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PATROCINIO NA DIVERGENCIA A RESPEITO _ GYR et DA ANALISE DE CRIANCAS ENTRE MELANIE KLEIN E ANNA FREUD - 1927-1932 JOSEPH AGUAYO, LOS ANGELES, CA As contribuigdes elinicas iniciais de Mela- nic Klein, depois da Primeira Guerra Mundial, para compreender a crianga antes da fase de le- ‘Gncia, hé muito foram reconhecidas como um aspecto importante de mudanga na teoria € na pratica psicanaliticas, em dirego & relagao do bebé com a mae. Essas inovagoes também for- neceram a estrutura das posigies “evolutivas” anteriores 20 pesfodo de laténcia, ampliando 0 trabalho de Karl Abraham, que se aplicava & compreensio ¢ ao tratamento da psicopatologia de adultos. A tarefa que aguarda o historiador da psicandlise consiste em forecer uma explicagéo mais robusta de como essa mudanga comecou, no final da década de 1920, e que amplia as ava- iagdes kleinianas (por exemplo, Segal, 1973: Caper, 1988) que dao atengio exclusiva a man¢ 1a particular pela qual um conjunto de idéias ¢ nicas se iniciou, Uma abordagem hist6rica ‘mostra como uma progressdo de idéias pode se constituir a partir de varios outros fatores ~ pes- soais, afetivos ¢ organi: onais — que geralmen- te nfo so levados em conta nos relatos psicanaliticos mais convencionais. Uma visio revolucionéria sobre © brincar das criangas pequenas foi central nas inovagées clinicas de Klein (1932) no perfodo que culr- nou em sua primeira monografia. A psicandlise de criangas. Ela estabeleceu conexdes entec 0 trabalho de Freud com o pai do pequeno Hans, que serviu como analista do filho, a hipétese fun- damental de Karl Abraham ligando o espectro da psicopatotogia psicstica grave com fixagdes psi- ccossexuais primitivas e as observages importan- tes de Hug-Hellmuth (1921) sobre 0 uso de brinquedos como via de acesso & vida mental in- trapsfquica da crianga antes da fase de leténcia, Considerando 0 brincar como uma exterioriza- ‘gio de procestos intrapsiquicos de fantasia, Klein forneceu algo que pensou ser um precursor da associacao livre verbal, usando dados da andlise e criangas pequenas como prove conjetural de conflito mental precoce, os verdedciros precur- ‘sores ¢ ponto de apoio para as idéias de Freud sobre a estruturagdo do superego da crianga na laténcia, Numa comunicagio anterior, que reconhe~ cia a natureza transformadora das descobertas de Klein, também enfatizei a imporiéncia do patro- cinio em seu trabatho inicial de 1914 2 1927 (Aguayo, 1997), Resummidamente, argumentei que, para dar uma explicagio hist6rica adequada de ‘coro Klein se tornou uma forga na teoria e na pré- tica psicanaliticas, também foi preciso explicar em detalhes como Klein floresceu, sob os auspf- cios de és relagSes analiticas/patronais, antes de estabelecer sua autoridade clinica independente: 1) A partido sev trabalho e da andlise com Sandor Ferenczi, entre 1914 ¢ 1919, gue reco: mendou que ela fizesse abservagdes de criangas Foi por forga desse encorajamento que Klcin, como pedagoga, escreveu © apresentou seus pri ieiros artigos sobre criangas na Sociedade Psi- canalitica de Budapeste, em 1919. Por meio da intercessio de Ferenczi, Klein foi apresentada a Karl Abraham no Congresso da Associagio Psi- canalitica Intemacional, em Hague, em 1920. 2) Quando Klein se mudou para Berlim (1921-1926), foi supervisionada como analista leiga ¢ finalmente tratada por Karl Abraham. Ela 282 JOSEPH AGUAYO claborou mais ainda seu trabalho, fazendo hipé- teses sobre 0 papel das fases pré-genitais de de- senvolvimento na origem dos distirbios neurdticos em criangas. Apoiada pela conviego de Abraham de que se poderia fazer intervenes analiticas em criangas antes do periodo de fatén- cia, Klein apresentou seu primeico trabalho inter nacional no Congresso de Salzburgo, em 1924 Ficou claro, no entanto, que seu trabalho s6 po- deria florescer enquanto Abraham presidisse as facgdes dissidentes no Instituto de Berlim. 3) Quando Abraham morreu, no dia de Na- (al de 1925, Klein percebeu que nfo tinha futu- 10 no Instituto de Berlim, j& que seu trabalho com criancas agora estava sendo objeto de cri ticas injuriosas (Grosskurth, 1986, p. 121-2). Nesse momento critica, Klein eceitou com satis- fagdo a protegao oferecida por Emest Jones. Como colega mais nova, menos conhecida, Klein aceitou a relagio de dependéncia de um analista ‘médico reconhecido, em posigao de ajudé-la. Foi Jones quem encorajou Klein a emigrar para Lon- res, em 1926, encaminhou-lhe pacientes, ofere- ccurthe lugar para fazer conferéncies e ensinar, bem come espago para publicagao nas paginas do International Journal. Como 0s pontos de vista de Klein ganha- ram ascendéncia em Londres? E como, além das suas inovagbes clinicas ¢ tebricas, figuras impor- tantes da Sociedade Psicanalitica Britanica ajuda- ram a estabelecer sua autoridade clinica entre 1927 © 1952, que foi o ano posterior a sua pas- sagem para analista didata? Em resumo, como Melanie Klein tomou-se a “Sra. Klein”? A feliz, recepcio dos pontos de vista de Klein pelos membr6s da Sociedade Britanica é ainda mais surpreendente quando se leva em conta que suas ‘eorias jé no eram bem recebidas em Berlim, depois da morte de Abraham, ¢ eram vistas com ceticismo em Viena, Por outro lado, as teorias analiticas de Anna Freud tiveram uma recepgio Positiva retumbante. Seus pontos de vista logo se tornaram representativos da escola vienense de andlise de criangas, tanto no Instituto de Viena quanto no de Berlim Este estudo dirige-se a ambas as circuns- ‘ancias, de patrocfnio e de defesa clinica do tra- bbalho com eriangas, de Melanie Kicin, em Lon- dres, em contraste com o pano de fundo das teo- rias de Anna Freud, em Viena. Primeiro, obser- ‘vo as principais pessoas que apoiacam Klin ~ Jones como patrono, Riviere ¢ Glover como de~ fensores clinicos. Aqui, a principal distingao é entre uma figura poderosa de autoridade, que reiine tipos essencisis de apoio —organizacional, nanceiro ¢ clinico ~ ¢ os que apenas defendiam as idias publicadas de um autor espectfico, Mi: nha hipétese € de que a compreenséo da natureza da rede de patrocinio e de defess, como apoio social externo em favor de um autor especifico, € um adendo necessério para entender como as teorias clinicas, especialmente no comeso, tor- rnam-se influentes. Em segundo lugar, quero exa- Iinar a evolugao interna dos conceitos e das té- nicas analiticas de Klein e de Anna Freud, na ‘mancira como se refletem em seus artigos € monografias, entre 1927 ¢ 1932, para poder ‘compreender a defesa apaixonada que influiu nas caricatures muitas vezes restrtas ¢ unilaterais dos pontos de vista de cada uma. Um objetivo desta investigago é, a longo prazo, procurar compreen- det a controvérsia Kicin-Anna Freud para ter uma comprecnsio mais satisfatéria da aimosfera be- licosa que resultou na divisao em trés partes do Instituto Britanico, depois das Discussbes sobre as controvérsias (1941-1944). Apesar da atmos- fera extremamente tensa subjacente as diferen- as conceituais ¢ técnicas polarizadas entre os grupos de Klein c de Anna Freud, nfo houve fragmentacdo organizacional levando & fundaco 4c insttutos seperados, depois que os Freud se mu- daram para Londres, logo apés 0 Anschluss da Austria pelos nazistas alemaes, em margo de 1938. Descrevendo o pano de fundo do campo cemergente da anélise de criangas quando Klein, pela primeira vez, articulou suas diferengas téc- nicas ¢ conceituais com Anna Freud, em 1927 havia uma mukiplicidade de fatores, inteloctuais, afetivos e organizacionais, que levaram a uma recep¢o harmoniosa em Londres, de maneira ‘que Klein pode elaborar urna progressio de idéias analiticas com respeito & crianga antes da fase de latGncia, Tendo Karl Abraham como mentor, cla accitou entusiasticamente a hipStese analitica do trabalho dele com adultos de que a origem das neuroses (€ de outras patologias psicdticas mais graves, tais como a “doenga bipolar” dos esta- dos manfaco-depressivos) poderia ser agora i | | DIVERGENCIA ENTRE MELANIE KLEINE ANNA FREUD NA ANALISE DECRIANGAS — 283 compreendida diretamente por meio do trabalho analitico com criangas pequenas. Na época de Berlim, Klein apoiou-se no tra- balho de Freud (1909, 1918) com o pequeno Hans © com 0 Homem dos lobos a respeito da conjuntura especifica na qual ele havia comeca: do a estabelecer que o surgimento das dificulda- des nevréticas de pacientes adultos se dava em periodes ainda mais precoces de infancia. O pe- queno Hans tinha cinco anos quando foi tratado por causa da rivalidade edipiana subjacente & sua fobia de cavalos. Freud formulou entdo a hip6- 11 tese de que as dificuldades obsessivas do Ho- {jymem dos lobos surgiram do fato de ele ter visto i\]a cena priméria aos 18 meses de idade. De cer- || to modo, Freud ter colocado a origem das neu \\ roses no perfodo anterior & laténcia significava ‘que maternagem estaria, de fato, implicada na compreensto explicativa das neuroses (Segal, 1979). Com certeza, desde Freud, ¢ também de- vido a seu sucesso 20 analisar 0 caso do peque- no Hans, criou-se um precedente de autoridade para o tratamento ¢ 2 compreensdo de criangas, ¢ foi apenas questio de tempo para que outros analistas fizessem o mesmo, como Ferenczi (1916) fez. com seu estado do “Pequena Galo”. A psicanélise de criangas no existia como om dominio disciplinar separado até que Anna Freud e Klein impusessem suas premissas te6ri- ccas para estabelecer sua autoridade hegem@nica. A crianga no existia enquanto sujeito autonomo da anélise, s6 como instrumento de verificaga0 da correo da teoria analitica éc adultos (Frank, 1999). Com o trabalho de analistas leigas mulie- res como Hug-Hellmath, Klein ¢ Anna Freud, na década de 1920, finalmente a andlise de criangas cemergiu como subespecialidade especifica, em Viena ¢ Berlim. 0 fato de mulheres analistas al: mis comegarem a dar contribuigdes significati- vas na irea da compreensdo € do tratamento direto de criangas, depois da Primeira Guerra ‘Mundial, tomou fmpeto parcialmente a partir das hipéteses patriarcais existentes a respeito do Tu gar das mulheres." AS ORIGENS DA DIVERGENCIA SOBRE ANALISE DE CRIANGAS ENTRE KLEIN E ANNA FREUD Em 1927, Anna Freud publicou sua primei- ‘ra monografia, que elucidava seus pontos de vista te6ricos e técnicos no campo emergente da and~ lise de criangas. Nao s6 ela consultou seu pai com respeito 2 viabilidade analitica das premis- ‘sas propostas, mas também fez uma série de con- feréncias sobre andlise de criangas para os candidatos do Instituto de Viena. Além disso, partilhou seu trabalho com colegas tais como Bemfeld, Aichhorn e Hoffer, que estavam inte- ressados em questdes sobre criancas ¢ tinham cencontros com ela nas noites de sibado na Ber ‘gasse 19 (Young-Bruchl, 1988). Em Einfithrung in die Technik der Kinderanalyse (1927 — Introdugio & técnica da anélise de criangas), Anna Freud (1974) expés ‘uma argumentagdo compacta a respeito da ma- Paralolamonte a esse trabaino, houve un movimente Roeralfeminista em toda a Europa que tornou possval as mulheres entrarem em tacuidades prafissianais, como medicina, no fin-de-siécle. Ovtras analisias como Helene Deutsch e Karen Horney estavam entre a primeira geragao de médicas muheres cujo Wabalho e esciits sobre & papel de matermagem e do desenvolvimento feminino entre suas analisandas e colegas mulheres comeyou a ter ‘im impacto depois da Praneira Guerra Mundial (Thompson, 1987). Juntamente com analistasfigastais como tetanic Kloin e Anne Freud, @ nova éntase sobre o papel da matemager apoiou-se nas experiéncias dessas mulheres, tanto como mes quanto come protessoras, sob cujo culdado as ctiangas eram eniadas ov supentsionadas (Sayers, 1931), Com ou sem diploma, as mulheres, de modo geral, foram igualadas com a matecnagem e fizoram sentir suas contrbuigdes nas consequéncias da guerra, durante a qual se abrrem novas oportunidades para elas, enquanto fos homens estavam na guarra. A era pés-guarra viu o advento de modelos de andlise mais contrados na ‘materidade propostes pelas mubheres que enfatizaram 0 trabalho da mulher no euidado das criangas assim como, fenquanto mes, servi como primeiro objeto de amor, de apego e de conhecimento para a crianga. Os trabalhos de Molanie Kisin, Anna Fraud, Hélone Dautsch e Karen Homey, apolados em suas experiéncias de motecragem ~ ‘quer enfatizassem a aversso, adoragSo, cjcigdo ou ambivaléncia do papel da me no esenwolvimento do seu fio = tansformaram a tooria © a prétca psicanaliicas legadas por Froud (Syer, 1991, p: 19)- 284 neira pela qual as eriangas no perfodo de ta cia (de 6 2 11 anos) poderiam ser tratadas ane liticamente. Assumindo uma descontinuidade bésica entre a andlise de criangas ¢ a de adultos, a tarefa do analista era copiar tanto quanto pos- sivel as condicdes de tratamento reinantes 1a andlise de adultos. Ela s6 recomendava anélise de jangas em casos de perturbagdes neuréticas localizadas (por exemplo, obsessdes, fobias, ini- bigdo excessiva); posigao baseada na distingao ‘que seu pai fazia entre neuroses analisaveis ¢ dis- tirbios psicéticos/narcfsicos ndo analisdveis. Aol descrever seus jovens analisandos dependentes, Anna Freud os via vindo & anélise involuntaria- mente, no tendo insight verdadeiro nem qual- ‘quer lembranga histérica reat de. como seus sin tomas evoluiram. Come a crianga ficava apreen- siva com 0 inicio do relacionamento com uma pessoa estranha, Anna Freud recomendava tm “perfodo preparatério”. durante 0 qual 0 analis- ta tentava fazer a crianga “se apegar afetivamen- te” a si, criando um ambiente receptivo (1974, p. 7-8). Com esse intuito, 0 analista se tornava alguém til e que ajudava 2 criange Da mesma maneira que Hug-Hellmuth (1921), com quem Anna Freud tinha trabalhado tem Viena, ela faria tarefas ou brincatia com jo- 20s do interesse da erianga, De mancira geval ela rio interpretava imediatamente o materia in- consciente, considerando que a crianga ndo tinha JOSEPH AGUAYO ccondiges de associar livremente a nao ser quan- doo tratarento estivesse bem adiantado. Ao cor trério, Anna Freud recomendava 0 uso de desenhos feitos pela crianga ou andlises limitadas de devancios. Gradativamente, as criangas eram ajudadas a se interessar por sonhos por meio da sugestao de que eram como quebra-cabeg2s, en! que cada poga vinha de um lugar. Montar 0 qua~ ‘dro paca formar uma interpretago satisfatéria era uma tarefa conjunta (A. Freud, 1974, p. 24-5). Ela também documentou sua preocupacdo com 0 ambiente familiar da crianga, especialmente porque a crianga ainda dependia muito dos pais. ‘Como as primeiras experincias de relagies afe- tivas da crianga com os pais ainda estavam ocor- rendo, s6 se poderia realizar uma quantidade limitada de trabalho com as reagbes de transfe- ‘éncia negativa ao passo que as positivas eram construfdas pela confianga. O mesmo valia para ‘0 superego ~ ainda in statu nascendi, existindo s6 de forma rudimentar e que s6 poderia ser analisa~ do, portanto, de maneira fragmentéria ¢ cuidado- sa. Pocfim, a analst permanecia sensivel, de forma constante, a0 ambiente familiar em que a crian~ a vivia, pereebendo que a andlise dependia da ‘cooperagao dos pais (como Anna Freud chamau. teis enquanto uma espécie de “servigo permanen: te de noticias” sobre a crianga) (1974. p. 46)2 Espathadas ao longo do texto de Anna Freud, de 1927, também hé uma série de obser- 2 No pevodo que deconeu alé a wonografa seguint de Anna Freud, Entrung in i Payehoanalyse fr Paiagogen (1880) itodugzo & psicanaise para professors), a amplagao da experénca clinica leveu ao ajaento do “period proparateriat e maior Snfase na sndlise da Wenctecéncia negativa. Ao razer © modelo estutual do pal pate custentar seu método anafico, concentrou sana andice das defssas rudimentares da erianca, Po exempta, fem seu aigo para 0 Congresso de Oxord, de 1928 (1973, . 74-82; Young-Grucht, 1986, p. 182. p. 476, n. 79). ‘2h localzog os esforgos delensivos do pequena Hans no centto da compreensdo conceitva: subjacente &fobia {2 cavalos, o pequeno Hore arava @ queta porsut mo, enquanto arava e tema a retaaro do pai @ quem inconscentemente buscava substtur. Hans fi gradativarenic convencid a dais das cetesas de deslocamerto, feversio ede repressio orl em favor de faniasas defensivas meis adaplativa, Em exemplos da sua propia pratca, Anna Pred (1973,p. 101) apicou a ood esrtural, em que o e90 ea agora visto como o mediador contra para idar com os impulses insintvos, 0 superego e 0 mundo exter, Por velia de 1930, também diferenciow a tspeciaiade,andise de oiangas, da pedagodia. Contudo, ao rata 96 ciangas na dade 6a latencia, também se Spoieu na formao mais tetica do pal de “navcsimo pimao” e de estéios picasso fbignais como uma forma do ordenar de mancica conceitval oe anos anteriores’ laténca:primeio 0 bebé tomava a si mesmo come Objeto de amor antes de evolu pare a escotha de objeos extemos. Ao colocar 0 nasi feria come passe eso auto aytso piv ¢ 0 aor objet, Froud labore ase eal como ur ese ‘anata em que o babe subestia numa espéci de orpoténcia de pensamanio@ permanoca ifereciado em Sie Hperinciasubjetive do mundo objetal extemo. Por pstas juntadas ao longo do sau texto de 1990, por axemp> Sobre a evolugdo do superego (p. 118), Anna Froud moncioncu quo uma canga de 2 ou 3 anos cbedeceria 808 Pais, que aluam como agentes probidores. Mas, una vez deixada 26, a cianga buscard sous proprios desojos fom esoripuis. So quando a cfanga feat um pouco maior mosteré capecidade mental de sor feta, tanto de DIVERGENCIA ENTRE MELANIE KLEIN vagoes ¢ de erticas a respeito da wéenica de erian- ‘¢a8 empregada por Klein. E imperative que 0 sen- Lido dessas eriticas seja explicado cuidadosa- mente, j4 que os comentarios de Anna Froud é que formaram a base principal da resposta de Kicin (1927a) no “Simpésio sobre andlise de criangas”. Anna Freud questionau a fate de Klein cequiparar 2 associagao livre dos adultos com a técnica do brincar de ctiangas descrita em suas publicages (9174, p. 34). Ela considerava o método de brincar, de Kicin. como uma ferramen- ta Gtil para observagio. Embora nfo utilizasse téonicas Kidicas nessa ocasifo, declarou, entio, ue esse brincar nao poderia ser consideyado como evidence Tegiinns sos me ntais primitivos. Na base da critica de. Anna Freud (p. 36-7) nao havia sé uma énfase maior em técnicas verbais com as criangas em idade de taténcia, mas uma atitude eética com telagao a hipStese ée Klein 3 ‘que 0 Brincar da conflité. Hug-Helimuth (1921) utitizou intetpretagdes simbélicas do brincar das criancas de maneira técnica muito limitada; mas, em 1927, Anna Freud, ao contrério, apoiov-se em formas gerais de brincar, fazendo pequenas ta- refas, desenhos, andlise de Fantasias verbalizadas, € de sonhos. Anna Freud tinha dividas eviden- tes sobre a interpretagdo simblica de Klein acer ca do conteddo da brincadcira ¢ portanto alo considerava essas interpretagées como evidéncia analitica legitima dos processos intrapsiquicos E ANNA FREUD NA ANALISEDECRIANCAS — 285 rmentais das criangas na fase anterior & laténcia Questionou de mancira erica como Klein pode: fia pensar que dervubar um poste eléirico de bein- quedo fosse um ataque a0 pai. ou que @ colisio de dois cartinhos de brinquedo representasse 2 relagdo sexual dos pais. ou que a crianga abrir @ holsa de uma visita refletisse a curiosidade sobre outros bebés na barriga da mae (Freud, 1974, p. 37-8)2 A RECEPGAO INGLESA DOS PONTOS: DE VISTA CLINICOS DA SRA. KLEIN ~ (1927 ~ 1932): PATROCINIO E DEFESA A partir da perspectiva da pequena com nidade em que Anna Freud e Melanie Klein tra- bathavam, 0 que de outra maneira teria sido uma diferenga dentro de uma nova especialidade, logo se tornou uma divergéncia mais ampliada entre Londres e Viena. Parecia que Ernest Jones, como lider da Sociedade Psicanalitica Britanica, tinha uma agenda orgenizacional, politica ¢ pes- soal, que orientava sua aceitaco entusidstica des teorias inovadoras sobre criangas, de Klein Depois de organizar @ passagem a membro da Sociedade Britanica, em 1920. ¢ de tirar 0 controle da publicagao da Internarionaler Peychoanalytischer Verlog, de Viena, em 1923. Jones fez uma campanha incessante para instituir 2 Sociedade Briténica como um centro vidvel ¢ vibrante de psicanilise, no s6 como posto co- Tonial avancado de Viena e de Berlim. Na Ingla- fora quanto da derivo, mas agora também ouvir uma vor interna, que aela suas agdes. Também & importante notar 2 este rospelio que em seu levto de 1930, Anna Freud nao screscenta quaisquor exemplos clinicos de enangas ‘ntes da lténcia ¢ assim parece terse apoiede em forrnulagbes tebricas enquante, nesse texto, aide en passant 2 importancia geval a materagem na viéa dos betes (A, Freud, 1974, p. 83) As carwcaturas de Arna Fraud sobre as inegpretagbes Smmbolicas do Klein a respeto do trincar podom basear-se uma amosta testita dee varies adigos de Klein. No texto alemao de 1927 do Einfohrang, Anna Froud escreveu ‘Frau M. Klein aus Berlin hat sich, wie Sie Wissen, in ihren Aibeiten und in iiven letzen Kongressvoriragen ‘eingonond mit dieser Frage beschatigt(p. 5). (A Sta. Klin tem estado engajada, como em se sabe, com esse problema em seu trabalho, em Berim, @ nas conteréncias do ume Congreso." Mas, em 1975, Anna Freud reve ‘0 trocho de forma a se ler: M. Klein (1823, 1926) ter, como so eabe, ckscuto amplamente esse problema em suas publicagdes e conferéncias, Essa revisdo toma a leltura de Anna Freud sobre Klein parecer mais abrangente {do que Ge fao tinha sido naquela ocastée. Um estudo dos textos de Klein mosica que os exerpos de brincadeira (carves calidinde, postes oléticos virados ¢ boleas aberta) ctados por Anna Froud (1874, p. 37-8) podem ser ‘encontrados em, ¢ igualmente foram selecionados Go primero arigo do Klin para um Congreso Internacional exposto em Salzburgo, em 22 de abl de 1924. Os exemplos do bxincer citados por Freud podem ser encontiedos “Tecnica de andse de criangas paquenas" que apareceu mais tarde em A pslcandése de clangas, de Klin (1932, P.17.p.27}. 286 JOSEPH AGUAYO terra, lutou para instituir @ psicandtise como uma especialidade médica legitima contra as eéticas daividas da imprensa ¢-da Associagio Médica Bri- ‘nica (King & Steiner, 1991). Depois da morte de Abraham, 0 trabalho de Klein, no Instituto de Berlim, ndo foi mais possivel. Em 1926, Jones convidou Klein para morar ¢ trabalhar em Lon- dres ¢ até indicou sua esposa Katherine ¢ dois filhos (Mervyn ¢ Gwenith) para se tratarem com. ela, em 1926. Quando Jones também leu 0 que considerou uma critica desinformada © polémi- a do trabalho de Klein, feita no livro de Anna Freud (Jones a S. Freud, carta de 16 de maio de 1927, Paskauskas, 1993, p. 617-18), defendeu ainda mais Kiein, reunindo os entusiastas que a apoiavam na critica & critica de Anna Freud, contribuindo com um artigo curto de sua propria lavra, no International Journal (Jones, 1927). ‘Sem divida, Jones irritou Freud (que apa- rentemenie no sabia que Klein era a analista da familia de Jones ou, se sabia, nunca mencionou esse fato em sua correspondéncia com Jones} 20 afirmar que 0 livro de sua filha continha “re- sisténcias no analisadas” (Freud a Jones, catta de 23 de setembro de 1927, p. 624). Quando o “Simpésio sobre analise de criangas” foi publica- do, Freud se envolveu no conflito, e pediu expli cages a Jones. Num dos confrontos mais vivos catre eles, durante 0 curso de sua amizade, Jones negou espitituosamente a acusagao de Freud de uma campanha orquestrada, na Sociedade Brita- nica, contra 0 método de anélise de criangas de ‘Anna Freud. Sem divida, Freud tinha razao de suspeitar, & que interferira nss tentaivas iniciais de Jones de cortejar Anna Freud quando esta vi= sitou Londres, as vésperas da Primeira Guerra (Gay, 1988, p. 433). Na carta mais longa que escreveu a Freud (30 de setembro de 1927 Paskauskas, 1993, p. 625-31), Jones assinalow quanto os membros de seu grupo, especialmen- te analistas leigas mulheres, hd muito se interes- savam pela forma pela qual criancas pequenas poderiam ser analisadas, Esse interesse briténico foi um fendmeno anterior as primeiras conferén- cias de Klein para a Sociedade Britinica em ju tho de 1925. Quanto & questo de “em que idade e-em que medida as criangas pequenas poderiam ser analisadas”, Jones respondeu dizendo que 36 a.experiéncia direta poderia decidir essa questio, EntZo, numa declarecdo muito franca e direta da sua avaliagdo a respeito de Klein, Jones escreveu: Algum tempo depois disso (isto é, das conferéncias de julho de 1925) a Sra. Klein veio a Londres, primeiro para dar conferéacias e depois paca trabalhac, Hi confianga geral em seus métodos € resultados, que muitos de nds temios podido tes- 4, Embora a Gia de que um anafsta tatasse simultaneamante trés merabros da mesma familia possa parecer inusitada até etcamente questiondvel, as evidéncias sugerem que essa pratica estava dento das no«mas predomvnantes dda cultura analtica na década de 1920, S6 para clar alguns exernplos: Sigrrund Freud analisou simuftaneamente James e Alx Siractey lego depois do casamento doles, om 1922 (Meicel & Kendick, 1985, p. 31), © Kart Abraham também analisou os imos Glover (dames e Edward}. Além do mais, 08 anakstas também no exam contarios a revelar dotahas de uma andlise em andamenta a pessoas interessadas, Por exemplo, em 1913, Freud e Ferenc} escreveram um 20 out, iscutinds Getalhes da. andlio de Jones com Ferenczi (Brabant etal, 1983, p. 489-50"). ‘Também podem sot encontradas evidénciae desea pritca informal numa cara de Kein a Ermest Jones (24 de eutubro e 1926; PPAKLE/A., p. 1-2, arquivos Klein, Insitute Wellcome), em que ela descreve a andlise de Katherine Jones: “A anatse da Sra. sons com certeza nao e tail requer grande Giscicao e lato e constantemerce tenho de hdr com muita ambvaténcia. Mesmo assim acho que wansteréncia mostra vrs sinais de vabisdade e estou saisetia com 0 progresso © a evolugao da andlise.. Se a Sra, Jones ouvir vocé dizer qualquer coisa que possa ser interpretada como erica a ela ou como elogio @ mim isso poderd levar a sérias perturbagdes ~ quero dizer tudo ‘que se relacione com as eriangas, com o daserwolvimento ou com a andise delas, etc. Seria melhor se voce me devrasse fora de suas conwercas, pols slogio ou critcas serao recsbidos por ela de manera totalmente dilerente, Perso também ser aconselhavel, por enquanto, néo dizer nada a sua mulher sobre mous planos, que abordsrat na segunda parte da minha carta. Creio que, no momento, aida de eu ficar aqui para sempre podeta ter para ele tum efeito muito negatvo", Como & maior pasta Go sitimo irecho da rrissiva Ge Kien a Jones & tomada pola discussGo dda decisao final de se mudar para Londres, pode-se especular que os dois ham uma amla gama de motvarbes = pessosis, de reputacto e profisionais ~ impulsionando o envolvimento intense um com o outro. Na minha oping, Klein abordou a questio do patronato de Jones numa comovente sentenca na mesma carta: ‘Que 0 que consegui ‘comecar em Berm, com © apoio ardoroso @ atvo de Abraham, possa ter continldada e se completar da forma ‘mais bela, om Londres, c9 vocé me dor apclo" (PPIKLEIAS, p. 2). DIVERGANCIA ENTRE MELANIE KL tar de perto, ¢ ela transmite uma imipressio geral de Pessoa sadia, bem equilibrada ¢ profundamente analisada... Ficamos um pouco espantados por perceber a pouca simpatia que seu trabalho despertou no Continente, mas decidimas ouvir de forma leal ¢ fazer nosso préprio julgamento respeito, Tom sido to favoravel, que viemos a cor siderar sua ampliago da psicandlise a esse novo campo nao s6 um acréscimo valioso para as nassas possibilidades, bem como a abertura para a via mais promissora de investigacdo direta dos problemas ‘mais primitivos ¢ profundos. Mantendo essa atitude, ‘86 podemos encarar, como © senhor compreenderd, qualquer tentativa de fechar essa via como desafor~ IN E ANNA FREUD NA ANALISE DE: CRIANGAS 287 acontecia em Londres. Alguém, portando 0 nore dde Freud, pela primeira ver. nfo estava imune a erflicas nas paginas de um jornal psicanalitico Sustentado pela perspectiva de ter ama pessoa clinicamente brilhante fazcado conferéncias © trabalhando em Londres, 0 tom da carta de Jo- nes transmitia convicgao, ¢ refletia uma nova identidade grupal local. Como Riccardo Steiner assinalou, agora 2 atitude era “nossos pontos de vista em Londres” ¢ “nds, na Inglaterra” (King & Steiner, p. x1). Na verdade, a carta de Jones declarava a independéncia da Sociedade Briténi- ca. Ndo mais seria necessario sentir-se inferior (ned a Vien ¢ a Berlim. Na ocasizo em que a defesa Essa € a pré-historia da situagio, que prova digg pontos de vista de Klein (19272) foi publicada dee cies oo aay Sebel de anise profun- no “Simpésio", tina um pequeno grupo de pes- ta sana ne ae esas que poise qe ae re inesperado de Anna s6 poderiasusctar agui, ema "40 PACE cobrir grandes distancias em nome de reagio de desgosto. O novo método da Sra. Klein, _ S€US Pontos de vista, na Sociedade Briténica. Ao ‘que nos pareceu t2o valioso, foi repudiado como do de Jones estava Joan Riviere, uma defensora fo confiavel, a andlise de eriangas pequenas, isto éntusidstica, que foi analisanda de Freud bem ,abaixo do perfodo de laténcia, foi condenada, e foi como uma de suas primeiras tradutoras ingle- recomendada um atitade exiremamente conserva- sas Riviere criticou apaixonadamente os pontos ‘dors, do.comego 20 fim (Paskauskas, 1993, p.627-8). de vista de Anna Freud, de mancira corajasa e desafiadora, demonstrando, pela primeira vez. sua capacidade como escritora psicanalitica ¢ AA declarasio de Jones demonstrou um tom bbem diferente, a sensagdo de que algo novo 5. Numa séiie de artigos sobre Joan Riviere, Aol Hughes (1991, 1992, 1997) Hustou de forma clara o inicio da careica esta analistaincisiva e brihante. Embora suas expectativas de classe mécia alta the permiiseem ir pare a Universidade e/ou casar-se confortavelmenie, ela escotheu 0 segundo caminho, mas, depois de rés anos de casamento, sofreu uma doenga nervosa, apés a morte do pai. Anos de tratamentos ineficazes com varios specialists dos nerves finaimente a levaram & andlse com Emest Jones entre 1916 e 1921. Devide a uma transferénciaetoizaca e da problemas contatransterenciais na andlee, Jones nao consequu progresso veal, mas {2 surgi o interesse dla om psicandise. Seatndo-se comprometdo quando Riviere comegau a insist que devera, fet analsada por Freud, Jones nervosamente apresentou 0 cago dala a Freud, em ina cata de 22 de janciro de 1922 (Paskauskas, 1985, p, 453-4) Percebondo tmediatamonte seu talento lingtistice, 0 Professor pée Joan ivcre bara abathar como sua tradutora logo que ela chegou 2 Viena, uma pratica similar & empregada com 0 casal Strachey quance tnham ido se analsarno ano ertetir (Meisel & Kenchick, 1985, p. 31). Embora Joan favere tenn Se racuperado da doenga nervosa e tena emoreendido carera como analsta leiga, anna Segal me comunio ‘Agueye, 1899) que Riviere se ressontu devdo itso de Freus em quosioes de acugze enquanio ea eolava em andise com aie. Eu especwaria que Riviere deve ler se mostiado uma paciente bastante dc, desenvoWendo ‘entimentos algo negetvos em relagdo a Freud em fungéo da motivagdo algo confusa que o levou a traléla. A i ‘oposigao posterior de Riviere ds teorias de Anna Freud também padenam ser em tunpao de uma rvaidade edipca ‘compeitva com a fia de Freud. Outro aspecto fascinante dessa drama complexo era que apesar de toda sua bravata em eritcar Anna Freud de forma impressa, ela também ficava muito preocupada em nso ofender Emest Jones, seu anclista anterior. Numa carta em que Riviera aconsebia Klein a respeito ce quastdes de trades do seu lio (27 de abril, 1926), também nos arquivos Klein, Riviere € cudadosamente ascrupuiosa a respi de seu Dapel como ediora de tadugees do Jomal: “Tudo que tom a var com questées de negésics, ieitos © assim por ‘ante, 6 cam Jones. Ele é muito empfinich (sensivell, especialmente a tespeito de questbes editerias, ¢ para voet seria desastroso ofendéo. Assim, ndo diga nada a meu respelto, mas escrevacihe @ pergunte Tuco que Yoo! ‘me perguntou, imagino que ele no levantara nerhuma objaca0 20 fo, Sito pola damora, mas n3o me alrevo a interfer, Com cortaza ele achard que est tudo bom, mas, nunca se sabe, ¢ ele poderia oar muito zangado por: voc# me escrever a esse rospete” (PPIKLEIA, 13). 288 polemista vigorosa. Por exemplo, Riviere decla- fou que a suposta falta de continuidade da * lidade psiquica” entre criangas © adultos era mais, aparente do que real: Todas essas diferengas entre adultos criangas, citadas por Anna Freud, relacionam-se com atitudes conscientes: a idéia de estar doonte, ou de esejar estar bem. ou de que € preciso fazer isso ou aquilo com objetive analitico, todas ierelevantes em anglise ~relacionam-se com a reatidade extern, com a qual a andlise no se preocupa. Para 2 anslise, elas ‘no tém valor, exceto na medida em que represeater contetidos inconscientes, ¢ € nisso que se bascia seu significado para a andlise, So apenas meias de expresso do inconsciente, assim como, na técnica do brincar para criancas, o inconsciente encontra rmeios diretos de expressao nos brinquedos. Quanto 4 situagdo analftica ~ aquela pela qual o contesido ‘mental reprimido se introduz na consciéncia ~ é a ‘mesma, tanto para criangas quanto para adultos, e este seria o ponto essencial de comparagio entre as, duas, nlo as consideragdes externas (Riviere, 1927, p32 Por causa das criticas aos pontos de vista de Anna Freud, Riviere foi censurada pelo pré- prio Freud. Ele jé estava furiosa com Jones pelo ataque ad hominem a sua filha, Nessas circuns- tancias, Freud revelou sua incredulidade a Rivie- se, perguntando com espanto como ela poderia “professar pontos de vista que tanto contradizem tudo 0 que acreditamos a respeito de andlise. Ele apoiou os pontos de vista da filha de que a crianga pequene é “dominada por suas pulsées, com um ego fraco ¢ um superego em processo de formagao” (Freud a Riviere, carta de 9 de ou- tubro de 1927, citada em Hughes, 1992, p.279-80).. Assim, devido & defesa vigorosa dos pon- tos de vista de Klein a respeito da crianga antes da lat@neia, na ocasido, Riviere parecia acreditar JOSEPH AGUAYO que havia mostrado clareza como escritora psi canalitica. Em certa passagem, afirmou explici- tamente que o ego da crianga era bastante forte a panto de agtientar as interpretagdes do analis- ta sobre os desejos instintivos edipicos. Também levantou questio a respeito do ponto de vista de ‘Anna Proud de que a neurose de transforéncia rio se destnvolve na andlise de criangas peque- nas porque “nela, 2 situagao edipica ainda esta ativa em relagio 20s objetos originais ~ 0s pais ~ portanto, nao pode haver transferéncia” (Ri- viere, 1927, p. 373). Riviere escreveu que, pelo contrério, a realidade psiquica das fantasias edi picas pré-genitais existia de forma bastante independente de qualquer correspondéncia com a realidade, como cada neurose de transferéncia nos mostra. Essas fantasias {erminam no Inconsciente, ¢ seus objetos néo si0 0 pai €.a mde reais, mas suas imagos inconscientes. As relagSes inconscientes com essas imagos slo transferidas, entio, para os pais reais, e wansforma- {das (assim como sio transformadas na relagio com © analista na neurose de transferéncia), ¢ isso faz surgit 0 comportamento mérbido to frequlente nas neuroses da crianga, (p. 373) Freud estava irvitado. $6 podia considerar © ato de Riviere como rebeldia impudent. Escre- ‘eu a Jones, protestando a respeito dos “pontos de vista errados ¢ enganosos” dela (9 de outubro de 1927, Paskauskas, 1993, p. 633). Em sua res- posta a Freud, Jones trabalhou com esmero so- bre a questao do “erro” de Riviere, parecendo usé-lo como uma tela por meio da qual a contro- vérsia Klein-Anna Freud padesse ser melhor dis- cutida. Depois de resumir os pontos de vista de Riviere, numa carta de 18 de outubro de 1927, tem que enfatizou que a visio da crianga a respei- to dos pais esta “longe de ser uma fotografia de~ 6. Pode:se especular que a linguagem bastante forda @ radical usada por Riviere (por exemplo, de que a andlive nB0 tem nada a ver com 8 realidade externa) representava Uma expressividade apaixonada advinda da atmosiera ppolémica da divergéncia Klein/Anna Freud, No entanto, fais afiemagses podem ter fomecido alento para criticas posterior (por exemplo, Winnicott, 1962 ~ incidentalmente, também analisando de Riviere) em que Klein foi acusada ‘60 estar 130 absorvida com © mundo interno que quase no comproendia 0 extomo, Existem evidéncias de que o trabalho anallico de Kicin com criangas pequenas também se baseava em eniravistas com os protessores os pats da crianga (Grosskurth, 1986, p. 120). Ke 10 antanto, no publicou nada explicito sobre a quastao da ‘compreenséo do papel do ambionte externs na formagéo patolgica da erianga quase até o fim do sua careira, ‘em 1960, quando acrescentcu as notas de rodepe & andlse de Richard (Kiein, 1960). DIVERGENCIA ENTRE MELANIE KLEIN E ANNA FREUD NA ANALISEDECRIANCAS 289. les, mas totalmente colorida por contribuigdes ‘muito individuais dos préprios instintos compo- nentes da crianga”, Jones concordou que cla cenfatizara demais a “metade fantasiada do qua~ dro”, a expensas dos pais reais. Embora Jones soubesse que Riviere nao negava o fator exter- no. ele entao demarcou a discussa0, na minha opinigo. de forma provocativa, perguntando @ Freud o que ele tinka achado to “herético” na contribuigio de Riviere (p, 634-5). Estava 0 ve~ tho Freud pensando em banir Klein ¢ sous segui dores como heréticos ou cisméticos? Se assim fosse, teria de enfrentar o possivel afastamento de pessoas cujo apoio era importante em Lon- dres. Freud decidiu transigir. Estava na depen- déncia da boa vontadc de Riviere e dos Strachey para continuar o projeto de tradugo que the da~ ria um pblico inglés.? A conscigncia de Freud a respeito de sua ependéncia ficou evidente em uma carta de con- doléncias (28 de marco de 1928) a Tones, cuja ‘nica filha havia morrido recentemente verdade, nos dltimos anos eu 0 critiquel muito e ocasionalmente perdi o contato com vocé. Mas ndo € necessaria essa triste ocasigo para perceber que foi apenas um caso de discordincia em familia, quando alguém forga um vinculo que sente inquebrantivel. (p. 643) Nesse ponto, 0 campo da divergéncia Klein-Anna Freud mudou para as mdos avidas do segundo lugar-tenenic de Jones, Edward Glo- ver (19272, b) que, numa série de artigos, con- tinuou a defesa da Sociedade Briténica em favor 0s analistas leigos, em geral, ¢ do trabalho elf- nico de Klein com eriangas, em particular. Glo- ver foi bastante estridente no apoio ao trabatho de Klein em sua contribuigéo ao “Simpésio”. Ele petguntou como Anna Freud poderia defender opinides to candentes sobre eriangas pequenas se nunca as havia tratado. O termo técnica de associagio poderia nao fancionar com criangas: por que nfo considerar a brincadeira de criangas [pequenas com bringuedos como exteriorizagio de fantasias? (19272, p. 385) As contribuigdes de Glover, especialmente 6s artigos dos Congressos internacionais ¢ do Journal de 1927 a 1932, parecem revelar uma ‘agenda abrangente, Além da defesa vigorosa dos ponios de vista de Klein, esforgou-se bastante para integrar as descobertas dela de “sistemas de. fantasia recentes” com 0 modelo estrutural de Freud e com a idéia de Abraham das fixagbes, psicossexuais primitivas. Karl Abraham tinha sido analista de Glover, que o seguiu igualando 2 persisténcia, bem como a regressio & psicossexualidade primitiva, com psicopatologia grave. No meu modo de ver. Glover parecia con siderar-se uma espécie de embaixador entre as escolas de anilise de criancas, de Londres © de Viena. Por exemplo, 0 artigo de Glover do Con- gresso de Oxford de 1929 (Glover, 1930) suge: ria de maneira confiante que eram possiveis, eproximagaes clinicas e teéricas, como se the fosse possivel mediar uma visio “média”, na ocasifio. Depois de demonstrar sua compreensio a teoria estrutural de Freud, prosscauiu afir- mando que esse modelo ainda era esquemiético € precisaria ser completado. Ainda que Freud ti- vesse pensado a laténcia como 0 periodo apro- sximado da resoluco do complexo de Eitipo e do final da formago do superego, 0 inicio desses processos nao estava to precisamente definido. [Nao scriam tteis os achados de Klein, sobre 0 ‘comego precoce do complexo de Edipo ¢ do su- perego? Glover, com certeza, pensava assim. Ele afirmou retoricamente que |A& molto existe evidéncia clinica em apoio do pon 1o de vista de que em certas casos (até recentemente considerados excepcionais) impulsos edipicos orga- nizados poderiam se manifesiar no peimsito ano, por assim dizer, num momento cm que 0 ego ainda no cest8 desenvolvido. (1930, p. 5) 7. Deve-se notar que 0 casal Stachey, que muito fez para trazero trabalho de Klein para a Sociedade Britinica, no via incompatibiidade em serem tadutores de Sigmund Freud e seu entuslasmo a respelto dos pontos de vista de Klein sobre criangas. Alix Strachey at6 servi tanto como tutora quanto como tradutorainglesa das conferéncias {eo Kiein sobre eriangas om julho da 1925 na Sociedade Britanica. Além do mis, Freud também sabia bem cas cconexses poderosas dos Strachey com o grupo de Bloomsbury envolvendo o lmao de James, Lytton bem como Leonard ¢ Virginia Wool, © que argumentou ainda mais conta a tomada de qualquer acao dire Impressa contra 0s pontos da vista de Klein (Meleel & Kendrick, 1985) Glover anunciou corajosamente sua integra- ‘¢0 do modelo estrutural de Freud ¢ das desco- brlas clinicas de Klein da seg {As inforSncias mais importantes de Klein dom ser afirmadas da sepuiate maneira: (a) Que @ formacio do Superego comega na segunda metade do primeiro ano de vida, ¢ que de inicio 0 superego dificilmente se diferencia do Td. (b) Que 0 erescimento desse sistema é estimulado por uma florescénciainicia! de cargas sidicas primirias que quando ligadas a cargas puramente bidinais. estabelecem um circulo viciaso de frustragio © de tensio, () Que esse sistema reativo, padronizado sobre imagos irezis primitivas de objeto (se), pode promover tensio, © que como resultado dessas tensoes primérias dé-se um impeto ao Ego real e As relagies de objeto resis Do ponto de vista estrutual.o resultado légi- 0 dos pontes de vista dela podem ser eolocados de forma bastante ersa da seguinte maneica: lange de superego ser uma diferenciagio tardia do exo or- ganizado, & 0 ego que em sua relegéo com os ob jets reais # forcado pelo superego a se separar do id. (1930, p.7) Ao utilizar essa linguagem, Glover pensou ter demonstrado como as abordagens diferentes de Klein e de Freud poderiam ser integradas. Glo- ver nao via nenhurna “incompatibilidade funda- mental” entte 0 rigor tedrico e os resultados do tratamento analttico de eriancas (p. 11). Aderin- do de mancira estrita ao ponto de vista de Abraham sobre os estégios psicossexuais primi tivos, Glover (1931) investigou a questo de ‘como certas neutoses poderiam ter defesas con- tra conjuntos especfficos de fantasias inconscien- tes, No modo de ver de Glover, os paradigmas do tratamento analitico de Freud anteriormente orientados pela libido precisavam ser suplemen: tados pelos pontos de vista de Klein a respeito da agressao nas eriangas de forma que o trabalho interpretativo anteriormente “incomplete” pudes se agora ser mais “exato” ¢ “completo”, Numa afirmagio vigorosa, Glover escreveu: [No entanto, hi um elemento comum a todas as fases e, portanto, presente em todos 0s tipos de fantasia, E 0 elemento de agressio, direra ou inver- tida. Assim, todas as substincias do mundo sio benignas ou malignas, criativas ou desteutivas, boas ‘ou ms. (p. 408) JOSEPH AGUAYO. No seu siltimo endosso das descobertas de Klein, em 1933, Glover publicou uma resenha longa e bastante efusiva de A psicandlise de ‘riaigas, de Klein. No inicio da resenha, anun- Ciou: “Nao hesito em dizer que este constitul um ‘marco na literatura analitica que vale a pena fi- gurar a0 lado de algumas contribuigées classicas dc Freud” (p, 119). Ele gostava especialmente da idéia de Klein da agressividade infantil contra 0 corpo mateo, Segundo Klein, 0 desejo fantasia do do bebé de invadir 0 corpo da mae ¢ de des- cuir seus contetidos preciosos resultava no medo de ser destruido pelos impulsos destrutivos re- introjetados (por exemplo, o casal parental mat ‘ou combinado que invadia de novo a crianca para destrui-la por perturbar seu coito). As crf ticas de Glover, no entanto, eram leves. Diziam respeito primariamente @ uma preocupaczo de {que Klein pudesse deixar que as novas fantasias, descobertas em seu trabalho se tornassem “mer- cadoria estocada” da interpretacio analitica, © aque levaria & perda de seu significado etiolégico especifico. Como exemplo, ele afirmava que tan- to pacientes obsessivos quanto homossexuais pa- reciam ter os mesmos tipos de fantasias. Glover também era moderado em seu ponto de vista de que criangas muito regredidas, em tratamento, pudessem evoluir por meio de intervenges am- bientais cuidadosas (p. 127). Glover patecia conflante a respeito de sua compreensto das complexidades envolvidas na harmonizagao das descobertas das escolas lon- drina e vienense de andlise de criangas. Em mi- tha opiniZo, ele acreditava que sua intervengdo diplomética serviria 20s interesses tedricos ¢ téc: ricos mais amplos da psicandlise, ber como 20s seus interesses organizacionais ¢ pessoais (como herdeiro explicito de Jones, na Sociedade Brita rica). Mas, 0 momento nio foi auspicioso para sua agenda teérica ¢ politica. Os esforgos de Glo ver foram realmente fora de hora, numa conjun- tura histérica em que Klein © Anna Froud incrementavam suas divergéncias métvas. Na poca em que Klein (1935) marginalizou o uso da linguagem estrutural de Freud postulou um ‘novo esquema evolutivo da crianga sob a forma de “posigdes", pouco foi deixado para Glover mediar ou harmonizar. Sus atitude com relagio DIVERGENCIA ENTR as idéias de KJcin também se tornaram mais ne~ gativas depois de 1933. quando comegou @ ana- lisar a filha dela, Melitta Schmideberg, ‘Abruptamente, abandonou sua defesa ¢ repudion totalmente as teorias analiticas de Klein num ar- (igo apresentado na Sociedade Briténica em 3 de outubro de 1934, “Alguns aspectos da pesquisa psicanalitica™ (Glover, 1945). APOIO PATRONAL DAS TEORIAS DE ANNA FREUD SOBRE ANALISE DE CRIANGAS Por que Freud defendeu to vigorosamen- te as teorias sobre criangas de sua filha? Ao mes- _mo tempo em que.o trabalho de Anna Freud com criangas vinha tendo aceitagdo em Viena, em 1927, conflitos politicos ¢ institucionais langa- ‘am uma sombra ameecadora, do meu ponto de vista, sobre o movimento intemacional desde que foi diagnosticado o cancer do palato, de Freud, em 1923. Esse fato ocasionou o que chamei “ci se de sucesstio” (Aguayo, 1997, p. 1178). De- pois dessa data, Freud néo poderia mais participar de Congressos Internacionais ¢ tomou- se imperioso para ele ter alguém que ndo apenas ‘continuasse ¢ conservasse fielmente seu trabalho, mas também pudesse representar seus interesses a nivel internacional. Embora parecesse muito pouco provavel que Anna, anclisada por cle de JANIE KLEIN E ANNA FREUD NA ANALISE DECRIANCAS — 291 1918 a 1922, fosse sua sucessora, uma con- fluéncia de fatores finalmente a favoreceram ‘quanto & sucessio, como confidente ¢ represen- lante mais configvel do movimento psicanalitico. Por que Freud designaria uma analista relative mente jovern ¢ sem nivel universitério como seu principal representantc tendo analistas médicos muito mais experientes no “Comité”? Os succs: sores de Freud, depois que cle ficou doente, po deriam ser Abraham, Ferenczi ou Jones, todos antigos presidentes da Associacio Internacional Mas, como sugeri noutro lugar, Freud tinha di- ficuldades pessoais e profissionais com mento: res homens que o levaram a voltar-se para a idgia de uma sucessora (Aguayo, 1995)? Enquanto 0 Comité continuava seu trabalho depois da Primeira Guerra, dois membros que poderiam ter sido sucessores potencisis de Freud safram ~ um como dissidente (Rank, em 1924), © outro por morte (Karl Abraham, em 1925). Os membros remanescentes, Jones, Ferenczi. Sachs e Eitingon, parcciam ter, como sucesso res, para Freud, falhas questionaveis em suas ca- pacidades tedricas e administrativas. A andlise da prépria filha, Anna, nao 6 assegurava a ortodo~ xia dela; como também contomava a suspeita em. relagao 20s machos patricidas do scu meio. Al guém portando o nome de Freud, intimamente envolvida com seu cuidado fisio disrio, poderia continuar a obra de sua vida de forma totalmente confiavel ', Pence que © papel contal do Glover fi malcompreandid por Grosshurt (1986, p. 205: 5. p.212-16), que enfaizou muito o8 aspectos notiies e pessoais da desavengs de Glover com Klcin, depois de 1992. 0 repisio posterior ‘as idtias de Klein foi mediago tembém pela andlise da ftha de Klein e merece um estudo separado, mas em minha ‘opiniao deve ser avaliado evando em conta a detesa a Kioin de 1827 a 1992. 8, © ponte principal do arguinento do autor acerca dos confitos pavicidas de Freud com seus tres primeifos mentores, ‘Charcot, Breuer e Flies, € o seguinte: embora seja significative que Freud idealizou @ aprendeu muito desses mertoves em doencas nervosa, ele também insigau uma ruptura em sua felacko pessoal e prfisional com toss, 60s ts depois Ge urn pariodo de aprendizado e da colaboracaa prolongado entre 1892 € 190%. Comm Charcot, Freus atrontou seu patone accionando notas de codapé tigiceas e nic autoizades a sua Wradupao alems das famosas Lecons dy mardi (Gelland, 1988), do mestre. Com Breuer, Froud se ressentiu da dependéncia depois de ter aceto ‘© patronalo, 0 apoio intelectual e os gestos de amizade do colega mais velo ~ a ruptura ocorrau a pati da ingisténcia de Freud em pagar 0 que ele consicerava uma divida do seu tompo de escola médica e que Brever ‘considerou um presente, Houve dizputae com Fligss sobre prioridade a raspatto da idéia da bissexvalidade, que Jevou a um estremecimerto das telagSes quando Freud discuilu as idéias de Fless com outto autor, Oto Weininger que delas se apropriou e publcou antecipadamente (Waininger, 1903), que estavam no pano de fundo da ruptura final entre Froud e Fliess (Sulloway, 1979). Quando Freud se tornou mentor, no entanio, sua necessidade de iscipulos tomou-se medo de possiveisinimigos paticidas, tale como Adlar e Jung. Depoks da ruptura final com Jung, em 1916, Jones percabeu que Freud nao confiaria em nenhum discipulo homem para sustontar a engenhos2 soluqo oxganizacional “Comité” 292 Pode-se dizer que houve um embate enire 0s objetivos dindsticos e familiares, de Freud. ¢ as questdes de teoria cieniffica de grandes con- seqiiéncias para a comunidade psicanalitica mais, ample. Anna Freud era uma escolha perfeita ‘como sucessora consagrada, jé que combinava ambas as qualidades: era a confidente c enfermei- ra de confianga do pai, totalmente fiel & letra da tcoria c mulher nao despedacada por contflitos de lealdade. Na época em que a discordancia entre ‘Anna Freud ¢ Klein irrompeu, em 1927, Freud ppercebeu que suas intervengoes a favor da filha deveriam ser comedidas e moderadas. Seus atos poderiam ser facilmente interpretados como fa- voritismo. Ciente da sOlida base de apoio de Klein entre pessoas com quem ele contava para ‘suas traduges para 0 inglés (e também membros poderosos da Sociedade Britinica), Freud preci sou restringir-se as cartas. Para Fitingon, ento Presidente da Internacional, ele escreveu: "Nao 86 precisamos evitar nepotismo mas também qualquer coisa que se pareca” (20 de dezembro de 1927, citado em Young-Bruehl, 1988, p. 175. p. 475, n, 61) O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO CLINICO DE KLEIN - 1927 A 1932 Chegamos agora a uma questio eléssica: por que os britinicos se apropriaram do trabalho de Klein com tal entusiasmo? No artigo do “Sim- pOsio” de 1927, Klein teve oportunidade de ex- por as hipdteses € técnicas subjacentes a seu trabalho com criangas pequenas. Deve-se tam- bém fazer um esforgo de compreender claramen te 0 principal argumento dos artigos, para se ‘entender @ natureza do que inicialmente separou © trabalho clinico ¢ teérico de Klein do de Anna Freud. Se os sonhos so a via principal para 0 inconsciente dos adultos, o brincar foi a via di- reta de Klein para o inconsciente da crianga. A fungdo do analista de criangas era analisar as an- siedades primitivas e pulsionais inconscientes elas, nao induzir nem reassegurar ou “prepara” a crianga para andlise, Numa afirmago vigoro- sa, ela escreveu: JOSEPH AGUAYO. ‘A-andlise nfo € um método gentil: nfo pode poupar sofrimento 20 paciente, ¢ isso também se aplica as criangas. Na verdade. & preciso forgar 0 softimento na diregio da consciéncia ¢ efetuar a ab- reagao para que os pacientes sejam poupados de softimento muito mais permaneme ¢ fatal, poster, (39272, 344) A andlise comegava desde 0 primeiro en- contro entre a crianga ¢ 0 analista: qualquer que fosse a forma de ansiedade ou de culpa que se manifestasse, fosse sob forma de reagdes emo: cionais positivas ou negativas, tudo era material de anélise. Ao mesmo tempo em que concorda- va com Anna Freud, quanto a que criangas pe- quenas no conseguiam ou tinham relutancia em verbalizar, Klein pensou que oferecendo brinque- dos, lépis e papel, poderia diminuir a necessida- de de associagdes verbais ¢ assim fazer coniato com o inconsciente da crianga de forma mais ‘natural e convincente. 44 que as figuras de brin- quedo permitiam que a erianga tivesse a oportu nidade de criar seu mundo em miniatura, assernclhavam-se, do mee ponto de vista, 8s Via ‘gens de Gulliver, de Swift, em que a crianga se toma Gulliver, enguanto os aduktos se transfor~ ‘mam nos habitantes de Lilliput ~ acim de tudo, um terreno analitico fénil para reverses de po der e de tamanho e para a exteriorizagao de con: flitos inconscientes com figuras parentais. Durante 0 curso do trabalho analitico com crian- gas, Klein também comegou a observar certos tipos de fantasias que a criange projetava, segun- do ele, para dentro da imagem da mée, 0 que a levou a formular a hipstese de que esses produ ‘g0es mentais tinham alguma espécie de caracte- ristica organizadora primordial a elas ligada, que deveria ser cuidadosamente interpretada, E interessante que, come outras figuras histérieas (por exemplo, Lucero, Copémnico). 2 auto-representasio de Klein era de alguém leal a ‘uma tradigio recebida (Kuhn, 1970). Kicin pen- sou estar apenas trabathiando no sentido de vol- tar as origens das neuroses humanas, tal como ‘© préprio Freud fizera na reconstrugao genética com pacientes adultos. Intervengies mais preco- ces ¢ mais profiléticas poderiam ser feitas com ‘eriangas pequenas, conforme a hipdtese funda- mental de Abraham de que as formas mais gra- ves de psicopatologia possivelmente estariam DIVERGENCIA ENTRE MELANIE KLEIN E ANNA FREUD NA ANALISE DECRIANGAS 293 ligadas aos estdgios oral ¢ anal do desenvolvi- mento libidinal. Por volta de 1927. Klein, inspi- rada em Abraham, acreditava que as estruturas, freudianas cléssicas tinham seu infcio na infén- cia, hip6tese que concordava com a de Freud (1918) ao fixar a data do inicio das dificuldades nieurdticas do Homem dos lobos. Citando a and lise de eriangas pequenas de 2 anos ¢ 9 meses de idade, Klein (1928) afirmou que 0 complexo de Edipo fazia sua apari¢ao j& por ocasizo do des- mame, na maioria das eriangas. Contava-se uma nova hist6ria a respeito de impulsos, introjegies € representagbes corporais. Sob total influéncia, dos impulsos orais/anais sidicos. que variava de individuo para individuo, a erianca introjetava inicialmente vivencias de fantasias destrutivas ‘(que tinham sido originalmente projetadas pela crianga na representago do corpo da mie). As Fantasias da crianga, de que 0 corpo da mae ti- nha contetidos ricos como o seio que alimenta, © pénis do pai ¢ 0s hebés, colocavam-na em tre mendo conflito devido tanto ao desejo profundo de roubar quanto ao de destruic essas posses es- timadas, a0 mesmo tempo em que dependia da ime para sua sobrevivéncia. Por volta de 1932, Klein universalizou seus

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