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O cérebro @ mas lngamenos eo wormadorcontete come editoracontexto ‘@ Renda, Come Howe, copright © 2018 by Maryanne Wall Management eough Vile Bon Mos gins Lies, Rio de Janciro Dinos de publica wo Bra adguidr pla ora Contr (Eira iy Lida) ce ‘Ab Mani Diane Geter Sis Bose erage de mil Catherine Seodley Resta de radio Mira isk Revie lan Aquino ‘det Inerasiomals de Calorie ma Plies (2) undo diel desi da eure nose er ied Rd a Mayne. ~ Aminka mice melioraniga, Mary Elizabeth Beckman Wolf (26 de junto de 1920-5 de daemiro de 2014) pensaros ..]. Estamos en ua, dda vida est agora em nossas mos natural, mas de Juan Enriquez e Steve Gullans (Evolving Ourselves: How Unnatural Selection and Nonrandon ‘Matin Ae Ching Lion Ear A questo io & qual sero futur dos tras em ume mundo de leitura Aigtal. A questio 0 que acontecer com os letores que éames. Verlyn Klinkenborg ("Some Thoughts About E-Reading”, ‘Netw York Times, 14 de abril de 2010) CARTA NOMERO CONSTRUINDO UM CEREBRO DUPLAMENTE LETRADO DDefinir potenciais problemas de longo prazo é um ‘grande servigo pitblico. Definir solugBes em excesso antes do tempo nao 6. Stewart Brand A profundidade do desafio: nfo ha cursiculos bem contac wade « omproedon par ena Caro Leitor, Tenho poucas ditvidas de que a préxima geragdo nos ultra- passari de maneiras que nao conseguimos sequer imaginar neste ‘momento, Como escreveu Alec Ross, autor de The Industries of the Future? 65% das profissGes que nossos atuais pré-escolares ocupa- 180 no futuro ainda no foram sequer inventadas. Suas vidas sergio muito mais longas que as nossas. £ bem possivel que pensem pen- samentos diferentes. Eles vdo precisar do mais sofisticado arsenal de capacidades que os seres humanos ja tervio adquirido até aque- Je momento: processos de leitura profunda, altamente elaborados, ‘© CEREBRO NO MUNDO DIGITAL ‘compartilhados com e expandidos por habilidades de codificagao, planejamento e programacio — tudo isso transformado por um fu- tro que nenhum de nés ~ nem Stewart Brand, nem Sundar Pichai, nem Susan Wojcicki, nem Juan Enriquez ou Steve Gullans, Craig ‘Venter ou Jeff Bezos* — consegue ainda prever. Construir o tipo de conjuntos polivalentes de circuitos do o&- rebro capazes de preparar os membros mais jovens de nossa es- pécie para pensar com o conhecimento e a flexibilidade cognitiva de que precisardo é uma tarefa 4 qual nés, seus tutores, podemos nos dedicar no breve tempo em que compartilharemos com eles .ejam suas proximas iteragées, 0 futuro as forgas e fraquezas frequentemente contra valores opostos que caracterizam os proces izados pelos diferentes meios e midias. Precisamos estudar 0 impacto cogniti- vo, socioemacional e moral das potencialidades dos meios atuais e trabalhar pela melhor integracio possivel de suas caracteristicas em circuitos futuros. Se formos bem-sucedidos, recapitularemos pela Admiistragio € vel pela agulscao do You ortante ma publicidad € lhe Spd of Light bre programagio gendtica via saquenciamento do ova; finalmente, ' Jeltey Preston Bezos, ox jet Bezos, como &conhecida, fundou ¢ catrola a Amazon, {ima dad maiores empress de vendae pela intemet. Comprou, em 2013, ojonmal Wishing: ton Poste promove um projeto que deverd dar um earéter comercial 20 voo no espa. & ‘ohomem mais ico do mundo. 198, ‘CONSTRUINDO UM CEREBRO DUPLAMENTE LETRADO na fisiologia da préxima geragio a grande licio que Shakespeare nos deixou sobre o amor: “Meu e nao meu”.* filésof Nicolau de Cusa pode nos ajudar. Ele acreditava que a melhor maneira de escolher entre duas perspectivas aparen- iguais, mas contraditérias ~ aquilo que ele chamava de dos opostos” ~ consistia em adotar uma posiciio de sibia ignorincia? na qual a pessoa se esforca por entender ambas as posicées e em seguida se afasta para avaliar e decidir qual caminho adotar. O conhecimento sobre o oérebro leitor ¢ as instrugSes para ‘suas iteragies futuras requerem a jungdo de miiltiplas disciplinas ~ desde a neurociéncia cognitiva e a tecnologia, até as humanidades e as ciéncias sociais. Nenhuma dessas disciplinas é suficiente sozinha para tomar tipo de decisdes que temos que tomar; cada uma acres- centa alguma coisa de essencial as combinatérias de conhecimento necessitias para desenvolver a posigio de sibia ignorincia de Ni- colau de Cusa. Neste contexto, eu proponho o desenvolvimento de ‘um cérebro leitor duplamente letrado. Uma proposta de desenvolvimento ‘Comegamos pela construgdo de uma infincia que ndo ¢ divi- dida entre dois meios de comunicagio, mas antes, nos termos de Walter Ong, esté imersa no melhor de ambos, com mais opgbes a ca- minho. Voc® jé sabe o que penso sobre o papel do meio impresso a introdugéo gradual de um segundo meio, o digital, nos primeiros cinco anos. Os cinco anos seguintes so nosso real desafio. Proponho um plano relativamente simples, possivelmente inusitado, para introduzir diferentes formas de leitura ¢ apren- dizado de base impressa e de base digital durante o periodo dos 5 aos 10 anos, Seu arcabouco mais geral baseia-se naquilo que 0 céREBRO NO MUNDO DIGITAL, sabemos sobre a criagio de aprendizes de duas linguas, cujos pais falam cada um uma lingua diferente, sendo que aquele que passa mais tempo com a crianga fala a lingua menos falada fora de casa. Nessas condiges, as criancas bilingues pequenas apren- dem a falar bem as duas Kinguas. Gradualmente, superam os ine- vitdveis erros que surgem quando se passa de uma lingua para a ‘outra, ¢, no final, sio capazes de explorar seus pensamentos mais profundos em ambas. Um fato muito importante é que, durante ‘esse processo, elas aprendem a alternar habilmente um cédigo e outro. Quando chegam a idade adulta,* seus cérebros sao obras- primas de flexibilidade cognitiva e linguistica, 0 que podemos observar de maneiras fascinantes. Muitos anos atras, ajudada pelos insights de meus amigos suigos Thomas e Heidi criei um teste de velocidade de no- meagio chamado Rapid Alternating Stimulus’ (Ras), que é usado atualmente por neuropsicélogos e educadores para predizer e diagnosticar a dislexia. Basicamente, esse teste pede que a pes- soa nomeie uma série de 50 itens bem conhecidos pertencentes a categorias diferentes, especificamente letras, niimeros e cores, A pessoa tem que passar de uma categoria para outra 0 mais rapido possivel, o que exige nao sé um conhecimento automati- zado consideravel, mas também uma boa dose de flexibilidade, Uma descoberta inesperada nos varios estudos comparativos foi que 0s adultos bilingues eram mais rdpidos nessas tarefas do que seus pares monolingues. Os aprendizes falantes de duas linguas tinham adquirido muito mais flexibilidade verbal do que os fa- antes de uma dinica lingua. Como mostra o trabalho inovador feito por Claude Goldenberg, ¢ Elliott Frielander® na Universidade de Stanford e na instituicio Save the Children, os falantes bilfngues ou multilingues passaram. anos indo de uma lingua para outra. Nao s6 so mais dgeis em recuperar palavras e conceitos, mas hé pesquisas indicando que so também mais capazes de abrir mio de seus pontos de vista essoais, @ assumir as perspectivas de outras pessoas. 200 ‘CONSTRUINDO UM CEREBRO DUPLAMENTE LETRADO B isso que quero que se tornem nossos leitores iniciantes: co- mutadores de cédigo expetientes e flexiveis ~ no presente entre os meios impressos e digitais, e mais tarde entre dois ou miltiplos meios de comunicagao. Minhas ideias de como isso funcionaria ao Jongo do tempo inspiram-se na maneira como 0 psicélogo russo Lev Vygotsky’ retrata o desenvolvimento do pensamento e da lin- guagem na crianca pequena: separados no primeiro momento, ¢ de- pois cada vez mais conectados. Portanto, eu conceituo o desenvolvi- mento inicial de comegar a pensar em cada meio como amplamente separado em dominios distintos nos primeiros anos de escola, até ‘um ponto no tempo em que as caracteristicas especificas dos dois, meios estejam ambas bem desenvolvidas e internalizadas, Esse ponto ¢ essencial. Quero que a crianga tenha 0 mesmo nivel de fluéncia em cada um dos meios, exatamente como quem é inteiramente fluente ao falar espanhol e inglés. Desse modo, 0 cardter singular dos processos cognitivos aprimorados por cada meio estaria presente desde o comeco. Minha hipétese no confir- mada é que esse codesenvolvimento poderia evitar a atrofia que se observa nos adultos quando o processo de ler nas telas “conta- mina” a leitura de impressos e eclipsa os processos sabidamen- te mais lentos deste tiltimo tipo de leitura, Assim, desde o a crianga aprenderia que cada meio, como cada lingua, tem suas proprias regras e caracteristicas titeis, o que inclui suas melhores aplicagSes, andamento e ritmos. O PAPEL DO IMPRESSO Nos primeiros anos de escola, os livros fisicos e o material im- presso seriam usados como o principal meio para aprender a ler e dominariam o tempo dedicado &s historias. Foi essa a ligio na Carta Niimero 6: a leitura a partir de um texto impresso feita por a crianga reforga as dimensGes dos nticleos tem- poral e espacial da leitura, acrescenta importantes associagoes té- teis no jovem circuito de leitura e proporciona a melhor interacio social e emocional possivel. Sempre que factivel, o professor ou am (© CEREBRO NO MUNDO DIGITAL ‘um dos pais faria perguntas que levem as criangas a conectar seu préprio conhecimento de fundo com aquilo que esto lendo; que provoquem empatia em relagio a uma perspectiva alheia; e que as ‘motive a fazer inferéncias e comegar a expressar suas préprias andlises, reflexdes e insights. observaram Howard Gardner e as habilidades mais iniciais da leitura profunda nos jovens leitores seria um antidoto as tentag6es incessantes que rondam a cultura digital, como ler por cima e passar rapidamente para a préxima coisa interessante; ser passivo e conceber a leitura como mais um jogo que diverte e acaba; evitar descobrir os préprios pensamentos. ‘Como opinou um estudante: “Os livros me tornam mais lento e me fazem refletir; a internet me acelera”. Cada coisa teri RRP incisors de tts ipo 50s, queremos que as criancas aprendam que a leifura toma tem Assim como a tendéncia natural das criangas de passar em disparada de um pensamento para outro pode ser potencializada pela visualizagio frequente de materiais digitai, a experiéncia da leitura profunda pode dar a elas um modo alter- nativo de lidar com seus pensamentos. Nosso desafio enquanto CCONSTRUTNDO UM CEREBRO DUPLAMENTE LETRADO as que se sentem inseguras pelo fato de terem que aprender a ler - saem ganhando alguma coisa no decorrer desse tipo de pensamento que prepara o terreno para resto de suas vidas. ‘Aprendem a esperar algo importante de si proprias, ao refletir sobre o que leram, ‘Outro truque para ajudar as criangas a pensar enquanto apren- dem a ler pode ser surpreendente. Aprender a escrever & mao as, ajuda a explorar seus préprios pensamentos num passo mais préxi- ‘mo do caramujo que da lebre, particularmente se sua capacidade de soletrar ainda oscila na variedade “gnys at wrk” * Ha um corpo de ‘pesquuisas crescente sobre a escrita & mo, demonstrando que quan- do as criangas aprenciem a escrever seus pensamentos"® & mao nos primeiros anos, passam a escrever e pensar melhor. Na perspectiva da neurociéncia cognitiva, as conexdes corticais positivas entre re- des linguisticas e motoras ¢ algo que os escribas e professores chi- neses conhecem hé séculos. ENSINANDO A SABEDORIA DIGITAL mento rapido. Os dispositivos digitais seriam introduzidos como um meio para codificar e programar, e para aquilo que a pesqui- sadora da tecnologia de Tufts Marina Bers chama “o parquinho”, para aprender uma deslumbrante variedade de habilidades de base digital: desde fazer arte gréfica e programar robs de legos até criar misicas de banda de garagem. Nenhuma midia recebe~ ria um lugar de destaque na classe. No processo de aprender a codificar, criangas pequenas desenvolvem as capacidades dedu- tivas, indutivas e analdgicas que so usadas em qualquer apren- FN TrOu ej: ges at work isto € gio trebothando”. 203 © CRREBRONO MUNDO DIGITAL, dizado stes* e a0 mesmo tempo constituem os processos de “mé- todo cientifico” nucleares no circuito da leitura, Elas comegam a entender, por exemplo, que a sequéncia é importante, principal fraqueza revelada na leitura digital pela pesquisa de Anne Man- gen. A importancia do sequenciamento e de outros processos stem € comentada com destaque na introdugio ao Scratch, o programa Para codificagao para criancas pequenas, idealizado pelo diretor do grupo Lifelong Kindergarten no Media Lab do mt, 0 especia- lista em tecnologia Mitchel Resnick, e por Marina Bers. Em uma das melhores descrigées da codificacio, eles escreveram: ia deveria receber a oportunidade de aprender a as vezes que a atividade de codificar é difi- de poucos, mas nds a encaramos como uma ramento ~ uma capacidade que deveria ser a qualquer um, Codificar ajuda os alunos a organizar seu pensamento e a expressar suas ideias, exatamente como 0 faz a escrita, A medida que as crangas pequenas codifiam como criar expressar-se por meio do computado: que é life- rente de apenas interagir com um software criado por outros, As cviancas aprendem a pensar sequencialmente, a explorar causas ‘efeitos ea desenvolver a capacidade de planejar e de solucionar problemas. Ao mesmo tempo [..] elas néo estio simplesmente aprendendo a codificar, estio codificando para aprender.” Num outro setor do Media Lab do mit, Cynthia Breazeal aju- da criangas a adquirir uma série de habilidades de codificagao por meio de interagées pessoais com aqueles que devem ser os robés ‘mais fofos que uma crianga jé viu pela frente, Ela e sua equipe de- monstram como uma combinagio de interagées sociais e de habili- dades de programagio ensina as criangas a construir, desconstruir ¢ programar robés para que se mexam, rodopiem e apitem."* Nesse TT NEE sib & 0 acrdstio de Scien, Tecnology, Enginceing and Mathematics (Cidnia, ‘Tecnologia, Engenharia © Mateméticn";¢ uma sigla que permite falar em eonjunlo de viris disiptinas orentadas para ascléncas Alisciplinar hoje pre em suits univers tecnologia: esa perspeciva intr imercanas. 208 ‘CONSTRUINDO UM CEREBRO DUPLAMENTE LETRADO Processo, as criangas compreendem por que e como as coisas fun- cionam no mundo digital. Essas formas ativas de conhecimento de base digital dao as criancas insights que cruzam quaisquer dominios de aprendizado, Em particular, os processos paralelos, mutuamen- te complementares, que as criangas aprendem enquanto codificam ¢ criam, complementam 0s processos usados para aprender a ler num meio impresso. Em algum momento ainda impossivel de prever, haverd uma transigéo, em que a crianga que aprendeu muito nos dois meios e citculou por diferentes midias estaré preparada e talvez ansiosa para ler mais trabalhos escolares nas telas. Quando exatamente isso acontece dependerd das caracteristicas individuais da crianga, de suas habilidades na leitura e também do ambiente. Importa com- preender as diferencas individuais. Para algumas criangas, o ensino da leitura on-line néo pode comegar muito cedo; para outras, tem que ser introduzido gradualmente, e muito mais devagar. jai, junto com Jenny Thomson e Anne Mangen estdo tentando enfrentar os desafios® tura de criangas nas telas num mundo as criangas criem hébitos digitais mentais do tipo vale-tudo, que sao contraproducentes. Para evitar esses habitos, seriam ensinadas “contra-habilida- des” tio logo a crianga comece a ler nas telas. Enfases especiais se- iam dadas & importiincia de ler pelo sentido, e nao pela velocidade; a evitar o estilo bem conhecido que consiste em ler por cima, cagar palavras e ziguezaguear usado por muitos leitores adultos; ao mo- nitoramento regular de sua compreenstio enquanto lem (checando a sequéncia e as “pistas” do enredo e varrendo a meméria em busca de detalhes);e as estratégias de aprendizado, para garantir que eles apliquem ao contetido on-line as mesmas habilidades analégicas sensoriais que aprenderam para os textos impressos. 205 CEREBRO NO MUNDO DIGITAL, Um exemplo de ferramenta j4 existente que poderia ajudar as criangas a monitorar sua propria leitura on-line 6 0 programa Thinking Reader,** criado por David Rose, Anne Meyer e a equi- pe do Center for Applied Special Technology (cAst). Baseado nos principios do Universal Design for Leaming (uot), uma abor- dagem que procura criar maneiras mais flexiveis e atraentes de aprender para muitos tipos diferentes de criangas, 0 programa Thinking Reader incorpora principios do unt. no texto, oferecendo apoio estratégico em diferentes nfveis. Por exemplo, 0 programa incorps hiperlink que fornece conhecimento de fundo para ‘um conceito desconhecido ou oferece estratégias de leitura especi- ficas (do tipo: quando visualizar, resumir, predizer ou perguntar), ‘mas apenas quando isso & necessari O iiltimo ponto é de implementagio muito delicada. Um dos idados permanentes” acerca do uso de tecnologias digitais, par- cularmente para alunos dificeis, é a tendéncia das criangas para lepender demais de apoios externos, particularmente quando exis- te a opgio de que alguém leia o texto para elas, em vez de lerem sozinhas. O trabalho do casr e também de um amplo corpo de pes ‘quisas patrocinadas pela MacArthur Foundation Digital Media and Learning Program ilustram como 0 uso de instrumentos guiados teoricamente, em particular no momento correto na tela e com 0 apoio correto de professores, pode promover o aprendizado em vez de impedi-lo, Isso 6 especialmente titil para criangas com desatios que Vio desde dificuldades motoras e sensoriais até a dislexia, pas- sando pelo aprendizado de duas linguas, Outras ferramentas para a leitura on-line visariam a proble- mas mais pragmaticos como os melhores usos de mecanismos de busca; a escolha da palavra certa para encontrar a informacio e, muito importante, aprender a avaliar a informagio nas buscas, de modo a detectar vieses e tentativas de influenciar opinides ¢ con- 7 NAO projeto Universal Design fr Learning enfoca a redes neuraisestudando os obe- tos 8 procesos eas rats do aprendizado e desenvolve motodologias deensino diver- ‘cadas no quo concerns contetios, formulae mativagio do conhecimento 206 sumo e reconhecer o potencial de uma informagio falsa ou sem fundamento. Ser direto na tomada de decisdo, monitorar a aten- gio € as competéncias executivas necessérias para uma boa lei- tura on-line e para bons habitos de internet é uitil para qualquer aprendizado, qualquer que seja o estilo de aprendizado da crianca {dia que ela usa. Nesse contexto, discutir as realidades boas e més, atraentes & ppotencialmente perigosas do uso da internet deveria se tornas, para ‘esta cultura, a versio dos cursos de educacio sexual do passado uma parte bésica do treinamento que no pode faltar na caixa de ferramentas de todo professor de escola elementar. Julie Coiro faz ae nda nao 8 antidotos criticos para efeitos negatives da cultura digital, como a dispersio da atengio ¢ 0 des- da empatia, mas também complementam as influéncias di- gitais positivas. Uma crianga que combina a leitura de histérias so- bre crianeas refugiadas com o acesso on-line as filmagens ao vivo de criancas refugiadas que aguardam com suas vidas suspensas na Grécia, na Turquia ou no norte do estado de Nova York, desen- volve mais empatia do que uma crianga que 1é sobre a situagio € 6, No nivel da superficie, nossas criangas do século xxt parecem ser mais conhecedoras de seu mundo conectado do que jé foram em qualquer tempo, mas nao estao necessariamente construindo ‘as formas mais profundas de conhecimento sobre os outros que Ihes permitiriam sentir 0 que significa ser outra pessoa € compre- ender seus sentimentos. Como Sherry Turkle observou em Alone Together, nossas criancas frequentemente se saem melhor trocando 207 mensagens de texto sentadas lado a lado do que discutindo em voz alta suas ideias e sentimentos. As habilidades da leitura pro- funda que envolvem diferentes midias podem ajudar a construir uma imaginagao solidaria mais elaborada. Se tudo correr bem nesta proposta, quando estiverem aproxi- madamente com 10 ou 12 anos, a maioria das criangas serio pro- ficientes na leitura em dois meios e em muiltiplas midias e capazes de circular sem esforgo entre elas em fungio de diferentes tarefas. ‘Terdo comegado a aprender por si mesmas qual meio é melhor para cada tipo de contetido ou tarefa de aprendizado e saberio ler em profundidade e pensar em profundidade, independentemente do meio usado, Se conseguirmos alcancar esses objetivos para um nii- ‘mero cada vez maior de criangas, a sociedade sera mais saudavel © mundo mais humano, como escteveu o papa Francisco. Limitagées, obstaculos e motivos para otimismo Se nés, enquanto sociedade, quisermos construir ambientes de aprendizado que favorecam 0 oérebro duplamente letrado, temos que assumir essa iniciativa e enfrentar ts grandes questées. Em Primeiro lugar, falando da minha perspectiva de cientista, precisa- ‘mos investir em muito mais pesquisa sobre como os meios impres- 808 ¢ digitais impactam cognitivamente as criancas, particularmente aquelas que tam limitagées para a leitura, sejam de origem biolégica ou ambiental. Em segundo lugar, a partir de minha perspectiva de educadora, precisamos investir numa preparacéo profissional mais, abrangente, pois a maioria dos professores (nada menos que 82%) nunca recebeu qualquer treinamento® para melhores usos da tecno- Jogia com criangas dos anos finais da educagao infantil ao quarto ano, ‘e menos ainda no ensino de bons usos da leitura on-line para dife- entes tipos de aprendizes, Em terceiro lugar, de meu ponto de vista de cidada, temos que encarar as restrigdes de acesso que existem em nossa sociedade e no mundo e trabalhar para que sejam climinadas, 208 O PRIMEIRO OBSTACULO: PESQUISA SOBRE O IMPACTO Si preciosas, mas poucas, as pesquisas que comparam como diferentes meios afetam o aprendizado da leitura de estudantes com diferencas individuais — os milhares de estudantes que fracas- sam. A gravidade da realidade de hoje significa que, a ser mantido ritmo atual, a maioria das criangas de oitavo ano estariam sendo classificadas como analfabetas funcionais em poucos anos. Elas es- tardo lendo, mas no de maneira proficiente, nem pensando e sen- tindo de forma desejével o que estiverem lendo. A abordagem hibrida da construgio de um eérebro dupla- mente letrado precisa ser muito mais cuidadosa no desenvol- vimento para os anos K-12," tendo as criangas no proficientes no foco de nossa atengio. Isso requer uma pesquisa rigorosa, de longo prazo, que comece com estudos voltados para os impactos especificos que os diferentes meios exercem sobre a atengio e a meméria das criancas; para 0s efeitos do tempo exponencialmen- te crescente gasto com dispositivos dligitais, com 0 aumento con- comitante de distracio; 0 potencial desenfreado de dependéncia entre 0s jovens; e 0 declinio da empatia entre mais jovens, que jd mencionamos. Precisamos de uma compreensio cabal do que 6 ideal para aprendizagens distintas em cada fase de seu desen- volvimento. Precisamos que 0s pais, os educadores ¢ os lideres politicos cobrem esses estudos; precisamos que os designers criem inovagGes digitais que sejam cog} eficazes quanto atraentes; e precisamos de provas empiricas de isso funciona mesmo. TT NITE Nesta sla, que mantivemos em sua forma original, K est por Kindergarten 12 O SEGUNDO OBSTACULO: TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL Se dois tercos das criangas americanas esto tendo dificuldades para se tornarem leitores proficientes em apenas um meio, quais sio as probabilidades de que isso va dar certo em dois? © duplo letramento nao acabara sendo mais um obstéculo de raizes sociais ppara seu sucesso? Como atribuir aos professores a responsabilidade de mais uma tarefa impossivel? Hi mais raz6es para sermos otimistas do que em qualquer mo- mento do passado. Em primeiro lugat, sabemos pelas novas pes- quisas que hA seis ou sete perfis basicos de leitores iniciantes, ¢ isso toma bem mais facil identificar mais cedo 0s leitores-problema. As- sim, os professores podem planejar um ensino sob medida para as necessidades de criancas diferentes. Num futuro préximo, 0s meios digitais poderiam mudar toda a trajetéria do aprendizado e do en- sino como um todo. Por exemplo, a maioria das criangas disléxicas exigem até dez vezes mais exposicdes &s regras de correspondén- cia letra-som e as configuragées de letras mais comuns do inglés do que pode oferecer um professor numa classe de 25 criangas, em qualquer ano, Para essas criancas, 0 uso dos dispositivos digitais mudaria tudo. Pense-se no que aconteceria se essas criangas com dificuldade de aprendizagem de leitura pudessem treinar as regras € 08 padrées de letras antes das outras criangas, na classe, um dia antes ou na mesma manha. Dado que as criangas com essa dificul- dade tendem a achar que hé alguma coisa “errada” com elas, usar ‘um meio digital dessa forma poderia oferecer as miiltiplas reitera- Ges de que precisam e, quem sabe, mostrar suas pot geralmente negligenciadas, dissipando a rejeigio que sofrem injusta ;mas criangas nunca sero bons leitores de telas vice-versa. Num estudo fascinante, Julie Coiro elencou as preferéncias de leitura de alunos do sétimo ano2! Seu resultado mais instigante foi o de que os leito- 210 CONSTRUINDO UM CEREBRO DUNLAMEA 18 res com melhor desempenho em textos impressos eram frequente- mente os piores na leitura on-line, e vice-versa. Se essa descoberta reflete a emergéncia de dois circuitos de leitura nas criangas mais velhas hoje, ou uma diferenca de aprendizado subjacente, é muito possivel que algumas criancas disléxicas saiam ganhando se se tor- narem leitores digitais desde cedo. Certamente o uso da tecnologia digital para Ihes dar maior exposigo aos sons, fungbes gramaticais ‘e sentido das palavras que lem em varios contextos ~ coisas a se- rem aprendidas no seu préprio “tempo calmo” —seria muito vanta- joso tanto para eles como para os professores. Para criangas um pouco mais velhas® para as quais a aprendi- zagem da leitura continua sendo uma luta ¢ os livros se tornaram ‘entidades apavorantes, os livros digitais e os éudio-livros ou os livros gravados,® assim como alguns videogames™ cuidadosa- mente escolhidos, sio meios complementares eficazes. Na realida- de, as pesquisas em expansio sobre os videogames sugerem que ‘9 sucesso de algumas criangas nesses jogos ndo s6 aumenta sua atengdo visual e habilidades motoras que mobilizam olhos e mios, ‘mas também ajuda discretamente no dominio da leitura quando ler é necessério para ganhar os jogos. (© neurocientista e diretor de escola Gordon Sherman e sua equipe na Newgrange School usam instrumentos digitais de todo tipo para atrair e manter a atencio de seus alunos mais velhos com ‘uma série de desafios de aprendizado. Quando visitei a escola, Gor- ‘don me levou ao laboratério de musica, onde tomei contato com ‘uma das mais belas composigées de um jovem autor que jé ouvi, criada com o programa Garage-Band! Explorar a criatividade in- terior de nossos diferentes aprendizes pode ser uma das maiores contribuigSes da tecnologia educacional hoje em dia. ‘Nada disso é facil, como tem mostrado a implementacdo de tecnologia educacional nas salas de aula dos Estados Unidos. As ‘meta-andlises! dos estudos que investigam o uso integrado de varios dispositivos digitais na sala de aula mostram efeitos posi- tivos significativos, embora modestos nos resultados em leitura, matemitica e ciéncia para os estudantes do ensino bésico, quando aun (OcERERONO MUNDO DIGITAL, comparados com as salas de aula tradicionais. Isso no se deve & falta de interesse dos professores. Conforme foi observado pela gerente editorial Rose Else-Mitchell, uma pesquisa-piloto reali- zada em 2017 sobre o uso da tecnologia educacional indica que dois tergos dos professores americanos estio usando ativamente algum tipo de tecnologia em suas classes, mas sentem a necessi- dade de maior apoio e treinamento. Ao que tudo indica, a falta de resultados impactantes até este momento no uso de meios digitais na classe reflete uma multiplici- dade de fatores: o impacto cognitivo dos meios digitais, que mal co- ‘megamos a compreender; a falta de treinamento e apoio profissio- nal para nossos professores;e, finalmente, 0 grande obstaculo* que sempre aparece em todas as pesquisas educacionais envolvendo a tecnologia: a limitagio do acesso digital. O TERCEIRO OBSTACULO: A IGUALDADE DE ACESSO Se quisermos de fato criar oportunidades iguais para os estu- dantes americanos, precisamos cerrar fileiras diante da complexa relagio que existe entre acesso digital e desigualdade. Um segmen- to significativo das criangas americanas tem muito poucos livros em casa e pouco ou nenhum acesso a recursos digitais, exceto telefones celulares, que usam excessivamente. Segundo Robert Putnam e Ja- mes Heckman, o nimero de familias em regides carentes esta cres- cendo rapidamente, Elas no podem dar-se ao luxo de se preocupar em saber se ha uma exposicio exagerada aos meios digitais ou se ha ‘um excesso de livros eletténicos incrementados para os fillhos. Eles no tém nem livros nem computadores. Essas familias representam certamente uma porgio conside- ravel dos dez mil alunos de quarto ano de que trata um estudo do Departamento de Educagio dos Estados Unidos que mostra que as criangas nos quartis mais baixos escrevem pior em testes + NTs Tanboring elephant no original m2 ‘CONSTRUINDO UM CEREBRO DUPLAMENTE LETRADO de computador. O relatério terminava com a afirmagio de que “o uso do computador pode ter aumentado a distancia entre os de- sempenhos na escrita”.* As criangas que ficam menos expostas” a livros tém vocabulirios e experiéncias diferentes diante de his- t6rias e enredos que so velhos conhecidos das outras cr As criangas que ficam menos expostas aos dispositivos digitais ¢ aos computadores tém mais dificuldade itar em teclados ‘e muito menos pratica em usar um meio digital para gravar seus pensamentos em testes de computador ~ testes esses que muitos pais e professores, entre os quais esta autora, abordariam com sentimentos contraditérios. Se queremos modelar para todas as nossas criangas um cérebro leitor capaz de alternar entre c6di- £08, precisamos imaginar Como lidaremos com a sempre lembra- da lacuna nos resultados e com a lacuna, menos discutida, da cultura digital. Num brilhante relatério intitulado “Opportunity for ‘Technology and Learning in Lower-Income Families’* Vi Rideout e Vikki Katz fazem um levantamento que enfoca le mil familias na faixa de renda baixa para moderada. Nessas fa- milias, ha dois tipos diferentes de lacunas digitais:® uma envolve © acesso as ferramentas digitais; a outra, tal como a descreve 0 pesquisador Henry Jenkins, tem a ver com a participacto, pois 08 pais praticamente ndo tém condigées de oferecer nem orien- tages de uso, nem aplicativos de alta qualidade, o que faz com que as criangas sejam mais entretidas do que ajudadas em suas vidas educativas, Esse relatério deixou claro que, embora a maioria das familias investigadas fossem conectadas digitalmente de algum modo, mui- tas usavam somente telefones celulares, muitos dos quais velhos e desatualizados em termos de meméria. Somente 6% das familias tinham se inscrito para usufruir dos servicos dispontveis com des- conto (em principio) para as familias de baixa renda. Os autores resumiram suas descobertas dizendo que “o acesso ja nao é mais apenas uma questéo de sim ou nao. A qualidade das conexdes de internet das familias e 0s tipos e capacidades de servigos que elas 213 ‘© CEREDRONO MUNDO DIGITAL conseguem acessar tém consideraveis consequéncias tanto para os pais quanto para os filhos”.®” Permitam-me sublinhar: o simples fato de ter acesso no ga- rante que a crianca sera capaz de usar 0s recursos digitais de ‘maneiras positivas. Susan Neuman e Donna Celan« dos relatos mais desanimadores" sobte acesso digital ao tratar de uma iniciativa das bibliotecas da cidade de Filadélfia. O estu- do tinha a nobre intengao de investigar o efeito de oferecer livros e acesso digital a familias carentes e a seus filhos. Os resultados ram qualquer desfecho desejado: apenas dar acesso aos ‘meios digitais a criangas carentes podia de fato ter efeitos desas- trosos, se io houvesse participacdo dos pais. As criangas que tinham participado desse estudo foram significativamente pior nos testes de letramento do que as outras criancas, ¢ as dispari- dades entre grupos aumentaram depois que foram introduzidos recursos tecnolégicos, particularmente quando as criangas 0s usavam para fins de entretenimento. Esse estudo poe em destaque um erro central e persistente no uso da tecnologia digital para fins educativos. Os efeitos positi- vos do aprendizado digital nio podem ser reduzidos a quest5es de acesso e exposi¢ao. Uma opinido ainda defendida por muitos tecndlogos competentes e bem-intencionados ¢ que a exposigio digital, por si s6, levard a grandes avancos sindpticos na aquisigiio de conhecimentos, incluindo 0 letramento. Opiniées como essa tém origem na crenca bem intencionada, mas em tiltima andlise excessivamente romantica, de que a curiosidade inata das 1 basta para impulsionar 0 aprendizado e o letramento. A curiosi- dade e a descoberta sdo maravilhosas, produtivas e necessérias, mas so instificientes, como sublinhou 0 trabalho de Neuman e Celano. As criangas podem aprender uma grande quantidade de coisas sobre letramento digital sem aprender muito sobre como tornar-se letrado, Os objetivos de minha iniciativa Curious Leaming* que é um consércio global de letramento, envolvem a mobilizagio da curiosidade das criangas, particularmente de criangas analfabetas 4 CONSTRUINDO UM CEREBRO DUFLAMEN IE Lesnauy em partes afastadas do mundo, mediante 0 uso de recursos di- vos teoricamente fundamentados. Baseados em esforgos para simular o circuito de leitura, esses aplicativos e as atividades sio supervisionados ou planejados com o objetivo de promover o aprendizado da leitura numa plataforma digital, 20 ‘mesmo tempo que estimulam a imaginagio da crianga. Fizemos progressos nessas duuas diregSes, mas ha muito mais por fazer. Precisaremos dos esforcos coordenados de muitos grupos em nos- 0 pafs e ao redor do mundo para encontrar solugées que permi- tam conceber aplicativos eficazes, com resultados comprovados, ce compensar as lacunas do acesso digital, particularmente no que diz respeito & participacio dos pais. ‘Todos nés sabemos que © progresso nunca foi simples para nossa espécie, mesmo em tempos muito mais féceis do que os nos- 0s, Sou uma pessoa realista e otimista, e vejo razSes para ser as duas coisas. Em escala global, uma das diregGes mais animadoras envolve o xpkize do empreendedor Peter Diamandis, que premia~ 14, com uma vultosa doacéo em dinheiro, a equipe de pes que conseguir desenvolver tablets digitais capazes de aumentar 1s habilidades de leitura e aprendizado das criangas da Tanzinia, tanto em inglés como em suafli, Se der certo, esse trabalho servi- 1A de modelo para muitas outras tentativas. O compromisso que cubjaz.a esse prémio e a ntimeros crescentes de outras iniciativas globais a respeito do letramento promovera 0 avango de nosso mundo, se trabalharmos juntos pasando por cima de fronteiras disciplinares e geograficas. ‘Uma biografia recente de Elon Musk, escrita por Ashlee Van- ce, deixou de mencionar que Musk esté fazendo doacoes vultosas para o Adult Literacy X-Prize® sobre letramento, mas lembrou vi- gorosamente que no dicionatio de Musk, a palavra inpossiel & tra~ ‘duzida como Fase Um. A proposta de duplo letramento desta carta representa a Fase Um. Com conhecimentos crescentes em neuro- ciéncia, educagio e tecnologia, particularmente sobre diferentes midias e seu impacto, e com atenco nos bloqueios de acessos em nossa sociedade, alcancaremos a Fase Dois: a formagao de um cé- 25 (© c#kEBRO NO MUNDO DIGITAL rebro duplamente letrado capaz de alternar entre cédigos, que as- similou as melhores caracteristicas das duas formas de leitura: a partir de impressos e digit ‘Muito importante: & diferenga de meu cérebro leitor e do cé- ebro leitor de quem me Ié, que comegaram a adotar as caracteris- ticas do modo de leitura digital para qualquer coisa, a esperanca que as pessoas da préxima geracdo possam desenvolver modos claramente diferentes de ler desde o inicio. Assim, elas poderio aplicar esses modos automaticamente para diferentes objetivos de leitura. Por exemplo, para 0 e-mail, elas usario seu modo “luz de eitura”, que é mais répido; para matérias mais sérias, usaréo um modo de leitura que vai mais a fundo, quem sabe, imprimindo © texto! Se ficar demonstrado que esta hipétese é correta, have- 14 menos efeitos de “vazamentos que contaminam” a partir do modo que prevalece, qualquer que ele seja, e, mais importante, menos probabilidades de que os cérebros leitores de nossas crian- ‘Gas softam curtos-circuitos em seu desenvolvimento. Além disso, se ficar demonstrado que esta hipétese 6 correta, criangas capazes de altemnar entre diferentes midias™ como o faz um cétebro ple- namente biletrado, levardo adiante 0 desenvolvimento de nossa espécie e, se Marcelo e Carola Suérez-Orozco estiverem corretos, expandirao também nossas tendéncias para a solidariedade e para a capacidade de adotar outras perspectivas. “Nosso tinico mun- do”® seria duplamente abengoado. end, remember, connect, infer, analyzelthen LEAPI)* © projeto de biletramento desta carta nos ajuda a visualizar ‘como preparamos as criangas para passar para outro lado do di- visor de aguas cultural. Tudo comega e termina com a entrega a nossos jovens de cada um dos processos que caracteriza a leitura profunda em cada meio: arcia/tl. Esse actonimo é um antidoto meio jecoso contra o fendmeno #i; dr, que caracteriza a leitura de um ni- + NEFA waducdo das palavras entre parénteses& “preste ate, lembre, cone ini, analise/eaf PULE 216 ‘CONSTRUINDO UM CEREBRO DUPLAMUNTE LiL KALU mero expressivo de jovens de hoje. Quero recuperar e redirecionar suas capacidades desde a atengao até o insi ‘Como escreveu a contista Patricia McKillip, “O futuro ~ qual- quer futuro’ ~ era somente um passo de cada vez. para fora do coragio”. Assim tém sido para mim os pensamentos nestas trés Liltimas cartas sobre o futuro de nossas criangas: apostando no que precisamos preservar no cérebro leitor atual, para no perder algo que seria insubstituivel; mostrando armadilhas a serem evitadas nos efeitos colaterais da midia digital sobre os jovens ¢ velhos; ¢ dando nome as falhas da sociedade, em particular 0 acesso a0 digital e ao impresso, e o papel dos pais. Juntos, esses pensamen- tos do um retrato inacabado dos dilemas digitais que temos pela frente e apontam para um futuro complexo e estimulante para as criangas e para nés. Como Flannery O’ Connor, “Consigo, com um olho semicerrado, receber tudo isso como uma béngio”.” Seja qual for a promessa que o futuro contém, todavia, 0 que um ser humano poderia fazer de mais ignorante seria no compre- ender aquilo que os leitores experientes deste momento possuem. O futuro ~ qualquer futuro ~ depende de nosso entendimento do valor verdadeiro do bom leitor e do papel que a leitura profunda tem no modo como vivemos nossas vidas. Meus melhores pensamentos, Maryanne Wolf NOTAS L Guomsey e MH, Lavine, Tap, Click, Rea: Growing Renders ne World of Serees, San Francisco, Joscey-Bacs 2015, p28. 2 A-Roce The Indus of he Future, Now Yorks Simon and Schuster, 2016 3 Berto originalmente em 1440; Ver Nicolas of Cus, Ont Learned Ignoancy, tea. J Hopkins, Dnlytk,pariculamenteEBalytk FM. Ca D. W. at Mind Pace Sc Pile 18.3, ‘Stimulus Tests", Austin, tx, Pro-Ed, 2008 217 (0 CEREBRO NO MUNDO DIGITAL * Vert. Vygotsky, Thought er Language, Cambridge i, utr Press, 1986. * M. Weigh eH. Gardner, "The Best of Both Literacies’ Educational Leadership 6, n. 6, mango de 2008 pp. 38-41, GrL Bisex, Gry at Wri: A Child Lenreto Write and Rea, Cambridge a, Harvard Univer- sity Pres, 198. Ver, pp. 446-54. w Ver op externas relatos sobre as fercamentas digias as tividades patrocinadas pela cmp, .N. Davide ‘Skills, Online Reading Skills, and Price Knowledge”, oul of Literacy Research 43, 201, pp. 352.92, ut co fi 218 ‘CONSTRUINDO UM CEREBRO DUPLAMENTE LETRADO Ver 8 Vaughn J. Wexler, A. Leroux etal, “Effects of Intensive Reading Intervention for ighth-Grade Stadents with Persstenty Inadequate Responce to Intervention” Journal of 5,18 6 novembro-dezembro de 201, pp. S15 ss, Haevard University ‘zone iy Foran aly Living and Learning wit the New Medi. James, Young Pople, ihics end the New DigitalMedia). Kahne, €. Middaugh e C. Evans, The Cie Potential of Video Games Cambri, na 0 Pras, 2008. ALC X, Cheung and BE Slavin, “The Effectiveness of Eaucation Technology for Enhan ng Reading Achievement: A Meta-analysis", Center for Research and Reform on Edi ‘ton Johns Hopkins University, malo de 2011; A.C. K. Cheung e RE, Slavin, “How Features of Educational Technology Applications Alfect Student Reading Outcomes: A Mete-analysis", Educational Recah Revie 7, 1! 3, dezembro de 2012, pp. 198-218 A. C Xe -Cheunge RE Slavin, “The Elsctivenes of Educational Technology Applications for ‘Chasrooms A Meta-analysis, Edvcational bro de 2018. 2 Vora discussio que Stephanie Gottwald e eu mesme fazemos da ctianga analfebeta no tercelto capitulo de Tle of ilercy forte 2st Century, Oxford, Reino Unido, Oxford Uni- Technology and Lesening in Lowerincome sme Warkshop, New York, 201, of Partptory Cul: laa Education forthe ‘al, “Global Literacy and Socially Excluded socially Excluded, Cidade do Vaticano, Acad © CE hups:/adultiteracy-xprize.ong % Suter-Orozea M. ML Abo Zena e A. K. Marks ed Trmsitions: The Devpment of the ‘York University Press, 2015 Vjam-se a pesquias 219

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