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Tradigao e ideologia: a construgdo da identidade em Mato Grosso do Sul Alvaro Banducci Jiinior * O debate sobre as representagdes do “ser” sul-mato-grossense, que se estabeleceu imediatamente apés 0 ato da criagdo de Mato Grosso do Sul, em 1977, deu infcio a um longo processo, ao mesmo tempo angustiante e obstinado, de busca por raizes hist6ricas e culturais, que respondesse ao dilema da singularidade e da autenticidade do novo Estado. O esforgo coletivo, que mobilizou parte da intelectualidade, artistas e outros agentes culturais, além do poder puiblico, visava a0 Mesmo tempo encontrar referéncias genuinas e€ construir um nticleo de significados que desse consisténcia simbélica ao novo contexto cul- —_— ae em Antropologia Social pela Universidade de SS Paulo (USP). Professor do Peseuigs Citacias Sociais da UFMS. Pesquisador do A rs Taba er Antropot a Turismo - UFMS) e coordenador do Ns Al (Laboratério de gia Visual Alma do Brasil). E-mail: banducci@uol.com.bt Tovessios e limites * Escritos sobre identidade e o regional 107 Je momento passava a ganhar forma, » Man, artir daque’ : Le contetido. a ‘ tural que SS Z tigo an! tinha-se vinculado a0 passados a identidade Pe esséncl 30 anos da criagdo de Mato Coe do Sul, a ct rmanece. Nao mais nutrida pelo impulso inicial ge x a cultural do Estado, de formular uma tradigag, ns contrar a ros impostos pela conjuntura global, em que as fron, amet ovos parame! ae Avels asi eldsticas € permeaveis as ran m-se mais Pp influéncias or ni maral teiras culturals a de jdentidade, na perspectiva regional, aos PoUcos ¢ ee eon a nogio de identidade “plural”, de culty, wetieferenciad® que, S& aparece cue um elemento atenuador a, angtistias do passado, nio é suficiente para superar as contradigse, mais profundas que subsistem ao debate cultural do Estado e que materializam na forma de uma ideologia da cultura sul-mato-grossense, Tal como ocorreu com 0 discurso da “cultura” ou da “identidade brasileira”, construido a partir de uma nogdo de unidade nacional, pav- tada numa ideologia racialista que Jevava a exclusao do outro que nao se ajustasse aos parametros definidores do “ser” brasileiro (SCHWARCZ, 1995), no Mato Grosso do Sul, a nogao de identidade fundada na idéia de povo original e auténtico — que fundamentaré,a princfpio, o discurso divisionista da primeira metade do século XX,¢. mais tarde, no contexto da criagao do Estado, o ideal de construgao dé imagem do sul-mato-grossense genuino — esconde uma perspectivane minimo reducionista da identidade regional. Grupos sociais minoritérios como negros, indios e migrantes so recusados como protagonist a nee ms mies apenas na condigao de bias democritico, * étnicoe racial, a i um ee eset - re hn no aed a alteridade, o discurso da identidade, al da diversidade an ‘0 do debate regional, mascara a existencia® e » mas das diferengas estruturais que Ihe so ine" Partind vw pennees do pressuposto que a construgio da identidade dit6rio e ideoégie, no apenas dindmico e segmentado, m% a justi Ico, na medi se on Mstificar, racionalizar medidade em que se constitui num esf art € legitimar di i s (DA 108 serie Unguagens r diferencas internas ( este estudo tem por objetivo cemonsirar como dois referenciais a fundamentagio do discurso identitario do Estado de Mato sul-a fronteira e o Pantanal — so apropriados com vora- Gr0ss0 oidgica pelas elites, sejam elas polfticas, culturais ou de clas- gantei® recriar numa nogao essencial do ser sul-mato-grossense ge, para a a expressiio das diferengas. Desse modo, o trabalho, apés e ee oricamente os argumentos que embasaram a construgao de da identidade do Sul do Mato Grosso, procura evidenci- 1984)» marcantes

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