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1 Intervencao precoce: breves consideracées O Guia Portage de Educac&o Pré-Escolar (Bluma, Shearer, Frohman & Hilliard, 1978) foi desenvolvido na década de 70 para reali- zar agdes de intervengdo precoce. Portanto, antes de descrever tal guia, 0 que sera feito no capitulo 2 e o Inventario Portage Operacionalizado (ver capitulo 4) convém esclarecer a terminologia, definigdes e o que enten- demos por uma intervengao precoce adequada e eficaz. Ha diferentes terminologias para o atendimento precoce de bebés, podendo confundir pais, profissionais e pesquisadores. Assim, é possivel encontrar na literatura termos como Intervengdo Precoce (Fiore- -Correia & Lampréia, 2012; Cunha & Benevides, 2012; Silva & Dessen, 2005); Estimulagao Precoce (Bobrek & Gil, 2016; Hallal, Marques & Braccialli, 2008; Pérez-Ramos, 1990, 1996, bem como em todos os do- cumentos oficiais brasileiros relacionados ao tema); Atencdo Precoce (Soejima & Bolsanello, 2012); Educagdo Precoce (Nunes, 1995; Nasci- mento, 2000; Mollo-Bouvier, 2005); Estimulagdo Essencial (Ornelas, & Souza, 2001), dentre outros, acompanhados de definigdes nem sempre consistentes nos estudos e areas. Se pesquisadores analisarem o Thesaurus da area de educagao! verificaré dois termos: estimulagdo precoce (com 23 artigos indexados, entre os quais é possivel encontrar termos como interveng&o precoce, estimulagao precoce, educagao precoce e estimulacao essencial, o que n&o garante consisténcia com o uso do termo sugerido). No banco de terminologias da Biblioteca Virtual em Satide (BVS) da Psicologia? ha ' Recuperado em 31 de janeiro de 2018, de: http://pergamum.inep.gov.br/pergamunv biblioteca/pesquisa_thesauro.php. Recuperado em 31 de janeiro de 2018, de: http://bvs-psi.org. br/php/level.php?Lang= pt&component=17&item=124. 2 nm / Ani. illia 22 Licia Cavalcanti de Albuquerque wil Gi e (early interventi dicagéio para 0 Uso do termo interven¢ao nee Ly tion a cae inte nota expli |: i jon precoz) com a segul at fe intervenciOn P , ~e utilizando recursos médicos, feces, escolares se ireci ém-nascidos fanaa ia ou sade mental e direcionados a recem ee cts, pantcraea ou de estar, ou ja nos primeiros ee Saas $ men. a fisicos, do aprendizado, ou outros. Pode tambe1 Cuidadg obstétrico ou pré-natal. = : : ABVS sugere ainda, que se utilize 0 termo intervencao precoce no lugar de estimulac&o precoce (special education ou educaci6n especial), buscando assim uma uniformizagao no uso do termo. Além disso, 0 leitor interessado em temas relevantes sobre a ine fancia pode encontrar no site da Fundagao Maria Cecilia Sout Vidigal (www.fincsv.org.br) varios materiais disponiveis (por exemplo: Dez Pas. sos para implementar um programa para a primeirissima infancia ae: primeira infancia (por exemplo: Fundamentos do desenvolvimento infan- til), periodo da concep¢ao do bebé até o momento em que a crianga in- gressa na educagao formal. Ha muitos termos! Talvez, como apontado por Williams (1982, 1984) alguns termos, como estimulagao precoce e estimulacdo essencial, sejam vagos e imprecisos como tradugao do termo “early intervention”, mais propriamente uma intervengao realizada na “tenra” idade. Antes de prosseguir ¢ necessario que o leitor se recorde de co- mo a educa¢ao se encontra organizada no Brasil. Atualmente o sistema de educagao brasileiro se divide em: educagio basica (subdividida em edu- cago infantil, ensino fundamental e ensino médio), ensino superior e ensino técnico. Pode haver em algumas etapas uma ou mais modalidades de ensino: Educagao de Jovens ¢ Adultos, Educagao Especial, Educacao Profissional e Tecnolégica, Educagdo Basica do Campo, Educagao Esco- lar Indigena, Educacao Escolar Quilombola e Educagiio ‘a Distancia (Bra- sO) A Educagao Infantil é pauta do Ministério da Educagao ie pe ocentaseo ‘técnica da Coordenacao Geral de Educagao In- kr ) € normatizacao e regulamentagio da Camara da Educagao 3isica do Conselho Nacional de Educag’io (CEB/CNE). C di : visto, a interven¢ao precoce se localiza na educaca re ira telat = ficamente na educacao infantil e na educaci eee eer estrutura educacional pode permitir a Ee ee commreeader a waliar se ha coordenagéio entre as a 3 Recuperado em 31 de j janeiro de 2018, de: http:/ _c0r/15%e=303492019936094, -* “* Mtb:issun.comvfmesv/docside7, pasos Recuperado em 31 de janeiro de i 2018, de: ginas/Fundamentos-do-desenvolvimentorintantiecme reer Pe brlacervo-d gital/Pa aspx. 4 Manual do Inventario Portage Operacionalizado 23 diferentes etapas do ensino, assim como igualdade de acesso qualidade dos servigos educacionais oferecidos nas diferentes etapas. A Educagio Infantil, ao longo dos anos, tem se consolidado na legislaco e nas politicas brasileiras como dever do Estado e direito de todas as criangas de 0 a 5 anos de idade, sendo que a matricula das cri- angas de 0 a 3 anos e 11 meses na creche é opgao da familia e das crian- gas de 4a 5 anos de idade é obrigatéria na pré-escola. Nos Pardmetros Nacionais de Qualidade para a Educagéo Infantil - Volumes 1 e 2 (Brasil, 2006) sao estabelecidos diretrizes para a educagdo infantil a fim de possibilitar desenvolvimento integral da crianga até os 5 anos de idade nos seus aspectos fisico, psicolégico, intelectual e social, com- plementando a agao da familia e da comunidade, podendo funcionar em creches, pré-escolas, centros ou nticleo de Educagdo Infantil, piblicas ou privadas. Em tempos de inclusdio, a Educago Especial assegura um sis- tema de educacao inclusiva em todos os niveis de ensino e em ambientes que maximizem o desenvolvimento académico e social. Isso ocorre desde a Convengio sobre os Direitos das Pessoas com Deficiéncia aprovada pela ONU (2006) da qual o Brasil é signatario (Brasil, 2007). Assim, a interveng4o precoce também deve seguir as diretrizes da inclusao. Drago (2012) afirma que as criangas de zero a trés anos tém si- do esquecidas no que tange a educagdio formal. Elas recebem agGes volta- das para 0 cuidado, a higiene e a assisténcia, que sfio fundamentais, mas tais aspectos precisam estar associados a um projeto mais amplo de edu- cagdo, cultura, conhecimento, sociedade, ou seja, um projeto que integre o educar e o cuidar. Em termos de estimulago precoce (termo adotado pelas politi- cas pliblicas brasileiras) ha poucas diretrizes especificas. Em 1995, foi publicado pelo ento Ministério da Educagao e do Desporto, as Diretrizes Educacionais sobre Estimulagdo Precoce com enfoque no “portador de necessidades educativas especiais” (Brasil, 1995). Definia-se estimulagao precoce “...como um conjunto dinamico de atividades e de recursos hu- faanos e ambientais incentivadores que sto destinados a proporcionar a crianga, nos seus primeiros anos de vida, experiéncias significativas para alcancar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo” (p. 11). Tais diretrizes eram especificas as criangas que apresentavam disturbios no desenvolvimento ocorridos durante a gesta¢ao, nascimento ou nos primei- ros anos de vida, constituindo-se em deficiéncia sensorial (auditiva e visual), deficiéncia fisica, mental, deficiéncia multipla e condutas tipicas. Segundo essas diretrizes a “estintulagdo precoce” se destinava a criangas de zero a trés anos e “aconselhava-se a educagao especial bem mais tarde, 24 Livia Cavalcanti de Albuquerque Williams / Ana Litcia Rossito Aiello isto é, quando a crianga atingia a idade de sete a oito anos, face as 5 dificuldades de adaptagao escolar” (Brasil, 1995, p. 9). As diretrizes te conheciam também o direito de a familia receber apoio ¢ orientags., especificas ao problema da crianga, bem como participar do procegso te estimulagao. : Ainda em termos de politica nacional especifica para “estimula. cio precoce”, em 2016, foi langado pelo Ministério da Satide © documen. to intitulado “Diretrizes de estimulagao precoce para criancas de zero q 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor decorrente de microcefalia” em fungao da infecgao pelo zika virus (Brasil, 2016), Essas diretrizes, em sua versio preliminar, tinham como objetivo “ajudar os profissionais da Atengao a Satide no trabalho de estimulagio precoce as criangas de zero a 3 anos de idade com microcefalia e, portanto, com alteragdes ou potenciais alteragdes no desenvolvimento neuropsicomotor, e em seus efeitos relacionais e sociais” (p. 5). Em tal documento, se defi- niu estimulagao precoce: como um programa de acompanhamento e intervengio clinico- terapéutica multiprofissional com bebés de alto risco e com criangas Pequenas acometidas por patologias orgdnicas — entre as quais, a mi- crocefalia ~, buscando o melhor desenvolvimento possivel, por meio da mitigagao de sequelas do desenvolvimento neuropsicomotor, bet como de efeitos na aquisigao da linguagem, na socializagao e na estru- turagao subjetiva, podendo contribuir, inclusive, na estruturagd0 do vinculo mie/bebé e na compreensiio e no acolhimento familiar dessas criangas. (p. 5) As politicas brasileiras expostas acima parecem considerar a In- terest Prevors apenas para criangas com riscos ou deficiéncias est2- te leci as, além de ser voltada especificamente 4 crianga, com pouca én- fase na familia e no contexto. Parece desconsiderar, também, 0 pape zero a 3 anos, sendo de responsabili desconsiderando a enorme contribuiea to para tal area, Manual do Inventatio Portage Operacionalizado 25) Felizmente, em 2016. i 13.257/2016° que parece promiston > literatura, além de incluir a familia infantil € ndo informante sobre as co: intervengoes. A lei estabelece principios e diretrizes para a formulagado e a implementagao de politicas piiblicas para a primeira infancia em aten- Gao a especificidade e a relevancia dos primeiros anos de vida ao desen- volvimento infantil e ao desenvolvi e imento do ser humano, sendo também conhecida como Marco Legal da Primeira Infancia. O Marco Legal da Primeira Infancia é um conjunto de agdes voltadas & promogio do desen- volvimento infantil, desde a concepgio, até os seis anos de idade. Inclu- indo todas as esferas da Federagio e com a participagiio da sociedade, o Marco Legal da Primeira Infancia prevé a criagao de politicas, planos, programas e servi¢os que visam garantir 0 desenvolvimento integral dos 20 milhées de criangas brasileiras que se encontram neste periodo da vida (www.fimesv.com.br). Tal Lei, dentre outros aspectos, destaca: 1. A parti- cipagio da familia e do Estado na protegtio e promogao da crianga, de- senvolvendo programas e acdes, criando redes de protegaio e cuidado 4 crianga; 2. Apoio as familias incluindo visitas domiciliares e programas de promo¢io da paternidade e maternidade responsaveis, buscando arti- culacdo das areas de satide, nutricfio, educagao, assisténcia social, cultura, trabalho, habitagao, meio ambiente e Direitos Humanos, entre outras, com vistas ao desenvolvimento integral da crianga; 3. Familias em situa- go de vulnerabilidade e risco ou com direitos violados para exercer seu papel protetivo de cuidado e educagao da crianga na primeira infancia, bem como as que tém criancas com indicadores de risco ou deficiéncia terdio prioridade nas politicas sociais piiblicas; 4. Qualificagiio da forma- gao profissional; 5. Programas que se destinam ao fortalecimento da fa- inilia no exercicio de sua funcio de cuidado e educagiio de seus filhos na primeira infancia promoverao atividades centradas na crianga, focadas na familia e baseadas na comunidade. Pesquisas serdo necessarias a fim de verificar a adequacao e efi- cacia de agdes baseadas nessa Lei. Além disso, percebe-se uma mudanga de enfoque: antes do Marco Legal da Primeira Infancia, as oportunidades de aprendizagem eram oferecidas especificamente as criangas visando favorecer mudangas em seu desenvolvimento; a partir do Marco Legal a intervengfio precoce deve ser oferecida 4 crianga e seus familiares por profissionais qualificados, visando a promogao do desenvolvimento in- decretada e sancionada a Lei incorpora aspectos sugeridos pela na promogao do desenvolvimento digdes da crianga ou assistente das PE : 5 Recuperado em 31 de janeiro de 2018, de: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato 2015-2018/2016/lei/113257-htm. 26 Lucia Cavalcanti de Albuquerque Williams / Ana Licia Rossito Aiello fantil, com uma participagio efetiva da familia nas decisdes e interven. g6es com seus filhos. E importante ressaltar que todos os pais e profissionais deveriam saber que cada municipio deve contar com um “ Plano Municipal pela Primeira Infancia”, participando da fiscalizagao desse servigo®. Nesta diregao, um projeto promissor foi instituido pelo Decreto 8869 de 05 de outubro de 2016: 0 Programa Crianga Feliz que visa pro- mover 0 desenvolvimento integral das criangas na primeira infancia (0-6 anos), considerando sua familia e seu contexto de vida. O Programa prio- riza gestantes e criangas de até 3 anos e suas familias beneficidrias do Programa Bolsa Familia, criangas de até 6 anos e suas familias beneficid- tias do Beneficio de Prestac&o Continuada e criangas de até 6 anos afas- tadas do convivio familiar, em razdo da aplicagao de medida de protegao. Por meio de visitas domiciliares periddicas realizadas por profissional capacitado, o Programa Crianga Feliz tem como objetivos: I~ Promover o desenvolvimento humano a partir do apoio e do acom- panhamento do desenvolvimento infantil integral na primeira infancia; II - Apoiar a gestante e a familia na preparagiio para 0 nascimento e nos cuidados perinatais; III — Colaborar no exercicio da parentalidade, fortalecendo os vinculos 0 papel das familias para o desempenho da fungao de cuidado, pro- tego e educagdo de criancas na faixa etdria de até seis anos de idade; IV — Mediar o acesso da gestante, das criangas na primeira infincia e das suas familias a politicas e servigos puiblicos de que necessitem; V ~ Integrar, ampliar e fortalecer acdes de politicas puiblicas voltadas para as gestantes, criangas na primeira infancia e suas familias. Outro destaque a ser realizado diz respeito aos diferentes cam- pos profissionais envolvidos na intervengdo precoce. Contribuigées da area da educagao infantil, educagao especial, psicologia do desenvolvi- mento e de estudos sobre familias enriquecem nossa compreensio sobre como os bebés se desenvolvem, interagem e crescem, assim como suas familias atuam e favorecem seu desenvolvimento. Compilar as contribui- gGes de todas essas areas é dificil, explicando talvez o porqué da existén- cia de varias abordagens e modelos de intervengiio precoce. Interven¢ao precoce (termo que adotaremos no presente livro por melhor representar 0 trabalho a ser desenvolvido com as familias ¢ © — Recuperado em 31 de janeiro de 2018, de: www.primeirainfancia.org.br/pmpi. TS Manual do Inventirio Portage Operacionalizado 27 seus bebés e utilizado na literatura internacional e em grande parte da nacional) tem sido alvo de pesquisas de forma mais intensa desde a déca- da de 60, com descrigao de inimeros programas a diferentes populagdes, baseados em teorias ¢ modelos que norteiam suas praticas. Nao é objetivo desse capitulo discutir essas teorias e modelos, mas destacar o que enten- demos por intervengao precoce. ie Segundo Guralnick (1997), entre 1970 a 1995 existiu a primeira geragiio de pesquisas sobre intervengao precoce: um periodo fértil de abordagens terapéuticas e atividades diversificadas que evoluiram para programas de intervencao precoce bem estabelecidos, com suportes ¢ servigos para criangas e suas familias, sendo tais programas de responsa- bilidade da sociedade e oferecidos para criangas com deficiéncias estabe- lecidas ou criangas cujo desenvolvimento estava comprometido por fato- tes biolégicos ou ambientais. Um periodo em que as pesquisas tinham por objetivo responder se a intervengAo precoce era eficaz, além de enfo- car as intervengoes apenas na crianca. Para Guralnick esse periodo apon- tou principios amplos que deveriam passar a guiar uma intervengao pre- coce bem-sucedida: ser centrada nas necessidades da familia, oferecida na comunidade, capaz de integrar eficientemente as contribuigdes de dife- rentes disciplinas e planejar e coordenar servigos e suportes de varias agéncias dentro de um sistema integrado. Entretanto Guralnick (1997) reconhecia que os profissionais eram confrontados com modelos conceituais conflitantes sobre 0 desenvolvi- mento e que profissionais no contavam com pesquisas para identificar e selecionar programas especificos que assegurassem as intervengdes mais efetivas. Na mesma publicacao, Guralnick (1997) chamava ateng&o a ne- cessidade de uma segunda geragdo de pesquisas sobre intervengao precoce ¢ propunha intimeras questdes a serem respondidas, principalmente sobre: 1. As caracteristicas dos programas (por exemplo, que curriculo adotar? Com qual intensidade? Com que grau de estrutura e precocidade? Enfati- zando relacionamento ou interagaio entre diades ou nao? Como as familias deveriam ser envolvidas?, etc.), 2. As caracteristicas das criangas e suas familias (como severidade do risco da crianga e os riscos familiares intera- gem com as caracteristicas dos programas?) e, 3. Resultados da intervengio precoce (que dominios do desenvolvimento avaliar a fim de determinar a eficdcia de um programa de intervengao precoce? Quais sao os efeitos da intervengdo precoce na coesdo, adaptabilidade, sistema de crengas ¢ habili- dades de solugaio de problemas da familia?). £m 1998, Guralnik unificou diferentes abordagens e resultados de pesquisa por meio da perspectiva desenvolvimental propondo um mo- delo interacional. Este modelo afirmava que diferentes fatores de risco € TT 28 Liicia Cavalcanti de Albuquerque Williams / Ana Litcia Rossito Aiello protegio relacionados a caracteristicas sociais, da familia, pais © crianga afetavam os resultados da crianca e dos pais nos programas de interven. ¢ao precoce. Assim, a qualidade das transagdes pais-filhos, as experién. cias infantis orquestradas pela familia e as condigdes de satide € protecao oferecidas pela familia a crianca proporcionavam desenvolvimento 6timo para as mesmas. Em tal artigo Guralnik também identificava lacunas no conhecimento sobre intervengio precoce e revia pesquisas sobre 0 t6pico em termos de impactos a curto e longo prazo, deixando claro que os re- sultados do desenvolvimento infantil podem ser mediados pelos compor- tamentos e atitudes dos pais que, por sua vez, sao influenciados por di- versas varidveis (estressores; sade fisica e mental dos pais; recursos financeiros; recursos sociais; apoio do cénjuge; caracteristicas da crianga etc.). Dunst (2000), pesquisador do tema de empoderamento familiar (“family empowerment”) e intervengio precoce centrada na familia (“fa- mily-centered early intervention”) desenvolveu e pesquisou um modelo de intervengio precoce que enfatiza 0 suporte social como elemento cha- ve na aquisi¢ao de resultados positivos para a familia e a crianga. Tal autor afirmava que todos os tipos de suporte sovial — formal (servigos) € informal (por exemplo, familia e amigos) precisam fazer parte do modelo de intervengio precoce, delineando uma terceira geragéio de pesquisas em intervengao precoce a qual enfatizava “servigos centrados na familia” (em oposi¢io a servicos centrados na crianga) e ressaltava a importancia de se mesclar experiéncias didrias que valorizavam a competéncia de profissio- nais com as intervengées planejadas. Para Landy e Menna (2006) a intervengao precoce também po- de ser dirigida a criancas de familias de miltiplos riscos, Para essas auto- ras, familias com miltiplos riscos sio familias mais do que expostas a condigdes de risco, sendo familias que contam com poucos fatores de protec; as interagdes entre pais e filhos sio comprometidas; existem problemas intergeracionais, tais problemas tém se tornado de dificil solu- ¢Ao e a crianga pode estar em risco de abuso ou negligéncia por parte dos membros da familia. Para piorar a situagdo, segundo essas autoras, fami- lias com miltiplos riscos recebem servigos de profissionais muitas vezes inexperientes ¢ ndo contam com servicos adequados as suas necessidades. Tais familias podem ser resistentes a receber servigos, sendo mais prové- veis de abandonar programas ou utiliz4-los esporadicamente. Exemplos de familias com miiltiplos riscos oferecidos pot Landy e Mena (2006) so aquelas formadas por pais adolescentes, mies com depressio, pais com esquizofrenia, pais com traumas e perdas nao Manual do Inventério Portage Operacionalizado 29 resolvidas, pais usuarios de drogas ilicitas, familias expostas 4 violéncias, familias que vivem na pobreza ou tem vizinhanga violenta etc. O ponto principal que Landy e Menna (2006) destacam é que essas condi¢des podem afetar negativamente o desenvolvimento infantil de criangas que nasceram saudaveis e sem riscos biolégicos. Desta forma, os programas de intervencdo precoce deveriam ser designados para prover servigos a familias e criancas quando ha clara indicagao de que a crianga demonstra atraso no desenvolvimento ou quando apresenta dificuldades sociais e emocionais, independente de que variaveis estejam acarretando tal atraso. Resumindo, a intervengao precoce se destina a familia de criangas com atraso no desenvolvimento, criangas com deficiéncias estabelecidas criangas que convivem com fatores de risco, tanto biolégicos quanto am- bientais. Ao rever a eficdcia da intervengao precoce, Barnett (2010) traz uma questdo importante para a discussio: qual a eficdcia de programas publicos de intervenciio precoce aplicados em grande escala nos EUA? Em duas meta-anilises realizadas pelo autor (Gamilli, Vargas, Ryan & Barnett, 2010; Nores & Barnett, 2010) foi demonstrado que a intervengaio precoce pode ter efeitos a curto e longo prazo ao desenvolvimento socio- emocional e cognitivo, sucesso académico, em diminuir comportamentos antissociais e, até mesmo, diminuindo o indice de criminalidade a longo prazo. Os programas publicos com grande numero de criangas tém de- monstrado eficdcia, sendo os efeitos a longo prazo menores do que os de curto prazo, embora tais efeitos sejam substanciais. O leitor interessado em uma obra classica sobre a eficacia da in- tervengiio precoce encontrara no livro de Guralnick (1997) 25 capitulos descrevendo-a em varios contextos: para criangas em risco (bebés prema- turos, baixo peso, criancas expostas a maus-tratos, infectadas por HIV etc.); criangas com deficiéncias estabelecidas (sindrome de Down, autis- mo, problemas de comportamento, deficiéncia visual etc.), bem como Pesquisas sobre familia na intervengdo precoce. Embora publicada em 1997, sua leitura propiciaré uma compreensio basica e fundamentada na pesquisa da area. Embora o objetivo geral da interven¢ao precoce seja favorecer 0 desenvolvimento infantil, ela pode variar em caracteristicas e componen- tes, Para Shonkoff e Meisel (2000), a interven¢ao precoce a. consiste em servigos multidisciplinares oferecidos para criangas de zero a cinco anos de idade visando promover saiide e bem-estar infan- til, minimizando atrasos de desenvolvimento, remediando deficiéncias De

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