You are on page 1of 2
Resenha: Cristina Borges de Oliveira’ Ribia-Mar Nunes Pinto” Envelhecimento, exclusao e morte: Resenha do livro A Solidao dos Moribundos de Norbert Elias 0 livre & composto por dois ensaios sendo que no rimeico, A solido dos Moribundes, Elias aborda 0 pro ‘ess0cvizatéro da sociedade dos individuos €05 mo- dos por meio dos quais instalam, em cada um, ose timento de constrangimento, medo e embarago em re lagto a tudo que lembre a fnitude da vida biologica. O segundo ensaio, Envelhecer e Morrer, ¢ uma versio re vista de uma conferéncia médica em 1983 e aborda, es pecialmente, 0 solamento dos velhos e moribundos em aslos, hospitals e dnicas de aide. O livre possui uma linguagem tranguila de se compreender @ 0 autor dis- corre sobre nossos meds mais profundos e, muita ve 2s, velados por nossos mecanismas de defesa © auto- controle, abordand a solide dos moribundes no con texto da sociologiafiguracional as propée varias refleges que permelam a questio da solidso dos moribundos sendo que em uma dels opor tuno ressaltar aqui: Seria flso sugeic que of problemas especios do estgio da cvilzagao na relacio dos saudavels «com os moribundos, dos vos com os mortos, so um dado isolado, © que surge aqui é um problema parcial um aspec: to de um problema geral da cvlizacao em seu estigio pre- sente(p32F Eas aponta, com bastante propriedade 30 longo dessa obra, que se faz mister entender a questo central do izolamento dos moribundos a partir da compre- lens da mudanga que acompanha os distintos estigios leangads pelo deservahimento da humanidade Assim, © problema da morte e do envelhecimento = © em conseqincia,o problema do abandono e exci so dos velhos - somente podem ser compreendidos 2 partir da nogdo de que a experiéncia da morte varia de Luma sociedade para outra e que, portanto, tal exper {ncia foVé apreendida ndo sendo, pois, algo natural e/ (4 universal. Nao é exatamente o fato biol6gico de morte que varia, uma ver que essa experiéncia ¢ um dado ineviavel da vida bilégica,experiéncia corrique!: ra em todas as espécies vivas e em todos 0s momentos do processo cvlizatério. O que varia € a consciéncia da morte, a qual € possivel somente para os seres huma nos. & essa consciéncia que se transforma no curso do desenvolvimento soca 0 socidloga alemso afirma que a problemstica em questio ndo € 56 a morte, mas, prncipalmente 0 signi ficado de partda antecipada que assume o envelhec- ‘mento nas sociedades ndustrlizadas, De acordo como autor de A Solidio dos Moribundes, manera mais antiga dos humanos enfrentarem o fim da vida ¢ evitando 2 ideia da morte, afastando e rerimindo tal pensamento (0 incorporando a f¢ inabalsvel na imortalidade, Sob texte pont de vista, © velho, 0 moribundo, representa uma clara evidéncia da finitude da vida, Evento que os seres humanos modernos parecem néo aceitar. O medo de morrer 0 pavor do fim da vida 60 sentimento que, fragiizando as pessoas faz com que se estabelecaoafas: tamento das velhose maribundos separando as pessoas que envelhecer das outras as (p. 19) destaca que, nas sociedades modernas, 2 ‘morte ¢ vista como um dos maiores perigosbiopscossoc: aera vida dos indviduos. Nessas sociedad, a morte sem pre aparece como uma vioéncia e, por isso, vai sendo empurrada para os bastidores da vida socal. Em outros momentos da civlizacio, como na dade Média, pode-se perceber ue a morte era muito menos acuta, mals pre sentee familia, embora, no mais paifia.O espetdculo dda mort, inclusive, provocava sentimentos de prazer, ale fra catarse nos individuos, os quai eram sustentados pela austncia de identficacso entre aqueles que mori- {am ¢ 0s que asistiam ou promoviam sua morte. Elias arma que a exclusso dos moribundos ocorre ‘com maior incidénci nas sociedades mais avancadas por ‘que nesss socedades existe um espaco de identificagio ‘social maior do que em outros tempos histricos. sto quer dizer que somos, atualmente, muito mais sensiveis em re- lacio 20 sofrimentoe a0 espeticulo da morte do que os homens e mulheres que viveram na Antiguidade ena ida de Média. “Se compararmos 205 da Antiguidade, nossa identicagao com outras pessoas enoss0 compartihamen: to de seus sofrimentos © morte aumentaram (pF. Essa identificagio acaba por instalar, nas pessoas, um sent mento de descanforto e constrangimentodiante dos que envelhecem e morrem e,finalmente, provocar 0 romp ‘mento doslacosafetivos do velho com as pessoas com as ‘quais ele se relacionou, 2s vers, por toda a vida ensando nos vlhos e moribundos, iso signifi que, atualmente, els também sio empurrados para o: bast! doreseexcluidos do convivio socal O cuidados ea pro ‘eco dos velhos e moribundos, antes aribuigo da fa mila ciculo de amigos e viinhos, foi sendo transfer Revista da Universidade Federal de Golds UFGES do para a esferaestaale, cada vez mais, pautado pelo ‘onhecimento cintifio. © convivio com parentes, ami {905 €vzinhos nestescontextos pode se, inclusive, pro bido ou difcutado por intererirem no trabalho dos profissionais da sade. Nesse processo,o velho & isola do do contato social com pessoas com as qua, 8s ve 2s, conviveu por grande parte de sua vida. Assim, a rede de atendimento institucional aos idosos, susten tando-se na possibiidade de retardamento da morte biolégica,afasta familiares e parentes e provaca uma ‘espécie de mort socal do velho. (© que Elias nos instiga a pensar é que a aversso dos adultos contemporaneos a tudo aguilo que lembre a dia da morte é uma caracterstca da homogeneidade o padrio dominante do atual estigio da civiizagso. Relembra nossos medos de infncia e de como a morte aparece em associag3o com 0 asassinato e que as fan tasias e rites indviduais ecoletivos em torno da morte So, em sua grande mairia,assustadores. Como conse ‘qdéncia, muitas pessoas, especialmente a0 ervelhece rem, vvem seereta ou abertamente em constante terror dda morte, A angustia, a depressio 0 sofrimento,cau- sados por esss fantasas e pelo medo de morrer, po dem ser t20 intensos, as fantasias poder ser tio reais quanto & dor fsica de um corpo em deteioragéo. Encobrir a morte da consciéncia ¢, reconhece Elias, uma tendléncia muito antiga na histéra da humanidade, Pporém, mudaram os modos usados para esse encobr mento Se antes, as pessoas recosiam com mais pabdo € intensidade & idéia da continidade da vida em outro lugar fantasia coletiva ands sigificativa - atualmente, (0s avangos centificas que permitem o prolongamento da vide ea possibdade de institucionalizar os cuidados ‘om os velhos e monibundos, sso as formas mais comuns para encobrir 0 processo de envethecer e mortr. as concli essa obra reafimmando que a morte biolé- {ica no & 0 maior pesadlo. 0 pior pode sera dor dos ‘monibundos ea incomensuriveperda sofrida pelos vives quando morre uma pessoa amada. A grande tarfa que. ainda tens pel frente, de acordo com Elas,¢ enfrentar (0s teres que, emacionalmente,alimentamos sobre en volhecer € morrer opondo-thes a realidade de uma vida biolégica que tem fim. Nas palawas do autor. "A morte ‘fo tem segredos. Nao abre portas. € 0 fim de uma pes 08, 0 que sobrevive € 0 que ela ou ele deram as outras pessoas, © que permanece na meméria alias" (7.77) as nos leva a refi Sobre os inimeros erores que ervolvem o fato de envelhecer e morrerressahando, no entanto, ue o constrangimento socal ea Surea de des Ee Resenha: Cristina Borges de Oliveira! Ribia-Mar Nunes Pinto’ conforto que, frequentemente, cerca a esfera da morte fer nossos das é de pouca serventia para uma mudanca Ge valores eattudes frente 8 questo. O que poderia ser feito para assegurar as pessoas maneias faces e pacficas de morrer ainda est por ser descoberto, mas existem al «guns meios para se madara atitude frente & morte: a am zade esolidariedade dos vos eo “sertimento dos mari buundos de que no causam embaraco 208 vvos (p.76) Concluindo 0 liv do sociélogo alemo Norbert El as apresenta-se interessante para pensamento educa ional brasileiro, prncipalmente, por propor uma amp acto das explicaesconhecidas sobre oislamento dos velhes e dos moribundos nas saciedades urbanas. Em especial, 0 lio nos permite entender que o abandono elsolamento dos idosos em nossa sociedade no podem ser explicados unicamente a parti da ideia de que idoso <6 improdiutivo economicamente. € preciso, entd, cons derar 0s aspectos emocionais que interferem no aban dono dos velhos e maribundos. Neste sentido, ¢ preciso ‘que compreendamos aquilo que Elias chama de auto: Jimagem - 0 modo como as pessoas se véem, se perce bem -do ser humane que vive nas mademas sociedades industiazadas e urbanas e que néo inci a idéia do envelhecimento e da morte. 0 afastamento dos velhos e monbundos do convivio social 60 sinal mais evidente da nio-identificacio entre os jovens os que estio envehecendo e mocrendo, Se essa icridentifcacao ¢ apreendia, pode também ser alter da, © que coloca um papel fundamental para a educacéo das novas geractes. Atualmente, 0 pavor da morte & de tudo que he €assocado ¢ensinado, muito cedo scan (85. Os pais professores evita falar da morte, de pessoas {que mortem ou esto morrendo, as ctiangas, s vezes, 0 impedidas de verem pessoas mortase de vvencarem as emocdes provocadas pela morte. A possibidade de trans: formar arelagdo dos jovens com os velhos e morbundos passa, necessriamente, pela superagio do ocultamento dda morte durante a infin, bem como pela insergto da ‘chanca em relacbesafetuosas ede amizade com as pessoas {que se encontram préximas do fim da vida Autores "Professora Ms. -Oslegacia Regional no Estado de Got 4s da Sociedade Brasilia de Atvdace Motora Adaptad *Professora Ms. da Faculdade de Educacto Fisica / UFG REFERENCIA BIBLIOGRAFICA in abet Asn dos mots pied eth ¢ mn Ho Se Saag | evista da Universidade Federal de Goits iN UFG

You might also like