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Alguns hoje se empenham com afinco cm desacreditar a Gra- midtica, porque, segundo cles, as Linguas Zo necessitam de regras que as constranjam: basta deixar que sigam seu curso, livremente. Mas isso € falso, porque, deixada A deriva, sem regras que a dirijam, a lingua seria como as aguas de um rio, puro Muxe, ao pono de nao poder falar-se duas vezes como a mesma lingua. E parte intrin- seca de toda © qualquer lingua ter regras; € © dique sem o qual cla fluiria sem nenhuma permanéncia e os préprios defensores da tese da lingua sem regras nem poderiam propor sua tese: simplesmente porque nem sequer haveria nenhuma lingua. As Iinguas, sim, corrompem-se, mas menos impetuosamente quando, em meio a uma verdadeira civilizagéo universal (ou ten- dente A universalidade), hd a escrita com sua arte prépria e espe- cial, a Gramatica, Mais ainda, neste ultimo caso podem tender até a grande estabilidade: foi o que se deu com o latim ao tornar-se lingua altamente nermatizada e ordenada Aa Ciéncia e & Sabedoria. A Suma Gramatical da Lingua Portuguesa — Gramdtica Geral ¢ Avangada, de Carlos Nougué, nao sé reafirma a necessidade im- petiosa da Gramatica e seu carater essencialmente normative, mas aprofunda-se solidamente em seus presstpostos tedricos, a fim de fa- zer frente eficaz. tanto aos numerosos ataques que Ihe movem como L melhor inserir-se nesta mesma tradica’o. Segue nisso a palavra do as préprias debilidades da cradigao gramatical. Sé 0 faz, porém, para gramatico venezuclano Andrés Bello: “A prevencaéo mais desfavo- ravel [...] €a daqueles que julgam que em gramdtica as definic6es inadequadas, as classificag6es malfeitas, os conceitos falsos carecem de inconveniente, desde que, por outro lado, se exponham com fi- delidade as regras a que se conforma o bom use. Eu creio, contude, que essas duas coisas sao inconcilidveis: que o uso nado pode expor-se com exatidao c fidclidade senao analisando os principios verdadci- ros que © dirigem, porque uma légica severa € indispensdvel requ sito de todo ¢ qualquer ensino”. Como diz o desembargador Ricardo Dip em sua apresentagao, a Suma Gramatical da Lingua Portuguesa & obra veérico-pritica nao s6 de um gramatico e professor experiente, “mas também de um filésofo prudente, de alyuéin acostumado a leituras arduas © que nao se deixa abater pelas rempestades periféricas: vai As profundezas, em busca de findamentos tltimos aos quais possa discretamente arrimar sua arte regulativa, a da palavea”. Alguns hoje se empenham com afinco cm desacreditar a Gra- midtica, porque, segundo cles, as Linguas Zo necessitam de regras que as constranjam: basta deixar que sigam seu curso, livremente. Mas isso € falso, porque, deixada A deriva, sem regras que a dirijam, a lingua seria como as aguas de um rio, puro Muxe, ao pono de nao poder falar-se duas vezes como a mesma lingua. E parte intrin- seca de toda © qualquer lingua ter regras; € © dique sem o qual cla fluiria sem nenhuma permanéncia e os préprios defensores da tese da lingua sem regras nem poderiam propor sua tese: simplesmente porque nem sequer haveria nenhuma lingua. As Iinguas, sim, corrompem-se, mas menos impetuosamente quando, em meio a uma verdadeira civilizagéo universal (ou ten- dente A universalidade), hd a escrita com sua arte prépria e espe- cial, a Gramatica, Mais ainda, neste ultimo caso podem tender até a grande estabilidade: foi o que se deu com o latim ao tornar-se lingua altamente nermatizada e ordenada Aa Ciéncia e & Sabedoria. A Suma Gramatical da Lingua Portuguesa — Gramdtica Geral ¢ Avangada, de Carlos Nougué, nao sé reafirma a necessidade im- petiosa da Gramatica e seu carater essencialmente normative, mas aprofunda-se solidamente em seus presstpostos tedricos, a fim de fa- zer frente eficaz. tanto aos numerosos ataques que Ihe movem como L melhor inserir-se nesta mesma tradica’o. Segue nisso a palavra do as préprias debilidades da cradigao gramatical. Sé 0 faz, porém, para gramatico venezuclano Andrés Bello: “A prevencaéo mais desfavo- ravel [...] €a daqueles que julgam que em gramdtica as definic6es inadequadas, as classificag6es malfeitas, os conceitos falsos carecem de inconveniente, desde que, por outro lado, se exponham com fi- delidade as regras a que se conforma o bom use. Eu creio, contude, que essas duas coisas sao inconcilidveis: que o uso nado pode expor-se com exatidao c fidclidade senao analisando os principios verdadci- ros que © dirigem, porque uma légica severa € indispensdvel requ sito de todo ¢ qualquer ensino”. Como diz o desembargador Ricardo Dip em sua apresentagao, a Suma Gramatical da Lingua Portuguesa & obra veérico-pritica nao s6 de um gramatico e professor experiente, “mas também de um filésofo prudente, de alyuéin acostumado a leituras arduas © que nao se deixa abater pelas rempestades periféricas: vai As profundezas, em busca de findamentos tltimos aos quais possa discretamente arrimar sua arte regulativa, a da palavea”. SUMA Gramatical DA LINGUA PORTUGUESA Copyright © 2015 Carlos Nougué Copyright desta edigéo © 2015 E Realizagoes EDITOR Edson Manoel de Oliveira Filho PRODUGAO FDITORIAT, CAPA F PROJETO GRAFICO £ Realizagées Edicora PREFARACAO DE TEXTD E REVISAO. William C. Cruz Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda ¢ qualquer reprodusao desta edigao por qualquer meio ou forma, sja cla cletténica om mecinics, fotocépia, gravagio ot qualqutce outro meio de reprodugio, sem permissio expressa do editor. CIP-BRASIL. CATALOGAGAQ-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Nav Nougué, Carlos, 1952- Sua gramatical ds lingua portuguesa = gramitica eral © vangada / Carlos Nougué.- 1. ed. - So Paulo + f-Realiaages, 2015, 608 p. 2 ¢ ISBN 978.83 8033. 203.2 1. Lingua portuguesa ~ Gramévica, 1. Titulo 15.23998 EDD: 469.5 DU: 811.134.3'36 23/06/2015 25/06/2015 E Realizagoes Editora, Livearia ¢ Distribuidora Ltda, Rua Franga Pinto, 498 - Sao Paulo SP - 04016-002 ‘Caixa Postal: 45321 - 04010-970 . Telefax: (5511) 5572 5363 atendimente@ereilizacoes.com.br - www.erealizacoes.com. br Este livro foi impresso pela Gritica Comprine em julho de 2015. Os tipos sio da familia Adobe Garamond eNews Gothic. © papel do miolo €e alta alvura 90g, ¢ 0 da caps, cartéo ningbo star 2502, CARLOS NOUGUE SUMA Hee) | Gramatica Geral e Avangada Wt A Paula Sérgio ea Rest Clana, ea Maria Auguia jCuaintas veoos el Angel me decia: “alma, as6mate ahora ala ventana, vyerés con eudnte amor llamar porta! Love ve Viea, No € coisa de qualquer homem impor romes, mas de um “nomic nador”. E este €, a0 que parece, o legislador, que naturalmente ¢ entre os homens o mais rato dos artesaos. Socrates / PLAtio A linguagem & figura do entendimene: © assim & vetdade que a hoca diz quanto lhe manda o coragdo e ndo outra coisa. FeawAo pe Ouveres A pena é lingua da alma: quais forem os conceitos que nela se engen- draram, tas serio seus esctitos, Dow Quexore A gramarica de uma lingua é a arte de [escrever e pois de| falar cornet mente, isto é, conforme ao bom uso, Anpats Brito A prevenyio mais desfavorivel [J € daqueles que julgam queem gre mitica as definigbes inadequadas, as classificacées malfeitas, os conceieas falsos carecem de inconveniente, desde que, por outto lado, se exponham com fidelidade as regras a que se conforma © bom uso. Eu ereio, contr do, que essas duas coisas s2o ineomcilidveis; que 0 uso no pode expor-se com cxatidio © fidelidade serdo analisando os principios verdadsiros que 6 dirigem, porque ume higica severa ¢ indispersivel requisito de todo e qualquer ensino Anpits Beto A gramatica é a arte de levantar as dificuldedes de uma lingua; mas é preciso que a alavanca nau seja mais pesada que o Faro, Assronve Rivaron Amo-te, 6 rude ¢ doloroso idioma, / Em que da vox materna ouvi: “meu filho!” Ouse Buc Sumario APRFSENTACAO, Desembargedor Ricardo Di PROLOGO....... PRIMEIRA PARTE: L/NGUA, LINGUAGEM, GRAMATICA 1, Fala e linguagem.. 11.A diversidade de linguas 1, Definigéo de Kingua iy, A eserita... Sate da Caaeics re da eacit ou tae pode Wir aaa di fla vi. O sujeito da Gramética ea definieio desta. vil A que serve imediatamente e reflexamente 2 Gramatica vu. A que serve mediatamente a Gramitis x A que serve ultimamente a Gramitica. SEGUNDA PARTE: NOTICIA HISTORICA DA LINGUA PORTUGUESA 1. Origem préxima... tA ehetada ta aie Petia tien in. A romanizacéo da Peninsula 1v. A época visigStica.. v. A dominagao moura...... vi. A formacio do primeira ports vit. As ctapas do partugués vi. A lingua portuguesa no mundo atual ... TERCEIRA PARTE: FONEMAS = LETRAS NA LINGUA PORTUGUESA ATUAL 1. Fonema ¢ letra... 1,0 agate odor be Fortes O aparelho fonados, 83 1m. Visio mais sistematica dos fonermas da lingua portuguesa. ‘As vogais, as consoantes € as semivogais, 85; As vogais, 85; As consoantes, 86; Qs fonemas e sua representagao escrita, 90; As semivogais, 92 wv. A sflaba., v. Os encontros. 93, 94 © hiato, 94; O dicongo € 0 uitongo, 95; O ditongo, 95; O uicongo, 955 Encontros instaveis, 96; Os encontros consonantais, 96 wi. Tonicidade atonicidade .. vit. Palavras de acensuacio viciosa... vitt. Grupo acentual e palavras essencialmente éronas . 1x, Posigio das palavras essencialmente dtonas... As us posigées das palavras essencialmente dtonas, 10. Em énclise, 102; Em meséclise, 102 x. Os vitics sistomas ortogrificos da lingua portuguesa... ‘A histéria da ortografia portuguesa, 103; A fase fonética, 103; A fase etimolégica, 104; A fase da chamada nova ortografia, 104 sat, © que pensar das reformas ortogriticas.. xtt. © atual sistema ortogrifico . alfabeto portugues, 106; Letra inicial maidscula, 108; A divisio silébica, 110; Notagdes léxicas, 111; Os ués acentos, 111; O acento agudo, 111; acento circunllexo, 111; O acento geave, 112; O til, 112; O tema, 112 O apésurofo, 113; A cedilha, 11 113; As regras da acentuacio ) hifen, 113; Os sinais de pontuagio, fica, 114; Das palaveas monossilabicas (cssencialmente) tSnicas, 114; Das palavras oxitonas, 114; Da palavsas paroxitonas, 115; Dos hiatos, 115; Dos seguintes verbos: aguas, averiguar, enxaguar, apaziguar; delinquir; etc., 116; Os acentos diferencizis, 116 QUARTA PARTE: MORFOLOGIA, OU TRATADO DA FORMA DAS PALAVRAS (NA LINGUA PORTUGUESA) 1. O que é morfologia em gramiatica.. 11. As classes gramaticai un. A palavea, unidade significativa minima 1v. Como se formam as palavras. Como diz Sécrates a Herm 1» 140; AS partes de que se compéem as palavras em portugués, 141; AA silaba, 141; A raiz, 141; © radical, 141; Os acidentes das palavras, 142; tematica, 142; Os sufixos Hexionais 144; Os verbais, 150; © tema, 155; [As vogais € as consoantes de ligacgo, 156 (ou desinéncias), 144; Os nominais v. A formagio de novas palavras 7 A formacao de novas palavras por composigao, 158: Prefixos de origem latina, 158: Prefixos de origem grega, 161; A justaposicdo, 163; A aglutinacio, 164; Principais radicais de origem latina que funcionam como primeira parte na aglutinagio, 164; Principais radieais de origem latina que funcionam como segunda parte na aglutinagio, 165; Principais radicais de origem grega que funcionam como primeira parte na aglutinagio, 166; Prin de origem grega que funcionam como segunda parte na aglutinagio, 169; A formagio de navas palavras por derivacio, 175; Os sufixos nominais do portugués, 176; Os sufixos verbais do portugués, 182; O sufixo adverbial da lingua portuguesa, 184; A parass{ntese, 185; O hibridismo, 186; A derivagio regressiva, 186; As onomatopeias, 187; Outros modos de formagio de is tadicais palavras, 187; A abreviagio, 187; A sigh, 187; Os hipocorfstices, 187; A metifora, 190; A metonimia, 190; A extensio ou ampliagio do significado, 191; O uso do hifen, 192 QUINTA PARTE: CUTROS PARAD!GMAS E PRIMEIROS EMPREGOS DAS CLASSES GRAMATICAIS Nora rrevi: Um primeiro quadre das classes gramaticais ¢ sts funces sintaticas cst - itt neeserseseel OD 1 O substantive scsi : sgaccreemcenaw OM Para que usamos os substantivos, 203; Classificacao dos substantivos, 203; Os concretos, 203; Os abstratos, 203; Os concretos podem ser comuns ou préprios, 203: Os comuns, 203; Os préprios, 2035 Os substantivos colerivos, 203; As Hexdes dos substantivos, 204; Género e fexio de género, 204; O plural, 211; A desinéncia tniversal de plural, 211; O plural dos subscantivos terminadas cm vagal on em ditongo oral, 211; O plural dos substantivos retminados em a0, 212; O phural das substantivos tetminadas em consoante, 213: 0 plural dos diminustivos sufixados com -zinho e -zita, 214; © plural dos substantivos composts (ou das locugées substantivas), 215; Os substantives nao numeriveis, 218: Os substantives que ow s6 se empregam ou mais usualmente se empregam no plural, 218: O grau, 219; Desinéncias de grau dimensivo e desinéncias de grau intensive, 219; A classificasio dos sufixos de grat: dimensivo, 219; Notas prévias sobre a relagio entre 0 substantive co adjctivo, 219 seaaisnicODL am ou modificam os substantivos, 221; Os adjetivos 1, Oadjetivo sno Os adjetives deter qualificativos, 222; A flexao de géncro, 224; O adjetivo nao tem de si um género, 224; Mas concarda com o substantiva, 225; Os adjetivos uniformes passim a apresentar as desinéncias -0 ¢ -@ quanda postos no superlative absolute sintérico, 225; Coma se forma 0 feminina dos adjetivos, 225; Dos hiformes, 225; Os adjetivas uniformes permanecem invarisveis, 226; A Rexio de ntimero, 227; Dos adjetivos primitives (ou simples), 227; Dos adjetivos compostos cujas partes morfoldgicas se ligam por hifen, 227; A flexde de grau, 228; Dos adjetivos qualificativos, 228; A de grau dimensivo, 228; A de grau intensivo, 228; Os sufixos de grau superlative, 229; Os modos morfossintiticos de indicagio de grau intensive, 230; O comparativo, 230; O superlative, 231; Comparutivos ¢ superlatives expeciais, 232 im. Os pronomes. screencast eanamanssese eS, Os pronomes pessoais, 233; Os pronomes pessoaissio sempre substantivos, 233; Qs pronomes retos, 234; Os pronomes obliquos, 234; Os pronomes pessoais obliquos dividem-se em atonos ¢ ténicos, 234; Os tones, 235; Os rénicos, 236; Alceragées na figura dos pronomes obliquos, 239; Comigo, cantiga, consigo, conosco, conosco, consigo e outros, ‘odes, mestaos ¢ préprios, 241; Empregos dos pronomes pessoais, 241; Das retos, 241; Dos obliquos, 244; Os pronomes demonstratives, 248; Os pronomes demonstrativos reduzem-se a substantivos © x adjetivos, 248; Primeiro paradigma (iva, five, aguilo, etc.), 248; Empregos desta espécie de pronomes demonstrativos, 248; Os demonstrativos o(s) ¢a(s), 252; Os demonstrativos ‘al feats e semelhante lsemelhantes, 253; Os pronomes possessivos, 255; Os pronomes possessivos reduzem-se essencialmente e quase sempre a adjetivos (determinative), 255; Quando usados em referéncia a substantivo apenas eliprico € no em lugar dele, 2 Os poucos casos em que o possessive pode dizer-se substantivo, 256; Os possessivos coexpressam outras nogses, 256: Possessivo ¢ artigo, 257; Colocagio do possessivo, 258: © posscssivo de terccira pessoa nao raro implica grave ambiguidade, 258: © nosso de modéstia e 0 ozo de majestade, 259s Evite-se 0 uso constante dos possessivos, 259; Os pronomes indefinidos, 259; Os pronomes indefindos reduzem-se majoritariamente a substantivos de cardter neutro, mas também a adjetivos (determinativos), ¢ entio melhor se dizem indefinidores, 260; © paradigma destes pronomes, 260; As locugées pronominais indefinidas, 261; Os pronomes enquanto substantivos ¢ enquanto adjetivos, 261; Especial: © uso de todo, 264; Os pronomes relatives, 270; Os pronomes rclativos constituem um dos capiculos mais espinhosos da Gramitica, 270; Por que se chamam relatives, 270; Os relativos sto pronomes impropriamente ditos, 271; Alguns relativos sao variéveis em género ¢ em mimero, 27 pronome relativo, 273; Sdo varias as Fungdes sintaticas exercidas pelos relativos, 2743 Os empregos dos relatives, 274: Que, 274; © qual (a qual, os quais, as quais), 275; Quem, 276; Cujo, 278; Quanto, 278; Onde e aonde, 278 Oantecedente do 280 Para que se empregam os numerais, 280; Os numerais adjetivos, 281; Os numerais substantivos, 281; Os numerais cardinais, 281; Os numerais ordinais, 281; Os numerais multiplicatives, 282; Os numerais fracionsitios, 282; Os numerais coletivos, 283; A flexao dos numerais, 283; Os cardinais, 283; Os ordinais, 283; Os multiplicativos, 284; Os fracionéios, 284; Os coletives, 284; Emprego dos cardinais, 284; Emprego dos ordinals, 285: Emprogo dos cardinais pelos ordinais, 286; Emprego dos multiplicativos, 287; Emprego dos fiaciondrios, 287; Quadro de numerais cardinais e d2 numerais ordinais, 288 89 Os artigos reduzem-se a adjetivos determinativos (ou pronomes adjetivos), 289; Os artigos nao podem colocar-se sendo antes do substantivo, 290; As duas espécies de artigos, 290; O actigo definidor, 290; O artigo indefinidor, 290; Contragies entre algumas preposigGes € 0s artigos, 291; As principais noras ty, Os numerais.. v. Os artigos morfossintiticas dos artigos, 292; Outros empreges dos artigos, 292; O nome proprio deveria dispensar o artigo, 298; Os ropdnimos ¢ o artigo definidor no portugués atual, 298: Generalizou-se 0 uso do artigo definidor antes de nome proprio de pessoa, 299; Antes dos nomes especialmence de obra liceratia ou dramicica, 301; Com as palavras senor senhora e senborita, 301; O artigo definidor ¢ 0 adjetivo sanio (santa, 301; Antes de outro ou depois de ambos e de todo, 301; Artigo definidor e sequéncia de substantivos, 301; Artigo definidor © sequéncia de adjetivos, 302; Cmissio do artigo definidor, 302; Outros empregos dos artigos indefinidores, 303: Omissio do artigo indefinidor, 304 ut. O verbs 306 Os verbos constituem a classe mais complexs, 306; Os paradigmas verbais, 307; Os paradigmas dos verbos regulares, 307; Os verbos irregulares (includes os anémalos), 312; Da primeira conjugagao, 312; Da segunda conjugagao, 316; Da terceira conjugagao, 321; Os verbos defectivas, 325; Os verbos abundances, 327; Verbos unipessoais ¢ verbos “impessaais’, 329; Os modos © 0s cempos verbais: estudo semantossintdtico, 331; O modo indicativo, 331; O modo subjuntivo, 338; O imperative, 347; As formas nominais, 350; Onde se estudara o infinitive, 350; O gertindio, 350; O chamado participio “passada”, 354; O participio “presente”, 355; O gerundismo ¢ um erro de paralelismo, 356; As vozes verbais, 359; Locugao verbal ¢ tempo composto, 364; A conjugagae da voz passiva, 366; vit. O advérbio . 369 definigie, 369; As subchsses do advérbio, 370; Os advérbios modificadotes tio somente de verbos, 370; Osadvétbios mod ficadores tanto de verbos como de adjetivose/ou de advéibios, 370; As notas do advérbio, 370; Classficacio dos advérbios, 372; Os advérbios de tempo, 372; Os advétbios de lugar, 373; Os advérbios de modo, 373; Os adverbios de intensidade, 373; Os advérbios de ordem, 373; Os advérbios de exclusio, 373; Os advérbios de inclusio, 374; O advérbio de designacdo, 374; O advérbio de retificagao, de esclarecimento; locugdes, 3745 Os advérbios de afirmagio, 374; Os advérbios de divida, possibilidade, probabilidade, 374; Os advérbios de negacio, 374; Advérbios interrogativos, 375; Colocagao dos advérbios, 376; Os advétbios em -menie, 3773 li e mais, 379 Os advérbios sao a classe de mais di vat. A preposigao. 381 As preposig6es sio conectivos absolutos, 381; As sreposigdes ¢ a subordinacao, 381; As preposigdes podem ser simples ou compostas, 383; As preposicoes simples, 383; As. principais locugdes prepositivas, 384; Carga semantica relacional das preposigoes simples, 385; A, 385; Ante, 386; Apés, 386; Aré, 386; Com, 387; Contra, 387; De, 388; Desde, 388; Em, 389; Entre, 389; Para, 390; Perante, 3915 Por/per, 393; Sem, 393; Sab, 393; Sobre, 393; Tras, 394 SEXTA PARTE: SINTAXE GERAL 1. Oragio frase 1. Os termos da oragio: as fungdes sintiticas ircuite fechada”, 404; © chamade “sujeito indeterminada’, 405; Quadro getal da O que sio termos da oracio, 402; O sujeito eo predicado, 403; Um fungio sintética de sujeito, 407; O predicado, 412; As especies de predicado segundo a tradigio gramatical, 412; A posigio de Evanilde Bechara, 4145 justo meio, 415; O predicado tradicionalmente chamado verbo-nominal ou misto, 421; Os demais termos da oragio: ws demais fungBes sincaticas, 424; © que sio os demais termos da oragio, 424; O que é ser parte integrante de um, nome ou de um verbo, 424; Acréscima de outros termos, 425; 0 complemento nominal e 0 complemento verbal, 425; O complemento nominal, termo integrante da significagao de um nome, 425; A espécies de complemento verbal, 427; O objeto direto, 427; O chamado “objeto direto interno”, 433; O complemento indircto, 434; O complemento dativo ou objeto indireto, 434; O camplementa indireto relative, 440; O complemento cireunstancial, 442; O agente da passiva, 445; A classificagao dos verbos, 446; As tes eapécies de tetmos adjuntos, £49; O adjunto adnominal, 449; O aposto, 454; O adjunte adverbial, 460; O vocative, 462 464 A posigao da tradigéo gramatical e a nossa, 464; As especie das orages comumente ditas “coordenadas’, 472; As aditivas, 472; As alternativas ou disjuntivas, 473; As adversativas, 4745 As explicativas, 475; As conclusivas ou ilativas, 476; As continuativas, 476; O que so as oracées tradicional mente diras “coordenadas’, 477; As outras espécies de subordinadas, 478; ‘As oragées subordinadas subscantivas, 479s A subjetiva, 480; A predicativa, um, As espécies de oracées.. 481; A objetiva direta, 481; A completiva relativa, 482; A completiva nominal, 482; A apositiva, 482; © pronome querae a objetiva indireca, 482; A oracio adjeriva e a predicativa explicativa, 484; Os relativos e suas fungdes sintéticas, 485; A segunda espécie de subordinadas (adjuntivas) adverbiais, 487; As causais, 488; As concessivas, 489; As condicionais (ou hiporéticas), 490; As conformativas, 492; As comparativas, 492; As consecutivas, 494; As finais, 495; As modais, 495; As proporcionais, 495; As temporais, 496 SETIMA PARTE: REGENCIA VERBAL E CRASE 1. Definigio de regéncia 11. Regéncia de alguns verbos. Acteditar, crer, 503; Agradar, 504; Aspicar, 504; Assistir, 504: Avisar, certificar, informar, notificar e outros que tais, 505; Chamar, 505; Chegar ein, 506; Custar 506; Ensinar, 507; Bsquever e olvidar, 507; Lmplicar, 508; Interessat, 508; Lembras, recordar, 508; Obedecer/desobedecer ¢ responder, 509; Pagar € perdoar, 510; edit, 510; Preferis, 511; Proceder, $11; Visas, 511; A sintaxe do verbo baer, 512 - SD Sentidos do termo erase na Gramacica portuguesa, 513; Hai uma sé regra da erase, 5145 Arencan: nao se enquadram na regra os seguintes casos, 514; Nao se da crase nos seguintes casos, 517; Uso especial do acento grave. Casos, 517 a, A-crase.... O\TAVA PARTE: CONCORDANCIA NOMINAL E CONCORDANCIA VERBAL 1. Defini¢ao de concordéncia it. Concordancia Nominal ‘Aconcordincia nominal tem apenas ura regra, 523; Os adjetivos podem excrcer dupla funcdo sinudtica, 523; O adjecivo referido a um ou a mais de um substantivo, antzposto ou posposto a este. A posigae de outros gramiticos ea nossa, 524 ut, Concordancia verbal... 532 ‘A concordancia verbal é mais complexa que a nominal: regra geral, egra especial, excegies, 5325 A posigio de Rocha Lima e a nossa, 534; "Vor. passiva’ € a “particula’ se 537; Ainda Rocha Lima, 538; Os chamados “casos patticulaces’, 538; Um e ra, 538; Um ou outro, $39; Nem um, nem outro, 540; Um dos que, 54ls Mais de um, 541s Express6es de sentido quanticativo acompanhadzs de complemento no plural, 542; Quais, quantos, alguns, muitos, poucos, vitios + de nds, de v6s, dentre nds, dente vos, 545; Qual de nds ou de vés, dente nés ou dentre vs, 545; Sujeitos unides por com, 546; Tanto... como, assim... camo, no 6.x mas também, tc., 547; Sujeitos unidos por « 548; Sujeicos oracionais, 550; Sujcitos unidos por nem, 551; Cerca de, perto de, mais de, menos de, obra de 554; Dar, bater, soar (horas), 555% Sujeitos unides por on, 556; Concordincia cam cos nomes proprios plurais, 558; Hija ursta, 559; A regra especial: a concordincia do verbo serenquanto verbo de copula, 560; As silepses, 565 Ww. A flexto do infinitivo.. 569 Nio Hlexao obrigatdria, 571; Flexto obrigatéria, 574 NONA PARTE: COLOCAGAO DOS PRONOMES PESSOAIS ATONOS 1. Preimbulos.. 579 it. A colocagao dos pronomes pessoais 4tonos ... A triple posigaa dos pronomes pessoais atonos, 580; Em énclise, $80; Fm mexéclise, 580; Em préclise, 580; As regras de colocacdo dos pronomes pessoais dtonos, 581; Primeira regra: nio comecar frase nem oracio por pronome dtono, 581; Segunda regra: no usar préclise a nenhuma forma de imperativo, nem cm oragGes deprecativas, 581; Tereciza regea: usar préclise a0 verbo em oragocs optativas, 582; Quarta regra: usar proclise a0 verbo quando este se antecede, a qualquer distincia — ou seja, ainda que 82; Quinca regra: usar haja intercalagéo entre cles -, de palavra negativa, préclise ao vetho quando este se antecede, a qualquer distincia ~ ou scja, de conectivo (menos as conjunsies subordinativas da primeira espécie), 582; Sexta regra: usar prdclise ac verbo quando este se antecede, a qualquer distancia — ou seja, ainda que haja intercalagio entre eles -, de pronome interrogativo (ou exclametivo) ou de ainda que haja intercalasao entre eles advérbio interrogaivo (ou exclamative), 583; Séiima regra: usar préclise ao verbo quando este se antecede de advérbio, 583; Onseevacho GeRAt 1. Brasileiros portugueses, 583; Onservagio crnat 2. Ainda Brasil ¢ Portugal, 584; Onsrevacao cerat 3. O infinitivo sem flexio e 0 gentindio ¢ a éach 584; OaseevAch0 GERAL 4. O pronome dtono com respeito as locugses verbais ou 20s “grupos verbais” que se comportam como locugées, 585 DECIMA PARTE: PONTUAGAD 1. Delinigao de pontuacio 1, Os sinais de pontuagio O ponto final, 590; O ponto de interrogagao, 591; Q ponto de exclamagao, 591; As reticencias, 592; A virgula, 592; Emprega-se a virgula para separar niicleos ou predicativos ligados assindeticamente, 592; Para separar nticko (de complemento) ligado pela adi ac, 593; Para separar oragées ligadas pela aditiva ¢ se tiverem sujeito diferente, 593; Para separar oragées ligadas pela aditiva ¢ ainda que renham o mesmo sujeito, 593; Para separar oragoes ligadas por par adicivo, 593; Para separar oragSes ou nticleos (de sujeito ou de complemento) ligados por conjuneio disjuntiva ou por par alternativo, 594; Em principio, para sepatar oragbes ligadlas por conjungio adversativa, 594, Tratamento global do caso das oragGes ligadas por adversativa (mii ¢ porén), 394; As demais adversativas (todavia, contudo, no entanto, etc.), 596; Em principio, para separar oragées ligadas por conjungio conclusiva (logo, portanta, por conseguinte, por isso, etc.), 598; Mas o caso das oragGes ligadas por conclusiva também requer tratamento global, 598; Para separar as otaces explicativas, 599; Para separar da subordinante a oragéo adverbial antecipada, 599: Da virgula obrigatdria que separa as oragées predicativas explicativas, 600; Para separar o vocativo, 601; Para separar o aposto, exclufdo o de individualizacao, 601; Paca separac nas datas o nome do lugar, 601; Paca indicar a elipse do verbo, 601; Para separar etc., 601; ponto e virgula, 602; O travessio, 602; Os dois pontos, 602; Os parénteses, 603; Os colchetes, 603; ‘As aspas (duplas) ¢ as aspas simples, 604; A chave, 604; O asterisco, 604 AGRADECIMENTOS... 607 Apresentagao Desembargador Ricardo Dip! Ha uma cena no filme Life of Brian (1979), dit personagem central, Brian (vivido por Graham Chapman), se poe 3 pichar os muros ido por Terry Jones, em que a de Jerusalém: “ Romanes ennt domus’ (o cue se pretendia era escrever “Romanos, ide para casa”), Um centurio surpreende Brian © coa -0. a covrigir, passo a passo, 0 mau uso do latim, concluindo-se com a sentenga “Romani ite domum'” , que o centu- rido impoe a Brian escreva cem vezes sobre os muros da cidade. Menos evidente do que 0 objetivo de espancar a pedagogia contemporanea do latim ¢, segundo alguns cafticos, desfiar uma sequéncia de blasfémias, calha que a cena recrata uma liberdade expressiva entre os romanos, que, sem embargo, info implica a tansigéncia com a perversao do idioma, porque isso importaria na ruptura de uma relacao cara aos romanos ~ ¢ cara até porque se revestia de um suposto carter divino -, qual a que se di entre © nomen eo numen. Ou seja, na esséncia de cada coisa entendiam os romanos encontrar-se um samen (traduza-se livremente: “o mistério’, 0 “ignoto”) - @ Cicero dird que “tudo esté regido e governado pelo mimen dos deuses” — mumnen gue se descobre mediante o proferimento do nanzen. Por isso, conhecer nomen de dada coisa, entre os romanos, ¢ descobritlhe @ mysterinm, é vevelar - diz Alfrede Di Pietro, em Verbuon lunis ~ “el secreto divine insito en la cosa’. Essa relagtio nomen-numen explica em larga medida 0 cuidadoso formalismo romano, Estar na posse do nomen (desvelador do riumen) do deus impetrado por seu proprio € misterioso nome era condigio para o éxito das invocagées. A certo Valerius Soranus, por exemplo, consta imposta a pena de crucifinao ao ter proferi- do, em alta you, 0 nomen urbis atrativo da protecgo dos romanos, 0 que permitira sua impiedosa evacario pelos inimigos de Roma, Noutro exemplo, 8. Agostinho, na Cidade de Deus, referc-se ao cpissdio de Mareus Attilius Regulus, prisioneiro das cartagineses|; qué-morreu-para sef-atentamente Bel 9 palayra'que'empentiara: fidelidade ao xomen ¢ fidelidade ao numen, fidelidade ndo apenas & realidade das coisas desveladas de seu mistério, mas fidelidade ainda ao préprio homem que, ' Ricardo Dip € Desembargador do ‘Tribunal de Justiga de Sao Paulo, aeadémico de honra da Real ‘Academia de Jurisprudencia y Legislacién de Madrid ¢ membro fundador do Institute Interdiscipli- nar da Universidade do Porto, 20 | SLMAGRAMATCAL — Cares Naugué exatamente pelo nomen, chega a revelagio do mysteriam. O numen de cada coisa, assim, corresponde a um nomen a um canto numinose ou encanto que Ihe & pro- prio, de tal sorte que se possa compreender a profundidade metafisica e epistémi- ca desta sentenga de Afonso Botelho: “ser, em canto ser”, Essa verdadeira garantia de integridade da relacio nomen-numen exige-se quer um plano psicolégico ~ para o qual basta referit as ligses de Robert Brennan, cm sita Paicolagia Geral: “todo aquele que inventa ou emprega uma linguagem deve estar conscientemente inteirado da significagio de fatos, situagées, relagGes e, as- sim stcessivamente, antes de poder usar um meio, falado ou escrito, para expres- sar seus estados mentais” —, quer noutro, de dominio social, porque a linguagem nito é 56, nem primeiramente, uma atividade humana isolada, senao que um meio informativo, representativo e de expressio na vida humana politica (dew na poli). A linguagem nio est a servigo do pensamento solitdrio ~a que jé aludira Paul Bourget, nos Easaivs de Psicologia Consempordnea. A decadéncia da literavura, di- zia Bourget, nto é mais do que um aspecto anilogo ao da decadéncia social, uma © outra provenientes de uma anarquia egética ~ ou, agora, melhor acaso se diga de um niilismo -, em que uma radical independéncia dos individuos destréi o conjunto: “a unidade do livro decompae-se, para dar lugar & independéncia da pagina; para dar ver a independéncia da palavra’, Se com Aristételes, no livro da Polirea, pode admitir-se que a linguagem existe para farer manifesto o hem ¢ 0 mal, o pagina decompée-se, para dar turno a independéncia da frase; ¢ a frase, justo © injusto, © que €.a comunidade dessas cuisas 0 que constitei a familia co Estado, corre-se grave perigo social quando a linguagem se vorna “independence de normes”, andrquica, niilista, meio azética, meio hebraica - para remontar aos tempos de Neemias (Neemias 13,24). O caos do nomen é 0 caos do numer: “words sare symbols of ideas about reality” (Miriam Joseph), ¢ a ruptura do liame nome- coisas, entreguc a linguagem a uma suposta liberdade do falante, parece acusar que a raaio estd posta em agonia, tal a diagnose, referindo-se & information défor- mamte, de-um valoroso libelo de Marcel de Corte (LTtetligence en Péril de Mort. A realidade das coisas ~ em certo sentido, tima realidade fochada, enquanto assim proposta ao conhecimento humano — dirige-se a realidade aberta da pessoa humana, uma realidade que, inacabada, tem de construir-se em meio (ou melhor, com apoio) da realidade de todas as coisas e das pessoas com que ¢ vocacionada a da repre- conviver: nenhuma construc pessoal pode marginar-se da informa sentagao da expressio do real também no dominio politico (vide, a propésito, APRESENTACAD | 21 Xosé Manoel Dominguez, Pricolagia de la Persona). Mas, no ambiente da polis, 0 nillismo de regras - inclufdo 0 egotismo no uso das palavras, ou seja, uma babeli- zagdo - é a negagao do préprio contacto com o real. ‘Nesse estado de coisas, é um marco de justificivel esperanga ler, j4 a0 princé- pio desta Sum Grumatical da Lingua Portuguesa, de Catlos Nougué, que nfo se haja de abandonar as palavras & solta, que nao caiba conformar-se com o caos da Lingua derelicta, com que les mots sont les nave DEIXADA A DERIVA, sem regras que a dirijam, como hoje que- rem muitos que, porém, o mais das vezes defender sua cese sem ne- nhuma deriva, a lingua seria como as aguas de um rio, puro fuxo, a0 ponto de nao poder falar-se duas veres como a mesma lingua A Gramética é conhecimente regulativo (ou normative), hem par isso uma are (cm sentido analigico) mais dicetamente voltada 4 produgio do literal ¢; de alguim modo limitado, ainda & da linguagem faleda: dir Nougué, “arte estritamente norma- tiva da escrita’; “a Gramatica, com efeito, ou ha de ser antes de tudo a arte da lingua escrita, ou nao seri propriamente Gramética’, averbando que “a escrita ¢ a parte das linguas que de si mais capacidade tem néo sé de conservar-se, mas de conservéclas”. Atte por semelhanga, em virtude de sua analogia com as artes em sentido pré- prio (os hébicos produtivos de indole racional), a Gramitica € uma das sete arces ditas liberais, um saber ~ a exemplo da Légica, saber este que a subalterna proxi- mamente -, por certo aspecto, especulatiuo (na medida, bem o observou Leopoldo Eulogio Palacios, em que apenas se produ diretamente pela raze), mas, por ours, pritico (secuandurn quid speculasiouns, secundum quid practicum), ¢ que, avira de seu fim (quantum ad finemi), prepondera como saber pritico (magis practicum quam spe- aulativoum). Porque, como arte que é, prossegue Nougué, a Gramdtiea “nao ha de ter corpo teérivo sendo para servir estritamente a seus fins (artisticos), assim como a teo- ria musical no pode setvir seno & pritica da composicio ¢8 da execugao musicais”. Contando-se ao lado da Légica (ou Dialérica) e da Revérica entre as chamadas artes sermacinales — as artes légicas ou do trivium -, a Gramética é um saber inti- mamente ligado & Logica, porque nao € possivel o discurso humano sem a palavea. Poderia pensar-se numa linguagem propria da Légica (¢ ela, com efeito, permela as varias Légicas simbélicas), mas o desenrolar natural do pensamento exige uma lin- guagem ordindtia, por meio de palavras que informem, representem € expressem 0 mundo interior no apenas aos especialistas em determinada metalinguagem ligica. 22 | SLMAGRAMATCAL — Cares Naugué ‘A Gramitica é um saber (sobretudo o da escrita, que ¢ signo da fala, observa Nougué) que comunga dos fins da Légica, quais sejam a retidio (ou consequén- cia) € a verdade do pensamento. Os efeitos da Gramética sio, de pronto, ima- nentes ao préprio intelecto, e esto voltados a realizar os fins fruidos da Légica, na medida em que, como visto, bem escrever ¢, mais limitadamente, hem falar importam cm bem julgar ¢ bem discursar, equivale a dizer, em ser formalmente reto € materialmente veraz nas proposigées ¢ argumentagies. Essa comunidade teleolégica no implica, todavia, absorgio da Gramética pela Légica (ou, por outra, a identificagio de seus objetos: a palavra e 0 pensa- mento). Isso jé se avista de aquela, a Gramitica, servir também, e de algum modo, 4 Poética € A Retrica (o que bem assinalou Nougué), e pode p6r-se em evidéncia com o ingresso no que José Miguel Gambra designou como “camara sagrada da analogia’; 0 érduo tema dos conceicos andlogos, E que as palayrus ~ eas sentencas, inclusive - padecem, senéo de uma equivocidade tendencial, de uma irresistivel vocagao analdgica (que © uso ¢ abuso das metéforas mostra amplamente). $6 por meio de uma pouco menos do que inimagindvel linguagem analitica absoluta se- ria possivel sonhar ~ mas, acaso, a0 modo de um pesadelo ( inferno ¢ 0 reino da monotonia) ~ 0 conforeo de conceitos sempre univocos. A Gramética tem af seu papel de crisol, discriminando, no uso recolhido, as acepgées das palavra A subalternagao préxima de um saber a outro nfo inibe a subordinagio remota ow indireva que provenha de um primeiro saber subalternante subpor-se a outso. E € assim, para que a Légica - ¢ com ela a Gramitica ~ nfo se destrua de irrealismo, que a Metafisica deve constituir-se por cigncia primeira e subalternante de ambas: da Légica, diretamente, da Gramética, de modo remoto. E nisso esté Nougué. Carlos Nougué completou sua Suma. Obra de gramitico. Obra de consa- grado lexicégrafo. Obra tedrico-pratica de um professor experienciado, que nos indica deva a Gramatica ensinar-se: * normativamente, tendo sempre em vista aquilo.a que se ordena; * desde a infincia (com a necesséria gradagao no decotrer do tempo); ©) panldenente Ieiewa dos mclhoreaucaies; * uo exercicio constante da escrita; mas obra também de um fildsofo prudente, de alguém acostumado a leituras frduas e que néo se deixa abater pelas tempestades periféricas: vai as profundezas, em busca de fandamentos tiltimos aos quais possa discretamente arrimar sua arte regulativa, a da palavra. Estamos, enfim, diance de um pensador. Prélogo ——— sh ———— Darxana A periva, sem regras que a dirijam, como hoje querem muitos que, porém, o mais das vezes defendem sua tese sem nenhuma deriva, a lingua seria como as éguas de um rio, puro fluxo, ao ponto de no poder falar-se duas vezes como a mesma lingua. Isso, no entanto, é pura negacao do bvio: é parte intrinsecd de toda ¢ qual- quer lingua ter regras, 60 dique ou comporta sem a qual cla de fato Muiria © Auiria sem nenhuma permanencia, E, com efeito, pai algum, mie alguma, se dotados ao menos do {nfimo senso nacural de cuidado ¢ educagio da prole, deixario de cortigir o filho se ele disser alga credo. Se o pequeno disscr, por exemplo, “zinza” em ver de “cinza’, tal pai c tal mie nfo haverdo de calarse nem, muito menos, de deleitar-se com mais essa novidade de uma permanente deriva linguistica. E de fato os propugnadores da tese da lingua sem regras niio conseguem ver que sem esta nem sequer se poderia propor sua tese — simplesmente porque nem sequer haveria nenhuma lingua. Bem sabemos que se retrucard: “Mas as linguas mudam constantemente..” Impossivel negi-lo, Todavia, mudam em duplo sentido: no pri- meio, corrompendo-se, niv raro até av desapasecimentos no segundo, progredindy. Corrompem-se mais aceleradamente quando, enue figpos de civilizacdo, ha apenas as regras fntrinsecas da Linguagem: essa ¢ a razao por que as linguas agrafas cendiam (¢ tendem) incessancemente & desordem de seus préprios paradigmas ¢ de seu quadro fonético. Menos impetuosamente quando, em meio a uma verda- deira civilizagio universal (ou tendente d universalidade), se tem a escrita com sua arte propria ¢ especial, a Gramética. ~ Mais ainda, neste iltimo caso podem tender até a grande cstabilidade: foi o que sc deu com o latim ao tornaresc lingua altamente cormatizada ¢ ordenada & Ciéncia € 4 Sabedoria." Hd em verdade um caso intermédio: o da chamads “tradicio de estilo global-oral”, ou se} sobre a memorizagzo de textos longes como a Biblia, os Vedas, a epopeia finlandesa Kaleaa, as epo- peias homéricas, ete. Cf. especialmente 0s trabalhos do diretor do Institut de Mimopédagagic Yves Beaupérin (como Rabbi Iéshouat de Nazareth: une Pédagegie de Style Glebal,t. 1: Du Text Ferit au Ges- te Globsl", Pais, Ed. Désitis, 2000, e Anshropolecie du Geste Symboligue, Paris, !'Harmattan, 2002); 25 | SLMAGRAMIATCAL — Cares Nougué Progridem, por outro lado, mediante sobretudo a escrita esua Gramética, jf quan- do fecham um novo paradigma? jé quando criam e incorporam a seu Léxico palavras que expressem novas concepe5es da realidade.’ E tanto mais progredirio quanto mais cultivadas forem, ou seja, quanto mais se valerem delas e as aprimorarem verdadciros mestres, Fai 6 caso, pot exemplo, de Platio ¢ de Aristételes com respeito 20 grego antigo: nio s6 the deram todo um conjunto de nevas palavras para sigaificar os mais profundos conceitos cienttficos, mas, pela necessidade mesma de fazer servir a lingua a Filosofia, contribufcam ainda para o aprimoramento de seus paradigmas casuais.! Naturalmente, o conceito de “Linguagem” e o de “lingua”, bem como muites outros implicados ou supostos na arte da Gramétiea, requerem um aprofunda- mento cientifico impossivel de dar-se nos marcos de um prélogo.’ Fique ja esta- belecido aqui, contudo, que sem Eatores que se sobrepusessem 3s tegras implicitas da Linguagem, sairfamos do sul do Brasil com uma Itngua e, ae chegar av norte dele, depararfamos com outra — para no falar dos paises luséfonos de além-mar. Limitemo-nosainda, aqui, ao estado da lingua em nosso pais, Por um lado, sim, é verdade que ao menos os gatichos e os nortistas com algum grau de escolaridade se entendem uns aos outros. Isso porém no implica que sejam, propriamente falando, senhores da Gramitiea da lingua portuguesa, porque tal muizuo entendimento nio resulta seniio das regras implicitas da Linguagem reforgadas pelos meies de comuni- cago modernos e por meros rudimentos gramaticais escolares. Explique-s Antes de tudo, um apanhado histérico. Com a consolidagao, entre 0 século xv c 0 xv1, dos estados ahsolutistas ¢ 0 consequente fim da exclusividade do latim € 05 de Marcel Jousse (como “Erudes de Pychologie Linguistigue. Le Style Oral Rythmique et Mnémotechnique chez les Verbo-moteurs”. In: Revue Archives de Philosophie, ol. Il, cahicr 1V. Paris, Gabriel Beauchesoe, Editeur, 1925). —Patoce-nos inegivel, todavia, que tal efetiva e nobre tradicao sempre foi para poticos, enquanto a escrite é pata maior niimere, cazo por que, conquanto defen dendo aquela tradigao contra a escrita, Platdo se viu obrigado a plasmar por escrito grande parte de seu pensamento, assim como os poemas homéricos acabaram por transcrever-se, ¢ como o Novo Tescamenta foi famdiatarnente escrito, O assunia, potem, requer lugar prépria, Tame-se pazadigna em sentide lato, on sea, quer como conjunte de formas que server de modelo dle derivasin ou de Hlexdo — como as das conjugasiies verbsis —, quier come texts © qualquce regra gramatical —como a da concordancia nominal. Usamos indiferentemente palaova, vocdbul ou ainda forme para denominar a unidade sigaificativa minima de linguagem. “CE Emile Boutroux, Avitérels Rio de Jancivo, Record, 2000. * © qual, porém, se dara ao longo desta Stama, porque, com feito, sem tratamento tedrico taco 0 normative gramatical ficaria como que suspense no vazio. Cor ise mesmo, als, é que esta Sumac se diz gramética geral avancada PrO.aco | 27 como lingua de civilizagao, as antigas linguas locais da Europa viram-se progressiva- mente na necessidade de contar com gramética prépria. Nao contavam, contudo, 20 contrério do latim, com tradigao escrita (nem falada) de servico & Ciéncia ¢ A Sabedoria. Cingiam-se a servir, havia dois ou trés séculos, 3 Literatura e3 Retérica (e aqui ¢ ali ao Direito), razio por que as diversas gramdticas que iam suagindo no s6 se erguiam exclusivamente sobre a Literacura e, em menor grau, sobre a Rerérica — no sentido de extrair suas regras dos textos dos melhores literatos e dos melhores oradores —, mas, consequentemente, se ordenavam sobretudo a elas — no sentido de preparar os mogos em particular para a arte poética e para a arte oratéria. Isto teve um prego: 0 beletrismo, o atrelamento da Gramitica a0 carro da Literatura, ou seja, as nzcessidades dos literatos.* Resultado: as gramdticas que iam surgindo ¢ aperfeigoando-se nao buscavam com suficiente empenho fechar quanto possivel paradigmas, © compraziaim-se na wiultiplicagao das excedes. No podia ser diferente, una vez que o reine do literdrio e ainda o do oratrio nfo io de todo normatizéveis pelo gramatical. Pois bem, esta situacio perdurou, quase inalteravelmente, até meados do sé- culo xx, quando comecou a transtornar-se pelo surgimento da Sociologia e, sobre- tudo, da Linguistica. A partir de entao, os gramiticos, com as defesas j& minadas por seu proprio beletrismo, foram sucumbindo de algum modo ao lema de que as linguas deveriam ser deixadas deriva, como dissemos no inicio. Podemos constaté-lo, em algum grau, em patte considerivel das graméticas da segunda me- ade do sécule pasado para ci; © agora ja se passa de attelar a gramitica a0 care do litectrio e do oratério a atreld-la a0 carro dos falares do “povo”. Mas dispor de uma arte gramatical falha, como o era a beletrista, é patentemente menos daninho gu via diepar de nes luumia attegrammatieal, porque, comic visto, eri eats Inigad tende mais impetuosamente 3 corrup¢io ¢ ao desaparecimento. No Brasil, a situacio agravou-se, ainda, com o surto desenvolvimencista da déca- da de 1970. Mediante umm reforma do ensino’ que nfo visava sendio a atender a cal surto, separou-sea faculdade de Filosofia da de Letras (com o que setirot: totalmente a Gramética as huzes supetiores da Légica) suprimiti-sc 0 curso clissico, climinaram- © nao raro dos préprios litertos latinos ou latinizantes ” A promovids pelo minisuo Jarbas Passarinho. © Nio se trata de empreender uma Gramitica “floséfica” ou “Iigica’, equiveco que igualmente io rato se deu (desde gramética nominalista de fins do Medievo até a gramatica racionalista de Port-Royal); 2 selagio entre a Crematica e a Légica, como se veri mais adiante, é to 56 de 28 | SLMAGRAMATCAL — Cares Nougué -se do curriculo escolar 0 Latim ¢ o Francés, privilegiaram-se umas Ciéncias ditas “exatas”” ¢ um Inglés ordenados escritamente ao técnico-comercial ~ ¢ restringiu-se 0 ensino da Gramatica & transmissio de regtinhas ¢ “macetes” que capacitassem para a aprovagioem coneurscsc-yexiifnilares: Pasaday tas cxames, tom aprovadoousem ela, nada mais iavural que se deixassem para tds tais “artinkias” atormentadoras. Estamos ainda no bojo desse processo, que parece ja atinge patamares alarman- res. F dizemos “alarmantes” porquie, se t3o precirio ensino da Gramitica, aliado aos efeitos dos media modernos, é capaz de a0 menos momentaneamente assegurar que gatichos e nortistas se compreendam uns aos outros aa fala, nao é nem de longe, porém, capaz de eferivamente formar ninguém para a escrita — 0 que com tristeza se pode verificar, em larga escala, em nosso préprio meio académico. E a Gramética, com cfeito, ou ha de ser antes de tudo a arte da Iingua escrita, ou nao sera propria- ment Gramdiica:-Adlemnis, a cectita €a parte das Higuas que desi mais capaciilade tem nio s6 de consecvar-se, mas de conservd-das, E, favo evidensissimo que, por exem- plo, 0 grego ético de um Platao ou o latim romano de um Cicero nao nos reriam chegado se nao fora a escrita; assim como também ¢ fato evidente que nao € senio em razio da escrita que podemos dizer, com roda a propriedade, que o portugues do Brasil e 0 de certas regides dos demais paises luséfonos si0 a mesma lingua. Mais que isso, codavia: © que, combinado com a acio dos media, 0 ensino gramatical rudimencar propicia nos dias de hoje no é mais que uma srivia/ com preensao entre gatichos ¢ nortistas, porque de fato nao s6 desaparcee em geral a capacidade de esctita, mas a mesma capacidade de discurso mais articulado ¢ mnais profundo ~ o que, ainda infelizmente, também se manifesta em ampla escalu no mesmo meio académico. Pois 0 que pot reflexo propicia mais cabalmente o bem falar ¢ 0 ler bons autores ¢ o bem escrever, tudo © que, por sua ver, no é propi- ciado senio pelo ensino nao rudimentar da Gramatica. ee ffs Mesmo porém no limitado Ambito deste PROLOG, nfo basta apontar determi- nado estado calamitoso e suas causas: é preciso dizer ainda, a menos sumariamence, suabalternagao da ‘mento da Logica perde, por isso mesmo, consisténcia teérica ¢ portanto normativa * Destas, com efeito, sé < Matematica ¢ em parte a Fisica podem dizer-se de algun modo exatas, iclua esta, Mas, como yeremos também, um gramatice sem suliciente conheci- PrO.aco | 29 a) a que se ordena a Gramiitica; e, em razio disso, b) em que deve fundar-se, ¢) como deve considerar-se, d) como deve fazer-se, ¢) como deve ensinar-se. a. A GRAMATICA ORDENA-SE: * antes de tudo, a constituirese justamente como a arte da excrita * como porém a escrita é signo da fala, a normatizar (dentco de certos limi- tes) a esta, servindo assim & sua arte, a Linguagem::? + superiormente, a servit a arte-ciéncia da Légica e pois * Ciencia ¢ 4 Sabedorin; * também, afinal, 4 Poética e & Retrica, as quais, todavia, por sua mesma indole e por seus mesmes prinefpios e fins, s6 se cingirio mais ou menos estrita- mente a ela e suas regras."” b. Diva * antes de tudo, nos melhores escritores nao litcrarios (fildsofos, jurisconsultos, NDAR historiadoves ¢, naturalmente, nos gramiticus cnquanto so bons eseritores; mas cambém, em justa medida, nos melhores oradoces e nos melhores liveratos; * cainda nas melhores tradugées 20 portugués. c. Deve cONSIDERAR: * como arte, que, como toda e qualquer arte, tem seu corpo teérico, dotado de principios préprios, mas iluminado por principias de outras ciéncias, superioress * como arte que é, todavia, no ha de ter corpo tedrico senio para ser- vir estritamente a seus fins (artisticos), assim como a teoria musical nao pode servir senao a pratica da composicao ¢ a da execugao musicais. d. Deve razer-s: + como arte estritamente normativa da eserita e, insisia-se, dentro de certos limites, também da falas para tal, deve tur sempre em vista a manutengéo ¢ o fechamento de paradigmas; * consequentemente, deve formular regras as mais simples ¢ de abrangéncia © mais ampla possivel — 0 que implica esquivas, ainda quanto possivel, as excecGes; * , por razbes metodoldgico-diddticas, deve expor-se em espiral ou, mais propriamente, em hélice. Explique-se. "Sendo a lingua o meio de que se valem cs homens para comunicar Uns aos outros quante sabem, pensam ¢ sentem, no pode ser menos que grande a utilidade da Gramética, jé para falar de manera que se compreenda bem o que dizemos (seja de viva voz, seja por escrito), jé para fixar com exati- dio 0 sentido do que outros disseram” (Andrés Bello & Rufino J. Cuervo, Gramatica de la Lengua Castellana, Argentina, Editorial Sopena, 1973, p. 27). © Yoltaremos adiante, mais aprofundadamente, a tudo quanto se acaba de dizer 30 | SUMAGRAMATCAL — Cares Naugué A Gramitica tem de ocupar-se, por exemplo, das letras, das demais partes forma- doras das palavras e das palavras enquanto divididas em classes gramaticais; e, em prin- cipio, as letras deveriam. anteceder na exposigéo as demais partes das palavras, ¢ cais partes dv they deste: Taavia; née @convertenite-filinina mcierde este hifen, de prefixos antes que se saiba o que estes sio, ou de locugGes antes que se estude como se formam as palayras; assim como tampouco 0 ¢ falar de sufixos nominais ou de sufixos verbais se ainda nao se sabe 0 que sao os nomes ¢ os verbos. Por i: 30, © uso do hifen, que comumente se expe antes do estudo da formagao das palavras, segui -se-$agui a este, Por sua vez, a definigao e as principais propriedades das diversas classes gramati- cais se exporio antes do estudo da formagio das palavras, mas tornariio a trarar-se de- pois deste: antes de tudo, para a ordenagio das palavras de tais classes em paradigmas tanto segundo sua respectiva significagao como segundo as partes de que se compéet ©, depois, para sua onlenagio a um correto uso. E assim para todos os dennais casos: e. Dave snsinucsts + normativamente, tendo sempre em vista aquilo a que sc ordenas * desde a infiincia (com a necessatia gradagio no decorrer do tempo); a dos melhores autores; + paralekimente & leit * eo exercicio constante da escrita. Pois bem, nunca nos esqueceremos de ter ouvido certa vez, com estupor, uma professora universitaria de Lingua Portuguesa perguntar aos alunos: “Para que a Gramitica?” Fra pergunta retérica, que trazia implicita sua resposta: “Para nada. Deixemos a lingua seguir sua deriva’. Nao € essa, obviamente, a nossa resposta, senifo esta: Para fazer que nossa lingua seja tio, sim, mas rio que gracas aos diques ¢ ao curso que lhe demos ajude a atingit a for da Sabedoria il Nao obstante, a Suma Gramatical da Lingua Portuguesa nao deixard de topar com Arduos obstéculos para o atingimento de scus fins © Antes de tudo, no sé 0 ji referido descrédito em que vem caindo a Grae mitica, mas o prdprio e crescente desuso, entre as mesmas camadas mais instrul- das, da leicura dos melhores autores. * Depois, e em decorréncia do dito anteriormente, a imensa pressia das derivas cologuiais, que tomam cada vez mais o falar da propria gente mais PROLOGD | 31 instruida e, com isso, abrem um abismo cada vez mais largo entre este falar ¢ as normas gramaticais. * Também a jf muito difundida concepgdo de que a Gramatica deve nivelar- -se, digamas, “por baixo”, ao contrério de destinar-se a um piiblico culto ou que qucita ¢ possa sé-lo © que, portanto, possa valer-sc cahalmente dela, seja para a propria escrita, seja para estudos superiores, seja para o magistério em qualquer grau (com as devidas adaptagées)."” Apraz-nos muito certa passagem do gramético Napoleio Mendes de Al- meida. Conta nela, pouco mais ou menos, que certa ver viu um pedreiro sair a procura de trabalho. A volta, provavelmente algo entristecido, disse-lhe este que néo encontrara nada: “Nao hd vagas”. Perguntou-lhe o gramético onde aprendera a dizer 0 castigo haver em lugar do corrente zer. Resposta: “Estava eserita num cartaz”. Pais fiesta hisiarieta es tfia, explcnddansente, alga imnplices sahmruea deque a Gramitica deve destinar-se a um piblico culro ou que o queira € possa sec: assim como s6 se fala bem gragas ao estudo da Gramatica, & leicura dos bons autores ¢ 20 exercicio da boa escrita, assim também os que nio queiram ou nao possam fazé-lo falardo tao mais corretamente quanto mais o fizerem os que 0 queiram e possam.' * O dltimo obsticulo é a chamada Nomenclatura Gramatical Brasileira (aN.G.B,), instituida em 1959 pelo enrao governo da Reptiblica mediante portaria. Seu texto foi integral mente claborado por ma comissin composta de graméticos ¢ filélogos de gabarito: Antenor Nascentes, Clévis do Régo Monteiro, Candido Jucs (Filho), Carlos Henrique da Rocha Lima ¢ Celso Ferreira da Cunha, os quais por sua vex contaram com a assessoria dos igualmente competentes AntOnio José Chediak, Serafim Silva Neto ¢ Silvio Edmundo Elia. Leia-se o preambulo da portaria > “Portaria n° 36, de 28 de janeiro de 1959 O Ministio do Estado da Educagio c Cultura, tendo cm vista as raves que deverminaram a expedigio da Portaria n° 152, de 24 de abil 0 resul: de 1957, ¢ considerande que o trabalho proposto pela Comi tou de minucioso exame das contribuigses apresentadas por fildlogos ¢ "© 6 ceatamente a tal piblico ¢ em crdem a tas fins que esa esta Suma © Sirva ademas esta referencia a Napolkio Mendes de Almeida de indicacor de nossa posture ante os melhores gramsticos: como em tudo na vida, «em especial na vida intelectual, no podemos elevar-nos sendo sobre o: ombros de nossos melhores antecessores ~ ainda que divirjamos grendemente des, 32 | SLMAGRAMATCAL — Cares Naugué linguistas, de todo o Pais, ao Anteprojeto de Simplificagio ¢ Unificasio da Nomenclarura Gramatical Brasileira, resolve: Art. 1° — Recomendar a adogio da Nomenclatura Gramatical Bra- sileira, que segue ancxa a presente Portaria, no ensino programatico da Lingua Portuguesa € nas atividades que vise & verifieagio do aprendi- zado, nos estabelecimentos de ensino. ‘Art. 2°— Aconselhar que entre em vigor 2. para o ensino programitico ¢ atividades dele decorrentes, a partit do inicio do primeiro periodo do ano lative de 1959: b. para os exames de admissio, adaptagio, habilitagio, selegio e do aut. 91, a partir dos que se realizarem em primeira época para o periodo lecivo de 1960." Vejarse pois que nio se tratava de lei imperativa, mas de ato que antes reco- mendava e aconselhava. E, conquanto seja inegivel que jé hd meio século ela se vem impondo algo consuetudinariamente, também 0 ¢ que peca a0 menos por simplismo ¢ insuficiéncia, 0 que foi dito, posteriormente, até por alguns de seus mesmos signatérios — todos os quais, por ourro lado, em grau variado, nunca a seguiram de todo. Pois bem, no a seguimos sempre que insuperavelmente impli- que equivoco, conquanto tampouco deixemos de segui-la sempre que se coadune com os justos principios ou possa de algum modo adaptar-se a cles ~ porque assim procedendo evitamos o mais possivel naptiiras cam o jf tradicional.!* IV Seria ocioso dizer, por fim, que nenhuma gramatica tem o condao de esgotar os assunntos relatives & normatizacio de uma lingua. Por isso, nossa Suma Grama rical da Lingua Porzuguesa devers ter permanente continuidade em outros lugares. “Tenhamee sempre ern inate, toxdavia,exay palaviay ce Andes Bethe: "A prevengio mais devlavordel pelo império que tem mesmo sobre pessoas suficientemente instruidas, ¢ a daqucles que Figurem que na sgramitica os definigoes inadequadas, as classificages malfeitas, os conceitesflsos nao tém inconveniznte, desde que por outro lado se exponham com: fidelidade as egras a que se conforma o bom uso, Eu crcio, contudo, que essas duas coisas slo inconciliéveis; que 0 uso nao pode expor-se com exatidio e fidelidede senio analisando, desenvolvendo os principios verdadeins que o dirigem, porque uma lgica severa € indispensivel requisito de todo ¢ qualquer ensinc..” (op. ts p.19).— Quanto a validade de insticuirlegal- ‘mente, de qualquer modo, nomenclatura ¢ clasifcacio cientifics, ndo & assunto para esta obra. PRIMEIRA PARTE LINGUA, LINGUAGEM, GRAMATICA L FALA E LINGUAGEM 1.1. Fosse o homem por natureza um animal solitirio, bastar-lhe-ia pensar para ter noticia ou conhecimento intelectual das coisas. Mas nao o é, senao que, em decorréncia de sua mesma natureza intelectual, 6 também um animal rouTico OU SOCIAL, razio por que seus conceitos, seus juizos, seus raciocinios — tudo isso mediante © qual ele conhece e compreende a realidade ou pode ordend-la na medida de suas possibilidades — hao de ensinar-se ou manifestar-se aos demais e aprender se ou receber-se deles. Tal se dé mediante sicvos de tais concepsoes, de tais juizos, de tais raciocinios ~ sao as PALAVRAS ORAIS, a8 PROPOSIGORS ORATS, as ARGUMENTAGOES ORAS, tude isso que, precisamente, permite aus homens convi- ver entre si, Trata-se da necessidade da raLa, que resulta, assim, de uma intengio significativa comunicativa. > Pelo que se acaba de dizer, pode aquilatar-se o problema que a variedade de linguas implica. 1.2, Mas, para que alcance os fins para 03 quais é necesstria, a fala requer uma arte que a ordene a cles ~¢ esta arte é a Linguagem.! "© homem, znimal racional, vive de ciéneias e de artes. — HA que assinalar, porém, desde jf, que a arte nao se reduz as chamadas “artes do belo” (Miisica, Pincura, Escultura, etc). "Toda e qualquer cigncia ¢ toda € qualquer arte sie hibitos intelectuais. Ora, © proprio do intelecto € a orden, € or denar. Maas pode ordenat-se de dois modes: especulativa ou teoricamente, quer dizer, enquanto se considera a ordem natural das coisas — e temos as cincias ~, ou artsticamente, quer dizer, enquanto sedi ondem sucificial a ura matéria preexisiente e ji informada— © temas 2s artes. Pois hem, as antes dividernese em dois subgenera: as servis (as que se exercem merliante atos coxporais efou para alguna utilidade coxporal, como, por exemple, a Marecnatia, « Nautica © Equitas) © ay dents (as que dirigem os ates da razao e/ou tém alguima finalidade signifcativa, come, por exemplo, a Logica, a Gramatica e a Retérica). Como se vé pelos exemplos, estes dois subgéncros se divider, por sua vez, em espécies. O que poréea ainda importa assinalar aqui é que: + quando falarmos de artifical, flaremos no sentido de “feito com arco” (artefuto < arte faces); + 6, quando falarmos de algo exeacial ou de algo acidentai com respeito 3 Kingus, falaremos em sabseraze, porque, com efcico, 2 fala mesma ¢ forma acidental da vor ~ assim como a mesa ¢ forma acidental da madeirs. 36 | SLMAGRAMATOAL — Cares Nougué 1.3. A Linguagem, ademais, tende a refletir em suas construgées a propria constituigéo de realidade? E 0 que se dé com as diversas classes de palavras, as quais expressam de alguma maneira as DEZ CATEGORIAS OU GENEROS MAXIMOS DO ate, a saber: a substineidt © seus nove acidentes: quantidade, qualidade, relagio, Lugar (ou onde), tempo (ou guande), sitnacho (ou posigio), hdbito (ou posse, etc.), acdo © paixio (ou ser paciente de uma aeao).' Nao ¢ dificil notar que a classe do substantive exptime as “substincias” ou os “acidentes tratados como substincia’s que © adjetiva corresponde & “qualidade” — ¢ 4 “relagio”, & “situagio", \ “pos- etc., entendidas a modo de qualidade; que 0 verbo expressa, propriamente, a “ago” e a “paixo”, mas também a “posse” entendida como agio de possuir, etc. € que 0 advérbio nao s6 se ocupa do “tempo” ¢ do “lugar”, mas se aplica a qualquer forma passivel de receber mais ou menos, ou scja, de ter certas modalidades. T A DIVERSIDADE DE LINGUAS aA sidade de linguas, a qual porém resulta de uma como incapacidade da Linguagem lao & este o espaco para investiga aprofundadamente por que hi diver- de sustentar de algum modo, a unidade de sua obra.’ F, se aderimos firmemente a tese da monogénese nao s6 da Htumanidade mas da mesma linguagem,$ deve partirse aqui, no obstante, da evidéncia de que hi tal diversidade ~ € de que se perde no tempo momento em gue comegou a dar-se, E, como vimos no Prélogo, tanto mais se atualizara esta tendéncia quanto mais cultivada for a lingua, ou seja, quanto mais se valetem dela e a aprimorarem verdaleitos mestres Sao as prz caTEGoRIAS descobertas por Aristételes. “ Olhe-se para qualquer homem, cue é uma substincia assim como o € qualquer cisne ou qualquer Joranjeira, @ conscatar-se-d, por exemplo, cue tem determinada altura e determinado peso (guanrida- dds que € branco ou negee (qualidade); que é pai ou filo de algun (relaqa); que estd numa arena fou numa cidade (gar ou onde); que vive ern ca ou qual década de dado século (ierypo ox: quads): que esti de pé ou scatade (sitmaial; que esta ealgado ou x cobte com unt sobretuddy Unido}: que caminha ou toca tum trompete luge); © quc € molhado pela chuwva ott queimedo pelo sol (pets) " Note-se, antes de tudo, que lingua é a prépria fala enquanto crdenada ou regrada pela Lingua: gem. — Mas note-se também que qualquer lingua pode vir a completar-se com a escrita ¢ sua Gra- -matica, razio por que ha Iinguas que se dizem Sgrafas ¢ outras que se dizem nao dgrafas. « Sempre que usirmos Livcvcess, com inicial maitscula, a palavra teré @ sentido de arte da flit sempre porém que usarmos LINGUAGEM, com inicial mintiscula, a palavra ou seri sindnima de fale (como compreendida em 1.1 desta Parte) ou enclobari a fila e a escrita PRIMEIRA PARTE — Lingua, Lingucgem, Gramatica | 37 2.2. Como antecipado, a diversidade das linguas vai a contrapelo da finali- dade precipua da fala. Sim, porque, se a fala decorre da nazureza intelecto-social do homem e, pois, de sua necessidade de intercomunicagio. a diversidade lin- guistica pelo menos dificulta o atendimento desta; mas o mais das veres o impe de — se no se conta com a atuagio de intérpretes (outrora chamados “linguas”) ou tradutores. Com efeito, entre linguas de um mesmo ramo lingufstico, ainda pode dar-se alguma compreensibilidade miitua, como de fato se dé entre as linguas do ramo latino, encre as do germanico ou entre as do eslavo. Nao assim, porém, entre linguas de ramos remotos nem, muito menos, entre linguas de troncos distintos. > Desse modo, por exemplo, alguma compreensibilidade snitua se diventie os falantes do portugués, os do espanol e os do italiano ~ © conquanio menos, os do francés, em verdade uma lingua neola- tina que, todavia, conservou muito de seu substrato germanico, 0 feincico, Ainda alguma compreensibilidade miua (infima) pode dar-se entre os falances das linguas neolatinas ¢ os do inglés, mas isso porque este nao é puramente do ramo germanico: histéria de influéncia do latim e, sobretudo, do francés. > Tal compreensibilidade miitua, todavia, é de todo impossivel se se tem longa trata de linguas de troncos diferentes, como 0 s40, por cxemplo, © portugu®s — do tronce indo-europeu” € do sub-ramo latino — o hiingaro — do tonco uraliano e do ramo fino-ugriano - 0 dra- be — do tronco camito-semitico ¢, cle mesmo, ramo deste —¢ 0 chinés ~ do wonco sino-tibetano ¢, ele mesmo, ramo deste. Entre lidade sendo mediante gestos ¢ sinais, 0 que em certo sentido faz recvar a linguagem um pouco na direcio do animal. os falantes destas lingzias nao havens alguma compreensibi Jndo-eurdpeué eesage de linguaraparcntadaye Glnday ext panteda Aulwe enn grande parte da Europa. Divide-se nos seguintes ramos: indo-iraniano, anatélio (desaparecido), biltico, eslavo, itélico (de que faz parte 0 sub-ramo latino), germanico ¢ celta — com suas respectivas protolia. guas © as linguas derivadas destas ~, além do grego, do albants ¢ do arménio, linguas isoladas. ~ Também se dio nome de indo-europen a uma hipotétiea lingua pre-historica, conjeeturada a partir da compacasdo das mais antigas linguas indo-curopcias conhecidas, ¢ que teria sido a protolingua do tronco indo-europeu. 38 | SLMAGRAMATOAL — Cares Naugué 2.3. E tal muitua incompreensibilidade se deve no somente a que as mesmas coisas se nomeiem diferentemente nas diversas linguas, mas também, e em alguns casos sobrerudo, as seguintes rarses. 2.3.1. O homem pode articular grandissimo ntimero de fonemas; entre eles, as Jinguas selecionam alguns, mas nem sempre os mesmos. Assim, para comegar pelo mais préximo, o espanhol tem um j que o portugués ndo tem, enquanto o portugués tem ditongos nasais nao presentes em nenhuma outra lingua neolatina. O drabe, por sua vez, é dorado de fonemas faringais com que nem sonham os neolatinos, enquanto o italiano mantém consoantes gemi- nadas, de todo ausentes do Ambito ibérico e do ambito gilico. J4 os falantes das linguas boximanes, da Africa meridional, convectem estalos da lingua em fonemas. E assim por diante. 2.3.2. Do Angulo das pastes das palavras © das construgGes sintiticas, a varie- dade € ainda maior, muito maior 2.3.2.a, Enquanto algumas linguas se valem abundante ¢ pleonasticamente de desinéncias nominais® (port. “a menina morena’, “es livros importantes’, etc.) ourras, que em geral as perderam, sio obrigadas a recorter a altura: sao as linguas fonais, como o chinés ¢ até algumas variances populares do espanhol, as. quai pela perda geral da desinéneia de plural s, ém de recorrer & altura ou tom para distinguir las puertasde la puerta, > Evejase 0 cutioso de certo modo de falar do interior brasilein rele, em vex de dizer-se “Que animaig bem cuidados!” ou “Oi, minhas filhas”, indica-se jé de inicio o plural geral: “Ques animal bem cuidado!” e “Ois, minha filha”, 2.3.2.b. Por outro lado, enquanto nas linguas latinas ha para os verbos desinencias modo-temporais ¢ ndmero-pessoais (en esiadava, tu esiudavas, ele estudava, nds estuddvanaos, vds estudivels, eles estudavam), nfo assim em nu merosissimas linguas. * Ou seja, como se verd mais adiante, valem-se de flexoes para determinarlhes jf © genet, jd 0 aiimero, jé¢ grau.— As Hexdes de grau, alii, como igualmente se veri, também podem aplicar-s a certos adverbios. PRIMEIRA PARTE — Lingua, Lingucgem, Gramatica | 39 > E di-se até 0 caso, no inglés moderno, de o mesmo s que serve de desinéncia nominal de plural servir também de desinéncia verbal de terceira pessoa do singular do presente, enquanto as demais pessoas, indlufdas as do plural, perderam a sua (exemplo: J sing, ‘you sing, he singss we sing, you sing, they sing) 2.3.2.e. Ademais, enquanto algumas linguas indicam « fungio sintética das palavras mediante terminagoes casuais — sao as linguas declinaveis, como o grego clissico, 0 latim, o alemao, etc. -, outras — como a maioria das neola inglés ~o fazem grandemente por meio da ordem frasal. 2.3.2.d. Aos lusdfonos nada nos parece mais natural que a concordincia do verbo com o sujeito (e, como veremos no devido lugar, devem limitar-se hoje os casas admissiveis de silepse). Em grego, nao obstante, era nio s6 per mitido mas usual fazer concordat @ singular das formas verbais com 0 plural dos nomes neutros. 2.3.2.e. E no nos deixa de surpreender a seguinte palavea do nootka, lingua indigena aglutinance da ilha de Vancouver: inifew-thl-ininih-is-it-¥, isto é, ‘os an- tigos humezinhos em casa’ ou ‘os lumezinhos que antes ardiam em casa’.’ Ou esta do fox, lingua algonquina do vale do Mississipi: eb-kiwi-n-a-m-abt-ati-wa-ch (E), isto é “entao eles todos fizeram(-no) fugir deles’.” 2.4. E, com efeito, linguas ha que tém artigos, enquanto outras nao os tém; mas hé que tém advérbios separados, enqutanto otitras os tém prefixados ao verbo; umas hd que dependem sintaticamente de conectivos (preposi¢Ges ¢ conjungées), enquanto outras, em geral declinaveis, as dispensam ao menos parcialmente. Mas aada disso implica dizer que as linguas no sao essencial- mente 0 mesmo. Si0-no * porque todas sio obras da Linguagem, ou seja, todas sio igualmente fala ordenada artisticamente a seu fim significativo-comunicativo; " Bxemplo tomado de Edward Sapir, A Linguagers— Introdussao aa E:teda da Felt. Tead. J. Mattoso (Camara Jr. Rio de Jancito, Instituto Nacional do Livro, 1954, p. 136 " Ibidem, p. 77.— Ainda restaria ver, todavia, com respeito a tais linguas indigenas, se tio complexas construgdes, perfeicamente adaptadas, a0 que parece, as necessidades imediatas dessas tribos, sio capazes de servir is elaboragdes mais altas do espirito, Estamos certo de que née, assim como com certeza podemos dizer que a Filosofia nfo podetia terse descavolvide plenamente com uma lingua a que faltzsse 0 verbo ser, como o chins (ao menos 0 atual). 4D | SUMAGRAMATCAL — Cares Raugué * porque codas hio de contar nao sé com palavras, mas com oragGes perfei- tas, que se compéem forgosamente de duas partes: sujeito ¢ predicado;" * © porque todas hao de expressar de alguma maneira, como vimos, os dez géneros miximas do ente I DEFINIGAO DE LINGUA 3.1. Ja temos condigdes a esta altura de dar a definigio de lingua. Mas, em de- corréncia, também é este o lugar de investigar o que faz que o falado nos diversos paises lussfonos se digam a mesma lingua, ou se 0 so apenas em certo sentido: ¢ se o que se fala no nordeste do Brasil ¢ 0 que se fala no sul deste so pura © sian plesmence a mesma Lingua, ou dialetws seus, E fagam-se as mesmas perguntis a respeito do inglés, do russo, do espanhol, do francés... E questio em torno da qual muito jd se escreveu e se debateu,, ¢ & qual, a nosso ver, sé rara ver se respondeu. satisfatoriamente. 3.2. Lincua é, propriamente, como obra da Linguagem, 1 tado compaste de determinades fonemas e de determinudas palavras que se combinam segundo certas regras para significar nossas concepetes mentais ¢ comunicd-las aos demais, 0 que implica compreensibilidade geral. F pois acidental que a Linguagem nao tenha podide manter a unidade de sua obra, ¢ é ainda de algum modo acidental que as linguas sigam variando. Nao ha impedimenco essencial de que houvesse uma sé e mesma lingua. @ Onsenvacdo. Disse-se acima que a lingua é um ToDo. Mas ha diversas espé- cies de todos; e, quanto 20 que nos interessa aqui, note-se que num todo substancial (como o ¢, por exemplo, qualquer animal) as partes (érgos, membros, etc.) no cém nenhuma operacio independente do mesmo todo, porque o todo substancial € absolutamente algo uno. Mas num todo como o universo ~ que é um todo de " Gomo se veri em sett momento, a0 contrétia do que comuments se diz, nao ha oragao perfita sem suijcito: as que nao parecem té-lo reduzem-se, de Fato, a oragoes intoarais. E note-se desde ja que € con: traditétio afirmar que a oracio consca de duas partes esvenciaissujeto e predicado, 0 que é verdade —e depois dizer que hi, também, oragées “sem sujeito”. O que é essencial numa coisa nao Ihe pode falta porque, se Ihe falta, cla deixa de ser precisimente esta coisa, Ver-se-i no momento préprio que, sim, oracie nio sc diz.somente da orasdo composta de sujcito € de predicado: © que porém se afitma aqui, desde jd, € cue se hd sujeito ha de haver predicado ~ e vice-versa. Sao como dois coprincipics. Carios NoucuF, nascide em 1952 na cidade do Rie de Janeiro, ocupou a cadeira de Lincua Porrucursa e a de TRapugio Lirersria durante mais de nove anos numa pés-graduacao (UGB). Ministra o curso 07 Porruaursa, de 60 horas. Lexicégrafo, participou da redagae de trés line Para Bem EscREVER NA LinGua diciondrios. Tradutor do latim, do francés, do espanhol e do inglés, verteu 4 nossa lingua filésofos como Cicero, Séneca, Agostinho, Toma Cervantes, Quevedo e Chesterton. Ganhou o Prémio Jabuti/93 de s de Aquino, Louis Lavelle ¢ Xavier Zubiri, ¢ literatos como ‘Tradugéo foi indicado outras duas vezes ao mesmo prémio, uma dclas pela tradugio de D. Quixote. Dedica-sc agora & escrita de longa obra filoséfica, Das Artes do Belo: Imitacdo e Fim.

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