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Elisa Battisti Gabriel Othero Valdir do Nascimento Flores Conceitos bdsicos de linguistica NOGOES GERAIS editoracontexto Copyright © 2022 dos Autores ‘Todos os direitos desta edigdo reservados a Editora Contexto (Editora Pinsky Ltda.) Foto de capa Jaime Pinsky Montagem de capa e diagramacdo Gustavo S. Vilas Boas Preparagdo de textos Dos autores Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagao (cr) Battisti, Elisa Conceitos basicos de linguistica : nogdes gerais / Elisa Battisti, Gabriel Othero, Valdir do Nascimento Flores. ~ Sao Paulo : Contexto, 20: 224 p. Bibliografia ISBN 978-65-5541-178-2 1, Linguistica I. Titulo II, Othero, Gabriel IIL Flores, Valdir do Nascimento 1377 cDD 410 Angélica llacqua ~ Bibliotecaria ~ cRB-8/7057 indice para catilogo sistematico: 1. Linguistica 2022 Eprrora Contexto Diretor editorial: Jaime Pinsky Rua Dr. José Elias, 520 ~ Alto da Lapa 5083-030 — Sao Paulo ~ se PABX: (11) 3832 5838 contexto@editoracontexto.com.br www.editoracontexto.com.br EE az a. 6S ll Sociolinguistica Sociolinguistica é uma area de estudos que retine tradigdes de investigagao diversas, Embora todas explorem a relago entre linguagem ¢ sociedade, essas tradigdes ou teorias sociolinguisticas dedicam-se a diferentes objetos de estudo & orientam-se por objetivos ¢ métodos de pesquisa distintos. Figueroa ( 1994), por exemplo, compara trés perspectivas de andlise sociolinguistica: a etnografia da comunicacdo (Hymes, 1974), a sociolinguistica interacional (Gumperz, 1982) ¢ a sociolinguistica variacionista (Labov, 1972). Essa comparacao ilustra a dificul- dade de caracterizar a sociolinguistica como uma disciplina singular e unificada. Estabelecidas principalmente apés 0 advento da linguistica gerativa (Chomsky, 1957), etnografia da comunicagao, sociolinguistica interacional e sociolinguistica variacionista buscam contornar pilares do gerativismo, como a primazia dada ao idioleto (a gramatica do falante-ouvinte ideal) e 0 estudo da linguagem exclusiva- mente como janela para o funcionamento da mente humana. Nesse intento, confor- me Figueroa (1994), tais perspectivas distanciam-se (etnografia da comunicagio € sociolinguistica interacional) ou aproximam-se (sociolinguistica variacionista) da linguistica gerativa em diversos graus, de que derivam suas principais diferengas. folclorista, antropdlogo e sociolinguista americano Dell Hymes (1927-2009), proponente da etnografia da comunicacdo, analisa a linguagem como forma de comportamento social, assumindo o pressuposto (funcionalista) de que ha uma relacdo sistémica entre lingua e uso da linguagem. Emprega procedimentos me- todoldgicos etnograficos para esclarecer como as pessoas usam a linguagem nas acées sociais cotidianas, que vao de simples cumprimentos a depoimentos em um tribunal, e como as conversas na vida em sociedade diferem entre culturas. Fundamental para a Etnografia da Comunicagao ¢ a nog&o de competéncia co- municativa, segundo a qual os usuarios de uma lingua, além de um conhecimento estrutural do tipo sintatico, morfoldgico, fonoldgico, dispdem de conhecimento sobre 0 uso apropriado dos enunciados em certas situagdes sociais, Essa compe- téncia é adquirida na insergao dos sujeitos na matriz social da comunidade de fala, ao utilizarem a linguagem de maneira intencional e criativa para aleangar metas comunicativas. Significado linguistico ¢ significado social, portanto, se conectam no uso normatizado da linguagem na comunidade de fala. Noses gerais. 179 Colega de Hymes, 0 sociolinguista John J. Gumperz (1922-2013), naseido na Alemanha ¢ radicado nos Estados Unidos ainda jovem, também estuda a | gua gem na interface da linguistica com a antropologia € a sociologia. Especialmente interessado nas trocas conversacionais face a face, investiga a inferéncia conver. sacional em certas situagdes sociais e 0 conhecimento sociocultural envolvido esse process. Quem diz o que para quem, como ¢ dito e em que contexto é dito fo aspectos que importam & sociolinguistica interacional de John J. Gumperz, Porque determina os rumos, bem-sucedidos ou nao, da interagdo pela fala, Nes- sa linha, investiga-se a ampla gama de situagdes sociais experimentadas pelos sujeitos na vida cotidiana, situagdes essas em que a interagao pela fala tem lugar, como em consultas médicas, aulas, na compra e venda de Produtos, na solicitagio de informagdes e favores, no oferecimento de ajuda etc, Nelas, tanto elementos linguisticos (selegdo vocabular, estruturagdo morfossintética ¢ fonologica) quanto paralinguisticos (sil€ncios, pausas, entonagdo, express6es faciais, gestos, tom de voz, diregio do olhar) sao utilizados pelos falantes para veicular informagdes, sinalizar 0 enquadre de eventos e 0 alinhamento dos Participantes uns aos outros. Desentendimentos na interacao pela fala podem surgir de diferengas culturais entre os falantes ¢ da dificuldade de interpretar pistas que contextualizam agdes realizadas na conversa. A anilise do tipo discursiva que faz a sociolinguistica interacional presta-se a identificar com precisdo tais fontes de desentendimento. Etnografia da comunicagao e sociolinguistica interacional sao teorias sobre usos da linguagem fundadas na competéncia comunicativa, para as quais forma e fungdo linguistica so dependentes. J4 a sociolinguistica variacionista no é uma teoria sobre usos, mas sobre caracteristicas da lingua correlacionadas a usos da lin- guagem. Nesse sentido, conforme Figueroa (1994), a sociolinguistica variacionista de William Labov orienta-se & competéncia linguistica, ndo a competéncia comu- nicativa, dando autonomia a lingua e separando forma de fungdo da linguagem, O sociolinguista americano William Labov estuda a mudanga linguistica em seu desenvolvimento, explorando as motivagdes estruturais e sociais das inovagdes linguisticas. A variagao linguistica ganha luz nessa linha de investigagdo porque & 0 mecanismo da mudanga. Para captar padres de variagdo e mudanga em diale- tos sociais (em espagos urbanos) ¢ regionais, a sociolinguistica variacionista usa uma metodologia sistemtica para coletar e analisar dados de fala. O tratamento quantitativo (estatistico) desses dados permite mostrar que a variag2o linguistica € estratificada socialmente: o uso de variantes de uma varidvel linguistica como a Prontincia do /r/ pés-vocélico, por exemplo, se cortelaciona com classe social, etnia Ele. As correlagdes expressam padres ou modos de fala, resultantes de normas de percepedo e produgdo das variveis linguisticas compartilhadas na comunidad de fala. E possivel, nesse sentido, conceber as normas compartithadas como re- 180 Conceitos bésicos de linguistca gras (variaveis) comparaveis as regras (gerativo-transformacionais) da gramatica natural, mas pertencentes a gramatica da comunidade de fala. Outras perspectivas de andlise integram a sociolinguistica ou relacionam-se ala, A sociologia da linguagem (Fishman, 1972) examina a interagao entre 0 uso da linguagem como comportamento humano € a organizagao social do com- portamento, concentrando-se em temas como atitudes em relagdo a linguagem e aos usuarios da linguagem, planejamento linguistico, educagao bilingue, lingua ¢ identidade étnica. A perspectiva social de linguagem assumida por Halliday (1973) em sua linguistica sistémico-funcional (LSF) também opera com a concepgaio de linguagem como comportamento social. Inspirada na ideia de Firth (1935) de que os usos da linguagem e a forma dos textos (orais ou escritos) sistematizam-se em relacdo a padrdes de comportamento social em certos contextos, a LSF distingue dialeto (manifestagdo regional ou social da linguagem) de registro (tipo uniforme de uso da linguagem) e investiga os registros em termos de estilo (como os enun- ciados vém a ser realizados para construir sentido no discurso). As diferengas de objeto, propésito e método de investigagaio dessas linhas de andlise explicam-se pelo modo como linguagem ¢ concebida, ora como auténoma em relagdo ao social, como na sociolinguistica variacionista, ora como dependente do social, como nas demais perspectivas aqui brevemente caracterizadas. Em co- mum, 0s estudos sociolinguisticos tém o fato de contemplarem usos da linguagem, isto é, manifestacdes da lingua situadas no tempo e no espago, realizadas nao s6, mas especialmente pela fala na vida em sociedade. Leituras complementares: Alkmim (2001); Battisti, Othero e Flores (2021); Calvet (2002); Camacho (2001); Coelho et al. (2015); Labov (2008); Ribeiro e Gareez (2002). Capitulos relacionados: Comunidade linguistica. Funcionalismo. Gerativismo. Linguistica.

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