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aniey PAKEE INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZONIA BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI wove sia sriém — park — peas. GEOLOGIA ue 2 38 de Junho de 1937 eer mS ice | CONTRIBUICAO A PALEONTOLOGIA DO ESTADO DO PARA Notas sobre a formagSo Pirabas, com deserigGes de novos invertebrades tésseis 1 — (Mottusca — Gastropoda ) CAnpmo Smuéus Fenxema* Osvaipo Ropmiguns pa Cuwna ‘Museu Nacional ‘Museu Goeldt INDICE NTRODUGAO oes. sos AGRADECIMENTOS... k SINOPSE SOBRE A FORMACAO FIRABAS.... .__. NOTAS SOBRE UMA RECENTE EXCURSAO AO LITORAL & ZONA BRAGANTINA DO ESTADO DO PARA... DESCRIGAO DOS FOSSEIS.. Cypraea macrovoluta 2. sp. ++. Strombus goeldii n. sp. .. ‘Xancus amazonianum n. sp. .. Vasum kraatzi n. sp. «.. Simpulum carlotae 2. =p. CONCLUSOES Z ALGUMAS SUGESTOES SOBRE A FORMA- GAO PIRABAS.... 1 — OBBERVACOES DE CAMPO. JE — CONSIDERAGOES SOBRE AS NOVAS ESPRCIES E SUAS ‘EXPLICAGAO DAS ESTAMPAS.... 0... +04 TS Pos ‘gentileza do Museu Nacional, atualmente prestando servi- na reorganizagio da Segio de Geologia do Museu Gees, sano, FEERERA & CUNWA — CONTRIB. A PALKONTOLOGIA Do EST. Do PARA INTRODUGAO Dando sequéncia ao plano de trabalho que anteriormen- te foi apresentado, tanto ao Diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, como ao Diretor do Museu Paraense Emilio Gerldi, atualmente sendo administrado pelo Instituto Nacio- nal de Pesquisas da Amazénia, que vem patrocinando assim uma nova etapa de realizacOes clentificas ao répido soergui- mento desta famosa instituieo, Como item prinelpal daquéle Plano, ficou estabelecido um programa de estudos e coleta de material paleontolégico das camadas terelarias do mioce- no inferior denominada “Formagio Pirabas” (Maury, 1924), Que se estende pelo litoral e regio abrangida pela Estrada de Ferro de Braganca, no Estado do Paré. Com ésse propésito, realizamos entio em fins do ano pas- sado uma excursdo As principais ocorréneias daquela forma- cao tercidria j4 conhecidas, bem como em outras novas ocor- réncias dentro da mesma regio, Os resultados dessa exeur- ‘io foram bastante compensadores, pois conseguimos copio- 0 material paleontolégico daquela rica fauna de outréra, 0 que mais nos animou a encetarmos uma série de contribui- es & paleontologia da formagiio Pirabas, que com 0 presente ‘trabalho, damos por iniciada, AGRADECIMENTOS Deixamos aqui os mossos sineeros agradecimentos aos Dis. WALTER ALBERTO EGLER, diretor do M. P. Emilio Gerldi, JOS CANDIDO M. CARVALHO © NEY VIDAL, Tespectivamente, diretor do Museu Nacional e Chefe da Di. visio de Geologia daquéle Instituto, pela compreensio ¢ apoio, ji devidamente ressaltado pela aprovac&o do plano por nés elaborado, Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amaginla, na pes- sda do seu ilustre diretor Dr, ARTHUR CEZAR REIS, assim como os seus antecessores, Dr, TITO ARCOVERDE ¢ Prof. OLIMPIO DA FONSBCA, com os quais tivemos o prazer de pee colaborar, nosso profundo agradecimento pelo real apolo que sempre nos distinguiram, ‘Nos trabalhos de campo, deixamos consignados aqui os nossos agradecimentos pelas facilidades ¢ espirito de compre- ensio que tivemos por parte dos 81s. BURICO ROMARIZ, proprietario da ilha de Fortaleza, na baie de Pirabas; JOA- ‘QUIM DE SOUSA, mui digno Prefeito de Salindpolis, bem como de seus auxillares no Distrito de Zo Joo de Pirabas; Comandante da 8," Regiao Militar, pela permissfio dos nossos trabalhos de perfuraciio de pogos na Estacho Experimental (Ex-Agronémeia) de Nova Timboteua; ARTEMON ROLIM, proprietario do sitio Cassiano, da mesma cidade. ‘Ao Dr. J. C, TROELSEN, paleont6logo chefe do Labo- xatério de Paleontologia de Setor de Exploragfo da Petro- ‘bras, em Belém, que gentiimente nos permitix que fizesse- ‘mos consultas bibliografieas © examinassemos uma pequena colecdo de féssels de Pirabas, naquéle Laboratério, os nossos mais sinceros agradecimentas. Ao SERVICO ESPECIAL DE SAUDE PUBLICA, nas ‘pessoas de seu chefe e téenicos do setor de Belém, nossa gra- ‘tid pelos vallosos dados s6bre as sondagens da cidade de ‘Capanema. Finalmente, deixamos aqui expressados os nossos agra decimentos aos Sts. OTTO PENNER ¢ SEBASTIAO JOS# SILVA, responsiveis pelas fotografias © desenhos que ilus- tram o presente izzbalho, SINOPSE SOBRE A FORMACAO PIRABAS A deseoberta dos depésltos fossiliferos dessa formacao deve-se 20 naturalista DOMINGOS FERREIRA PENNA gue, em 1878, excursionando pelo litoral paraense logron locali- za-los na ilha Fortaleza, situada na baila de Pirabas. O ma- terial, atualmente no Museu Nacional, coletado por ésse na- turalista, fol enviado ao Dr, CHARLES WHITE, gue estudou ‘¢ publicou, em 1887, numa monografia, jumtamente com f6s- seis de Pernambuco, Sergipe e Bahia, correlacionando a for mao Pirabas, as camadas caledreas fossiliferas de Sergipe FERREIRA & CUNHA — CONTRIB, A PALRONTOLOGIA Do BST, DO PARA e Pernambuco, consideradas por WHITE como do periodo cretéceo. Num trabalho de revisiio que PAULO ERICHSEN DE OLIVEIRA (1953) vem fazendo sobre a formag&o Maria Farina, paleoceno de Pernambuco, chegou 2 concluséo pelo exame do material paleontclégico guardado no Museu Na- cional, que WHITE estudou, “que houve mistura de formas de procedéncta diversas, isto espécies que ocorrem no cre- taceo de Sergipe sfio dados eomo ocorrendo na formagio Pl- rabas, Estado do Paré, que MAURY (1924) referiu 20 Mio- eno inferior, ou na formagSe Maria Farinha”, ‘Em fins de 1899 o Dr. K. VON KRAATZ-KOSCHLAU, eonvidado por EMILIO GORLDI para dirigit a Sedo de Geo- logia do Museu Paraense, cargo até ent&o ocupado pelo ged- loge F, KATZER, empreendeu uma viagem pela costa para- ense seguindo o mesmo roteiro de FERREIRA PENNA, tam- bém na ilha de Fortaleza, no ponto denominado Castelo, co- letou grande quantidade de f6sseis, dentre éstes, restos de vertebrados, como ossos, costelas e vértebras, que KRAATZ admitiu em seu trabalho péstumo “Zwischen Ocean und Guamé”, (1900) de se tratarem provavelmente de répteis. Era sua intenedo descrever em um trabalho especial todos os es- pécimens por Ble coletados, 0 que no se coneretizou, pois al- guns méses apés sua chegada ao Brasil, falecia (malo de 1900), vitimado pela febre amarela. Contudo, ainda no seu trabalho péstumo, emitiu sua opiniio quanto a idade das formzcBes calefireas, colocando-as no cretéceo. Na reotgani- zacdo que estamos procedendo na SepSo de Geologia do Mu- seu Geeldi, eneontramos boa quantidade de material coletado por KRAATZ, contendo algumas espécies determinadas se- gundo 0 trabalho de WHITE. Em 1903 € publicado em Leipzig, o trabalho de F. KATZER sbbre a Geologia do Estado do Paré, onde aquéle autor baseado na monografia de C. WHITE, colocou a fau- na de S40 Jo&o de Pirabas no andar senoniano do cretéceo superior. Bste trabalho fol mais tarde, em 1933, traduzido para 0 peringués, sendo publicado no volume IX do Museu Paraense Emilio Geeldi, devidamente revisado pelos geélogos eos BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI; GEOLOGIA ¥.° 2 AVELINO IGNACIO DE OLIVEIRA e PEDRO MOURA, que em oportunas anotagées de pé de pagina, colocaram aquéle trabalho atualizado com a Geologia dominante até aquela data, Numa excavacdo para feitura de um poco para Agua, em 1908, na Estac&io Experimental de Agricultura Pratica Augus- to Monienégro, também chamada naquela época Estacdo Agronémica de Peixe-Bol, seu diretor Sr. ANDRE GCELDI, en- controu blocos de caledreo, contendo impressdes de moluscos idéntieos aos encontrados no litoral, na baia formada pelo pequeno rio Pirabas. Com referéncia a essa descoberta, foi publicada uma nota no Boletim Vol, VI de 1910, do M. P, Emilio Geldi, nota essa que ressaltava a importincia da nova descoberta, pro- vando, assim, uma estensio maior para as camadas fossili- feras do litoral, até entfo, consideradas cretaceas. Em 1909, uma nova colecio de téssels de Pirabvas foi fei- ta e desta vez por intermédio do Sr. HANS BAUMANN, aju- dante do geélogo Arrojado Lisbéa, que naquela época fazia D reconhecimento geolégico nos Bstados do norte e nordeste. Esta colegio foi estudada por CARLOTA JOAQUINA MAURY (2924). Na mesma ocasiéo ARROJADO LISBOA, descobriu pa illha de S20 Luiz do Maranho e Carutapera, no litoral do mesmo Estado, novos afloramentos de caledreo com os mes- 0s carateristicos dos de Pirabas, no Para. Diante de tal revelagio, ORVILLE DERBY, diretor na- quela época do Servico Gedlogico, solicitou que fésse feito um mapa do Brasil com as localidades fossiliferas indicadas, In- iorma ainda Maury que 0s caledreos de Pirabas bem como da Estagéo Experimental (Agronémica) foram referidos ao eoceno marinho, correlacionando-os, estratigraficamente, as ‘eamadas do eoceno inferior de Marla Farinha, no Estado de Pernambuco. Essa mesma suposi¢ao fol mais tarde, em 1919, referida por J. C. BRANNER, no seu grande mapa Geolégico do Brasit, Em 1918, a pedide do Dr, GONZAGA DE CAMPOS, di- tetor do S$. G. do Brasil, CARLOTA MAURY reexaminou o a FERREIRA & CUNHA — CONTRIB. A PALEONTOLOGIA DO EST. DO PARA material coletado por Baumann e fazendo uma comparacdo acurada com as faunas terclirias da América Central, da América do Norte e das Antilhas, opinou pela grande afinida- de entre a fauna de Pirabas e as ocorrentes no mioceno infe- wor de Gatun, no istmo do Panama, com a de Bowden, na Jamaica, do Vale de Yaqui, em S. Domingos e a da Florida. Essa conclusdo ci publicada num rapido artigo, no vol. 48 de 1918 do “'Scienes”, com o titulo: “A New Marine Tertiary Horizon in Sovth America”. Estava assim posto em evidén- ela, a diferenea Je idade das faunas de Pirabas ¢ Maria Fa- rinha em Pernambuco, GONZAGA DE CAMPOS, dando énfase as conelusées de MAURY, mandou em 1919, que fossem procedidas pesquisas em témo das ccorréncias até entio conhecidas das camadas caledreas tereiarias do Ustade do Pard. Para essas pesquisas, fol designado 9 Eng. PAULINO F. CARVALHO, do Servico Geologico ¢ Mineralégico, que fez 95 “Reconhecimentos Geo- légicos entre a Costa Atlantica de Maracand e Pirabas ¢ a Estacdo Experimental na E, F. de Braganca” (Bol. n° 15 do &, G. M. B, 1926). CARVALHO coletou bastante material fos- silifero na itha de Fortaleza e Estacdio Agronémica da E. F. de Braganca, Km 150, que proporeionou @ Maury, tirar mals Provas concludentes pelo grande ntimero de formas novas, quanto a idade mloctnica daquela fauna. ‘De grande valia, foi sem duivida esse reconhecimento fel- to por Carvalho, pois além de boa eolecdo de fosseis que per- mitiu a Maury, juntamente com o material coletado ante- viormente pelo Sr, Hans Baumann, elementos para fazer sua excelente monografia sébre a fauna Pirabas, aquéle geblogo, executou alguns perfis em ocorréncias jé conhecidas (Fa- zenda, tha de Fortaleza, Salinas, Estado Experimental de N, Timboteua), bem como deseibriu novas ocorréncias, tais como: Rio Axindeua e Pirabas em Sfo Jodo de Pirabas e norte da E, F, de Braganca, Km, 195, proximo a estagdo de Tavari (S. Petri & 8, Oliveira, 1952, retificam 0 local exato para 0 Km, 189.5). Fol felto ainda um levantamento do Rip Maraca- na, desde sua for até a estado de Livramento, na E. F. de ‘BOLETIM DO MUSED FARAENSE EMTUIO GOELDI; OROLOGIA W.9 2 Braganea, no sendo encontrado nenhum indicio das rochas caleareas de Pirabas. Cronolégicamente, em 1924, é entdo, publicado 0 traba- Tho de Maury, comprovando de maneira definitiva a grande afinidade da Fauna de Pirabas com as de Gatun, no Pana- mA, Bowden, na Jamaica, de S. Domnigos, das Antihas ¢ da ‘Wiérida, todos do mioceno inferior, propondo, entéio, aguela autora 4 denominagdo de FORMACAO PIRABAS para aqué- Jes sedimentos fossiliferos do Estado do Para. Ainda nésse trabalho, Maury coneluiu de forma convin- cente quanto 2 origem da rica fauna da Formacao Pirabas, ‘admitindo que a mesma tenha sido a origem das suas filiadas $4 eitadas, no hemisfério norte. ‘Quanto aos féssels da antiga Estacio Agronémica de Peixe-Boi (*), embora Maury achando muitas formas em ‘comum com os féssels do Utoral (Fazenda), incluindo mesmo ps sedimentos da EstagSo como da Formacio Pirabas, admi- ‘th a possibllidade de uma diferenciagio estratigréfica entre ‘as duas ocorréneias, apolando esta suposi¢do pela auséncia do género ORTHAULAX, na E. Agronémica e presente na Fazenda, considerando que aquéle gastropodo munca foi en- contrado acima do mioceno inferior. Baseada neste fato, aguela autora sugeriu que fossem feitos trabalhos de campo entre a Estacéio Experimental e a Formagio Pirabas da cos- ta, a fim de se verifiear a superposic&o dos sedimentos calcé~ reos desses dois pontos. Em 1928, AVELINO I OLIVEIRA, conforme Oliveira & Leonardos (1943), cita a ocorréneia de mais dois afloramen- tos da Formacéo Pirabas, nos rios Urindeua e Maramaripe a oeste préximo de Salinépolis, ‘Em 1952, a bibliografia sobre a formagéo Pirabas & enri- ©) —ESA antiga Estacdo Experimental de Agricultura proxkme a0 ‘Km. 150 da E. F. de Braganca, fiea a 4 quilémetros para teste a cidade Ge Nova Timboteu2, e a 8 quilometros orste de Peixe-Bol, As telerénelas antigas quanto a localizacto da Estacho Experimental em Peixe-Boi, prende-se a0 fato Ge que Nova ‘Timboteua 6 uma cidade Telativamente recente, Sireindo mesmo pelo desenvolvimento de outrara daguele Posto Experimenta] de Agricultura, "hoje em ruins, =i FERREIRA & CUNHA — CONTRIB. A PALEONTOLOGIA DO DO Pawh quecida com novo trabalho de autoria de SETEMBRINO PETRI ¢ SALUSTIANO DE OLIVEIRA, gedlogos do C. N. de Petréleo (atuaimente na Petrobris), trabalho éste com 0 ti- tulo “Reconhecimento Geol6gico da Area de Exposigéo da FormagSo Pirabas no Estado ¢o Para”, publicado na Revista a Eseola de Minas de Ouro Preto, ano XVII, n.° 1, 1952) (*), ‘Nésse trabalho os autores, revelam novos afloramentos da Formagao Pirabas, no litoral do Paré, ampliando mais ainda a Area de ocorréncia dessa formacéo, tanto para oeste como para leste, ou seja desde a foz do rio Marapanim ao Rio Ja- perica, sendo ainda observado a formacdo Pirabas no iga- rapé Camaledo, proximo ao rio Pirabas e provavelmente até a foz do rlo Quatipuri, no furo denominado Baunilha Grande onde aguéles ge6logos encontraram um calcdreo mais fino, com abundantes concregSes, cinzento excuro, ¢ folhas de &r- vores muito bem eonservadas, Hssas conerecdes continham restos de erustéceos Brachyura, bem preservados, Eases tlti- mos sedimentos foram correlacionados provisdriamente com a formacao Pirabas, Os autores descendo o rio Quatipurd, observaram através déste, diversos afloramentos do cristalino (granite e pegmatite), atingindo na E. F. de Braganca 0 aflo- ramento da formacio Pirabas, proximo a estado de Tauari, no Km. 189,5, que € 0 ponto mais SE. daquela formacio. Es- clarecem ainda que a 2 quilémetros désse afloramento, no Yoeal denominado sitio de Lopes, o cristalino ocorre a 12 me- tos abaixo daguéle afloramento de Pirabas. Os autores nese Jevantamento, o melhor sem duvida até hoje felto sobre a formacéo Pirabas, além das descober- tas de novas ocorréncias desta formagio, que vieram amplié- Ja em muito, tanto para leste como para oeste, emitem con- siderag6es bem interessantes e bastante vidvels, baseado nas ‘observagdes de campo, bem como nos demals estudiosos dessa, formacao, Tentamos resumir aqui, enumerando as opinides esplanadas naquéle trabalho: (0 ~ Nise /ol Pata sata notes anaes valent Ge tank Soe daquéle relatério, justifieando, assim, a alteragso erono- a apresentada neste résumo. erry FERREIRA & CUNEA — CONTRIB. A PALKONTOLOGIA DO RST, 90 PARA eS ee er 1 — Sébre o mergutho da formagio Pirabas, deduziram que éste se faz para o Norte, devido a presenea dessa Forma- so na Estrada de Ferro, em posigiio relativamente alta, em relag&o ao nivel do mar. y 2 — Admitem que as camadas do caleéreo da Estrada de Ferro (Estacio Exper'mental) ¢ as do litoral sejam siner6- nicas, isto baseado ne merguiho da formacao Pirabas para © mar e a sua quase horizontalidade, pois, 0 mergulho das camadas, tomando por base a maior elevagio da ocorréncia na Estrada de Ferro (38 metros) © a distancia desta até o ll- toral (46 Km.), fornece um mergutho multo suave, ou seja 0,82 m, por Km. Esta conclusio responde de maneira sa- tistatéria a sugestdo de Maury (1924), quanto a possibilidade dos sedimentos da Estacio Experimental serem mais novos que os da zona do litoral (ilha de Fortaleza), isto pelo fato daquela autora no ter encontrado na fauna da estado o género ORTHAULAX, gastrépodo éste, que nunca foi encon- trado acima do mioceno inferior. 3 — Para o amblente de deposiefio dos sedimentos da formagdo Pirabas, opinam que o mesmo parece ser de Aguas rasas, limpidas, ambiente neritieo préximo ao amblente lito- réneo, de mar aberto. O clima devia ter sido quente e a gosta, como hoje, baixa, confirmando assim algumas das suposi- gées de Maury e Gonzaga de Campos (1924), Os autores apresentam varios angumentos em que apolam a8 suposicées acima, tals como: a) No local da deposicéo da formacéio Pirabas, as 4guas eram movimentadas, sendo que essa movimentac&o no era suficientemente forte para quebrar as conchas, admitin- do éles que as conchas fragmentadas sejam provenientes de regides de maior movimentagao das 4guas, A posigdio em que so encontradas um grande ntimero de conchas, posig¢ao essa ‘segundo os autores, vital, indieam uma biocenose, pols mio so varas as conchas completas, de Pelecipodos. Contudo, para o restante déstes, o meio representa uma tanatocenose, pols é bastante encontradigo valvas isoladas, desorientadas e ineli- nadas em relacSo a0 acamamente, isto devido a pouea movie eee FERREIRA & CUNHA — cOWTREB. A PALEONTOLOGIA bo EST. 00 PARA mentagéo das 4guas, 0 que favorece a suposicdo de mar aber- toe raso para o ambiente de deposigéo da formag&o Pirabas; b) Para o ambiente de mat aberto os autores argumen- tam com bastante seguranca, baseattos nas intimas relagdes com as faunas de idades semethantes do hemisfério norte (Maury, 1824), pois “‘seria de se esperar um forte grau de provineionalismo se essa fauna tivesse se originado em bacias relativamente fechadas (Twenhofel, 1950 — p. 127)”. Outro fator que favorece a condicéo de mar aberto, prende-se a0 fato de ser peculiar da formacéo Pirabas a pre- senca de diferenciagdes secundatias nas diferentes associa- Ses faunisticas. Os autores citam exemplos que comprovam tal suposiciio. ¢) A presenca de corais em diversos pontes de ocorrén- cia da formacao Pirabas, Petri & Oliveira julgam um forte argumento para se atribuir Sguas resas, limpidas, movimen- tadas ¢ quentes para 9 ambiente de deposigso désses setlimen- tos mioctnicos. A ptesenca de Equinodermas favorece a suposicdo de Aguas rasas. d) Oambiente neritico é bem earaterizado pelos seguin- tes argumentos que os autores apresentam: a densidade de tésseis do valcéteo de Pirabas sugere um ambiente propicio a0 desenvolvimento de vida, 0 que no acontece com 0 lito- xéneo. A pouca espessura da formagéo Pirabas e sua pre- senea préxima a costa sio fatores que favorecem ambiente neritico préximo a zona Itordnea. A proximidade da costa & evidenciata pela presenga de restos de veitebrados terrestres 11a formagio Pirabas. A pouca altura da costa com pouco relévo nessa regifio, tem na deposigo de calchreo quase puro da formacdo Pira- bas com escassa contribuigéo de sedimentos terrestres, um bom argumento dos autores. Estes, em suas novas descobertas da ocorréticia da formagéo na regio de Quatipurd, ha en- trada do Foro da Baunitha Grande, sugerem que aquéles afloramentos tenham se formado em ambiente de mangue, isto pela associagéo de fdlhas de arvores e abundantes restos ait BOLETIM DO/ MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI; GEOLOGIA W.° 2 de crustéceos encontrados no calcéreo muito fino, daquéte afloramento. Bese ambiente comprova mais ainda o tipo de costas bal- xas, para as que bordejavam © antigo mar de Pirabas. Além dessas interessantes conclusdes, baseadas em suas observacies dle campo, aquéles autores, apresentam no refe- rido trabalho, um mapa geral com a locacao de afloramentes da formagao Pirabas no Estado do Pard. Uma sega geolégica da Ponta do Castelo, na itha de Fortaleza, na qual assinala pela primeira vex os primeiros fésseis (vegetais) na série Barreiras, de idade provavelmente pliccénica, e uma outra segiio geolégica em Salindpolis. Os autores tiveram ainda a oportunidade de coletarem amostras de tochas dessa formaréo a fim de permitir a con- tinuiglo do estuda de seus microfésseis, estudos esses Ja ink ciaties por Petri, Em 1949 esse autor apresentou uma tese ‘a0 Mit Congresso Brasileiro de Geologia, realizado na Bahia, ‘com descrigiio de alguns Foraminiferos, provenientes de Cas- tele, na ilha de Fortaleza. Em 1951, H. SIOLT, Limnologista do Instituto Agronémi- co do Norte, publica um estudo preliminar sébre as relacdes entre a Geologia e a Limnologia da Zona Bragantina, no qual faz referdnolas, pela primeira vez, dos afloramentos calckreos de Capanema, na Estrada de Ferro de Braganca, que naquela, data, ja estavam em franca exploracio para a fabricagao de cal. Sloli demonstra, com uma fotografia, essa ocorréncia, onde se pode vér a nitida estratificagdo das camadas calcé- reas. Trata-se de um caledreo de excelente qualidade para 0 fabrico de cal ¢ cimento, como atestatn as aniélises do quim!- co Jofio Pedro dos Santos, do I. A. N., anilises essas, inseridas no referido trabalho. Baseado em informnrdes Iocais, Siolt in- forma que na cafeira de Capanema nunca se acharam no cal- chreo fésseis de moluscos ou outros animais, tendo noticia, ‘apenas, que nas camadas inferiores foram encontradas f01has fésseis. O autor, nesse estudo, apesar do carater preliminar, ‘revela conclusdes bem interessantes quanto a um provivel limite entre as zonas de ocorréncia da formacéo Pirabas, éa en FERREIRA & CUNHA — CONTHIB, A PALEGNTOLOGIA bo EST. DO PARK série Barreiras do Plioceno e « formacao Pard do Pleistoceno, isto baseade no quimisto das aguas da feixa da formacéo Pirabas ¢ dos terrenos pliooénices e pleistocénteos. ‘As determinacses do pHi dos igarapés dentro da zona da formagiio Pirabas, na Kstratla de Ferro de Braganca, apre- sentam-se, mais ou menos neutros (7,2 a 6,2), vona de transi- co ott Uimiite (pH 5,6), situada aproximadamente na nascen- te do tio Maracang, ¢ tinalmente, a zona dos terrenos mais recentes até Belém, com fguas dcidas (pH 4). Volta em 1952 (*), Setembrino Petsi, a contribuir com mais um trabalho sdbre os foraminiferos da formagao Pira- bas, trabalho éste publicado no Boletim 187, Geologia n.° ", da Fae, de Filosofia Cidneias e Letras da U. de 8. Paulo. Nesse trabalho © autor determinou genéricamente alguns foramt- nifetos da Ponta de Pirabas (ha de Fortaleza), a saber: Quinquelocutina sp. a, @. sp. b, Q. sp. c, Pyrge sp. a, P. sp. b, Peneroplis sp., Discorbis? sp., “Rotalia sp., Gyreidina? 8p., Eponides sp., Nonion, sp. a, N. sp. b. Digno de nota é a citac&o pela primeira vez de um aflo- ramento caleaireo oorrente no igarapé Carapard, aproxima- damente 2 1 quilémetro a montante de sua foz no Rio Gua- mf, A descoberta desse caledreo deve-se aos professores JOAO DIAS DA SILVEIRA e ANTONIO DA ROCHA PENTEADO, que durante uma excurséo organizada pelo Conselho Nacio- nal de Geografia, conseguiram localiz4-lo, cortando transver- salmente o eitado igarapé, formando ai uma corredeira, visto apenas nas marés baixes. Das amostras coletatias ¢ enviades a0 Dep. de Geol. € Pal. da Faculdade de Fil. Ciéncias e Letras de Sio Paulo, pote 8, Petri constatar a presenca de foraminiferos em laminas delgadas desse calcdreo, nao sendo possivel determind-los dado a0 estado pouco satisfatério de conservagio dos mesmns. — Abesar da data ser posterior a tese apresentada ao IIt Cong. Bras: de ia, mereditamos s8F es8¢ 0 primeizo trabalho iferos da tormagio Pirabes, pols 6 0 proprio. ‘Fete que eocteve ‘ap Tesump de sev trabalho. “sho. desewltas pela primeira ‘vez...”” 12 BOLETIM DO MUSEU PARARNGE EMILIO GORLDI; GEOLOGIA N.° 2 Arocha fol petrogréficamente estudada pelo prof. VIK- ‘TOR LEINY, que descreveu-a macrdscopicamente como: “cal- creo brechoide composto de fragmentos centimétricos do calcéreo original atravessados por vénulas irregulares de cal- cita, Os fragmentos sko cripto-cristalinos, compactos, de cor ligeiramente creme, contend impresses que aparentam pe- dagos de conchas. As vénulas de calcita sio de cdr branca, gramulac&o milimétrica, possuindo frequentemente cavida- des com revestimento de cristais de calcita”. 0 exame micrescépico revelou ainda: a) Natureza brechoide com rescristalizacio da calcita; 1b) No caledteo original é notado a presenca de raros fo- raminiteros; ©) © ealedreo mostra silicificacao incipiente com preci- pitaglio de calcedénia, principalmente nas vénulas. © prof. Leinz opina que “apesar do aspecto cristalino da mattiz, a conservacho dos fésseis ¢ as cavidades nas venulas indicam que néo se deu nenhum metamorfismo térmico, mas apenas cataclase que fragmentou ocaledreo, a qual fol acom- panhada por recristalizacio parcial do mesmo, indicando, portanto, a aco de movimentos tecténicos”, Petri, correlacionou provisriamente, esse afloramento caleéreo do igarapé Carapard, & formaeéo Pirabas, riuito embora seja bastante diferenciado petrograficamente do cal- céreo tipico daquela formag&o, Aquéle autor chama a aten- 40 ainda para o fato de que se for confirmado, posteriormen- te, essa correlagiio, éste afloramento seria de acérdo com os conhecimentos atuais o extremo sudoeste da formacéo Pira- ‘bas, ocorrendo assim essa formagdo a pouco mais de 30 Km. em Tinka reta de Belém. ‘Com excecio da tése de 8. Petri, apresentada ao II Con- gresso Brasileiro de Geologia, realizado na Bahia, que ainda indo tivemos oportunidade de consulté-la, cremos que apie- sentamos um resumo de tudo que jé foi feito sobre a forma: G0 Pirabas, até a presente data. ape FERREIRA & CUNHA — CONTRIB. A PALEONTOLOOIA DO EST. DO PARK Em um ou outro trabalho nos estendemos um pouco mais nas apreciagées dos mesmos, por julgarmos dados im- prescindiveis no melhor conhecimento daquela formacao talocénica, berm como das nossa observagées feitas recente- mente sdbre a mesma, muitas delas completarao as diversas opinides expostas nesta sintese. Contudo, antes de expormos os resultados de nossa ex- curso, daremos aqui em carater complementar desta sintese, algumas informagies sdbre a formagao Pirabas. Est sendo felta wma revisdo sbbre os Equinodermas des- sa formagio, pesquisas essas a cargo de Mme. MARCELLE LEDOUX, da Universidade Livre de Bruxelas. Os exemplares com que essa pesquisadora vem trabalhando, alguns déles perterigem a0 Museu Geeldi, da antiga colecio feita por K. von Krastz, em fins de 1899, na itha Fortaleza; outros coleta- dos e doados peto Sr. Fritz Ackermann, proveniente do nmuni- cipio de Capanema e, fimalmente, aquela pesquisadora cole- tou algum material, principalmente espinhos, na caiéira de Capanema. No tiltimo contacto que tivemos com Mme. Le- doux (setembro, 58), informou-nos, que 0 seu trabalho de- ‘veria, ser publicado provavelmente em dezembro tiitimo, En- tretanto, até hoje, nfo tivemos noticias de que 9 mesmo te- aha sido publicado. O Sr. FRITZ ACKERMARN, gedlogo contratado pela 8, P. V.E. A, a fim de verificar e estudar as possibilidades eco- némico-mfnerais da regio Bragantina executon durante 6 ano de 1956 diversos perfis préximo da cidade de Capanema, Gos quals coletou bom material paleontolégico. Esta colegio, que tivemos @ oportunidade de vé-la em parte, consta de ex- celentes exemplates de Crastéceds, variados Pelecipodos, Gas- trépodos e grande quantidade ¢e espinhos de Bquinodermas. Sr. Ackermann nos informou ainda que coletou muitos restos de vertebrados, principalmente dentes de peixes. Este Sx. ainda nos informou que coletou receritemente dentro do caloéreo de Capanema, fragmentos de uma resina féssil, pro vavelmente &mibar. Conforme comunicagéo' verbal; prétende o St. Ackér- sigh = BOUETIM DO MUSEU PARRENSE EMILIO GOELDI; GEOLCGIA N.° 2 mann, baseado nas observacdes de campo que vem fazendo na vona bragantina, eserever um trabalho sdbre a formagio Pirabas, Sua colegfio de fésseis de Capanema fol enviada re- centemente a0 Dr. W. Kegel, da D. G. M, do Dep. Nae. de Produg&o Mineral. ‘Com essas informagées complementares damos por en- cerrada a sinopse sdbre formacao Pirabas. NOTAS SOBRE UMA RECENTE EXCURSAO AO LITORAL E ZONA BRAGANTINA DO ESTADO DO PARA © objetivo principal dessa excurstio fol, conforme j& es- clarecemos no inicio deste trabalho, de coletarmos 0 maior niimero possivel de fésseis a fim de organizarmas duas cole- Ges paleontolégicas, sendo uma para o Museu Paraense Emi- Mo Geeldi e a outra para o Museu Nacional do Rio de Janei- ro, Entrementes, paralelo a esse trabalho de coleta, firemos algumas observacées sobre a formacéo Pirabas, que despre- tenciosamente apresentamos aqui, em carater informativo, € ‘que de certo modio servirdo para confirmar algumas das opi- mides e hipéteses j4 formuladas sbbre aquela formagéo ter- chara, Pata teaior sucesso dos nossos objetivos seguimes em parte 0 roteiro de Paulino F. Carvalho (1926), visando os pontos de coleta de amostras feitas por aquéle gedlogo. Co- letamos material em outtos pontos da zona bragantina (B. de Ferro), alguns j4 conhecidos na Nteratura sobre a forma- Go Pirabas, e outras inéditas. Sio as seguintes as localidades por nés trabalhadas: 1) Antiga Kstagio Experimental, Km. 150 di Estrada de Ferro de Braganca, distante 4 quilémetros da estacio de Nova Timboteun: 2) Sitio “Cassiano”, distante 2 quilémetros oeste da Estacéo de Nova Timboteua. 3) Bstaclio de Peixe-Boi, distrite pertencenté ao mu- nicipio de Nova Timboteua. “4) CAlelra, 5 quilémetros'da-Capanema, margem da ro- dovia Belém - Capanéma. = 1d FERREIRA & CUNHA — CONTRIB. A PALEONTOLOGIA Do EST. DO PARA &) Pocos abertos pelo Sr. Fritz Acketmann, em linha aproximadamente N-S, sendo o mais distante, 5 quiléme- tros de Capanema. 6) Tha de Fortaleza, Bafa de Pirabas, 8i0 Joao de Pi- rabas. t) Cidade de Salinépolis, 8) Igarapé Carapart, municipio de Joao Coelho. Na antiga Estagdo Experimental, hoje sob a jurisdigéo do Ministério da Guerra, seguindo as observagses feitas por Carvalho (1926), com facilidade conseguimes localizar © poco aberto por aquéle gedlogo em 1919, que por sta Vet se orien- tou por um outro poco, que fol aberto por Andté Gcldi, em 1908, 2 ent, diretor daquéle antigo estabelecimento, Os po- cos estavam completamente entulhados @ a distancia entre ‘um e outro ¢ aproximadamente de 6 metros. Esses pogos dis- tam mais ou menos 200 metros do leito da via férrea de Bra- ganga no quilémetro 150, A cota, segundo Carvalho, neste ponto, & de $8 metros acima do nivel médio das marés no Porto de Belém, Nesse ponto, mais abaixo 11 metros, abrimos ‘um pogo, cuja profundidade maxima atingida fol de § metros. Infelizmente 03 trabalhos foram bastantes prejudicatios devi- do ao grande infiltramento de agua, que causou por diversas ‘vezes, 0 desmoronamento das paredes laterais do pogo. Ba seguinte a sucessio das camadas desse poco: 1 — 0,80 — solo vegetal 2 — 0,00 — arela argilosa 3 ~ 0,10 — seixos rolados de quartzo 4— 0,90 — arela argilosa com blocos de arenito terruginoso. 5 — 0,75 — argila arenosa pardo azulada, 8 — 0,50 — caledreo fendithado, corroidos por cir- eulagio de aguas. ‘7 — 1,00 — argila plastica azulada, estrétificada ‘com pouces fosseis. 8 — 0,16 — blocos de caicéreo achatados, muito duro com poucos fésseis. oii: ‘BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI; GEOLOGIA N.° 2 9 — 0,20 — igual a camada % 10 — 0,20 — arenito caledreo fossilifero, _ Considerando que a diferenga de nivel desse poco para ‘@ que P. Carvalho abriu em 1919, ¢ aproximadamente de 1 m., ‘com um poutco mais de 0,50m., teriamos atingido as camatias caledreas mais fossiliferas desse local, Contudo fol compen- sador todo o nosso trabalho. Das camadas de argila azulada estratificada (7 8), apesat da raridade de fésseis podemos identificar fragmentos de Pelecipodos do género Pecten, com © material original da concha bem conservado, niio obstante a consisténcia delicatla ainda moldes de pequenas conchas do género Cardium. Estas conchas demonstram um esmaga~ mento, provavelmente por presséo das camadas superiores, considerando ainda a grande plasticidade daquela argila. Apesar da escassés de fésseis nas diversas camadas cal- ‘chreas, coletamos ravoivel quantidade de invertebrados e al- guns pequenos dentes, provavelmente de peixes. ‘Ainda no municipio de Nova Timboteua, abrimos um ou- tro pogo, localizado no sitio denominado “Cassiano”, de pro- priedade do Sr. Artemon Rolim, Esse local dista 2 quiléme- ‘tres da estacio da Estrada de Ferro daquela cidade, em di- rec&o oeste, préximo & projetata rodovia para Salinépolis, Aproveitamos a cota mais baixa daquéle terreno, e junto a um. pegueno igarapé, que permanece séco durante o verao, ini- ciamos as escavacdes. A profundidade maxima atingids fol de 325 metros, sendo ai aleancado um lencol dégua que em pouces minutos encheu o poco. De cima para baixo, sfio as seguintes as camadas: 1 — 040 — argila arenosa. 2 — 0,50 — arenito caleéreo fossilifero, duro, de coloragéo amarelo alaranjado, 3 — 0,10 — arela com um pouco de argila, azul esverdeada, com fragmentos de coste- Tas e cascos de quelénios. 4 — 0,65 — argila arenosa estratificada, esverdea- ds. $ — 1,20 — areia branca, gros artendondades. Lengol dagua. —Wwe FERREIRA & CUNHA — CONTRIB. A PALRONTOLOGIA DO EST. DO PARA © arenito caledreo, é muito rico em espinhos de Equino- dermos, Corais do género Flabelum, Briozodrios e alguns Mo- lustos. Provvelmente os restos de vertebrados estavam ori- gindriamente soldados @ essa rocha caleérea. Anotamos ainda fo caledreo a presenga de um pequeno crustiiceo decépodo. ~ Bsta nova ocorrincia da formagdo Pirabas, a mals afas- tada na direcéo S. W. da Estrada de Ferro, até agora conhe- cia, sugere para a fermacéo Pirabas, nesse ponto, um pro- ‘vavel limite terminando em praia, n&o 6 pelas carateristicas da sucesso das camadas, da pequena espessura da camada caledrea, bem como pela fauna peculiar ali encontrada. Es- tas informagdes vém teforcar grandemente as argumenta- ges de Maury (1924) © Petri & Oliveira (1952), que admi- tiram para o ambiente de deposic&o da formacdo Pirabas, ser de aguas rasas, limpidas, amblente neritico préximo a0 am- ‘biente litordnco, de mar aberto. O clima devia ser quente e a costa como hoje baixa, Continuando nossos trabalhos, seguimos para a estacio de Peixe-Bol, banhada pelo zio do mesmo nome, Esta estagéo fica a 11 quilémetros, por rodovia, da cidade de Nova Tim- boteua, em diregdio Leste. ‘Nesse Igar, fomos informados que mais ou menos 10 ‘anos atrés, fol aberto um poco para agua, sendo constatado ‘& presenea de calcdteo, na ‘profundidade de 10 metros. Com auxilio de um antigo morador, consegutimos localizar tal po- co, mas infeliemente completamente entulhado. Contudo ao redor déle, pudemos coletar varios fragmentos de um calci- reo, de coloracte creme, rico em fauna and, muito semelhan- te a.que ocorre na Estacéio Experimental (Km, 150 da B. Fer- 70). Fomos ainda informados que desse poco na ocasiio de sua abertura, fol retirado um esqueleto de peixe quase com- pleto. Prosseguindo nossa excursdo, seguimos para a eldade de Capanema, a fim de verificar ¢ coletar material das ocorrén- ciag caleéreas all existentes. A 5 quildmetros daquela cidade, margem da Estrada de rodagem Belém-Capanema, esté situa- da uma grande exposig&o de caledreos, que vem sendo indus- =i BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMILIO GORLDI; GEOLOGIA W:° 2 trislizado para a fabricagéo de cal. Na “‘caicira”, como & co- nhecido este local, pode-se notar a nitida estratifieacdo das ¢amadas de um ealeéreo creme, muito fine, cujs consisténcia tna parte superior € menor do que as camadas tals infertores. Ba maior exposicao caleérea conhecida dentro da formacso Pirabas, pols sua espessura ultrapassa de 6 metros. Sobre- posto ao caledreo, hé uma pequena camada de 0,50 m. de um arenito bastante coérente, rico em invertebrados fésseis, de pequeno porte, notadamente Pelecipodos dos géneros: Pitar, Cardium, Chione, Glycymeris, Scapharea © Cardita, caledreo, entretanto, apresenta pequena densidade fos- silifera, justificando assim, no ter Sioli (1951), constatado a presenga de fésseis em sua répida passagem pela caieira. Contudo, dessas camadas coletamos muitos espinhos de equi- nodermos, alguns pelecipotios ¢ gastrépodos, Nas caradas mats infertores, notadamente nos planos de estratificagéo co- letamos restos de vegetais (félhas), em relativa conservaciio. © arenito que ocorre acima das camadas caledreas apre- senta uma granulagéo de gr média & fina, com predominan- cia de gros angulosos. O cimento 6 caleéreo. Essa ocorrén- cia parece intiicar uma jprais. consolidada provavelmente a Uiltima etapa de deposighio da Tormagéo Pirabas, jé na re- gressio do mar, com certa influéncia de elementos tertestres, o.que reforga mals ainda « hipétese de proximidades da an- tiga costa. Conforme informamos em linhns atrés, o St. Fritz Ackermann, trabaltkamdo para o Plano de Valorizacéo da Amazénia, tem executado uma série de pooos 20 norte de Capaneme. Visitamos alguns déles, dos quais coletamos algum materlal, O primeito desses pogos distante aproximagamente 3 quildmetros de Capanema ,atingiu 4 profundidade de 6 m., sem que fosse observado @ presenga do calcéreo. Entretanto, Jogo adiante desse pogo, $00 metros mats ou menos, uma outra excavacio feita pelo mencionade geélogo, as camiadas ealcdreas aparece com pouco mais de 0,50 m. de profundi- dade. Os trabalhos de excavacio nfo tinham ainda termninado € 0 caledreo jé estava com mais de 2 metros de espessuira. Sua mS FERREIRA & CUNHA — CONTRIB, A PALEONTOLOGIA DO wST. DO PARA coloragéo € amarelo claro, com as primeiras camadas bas- tante friévels. De uma camada intermediéria, observames alguas blocos retirados e, os mesmos apresentavam urtia boa densidade de féssels, cuja fauna, num rapido exame, nos pa- rece bastante semelhante com @ fauna do litoral e da antiga estacdo Experimental de Nova Timboteua. Para 0 desnivelamento entre aquéles dois pocos quanto as camadas ealedveas, Ackermann, 6 de opintdo que tenha havido alf, um falhamento. I’ intenedo daquéle técnico fazer sondagens mais acuradss naquela drea, a fim de eomprovar ou néo sua opinido, Achamos vidvel, entretanto, para expli- ear tal fato, uma diferenciacio brusea ties isdbatas quanto a0 relévo marinho do antigo mar de Pirabas. E’ preciso ainda considerar, a grande irregularidade das espessuras das ¢a- ‘madas nos diversos pontos chservados da. formagao Pirabas. Adiante, em nossas conciusées finais, apresentamos uma su- gesto quanto & essas irregularidades das camadas. 0 tereeiro pogo por nés visitado dista céroa de 5 quil6- metres de Capanema, © valcéreo ali exicontrado é muito pa- recido com’o que ocorre no lugar “caisira”, porém um pouco argiloso, possuindo born contedido de fésseis, especialmente moluseos Pelecipodos, Equinodermos, e Crustéiceos decépodos. Dos Helecipodos, os mats encofitrados pertencem ao género Pecten, ein bom estado de conservagio, destacando-se a po- quenina @ graciosz concha Pecten agrondmica Maury, 1924, Recentemente © Setvigo Especial de Satide Publica (SESP) em sondagens efetuadas dentro da drea da cidade de Capanema, constatou que os sedimentos da formacéio Pi- rabas repousam diretamente sobre o eristalino, Em duas per- furagdes nfo muito distantes uma da ontra, @ granito fol testemunhado nas "profundidades de 14,9 e 23 metros, res- pectivamente. Por gentileza daquéle Servigo, foram-nos fornecidos os resultados daquelas duas sondagens, com os quais apresen- tamos a parte, as segdes colunares daquéles dois furos das sondagens, sendo que a distancia entre os mesmos 6 de 800 metros, numa linha norte-sul, cujas cotas do terreno so — 20 — 1; GEOLOGIA BOLETIM DO MUSEU PARAENS® EMILIO 19,5m. e 16 metros, respectivamente. Essas sondagens vie- ram reforcar as opinides de Oliveira & Petri, quanto ao mer- gulho para o norte da formacko Pirabas, bem como pela pre- senca do Cristalino a tio pouca profundidade, uma indica- co da proximidade da antiga costa que contornava o mar tle Pirabas, naquels drea de ocorténcia calcérea. Aquéles autores calcularam o mergulho dessa formagio, tomando por base © afloramento valedreo do Kin. 189,5 da Estrada de Ferro de Braganga, @ 38 metros acima do nivel do mar, cujo resulta do foi de 0,82 metros por quilémetro. Aquéle afloramento eal- eéreo & a ocorréneia da formacao Pirabas mais alta em re- Jaco ao nivel do mar, até hoje conhecido, Em contraste, cha- mamos @ atencdo para o furo n° 2 do local Lagdazifiha, em Capanema, cuja cota em relacio ao nivel do mar 6 de 16 m. Ali. camada caledrea foi testemunhada entre uma profun- didade de 12 a 16 metros, portanto ao nivel do mar. J& no furo n.° 1, distanciado apenas 800 metros do n.° 2, 0 calea- reo aparece 9 metros acima do nivel do mar. De Capanema, seguimos para Sio Joho de Pirabas, pe- ‘queno distrito pertencente ao municipio de Satinépolis. Esta poquens Vila, habitada quase que exelusivamente por pesca- dores, esta situada ta bafa de Pitabas, préximo a foz do rio do mesmo nome. Encontra-se afastada de Capanema e Salinépolis, 55 qui- Wenetros € 43 quilémetros, respectivamente, por estrada de rodagem. & 8 quilémetros, norte desta localidade, dentro ain- da da baia de Pirabas, esta situada a ilha de Fortaleza, loced das principals ocorréncias da formacéo Pirabes. Para maior eficiéncia dos nossos trabalhos ® coleta, ficamos acamnpados ‘no ponto denominado Fazenda, 2 quilémetros do extremo stil a iiha. Daste local coletamos copioso materis? paleontolégico, bem como de um outro local denominado Castelo, também citado na literatura sobre # formagao Pirabas, como “Ponta de Pirabas”, 3 quilémetros ao norte da Fazenda e ainda no extremio Sul da ilha, préximo a residéncla do proprictario da mesma, Este ultimo afloramento do calcéteo, pela primeira == FERREIRA & CUNHA — ConTRIE: A PALBONTOLOGIA DD EST. DD PARK ver citado, s6 ¢ visto com a maré bastante baixa. Neste ponto tomamos o seguinte perfil: 1 — 0,20 — arela (praia). 2 — 6,90 — argila pardo azulatia mostrando cxos- tas e concrecées ferruginosas em for- magao. 3 — 0,40 — cale&reo wm pouco arenoso, amarelo claro bastante fossilifero. 4 — 0,20 — argila pardo azulada. 5 — 0,40 — arenito caleifero estratificado pouco fossilifero. Dos fésseis coletados na camada n° 3, destacamos um dente de pelxe em excelente estado de conservacéo. Do local Fazenda, além da grande quantidade de inverte- brados, coletamos ainda restos de vertebrados e dentes diver- sos. Estas pecas estéo desordenadamente encerrades no cal- vareo amatelo duro € macico, sendo que alguns desses Oss0s apresentam-se parties, 0 que parece indiear que para tals ‘essos houve um transporte no muito pequeno e que provie- ram de zonas mais movimentadas, muito embora seja comum @ associagdio de restos vertebrados com conchas perfeitas de pelecipodos. Esse aparente contra-senso de se encontrar no ‘mesmo sedimento ossos quebrados de animais razoavelmente grandes, associados com frigeis conchas perfeitas 6 um forte argumento para comprovar as opiniées de Oliveira & Petri (1962), pols segundo aquéles autores o ambiente de depdsi- ‘do da formacio Pirabas foi de aguas de moderado movimen- to, nao suficiente para fragmentar aquelas conchas, explican- do a presenga de grande contetido de conchas fragmentadas na formagao do calcéreo, como provenientes de zonas mais movimentadas, anteriormente transportadas para alf, cara~ terizando, assim, um mar aberto e de éguas rasas, para 0 ambiente de deposig&o daquela formacao. Proxino wo pacote valoéreo da Farenda, aproximada- mente 50 metros, naquela ocasiée, estava sendo aberto um poco para égua, numa cota de metros acima do nivel da praia, que nos permitiu tragar-o seguinte perfil: — 2 1 — 0,80 — argila arenosa. 2 — 2,00 — argila arenosa manchada de vermelho pelo arenito ferruginoso. 3 — 0,90 — argila pardo azulado, com poues areia, 4 — 0,65 — argila cinza. 5 — 0,95 — caledreo arenoso cinza escuro, na par- te inalteravel e amarelo vivo na parte decomposta com fésseis pequenos, 6 — 2,60 — argila plastica négra com restos de vegetais piritizados, apresentando fra- turas espelhadas (SLICKENSIDE). 7,90 A profundidade util desse pogo é de 7 metros, sendo que os 90 centimetros restantes foram medides por introdugio de uma barra de ferro que nos serviu de sonda, abé tocarmos em algo duro, © capatar da fhe, nos ihformou que dé um furo feito nesse poco, naquela profunditiade (7,90), foi ex- traido um fragmento de roche dura ¢, diz éle que a mesma se parece com o calcdteo ocorrente da camada 5, Infelizmente néo vimos tal roche. ‘As camadas acima do caleéteo, provivelmente so sedi- mentos componentes da série Barrelras, em analogia com @ sec&o geolégica da Ponta do Castelo, feito por Oliveira & Pe- tei (1982). ‘Acamada n° 5 éa mesma que ocorre nos afloramentos da Ilha (Residéncia, Fazenda ¢ Castelo), abaixo das outras camadas calcdreas. Esta roche caledrea, cuja cdr original € cinza escuro, perde completamente essa carateristica com a proximidads da superficie, passando a amarelo vivo, pela maior atuaglo do Intemperismo quimico. ’ muito comum encontrar-se essa rocha miosttando as duas céres. Estamos convencitios, de ser ese caledreo arenoso a mais comum uni- dade litolgica da formagio Pirabas, prineipalmente no Ue toral, como 0 que ocorre em Salinépolis, Marapanim (Oll- velra’ & Petri, na descrigao da camada dessa localidade, cuja =e CONTRIB, A PALEONTOLOGIA Do EST. DO PARA espessura é de 0,55 m., dao para a mesma uma coloragéo azul em partes amarelas) e igarapé Camaledo, afluente do Pire- bas. &° possivel que outras ocorréncias caleateas com pequena espessuita mais para o interior possam ser igualadas petco- graficamente aquela camada. Essa suposigio é baseada na grande semelhanga existente entre 0 calcdreo com gros de quartzo amareto vivo, encontrado no sitlo Cassiano, de Nova ‘Timboteua, com a parte amarela do ealckreo cinzento escutd, ‘ovorrente na ilha Fortaleza. A camada n.° 6, de argila plastica negra € muito rica em material carbonoso, com restos de vegetais, que na sua mato- ria se apresentam piritizados, 0 que os tornam de dificil iden- tificagdo. Essa mesma argila pode ser observada abaixo das camadas calchreas na praia da Fazenda, bem como no Cus- telo, quando a baixa mar atinge o seu maximo, As fraturas espelhadas (Slickenside) foram causadas provivelmenté pela press&o das camadas superlores, Em tdda @ drea de ovorrén- cla da formagio Pirabas, entre o litorale a E. F. de Bragan- ¢a, até hoje, néo se teve noticia de qualquer perturbagdo nas camadas, que denotassem tectonismo post-miocénico. Petri (Fotaminiferos fésseis da Bacia do Marajé, Bol. n° 176 — Gedlogia 11, da Fac, Fil, Cién. Lete, da Univ. 8. Paulo, 1954, p. 11), apesar da incetteza das relapdes entre a f6ssa. do Marajée a bacia de Pirabas, admite com reservas re- lagées de falhamento entre as mesmas. Entretanto, no traba- tho acima eitado ¢ mesma pagina, lé-se: “A maioria desses talhamentos da féssa do Marajé, segundo informagées do sr. Merman J. Koch, nao atinge a superficie, desaparecendo a 1.600 metros de profundidade, Contudo, a falha que passa pelo Indo oéste da ilha Mexiana, atinge ® superficie, mos- ‘trando a reativagéo de falhamento, provavelmente no Qua- ternéio”. Das nossas observagdes na ilha Fortaleza, aliadas as an- teriormente feitas por P. F, Carvalho (1926) ¢ Oliveira & Petri (1962), apresentamos exquematizado, um corte da cos- ta Teste da ilha, desde o extremo Sul, préximo a residéncia do proprietério até ao Castelo, distancia esta de § quiléme- eat Wo BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMILIO GOBLDI; GBOIRGIA N.° 2 tros aproximatamente. A cota mais elevada é observada no barranco do Castelo, cuja altura € de 20 metros, ineduindo 0 pacote caleéreo, que ali aflora, O afloramento calleéreo de maior espessura da flha é 0 que ocorre na Fazenda (aprox. 4ms,), porém, de menot extenstio do que 0 de Castelo. A fauna que 0 calcéreo cinza escuro-amarelo vivo en- cerra, é bastante variada de ponto para ponto, sendo, porém, comumente encontratla a associagéo de Briozoarios, Equino- dermos (espinhos) e Corais. De Sao Joao de Pirabas seguimos para a cidade de Sali- népolis. Nesta cidade balnedria. fizemos diversas observagdes © proveltosa coleta de material fossilifero. A camada calea- rea pode ali ser vista num corte feito pela abrasiio, que des- montou os sedimentos sobrepostos (formacio Pirabas), for- ‘nando um barranco de 10 metros de altura. A sucessio das camadas désse barranco é a seguinte, de cima para baixo: 1 — 3,50 — argila pardo azulada arenosa. 2 — 0,30 — seixos mhidos de quartea, 3 — 3,00 — arenito branco muito friével, 4 — 2,00 — arela manchada de vermelho pelo are- nito ferruginoso. 6 — 0,80 — caleéreo com quartzo, cbr original cinza escuro, passando a amarelo, bas- tante fossilifero. 6— —argila négra plastica com restos de ‘vegetais piritizados. Paulino F. Carvalho (1926), apresentou igual perfil para esse local. Essa camada calcétea, litologicamente, & idéntica a que ocorre na tha Fortaleza (camada mais inferior), dota- da, porém, de um bom contetido de fdsseis. Desses, ressalta- ‘mos aqui, a descoberta, pela primeira vez, de um Seaphopoda, provavelmente Dentallium paulint Maury, 1924, até entéo, encontrado sémente na antiga Estagio Experimental de No- ve Timboteua. Este tnico exemplar por nés descoberte, possul fa metade de sua concha guardando detalhes de sua escultura —s— ‘Fenkerth & CUNHA— CONTRIB. A PALEONTOLOGIA Do x87. DO PARA externa, o que nao foi possivel verificar nos exemplares da E. Experimental. Como ressaltou Oliveira & ‘Petri (1952), 880 abundantissimos as espécimens de Foraminéferos (?) orbitoi- des nessa camada calcdrea miocénica. Comptementando aqué- les autores podemos informar que coletamos grande quanti- dade daquéles espécimens na ponta do Castelo da ilha For- taleza, Sobre a argila pléstica négra, que aparece logo abaixo do calcdreo, pelas suas caracteristicas, 6 a mesma que corre na itha Fortaleza, na baia de Pirabas, Na parte superficial dessa argila, que fica completamente coberta na préamar, encon- ttamos muitos nédulos € concregées limoniticas, originados por epigenia dos vegetais piritizados, pois muitas daquelas formas, quando quebradas mostram no seu interior 0 sulfeto de Ferro (Pirita) inalterdvel. Com referéncia ainda a essa camada de argila négra, in- dubitavelmente, da mesma idade que a formacio Pirabas ou mais antiga que aquela, queremos crér que houve um equi- voco na colocacdo das camacas da Seco de Salin6polis, feita por Oliveira & Petri (1952). Aquéles autores colocam acima do caleéreo Pirabas, uma camada de 8 metros de argila, com a seguinte descrigao: “Argila cinzenta escura, quase préta, mole, rica em material carbonoso; contém pirita”, posigao aquela que nao coincide com as nossas observacées (Ver Seco de Salinépolis), bem como as anteriores feitas por Paulino F. Carvalho (1926), isto se de fato, ser aquela argila descrita pelos autores acima, a mesma por nés observada abaixo da camada caledrea no barranco da praia, que também ocorre na itha Fortaleza (Ver eécte da itha). ‘Como complemento de nossas observagées, incluimos neste final, os resultados de uma recente excursdo que reali- zamos no Igarapé Caraparit, no Municipio de Joao Coélho. Em nossa sinopse sobre a formacio Pirabas, citamos 0 trabalho de Setembrino Petti (1952), que revela pela primeira vez, um novo afloramento ealedreo, como sendo_provavel- mente da formagéo Pirabas, ocorrendo no igarapé Garaparti, préximo de sua f6z no rio Guamé. Conforme salienta aquéle — 26 — BOLRTIM DO MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI; GEOLOGIA WN. 2 autor éste afloramento representaré, se confirmado, de acdriio eom 0s conhecimentos atuais, o extremo sudoeste da forma- co Picabas, amplianda em muito, a area conhecida daquela formagéo. Descemos esse igarapé, num percurso de 25 quilémetros desde a suas nascentes até préximo a sua {62 no rio Guama e, infelizmente, devido as grandes chuvas de inverno (dezem- bro a julho), elevando consideravelmente 0 nivel de todos os tios da regio, a tal ponto que quase nao se nota os efeitos das marés, néo conseguimos localizar a ozorréncia calcérea, que segundo o prof. Rocha Penteado (em Petri, 1952), corta, transversalmente 0 igarapé, formantio uma corredeira nas marés baixas, entre 800 a 1.000 metros a montante da f6z do rio Guam. Essa corredeira 6 comhecida no local com o nome de Tacajés. Em nossa subida de volta, fomcs informados da existén- cia de uma rocha parecida com que ocorre na corredeira, num pequeno igarapé chamado Quitéria, afiuente do Cara- pari. De fato, numa elevacio, A margem direita daquéle pe- queno igarapé, eérea de 200 metros de sua confluéncia com 0 Carapan, conseguimos localizac num antigo pogo para agua, um calcéreo branco amarelo, de aspecto brechoidle, com tédas as carateristicas do que ocorre na corredeira Tacajés, descri- ta pelo prof. V. Leinz, no trabalho de Petri, Esta nova ocor- réneia calcdrea situa-se a 8 quilémetros, igarapé acima da re- velada por Petri. Devido a fragmentacdo desse caledreo motivada por ca- taclase seguida por recristalizagdo parclal, 0 que indica ado de movimentos tecténicos (Lenz em Petri, 1952), prejudicou grandemente 0 estado de conservacao do seu contetido fossi- Iffero, Entretanto, em alguns blocos do caledreo, podemos identificar com seguranca alguns gasterépodos do género ‘Turtitela, cujas protoconchas esto recristalizadas e os mol- des externos revestidos de cristais mintisculos de caleita, espi- nhos de equinodermos, fragmentos de conchas de Petecipodos a FERREIRA & CUNHA — CONTRIB, A PALEONTOLOGIA Do EST, bO PARK e ainda um molde externo de Escafépodo, Dentafium, que pe- los detalhes esculturais deixados no molde externo parece aproximar-se de D. paulini Maury, 1924, encontrado no calcdreo da antiga Estacéio Experimental de Nova Timboteua. ‘Bssas novas descobertas, constituem mais alguns dados positives para a suposigéo de Petri (1952), que correlacionou ‘com reservas, 0 calcdreo de Carapari, & formacio Pirabas. DESCRIGAO DOS FOSSEIS Filo MOLLUSCA Classe. GASTROPODA, Ordem CTHWOBRANCHIATA Familia CYPRAEIDAR, Género CYPRAEA Linnaues, 1758 Cypraea macrovoluta n. sp. Est. I, figs. 1, 2,€ 2A Encontram-se na colegéo 3 exemplares de uma concha, cujos moldes internos esto relativamente bem conservatos, os quais pelos carateristicos presentes, mostra ser uma ¢s- pécle nova da familia Cyptatidae. Os carateres espeoitioos nelas contidos, se assemelham em varios pontos, parecendo fundir-se a0 género Cypraea, 80 qual se nos apresenta possuir intima relagio. H& conbado, certas diferencas que nos deixam em diividas, ao colocar esta concha no género acima relatado, ou em outro com a mesma afinidade de carateristicas. Os autores acharam por isso-de bom alvitre, consideré-la provi- soriamente, espécle do género Cypraea, pols este ¢ 0 genero 16ssil, a0 qual a nova concha melhor se encaixa. Existem no Brasil 2 géneros f6sseis da familia Cyprael- dae, que sto: Cypraer Linnaeus, 168, encontrados nos terre- nos do Cretdceo da Paratba e de Sergipo, ¢ também no Ter- clio — mioceno inferior, — Pard; Simnla Risso, 1826, géne- To que parece ser raro, encerra formas mui diminutas. Acha- se nas camadas do Terelario, do eoceno de Pernambuco. O — 28 — BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMILIO GOBLDI; G2OLOGIA N.° 2 género Cypraea tomou seu maior desenvolvimento a partir do Tereiério, ¢ fol ai, uma das formas do Filo Moluscos mais comum, principalmente no mioceno inferlor da formago Pi- Tabas, onde sobrepujou pela quantidade, todos os outros gé- neros. Cypraea pennae White fol a espécle que melhor repre- sentou seu apogeu, neste perfodo. A graciosa concha Cypraea pennae White, do antigo mar de Pirabas do micceno inferior, néo aleangou provavelmente tamanhos além de 45 mm, de comprimento, sendo, alids, © maior representante fdssil desse género nto Brasil. Os espécimens de Pirabas, colhides pelos autores duran- te a excursdo efetuada em 1956, Aquela formacho geoldgica, conquanto apresentem carateres especifioos distintos, que serviriarn pata eriar um género nove, ou entéo, cingi-los a um outro de mesma afinidade, concordaram os autores assim, em que permanecesse esta nova espécle no género Cypraea, como acima fleou esclarecido, Permanece, pols, provisoriamente até que se obtenham melhores dados especiticos diferenciais; ¢ coplosa fonte bibliogréfica, para completar de vez a sua po- sicdo sistemética na familia Cypraeidae. Ressaltamas, contu- do, que 0 aspecto dos moldes das conchas, deixam entrever mals ou menos nitidas afinidades ao género citado. De qual quer maneira os carateres especificos se diferenciam distin- tamente de todas as formas fésseis do género Cypraea que ocorrem no Brasil, e é assim que a devernes considerar, uma nova espécie para a formacéa Pirabas. Concha de tamanho médio a grande ou muito grande, pirlforme, carateristico este de profundo cunho especifico distinto, involuta, algo ventricosa. Maior convexidade ¢ ele- vacao, imediatamente apés o pice, este se acha ligeltamente aprofundade. Domo abruptamente truncado, como se fora uma péra. Abertura estrelta, mais ou menos como em Cypraea pennae, porém, néo muito Nexuosa, dirigida para o Apice; o Jabio externo com o bordo ligeiramente recurvaiio, apresenta ais de 30 crenulagdes, pelo menos no exemplar menor, os outros dois esto fragmentados ou muito apagades para se poderem perceber. As espiras estéo ligelramente rebaixadas, — FERRETRA & CUNHA — CONTRIB. A PALRONTOLOGIA Do EST. DO PARK mas nitidamente visiveis, largas e distintas; contam-se 4 a 5 ‘volias que vaio diminuindo gradualmente, quase bruscamente para.o centro, tal como em ©. pennae. Semelnantemente a es- ta, “a ittima volta forma a maior parte da concha; o labio interno liso (pelo menos assim se apresenta em dois moldes), posteriormente; columela com varias dobras anteriores, que ‘aparecem nos moldes, no lado posto, onde se estampam no Inverso como suleos obliquos”. A superficie da concha lisa, segundo se apresenta na impress externa, o que evidencia até certo ponto intima re- lagiio com ©. pennae e outras espécies provavelmente, afins do género Cypraea, Existem na colecéo 3 espécimens, que se apresentam em 3 tamanhos: o menor exemplar possui 80 mm. de comprimento e 60,5 mm. na maior largura, e se encontra em bom estado de conservagio; 0 modélo de tamanho médio, um tanto maior que o precedente, se acha parcialmente com a base fragmentada, que impossibilita bom indice de medi- das, mas dela tiramos o seguinte: comprimento 80,5 mm. e na sua maior largura mostra 90 mm.; enfim, 0 titimo espécimen muito grande, maior que os anteriores, assim especifica as suas medidas: 120,5 mm. de comprimento, e apresentando na maior largura 110 mm., apesar disso suas espirais se en- contram fragmentadas bem como a ponta da base da colu- mela. Aqui se nos apresentam exemplares de 3 tamanhos, indi- cando notavel sequéncia de dimensdes em medidas graduais, que alias, podem significar estagios de creseimento, ou ent&o, simples vartag&io Individual de ocorréncia relativamente co- mum. Em verdade este caso ocorre com muita frequéncia, justamente no género Cypraea, j4 antes observado por White e C. Maury, e tiltimamente pelos autores, na colecio nu- merosa que representa a espécie C. pennae (White), apresen- tando-se como o gastrépodo mais comum encontrado no cal- creo da formacao Pirabas. A variacio individual nesta espé- cie, 6 de notavel frequéncla, indo desde formas dimiriutas, até exemplares medindo 50,5 mm. de comprimento, em alguns es- — 30 — pécimens coletados pelos autores, Indubitvelmente um gi- gante da referida espécie. ‘A nova espécie que acabamos de estudar, e que agora se reune a J4 extenisa lista dos fdsseis do 'Terciério de Pirabas, & entre 0s gastropodos desta formacdo geolégica, um dos maio- res que se tem conhecimento, e deveria ser quando viva, ar- ‘rastando-se no mar raso miocénico, um lindo ornamento en- tre outros intimeros séres que pululavam naquelas placidas Aguas, . Localidade tipo: Lugar Fazenda, ilha Fortaleza, baia de Pirabas. ‘Tipo: exemplar n.° 357-I, M. P. E.G. (maior espé- cimen). Pardtipos: exemplares n.° 368-1, M. P. B. G., n° 4.588 -1. M,N. Familia STROMBIDAE Genero STROMBUS Linnaeus, 1758 Strombus goeldii n. sp. Est. II — figs. 4,5e6 ‘Na colegio se acham 4 impressdes, de uma concha, que indubitavelmente se relaciona intimamente ao Strombus al- ‘drichi Dall, 1890, Strombus bifrons Sowerby, 1849, e Strombus chipolanus Dall, 1890, todos ocorrentes no caleéreo de Chi- pola na Flérida, Estados Unidos, H& ainda além destas, outras formas que podem ser relacionadas a espécie nova de Pirabas, como por exemplo o Strombus galiformis Pils. & Johns., 1917, encontrada no mioceno inferior de S. Domingos. Se porven- ‘tura outras formas existem, que possuam estreita relagio de- finida com o nosso espécimen, no foi possivel aos autores, encontrar abundante bibliografia nas quais figurassem tals espécies. Apesar deste obstéculo, seguimos tanto quanto pos- sivel, as descrigdes originais de outros autores, ou redescricdes das espécies em f6co, Carlota Maury faz alusio ainda, a “uma pequena espécie, Strombus gatunensis Toula, tas camadas do Gatun, porém, eséa tinha uma espira mais curta e mais longa, diferentemen- ‘te esculturada”. =a — FERREIRA & CUNHA — CONTRIB. A PALEONTOLOGIA DO EST. DO PARA Positivamente, 0 novo Strombus de Pirabas, que ora des- erevemos, se diferencia nitidamente de. todos os outros que acima citamos. Intimeros carateres especificos, imediata- mente nos induziram & considerar esta. impressio fossilifera, ‘como uma nova forma para a formagio Pirabas, Sem diivida alguna, ela se relaciona intimamente, como antes referimos, ‘as espéctes que ocorrem nas camadas caleAreas do Terclério da Fiérida, Gatun, 8. Domingos e Jamaica. A concha deveria apresentar quando viva, tamanho re- gular ou pequena, provavelmente do tamanho e aparéncia do Strombus bifrons Sowerby, 8. alttichi Dall, ¢ S. chipolanus Dall, porém, déles se diferenciando por possuir as espiras em mimero de 9, mais elevadas ¢ fortemente pontuda no Apice, turriforme. As voltas so regularmente esculturadas de cos- telas tuberculadas, moderadamente dispostas, longitudinais, arredondadas nas tltimas, espagadas, mais ou menos em nt- mero de 8, que se adelgacam e se unem mais estreitamente, para o pice, em maior mimero, mal se deixando perceber. AS voltas em diregeéo ao épice ¥a0 diminuindo de tamanho, para se tornar fortemente afilado. ‘Téda a superficie da concha apresenta estrias finas e mais ou menos nitidas (em alguns moldes), ¢ em espiral. Ultima volta larga, dilatada, abarcando pentiltima volta, em forma de asa; esta em sua quase ex- tremidade ou bordo, apresenta uma varice, mais ou menos distinta, que ver da sutura com a pentiltima volta, em dire- fo & base ou canal sifonal, As estrias ou linhas na ultima volta so mais nitidas, alar- gando-se gcaduaimente, cruzando mesmo a varice, expan- dindo-se mais fortemente para os lados opostos, como em Je- que; na cintura da espira corporal, no infclo da volta, acham- se 3.a 4 tubéreulos mais ou menos salientes, 0 do centro maior, Em cada espira, h4 uma faixa estreita ligeiramente aprotundada, imediatamente anterior a sutura linear distin- ta, com 2 estrias, margeadas por leve sulco. As dimensées dos exemplares do novo féssil do mioceno de Pirabas, assim se apresentam: espécimen tipo, altura da Altima volta 33 mm. e maior largura 35 mm., paratipos, espé- — 32 — 1L10 GOELDI; GEOLOGIA W.9 2 cimen n.° 360 - I, M. P. E. G. altura das voltas espirais 24 mm., maior largura 25 mm., espécitien n.° 4.5891, M. N. altura de ditima volta 30 mm. ¢ maior largura 30 mm, Localidade tipo: lugares Fazenda e Castelo, distanciados um do outro, na itha Fortalera, bala de Pirabas; Salin6polis mais afastado ainda, ‘Tipo que serviu para a descrig&o: Fazenda, ilha Forta- Jera, exemplar n.° 359-1, M. P. E. G. Paratipos n.° 360-1, M. P. E. G.; n.° 4.589-1, M. N. Carlota Maury estudando em 1924 os fésseis de Pirabas, classificou um Strombus que relatou-o ao Strombus ef. al- drichi Dall. Logo apés a descrigsio ou redescrig&o do exemplar, chamou ela a atencdo de futuros pesquisadores, para o seguin- te fato, escrevendo: “Esperando que se possa achar um mol- de mais completo, porém, este fragmento, sugeré a presenca de wm representante de um género parente do Strombus al- @richi, de 8. bifrons e do aliado modero 8. columba dos ma- res orfentais”, Sabemos assim que, aquela autdra com os poucos fragmentos que possuia, quis identificar a espécie como Strombus ef. aldrichi Dall, do mfoceno de Chipola da Florida, Isto foi felto em diivida por conseguinte, segundo se 1é nas entrelinhas acima referidas. Os autores so acordes que © exemplar de Maury, nio coincide com 0 de Chipola, por vi- siveis carateres diferenciais. Por outro lado os nossos esp& cimens muito menos se njustam As descrigées ou figuras, tan- to o daquela autéra como o da Flérida. E’ possivel que aquéle molde de Pirabas, seja também uma forma nova, como ela 0 sugere, porém muito préxitma dos espécimens das localidades citadas. Também o € igualmente patente dos nossos novos espécimens, Néo queremos apesar disso, derrubar o nome da espécie dada e identiticada por Maury, pols ndo postuimos elementos no momento, necessarlos para tal empreitada. As novas im- pressdes que ora estudamos nao nos fornecem motivos para que assim decidissemos, visto se tratar de formas que apre- sentam outros carateres que nos impelem a consideré-los di- ferentes, distintos, ¢ por isso identificd-los como espécte nova. — 33 — FERREIRA & GUNHA — CONTRIB, A PALBONTOLOGIA DO EST. DO PARA Delxamos inedlume a, classiticagio de Maury, sem mais con- sideragdes @ expOr no. momento, julgando assim o bom senso, s autores acreditam néo deixar diivida alguma, ao con- siderar 0 novo Strombus de Pirabas, parente préximo das formas encontradas nos caledreos das localidades referidas, e, presumivelmente do exemplar identificado por Maury. & es- pécle nova que no momento estudamos, apresenta, pois, inti- ma relagdo com as formas de Strombus jé citadas, mas delas se diferenciam por varios’ carateristicos que assim distingul- mos resumindo: — espiras mais altas, delicadas, com pice afilado, turriforme; estrias das voltas néo téo fortes como nas espécies referidas; apresenta nitida vérice no bordo an- terior da primeira volta; costelas nodulares, arrendondadas, si- tuadas nas voltas, mais ou menos como em Strombus gallifor- mis Pils & Johns.. Allés, diga-se de passagem, que # espécle de Pirabas se assemelha em alguns pontos, a esta forma do terclério de S, Domingos, mas dela vai imediatamente se afas- tando por distintos carateres, que acima aludimos. Os auto- Tes concluem que 0 novo Strombus de Pirabas, é uma espécie afin do Strombus aldrichi Dall, do Strombus bifrons Sowerby, do Strombus gallifermis Pils. & Johns.. Carlota. Maury, além de referir 0 Strombus ef. aldrichi Dall para o calcdreo de Pirabas, faz alusdo de uma outra es- pécie, bastante robusta, provavelmente gigante, como ovor- rendo também nessa formagéo, e que classificou como Strom- bus cf. gigas Linnaeus, comparando-a a esta forma atualmen- te vivente, com poucos fragmentos e além do mais imperfei- tos. Os autores até 0 momento, apesar da grande colegio de fossels de Pirabas, que tém em estudo, néo tiveram ainda a sportunidade de encontrar mais impressdes no caleéreo, que viessem de fato confirmar a ocorréncia de Strombus ef. gigas Linn, como féssil dessa formagao. —4— ROLETIM DO MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI; GKOLOGIA ¥. 2 ‘Familia, XANCIDAE Género XANCUS (Bolten) Roeding, 1708 Xameus amazonianum n. sp, Est. IL figs. Te 8 As espécies de Xancus que ocorrem no micceno inferior da Fiérida e de S, Domingos, e bem como no plioceno daquela mesmo formacdo, 0 foram iguaimente achados no mioceno da formacdo Pirabas, e posteriormente identificados por C, Maury. As novas formas fdssels classificadas por esta notAvel pa- leontologista, foram Xaneus brasilianus Maury, 1925, Xancus gratus Maury, 1925, e mais 3 outras espécies “que a autora nio determinou, por motives varios. Na grande colegao de f6s- sels da formagéo Pirabas, colhidos pelos autores no curso de bem delineada exeursio, através a extensiio desta formacao, tivemos © ensdjo, apés acurados exames e detidas compara- (96es, de achar 2 moldes externos e virios internos, de uma es- péeie que indubitavelmente pertence ao género ‘Xancus, de larga distribuigée nas camadgs miocénicas de vérias locali- dades. Estes exemplares apresentam iniimeras ¢ bem nitidas diferengas, ao comparar-se com as espécles referidas por Mau- ry, igualmente nao se ajustando as formas indeterminadas, que figaram em seu traballio, Achamos, pots, que ai, ndo era possivel inserila de modo justo, Aproxima-se, entretanto, multo, da espécle Xancus validus (Sowerby, 1849), e da sub- espécie X. textilis jamaicensts Pilsb. & Johns., diferindo, po- rém, destas, por possuir carateristica geral melhor contor- nada, aparéneia mais delicada € oom ausénela de sulcos, tu- vércules ou vutros idénticos ornamentos, Efetivamente ¢ afim destes dols Xancus, © que vem indicar ® intima relagio exis tente entre faunas féssels de épocas geoldgicas, de larga dis- tribuigio, e nos tempos atuais geograficamente distanciadas. Considerando este fator de profunda importancia, achat o& autores que ‘girao acettadamente, levando em conta tal ob- servagao. Apesar de 0 espécimen apresentar nitidas afini@ades Aquelas formas jé citadas, e visivels dessemelhancas distintas, 35 — FERREIRA & CUNHA — CONTRIB. A PALEONTOLOGIA DO BST. DO PARA decittimos por estas identifcé-Io como uma espécie nova, que Sereria ocorrer no mar de Pirabas. Em dois pequenos locos calcéreos, um maior ¢ outro menor, encontramos esta grande € interessante espécie, que apesar de bem preservados, se acham um tanto incompletos. Estéo presentes de modo bem visivel, as espitais desde a pri- meira volta, destruida em parte esta, até o apice. Concha de tamanho grande, moderadamente alongada ¢ pontuda no pice. As uiltimas voltas, ja em sua extremidade, sao ornamentadas por estrias mui delicadas, quase impereep- tivels. Nas espiras apicais notam-se costelas insignificantes, ou tubéreulos costelares, que mal se pereebem. No aspecto geral, a concha é obesamente fusiforme, forte, voltas nitidas com sutura distinta, como em Xancus validus (Sowerby, 1849), do mioceno de 8. Domingos. As voltas séo em ntimero de 8 @ 10, que espessas e largas na base, vo gradualmente se afinando para o pice. Aquelas séo fortemente contorna- des, superpostas, sutura nitida ¢ distintamente sulcada. Apre- sentam suave ratmpa, mais largas nas voltas maiores, diminu- indo delicadamente até desaparecerem, ao despantar as ulti mas yoltas, As rampas na superficle, mostram ténues linhas axiais, principalmente nas voltas maiores. No corpo das vol- tas, existe, no meio entre uma sutura e outra, uma linha de- licada ligelramente suleada, que acompanhando aquelas, se dirige para o apice. Esta nova espécie é descrita de acérdo com os moldes em massa, dos dois exemplares que se encontram algo fragmen- tados, Tentamos tirar-lhes as medidas, e no exemplar melhor preservado estimamos mais ou menos em 80 mim, 0 seu com: primento. Isto fol obtido, no molde camo se acha, pols a parte basal com a metade da volta maior, esto destruidos. A con- cha completa deveria possuix talvez 110 mm. de comprimen- to no maior espécimen, 40 mm. na maior largura. No outro molde temos 50 mm. de comprido na parte preservada, ¢ 38 mm. da maior largura. Os moldes estéo incompletos ¢ portante n&o’é possivel aparecerem as dobras da columela, mas io molde interno — 36 —

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