ser produzida de maneira consciente ¢ intencional, de todos os sinais ndo verbais, coordenados com os sinais verbais, que indica quer como tal o qual enunciado deve ser interpretado, quer como ele foi interpretado pelo interlocutor” Mas 0 universo das categorias sociais que podem ser atingidas pelas condi- «es otimizadas de familiaridade tem seus limites (mesmo quando as homologias de posigdo podem também fundamnentar afinidades reais entre 0 socislogo e ger- tas categorias de pesquisados, magistrados ou educadores sociais por exemple). ara tentar entender o mais plenamente possivel, nés poderiamnos também, como fizemos nas diferentes pesquisas anteriores, recorrer a estratégias como a que consiste em representar papéis, compor a identidade de um pesquisado ocupando ‘uma posigdo social determinada para fazer falsas diligéncias de aquisiglo ou de ‘procura de informacao (principalmente por telefon). Aqui, optamos por diversi- ficar os pesquisadores fazendo um emprego metédico daestratégia & qual Willian Laboy recorreu em seu estudo sobre 0 modo de falar dos negros do Harlem: para iF 0s efeitos da imposicdo da lingua legitima, ele havia pedido a jovens negros que conduzissem a pesquisa lingbstica; do mesmo modo n6s tentamos, todas as vezes que era possivel, de neutralizar undos maiores fatores de distorgo ele é, na sua necessidade singular € uma espécie de amor intelectual: um olkar que consente coma necessidade, & maneira do “amor intelectual de Deus', isto & da ordem natural, que Spinoza tinha como a forma suprema do conhecimento Ocssencial das “condigées de felicidade" da entrevista fica, sem divica, des- percebido. Oferecendo-the uma situagao de comunicacao completamente excep. ional, livre dos constrangimentos, principalmente temporais, que pesam sobre a ‘maior parte das trocas cotidianas e abrindo-Ihe altemnativas que o incitam ou autorizam a exprimir mal-estaes, faltas ow necessidades que ele descobre expri- rmindo-os, 0 pesquisador contribui para criar as condiedes de aparecimento de um discurso extraordindrio, que poderia nunca ter tido e que, todavia, jé estava Id, esperando suas condigdes de atualizagao.’ Embora eles sem divida ndo percebam conscientemente todos 0s sinais desta disponibilidade (que requer sem dividaum pouco mais que uma simples conversao intelectual), cetos pesquisads, sobre do entre os mais carentes, parecem aproveitar essa situacio como uma ccasiio excepeional que thes € oferecida para testermunhar, se fazer ouvir, levar sue expe- riéncia da esfera privada para a esfera publica; uma ccasifo também de se expli- car, no sentido mais completo do termo, isto, de constrair seu pr6prio pento de vista sobre eles mesmos ¢ sobre o mundo, ¢ manifestar o ponto, no interior desse ‘mundo, a partir do qual eles véema si mesmos ¢ o mundo, ¢ se tormamcompreen- siveis, justficados, e para eles mesmos em primeiro lugar" Acontece até que, Tonge de serem simples instrumentos nas méos do pesquisador, eles conduzem de alguma maneira a entrevista ¢ a densidade ¢ a intensidade de sen discurso, como a impressdo que eles dao freqientemente de sentir uma espécie de alivio, até de realizago, tudo neles lembra a felicidade de expressao. Pode-se sem diva falar entdo de auto-andlise provocada e acompanhade: «em mais de um caso nés sentimos que a pessoa interrogada aproveitava a ccasiéo 6 Peder sea car sui pleteto ou Maco Aust lembrndo&diosiie que eva Tudo que depeade da caus univer, aetinen protests) aleteelatnanente a ound a. 7.0 waht “saeeteo" de jad explieo vite a proper som impo, Forma sages, vee xp ‘anete prsetadas como ais Gerd que vec nfo quer dizer que) destnadas a ofrecer logan Ips denies is als do pesquisa, a sas hesag desc 2 us procure de expres, 1 Ex observe assim nomerosas vers que o pesquisa rep com ua ssa vse a pala cea fase ‘que aviam ested soe ele mesmo, so Soh sia posto (emo pats fda. que ih ‘do pra designs a psio exten co um peeguisado na herargia desta iets Go, por ‘antes, lembrava bom tenses extern porque cle pss) 4gue Ihe tinha sido dada de ser interrogada sobre ela mesma e da lcitaggo ou da Solicitago que Ihe asseguravam nossas perguntas ou nossas sugestées (sempre abertas © miltiplas ¢ freqlentemente reduzidas a uma atengto silenciosa) para realizar um trabalho de explicitagdo, graificante e doloroso 20 mesmo tempo, ¢ para cnunciar, as vezes com uma extraotdindria intensidade expressiva, experién- cias ¢reflexdes h muito reservadas ou reprimidas, Uma construgao realista Mesmo se acontecer que ele seja vivido como tal, 0 acordo que € assim rea- lizado entre as antecipagées ¢ as amabilidades do pesquisador e as expectativas do pesquisado, néo tem nada de miraculoso. A verdadeira submissa0 ao dado supe um ato de constrigdo baseado no dominio prético da légica social segundo ‘a qual esse dado é construido. Assim, por exemplo, s6 se pode compreender ver dadeiramente tudo que € dito na conversa, na apaténcia totalmente banal, entre tués estudantes se, evitando reduzir as ts adolescentes aos nomes que as desig ‘nam, como em tantas sociologias ao gravador, soubermos ler, em suas palavras, 4 estrutura das relagdes objetivas, presentes e passadas, entre sua tajotGria a estrutura dos estabelecimentos escolares que elas fregilentaram e, por isso, toda .estrutura ea histéria do sistema de ensino que nelas se exprime. Contrariamente ‘a0 que poderia fazer crer uma visio ingenuamente personalista da singularidade das pessoas sociais, a revelagdo das estruturas imanentes 8s conversas conjun- ‘urais tidas numa interagao pontual que, sozinha, permite resgatar 0 essencial do que faz a idiossincrasia de cada uma das jovens ¢ toda complexidade singular de suas ages ¢ de suas reagGes, ‘Aanélise da conversapio, assim entendida,”I€ nos discursos nfo somente a estrutura conjuntural da interago como mercado, mas também as estruturas in Vistveis que o organiza, isto é, neste caso particular, aestratura do espago social ‘no qual as ts jovens esto situadas desde o inicio e a estrutura do espago escolar no interior do qual clas percorreram trajetries diferentes que, apesar de pesten- cerem 20 passado, continuam a orientara sua visto do seu passado edo sea Futuro escolares,e também delas mestnas, no que elas t&m de mais singular.” 9. nto nam sexdo mito een daguele qu st quando se tr or cjeto a ancl de aii ‘omwessio, por exemple as esl de aberara ede feckamemta,fcendo abiapao ds caters soci clara dos patspats, 10, Eu pecesiacitartambmaexzevista com um ovemestudat, filo de imigats, gue ua exempifesso, 1p sentido de Goodman, a ands das wansformayes do srema de enna que condi 3 muipiopto as “cls do interior, Sendo o pxgsisa co questo ua “amos” peta, spe os ems: de ‘Gooden, dessa nova calegta de ees ns Deste modo, contra a ilustio que consiste em procurar « neutralidade na anu ago do observador, deve-se admitir que, paradoxalmente, s6 & “espontineo” g que € construido, mas por uma construgdo realista, Para 0 fazer ouvir cu, a9 ‘menos, faz#-lo sentir, lembrarei umn caso onde se veré que é somente quando se apéia num conhecimento prévio das realidades que a pesquisa pode fazer surgit as realidades que ela deseja registrar. Na pesquisa que realizamos sobre o proble- ‘ma da moradia para fugir& inrealidade abstrata das perguntas sobre a preferéncia, ‘em matéria de compra ou locacZo principslmente, eu tinha imaginado pedir aos pesquisadores para lembrarem suas sucessivas residéncias, as condigdes em que a elas tinham tido acesso, as razdes © as casas que os tinham determinado a cescolhé-las ou a deixé-las, as modificagées que nelas fizeram, etc. As entrevistas assim concebidas desenvolveram-se de maneira, em nossa opiniao, extremzmen- te “natural”, suscitando testemunhos de uma sinceridade inesperada. Ora, muito ‘tempo depois ouvi, inteiramente por acaso, no mettd, uma entrevista entre duas _mutheres de uns quarenta anos de idade: uma delas, que foi morarrecentement= num apartamento novo, contava a histéria de stias sucessivas moradias. 3 sua interlocatora se comportava exatamente como se ela seguisse a tegra que havia- ‘mos estabelecido para conduzir nossas entrevistas. Bis a transcrigao que fiz de ‘meméria logo depois: — "6 a primeira vez que moro numa casa nova. E muito bom... - A primeira casa que tive em Paris, foi na rua Brancion, era um aparta- ‘mento antigo, que ndo tinha sido reformado desde a guerra de 14. Tudo precisava de reformas, tudo estava torto, Tempotico conseguimos recuperar 0 teto de téo sujo que estava, ~ Com certeza, & muito trabalho... Antes, com meus pais, nds ‘mordvamos numa habitagdo sem 4gua, Era formiével, com duas criancas, rum banheiro. — Na casa de meus pais, era a mesma coisa. Mas nem por iss> nés ramos sujos. Mas & verdade, é tio mais fécil...~ Depois moramos em Cretil. Era um imbvel moderno, mas que jé tinha uma dezena de anos... E a narrativa Ccontinuou assim, muito naturalmente entrecortada de intervenodes destinadas ses, muito simplesmente, para “acusar recebimento”, pela simples repeticao, no modo aficmativo ou interrogativo, da dikima frase pronunciada, seja para manifesta inte- resse ou afirmar a identidade dos pontos de vista (“E duro quando se trabalhao dia {nteiro em pé..” ou " Na casa de meus pais era a mesma coisa; essa particisagao pela quel se participa da entrevista, evando assim scu interlocutor a dela partcipar, endo isso que distingue do modo mais claro a conversa comum, on a entrevista tal como nés a temos praticando, da entrevista na qual o pesquisador, preacupado com a neutralidade, se profbe todo envolvimento pessoal. ‘Tudo opbe esta forma de maiéutica d imposigfo da problemtica que, na ih sfo da “neutralidade”, fazem muitas sondagens cujas perguntas forgadas e atifi- ciais produzem coisas ficticias que elas acreditam registrar ~ sem falar dessas pesquisas de televisto que extorquem dos entrevistados declaragGes diretamente 706 provenientes dos comentarios que a televisio faz a respeito." Primeira dferen, a consciéncia do perigo, baseada no conhecimento da labilidade do que chama- ‘mos as opiniges: as disposigSes profundas estdo disponiveis para indmeras for. tas de expresso e elas podem ser conhecidas em formulagbes pré-constituigas (as respostas pré-formadas do questionsrio fechado ou as declarapSes preparadas da poltica) relativamente diferentes. Isto significa que nada & mais fécil de fazer ¢, nlm sentido mais “natural”, que aimposiglo de problemética: como prova, os desvios de opinido que realizam to freqientemente, com toda a inocéneia da inconscincia, as sondagens de opinio (deste modo predispostas a servir de ins- ‘rumento para uma demagogia racional)e também, mais geralmente, os demago- 0s de qualquer obediéncia, sempre apressados em ratficar as expectativas _parentes de individuos que nem sempre tém os meios de identifica suas verda- deicasinsuficiéncias.” O efeito da imposiglo que se exerce sob a capa de “net. tralidado” € tanto mais pemicioso porque a publicago das opiniges assim impostas contibui para as impor e assegurar-Ihes uma existéneia social, dando ‘08 pesquisadores a aparéncia de uma validagéo propria areforgar sua credibili- dade seu crédito, \Vé-se 0 reforgo que a representagto empirista da ciéncia pode encontrar no fato de que © conhecimento tigoroso supée quase sempre uma ruptura mais ou ‘menos flagrante, e sempre exposta a aparecer como efeito de uma petigao de Principio ou de opiniti preconcebida, com a evidéncia do senso comum, comt- ‘mente identificado como bom senso. Basta de fato deixar acontecer, abster-se de {oda intervengio, de toda construcdo, para cair no erro: deixa-se endo o campo livre as preconstrugées ou ao efeito automético dos mecanismos sociais que esto atuantes até nas operagbes cientificas mais elementares (concepyao eforrmulagao das pergunts,definigdo das categoris de codificago, etc.) E somente a0 prego de uma dentncia ativa dos pressupostos técitos do senso comum que se podem opor os efeitos de todas as tepresentagSes da realidade social aos quais pesquisa- dos e pesquisadores so continuamente expostos. Penso em particular naqueles produzidos pela imprensa, escrita e sobretudo televisada, e que se impoem as vyezes aos mais despojados como entnciados prontos daquilo que eles acreditam seta experineia Os agentes sociais ndo tém a ciéncia infusa do que eles sio e do que eles fazem; mais precisamente, eles nao tém necessariamente acesso ao principio de seu descontentamento ou de seu mal-estare as declarages mais esponténeas po- 1. Aho necersco lar aqui anlises que senvoti em oto hae de masta sister tp ‘toaiments,"Lopaion pbliqne ens pas", Questor descitagie Psi Mint 1984p, 222290), 12.Evas reflexes destin epancularmente oe qe ensgam qe aie dis pesquisa cada deme dem, sem nenhumma intengio de dissimulagio exprimir uma coisa ber diferente do que eles dizem na aparéncia. A sociologia (€ isto que a distingue da ciéncia sem enudito que séo as pesquisas de opinio) sabe que ela deve ter os maios de questionar primeiro em seu prdprio questionammento, todas as preconstrugSes, to- dos 0s pressupostos que existem tanto no pesquisador como no pesquisado e que fazem com que a relacio de pesquisa freqtentemente s6 se instaure na baze de uum acordo dos inconscientes.” la sabe também que as opiniSes as mais espontineas, logo, aparentemente as mais auténticas, que satisfazem o pesquisador apressado dos insttutos de pes- 4uisa e os que 2s encomendaram podem obedecer a uma I6gica muito préxima de que a psicandlise revelou. & o caso, por exemplo, desta espécie de hostilidade a priori relativamente aos estrangeiros que encontramos as vezes junto aos agticul- tores ou aos pequenos comerciantes desprovidos de qualquer experiéncia cireta ‘coms imigrantes: s6 se pode ultrapassaras aparéncias da opacidade ¢ do absurdo que ela opGe & interpretago compreensiva se conseguir ver que, por uma forma de deslocamento, ela oferece uma solucdo as contradigbes proprias a essa espécie de capitalistas com renda de proletétios e com sua experiéncia do Estado, tido como responsével por uma redistribuigao inaceitavel. Os fundamentos reais do descontentamento ¢ da insatisfacao que assim se exprimem, sob formas desvia- das, s6 podem chegar & consciéncia, quer dizer, ao discurso explicito, ao preco de um trabalho que vise revelar as coisas enterradas nas pessoas que as vivem ¢ que ‘20 mesmo tempo no as conhecem e, num outro sentido, conthecem-nas melhor do que ninguém, 0 sociélogo pode ajudé-tas nesse trabalho, & maneira de um patteiro, sob a ‘condigdo de possuir um conhecimento aprofundado das condicdes de existéncia de que sio 0 produto e dos efeitos sociais que a relacdo de pesquisa e, através desta, suas posigdes ¢ suas disposigoes primérias podem exercer. Mas 0 desejo de descobrira verdade, que € constitutivo da inten¢ao cientifica, fica totalmente des- provido de eficécia prética se ele nfo é atualizado sob a forma de uma “profissdo”, produto incorporado de todas as pesquisas anteriores que no tem nada de um saber abstrato e puramente intelectual: essa profissio é uma verdadeira “disposi- 13. Mose, pla anise cetalhada das rerpets a una pests vob of poitco (Cian Chire, Mics, ct) eoneeida see masa do jogo chies (se era una drvre, um ara. ee) que os pesados ‘olsavamem idea, sem o saber, em suas espa, exqbemas dasliclries Fel ace, gioltexveh, ‘otras, ete) qv o autores do questions aban também calcalaem prc, sem 0 saber mo, ‘mcosperpuarar a innide dos coerce qe o tore: do question haviam ido as uadeos ‘nstinionepablcadosenavam presents para stems sua peel incomprecnso os alos pe ‘nents taba pedo, a orton, ppl opaags pela qua es Uehampocusido (ef. P Boars, Lt Dinincon, Pass, Mit, 197,» 625-50) ‘708 lo aperseguir a verdade” (hexis tou aléthewein, como diz Aristteles na Metaf- sica), que leva a improvisar na hora, na urgéncia da situago de entrevista, as estratégias de apresentagio de si ¢ as respostas adaptadas, as aprovacées © as perguntas oportunas, etc, de maneira a ajudar 0 pesquisado a dar a sua verdade ou, methor, ase livrar da sua verdade.' (Os riscos da escrita Aimesma disposigio esté em aco no trabalho de construgdo ao qual subme- te-se a entrevista gravada —o que permitiré andar mais depressa na anslise dos procedimentos de transerigdo e de anise. Pois € claro que a transcrigio muito litera (@ simples pontuagio, o lugar de uma virgula, por exemplo, podem coman- dar todo 0 sentido de uma frase) ja é uma verdadeira fradugdo ou até uma inter- pretagdo. Com mais razKo ainda, a que é aqui proposta: rompendo com a iluséo espontanefsta do discurso que “fala de si mesmo”, a transcrigéo joga delibe- radamente com a pragmdtica da escrita (principalmente pela introcugao de titu- Jos ¢ de subtitulos feitos de frase tomadas da entrevista) para orientar a atengo do leitor para os tragos sociologicamente pertinentes que a percep¢o desarmada ‘ou distraida deixaria escapar. © processo verbal do discurso recolhido que o autor da transcrigo produz std submetido a dois conjuntos de obrigagdes freqlentemente diflceis de conci- iar: as obrigagées de fidelidade a tudo que manifesta durante a entrevista, e que nao se reduz ao que € realmente registrado na fita magnética, levariam a tentar resttuit ao discurso tudo que Ihes foi trad pela transcrigo para escrito e pelos recursos ordinérios da pontuagio, muito fracos ¢ muito pobres,e que fazem, mui- 10 amitide, todo 0 seu sentido e 0 seu interesse; mas as leis de legibilidade que se definem em relagao com destinatérios potenciais com expectativas e competén- cias muito diversas impedem a publicagdo de urna transcricSo fonética acompa- hada das notas necessérias para restituir tudo que foi perdido na passagem do oral para o escrito, isto €, a voz, a prontincia (principalmente em suas variagSes socialmente significativas), a entonacao, o ritmo (cada entrevista tem seu tempo 14. Ne € olga de aatisar aqui todos os paradonos do modo de er clei qu sept ot um a mn trabalho gus isa tomar cose as sponges pinks vocslmentconstiticarem ira de oes. lavede a dunia (0, elhor de a" desncorpora pr oat Ido, mtrabao en ebnanent = isan incerpors, porto a orarquase“inconsclests” es pincpiscomceeerant eis do ‘arate métos dese mato tomas praicamentediponvets (A oposgio ete os “ceahecinesto®™ seine es “conhcinents”nconclenes oa reremas aq evi Se aecesage da raneit- So € de feo absoletamente arial faoeea: ef o: panes da pis clendica pode a meso "tempo estar presets a considacia~ em grat derenessepundo os moments segundo ose” de Prine ineona no estado price, 6 a fomas de eisposiees inorporads) particular que nto € 0 da leitura), a linguagem dos gestos, da mimica ede toda a ppstura corporal, er. Assim, transcrever & necessariamente escrever, no sentido de reeserever": como a passagem do escrito para o oral que o teatro faz, a passagem do oral ao escrito imp6e, com a mudanga de base, infidelidades que séo sem divida a zon. digo de uma verdadeira fidelidade. As antinomias bem conhecidas da litertora popular lembram que dar realmente a palavra Aqueles que habitualmente nfo a ‘@m, 6 apenas Ihes dar a palavra tal qual. Existem as demoras, as repetigées, ag frases interrompidas ¢ prolongadas por gestos, olhares,suspiros ou exclamagées, hd as digressées laboriosas, as ambigtidades que a transcrigo desfaz inevita, vvelmente, as referéncias a situagdes concretas, acontecimentos ligados & histiria singular de uma cidade, de uma fébrica ou de uma familia etc. (e que 0 locator Jembra com tanto mais disposigio quanto seu interlocutor Ihe & familiar, isto é, ais familiar para todo seu meio familiae). E, portanto, em nome do respeito devido ao autor que, paradoxalmente, fot preciso as vezes decidir por aliviaro texto de certos desdobramentos parasitas, de certas frases confusas, de redundancias verbais ou de tiques de lingwazem (os “bom” e 0s “né") que, mesmo sem eles dio sou colorido pasticular ao discurso oral e preenchem uma fungio cminente na comunicacdo, permitindo sustentar Juma conversa esbaforida ou tomar o interlocutor como testemunha, baralhando e confundindo a transcri¢So a0 ponto, em certos casos, de tomé-la completamente ilegivel para quem no ouviu o discurso original. Do mesmo modo, tomamos a liberdade de tira da transcricdo todas as declaragdes puramente informativas (s0- brea origem social, 0s estudos, a profissio, ete.) todas as vezes que pudessem ser relatados, no estilo indireto, no texto introdutive, Mas nunca se substituia uma palavra por outra, nem se transformou a ordem das perguntas, ou 0 desenrolar da entrevista € todos os cortes foram assinalados. 15, Sabo-se porexemplo que airnia, que nse legioatemente de uma discon ntncona ene asin ‘eacomporaeasmbolica val, eat cfretenveis de cnucigao veces quae ineviaelnenc sda ma teansrgo. 0 mes aontece com a ambiglidaes, or Cpls sedan a incenezase ne ses, to arc ieas da linguagem ol, qu sexe a desvenda que inevitvelimente, ara sao penuain. Masta ds infermapio qe etd seria os ars pipes, quem de meats pas acs do uve (equ pes quate sempre ae dsapareer ck sigue ane ‘sto dos pesto, noes de pesos, momes de luge, noes desea. tos gus eo igndas ‘isis esewturancs:€o caso da opsio ene o tee refsado tet pops goed so scab onfuso, feta peta az, ete o rome de uma caiante pela una rane rst se ageacliscs ‘rds ins sieve pelo qa ela tl para quem pode ob oda verde de um asso lado ‘uma nd ecient nia exe os dei caniahos. 16Ct REncreve, “Sa soi hones evil" Hore Cade, 3, 1985,p.42-5 (Ua tense eral nko font de todas as eowevsas (em nimero de 162) (fei, eargivada, asim conn a orespondeaey ravages 79 7 Gragas a explicagio, a concretizagdoe 2 simbolizacdo que elas realizame que Ihes conferem as vezes uma intensidade dramética e uma forga emocional pr6x ima da do texto literério, as entrevistas transcritas estéo & altura de exercer um efeito de revelapda, particularmente sobre os que compartilham tal ot qual de suas propriedades genéricas com o locutor. A modo das pardbolas do discurso profético, permitem um equivalente mais acessfvel de andlises conceituais com- plexas e abstratas: tormam sensiveis, inclusive através dos tragos apazentemente ‘mais singulares da enunciagdo (entonagao, promtincia, etc.) as estruturas objeti- vvas que 0 trabalho cientifico se esforca para desprender.” Capazes de tocar e de comover, de falar & sensbilidade, sem sacrificar ao gosto do sensacional, podem levar junto as converses do pensamento e do olhar, que sio freqiientemente a condigdo prévia da compreenséo, ‘Mas a forea emocional pode ter por contraparte aambigtiidade, até aconfusio dos efeitos simbéticos. Podem-se relatar declaracées racistas de tal maneira que aguele que as faz se toma compreensivel sem por isso legitimar o racismo? Como dar razao de suas declaragSes sem se render &s suas razbes, sem Ihe dat razio? ‘Como, mais banalmente evocar, sem excitar oracismo de classe, 0 corte de cabelo de uma pequena empregada e comunicar, som ratificé-Ia, a impressio que produz inevitavelmente ao otho acostumado aos cénones da estética legitima -impressio ‘que faz parte de sua verdade mais inevitavelmente objetiva? ‘Vé-se que a intervengtio do analista € to dificil quanto necessdria. Tomando ‘a responsabilidade de publicar discursos que, enquanto tas, situam-se, como ob- serva Benveniste, “numa situagao pragmética que implica uma certaintengdo de influenciar o interlocutor”, ele se expie a fazer-se o transmissor de sua eficicia simbdlica; mas, sobretudo, arrisca-se a deixar jogar livremente o jogo da leitura, isto 6, da construgo espontinea, para nao dizer selvagem, que faz cada leitor necessariamente submeter-se as coisas que Ié. Jogo pasticularmente perigoso quando é aplicado a textos que ndo foram escritos e que nfo s20, por isso, prote- gidos antecipadamente contra as leituras temnidas ou recusadas e, sobretudo as afirmagGes feitas por locutores que esto longe de falar como livros e que, como as lteraturas ditas populares, cuja “ingenuidade” ou “inépeia” so 0 produto do ‘olhar cultivado, tém todas as chances de nao encontrar graca aos olhos da maioria dos letores, mesmo os mais bem intencionados, 17.0 discuro ga empregas a triagem portal dz bem mai, mesmo we le dc também agile, ge ogue Edo, ‘som oda a ez ast da irguagem conceual, sama ane da eta soil dos crpegads > ‘rota bignos, muito amide, a paar com umn logo ext parents o ceo & profs ca ‘ogo ma care “Sto eonkesids, or exempo, os constanginentos em mara de eacin go ip- ‘cam cers eairas ono oes 2 protsie ~ por exerpo, cheques pals ~ onde as prmeyees sbordinadn um xi prolngedo™,P. Boar, La Duscton, Pas Minit 198),p 13. Escolber a nic intervengio, com a preocupagdo de recusar toda limitago imposta a liberdade do leitor, seria esquecer que, o que quer que se faga, toda leitura jé est4, sendo obrigada, pelo menos orientada por esquemas inter- pretativos. Péde-se assim verificar que 0s leitores desavisados Iéem os testem- nhos como eles ouviriam as confidéncias de um amigo ou, melhor dizendo, as conversas (ou tagarelices) a respeito de terceitos, ocasiao de se identifica, mas também de se diferenciar, de julgar, de condenar, de afirmar um consenso moral na reafirmagio dos valores comuns. O ato politico, de uma espécie muito part- cular, qe consiste em tornar piblico, pela publicagzo, aquilo a que normalmente no se tem acesso, ou nunca, em todo caso, sob esta forma, se encontraria de algum modo desviado, e totalmente esvaziado de seu sentido. Pareceu, pois, indispensével intervir na apresentagdo das transcrigbes, pelos titulos e subitulose principalmente pelo preambulo, encarregado de fomecer 20 Ieitor 0 instrumento de uma leitura compreensiva, capaz de reproduzir a pastura dda qual o texto é0 produto. O olhar prolongado e acolliedor que é necessério para ‘se impregnar da necessidade singular de cada testemunho, e que se reserva comn- mente aos grandes textos literrios ou filos6ficos, pode-se também concedé-lo, por uma espécie de democratizagdo da postura hermenéutica, &s narrativas ordi- périas de aventuras comuns. Deve-se, como ensinava Flaubert, aprender a alhar para Yvetot do jeito que olhamos para Constantinopla: aprender por exemplo a dar 20 casamento de uma professora com um empregado dos corteios a atenc#o 0 interesse que se prestaria & narrativa literéria de um casamento desigual ¢ a dar s declaragGes de um operério metahirgico 0 acothimento fervoroso que certa {radigo da leitura reserva as formas as mais altas da poesia ou da filosofia." [Nés nos esforgamos, pois, para transmitir ao leitor os meios para langar sobre as declacagdes que vai ler esse olhar que dé razdo, que resttui ao pesquisado sua azo de ser ¢ sua necessidade; ou, mais precisamente, de se situar no ponlo do ‘espaco social a partir do qual sto tomadas todas as vistas do pesquisado sobre esse ‘espaco, isto é, nesse lugar onde sua visio do mundo se torna evidente, necesséria, taken for granted. 18. Arecepate do dius ssiligico deve eidentemente muito 2 ato qu les efere so resent nadito ‘un amsidde" come oman soqa ls tudo ope. Sbe-e qu shieramin dosestdoe tis ‘Coneoponde a afstameata dese obstor no tempo Ect que nie rd tanseiio de rao (obispo do Cran tbe to inde ries etias ede hbiidades too poles, mest [Xunyle gut un texto de Adalberto de Laon, erin lém dso emai, equ se drt mai valor um ‘Gerace did apc, Olivier Let, indadorda Sinaia dos Orson que suracoze7i Jomaliica do tmo de seus descendents, Nngutnescapalgica do inconscete aalémico queers ‘ands apron do espa onda inierenga eo socilogo quer id st em super ee mesme as revegbes tect ern vid tata ma ified em ober ozo de cosier530 engl pra ts documents coe ele predate praaeanies que faz pergueos ose os bebdonadros ext hs Ce testemanhossenscionalivis oboe angst do prfesaes ova clea das eaermeras que ssorelor {ts lém ds peda stisfoie ae forma de bea Yona convensionada que © 5 bos uss ™m Mas nio ha sem dvida esexito mais petigoso que o texto no qual oescrevente ppiblico tem de acompanar as mensagens que lhe foram confiadas. Forgado a um esforgo constante para dominar conscientemente a relacdo entre o sujeito e 0 ob- {eto da escrta ou, melhor, a distncia que os separa, ele deve se esforgar pela objeti- vYidade da “enunciagao histérica” que, segundo a alternativa de Benveniste, objetiva fatos sem intervengao do narrador, recusando a frieza distante do protocolo de caso clinico; visando fomnecer todos os elementos nevessérios & percepydo objetiva da pessoa interrogada, ele deve usar de todos os recursos da lingua (como o estilo indi- keto livre ou 0 como se caros a Flaubert) para evitarestabelecer com ela a distincia ‘objetivante que a colocaria na berlinda ou, piot, no pelourinho. Isto, proibindo-se também da maneica mais categsrica (€ ainda uma das fungGes do como se) de se projetar indevidamente nesse alter ego, que fica sempre, quer se queira ou no, um. ‘objeto, para se fazer abusivamente 0 sueito de sua visio do mundo. O rigor, neste caso, reside no controle permanente do ponto de vista, que se afirma continuamente nos detathes da escrita (no fato, por exemplo, de dizer sua escola, ¢ nfo @ escola), para marcar que o relato do que se passa no estabeleci- mento é formulado do ponto de vista do professor interrogado e nfo do analista) Enos detalhes desta espécie que, se eles ndo passam pura e simplesmente desper- cebidos, t€m todas as chances de aparecer como simples elegdnciasliterérias ou facilidades jomalfsticas, que afitmam continuamente o afastamento entre “a voz dda pessoa” e “a voz da cincia”, como diz Roland Barthes, ea recusa das passa- ‘gens inconscientes de um a outto.” 0 soci6logo niéo pode ignorar que € proprio de sew ponto de vista ser um pponto de vista sobre um ponto de vista. Ele nfo pode re-producir o ponto de vista, de seu objeto, ¢ constitui-lo como tal, e-situando-o no espago social, sendo a partir deste ponto de vista muito singular (¢, num sentido, muito privilegiado) “onde deve se colocar para estar pronto aassumir (em pensamento) todos os pontos de vista possiveis. E é somente & medida que ele & capaz de se objetivar a si ‘mesmo que pode, ficandlo no tugar que The 6 inexoravelmente destinado no mundo social, transportar-se em pensamento ao lugar onde se encontra seu objeto (que & também, ao mesmo em uma certa medida, um alter ego) ¢ tomar assim seu ponto de vista, isto 6, compreender que se estivesse, como se diz, no seu lugar, ele seria € pensaria, sem davida, como ele. 19. Ets contol constant do pont de visa nunca to ness dtl corto quand a stn soll que press spear € ue chien itera mo proximidade. Asim pr exemple, no case da profesor cajas loougesfevontes ou culpa” "problemas de asic) gedam eum feito ao ero tengo epuleivo ‘2 destealzne.ipedindo dz Set arealade do drain que els exrimer seria muito fc deca Fanci tac at asociages da polemia coiiana para caer, crcazano, una vida © um moto de vids gee SS parecem to eolerves pore tee sede reconece es Sas 73 (O interrogatério — Pierre Bourdieu ¢ Gabrielle Balazs As investigagées administrativas, das quais analisamos aqui alguns exemplos, sao interessantes sob va- rios aspectos. Em primeiro lugar por que elas déo five curso a todos os efeitos que, satvo vigilancia especial, ‘correm 0 risco de pesar sobre todare- lago de pesquisa s porque permitem assim medir a contrarioa importancia do esforgo que se deve fazer na con- dugdo de uma entrevista, para neute- lizar esses efeitos: é realmente um 16280 no qual, como iz John Gumperz, “apesar das aparéncias de iqualdade, de reciprocidade e de cordialidade, os papéis dos participantes, isto 6, 0 die Teito & palavra e a obrigagao de res- ponder, so predeterminados ou, pelo menos, séo objeto de uma forte coa~ 0". Se a violencia simbdlica ineren- te A dissimetria entre os interlocutores, muito inegavelmente provides de ca- pital econdmico e especialmente cul tural pode ser exercida com tanta desinibicao, é porque os agentes en- carregados de conduziro interrogatério se sentem delegados @ autorizados pelo Estado, detentor do monopdlio. da violgncia simbélica legitima, e que eles sao, a despeito de tudo, conhect dos e reconhecidos como tais. Prova disto & a resposta,digna de Kafka, da- uela muther que, submetida @ um ‘uestionério muito extenso sobre sua saiide, espanta-se: “Até isto eles per guntam?”, sugerindo que a pesquisa @ 86 0 instrumento de uma intengao elaborada em outro lugar, ‘no alto es- cal". 1.4, cunpor, Engage Conversation sedition ‘a socoingustue iteracionte Poss Me (eo oes commu), 083,915 A.andlise das gravagdes de algu- mas entrevistas feitas por un eserits. tio de estudos (que nos perdcara sem divide por 0 deixarmas no anonima to) a pedo do Ministerio da Pesquisa da Tecnologia para avalar a renda minima (RMI), apés trés anos em cexecugdo, permite perceber o que se- para o intetrogatério burocrtico das outras formas de interogacao do Es- tado, poicialejuciciéra principalmen- te,¢0 qua ha em comum com elas e mais amplamente com todas as en: trevistas burocréticas comuns.* Se bem que, diferentemente da invest- arto Judieiéra, © sobretudo da pol Cia, ea se apresenta (e 6 vvida) como uma pesquisa cientfica, a pesquisa administrativa, estitamente determi- nada pelos fins burocraticos, 8 intera- mente dirigida pelas intengdes normativas. Além disso, © momento da pesquisa (no mesmo ano om que a comisséo nacional de avaliaglo do IMI deve enviar seu relatério a0 pri- meiro ministro), lugar de sua realiza- (0 (0s escritios das prefeituras ou dos centros comunitérios de agao so- Gial encarregados dos contraios), 0 contauido ¢ a forma das perguntas, chegando a 900 para uma 86 entre- Vista formulada sem interrupgéo, fe- qUentemente por dois pesquisadores 2 Agradaceas equ, som pase dentomarto fas tvou estas grvag. pare oda ss omn (Goes sor osu perquearometomes cra cle- iva 0 MIRE (teen tome par ‘charted Pian ot Ll rm ce ‘ats Tete, ieerfon soil Pats Ses ‘erates, 101- Esa posquea deur tm bmoumccdiass ermB de overt 19) Pare arises opioni rarorae a 9 eo tence deca ns tudo incta os pesquisados a se sent remna obrigagao de provara legitimi- dade de sua stuacao de beneficiarios do RII (como outros, para obter um bono, um estgio ou uma moradia, fo obrigados a justiiear sua identi dade administativa de “que procura emprego", de “desempregado cujos direitos estao no fim’, de “jovem sem qualificagdo’, de ‘pai som arrimo", ou de “sem domiciio fixo). Aalteméncia entre perguntas volas ou irisérias (‘elativamente, 6 certo, & situagao e as preocupacdes das pessoas interrogadas: “Qual é 0 seu lazer preterido?") © perguntas ccapciosas feitas num tom amével (*E trabalho dectarado?”" ou “Como que ‘yoo ocupa seus dias?" ou formulla- das de modo irdnico "Vamos, vamos, aparentemente voo8 nao esta com at de doente..") confere & entrevista tuma violencia tanto mais injustficével porque, as vezes, 6 feita com toda Inocéneia, coma consciéncia trangdi- la daquele que tem a duplalegtimida- de da ordem cientifica e da ordem moral. Nao se acabaria de enumerar os pressupostos que esto inscritos, de algum modo, na prépria estrutura da relagao de pesquisa, quando, como aqui, adissimetia inerente ao interro- {gat6rio burocrdtico encontra na ¢ pela distancia entre os recursos e dispost- (9628 sociais do pesquisador e os do Pesquisado as condigies de sua pie- na realizagao. A relacao de forca 6 tal ‘que o interrogador nao tem por que se inguietar em saber se os problemas ue ele (se) coloca, problemas de ins- tituigao, que ndo tém interesse sendo para 0 draio soficitador da pesquisa, se colocam também para a pessoa para a qual ele os coloca. n6 © postulade fundamental de tro- caesta, som divida, insorto nesta im osigdo de problemética, baseada na Lniversalizaedo do intoresse particu lar das burocracias. Mas isso ro é tudo. O inquérito, conduzido na logica dda suspeta, tata o pesquisado como cissimuiador e como simulador po- tencial que se deve pegar na armadi. tha. Algm das perguntas como os RMistas foram informados da exis. tancia do abono, sobre o que eles pensar da lei, sobre o item do orpar mento doméstico ao qual se destina RMI, ha também todas aquelas que visam descobrr se o investigade nao tefia rendas nao declaradas, se cle ‘no disporia de outros recursos, se ele (ou antes ela, porqua esta pergun- tase drige mais freqientemente as mulheres) viveria sozinho como ele (0u ela) atirmam, se ele nao teria ro- Querido ao RMI para conseguir um Seguro social. Como pesa sotre a suspeita da trapaca interessada e da falta de civisme, Ihe 6 perguntaco se ele vota, como uma comregao no mes- mo instante, que se quer cimelice: ‘Nao estamos perguntando para quem! Nos trés casos relatados aqul, 0 de mulher que deixou seu mario ar- teso depois da morte do filho, de vin- te anos de idede, e que, com quase 50 anos, ndo tina a experiéneia de lum emprego assalariado, ode um pe- ‘queno comerciante de 89 anos que t- nha um pegueno bar num beirro popular, até sua doenga que o impe- du de ficar de p8, @ o de um jovem ue trabalha em manutengzo, antigo aprendz educad por sua av6 porta, apés a morte de sua mao, @ intro: gacdo atinge a violéncia do interro- gatério. Perturbadas, desorgarizadas, estas vidas no entram nas eategorias previstas pelo questiondrio padréo, concebido para suscitar respostas homogéneas e incapaz de captaradi- versidade das situagdes que permit- riam levar a buscar um abono de sobrevivéncia, Os sinais de espanto, as censuras contidas ea condescen- déncia, cuja forma suprema é sem diivida a piedade, s&0 igualmente ma- nifestagdes dos pressupostos — ou dos preconceitos —constitutives da vi- sao burguesa ou pequeno-burguesa do mundo: eles comprometem todo tum conjunto de postulados sobre a ‘composigao ‘adequada” de uma fa- milia, sobre os lagos que se deve imanter com ela, e sobre as “opgdes” escolares ou profissionais, que det nem uma “carreira” digna desse nome. ‘Quando a mulher separada do marido @ que perdeu 0 filho declara que renunciou a um emprego de um més porque sua filha, estudante, aca- ou de ter um fiho e que preferiaficar ‘com ela, gostaria de ouvir dizer: “Seu instinto maternal foi mais forte!” Mas se vé censurada, além disso, pelo que a investigadora percebe como ‘uma inversdo dos papéis: “Como, sua fiha sustenta a casa?" A uma jovem doméstica, mae sotteira, pergunta-se como numa dissertagao: “O que 6, pata voc, estar sozinha?” ou “Ver ua filha crescer é importante, para voce?” E que dizer dessa pergunta pseu- do-analitica sobre as lambrangas da infancia, que se faz macanicament, apesar da resisténcia dos investi- gados a entrar nas confidéncias ou nas lemrangas dolorosas? “Isso esta tudo muito longe (...) eu nao me lem- bro, responde por exemplo uma jo- vem doméstica que passou sua Infancia de lar em lar, sem conhecer seus pais. Ao passo que outros, como 0 jovem da manutencio, que perdeu a mae quando era e“anga, responde com seu silncio: Investigador— Voo8 pode me falar de sua infancia? Investigado ~ [Siléncio}. Investigador~ © que & que voos tem ‘como lembranga desse periodo? Investigado— (Siléneio} Investigador- Voce néo tem lembran- as? Invastigado- Sim. Investigador — Voo’ no quer falar?. Esta bem, ‘Sem nunca ser completamente conscientes e cfnicos, os investi- gadores, conduzides por suas cispo- sigdes de classe, entram numa relagdo ambigua, de assisténcia e de vigilancia, de protegao e de suspeita, uma andlise mais sistematica de um grupo mais amplo permitria, sem di- vida verificar que composigao da equipe de investigagao segundo o sexo, idade, origem social ¢ a situar ‘cdo profissional afeta muito direta- mente & maneira de coletar os dados, ‘ede interpreti-los. Deste modo, al hi- pétese da investigadora a respeito da moradia nao tem sentido sendo por referéncia a uma definigao técita do que 6 tido por conveniente em seu Universo para uma familia de ‘pobres” como a da investigada: "E caro! Bu pensava que vocé morasse em... [he- sitagéo], num sala-quarto!" A invest- gada ¢ obrigada a explicar, como que para se desculpar, que agora que ela vive com sua filha @ seu neto, este apartamento de quatro cémodos & ppouco mais caro para ela, gragas a0 nn tudo incita os pesquisados a se sent ema obrigagao de provar a legitimi- dade de sua situago de beneficiérios, do FMI (como outros, para obter um abono, um estagio ou uma moradia, sao obrigados a justifcar sua identi- dade administrativa de “que procura ‘emprego’, de "desempregado cujos jt0s estéo no fim’, de "jovem sem. ‘qualificago", de “pai sem arrimo", ou de “sem domicilio fxo") A alternancia entre perguntas tr volas ou irtisérias (relativamente, & certo, & situagao e as preocupagées das pessoas interrogadas: “Qual 6 0 seu lazer preferido”) e perguntas ‘capciosas feitas num tom amavel (“ trabalho deciarado?” ou “Como gue voo# ocupa seus dias?) ou formula~ das de modo irérico ("Vamnos, vamos, aparentemente voce no esté com ar de doente...") confere & entrovista ‘uma violéncia tanto mais injusificével porque, as vezes, é felta com toda inooéncia, coma consciéneia tranagi- la daquele que tem a dupla legtimida- de da ordem cientitica da ordem moral Nao se acabaria de enumerar os pressupostos que estéo inscritos, de algum modo, na prépria estrutura da relagao de pesquisa, quando, como aqui, a dissimetria inerente ao interro- gatério burocratico encontra na.e pela distancia entre os recursos e disposi- 62s sociais do pesquisador @ os do pesquisado as condigées de sua ple- na realizagao. Arelagao de forga é tal ue ointerrogador ndo tem por que se inquietar em saber se os problemas que ele (se) coloca, problemas de ins- ttuigdo, que néo tém interesse senao para o érgao solictador da pesquisa, ‘se colocam também para a pessoa para a qual ele os coloca, 76 © postulado fundamental de tro- ‘ca esta, sem diivida, inscrito nestaim. posigao de problematica, baseada na universalizagao do interasse particu. lar das burocracias. Mas isso néo 6 tudo. O inquérito, conduzido na légica a suspeita, tata pesquisado como dissimulador e como simulador po. tencial que se deve pagar na armade tha. Além das perguntas como og RMistas foram informados da exis: téncia do abono, sobre o que sles pensam da lel, sobre o item do crea. ‘mento doméstico ao qual se destina 0 Rill, ha também todas aquelas que visam descobrir se o investigado nao teria rendas nao deciaradas, se cle 1ndo disporia de outros recursos, se ie (ou antes ela, porque esta pergun- ta se dicige mais freqdentemente as mulheres) viveria sozinho como ele (ou ela) afirmam, se ele nao teria re- querido 20 RMI para conseguir um seguro social. Como pesa sobre a suspeita da trapaga interessada ¢ da falta de civismo, Ihe é perguntade se ele vota, como uma correcao no mes- mo instante, que se quer climpice: “Nao estamos perguntando fara quem!" Nos trés casos relatados aqui, 0 de mulher que delxou seu maride ar- tesdo depois da morte do fifho, devin- te anos de idade, e que, com quase 50 anos, ndo tinha a experiéncie de um emprego assalariado, o de umpe- ‘queno comerciante de 59 anos que t+ ha um pequeno bar num bairro popular, até sua doenga que o impe- diu de ficar dep, @ 6 de um jovar {ue trabalha em manutengao, artigo aprenciz educado por sua avé porteira, apés a morte de sua mée, a interro- ‘gacdo atinge a violéncia do interro- gatério. Perturbadas, desorgarizadas, estas vidas nao entram nas categerias previstas polo questionario padido, concebido para suscitar respostas homogéneas eincapaz de captar a di- versidade das situagdes que permit- riam levar a buscar um abono de sobrevivénela, Os sinais de espanto, as censuras conlidas e a condescen- déncia, cuja forma suprema é sem divida a pledade, s&0 igualmente ma- nifestagdes dos pressupostos — ou dos preconceites ~constitutivos da vi- so burguesa ou pequeno-burguesa do mundo: eles comprometem todo tum conjunto de postulados sobre @ ‘composigéo “adequada’ de uma fa- milia, sobre os lagos que se deve manter com ela, € sobre as “opedes” escolares ou profissionais, que defi nem uma “carreira” digna desse nome. Quando a mulher separada do marido e que perdeu o fo dectara que renunciou a um emprego de um més porque sua fiha, estudante, 2ca- bou de ter um filho © que preferiaficar com ela, gostaria de ouvir dizer: ‘Seu instinto maternal foi mais forte!” Mas sse v6 censurada, além disso, pelo ‘que a investigadora percebe como tima invers&o dos papeis: “Como, sua fila sustenta @ casa?” A uma joven doméstica, mée soltera, pergunta-se ‘como numa dissertagdo: “O que 6, pata voce, estar sozinha?” ou “Ver Sua filha crescer € importante, para voc8?” E que dizer dessa pergunta psou- do-analiica sobre as lombrangas da Infancia, quo se faz macanicamente, apesar da resisténcia dos investi ‘gados a entrar nas confidéncias ou nas lembrangas dolorosas? Isso est tudo muito longe (..) eu néo me lem bro, responde por exemplo uma jo- vem doméstica que passou sua Infancia de tar em lar, sem conhecer ‘seus pais. Ao passo que outros, como joven da manutengéo, que perdou ‘a mae quando era crianga, responde com sou siléncio: Investigador ~ Voce pode me falar de sua infancia? Investigado — {Siléncio}. Investigador~ © que & que voc’ tem ‘coma lembranga desse periodo? Investigado — [Siléncio}. Investigador—Vocé nao tem lernbran- gas? Investigado ~ Sim. Investigador - Voc’ no quer falar?... Esta bem. Sem nunca ser completamente conscientes e cinicos, 0s investi- ggadores, conduzidos por suas dispo- sigdes de classe, entram numa relagao ambfgua, de assisténcia ¢ do Vigilancia, de protegao e de suspelta, fe uma analise mais sistematiea de um ‘grupo mais amplo permitiria, som dr vida veriicar que a composigao da tequipe de investigagéo segundo o Sexo, idade, origem sociale a situa- {0 profissional afeta muito direta- mente & maneira de coletar os dados, de interpreté-los. Desta medo, tal hr potese da investigadora arespeito da moradia nao tem sentido sendo por reforéncia a uma definigéo técita do que ¢ tido por conveniente em seu Universo para uma famila de "pobres” como a da investigada: “E carol Eu pensava que voo8 morasse em...he- Sagi), num sala-quarto!" A invest ‘pada 6 obrigada a explicar, como que para se desculpar, que agora que ela vive com sua fiha e seu neto, este apartamento de quatro cémodos & pouco mals caro para ela, gragas a0 n abono de moradia, do que o duas pe- gas que ela ocupava antes, Do mesmo modo, ainvastigadora Pergunta ao pequeno comerciante que reside num bairro em reurbaniza- ‘980: “O que o senhor sente ao saber que sua casa vai ser demolida, que. [se cortigindo} que sua casa... ( uma casa, isto &, um pavilhdo, ou é um apartamento? (..) E a casa 6 de seus pais? (...) E sempre o mesmo, faz quantos anos?" Mostrando sua vie so normativa da taxa adequada de ‘ccupagao, ela se espanta, Insistindo na citca: “E 0 senhor vivia ento, na época, em... seis nessa casa?" De- pois ela conta novamente em voz alta: "Dols fhos, os pais e seus pais...Certo. E agora seus pais estéo...? [siéncio, eles faleceram]. A investigadora, pros. seguindo seu pensamenio e seu caleu: lo, conclu, como que aliviada, que ha ais espago: "Entao agora vocas $40 dois?” Avioléncia tinge sem divida seu onto culminante quando a filosofia da ago que sustenta toda a intrro- .gap%o, conduz a procurarnas intengées enasrazdes oprinchiodetodas.as ap6es de todos os agentes, considerados to- dos como donos de seu destino, ea tor nar desse modo tacitamente os FRMlstas 0s responsveis por sua misé- ia, Os “Por qué?" que marcam as con- versas sobre a perda do emprego, a separagao do cdnjuge, 0 abandono da escola, a salide, 0 desemprego, fazem pensar que tudo 0 que aconte- 2 & pessoa interrogada foi o resuta- do de uma livre escolha. A uma domestica que saiu da escola com 12 anos, pergunta-se por exemple “por que 8a o fez", especificando mesmo: “Foi porque voe® quis ou porque foi ne obrigada?” Eles postulam que ceda lum pode ¢ deve conduzir sua carreira sua vida ao bel-prazer, Investigador 2 ~ [Retoma) E por qual azo voc’ parou como bar? Investigador t ~ Doenga. Investigado ~ Porque eu néo podia ‘mais trabalhar. Investigador 2 ~ Portanto por razio do satide [0 investigado acrescenta ue trabalhou 20 anosnos PTT eque parou’ Investigador 1 ~ Entdo 0 motivo Ja suspenséo desse trabalho 6 verca- deiramonte sua mulher? Investigado — E isso. Investigador 1 — De outro modo vosé estaria trabalhando? Investigado — Oh eu estaria aposen- tado... Ah no, ndo completamente. Investigador 2 ~ [Perdido] © motivo da suspensao de qual trabalho? Investigador1 — Dos PTT. Investigador 2 ~ Vocé parou por cau sada sua mulher? Porque ela néo. Investigado ~ [Obrigado a repetir| Ea estava deprimida, ela no podia mals fazer seu trabalho, entao. Investigador2 ~ {Repete] E qual erao trabalho dela? Investigado ~ A contabilidade, Investigador 1 ~ Ento voce decidiu: demissao, Investigado— Oh sim... Investigador 1 ~ E isso era bom para ‘© senhor depois do...? Investigado — Para minha mulher? Investigador 1 ~ O bar? sees Investigado —Néo! Néo, mas enfin. fla se acostuma. [Siéncio} E eu tam- bém. Investigador 1~ Sim, isso mudou, hein, Investigado — Com carteza, Investigador 1 — Voce fez pequenos bisoates antes de entrar para os PTT? Investigado - Sim! Primeito era cabe- leireiro. No meu primeira trabalho eu era cabeloireiro. Investigador 1 — [Tom admirado] Que ccurrfculo! [Elevando a voz] Voce tinha seu CAP? Investigado ~ Sim. Investigador 1 ~ E vocé usou...? Investigado ~ N30 muito tempo por- que eu no recebia. Quatro anos so- mente. Naquele tempo, cabeleireiro morria de fome. Investigador1 ~ Ah, sion? Investigador 2 ~ Em que época? Que ano? Investigado — Entre 45... pensa] 45 a 49, Investigador + — Que ligo voc’ titou do trabalho de cabeleireica, primeiro, depois do emprego de. Investigado—Que aprende-se um tra- balho ¢ depois ndo serve para muita coisa. Depende dos trabalhos, Eu ‘do queria jamals ser cabeleireiro. Investigador 2 — Ah bom, por que voc’ foi fazer isso? Investigado ~ Porque... eu queria ser carpinteiro de navio. Na época, o mé- dico - ele morreu, felizmente ~ me achou muito magro, Eu era magro. Investigador 2 ~ [Tom de zombarial Voce nao parece magro agora, vocé se recuperou. investigado ~ & isso, eu era mesmo muito pequeno para ser ur carpntel: ro, Bles queriam grande e gordo os. depos... e depois me propuseram. precisava trabalnar também - depois da guerra, era dur. Os ‘por que’ repetidos convidam a uma reflexdo retrospectiva sobre as intengdes da agao e tendem assim a tomar a vitima responsavel [também ‘aos seus proprios olhos] por uma situ- apdo que se supée ter desejaco, pelo ‘menos negativaente, ao se mostrar incapaz de a "segurar’. Deste modo, a investigadora ironiza sobre 0 fato que © mesmo comerciante, cuja mu- ther, caixa do bar, continua a tomar conta dos papéis administrativos, no sabe se ele preencheu os papéis, se ele assinou 0 famoso “cantrato de in- sergao” ("Para mim é grego”)e ela en- Go 0 chama & ordem. Investigador 1 ~ E quando é que the pagaram? Investigado — Dols ou trés meses de- pois, eu acho, ndo sei exatamente; primeiro, eu née cuido disso, é minha ‘mulher que cuida des papéis, Investigador 1 — Que cuida. E 0 se- rnhor recebeu a quantia a partir de pri- meiro de janeiro ou...? Investigado—Nao, eu sei... eundo sei ‘exatamente, Eu nao cuido disso. Investigador 1 - 0 senhor néo sabe? [Tom de censural 0 senhor cabe a ‘quanto tem direito? Investigado — Sim, 2300... 2300 {s- lencio}e uns trocados talvez. Investigador 2 [O contrato de inser- ‘g0] O senhor nao sabe se 0 assinou ou nao? Investigado — Néo sei. 19 Investigador 2 ~ De qualquer manei- ra foi o senhor que requereu o RMI, & © senhor que 0 tecebe ou... 6 0 se hor? Investigado— Sim, sou eu. Investigador 2 ~ Entéo 6 0 senhor que deve ter assinado, normalmente. Investigado ~ Eu nao me lembro. investigador 1 ~ & om troca de um trabalho, porteno talvez o senhor nao dlveria $e lemorar? A discordancia estrutural 6 gora- dora de mal-ontendidos explicitos. Assim, ainvestigadora que néo ouviu {que 0 jover da manutengo perdeu ‘sua mae quando tinha 12 anos, e que ‘se preocupa mais com a reguiaridade dos lagos familiares que com sua exs- tncia, pergunia se ele a sempre “Ah, ‘ma desculpe’, dz ola, quanto ele mar. ca um siéncio espantado. E quando 0 rapaz diz que ndo v8 seu pa, ela deduz * que ele esté mort, quando ele vive no estrangeiro. Do mesma modo, 0 co- mereiante que tem um fio acto mo- randona casa patera se confunde na fesposta quando a investigadora the pergunta, com um tom de certeza, a respoito de seus filhos: Dois interrogatérios Conservamos apenas dois estra- tos bastante longos que condensam todos 0s esquemas postos em pratica ‘num inguérito administrative de con- trole. Solicitados, até intimados a re- velar a sityagao de seus recursos © de sua sade, sua manelra de viver, ‘sua histéria familar, sua intimidade, 0s Aliistas resistem seja pola brevi- dade de suas respostas, pela econo- mia de palavras e pelo silencio, soja, para os mais endurecidos, por diver- 20 “Que nao vive mais com 0 sentor, suponho?” "Nao. Meu fio... vern § minha casat. “Ele vive na m.-? Néot Ele vem?" Ele versa minha casa, Ele ‘mora na minha casa, digamos". Acontecs também que a evidén- cia absoluta de uma experiéncia de vida baseada no dominio do tempo (e do dinhelro) conduz @ descasos que beiram 0 desprezo: assim, ao jovem ‘da manutengao que conta numa rris- tura de amargura e de vergonha que ‘le “sa deixou enganar’, na época em que ele trabalhava sem carteira assi- nada, por um empregador que ro pagou seu salério, @ investigadera pergunta so ele conseguiu ser pago normalmente... E, um pouco depcis, quando ele diz nao ter encontrado nada na ANPE, ela Ihe pergunta num tom frivolo: “O que voce fol fazer na ANPE?” E toda distancia entre duas situag6es, e as duas visbes corres- pondentes de mundo, explode na res- posta, cheia de condescendancia protetora que a invastigadora dirige, hum tom amdvel, a uma empregada doméstica que se diz pouco & vor'a- de para dizer qual o seu trabalro: "Nao & desonroso. E um trabalho que todas as mamdes conhecem.” as formas de encenagao da miséra, sendo a mais freqdente 0 discurso ara 0 assistente social Assuspeita A investigada expliea, um pouz0 ‘mal & vontade, que ela acumulou 9 Infortinios: atingida pela depresséo depois que seu filho morreu de cén- ‘cer, quand tinha vinte anos, ela se- parou-se do marido artesao, e vive agora com sva filha, estudante, que acaba de ter um bebé [Ela veio, aids, com o neto a quem da a mamadeira durante a entrevista]. Como se fosse um poueo inconveniante ter tantos in- forttnios, ela zomba de si mesma e ri 20 lembrar um problema suplemen- tar: sua salide deteriorou-se, de fato, depois desses acontecimentos. Falta tanto talo & investigadora que, parseguindo seu objetivo, tenta verificar em que momento aparece- ram as preocuparGes, para controlar 0 requisi¢go do AMI nao foi feita por ocasiao dos tratamentos, e para ‘obter a cobertura social garantida pelo RMI. Ignorando as informagées, ‘que a investigada Ihe havia dado es- pontaneamente a propésito de sua depressfo, de sua tentativa com a psicanalise, de sua doenga do siste- ma imunologico, a investigadora de- senvolve toda a parte médica do ‘questionério. Investigador~ E voc® fol ao psicana- lista por sua prépria iniciativa? Investigada — Sir, Investigador - Fez andlise ou... Investigada ~ Nao (..). Eu fiz durante dois meses. Investigador ~ Depois da separacéo? Investigada— Nao, néo, isso nao tinha nada a ver. Enfim era tudo uma mis- tura. Havia a morte do meu filho, ha- via a separagdo, havia a situagdo de rminha fiha, eram muitas coisas. Mu tas, muitas coisas. Investigador -Vocé aprendeu alguma coisa dessa... Parece que isso a aju- dou ou..? Investigada ~ Eu creio que, talvez, para mau filho eu love do's anos, eu ‘acho, para compreender verdadeira- mente as coisas. Nesse caso eu tarn- bém teria levado algum tempo. Eu level algum tempo para com: preenderas colsas mas eu chegeriaa 'ss0 sozinha, &iss0, eu tea feo mic nha analise sozinha, Mas como hevia ‘um problema de sade que se juntava asso. Investigador — Ah bom voc’ tnha. Investigada~ Sim, um..[s0 embara- ado] problema de saide, era uma Goisa também, Portanto, era muito ur gente qua alguém me... que algum futto tentasse me ajudar, mas isso me ajudou porque fale.) Investigador ~ Vamos falar de sua sate, pois voc8 me disse que tem problemas. Depois, a quanto tempo wo tem. Investigada ~ Oh isso fz (suspioh.. £82, om 82 me examinaram porque eu tinha alergias, eu tinha eczemas, ut cara, ertéo 6 até 86 ou fiz todos os fxames © 0 madico me disse: ‘Dona Fa senfora € alargica a tudo, entao a senhora toma isto © d6-8 por sti feita”. Investigador -O que era, umantalér ico? Investigada — NA, néo.. Investigador Al sim, voce éalérgica tudo! Investigada~ isso, eu eraalérgica a tudo, & depois um sla eu pensel, et disse, bom, bem, a morte de Eric transtomou a todos e pode ser que 6 ral, que o sofimento saia assim; © deed o dia em qua @u compreendi 's80, poueo a pouco foi embora Investigador ~ Sim, a sonhora res!- monte fez a sua andise. m Investigada — Sim, eu fz mas level tempo para fazé-la. E depois eu nao compreendia de jeito nenhum. E {quando eu tive problemas com meu ‘maxido, enfim, problemas... de novo, recomeégou. Mas af fol muito mais s6- tio. E comegaram todos os exames ‘no hospital. Depols percebeu-se que havia um problema de imunidade, en- 0 eu tive uma doenga auto-imunité- fa Jnvestigador -E a senhora continua o tratamento? Investigada — Sim, Investigador ~ Vocé vai regularmente Investigada ~ Sim, todos os meses. Eustomocortisona, éfazfem que mes estamos? estamos em outubro) isso deve fazer oito meses, Investigador — E sera que 0 fato de ‘eeeber o AMI he permite também ter a cobertura social? Investigada — Ndo era, nfo era real- mente isso. Investigador ~ Nao, mas eu no sou Policia, mas dentro da lgica, eu pro- Cuto a3 coisas logicas, isto 6, seu nome nunca apateceré em lugar ne- hum, Eu tento pensar em termos simplesmente de trajetéra, porque isso corresponderia mais & cobertura social que a moracia. Investigada ~ N3o, quando requeti 0 RMI, as investigagées no haviam sidofeitas, quero cizer, a doenca nem havia sido descoberta, providencias ficiais nao tinham sido tomades. E isso 86 fol feito em abril no més de abril, Entéo como eu era benefcisria desde 0 més de janeiro, quero dizer, nada foi feo... das devo reconhecet {que agora com todo. Investigador ~ Sao tratamentos ca- 108? ™m Investigada ~ Os tratamentos néo, mas 0s exames sim. Investigador — Quer dizer, Ihe fizeram exame de, Investigada ~ Os exames, ha ag and- lises de plaquetas, enfim, duranie um tempo era de dois em dois dias, de trés em trés dias, depois disso fol se ‘espacando pois se tinha estabilizado, depois disso foi toda semana, depois disso a cada duas semanas acora a cada tés semanas. E 0 tratamento vai acabar normalmente (...); mas houve exames dos olhos porque eu tomava um remédio enquante que agora eu tomo cortsona (..) @ depois 2 hospitalizacao também (...) no co- mega me hospitalizaram porque eles no sabiam 0 que era. Depois eles pensavam que fosse um virus, depois disseram que era outra coisa ¢ de- pois, depo's eu fui hospitalizade por- {que as plaquetas tinham cafdo muito baixa, 6 isso (..). Investigador ~ Sim, sobre a histéria do RMI, qua permite enfim uma grote- {940 social, o que é que vocé pode di- zZer sobre isso? Investigada ~ Eu digo que 6 impcrtan- te, que 6 multe importante, Investigador Sim, porque ha efetiva- mente 0 aspecto financsiro, ejuda imediata, mas ha também esse drelto ater cobertura, Investigada - € verdadeiramente ‘muito, muito, muito importante. Euque- ro dizer que’ sendo dese modo ¢ ver- dadeiramente de grande ajuda e uma grande preocupagae a menos. Verda-

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