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TRATADO DE SOCIOLOGIA DO TRABALHO VOLUME | GEORGES FRIEDMAN’ PIERRE NAVILLE com a colaboracao de Jean-René Treanton CULTRIX Digitalizado com CamScanner FICHA CATALOGRAFICA (Preparada pelo Centro de Catalogacio-na-fonte, CAmara Brasileira do Livro, SP) UU Kt EE Friedmann, Georges, 1902- F946t_‘Tratado de sociologia do trabalho [por] Georges y.12 Friedmann e Pierre Nayille, com a colaboracio de Jean-René Tréanton e [outros) traducéo de Octavio Mendes Cajado. Sio Paulo, Cultrix, Ed. da Uni yersidade de Sio Paulo, 1973. ay. Bibliografia. 4, Sociologia industrial 1. Naville, Pierre a ‘Tréanton, Jean-René Il. Titulo. 72-0240 eDD-301.55 tndices para catélogo sistematico: jig 901.55 1, Indistria ; Relacbes humana Gaaisree* ce 2. Indi Ja; Sociologia do 4 3) Relagées. humnanas la atria + SociolOSl® 01.58 4, Sociologia das organizacdes su 5. Sociologia do trabalho 6. Sociologia industrial Digitalizado com CamScanner 1 INTRODUGAO E METODOLOGIA I. O OBJETIVO DA SOCIOLOGIA DO TRABALHO Georges Friedmann No limiar déste Tratado é legitimo perguntarmo-nos, primeiro gue tudo, o que se deve entender pelo térmo “trabalho”. A busca dessa definigfo teré, por outro lado, a vantagem de introduzir o leitor, sem rodeios, no mundo de tealidades que a Sociologia do trabalho procura esclarecer. A. QUE E O TRABALHO? Se tudo o que se refere ao trabalho exige um estudo tao atento, é porque éle metece ser considerado como traco especifico da espécie humana, O homem é um animal social, zoon politikon, que, ainda hoje, através da variedade dos complexos ecoldgicos, através das diver- sidades de ritmo na marcha do progresso técnico, de evolugdo na estrutura e no nivel econémico das sociedades, se ocupa essencialmente de trabalho. O trabalho é um denominador comum e uma condigio de t6da vida humana em sociedade. Os exemplos classicos de trabalho animal, freqtientemente citados, os de certos insetos (formigas, térmi- tes, abelhas) ou mamfferos (castores) foram atribufdos pela Psicologia zoolégica a comportamentos instintivos, num meio de estimulagdes determinadas, Desde que h4 adaptacio a uma situagio imprevista e, por exemplo, fabricagio de instrumento, nés nos aproximamos, como © demonstraram as célebres experiéncias de Kéhler (1928) com prima- acalie tas em Tenerife, das condigées e exigéncias intelectuais do humano, 19 i Digitalizado com CamScanner Qual ¢ a caracterfstica désses comportamentos essencialmente humanos? Podemos procuré-la, em primeiro lugar, na utilidade. Foj a perspectiva adotada recentemente pela maioria dos economistas libe- rais, como, por exemplo, Colson (1924) quando declarou: “o trabalho jo o emprégo que faz o homem das suas frcas fisicas ¢ morais para a produgao de riquezas ou setvicos”. Para o economista assim orientado, \/a atividade de trabalho se distingue essencialmente pelas finalidades, \pela utilidade, pelo valor dos produtos que cria. Notemos de passagem que Henri Bergson, de seu lado, foi levado, por suas reflexdes sdbre a acdo humana, a esctever em L’évolution Créatrice * que “o trabalho humano consiste em criar utilidade”. Nao resta diivida que o util deve figurar na teleologia do trabalho, mas os comportamentos animais instintivos, comparados a fendmenos de trabalho, nao criam também, porventura, “utilidade” no interior das coletividades em que se inte- gram? E nfo ser preciso procurar alhures os caracteres originais do trabalho humano? Este, observam outros economistas, consiste, acima de tudo, em fabricar, mas também em otganizar, num quadro social, a luta contra a natureza (Bartoli, 1957, pp. 46-48). Foi na relacao dinamica entre o hhomem e a natureza que os pensadores, desde h4 muito tempo, tém procurado a definic&o do trabalho. (Jé Francis Bacon (De Augmentis, II, 2, 497) definia a Arte (no sentido de “Artes e Oficios”) como “o homem sé actescentando 4 naturezay’, Ars homo additus Naturae, formula cujos prolongamentos tornamos a encontrar em Descartes (Discours de la Méthode, VI* Parte, Prefécio dos Principes de la Phi- losophie) e até nos Enciclopedistas do século XVIII (Friedmann, 1952). Entretanto, ninguém analisou mais vigorosamente do que ) Marx a relacao entre o homem e a natureza na atividade de trabalho. Por esséncia, através da técnica, o trabalho é a transformacao, pelo homem, da natuteza que, por sua vez, reage sdbre o homem, modifi- cando-o, “Q trabalho”, escreve Marx no Capital, “antes de tudo, é um ato que se passa entre o homem e a natureza, Nesse ato, o préprio homem representa, em relagao a natureza, o papel de uma poténcia natural, As fércas de que o seu corpo é dotado, bracos ¢ pernas, cabeca ¢ maos, éle as poe em movimento a fim de assimilar matérias, dandothes uma forma titi! a sua vida, Ao mesmo tempo que age, por ésse movimento, pela natureza exterior e a modifica, modifica a sua propria natureza e desenvolye faculdades que nela dormitavam **,” Vé-se assim, a pouco e pouco, esbogar-se uma definigéo parcial do trabalho, atribufda ao homo (at que propomos da seguinte forma: “0 conjunto das agbes que o homem, com uma finalidade pratica, com a ajuda do cérebro, das mios, de instrumentos ou de méquinas, exerce (*) T1* edicho, P.U.F,, Paris, 1948, p, 207, (**) Le Capital, Paris, ditions Sociales, 1948, t, 1, p. 180. 20 sdbre a matéria, agGes que, por sua vez, reagindo sébre o homem, modificam-no”. ! Observemos de caminho que parece tesidir, afinal de contas, nessa interagio entre o homem e o meio (mais ou menos natural), através da técnica, o elemento motor que explica a evolugio ou a revolugio das estruturas sociais. $6 ela pode ministrar uma resposta vélida ao problema, que permaneceu obscuro (até nos sistemas tao vigorosamente meditados quanto o de Durkheim), da dinamica social. Definigao “parcial” do trabalho, dizfamos nds. Com efeito, os fendmenos de trabalho nas sociedades contemporineas nfo se equipa- tam todos aos comportamentos do homo faber. As atividades do homem n&o sao, necessariamente, rurais ou industriais. Nao consistem exclusivamente em atividades de “transformacio”. As atividades classicamente ditas tercidrias, consoante a terminologia de Colin Clark, repensadas por Jean Fourastié, compreendem trabalhos que escapam, ao menos a primeira vista, 4 definic&o que propusemos. No século XX, o homem que trabalha nao é sempre, e o é cada vez menos, no sentido cléssico do tétmo, o homo faber. Por outro lado, as definigdes baconiana, marxista e, de um modo geral, tédas as definicdes do trabalho que poem em destaque a trans- formagao da natureza pelo homem, supdem uma finalidade essencial. A transformagao da natureza é orientada para uma finalidade: 0 seu dominio pelo homem, seu “senhor e possuidor” (Descartes), a assi- milagao da sua matéria (transformada em objetos e depois em produtos) para servir a necessidades humanas. Foi o que disse Marx mais ou menos textualmente a propésito do processo de transformacao .dos objetos em produtos pelo trabalho: “O processo_se_extingue no produto, isto é, num valor de uso, matéria natural assimilada as necessidades humanas por uma mudanca de forma *.” Se o trabalho comporta uma finalidade, nao pode, contudo, ser considerado em si como fim, segundo observou Max Scheler (1899), que o qualificava de “indiferente” e “‘cego”. Nao existe uma finalidade universal de trabalho que se possa afirmar abstratamente e seria perder tempo filosofar sobre o trabalho separando-o dos grupos sociais, étnicos, dos contextos culturais em que se efetuou **, Mas no interior désses () Le Capital, edigto eltada, t. T, p, 183. ne (**) A investigacio internacional (1980-1988) empreendida pela UNESCO. Suet, Conselho internacional de Ciéneias socials sdbre os fatdres esnalres Sue ‘influem na produtividade, apesar das dificuldades inerentes uma, Pioass Comparativa demasiado Mmitada, pos de manifesto, no obstante, a inciiees coy Uirdvels socioculturais sobre o ‘nivel de produtividade dos trabalhadores, © Mer, redarcial d& combinagao dos trés fatores (producto, produtividade, Produtivista) forneceria, ao que parece, uma discriminante valida. a eo Traptimeltas indicagées ‘apresentadas pela relagho de sintese, @ atitude em, Ciabalho, ‘numa dada economia, depende da coineidénela ou ‘as de evolucio désses trés ‘fatores. grupos, convém freqiientemente individualizar, tornar telativos , com . enfoques e julgamentos. Serd, acaso, necessirio relembrar aqui algumas das nome sas sooiedades em que certas formas de trabalho (as tarci mantiais de aco sdbre a natureza) niio foram de maneira alger® estimadas como val6res, senio, ao contrério, abandonadg”* classes consideradas inferiores, como, por exemplo, as cidaie, gregas da época classica ou ainda, em estruturas muito diferen” tes, a feudalidade medieval no Ocidente? Seré preciso recorane outras, em que ha desafeicio pelos trabalhos produtivos de tipa tradicional? Pelo contrario, sociedades existem, como a URSS, contemporanea, em que tdda a pressio do meio, dos jornais, da literatura, das artes, dos mass media dirigidos, tende a impor o reconhecimento, pelo individuo, do valor em si do trabalho ma- ‘nual, 0 santo-e-senha, inscrito e repetido em toda a parte Gurante o primeiro periodo dos plunos qilingiienais (“o trabalho | € uma questo de honra, de valentia e de heroismo”) era uma tipica manifestacdo désse esforco de valorizacéo, que hoje ainda Se processa na Unido Sovictica, por outros meios e sobretudo através da reforma do ensino. Consoante as disposicdes ado- tadas pelo Soviete Supremo, em fevereiro de 1959, os futuros estudantes, salvo algumas categorias excepcionais, esto sujeitos | 4 obrigac&o de fazer estdégios na producao, estagios ésses que duram varios anos. Entre as razées complexas que suscitaram tais medidas, a de lutar contra a repugnancia pelos trabalhos | manuais, muito difundida entre os jovens soviéticos, nao é a | menor (Friedmann, 1958), Assim, 6 cidadéo ou a cidada que | Bo se increvesse numa atividade profissional (0 que, no caso dos adultos masculinos é praticamente impossivel, a ndo ser \ para os yelhos) seria mal visto pela sociedade e punido com a \privacéo de certas vantagens. Até as mulheres, que, gracas 20 salario elevado dos maridos, n&o precisariam trabalhar, arran- jam emprégo. Houve quem falasse, e néo sem raz4o, a prond- ee désse estado de espirito, de uma espécie de “psicose do rabalho” difundida pela U.R.S.S. Até fora de uma pressdo dessa natureza, em sociedades como a da Franga atual, se observam atitudes muito diversas em relacéo ao trabalho, No caso de certos individuos, a ativi- dade profissional, invadindo a vida familiar e 0 tempo livre, abarca com as suas ocupagdes ou preocupagdes todo o horizonte da vida, Para outros, ao contrario, e éstes sio numerosos, trabalho ocupa, de varias maneiras, um lugar de meio em relagio a outros fins, outras atividades (ou nao-atividades) até se transformar, entre os salariados convencidos de estar sendo “explorados”, numa estopada imposta, num penoso ganha-pao, nada mais, Repitamos, pois, sem poder levar mais longe a anilise, que convém desconfiar das definigées metaffsicas ou apenas gerais do trabalho, destacadas da Histéria, da Sociologia e da Etnografia, sem referéncia 4 variedade de suas formas concretas segundo as sociedades, as culturas, 22 Digitalizado com CamScanner as civilizagdes, sem reflexio suficiente sdbre a maneira pela qual o trabalho é vivido e sentido pelos que o efetuam *, B, TRABALHO E AGAO Por outto lado, nao seria mister, contrariando filésofos do “trabalho”, abstermo-nos cuidadosamente de designar por ésse nome téda e qualquer espécie de acio e distinguir com muita cautela o trabalho da atividade humana em geral? Do ponto de vista da subjetividade caracteristica do ato do trabalho, temos para nds que © elemento de coacao, sentido pelo trabalhador, é especifico e dife. rencia as atividades de trabalho das que lhe sao alheias, como o acentuaram Wallon (1930, p. 11), Meyerson (1951, p. 78), Hearn- shaw (1954 a, p. 8 e 1954 b, p. 132). Sob ésse aspecto, na medida em que supde coagao, o trabalho se diferencia em muitos casos da acao, que € liberdade. O trabalho é aco quando se alimenta de uma disciplina livremente aceita, como, as vézes, a do artista que realiza uma obra de félego, sem ser premido pela necessidade, Mas ésses casos parecem raros, conforme o testemunho dos préprios criadores. De acérdo com esta nossa perspectiva, basta observar que Balzac, acossado pelos credores, esctevendo a Comédia Humana, e o grande burgués Proust, empenhado na dificil “Procura do tempo perdido” eram ambos “trabalhadores”, cada qual & sua maneira. Acrescentemos que o trabalho sé é acio quando exprime as tendéncias profundas da personalidade e a ajuda a realizar-se. A con- clusio de uma sinfonia, assim como a busca inventiva de um técnico, a atividade realmente entusidstica de uma coletividade operdria orientada para um fim construtivo, ao qual adere plenamente, sio acdes, muito embora éste tiltimo exemplo suponha tarefas que, pela estrutura interna, pela periodicidade, pela coordenacdo, implicam necessiriamente ele- mentos de coacao exterior, a maioria dos De mais a mais, a ambivaléncia do trabalho, ou melhor, a sua poliveléncia, esto a exigir um enfoque relativista, sociolégico e antro- pol6gico: Exaltando o trabalho em geral e conhecendo-o, &s vézes, muito pouco em suas realidades, certos autores manifestam uma espécie de “fanatismo do trabalho”, apresentando-lhe tio-sdmente os aspectos Positivos, A subjetividade vivida por ocasiao das atividades de trabalho vai desde os estados de insatisfacao, de tristeza e mesmo de depressio, © neurose, até estados de auto-realizagao, de satisfagio, de desafSgo €m casos extremos (raros), de alegria, Essa série de estados afetivos due corresponde as atividades de trabalho oferece matizes numero- (=) Por exemplo: “0 trabalh ap mplo: “0 trabalho 6 ; mM no prinespio da matéria e 6 a conscléncla due eme Plenitude da alegria"” (J, Vulllemin, LiBire et te travail, Paris, PU: jerdade do Ideatiame edo materia, 1049, pp. 16-17)- 23 sfssimos, que se manifestam de maneira variada, de acdrdo com contextos sociais e culturais, os Rememoremos ainda que o trabalho efetuado em certas condics; de que trataremos mais adiante e cuja diversidade corresponde ye propria diversidade, tem efeitos positivos sébre a ersonalidade, En particular, todo trabalho que corresponde a uma escolha livremente feita, a aptidoes, € um fator de equilibrio psicolégico, de estruturacgo da personalidade, de satisfacao durdvel, de “felicidade”, Sao profundas as obsetvagdes de Freud (1929) sobre o assunto. O trabalho éum fenémeno decisivo na ascenséo do homem acima da animalidade: éle © foi, do ponto de vista do homem social, na eclosio e na dinamica das civilizagSes; éle 0 & todos os dias, do ponto de vista do individuo, pelo grau de realizacao de cada um e pelo balanco do seu destino particular. C. EXPLORACAO E ALIENACAO Mas, em se tratando de balanco, é mister considerar a outra face do trabalho, que é complexa, e pode comportar tédas as formas de exploracio e “alienagao” humanas. Fora impossivel enumerélas. Todo € qualquer trabalho mal escolhido, inadaptado ao individuo, acarreta para éste efeitos nocivos. Todo trabalho sentido como algo estranho pelo seu executante, no sentido proprio do térmo, é um trabalho “alienado” *. Tédas as tarefas surgidas no correr de investigacdes € observagdes como despersonalizadas, as de que o operador nao par- ticipa, que nao Ihe permitem manifestar (ou as quais éle nao deseja conceder) nenhuma de suas aptiddes e capacidades profundas, que constituem o seu potencial profissional, as de que éle tende a fugir como de uma servidao, conclufdo o seu dia de trabalho, a que éle nao dedica nenhum interésse profissional, e para as quais, intimeras vézes, bastou um répido adestramento (e nao uma aprendizagem), tédas elas sao tarefas alienadas. Para nao ser alienado, como o veremos, o trabalho teré de aproveitar condigdes favordveis, tanto do ponto de vista técnico e fisiolégico, quanto do ponto de vista psicolégico, Mas éle se arrisca ainda a ser alienado, e da maneira mais penosa posstvel, se as condiges econémicas € sociais em que é levado a efeito acarretarem para o trabalhador a conyiccio de uma exploragao, Urge que éste esteja persuadido de que o seu trabalho é eqititativamente remunerado, de acérdo com a sua qualificagao, o seu een ea retribuicao concedida, na coletividade de que faz parte, a outras categorias de trabalhadores. Designamos aqui um campo de estudos que a Sociologia do trabalho de allenache °M4® Temulta o conteddo que tem aqui para nés o conceito ambiguo 24 28 dministrativa considerada como “organizagiio” — nogiio que serd a , precisada mais adiante. Enfim, modificando ainda 0 nosso Angulo de abordagem, podemos Morita ampla e profunda do trabalho apreendido como fisse aspecto do trabalho é tio importante que pacers definir a Ciéncia econdmica como a “ciéncia das relagdes humanas nascidas do trabalho” (Bartoli, 1957, p. 46). Relativa ¢ varidvel, a atitude do torneito Paulo para com a sua emprésa considerada globalmente, reage, como jf 0 dissemos, sobre a sua maneira de realizar as tarefas que lhe incumbem, sébre a sua atitude de produtor. Esta depende, entre outras, da estrutura da emprésa como unidade econdmica e, particularmente, do modo como é gerida, Trata-se, acaso, de uma emprésa de tipo capitalista tradi- cional, criada e desenvolvida por uma familia, com espirito “social’” ou “paternalista”? Trata-se, porventura, de uma grande companhia, em forma de sociedade anénima, de cuja direco estao encarregados ‘administradores e técnicos, empregados superiores a servico da Firma? Uma emprésa nacionalizada? Nela se introduziu a patticipagao nos lucros, gratificagdes coletivas em fungio da produtividade? Qual é 0 sistema de salérios que preside & remuneracio de Paulo? Ele com- preende o seu mecanismo, aceita-o? Considera-se mais ou menos frustrado, “explorado”? A consciéncia profissional do nosso operdtio, a liberagdo do seu potencial técnico (manifestada, em primeiro lugar, por sugestdes capazes de melhorar 0 pésto de trabalho, a qualidade ou a quantidade da produgio), o seu espitito “cooperativo”, as suas boas relagdes com os funciondrios da oficina, o nivel da sua produ- tividade individual, tudo isso depende, diversamente segundo as circunstancias, mas de maneira sempre sensivel, das condigées econd- micas que acabamos de evocar, e outras da mesma ordem *. ter uma V! realidade econdmica. tores chegam a £. TRABALHO E NECESSIDADES aa Supe aqui o trabalho sob ndvo aspecto: como produtor de ee pee uso €, por conseguinte (no quadro social), de mercadorias **; pees Ee paleres, ° Barelbo em suas relagdes com categorias como > , 0 mercado, o consumo, a necessidade, todas estreita- ‘mente mescladas na realidade. 10, vistas por cada um dos Ra tars (técnica, fisioldgico, psicoldgico, social, eco- a peee neni ae areauvigas do trabalhador. en orate wis diteancaee ea * @*) A mereadori, Malor Geto prosuZce’ por, Conslderade, em suas nelagSed como, trabalhador, 29. ec, a necessidade, a que nos referimos, pode ser encarad, categoria econdmica, mas também como nogao prenhe de vativeis as i i e sociais, Com efeito, nas sociedades industriais, sob f Psi Bia publicidade, do exemplo, das viagens ¢ de t6das as formas Sane media (jornais, revistas, cinema, radio, televisao) afirmam-se tendéncias ao consumo que setia preciso estudar de petto antes de classificé-las entre as necessidades fundamentais. Relembremos, a propésito, 0 fendmeno do consumo ostentativo (conspicuous con. sumption) desctito por Thorstein Veblen nos Estados Unidos desde 9 principio do século XX e que, a partir de entio, outra coisa nao féz senio estender-se, cada vez mais intenso e mais profundo. Sob o efeito dessas diversas causas, pode-se dizer que as tendéncias ao con- sumo se desenvolyem, nas grandes camadas das populacées, mais depressa do que os meios econdmicos para satisfazé-las. Patenteado por investigagées efetuadas em coletividades industriais evoluidas *, ésse fendmeno manifesta-se também em pafses no infcio da sua indus- trializacio e onde, em conjunto, o nivel de consumo é€ pouco elevado. Na Tugoslavia, por exemplo, o desenvolvimento das necessidades (sébre © qual tiveram grande influéncia os modelos importados pelos filmes ¢ turistas estrangeiros) é mais r4pido que o aumento do poder aquisitivo da populagao. Através das estruturas e contextos sociais, econdmicos, culturais, cujas diferengas féra intitil sublinhar, observam-se fatos andlogos na U.R.S.S., na Polénia, bem como nas coletividades de operarios franceses, ingléses, alemaes, menos satisfeitos com o seu bem-estar do que no decorrer de periodos em que o seu poder aquisitivo, nao obstante, era menor. Dessart Essa defasagem dos meios econdmicos em relagao a evolugao das necessidades tem incidéncias importantes sObre as atividades de trabs- Tho. Cria, em certos paises, uma espécie de circulo vicioso. Pois ¢ preciso melhorar a produtividade para aumentar a quantidade de bens ptoduzidos e os salérios. Mas para que a produtividade aumente, © preciso que o trabalhador, operdrio ou empregado, em todos os escaldes. tenha vontade de trabalhar melhor, de aprimorar a qualidade © * quantidade do seu trabalho; é preciso que éle conceda 4 empresa u minimo de seu potencial técnico, de sua participagao moral: © que Supée, reclprocamente, para éle, um mf{nimo de saldrio, de satisiast>» de sentimento de bem-estar, A evolugdo, na U.R.S.S., da politica de remuneragéo do trabalho, tanto na agricultura quanto na industri, prova que é imposs{vel ater-se um regime, além de certo perfodo de tempo, a estimulantes psicolégicos, sociais (por exemplo “a emulagao socialista’”), nfo acompanhados, para a massa dos produtores, de van- vids changeit tar ry tangent Paris, 1957, mimeografado, (*) Attitudes des ouvriers de la sidérurgie ques. Relatorio apresentado por J. Dotny, C. Instituto “de Ciencias Socials da’ Universidade 30 ‘A auséncia destas ultimas é ainda mais vivamente ncia da “defasagem”, anteriormente assinalada, entre so das necessidades e 0 dos meios de satisfazé-las. A pressio necessidades incita as organizag6es sindicais, nos Estados outros paises, a reivindicar aumentos de salérios e até de estabilidade do poder aquisitivo em face dos riscos oriun- tos do progtesso técnico, fazendo assim que as formas de remuneragio ‘ultrapassem o rendimento (pagamento por hora, por semana ¢ até por més), Mas é também essa pressio que, submetida ao circulo vicioso de que falamos, mantém nos pafses industrialmente menos evoluidos o estimulante do trabalho de empreitada, no intuito de individualizar a remuneragio e atrancar do trabalhador um rendimento clevado. © avango das necessidades em relaco ao poder de compra tem, além disso, um efeito cujas manifestagdes se multiplicam e que poderia assumit consider4vel importncia nas sociedades industrializadas no curso dos préximos decénios. Desde o inicio das revolucées industriais, a duracao da semana de trabalho tende a diminuir. Os progressos recentes da mecanizacio e da_automatizacao aceleraram o ritmo désse processo e provocaram, em certos paises técnicamente adiantados e em certos setores, reducGes j4 sensfveis, Entretanto, produzindo-se a redugio num meio de necessidades incessantemente ampliadas ¢ reno- vadas, o “tempo livre” assim obtido pelo trabalhador, em intimeros casos (€ que parecem multiplicar-se), é consagrado por éste ultimo a outros trabalhos remunerados, que nao se relacionam necessariamente com 0 seu offcio principal. ogres constante das Unidos e cm arantias _ Podem ser trabalhos noturnos, de contabilidade, de guardia- nia, de servigos domésticos, etc... Nos Estados Unidos, onde 0 fendmeno € assaz aparente, o ntimero de operdrios e empregados gue se valem do “duplo emprégo” parece haver aumentado con- sideravelmente depois de 1951. Citam-se fabricas em que perto da metade do pessoal possui um segundo “job” e onde se ouve dizer: “Se a gente quiser ter casa, famflia, filhos, automovel ¢ televisio, 6 preciso que a mulher trabalhe também, ou que 0 homem trabalhe dobrado” *, Essa tendéncia s6 pode ser acen- pee, em nosso contexto econémico e social, pelos progressos re Butomnatica sD! Nos Estados Unidos, ela deixa disponiveis, “bisee etuenos servigos de manutengio, de reparacdo, artesdos, veieatelros” — all-around men, que, entre 1945 e 1950, cobra- hou! muito caro pelo seu trabalho, e era até dificil encontra-los cause andes centros, Na Franga, o trabalho “negro”. cujas puscltn 22 Um Pouco diferentes, adquiriu tamanha amplitude que Ni, das associagdes de artesfios, uma campanha de cartazes C) Mae BRradas a fivemos notfela (1959) de stigacdes socioldgicas diretamente con= fe ager: “pitt, fenomeno, Cf. “Le double emplol", Tribune de Geneve, 3 de i fartabee (agsp) “ante estudo levado a efeito por Harvey Swadoss ‘yeproduzido por Gibsea ae pon Mostra due os habitantes de Akron (Ohio), om que o trabalho 2 undo empresteha € apenas de 32 horas semanais, tein, em sua maloria, Wm 31 Digitalizado com CamScanner | durante o inverno de 1957-1958, Hé nisso um conjunto de fat Ge deveria dar que pensar, de wm lado, aos sindicatos de sais: tiados, de outro, aos teéricos dos lazeres culturais, : Nos Estados Unidos e outros paises de indistria evolutda, os trabalhadores “negros” aceitam amitide saldrios inferiores a3 taxas fixadas pelas convengdes coletivas, Nas economias que ainda sio de pentiria, como a Iugoslivia, a Poldnia, a Hungria, etc... os trabalhadores “negros” (e mais geralmente o “duplg emprégo”) sfo muito difundidos. Atraidos pela “iniciativa privada”, isto é, pelas pequenas oficinas de artesios, éles cobram pelos seus servicos mais do que Jhes paga a fabrica estatizada. Sejam quais forem a estrutura da sociedade considerada, 0 seu nivel de eficacia € tendimento, explica-se principalmente o duplo em- prégo pelo desequilibrio entre o poder aquisitivo e a pressao de necessidades variaveis, relativas ao contexto social ¢ cultural. F. TRABALHO E NAO-TRABALHO No correr das pdginas precedentes, tentamos compreender os fendmenos de trabalho de diferentes pontos de vista e circunscrevé-los. Seria itil agora tentar defini-los em relacao as atividades que nao sao de trabalho. Aqui, numa obra mais extensa, poderia situar-se_uma fenomenologia sistematica das atividades exercidas durante o tempo nao despendido no trabalho: obrigagdes familiais, sociais, religiosas, aera nants (como, por exemplo, os cursos noturnos que tém em vista a promocao); tédas tém, como_o trabalho, o cardter comum de obrigacao (embora se trate, conforme_os_casos, de obrigacio de natu- reza variada) mas déle diferem _ auséncia de remuneracao. As prdptias tarefas domésticas, ou os biscates feitos em casa, que nao sao desinteressados, nao podem, contudo, ser comparados ao trabalho pro- fissional. Encontrar-se-4 mais adiante (cap. 16) um estudo das ativi- dades fora do trabalho, que permitem apreender melhor, por contraste, a esséncia dos fendmenos do trabalho. Outra maneira de compreender as atividades de trabalho em sua realidade complexa seria analisar, com essa finalidade, as reagdes dos individuos que, por motivos variados, delas estio privados. Ha toda uma série de circunstincias em que o individuo se vé privado de trabalho: assinalemos, primeiro que tudo, a invalidez ffsica (acidente, doenga), 0 desemprégo, a aposentadoria *, I interessante constatar gue, em diversas situag6es, muitas pessoas manifestam, pelo compo™ tamento perturbado, o desaparecimento de uma atividade importante para a estruturagio da sua personalidade e para o seu equilibrio (*) Cf, Journées de la santé mentale, Paris, 27-28 de novembro de, 1955, rela- torlo do grupo de trabalho para a higiene’ industrial, Claude Vell: WHotine’ mentale, 1. 1906) pps tle seguinten nT ny SPrewmninse 208 32 Digitalizado com CamScanner rr psiquico. Se, entre os casos de inyalidez, incluitmos os de distitbios do sistema nervoso, constataremos, reclprocamente, os beneficios da terapéutica pelo trabalho (occupational therapy) para a cura de certos estados neursticos (Sivadon, a, b, c; Tizard e O'Connor, 1952). As eeidades de trabalho reencontradas pelo desempregado, pelo doente, pelo aposentado, acarretam freqiientemente efeitos positivos dessa ordem. G. PAPEL DO GRUPO DE TRABALHO No entender de certos autores, nao é o trabalho realizado isolada- mente, o trabalho em si (como o queria Freud), que tem para o individuo conseqiiéncias benéficas, senfio o grupo de trabalho, a cole- tividade constituida pela fabrica ou (se ela for muito grande) pela oficina, Tal é a posicao de Elton Mayo e de seus discfpulos. Admitem éles que o homem, animal social e essencialmente ocupado pelo tra- balho, s6 pode exprimir-se e expandir-se na coletividade em que exerce a sua atividade profissional. Nao é, pois, na familia, nem no Estado (demasiado distante ¢ impessoal), nem nos grupos espitituais (Igreja, loja mac6nica) que o individuo se realiza. A existir uma “boa” socie- dade, esta deve ser buscada na coletividade de trabalho. O dirigente da emprésa, da fabrica, da administragao, ou da propriedade agricola deve possuir aptiddes sociais (social skills), para poder incutir nos membros do seu pessoal objetivos a que éles possam votar-se, regras ’is quais obedecam, e inspirar-lhes o necessdrio sentimento de seguranga. O diretor (manager) seria assim, de acérdo com Mayo e a sua escola, a personagem-chave das sociedades industriais *. Fizemos alhures (Friedmann, 1947, pp. 314-323) a critica das concepgoes dé Mayo, que detivam de analogias postuladas entre o pegueno grupo de trabalho e a sociedade global, devendo esta ultima ma~dire¢ao politica racional) ser organizada segundo o mc daquele. As recentes investigacdes efetuadas sobre as atividades dé trabalho e de nao-trabalho tornam insustentavel a posi¢ao otimista, pensamento mesclado de desejo (wishful thinking), que vé na coleti- vidade de trabalho 0 ideal da organizacao social €, pata o individuo, © local predestinado de sua auto-realizacdo, Esta visto que é no conjunto das atividades alheias ao trabalho que se encontram agor, Para um niimeto crescente de individuos pertencentes as sociedades evolufdas, 0 centro de gravidade de sua existéncia em que Se manifestam as suas tendéncias a felicidade, Por outro lado, se as coletividades de trabalho fossem quais as supGe Mayo, depuradas por £2, Mayo, 1933, pera) 0b) | Rosthuabergar, AMI | Oa (eranalce Mara foram Homans e 1991) ‘0. assunto, © ‘enconirard uma aiscussio uma bibliogratla em ett 6 Wiaher, 1987 . 33 Digitalizado com CamScanner |, técnicas astutas, como o “counseling” *, de todos os seus con flit, de t6da oposigio individual, de tda fidelidade divergente em relacio ag sindicato € & emprésa, a sociedade global se veria privada de precios | alavancas de melhoria e progresso. H, TRABALHO E COAGAO Forgoso nos é, portanto, insistir, ao terminar, s6bre o elemento de compulsio que caracteriza a atividade de trabalho ¢ a cujo respeito os psicdlogos ingléses nos detam vigorosas anilises (Hearnshaw, 1954 aeb). A compulsao é de origem interna ou externa: interna, procederé quer da vocacao pata o setvico da sociedade, de um ideal — quer da necessidade de criagao artistica ou de pesquisa inventiva nas ciéncias, nas técnicas. Se retomarmos a evocacio anterior de Balzac e Proust, o primeiro, as voltas com uma compulsio ao mesmo tempo espiritual e material, teria sido duplamente trabalhador. ) A compulsio de origem externa serd a férca fisica, a persuaséo |moral ou a coagdo econémica, Nao faltam os exemplos de trabalhos forgados, como outrora os das galés e hoje os das penitencidrias, dos “campos de trabalho” metddicamente organizados. Quanto aos traba- \Ihos realizados sob o efeito da persuasiio moral, apreciemos o exemplo \cheio de humor que nos dé C. B. Frisby **: 0 comportamento do cida- | dao britAnico, que, saboreando o seu cachimbo no conférto de uma pre- guicosa de jardim, é obrigado pela mulher a levantar-se pata cortar grama. Nao obstante, nds o incluirfamos na categoria das obrigacdes { familiais alheias ao trabalho, e nfo entre os trabalhos propriamente ditos, Verfamos antes um exemplo de “persuasio moral” (ou melhor, de coagéo social) no procedimento de certas mulheres soviéticas, que, embora os maridos percebam pingues salérios, tomam um emprégo remunerado, nao por necessidade econdmica, mas sob a pressio dos valores ¢ tabus inerentes 4 sociedade global. ~~ Quanto a necessidade econdmica, € a forma ‘mais freqiiente de compulsio que encerram os fenémenos de trabalho. Essa nec sidade se exprime subjetivamente, para o individuo, pelas “necessidades”, que vimos distribufdas por uma gama extensissima, desde as funda- mentais (de alimentagio, yestudrio e abrigo em sua forma elementar) até exigéncias sempre novas ¢ cada vez mais requintadas. Notemos que o elemento de coagio, obrigagio, disciplina, inerente as atividades de trabalho, é sentido de maneira muito diversa. Mesmo quando consciente, ésse sentimento pode coexistir com estados de tions, Cor ustriais ) Cf. a exposigo de W. J. Dickson em The New Industrial Rela! nell University, 1948, € @ nossa critica dessa “erapéuticn das tensdes In: (Friedmann, 191, ie Apendice It). (#*) Le Travail Humain, 1954, XVII, n° 12, p. dy 34 Digitalizado com CamScanner satisfagio, Investigagdes que se toritaram classicas, como as da Univer- sidade de Michigan, dirigidas ou inspiradas por Daniel Katz ¢ Robert L. Kahn*, mostratam a complexidade das dimensdes do moral na emprésa. Mas a satisfagio no trabalho, experimentada a despeito das coagoes inevitaveis que éste supde, niio pode manter-se, com 0 tempo, sem uma certa adaptagio do individuo as suas tarelas © um grau minimo de participagio da personalidade. I, TRABALHO E LIBERDADE Afinal de contas, se a mais alta aspiragio da humanidade, como o ensinatam grandes pensadores, é a passagem da servidio a dignidade e da necessidade & liberdade, 0 trabalho, traco essencial © alavanca da espéie humana, opde hoje a essa aspiracio dobradas e graves dificuldades. De um iculdade intrinseca_ao_trabalho, a ft sua humahizagao através imento das condigdes a fisioldgicas, psicoldgicas, econdmicas e sociais que permitem, gracas 4 adaptag&o reciproca entre o pésto de trabalho eo trabalhador, um maximo de interésse e satisfacao.{ De outro lado, uma dificuldade Caz como assegurar, merce da reduco da duracio do trabalho, a exptessio e o desenvolvimento da personalidade, durante o tempo livre? Para que éste nao seja rofdo por tédas as formas de trabalho negro, de “duplo emprégo”, invadido por novas serviddes, mass media freqiientemente obsessivas e degradantes, publicidade e propaganda, afeicoamento totalitdrio dos espiritos, consumo forcado, é preciso que o trabalhador faca parte de um meio que, longe de sufocé-lo, suscite néle a necessidade de escolha, de cultura, de pensamentos livres. Vista por ésse prisma, a reducio da duragéo do trabalho nao cria a liberdade, apenas a supée. J. SOCIOLOGIA DO TRABALHO E RELAGOES DO TRABALHO. Esforgamo-nos por esclarecer a nogio de trabalho, por definir, quanto possfvel, as atividades que ela designa. Chegou o momento de dizer o que entendemos por “Sociologia do trabalho”. Nao se trata aqui de contar, mesmo resumidamente, a histéria das suas origens, Era normal que o pensamento cientifico, evoluindo progressivamente do abstrato e do geral para o concreto ¢ o particular, Se orientasse para a observacio metédica das sociedades humanas consideradas como um terreno até entio inexplorado dos fendmenos (+) Katz © Kahn, 1953, As investigagtios francesas sObre a satistacko no trabalho so. pouico numerosus, Chemos“M. Grosier e Ps Guetta, Une organisation ministrative au travail, Insiituto dus, Ciencias. socials do Trabalho, 1996 (mimeo grafado).Tratava-se ‘ds uma investltagio ‘sobre’ pessoal de uma companhla de 35 i Digitalizado com CamScanner naturais, Nascido na Europa ¢ nos Estados Unidos no fim d XIX, a Sociologia cientifica ditigiu primeiro 0 seu interdsse <2 fatos_sociais de cardter religioso, jurfdico, econdmico ¢ cr ‘oe os vam-se tais preocupagées percorrendo, por exemplo, os ae bser. PAnnée sociologique, animada por Durkheim e pelos seus oe de colaboradores. SeUs primeitos Entretanto, © incessante progresso das técnicas de produgio, enorme crescimento, em ntimero e volume, das emprésas, o lugar cada vez maior ocupado pela indtistria na atividade social, o fortalecimento das associagSes sindicais e, paralelamente, dos conflitos entre empte- gados e empregadores, a importancia assumida, em decorréncia do taylorismo, pelos sistemas de “organizagao cientifica do trabalho” (scientific management), desviaram a atengao dos socidlogos para os diversos grupos que os homens formam entre si mercé das atividades de trabalho, Mas essa atencio foi muito diversamente motivada, de acérdo com as circunstancias polfticas e a conjuntura econdémica, os tempe- Tamentos, os interésses presentes. A qualidade dos trabalhos nem sempre foi a mesma. Surgiram imimeras confusdes. Assistimos 3 tealizagio de pesquisas objetivas, consagradas a problemas bem defi- nidos, sustentadas pelo sé estimulante do conhecimento e, no pélo oposto (enfileirando-se entre os dois pdlos todos os casos intermedié- tios), investigagdes apressadas, superficiais, encomendadas para as suas necessidades imediatas por ditigentes de emprésas, que ambicionavam um “clima” sereno e um aumento de produtividade, Autores norte- -americanos pusetam em foco o aspecto “diretorial” (managerial) (Sheppard, 1949) da Sociologia industrial em algumas das suas ten- déncias, cujo privilégio nao pertence aos Estados Unidos: existem na Franca e em toda a Europa entendidos que, escondendo as suas manobras mais ou menos eficazes atrés do biombo das “relacdes humanas”, nao tém o que invejar aos seus homdlogos de Detroit ou Chicago. Em conjunto, foi pela expressdo “Sociologia industrial” que se designaram pesquisas e manifestagdes muito diferentes pelo valor ¢ pelo objeto (algumas se aproximam da Psicologia social). Antes mesmo de ser definido, o térmo adquiriu direitos de cidadania e foi sob a sua égide que grandes revistas, como o American Journal of Sociology, publicaram s6bre o assunto os primeiros ntimeros especiais *- Manuais iteis, como os de Miller e Form (1951), de Schneider (1957) Surgiram com ésse titulo, mas encerram ambigiiidades fundamentais **- priest nat ah aol ratanely Sa 0 , tua segunda coletanea com The sociology of work. 3 (2. Sh @ gxitica do livro de Schnelder por J.-D. Reynaud, Sociologie fravail, 2. ano, n.+ 1, Janelro-margo de 1900, Dp. 94-95. 36 yesma revista apresentou, "Sociologia do trabalho”, Digitalizado com CamScanner Nal ranpay almsloriaicis) pesdusasie etsinamentos) que, tém por objeto ‘a Sociologia € até a Psicologia social do trabalho tém sido, e ainda o si0, apresentados com ésse t{tulo. Em face da grande juventude das Cigncias sociais aplicadas aos grupos e atividades de trabalho, 0 nosso Gfareo por precisar as denominagbes s6 pode dar resultados provis6rios: trata-se apenas de plantar uma estaca que a pesquisa, em seu progresso, removerd e ultrapassard. A Sociologia do trabalho deve ser considerada, em sua mais vasta extensio, como o estudo, nos diversos aspectos, de tédas as coletivi- dades fumanas que se constituem gracas ao trabalho. Examinatemos seer ee eae as_diregdes segundo as_quais, imantadas_pelos problemas e pelas_necessidades,_ las se agruparam até agers = Téda e qualquer coletividade de trabalho que apresente tracos minimos de estabilidade (dos quais trataremos a propésito dos con- ceitos de estrutura e organizacio) pode ser objeto de estudos para a Sociologia do trabalho: assim uma emprésa industrial como um navio transatlantico ou um batco de pesca, tanto uma grande propriedade em que se pratica a agricultura intensiva quanto uma fazendola em que trabalham alguns empregados com a familia do fazendeiro, nfo s6 uma grande loja popular mas também uma lojinha que emprega alguns vendedores, uma oficina de artesfo e uma reparticao municipal, a tripulacdo de um avido, que se reveza a intervalos regulares numa linha de navegacao aérea ou 0 pessoal de uma automotriz da S.N.CF. Neste ponto, trés reparos se impéem. Primeiro que tudo, notemos que, de acérdo com a concep¢ao aqui proposta, a expressio “Sociologia industria” foi sendo, pouco a pouco, indevidamente utilizada para designar 0 estudo socioldgico de coletividades de trabalho nao indus- triais. E verdade que a extensio da nogao de industria se explica, em parte, pelos progressos da mecanizacao e da automatizacio em muitos terrenos a que elas, até entZo, nao tinham tido acesso. Nesse sentido, hé trabalhos “industriais” no comércio, nos escritérios e_até_na_agti- cultura, que Henty Ford j4 definia, por volta de 1925 *, como a indiistria_produtora de alimentos, Sem embargo, parece muito mais claro e exato falar em Sociologia da indiistria, Sociologia da agricultura, Sociologia do comércio, Sociologia das administracdes, etc... A evolugio técnica transforma, cada vez mais, em emprésas industriais, ramos de atividade como os transportes a¢reos, maritimos, ferrovidrios, rodovidrios, e nao h4 inconveniente em incluirlhes © estudo na Sociologia da indist © segundo reparo se refere a legitimidade de uma Sociologia das administragdes, Existe um ramo inteiro de pesquisas consagradas —» mon seu MY Life and Work, Nova Torque, 1922 (traducho frances: Ma vie et ey Paris, Payot, 1928, pp, 245-250, 37 Digitalizado com CamScanner a administragio e grandes revistas que, pelo titulo, invocam em s favor uma “ciéncia da administragio” (administrative science), a que ponto se justifica o falarmos numa “Sociologia das administra. des”? Ser a administragio uma forma original das atividades de trabalho, ou nfo passa de uma categoria que se aplica a tddas as atividades de trabalho, uma forma de preparé-las, efetud-las, assegu. rar-Ihes os resultados, a fecundidade? E assim que autores muito diferentes pela idade, pela formacio, pelo meio, de Henri Fayol a wHerbert Simon, parecem compreender-Ihe a esséncia: ““Administrar”, iz Fayol (1916, p. 5), “é prever, organizar, mandar, coordenar ¢ = quanto a Simon (1948, p. 1), complementando a defi- igdohabitual-(“‘a administracio € a arte de conseguir que as coisas sjam-feitas”,-gerting things done), sublinha que ela implica tanto os -ocessos-de-decisio quanto os de aco. Uma boa organizacao admi: mistrativa deve assegurar, ligando estreitamente essas tarefas, uma tomada correta de decisdes e uma acao eficiente. Téda coletividade de trabalho tem um aspecto administrativo, tarefas administrativas, até a menor de tédas, uma pequena loja, uma oficina de artesao. Reciprocamente, nem as maiores unidades administrativas, pdlipos de reparticdes, como as atuais organizagdes internacionais, a UNESCO por exemplo, sao puramente administrativas. Na realidade, essa administracao complementa, no seio de vasta coletividade de trabalho, todos os grupos humanos, espalhados pelo mundo, consagrados 4 Educagio, 4 Ciéncia, 4 Cultura, ¢ suscitados, patrocinados ou finan- ceiramente sustentados por ela. Dissociadas désses grupos, as tepat- tigdes da UNESCO perderiam o objetivo, esvaziar-se-iam. De idéntica maneira, uma grande Diretoria de Ministério, como por exemplo na Franca, a Diretoria Geral do Ensino Técnico, tem por complemento organico 0 conjunto dos estabelecimentos que, dos Centros de apren- dizagem as grandes Escolas de engenheiros, conferem, em diversos niveis, a formacao profissional, Nao hé, por conseguinte, séricto sensi, uma Sociologia da administragao como ha uma Sociologia da indiistria ou do cométcio, Pois a administragao est4 em téda a parte. Todavia, a extensio e a complicagio crescente dos servicos “tercidrios” na civilizagio técnica do século XX, fizeram surgit conjuntos de repar- tig6es que merecem um estudo particular (Crozier, 1956); ao levar & cabo ésse estudo, porém, sera preciso nao esquecer jamais que, em havendo trabalho, hé também administragao (mais ou menos integrada ou aparente, mais ou menos desenvolvida e eficaz). - Do sobredito resulta um terceiro reparo, que se refere a expresso telagdes industriais”, A pouco e pouco, esta passou a significar, n° uso corrente, o conjunto das relagdes entre empregadores e empregados, patrées e salariados, bem como as associagdes formadas por uns e outros, os meios de negociagao, arbitragem e luta de que elas Jangam mo em seus contatos e conflitos, Essa denominagao tornou-se t#0 38 assivel de cfitica quanto a de “Sociologia industrial”, Assim como & abusivo falar em “Sociologia industrial” para designar, de fato, toda a Sociologia do trabalho, assim também constitui uma fonte de confusao 9 emprégo da expresso ‘relagdes industriais” para abranger as relagées entre empregadores € empregados em todos (0s ramos das atividades econdmicas ¢ administrativas. Toda coletividade de trabalho, da Jojinha mais modesta a “emprésa-mamute’ A do pessoal de um subma- rino ao de uma fazenda, etc... implica relacoes de trabalho na indis- tria, no comércio, na agricultura, na administracao (com as tessalvas jé mencionadas) e, no interior dessas grandes categorias, em cada um de seus ramos, como por exemplo, a siderurgia, as minas de carvao, os téxteis, etc... Simultaneamente, a nocao de relagdes de trabalho se distinguiria nitidamente da nogao de relagdes humanas, definidas como as “relagdes recfprocas de ordem psicoldgica e social que se produzem na execugao do trabalho em comum” *. © plano déste Tratado indica que farte as questdes principais que nos patecem depender da Sociologia do trabalho. E evidente que estamos longe de considerar esta obra didética como cientificamente exaustiva, Nao pudemos, sobretudo, deixar muito espaco 4 relativi- dade das atividades coletivas de trabalho segundo as diferencas cultu- rais, étnicas, ecolégicas, demogréficas. Entre os temas conservados, figuram, por certo: todos os pro- blemas de mio-de-obra, migragio, imigracdo, distribuicio na coletivi- dade de trabalho, de acérdo com as racas, os sexos, a idade, etc...; a natureza e a distribuigao das categorias profissionais em sua relagio com a evolugdo do progresso técnico; o absenteismo, o rodizio do pessoal (turnover), o desemprégo, a aposentadoria; as relagdes de tra- balho definidas mais acima e que compreendem, entre outros, todos os dominios abrangidos pelo Departamento Internacional do Trabalho (Genebra); os diversos grupos formais e informais, internos ou secan- tes em telacio a coletividade global de trabalho e particularmente 4 emprésa industrial. Estes podem ser considerados pelo prisma estru- tural da coletividade de trabalho, de que agora trataremos. Mais que num prisma, seria melhor falar num “Angulo” de tomada oe cena, que se poderia denominar o Angulo estrutural. Parece-nos sited ier 2 clei aia na Sociologia do trabalho campos bem Pern lomfnios separados por fronteiras nitidas, ‘Todos os eae 1 See diversos, das atividades de trabalho estiio, de fato, Hpados entre si em complexos, que,,observados cotidianamente, 0 ee esta praticamente inextricéveis, tornando érdua a tarefa rs ire adores & cata de varidveis independentes, Dessa maneita, 'udo completo das vicissitudes do rendimento de um trabalhador Relations humaines au cours du travail, relatério apresentado por R- Clémens 6 A; Massart, Agence Européenne de productivité, Junho de 1955, p. 12. 39 numa oficina subentende, como vimos, todos os fatéres then} fisiolégicos, psicoldgicos, sociais, econdmicos, que the condicionam trabalho, agindo s6bre éle ao mesmo tempo que agem uns sobre outros, Se quisermos falar em Sociologia das organizacées, em Socio. logia de relagdes humanas, Jembremo-nos, de que nao temos af “dy, minios”, nem “campos”, e muito menos “setores’, Poderemos, ao menos, em se tratando de coletividades de tra balho, considerar com proveito os escalées situados em diversas “profundidades” da vida social? Apesar de todo o interésse dessa nogao (Gurvitch, 1957, p. 157 ¢ seguintes), nao 0 cremos. [5 verdade que tais “Angulos”, por seu turno, apresentam uma imagem; mas esta nos parece, neste caso, mais aceitdvel porque nao comporta nenhum corte vertical, nem horizontal (como os dominios e os escalées), Preserva uma realidade global, sejam quais forem os meios de abor- dagem ¢ os métodos de apreensio que se lhe apliquem. Subentende apenas uma tomada de cena privilegiada em relacio a outras, por se haver revelado, até aqui, mais cémoda, mais eficaz. Nio esquecamos que a organizacao de uma emprésa, ou suas relacdes humanas, com. preende téda a emprésa abordada com certas pteocupagées tedricas € pniticas, com a ajuda de conceitos escolhidos. Além dos enfoques aqui mencionados, hé, sem divida, outros que 0 progresso da pes quisa impord, K. SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAGOES E DAS COLETIVIDADES DE TRABALHO A Sociologia das organizacdes corresponde, portanto, a uma das abordagens privilegiadas das coletividades de trabalho, Merece mes- Go especial pela quantidade e, freqiientemente, pela qualidade dos trabalhos que tem suscitado de vinte e cinco anos a esta parte, sobre- tudo a partir de 1945. Foi assim que se consagrou copiosa literatura 80 exame comparado das diversas estruturas da emprésa “vertical”, “horizontal”, centralizada, descentralizada, democrética, autoritiria, de concepgdes de ditegao colegial, polivalente (zultiple management). Focalizaram-se, com razio, os Iagos tecfprocos entre a comunicasi0 € a informagio no seio da emprésa, de uma parte, e 0 bom funcions- mento da organizacio e a qualidade das telagdes humanas, de © Por outro lado, travaram-se indimeras discussdes em torno da defi comparada dos conceitos de estrutura e organizagio, Nao ens Femos aqui o problema a fundo, limitando-nos a um exame répido, Serene com a perspectiva de um Tratado de Sociologia Digitalizado com CamScanner os seus membros, assoc jados num conjunto de tarefas assim definidas ¢ divididas. Nese sentido, a organizacao, de fato, € um “sistema de atividades_ou f6r¢as_ pessoals conscientemente coordenadas” (Barnard, 1938, p. 72)- A réde de fungées que a constitui subsiste quando os mye as exercem se afastam © S40 substitufdos por outros. Uma grande sociedade industrial, um banco, que possui, ou nao, miltiplas sucursais, ‘uma “corporacao”, um conjunto de lojas populares, sio organizagdes. Mas ha também organizacgoes cuja finalidade nao é econdmica: por exemplo, o exército, considerado em escala nacional ou em suas unidades constitufdas, a Igreja, considerada na sua universalidade ou nas suas divisdes territoriais hierarquizadas, sao organizagoes *. No- temos, portanto, em primeiro lugar, a ésse respeito, que a Sociologia das organizacoes extrapassa, pela extensio, a Sociologia do trabalho. Num dos seus escritos mais claros, consagrado a um assunto assaz intricado, RS. Weiss (1956, p. 2) observa que toda organizacio implica um elemento de coagao: presses exercidas sdbre os seus membros para for¢é-los a unir-se, a trabalhar de comum acérdo visando a um objetivo comum. Assim como a Psicologia social (Cox, 1953, p. 26) destaca a nocividade da “coacao supérflua” na execugao do trabalho industrial moderno, assim a Sociologia das organizacdes sublinha o valor da organizagdo mais “democratica”, isto é, que exerce um minimo de coacdo sébre os seus membros. Neste ponto se colocam questées como a da compatibilidade miitua dos interésses individuais, que animam os membros da organi- zacio, a natureza das férgas que os levam a manter-se nela, as satisfa- Ses que, afinal de contas, ela Ihes proporciona: ponto em que sutge 0 moral das coletividades e se entremisturam, em suas preocupacOes, a Sociologia das organizagdes e a das relacdes humanas. O moral, por conseguinte, deve ser encarado também em suas relagdes com a organizagio da coletividade do trabalho. Observa-o H. A. Simon (1948, p. 122) quando define a organizacéo como “sistema em equilibrio, que recebe contribuicdes em dinheiro e esforco, e oferece vantagens em troca dessas contribuigdes”, Entre as vantagens, agrupa (p. 115-117) uma série de estimulantes, materiais ¢ nao materiais, que vao do saldrio ou subsfdio ao status e ao prestigio que a cada qual advém da prdpria organizacio e da posigio pessoal que nela ocupa, sem esquecer (mas nfo agindo sobre tudo) o estimulante da promosio. . Como se ligam, do nosso ponto de vista, os conceitos de orga- nizagéo ¢ de estrutura? De acdrdo com R. S. Weiss (1956, p. 3) uma organizacio em grande escala se define por quatro catacteres principais: cman), He Whyte Jr, (1056) estuda e aproxima, om membros de, variadtesito, yanizastes;, einprécan’ industrials ol eomerelats, mnboratorios, ospitals exéreito, ‘corporaghen” de todas as espécles. 41 Digitalizado com CamScanner a) uma réde de individuos que exercem fungdes; b) 0 apégo responsivel déles As ativid fy =: 10 respons as lades funcionai: definidas e delimitadas num conjunto; cronals, bem c) uma finalidade para a qual todos trabalham; d) um sistema estével e coordenado d 3 dju a le relagdes fungdes, isto é, uma estrutura. ie _A essa nogao de estrutura organizacional chega a maioria dos socidlogos e psicélogos do trabalho que refletiram sdbre tais pro- blemas*. E evidente que, encarada dessa maneira, a estrutura est4 Jonge de ser imutdvel: o “sistema de relagdes coordenadas” evolui lentamente com © curso das coisas; nem a Ford Corporation nem a Société Générale eram idénticas, em 1960, ao que foram em 1920 **. Nao obstante, no momento em que o Sr. Durand, removido, deixa a Direcio da Agéncia X da Société Générale, 0 seu sucessor lhe assume todo o conjunto das tarefas coordenadas, das relagdes_profissionais, das responsabilidades. FE licito falarmos em estrutura da organizacao assim definida, ao mesmo tempo que a teconhecemos suscetfvel de evolugio. No sentido em que as definimos, as organizacGes permitem ‘a construgao de modelos estatfsticos, capazes de prestar-se 4 anélise estrutural. Estes sao aspectos metodoldgicos da pesquisa, abordados alhures. Escorados em nossas observagGes € com as “abordagens” -yamos, podemos, porventura, estabelecer uma nitida distingao entre estrutura e organizacao, distincao fundada em categorias tempo- tais?) E dbvio que a organizacio, tal ¢ qual a entendemos, impoe, mais do que a estrutura, a intervencao do tempo: estando os seus membros sujeitos a um incessante rodizio (turnover), as formas concretas dos seus vinculos com as atividades funcionais da organi- zacho, a propria finalidade desta ultima, sao apteendidas num contexto histérico, Em compensacao, a estrutura © mais estavel, visto que se define por um sistema de relaces entre funcdes. Do ponto de v! : da Sociologia do trabalho nao podemos, contudo, seguir Raymond Firth, para quem a nogio de estrutura social (ao contratio da nogio de organizagio social) é extratemporal ***. Essas definigdes e explicagdes nos permite! toda coletividade de trabalho como uma organizas: que conser m, acaso, considerat jo? Nao nos parece: F. Mann (1957), Areysis 7) Cf. Barnard (1998), Simon (1048), Welss (1950), (1957), Caplow (1955 ¢ 1961 uma detinicde Jen) Notemos aqui que os economistas, preocupados, cm ur 08 pee indice dens ay gua, disciplina, insiatem na estabilidade Trot embro de ee ee eee ta que propde André Marchal (Revue éconovn doe. NGeterminade $054, 1p. 93); “elementos de um conjunto econdmica aller Po, NIC? “y° discussie ¢ perfodo, surgem. vamenieentaela am relagho, 408 Ou acy, arate de S22" (19st, PP (et he Firth (1951, p. 40) © 8 comentérlos de Lévi-Strauss 914-315). 42 Digitalizado com CamScanner

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