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HISTORIA DE UM PAIS INEXISTENTE O PANTANAL ENTRE Os stcutos XVI € XVIII eee ~_ @orms 5 UMA SINTESE DA HISTORIA DO PANTANAL titufa territério indigena. A linha de Tordesilhas (1494) definiu-o como pertencente a Espanha e, no inicio do século XVI, passow a ser visitado pelos europeus que conquistavam a regio do Prata. Nobres e aventu- reiros montaram expedigSes fabulosas procurando realizar suas fanta- as de riqueza. Era 0 inicio da conquista desta parte sul das Indias castelhanas, possiblitando que sua existénciafosse vislumbrada pelo mundo distante. Durante séculos foi um “lugar escondido”, inicialmente porque a sua imagem de riquezas fabulosas 0 colocava como objeto de cobica, disputado por espanhdis e portugueses. Depois, a descoberta das rique- zas andinas ¢ a certeza, naquele momento, da inexisténcia de metais, preciosos na regio hoje pantaneira, afasta-o do contexto de interesse do colonizador espanhol. As bandeiras paulistas ¢ 0 ouro cuiabano, mes- mo transformando-o em caminho fluvial, procuram também manté-lo em segredo, por ser um territério conquistado, o que vale dizer, ltigio- so, Soma-se a isto a dficuldade natural imposta pelo seu ciclo das aguas © a presenca Payagué e Guaykurd, que garantem sua dificil penetracio, mantendo-o escondido. Por outro lado, 0 fato de ser ocultado the garantiu sobreviver com ‘uma geografia fantéstica e assim permani ul. 3 ificativo para a hist6ria pantaneira. Por terem sido terras espanholas durante mais de dois séculos, agregadas a0 territ6rio colonial portugués pelas bandeiras paulistas e ratificadas como lusitanas por fe ca dos tratados de limites do final do século XVIII, a area mais inundavel da bacia alto-paraguaia teve possibilitada a leitura da sua histéria no contexto das Américas hispanica e lusitana. Essa configuracao, no entanto, faz com que ainda hoje a construgao. da sua hist6ria seja fragmentada, podendo fazer parte tanto da historio- grafia argentina, quanto da paraguaia, paulista e, mais recentemente, ‘mato-grossense. Cada uma destas, por uma questio intrinseca, nao the di uma énfase propria, inexistindo, assim, uma historiografia propria- mente pantaneira, embora existam significativos estudos que a dimensionam'. E como se sua hist6ria também obedecesse a0 movi- mento de suas éguas, que passam, correm, inundam e espraiam-se por vastos territérios. Embora nio seja pretensio deste estudo preencher esta lacuna, fez-se um esforco para recrié-la, buscando argumentos para que se entenda a presenga dos narradores e de suas narrativas. Desse modo, faz-se uma sintese da histéria da bacia do Alto Rio Paraguai que abrange desde a conquista, iniciada pelos espanhéis em medtlos do século XVI, até a demarcagao das suas fronteiras, nos il- timos anos do dezoito, marcos temporais deste estudo. Ou seja, des- ccreve-se sua hist6ria de forma que ela empreste contexto para o enten- dimento das narrativas. Nisso, algumas questdes se explicitam; perce- be-se, por exemplo, que durante esse tempo, excetuando a fundacéo de Jerez, as missées jesustas e o dominio Guaykuri no territ6rio dos Itatins, a bacia pantaneira nunca recebeu um projeto proprio de conquista ou reocupacio, Sempre foi vista e entendida como um lugar de passagem, tanto por aqueles que através dela buscavam as riquezas andinas, como pelos que preavam indios e buscavam ouro. Seus niicleos na0-indios de ocupacio permanente s6 foram concebidos pelos portugueses no final do século XVIII, como forma de garantir o territério interior con- quistado. 1. Areferéncia remete mais explicitamente aos tabalhos de Uacury Ribeiro de Assis Bastos (1972) e Regina Maria A. F. Gadelha (1986), que mesmo abordando ques- tes pontuais nos seus estudos, dimensionam a reiio em seu proprio context. Suaykurti emigrados do Chaco que oferecem a histéria ‘0 trago mais singular: 0 dominio indio durante mais de dois sobre um significativo trecho do territério ja conquistado pelos ceuropeus. A conquista Sonhos de riquezas marcam desde o inicio a conquista da regio da bacia do rio Paraguai, Certezas de riqueza marcaram a presenca d primeiros viajantes. Sonhos e certezas levaram A morte muitos de riquezas € mortes alternaram-se nas entradas das terras aquaticas do Pantanal, como em toda a América. Nas narrativas destas aventuras, sua geografia foi tracada e seus habitantes descritos. ‘As viagens de entrada aquela regido tem um sentido nico: alcan- gar as riquezas andinas. Para descobrir este lugar, 0 destino também era tinico: chegar a Serra de Prata e a0 Rei Branco ou platinaclo, O roteiro, no entanto, podia ser mével; saindo do fio da Prata ou do rio Paraguai, podia-se atravessar 0 Chaco ou transpor Xarayes, Nestes itinersrios atra- vés do Chaco ou seguindo por Xarayes, necessariamente cruzava-se as terras molhadas, hoje pantaneiras, percorrendo suas dguas entre rios, lagoas, indios, plantas € animais. Descortinava-se uma natureza move!, ritmada pelo ciclo das éguas. No carninho cabia converter os indigenas em cristios e stiditos de sua real majestade espanhola. (Os espanhéis vindos desde o rio da Prata atingiram o Peru tao al- mejado, mas j4 0 encontraram descoberto e conquistado por outros es- panhéis, No entanto, aqui o principal da histéria est no caminho, no meio do caminho; 0 mais interessante para este estudo € 0 que ocorre e €contado no transcurso das éguas planas do centro da América do Sul, nos portais do Gran Chaco. ‘Tudo comeca com a viagem do famoso cosmégrafo e primeiro pilo- to do rei de Espanha, Juan Diaz de Solfs que, em 1515, adentrou as 4guas do Parané-Guacu, depois conhecidas pelo nome do desbravador, rio de Solés. Sua aventura é bastante difundida pela historiografia argen- tina: Solis e alguns dos seus companheiros foram mortos e comidos pe- Jos indios Charruas, da povo Guarani, na costa do Uruguai. "Mataram a 33 4 vista dos que estavam na caravela’, ara’, Onze sobreviventes dessa funesta expedi- » chegae dilha de Yuruminrin, hoje Santa Catarina, en- Montes, Melchior Ramirez e Aleixo Garcia. tes ndufragos, por meio de alguns indigenas chegados aquela tha, tiveram noticias de que “alguns aborigenes da margem setentrional do nosso rio [0 da Prata] usavam certas pranchas de metal que obtinham, segundo explicaram, dos indios que viviam ao Norte, na comarca de onde nascia o principal tributério de um grande rio que disseram cha. mmar-se Parana’. Isto foi confirmado pelos indios de Santa Catarina, que também asseguraram possuir algumas pecas em ouroe prata, conseguidas com 0s fndios do rio acima. Ao saber disto, o portugués Aleixo Garcia, com mais cinco companheiros, partiu terra adentro na busca das rique, 22s anunciadas? Estes intrépidos homens entio iniciam a viagem, cruzam o Parand «, atravessando “a terra através de aldeias de indios Guaranis, chega. ram ao Rio Paraguai; como foram recebidos e agasalhados pelos mora dores daquela provincia, convocaram toda a comarca, para que fosse juntamente com eles & parte do poente para descobrire reconhecer aque. las terras, de onde trariam muitas roupas de estima, e coisas de metal (..),"€ como gente cobicosa e inclinada a guerra, decidiram-se com faci- lidade a ir com eles”*. Dessa forma, aliando-sé aos Guarani, Garcia ¢ seus companheiros formaram uma expedigio com mais de mil indios © Prosseguiram Paraguai acima, chegando até o morro de San Fernando, hoje Pao de Acticar. Prosseguindo neste caminho, adentraram as Tierray de los Mbayaes, o Gran Chaco®. Depois de muitas jornadas, chegaram 08 Charcas, nas fraldas das serranias do Peru e, “aproximando-se elas entraram pela fronteira daguele reino (..), e encontrando algumas povo. 2 Guevara, Historia del Paraguay, Ri dela Plata y Tacuonan, pubiada po Angelis (1836:80)-A Hina da aventura americans de Seis pode vg em Oviedo (1944 ; também To 23, capitulo 1 © Herrera (1991): capitulos 23 e 24 lo sobre a aventura de Aleixo Garcia pode ser encontrado no segundo capitulo de Historia Critica de las Mitos de la Conguista Americana, Bors baer nah a 4. Diaz de Guzmén, 1986: 85. Une sivrese 2a stOtua D0 PALTANAL acves de indios vassalos do Poderoso Inca, Rei de todo aquele reino, deram neles e roubando e matando quanto encontravam"®, Em vista dis- to, o5 indios Charcas os rechacam, fazendo-os marchar de volta a0 Paraguai; levavam com eles ura rico butim: roupas, vestidos, muitos va- sos, vasilhas e pecas de prata. De regresso as terras pantaneiras, Aleixo Garcia, por intermédio de alguns indios, faz chegar aos companheiros que permaneceram em Santa Catarina — entre eles Melchior Ramirez e Enrique Montes —, trés arrobas de prata, acompanhadas de cartas, nas quais narrava os éxi- tos da viagem. Porém, enquanto esperava o retorno do seu correio, "con- gregaram-se alguns indios daquela terra para matar-lhe, e assim o fize- ram os mesmos que foram com ele & jornada; uma noite estando descui- dado, atacaram e mataram ele e seus companheiros"?, Tedavia, suas no- ticias, ao chegarem a Santa Catarina, certificavam a existéncia naquelas terras de lugares ricos em prata; certificavam também que através da- queles rios era possivel alcangar os caminhos para aquele lugar: Ou seja, antes mesmo que Pizarro chegasse ao Peru, o portugués Aleixo Garcia, ndufrago de Solis, através do Pantanal, nos primeiros anos de 1520, adentrou o Gran Chaco, atingits as fronteiras das riquezas incaicas e fez espalhar estas fabulosas € verdadeiras noticias, fato bastante sabido, embora nao valorizado pela historiografia brasileira Melchior Ramirez e Enrique Montes sio os responsiveis pela con. tinuacio dessas hist6rias. Tendo permanecido em Santa Catarina, anos depois receberam o grande navegador veneziano Sebastian Caboto que, a servigo de Espanha, buscava a lcancar o Oriente através do estreito de Magalhdes e chegar as Molucas. Naquela ilha, ouviu dos néufragos as fantasticas historias das aventuras de Solis e Garcia, Ramirez. e Montes contaram-lhe sobre as riquezas em prata e ouro, e também como os ceuropeus foram mortos e devorados pelos indigenas, e convidam o pilo- to veneziano a adentrar 0 rio de Solis ¢ atingir o rio Parané que, como descrevern, “é muito caudalosissimo e entra dentro neste de Solis com 22 bocas” ¢ que através dele alcancariam “uma serra onde muitos Indios acostumavam ire vir e que neste serra havia muita maneira de metal, ¢ que nela havia muito ouro e prata, e outro género de metal”. Afirmavam também que “junto 4 dita serra havia um Rei branco que trazia bons icas terras a serem descobertast. subiu este rio, confirmando a cada generacién de in- ios que encontrava a veracidade das ricas noticias que sobre aquelas terras se contavam Os combates com indigenas eram constantes; Oviedo nos conta, por exemplo, com certa ironia, que depois de um enfrentamento no qual os europeus, por serem “poucos, nao puderam se defender”, os ho- mens de Caboto viram os corpos tos pedacos que ndo podiam reconhecé-los. E que aquela gente, explica o a, come carne humana, ndo os haviam comido nem queriam aqueles ios tal carne, porque diziam que é muito salgada”. "E”, ainda segun- do o cronista, 1u que aqueles muitos pedacos d& corpos mortos eram para provar se eram todos de um género ou se havia algum sabor diferenciado entre tantos."® Assim, combatendo ou jando-se com nacies indigenas, passando febre e fome ao ponto de :mentarem-se de cobras, os homens da expedicao atingiram umas ca- sarias de indios Chanduls, cujo principal se chamava Yaguaron. Neste local viram muitas vestimentas e “muitas vasilhas e pranchas de mu bom ouro e prata”; estes indios disseram-lhes que conseguiam os utensi- \s pelo comércio que faziam com outros indios a oitenta léguas Paraguai acima, Sebastian Caboto, entio, subiu e reconheceu o Paraguai, Nesta viagem, 0 piloto maior do rei de Espanha, fazendo uso de modernas armas, travou a primeira batalha fluvial de europeus com os \dios do Pantanal que se conhece. Narra Diaz de Guamén: *(...) um 8. Carta de Luis Ramirez, RIHGB, tomo XV, 1852: 19-20, Sebastian Caboto esteve na regido entre os ris da Pratae Paraguai entre 1526-1529. A Hi sua expedi- 0 pode ser lida em Oviedo, 1944: lio 23, capitulo IL 9. Oviedo, 1944, tomo V: 127-128. A grafia dos nomes indigenas segue a Carta de Luis Ramirez, citada 0, preparando o necessério, assestou as colubrinas que endo ao inimigo a tiro de canhao, fez disparar as esquadras de canoas, que a maioria delas foi afundada e transtornada pelos t aproximando-se mais aos inimigos, e brigando com eles, os espa- , com seus arcabuzes e balestras, e os indios com suas flechas: vieram quase as médos, ¢ chegados aos costados dos navios, com suas lancas [picas, no original] e outras armas, mataram grande quantida de de indios, de maneira que foram desbaratados e postos em fuga os que escaparam, ficando os espanhéis vitoriosos com perdas apenas de dois soldadas(..)"™ Rapidamente essas histérias espalhavam-se pela Europa, nutrindo icias de riquezas contidas naquelas regides extremas da ‘América Meridional, tanto que seu grande rio, no qual nunca se encon- trou metal algum, passou a chamar-se Rio de la Plata por se acreditar que através dele se alcangava a Serra da Prata, como contaram Enrique Montes e Melchior Ramirez. Porém, estas maravilhas foram conquistadas por outros, e por ou- tros caminhos. No final dos anos de 1520 Francisco Pizarro, atravessan- do a Cordilheira Nevada, como entao se denominavam os Andes, con- quistou o Alto Peru, sem ter consciéncia de que eram deste lugar as tantas noticias que desde Solis chegavam 4 Espanha. Hernando Pizarro, irmao do conquistador, retornow a Espanha em janeiro de 1534 e exibiu © tesouro conseguido nas terras peruanas: “cento e cingilenta zentos pesos de ouro e cinco mil quatrocentos marcos de prat oito vasithas de ouro, quarenta e oito de prata, cantaros, panelas, costais 10. Guzmén, 1986: 93-94 11. Félix de Azara, em seu Viajes por la América Merional (1969, capitulo XVI ‘um étimo resimo das relagbes entre Diego Garcia e Caboto; conta-nos sobre as aliangas e desafetos destes dois comandantes e sobre as suas entradas e descok Sobre o retorno de Caboto, consultar Antonio de Hert Jentas e noventa e nove mil pesos de our il marcos de prata em barras, pran. 0", como descreve tromilmaren de pra as, pranchas e pedaco”, como descreveu Neste mesmo ano de 1534, “ak le 1534, certamente seduzido pelas riquezas oriundas ds América, dam Pedro de Mendoza resolve exnprege ma for tua essa acressida do que conguistara no saque de Roma (1527) para fazer o descobrimento, conquistar e colonizar a regiéo do Prata, coma capitalacion datada de 21 de maio de 1534 — ae quatro meses depois da chegada de Pizarro a Espanha — recebeu o titulo di Adelantado!. Com os amplos poderes civis ¢ mil a este titulo, Pedro de = amp i ares conferidos por + Mendoza partiu em busca das riquezas do Prat Su fabulosa expedicio era compost por 14 navis, 2.500 Solas cope nhéis e 150 alemies, e ainda 72 cavalos; no set vn ‘ -u Estado Maior figurava representantes da alta nobreza espanhola, virios Mendon peace do Cevitio mor, além de Juan de Ayolas, Domingo de Irala e outros"*, Den- os soldados estava 0 bavaro Ulrico Schmidl, que seré un dos nossos narradores, e também se alistaram os mesmos Melchior Ramirez, néu- frago de Solis, e Luis Ri {ato de Salis ¢ Lis Ramirez, que pouco anes havi retorado a ‘a : a 10 que o rei Branco e erra da Prata eram outro local, diferente do jé alcancado por Pizacro, e 12. Herrera citado, Décad: VL, Hester, Gado, Dead I, uo VI cap. XVI p. 384, Cae recordar que 3 aust do México com oesouro de Montezuma data de 1321 E86 13.Adlantado fot um tl dado pelos pan durante a Recongus, ie vinham rérica c« Oviedo (1944 fn Anis goes Fan c(t nice un dap ps gu 4.As tras sob o dominio governae Ped de Meno deaicsentadadorodsPate hoje Gua eVremala tal de dom Pedro de Mendoza compreendiam ‘para onorte até as governagdes de Serpa ede [Prancha 1, p. 161]. Trata-se de um mapa que além dos detalhes graficos estampa desenhos coloridos e descrig6es textuais. Sobre a regio do rio da Prata escreveu: “é de infinitissimos peixes ¢ 0 maior [rio] que hd no mundo. Ao chegar dquela terra quisemos saber si tra fértil e boa para lavrar e encher de pao. Entdo semeamos no més de setembro 52 grdos de trigo, logo no més de dezembro se colheu cingiienta @ dois mil graos. Esta mesma fertilidade foi encontrada em todas as sementes. Os que naquela terra vivem, dizem que ndo longe dali hé umas grandes serras de onde tiram infinitissimo ouro e que mais adian- te, nas mesmas serras, tiram infinita prata. Hd nesta terra umas ove Thas grandes como asnos comuns, que tém la tao fina como seda, e outros muitos diversos animais, A gente da dita terra é mui. diferente entre si, porque os que vivem nas fraldas das serras sdo brancos como nds ¢ os {que estao préximos da beira do rio sao morenos. Alguns deles dizem que nas ditas serras ha homens que tém o rosto como cachorro, e outros do joelho para baixo como de Avestruz"®. Crendo nisso, nobres mais soberbos que experientes, sem nunca terem conhecido as agruras da vida, como observou Oviedo, langaram- se a0 perigo dos mares, rios ¢ lagos estranhos, sem a0 menos saberem nadar'?. Com armaduras, espadas, elmos, pajens ¢ cavalos, entraram ‘com suas caravelas e bergantins nos espagos aquiticos do Paraguai. Guer- ras, aliangas e vassalagem eram constantes. Estes conquistadores pre- tendiam submeter nagies € povos com suas terras, riquezas ¢ almas, todos eles tao distantes geogrifica e culturalmente, ¢ transformé-los em cristios e stiditos de Sua Real Majestade espanhola 15. BNE, Cd. Ge. CC. 3696. O texto citado esti na margem esquerda do maps. 16, Oviedo, com seu constante humor, faz um étimo comentirio sabre a viagem € maps ide Caboto, Segundo o cronist,(livro XXXII cap. 1V), Caboto e seus companhei tos *perdieron lo que no hallaron y deseando lo que no vieron y finalmente acabando sin honra y sin provecho". 17. Oviedo, 1944, tomo V: 125. 39 Pantanal Penetrada pela pri 3 primeira ver por Aleixo Garcia ed at i arcia e depois por Caboto, a baci doi Pragual ter su pisagem, rose haitantes deserts por aaveles ue, paride Pedro de Mendota, na busca da Serr da Pata de Rt Branco wangam adenttndo opis Roriontal do Fatal, ia jan de Ayolas quem consegue chegar as fronteiras incaicas para, no regresso, ser morto por indigenas. D. de Vaca, Hernando de Ribeira e, novamente Irala, que fin cance por estes aminhos 0 Alto Pru, hoje Blivs, ji submetid por Pizarro. As aventuras dessesconquistadores, a0 serem naradas pasar, mo em um desenho, a preencher com figuras aqucla part : deste outro mundo, paren Juan de Ayolas, ,juntamente com Domingo de Ira, sub le |, subiu o rio Para- gal a 9 porto que batizoy de Candelaria, na foneira do p dos ’ayag também, c« cs Eayagus al também, como Cabo, gerteo evenceu esta nao in igena; depois, repetindo a aventura de Aleixo Garcia, adentrou as te ras dos Mbays, deixando Irala com ordem de espers-lo, Ayolas atraves- sa territ indigenas, é e eas $3 tersitros indigenas,padece fags miseries e perde quse metade doscento esesinta homens que lxav congo, Coto com Gari . s indios Charcas, nos contrafortes andinos 3 hegou ate , conseguindo srande quanti de valiosas peas mais de sesenta cargs com po age, bracelets, coros, vasa de todos os tanhos em our e pata frornou 3s teras Payagus, onde no encontrou Irala seus compa nheiros e foi morto por aqueles indigenas!, " Apesar de desafortunada, essa historia reafirmava a certeza de que meg, Inks 1" distur ara 20° 3 es Canin 19. Em sua Hsia de la Con mm ela Conquista del Rio dela Plata del Paraguay, Eo Gani (1932: 60461), basendo er segura documenta, ds sigan deans doses fates: anes de adentrar 0 Chaco, os Paya haviam dado como mulher» oles Sst na Anes deport Apne deansbagsndh cD radon lactinara da berganin cola hija pl del ee sito orndos mara devs Deseo tee ce "tenia na fhe 25 fi de un principal de alli, ¢ estaba alli quinze o vei is, «ls qu com anda le Hamabun el puerperal onda 40 cia sobre os indigenas sul-americanos. Contudo, sta continuava, € todos os planos dos primeiros governadores fam a apropriar-se das comentadas riquezas da Serra ata, Assim sendo, Alvar Ntifiez Cabeza de Vaca, como segundo ‘Adelantado, deu continuidade a esta empresa. Inicialmente mandou smingo Martinez de Irala com trés bergantins e noventa cristios avan- ois langaram no rio o carregamento de sessenta arrobas de out Quando sozinhos, sempre a cavalo, os Guaykuré atacavam os noncoeiros com grandes langas ¢ uns lagos de couro muito compridos, “om que prendiam e lagavam o inimigo, Andavam sempre em grandes 9. Ibidem, 1972: 146-160, '0, Azara, 1990: 121 ¢ 1969; 218. Mesmo tendo Azara em sua bibliogr ce nio ter atentado para esse dado, a , pois nfo o usa para fortalecer sua hipstese. 81. Francisco Rodrigues do Prado, Histéria dos indios.., RJHGB, tomo I, 1856: 42 sé por si ‘e com a integragio dos cavalos, os Guaikurii comecaram a waar corseletes de couro ¢ foram abandonando 0 uso do arco e da flecha, substituindo-os pelas grandes langas, mais eficazes nos combates contra os europeus. E, para evitar a superioridade das armas de fogo, passaram a atacar os espanhis durante as estagbes chuvosas, quando a pélvora das armas ficava molhada®. Segundo Alexandre Rodrigues Ferreira, dentre todos os seus bens, os que 05 Guaykurti mais admiravam eram seus escravos, suas armas € ‘0s seus cavalos, Ao descrever a relagio desse povo guerreiro com seus eccravos, o sabio naturalista luso-brasileiro aponta uma caracteristica esses indios que nio se encontra em outros autores. Segundo Ferreira, fos eacravos Guaykur eram “humanamente tratados por seus senhores" continua: "nds os chamamos de bdrbaros; porém eles nesta parte ndo desonram tanto a humanidade, como as mais polidas Nagdes da Euro- pa, que sem embargo de terem a Razdo exercida pela Filasofia¢ ihumi- ada pela Revolugdo, em se estabelecendo na América parece, que de propésito cogitam os meias de fazer mais pesado o jugo da escravidlao dos negros”™. (Ilustr. 2, p. 54] Para a economia ¢ povoamento das minas portuguesas, ¢ conse- aqiientemente para assegurar 0 rico territério conquistado dos espanh6is, 6} governo lusitano empreendew uma verdadeira guerra de exterminio contra estes indios. Hf relatos descrevendo embarcagées que, com for- te aparato bélico,faziam o patrulhamento dos caminhos onde as mon- goes cruzavam o territ6rio inimigo, tentando proteger 0 transcurso dos sos, Fora isso, 0 governo lusitano também criou outros mecanismos. Durante algum tempo conseguiu, por meio de negociacées, man- tertratados de paz, como o firmado por Joao de Albuquerque, em 1791 Contudo, ainda em meados do XIX, 05 Guaykurii continuavam atemo- Hizando a travessia dos caminhos pantaneiros. Em 1827, Hércules G2. Noticia Pritica, in: A. de E. Taunay, 1981: 124. 63. Carlos Lizaro Avila, 1997: 78, 64. Alexandre Rodrigues Ferreira, 1974: 81 65. Esse documento ¢ transcrto por Francisco Rodrigues do Prado em indis..., RIHGB, tomo I, 1856: 52-54, 1a Historia dos a lust: 2. Acompamento Guoikur Rodrigues Ferreira. BN beira de rio, 1791. Viagem Filosélica de Alexandre Florence, geégrafo ese , gedgrafo e segundo desenhista da expedica estando em Cush, epirou em devenhoe aie de en, coe “ 10 a saida de ur ral Aigdo de guerra contra aquele indioscavaleirose, and O*P™ Além da presenga am ; "nga ameagadora de Payagua e Guaykurti no pert de dominio Mbays sbre um trecho da bats do Parana cece 66. 4 Florence, 1977: 149. Luiz D’Alincour, reconhecendo a s idadk Cae ea i Utes qu opto hase deve rm combats ein eg dine eet nie ne den a ii ince ee a rs rcunstdncias”. (A ortografia foi atualizada), “ 54 se ae atr inha de comunicacdo entre as minas Grosso, as margens do Guaporé, e porto de Belém do Pari. {to de delimitacdo de fronteiras, essas rotas, apesar de longas josas, como as que seguiam os rios da bacia alto-paraguaia, ser- m3 coroa lusitana na estratégia de ocupagio das ricas terras auriferas. se a isso a abertura dos caminhos mongoeiros que passaram a ligar 3s minas de Goids. Estes fatores reunidos fizeram com que, en: do XVIII e infcio do XIX, os caminhos fluviais pela bacia ia fossem pouco usados como vias de acesso aos novos nicleos ‘Tragando fronteiras Desde o infcio do século XVII os mamelucos paul

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