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Eases ISSN: 1209-7694 ESSN: 275-7214 htilperiodieos saude sp goubel 5 csv? 2008 The environment under discussion: The Stockholm and Rio 1992 Conferences Lilian Al-ChueyrPercira Martins Prova. Assoc 0 Departamento Rive rao Preto, Doutora em Citcias Bioligicss no rea de Genetica E-mail lpm felrpuspo Enderego: Avenida anderrantes 13000, daira Monte Alegre, Ribera rete = SP 2 Fernanda ds Rocha Brando: Prof. Ansocada So Departamento de Biologia va Faculgoge de Flosota, ieneas «Letra de Riverao Peto Gastors em Educago para Cenc Ema fesbrandotatekp.uspr. Endres Penida Bonderentes 3900, Bajo Monte Alar, Alberao Preto oS O meio ambiente em discussdo: As conferéncias de Estolcomo e Rio 1992 Lilian Al-Chueyr Pereira Martins! Fernanda da Rocha Brando? Resumo Este artigo revisita duas conferéncias que chamaram a atengao do mundo para as questées ambientais ¢ do desenvolvimento, por ocasiao de seu quinquagésimo € trigésimo aniversério, Embora petmaneca principalmente no nivel deseritivo, discute também sobre algumas de suas contribuigdes € resultados, Para isso, consultou-se uma quantidade significativa dos documentos produzidos durante as duas conferéncias ou mesmo no periodo entre elas (fontes primérias) ¢ trabalhos de especialistas sobre o assunto (Fontes secundatias). A pesquisa desenvolvida indica que a Conferéncia de Estocolmo, que ocorreu em 1972, detectou vérios problemas bem como a relevancia da educagéo ambiental, contribuindo para a produgdio de uma legislagaio ambiental. O Relatério Brundtland, publicado em 1987, dentre outros aspectos, trouxe a ideia de que desenvolvimento e sustentabilidade nao so incompativeis. A Rio 92, que focou no impacto das atividades socioeconémicas no meio ambiente, teve como resultado @ produgao de documentos que sugerem acdes a serem implementadas pelos Estados, visando o desenvolvimento sustentavel. Essas agdes envolvem a preservacdo. das cultures tradicionais, da biodiversidade, das. florestas, enfatizando 0 papel da mulher e dos jovens no processo. Certamente a implementacgo do que foi recomendado nessas conferéncias, ou mesmo pelo Relatério Brundtland, depende de politicas publicas que tém sido objeto de vatios estudos, mas que fogem do escopo do presente Ese ISSN: 1209-7594 ESSN: 75-7214 hi ipflpeiodieossaude spo bel 5 wt 2008 artigo. Infelizmente, apesar de algumas conquistas, a crise ambiental vem se agravando € 0 desenvolvimento econémico de modo sustentavel permanece ainda um desideratum, Palavras-chave Pauta ambiental; Desenvolvimento sustentavel; Educagao ambiental; Nagdes Unidas; Século XX Abstract This article revisits two conferences that brought attention to environmental and development issues while celebrating their Soth and 30th anniversary. Although it remains ‘mainly at the descriptive level, it also discusses some of their contributions and results. For this, we consulted a significant amount of documents produced during the two conferences cor even in the period between them (primary sources) and works by specialists on the subject (secondary sources). The research points out that Stockholm Conference, which ‘occurredin 1972, detected several problemsand environmental education's relevance, contributing to environmental Iegislation’s production. The Brundtland Report, published in 1987, among other aspects, brought up the idea that development is not incompatible with sustainability. Rio 92, which focused on the impact of socioeconomic activities on the environment, resulted in the production of documents that suggested actions to be implemented by States for sustainable development. They involved the preservation of traditional cultures, biodiversity, and forests and emphasized the role of women and youth in the process. Indeed, implementing these conferences’ recommendations, or even the Brundtland Report's ones, depends on public policies that have been the subject of several studies and are beyond this article's scope. Unfortunately, despite some achievements, the environmental crisis is getting worse and sustainable economic development remains a desideratum. Keywords Environmental agenda; Sustainable development; United Notions; 20th century. Eases ISSN: 1209-7694 ESSN: 275-7214 htilperiodieos saude sp goubel wt 2008 a ertamenteo desenvlvimento dos studoseeoligicos até orci da fiends de 1970, contbuis para fue 05 problemas ambientasfossem Aetectaos, ou mesmo, para as medidas sugeridas pars mii Sos 4 Sore inestacoatzagin do ‘ecologia ver, por exempl, Melncosh, 2000, pp 66-68 Introducéo Consideramos que a comemoragéo dos 50 anos da Conferéncia de Estocolmo 72 ¢ os 30 anos da Rio 92, dois importantes foros para discusses sobre questées relacionadas ao ambiente ¢ desenvolvimento, oferece uma ‘casio propicia para que as revisitemos e facamos algumas reflexdes a respeito de seu aporte ¢ desdobramentos. Sob 0 ponto de vista metodolégico, consultamos ‘05. principais documentos a clas relacionados (fontes primétias) € publicagdes de especialistas sobre o assunto (Fontes secundérias). Permanecemos principalmente no nivel descritivo (MARTINS, 2005) Seguindoa ordem cronolégica, inicialmente voltamos um ouco mo tempo para recuperar alguns aspectos importantes, ‘com uma breve apresentagao de alguns antecedentes historicos. Depois, tratamos das duas conferéncias ¢ do que ‘ocorreu entre elas. Finalizamos com algumas consideragoes sobre 0 que foi discutido no artigo. Na segunda metade do século XIX, Charles Robert Darwin (1809-1882) e Alfred Russel Wallace (1823-1913), em suas publicagées (DARWIN, 1858; WALLACE, 1889), chamaram a atengdo para as relagdes entre individuos, espécies e 0 meio-ambiente. Esse tipo de enfoque, de um modo geral, nao aparecia nas obras de estudiosos que defendiam a fixidez das ‘espécies, pois para a maior parte deles, as espécies ja haviam sido criadas adaptadas ao meio ambiente. Embora nos trabalhos de Darwin © Wallace estivesse presente a relacdo centre espécies € 0 meio, eles ndo se preocuparam com a conservagao do meio ambiente propriamente. No ver desses naturalistas,a selecao natural ea luta pela existéncia evitariam uma superpopulagao, a falta de espaco e recursos. Durante 2 primeira metade do século XX ¢ as duas décadas que se seguiram, ocorreu 0 desenvolvimento € institucionalizagao da ecologia’, com as. contribuigdes de atores provenientes de diversos paises’. Inicialmente, voltada para a boténica, a ecologia posteriormente ramificou-se em varias vertentes, No decorrer do tempo, foi surgindo @ necessidade de interferir nas interagées que ‘ocorriam entre os seres vivos ¢ 0 ambiente, incluindo a ago do ser humano. Nos Estados Unidos, por exemplo, @ Ese ISSN: 1209-7594 ESSN: 75-7214 huiiliperiodieos saude sp goubrl 5 wt 2008 5 ‘emos também o Cig Florestal de 1965 (rai, 1968) 6 © relator fo botinico Alberto José de Sampaio {oge-1046) (OLIVEIRA, 2009, 13) (que estva a par dos estudos eolageos desenvoluidos na Smita nteraciana 1 As crises ambientas so caraete- fiandes por mutans rpidas © inesperadas na qualidade do melo ambiente cua reversal ou ‘mesma impessivel. Par exerpla, ‘granes extingbese degrades Srfictvas em um ecossistem> Gryler,2009, 120). industrializagdo, a construcdo de ferrovias, as atividades agri- colase do pastoreio emexcesso, evaramadegradacdodocampo (KINGSLAND, 2008, p. 142). No inicio dos 1930, as pradarias norte-americanas enfrentaram grandes tempestades de poeira sucedidas por anos de extrema seca € erosio pelo vento Isso exigiy uma ago do governo federal que resultou no plantio de rvores que atuaram como escudo contra o vento, protegendo o solo e as plantagées. Na década de 1940, boa parte das pradarias havia sido restaurada (OBERG, 2079, p. 6). No Brasil, a partir da década de 1930, com 9 inicio a industralizacao, ja ocorriam agdes de politica e gestao ambiental. Entre maio de 1933 € outubro de 1934 foram promulgados 0 Cédigo Florestar, 0 Cédigo de Caga ¢ Pesca, 0 digo das Aguas e 0 Cédigo de Minas (que nacionalizava as riquezas do subsolo). Em 1934 foi sediada no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, a Primeira Conferéncia de Protecao 6 Noturcza* (OLIVEIRA, 2009, pp. 12-13) Na década de 1970, 0 aumento do consumo dos re- cursos naturais, 0 prejuizo causado pela queima de combusti~ vis fosseis (carvao, petréleo e gas natural), a destruigéo de- corrente da mineracdo e exploracao da madeira, 0 declinio no numero de especies causado pela pressao da urbanizacao, 0 cultivo intensivo, a poluigdo e a pesca indiscriminada, fizeram com que a crise ambiental’ que ja vinha se manifestando nas décadas anteriores se agravasse. A atenc3o mundial voltou-se para as questées ambientais e de desenvolvimento (CANNAN, 2000, p. 365). No Brasil, os 1970 foram marcados por um rapido crescimento econémico, envolvendo projetos que geravam impacto ambiental. A politica brasileira nos governs militares era altamente desenvolvimentista, caraterizada por obras publicas de grande porte que tinham implicagdes para o meio ambiente como por exemplo, a construcao da Transamazénica a instalagdo da Usina Nuclear em Angra dos Reis UAPIASSU & GUERRA, 2017, p. 1888). Centros quimicos ¢ petroquimicos foram estabelecidos ou ampliados no litoral em regides densamente povoadas como Cubatio, Rio de Janeiro e Aratu, © que produziu altos niveis de decradacdo ambiental. 0 de- senvolvimento consideravel da agroindistria, ocasionou um aumento na utiizacao de pesticidas e biocidas, o que também impactou no ambiente. Muitos trabalhedores da zona rural stra da Ciencia ISS 2, 8 pratica relacionados com a im curso no Butantan com 5 doenges vegetal, nas de pesauisaconcernentes #8 doengas parasitiras,com a entomolagia, oma o decenvaliimento de agSet Aariculadas pelo Estado contra as enn rs fsom part 5 rmudangas. Figura t Conferénia das Na ‘Weta Ambiente en Fort: EMMEUN, ars. The Stool Conferences, Ambo, 1): 135-140, 1972, 9138 Unidas sobre 2 cea, ja-vl7 p73 2028 foram para @ zona urbana, ocasionando um aumento das favelas ¢ da miséria nas cidades (DIEGUES, 2018, p. 129) Nesse contexto, foi redigido 0 Manifesto Ecolégico Brasileiro que chamava a atencdo para as consequéncias da “atual cegueira ambiental € exploracdo irresponsivel de nosso outrora prédigo meio natural" (LUZTEMBERGER, 1976, p. 3). A Conferéncia de Estocolmo 72° (Conferéncia das Nacées Unidas sobre o Meio Ambiente) A United Conference on Human Environment (Conferéncia das Nacdes Unidas sobre 0 Meio Ambiente) conhecida como Conferéncia de Estocolmo (figura 1), ocorrew na capit de um pais considerado desenvolvido, a Suécia, de 5 16 de junho de 1972, sob os auspicios da Organizacao das Nades Unidas. Contou com a presenga de participantes de 113 paises diferentes (UNITED NATIONS, 1973, p. 43) ‘Aépoca em que se deu a conferéncia foi marcada pelo questionamento dos modelos de desenvolvimento ocidental e socialista, pela ocorréncia da Guerra Fria, corrida armamen- tista e da Guerra do Vietna. Por outro lado, pela percepcdo dos problemas trazidos pela industrializacdo, tais como poluigo sonora, visual etc. Adicionalmente, houve a publicacao de obras como Silent spring ("Primavera silenciosa"), de autoria de Rachel Carson, assim como as propostas de ambienta- listas mais radicais que sugeriam a alterago dos padrées de produgéo © consumo ou até a supressdo do crescimento, Ese ISSN: 1209-7594 - ESSN: 75-7214 hp fperodieossaudesp. gow bel 5. Hit. Cnes “e723 2028 lnited Notions Environment Todos esses fatos repercutiram na opinigo piiblice (LAGO, Programme tiNE® 2013, p. 24-25) to Considerada como @ primeira iniciativa no ambito No Bai apésaConferncia foi mundial que teve por objetivo 2 discussdo de questoes Teen eee bain ambientais, a Conferéncia de Estocolmo conclamou os paises de Minsteviogonerarpormeio _desenvolvidos para que auxiliassem os paises em desenvolvi- mento tendo em vista a melhoria do ambiente humano. Pode-se dizer que nesta conferéncia foram introduzidos conceitos € principios que, no decorrer dos anos que se seguiram, constituiriam a base para a diplomacia da area do meio ambiente, incluindo os paises em desenvolvimento (LAGO, 2013, p. 14) A Conferéncia de Estocolmo teve como resultados a elaboragdo da Declaracdo de Estocolmo € a criagao do Programa das NagGes Unidas para 0 Meio Ambiente (PNUMA)® Houve a proposta de ages voltadas ao meio ambiente global, 20 manejo das atividades ambientais © medidas de apoio para as acdes nacionais e internacionais para 0 estabelecimento desse manejo (UNITED NATIONS, 1973, p. 6). Além disso, houve 0 reconhecimento da relevancia da ‘educacao ambiental no combate & crise ambiental no ambito mundial (DIAS, 2000, p. 36). No Brasil, foi criada em 1973 a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA)". Nas décadas que se seguiram, passou-se a pensar no desenvolvimento sustentvel e na preservacao da diversidade bioldgica. Nesse Ultimo aspecto, foi importante a deciséo de se estabelecer bancos genéticos para as variedades de plantas € animais economicamente importantes, principalmente de variedades nativas € aquelas que viviam em areas restritas (EMMELIN, 1972, p.137). Como conquistes, podemos mencionar a introdugéo do ‘tema ambiental em uma agenda multilateral ea identificagso de prioridades para ages futuras, o incentivo para que diferentes paises estruturassem uma organizacéo interna para a pauta ambiental, o fortalecimento das Organizacées ‘ndo Governamentais ONG) e sociedade civil (WILLETS, 1996, p. 68; LAGO, 2006, p. 48). Apés a conferéncia de Estocolmo houve um progresso nas negociagées relacionadas ao direito do mar ¢ residuos perigosos (Lago, 2013, p. 83). Aconferéncia expés.asdiferencas entre paises desenvol- vidos ¢ em desenvolvimento. Embora néo.stenha solucionado, Ese ISSN: 1809-75 fn SSN: 2675-7214 ipflperiodicossaude sp aovby] a 200 wt possibilitou 0 debate. Enquanto os paises desenvolvidos pediam que o desenvolvimento ambiental destrutivo fosse impedido, 0 “Terceiro Mundo” almejava 0 desenvolvimento econdmico, mesmo as custas da poluicao € degradacso UEFFRIES, 1997, p. 1. Nas palavras de Genebaldo Freire Dias: Os representantes dos paises em desenvolvimento acusam os paises industriaizados de querer limitar seus programas de desenvolvimento industrial, usando a desculpa da poluigdo como um meio de inibir a capacidade de competicao dos paises pobres (DIAS, 2000, p. 36) Com 0 tempo, a acdo de grupos organizados da sociedade civil em relacao a0 combate da poluigdo (fumaga, lixo), passou a receber apoio da opiniao piiblica principalmente na Califérnia, que ocasionou um avango na legislagdo ambiental. Nesse sentido, a Conferéncia de Estocolmo contribuiu bastante, apesar da oposigao por parte do setor produtivo tanto nos paises desenvolvidos como hnaqueles em desenvolvimento. (AGO, 2013, pp. 28-28). No ano sequinte & Conferéncia de Estocolmo, Maurice Strong comentou sobre a diferenga de visio a respeito das questées ambientais por parte dos paises desenvolvidos e dos paises em desenvolvimento: Mas o problema ainda esté sendo pensado em termos limitados, como uma doenca dos paises industralizados decorrente dos pprocessos aos quais eles devem suo riqueza. No Asia, no Africa e na América Latina, a disposi¢éo era considerar 0 meio ambiente como algo distante dos interesses e preocupacées dos pobres. Para um homem que se depara com a fome € outras doencas decorrentes da pobreza, os riscos que corre com a contaminagdo dos oceanos ou da atmosfera, parecem ser to remotos que se tornam irrelevantes, Para ele, a fumaca das fabricas cheira o dinheiro, empregos © bens de consumo necessérios [..] (Strong, 1973, p. 691) ‘As questdes ambientais na década de 1980 Ese ISSN: 1209-7594 - ESSN: 75-7214 huiifiperiodieos saudesp.go4brl a 200 wt n "Report ofthe World Commission on Environment ond Developmen: ‘ur Common Future” Em consonancia com as dretrizes da Declaragéo de Estocolmo, no inicio da década de 1980, surgiram no Brasil diversas politicas publicas voltadas para a pauta ambiental. A Politica Nacional do Meio Ambiente, foi definida por meio da Lei n= 6.938/81. Esta lei introduziu as bases do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), com a exigéncia de estudo prévio do impacto ambiental e do licenciamento ambiental, ‘com mecanismos de repressao e reparacao do dano ao meio ambiente (JAPIASSU & GUERRA, 2017, p. 1888-1889). Alem disso, recomendou a criago de um programa internacional de educacdo ambiental, colocando 0 set humano como parte do meio ambiente € responsavel por sua conservacao (PELICION!, 2005). Estabeleceu, ainda, que a educagao ambiental deve ser oferecida em todos os niveis de ensino € em programas especificas direcionados @ comunidade (BRASIL, 1981). Adicionalmente, foi priorizada uma politica nacional do desenvolvimento, com a criagao de estagdes ecoligicas e areas de protecdo ambiental (BRASIL, 1983) Dez anos apés a Conferéncia de Estocolmo, alguns problemas que estavam além do controle intemacional per- sistiam. 0 primeiro deles era o comprometimento dos recursos nacionais com a produgdo de armas. Nao apenas as nagdes maiores como os EUA e a URSS, mas também nagdes menores tinham seus recursos mais comprometidos com 0 armamento do que com as questées ambientais como um todo. 0 segundo, era a pobreza que caracterizava os paises em desenvolvimento, 0 terceiro era o estado da economia mundial que no era dos mais satisfatérios (NANDA, 1983, p. 412). No ambito internacional, em 1983, a Assembleia Geral das Nagdes Unidas aprovou a criagao da Comisstio Mundial! sobre o Meio Ambiente e 0 Desenvolvimento Humano, tendo ‘como presidente a Primeira Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtiand (LAGO, 2013, p.14, responsavel pela elaborago do Relatério Brundtland" (1987). Este tinha como objetivo propor estratégias a longo prazo para obtero desenvolvimento sustentvel em torno do ano 2000 e posteriormente (UNITED NATIONS, 1987, p. 5). Trouxe novos aspectos sobre as questies ambientais, introduzindo © conceito de desenvolvimento sustentavel: Ese ISSN: 1809-75 fn ipflpeiodicossaude SSN: 2675-7214 ‘aoubel a cis vl7 200 ‘A humanidade tem @ capacidade de tomar o desenvolvimento sustentdvel para garantir 0 atendimento és necessidades do presente sem comprometer a capacidade das geracées futuras de atender ds suas préprias necessidades. O conceito de desenvolvimento sustentével implica em limites ~ ndo limites absolutos, mas limitagées impostas pelo estado atual da tecnologia e organizacdo social sobre os recursos ambientais ¢ pela capacidade da biosfera de absorver os efeitos das atividades humanas. Mas, tanto a tecnologia como organizagdo social podem ser gerenciadas ¢ aprimoradas pora abrir eaminho para uma nova era de crescimento econdmico A Comissdo acredita que a pobreza generalizada pode ser evitada. A pobreza ndo € apenas um mal em si, mas o desen- volvimento sustentével requer a satisfacdo das necessidades bésicas de todos, estendendo a todos a oportunidade de satisfazer suas aspiragdes por uma vida melhor. Um mundo fem que a pobreza € endémica estard sempre propenso 0 catdstrofesecoligicas e outras (UNITED NATIONS, 1987, p. 16). Foram feitas algumas constatagdes sobre 0 que estava ocorrendo € uma previso do que poderia ocorrer no futuro: 0 empobrecimento da base de recursos lacais pode empobrecer Greas moiores: 0 desflorestamento de terras mais altos feito por fozendeiros produz enchentes em terros mois baixas; 0 poluicéo causada por faibricas impede a pesca no local. Tais cielos locais sombrios agora operam nacional e regional- mente. A degradacéo das terras secas faz com que refugiados ombientais aos milhdes ultrapassem as fronteiras de suas nnagées. 0 desmatamento na América Latina e na Asia esté causando enchentes em maior quantidade e mais destrutivas. L.JA precipitagdo dcida e nuclear se espaihou pelas fronteiras da Europa. Fendmenos semelhantes, como 0 aquecimento global € a perda de oz6nio, estdo surgindo em escala global. s produtos quimicos perigosos que penetram nos alimentos também sio comercializados internacionalmente. No préximo século, a presstio ambiental que causa os movimentos po- pulacionais, pode aumentar acentuadamente [J (UNITED NATIONS, 1987, p. 14). Ese ISSN: 1209-7594 - ESSN: 75-7214 huiifiperiodieos saudesp.go4brl a cis vl7 200 Sobre as espécies ¢ ecossistemas, pensava-se: CCresce 0 consenso de que as especies estdio desaparecendo em taxas nunca observadas no planeta, embora também haja controvérsias sobre essas taxas e riscos. Ainda hd tempo para interromper este processo (UNITED NATIONS,1987, p. 20) Assim, setia prioritério incluir nas agendas publicas o problema do desaparecimento das espécies ¢ a ameaga aos ‘ecossistemas como relevantes questoes econémicas © de recursos. Contudo, acreditava-se que os governos poderiam deter a destruigo das florestas e de outros reservatorios da biodiversidade na medida que se desenvolvessem do ponto de vista econdmico. Os governos também deveriam fazer arranjos financeiros para apoiar convengdes internacionais que refletissem sobre 05 principios dos recursos universais (UNITED NATIONS, 1987, p. 20) ‘Alem de chamar a atencdo para os efeitos do desflores- ‘tamento, 05 riscos da utilizagao de produtos quimicos nos ali- mentos, paraoaquecimentoglobaleperdadacamadadeozénio, da ameaca a diversidade das espécies, ¢ a alta possibilidade de um agravamento da situagao, via-se a necessidade de uma ago conjunta do governo, sociedade civil e cooperagéo internacional no sentido de possibilitar um desenvolvimento sustentvel. Tudo comegaria com a erradicacao da pobreza. Como desdobramentos do Relatério Brundtland podemos mencionar a realizago do Congresso Internacional sobre Educagéo Ambiental e Formagéo Relativa ao Meio Ambiente, que aconteceu em Moscou. No ano sequinte, no Brasil, a Constituicdo Federal de 1988 determinava que a educagdo ambiental estivesse presente em todos os niveis de censino em nosso pais, de moda a promover a conscientizagso publica sobre a importancia da preservacéo do meio ambiente (Constituicdo Federal de 1988, Capitulo 6, artigo 225, § 1°, inciso Vi © desenvolvimento sustentével proposto pelo Relatério Brundtland patrocinado pelo PNUMA propiciou um espaco de cooperacéo internacional mais abrangente para_as negociagées que culminaram na organizacéo da Rio 1992. A decisao de que o Brasil sediaria 0 evento ocorrew na Assembleia Geral da ONU em Ese ISSN: 1209-7694 ESSN: 275-7214 hii lperiodieos saude sp goubel a cis vl7 200 2, The United Nations Conference con Environment and Development {unceo 13 United Nations. Conferences) Envtonment and sustainable development. 1992. Dsponivel em: ‘chpslawun rglenfeaterences| envitonmeniiot992= "Diversidad biden ov bosiversidade¢»riguecs total aiedade devia na tera” UEFFRIES, 1307,» 1989. No clima politico de redemocratizacdo, o Brasil adotou uma postura mais ativa em matéria do meio ambiente. ‘A Conferéncia das Nacées Unidas sobre o Meio Ambiente ¢ Desenvolvimento (Rio, 1992) The United Nations Conference on Environment and Development (UNCED), também conhecida como “Earth ‘Summit”(CipuladaTerra)”*ou Rio 19920correude3a 14dejunho de 1992 (figura 2), portanto, duas décadas apés a Conferéncia de Estocolmo. Presidida pelo embaixador de Singapura, Tommy Koh, com a lideranga do secretério canadense Maurice Strong, ao contrario da Conferéncia de Estocolmo, foi sediada em um pais em desenvolvimento. Reuniu lideres politicos, diplomatas, cientistas, representantes da midia ¢ de ‘organizagdes nao governamentais de 179 paises. Com ofim da Guerra Fria, surgiu a esperanga de resgatar 0s direitos humanos e meio-ambiente, dentre outros aspectos. 0 ponto central das discussées na Rio 92 foi 0 impacto das atividades socioeconémicas humanas sobre o meio ambiente. Chamou a atencao para uma questo de interesse internacional, procurando mostrar que os diferentes fatores sociais, econdmicos e ambientais esto interligados e para se ‘obter sucesso € preciso que sejam feitas agdes em todas esas direcGes (UNITED NATIONS, 1992). Deu prosegui- mento as discusses sobre o desenvolvimento sustentavele a importancia da manutengdo da diversidade biolégica’*, que haviam sido abordados no Relatério Brundtland (1987). Além disso, props medidas ¢ estratégias para deterou reverter os efeitos da degradagao ambiental. Uma das importantes constatagdes da Rio 92 foi que promover um desenvolvimento sustentével era possivel € ele poderia ocorrer quer no ambito nacional, regional ‘ou internacional. Mas, para sso, era precisointegrar e equiibrar @ economia, com a adogdo de uma nova percepgao sobre ‘© modo de consumit, produzir, viver, trabalhar © de tomar decisdes (UNITED NATIONS, 1992). 0 préprio Strong sabia das dificuldades para atingir ‘essas expectativas que ervohiam mudancas na vida econémica € nas relacdes internacionais. Para isso, deveriam ser colocadas em pratica capacidades de inovacao politica, econdmica, social les ISSN: 1209-7594 - ESSN: 75-7214 huipiiperiodieos saude sp goubel Figura 2 The United Nation Cor Environment and Development Fonte: Luciana Whitaker Fethapress Folha de Sto Pole ‘hn. 2021 Disgonve! em otoeratiafolhe.uo.comby) 718832760028222-« i Sivccoreram, Acess0 cm 16290, 2072 cea, ja-vl7 p73 2028 € de lideranca. Essas deveriam se manifestar em todos os niveis, desde 0 comportamento individual até a cooperac3o global (STRONG, 1991, p. 288). Negociacdes diplomaticas convenceram os paises desenvolvidos de que eles eram responsdveis pele maior parte dos danos causados ao meio ambiente. Nesse sentido, eles deveriam oferecer apoio financeiro aos paises em desenvol- vimento que, por sua vez, teriam também responsabilidades (AGO, 2006, p. 52-53) Como ‘resultados da Rio 92, além de importantes documentos! houve a criagao de uma comissao e negociagdes pata o estabelecimento do acordo sobre populacées trans zonais ¢ populagdes de peixes migratorios (UNITED NATIONS, 1992). Dentre os documentos estdo a Declaragdo do Rio (The Rio Declaration) com seus 27 principios universais; a Convengao de Delineamento do Quadro das Mudancos istrla. da Clana ISSN: 1209-7694 ESSN: 275-7214 hii lperiodieos saude sp goubel a vei p-23- 2008 1s Grande parte dos documentos apo wads durante 2 Rio 1982 fl elabo- ‘ada durante a preparaci da confe- ene entre 1089 ¢ 1962 (APE 2012p. 182). 1s. Este aspect de exrea ingot, Perera armor concer eiversiete,Diponvel em “ings untesnestssen. ‘il actoroundoackgound publ ations Srmipaappcaton pa Song p> Climéticas (Framework Convention of Climate Change)"; a Convengtio da Diversidade Biolégica (Convention on Biological Diversity) e a Declaragéo dos Principias do Manejo das Florestas (Declaration on Principles of Forest Management). ‘A Declaragtio do Rio confere aos seres humanos odireito @ uma vida saudivel © produtiva em harmonia com a natureza (UNITED NATIONS, 1992, PRINCIPLE 1, P. 3). Aos Estados € dada a autonomia em suas politicas ambientais e de desenvolvimento, desde que nao causem danos aos outros Estados ou areas além dos limites de sua jurisdigo (UNITED NATIONS, 1992, P. 3). As necessidades dos paises vulnerdveis € 05 interesses © necessidades de todos 0s paises sdo prioridade nas aces internacionais (UNITED NATIONS, 1992, PRINCIPLE 6, P. 4) Os Estados estdo incumbidos de proteger e restaurar a salide e integridade do ecossistema da Terra, buscando © desenvolvimento sustentavel. Para isso, devem eliminar padres de produgao € consumo que impecam a sustentabi- lidade © promover politicas demograficas. Devem fomentar ‘© entendimento sobre as trocas entre conhecimento cientifico « tecnolégico € novas tecnologias (UNITED NATIONS, 1892, PRINCIPLE 7, P. 4). Os Estados devem ter uma legislagao referenteaomeioambiente (UNITED NATIONS, PRINCIPLE11,P5), particularmente, que proteja as vitimas da poluigao e de outros anos ambientais. Adicionalmente, que impeca que atvidades «e substéncias que causem danos ambientais e & sade humana sejam transferidas a outros paises. Além disso, utilizar recursos ‘econémicos para lidarcomosdanosambientais.Asautoridades de uma nagdo so responséveis pelo impacto ambiental. Os Estados devem notificar os outros Estados sobre desastres nacionais e outras emergéncias que possam produzir efeitos danosos ao meio ambiente com a cooperacdo internacional A participagéo das mulheres é fundamental no manejo € desenvolvimento do meio ambiente (UNITED NATIONS, 1892, PRINCIPLE 20), assim como 0 engajamento dos jovens. Foi ‘chamada a atengao para o papel dos indigenas ¢ suas comu- nidades em relagao ao manejo e desenvolvimento, valorizando ‘suas préticas (UNITED NATIONS, 1992, P.7).0 meio ambiente € os recursos naturais de povos que estejam sob opressao, do- minagéo ou ocupacéo devem ser protegidos. E reconhe- cida @ ago destrutiva das querras para o desenvolvimento a Ese ISSN: 1209-7594 - ESSN: 75-7214 huiifiperiodieos saudesp.go4brl Hist, Cin wt 200 v. Diversidad Wolgica era aq cntencida coma 3 varabiidade Gee organsmoe wvor se dae {5 Totes nclundo eeositeras quis complexes que fazem partes aivesiade dentro de uma Sei, entre expéies e eos femos ted Nation 1992.3) 18 Complexes dindmnicos de plants, animals, comunidades de mieor Ganismos e 0 ambiente nao vivo interogindo como uma vnidade funcional 19 Uso sustentavel sigifiea a til- 2zapao dos comporentes da iversi- Gade bolgica em uma proporsao, {qe no leve a seu decinio» longo froze, mantendo seu potenes Ube scerda som se necessdades © sepagies as graces pests 2, ( lugar ou tive de tugar em gue lum argarismo ou populaezo faturalmente acore United Nations 1992.) sustentavel. E recomendado que os Estados respeitem aleiinternacional oferecendo protegao para o meio em tempos de conflito armado, cooperando para o desenvolvimento posterior, quando necessério. Finalmente, 0 principio 27 recomenda: Estados ¢ povos devem cooperar com boa fé ¢ espirito de arceria no cumprimento dos principios encorpados nesta Declarago © no desenvolvimento da Iei internacional no campo do desenvolvimento sustentdvel (UNITED NATIONS, PRINCIPLE 27, P. 8) ‘A Convengao para a Diversidade Biolégica”” teve como uma das principais constatagdes que a diversidade bioldgica estava sendo reduzida drasticamente por determinadas atividades humanas. Era preciso antecipar, prevenir e atacar as causas de sua redugdo ou perda, Era necessario cconservar ecossisternas!, habitats e recuperar as populagoes de espécies vidveis em suas areas, Os Estados seriam soberanos nas agdes sobre seus recursos naturais. Mas, antes disso, seriam responsaveis pela conservacao de sua diversidade biolégica e por utilizar seus recursos naturais de modo sustentvel”, incluindo ecossistemas ¢ habitats” naturais. Também foi reconhecida a importancia do papel dda mulher na conservacao € sustentabilidade da diversidade biolégica em todos os niveis, incluindo politicas (UNITED NATIONS, 1992). Em relacdo & diversidade biolégica, estudos indicam que © investimento em conservagao entre 1996 ¢ 2008 reduziu a perda de biodiversidade em 109 paises signatarios da Convencdo sobre Diversidade Biolégica em uma taxa de 29%, ‘em média, por pais (WALDRON et al., 2017, p. 1). Contudo, esse resultado € timido diante do panorama que se tem. Em tum estudo que analisou extingSes populacionais entre 1900 € 2015 € que utilizou como amostragem 27.600 espécies de vertebrados, em 17 espécies de mamiferos obteve-se uma taxa de perda de populacdo em vertebrados terrestres extre- mamente alta. Nos 177 mamiferos dos quais se tina dados mais detalhados, todos perderam 30% ou mais de sua area geografica € mais de 40% das espécies sofreram uma re- dugo populacional de 80%. Os resultados obtides indicam Ese ISSN: 1809-75 fn SSN: 2675-7214 ipflperiodicossaude sp aovby] a wt 200 que além das extingdes globais de espécies, a Terra esté passando por grande série de declinios ¢ extirpagdes popula Cionais, que terdo consequéncias em cascata sobre 0 funcio- hamento € 0s servigos ecossistémicos vitais para a manuten¢ao da civilizacdo (CEBALLLOS; EHRLICH & DIRZO, 2017, p. 1). Infelzmente @ perda da diversidade biolbgica continua ‘ocorrendo em ambito mundial. Mesmo para aqueles que consideram as extincbes como eventos normais e que se est diante de uma sexta extingo, as taxas em que o fenémeno ‘std ocorrendo sao alarmantes. E preciso conhecer a diversidade biolégica ¢ investir em sua conservacao. Contudo, as prioridades dos paises em desenvolvimento seriam 0 desenvolvimento econdmico ¢ social a erradicagao da pobreza. A conservacao € uso sustentvel da diversidade bioldgica reforcariam as relacdes amistosas entre Estados e contribuiram para a paz, trazendo beneficios para as presentes ¢ Futuras geragdes (UNITED NATIONS, 1992, PREAMBLE, p. 1-2) Pode-se dizer que tém sido feitos estudos sobre a diversidade bioldgica. No entanto, 05 esforgos em relagéo 4 conservacdo dos ecossistemas, do uso sustentavel dos mesmos, bem como os recursos que o Estado destina para isso ‘tm sido insuficientes. Os Estados que fazem investimentos em outros Estados querem ter resultados desses investimentos antes de fazer novos investimentos. Contudo, esses resultados so demorados, podendo levar varios anos. ‘A cooperagao entre 05 paises previa 0 desenvolvimento de estratégias nacionais, planos, programas e polticas piblicas para a conservacdo © uso sustentavel da biodiversidade (United Nations, 1992, Artigos 5, 6%, p. 5). Envolvia identificar € monitorar os componentes da diversidade biolégica, prin- cipalmente aqueles que necessitavam urgentemente de conservago € atividades que pudessem ter um impacto adverso sobre @ biodiversidade, Além disso, a manutengdo ‘€ monitoramento dos ecossistemas; 0 estabelecimento de meios de controle dos riscos decorrentes dos organismos modificados pela biotecnologia, ¢ seu impacto sobre @ biodiversidade © satide humana € 0 impedimento da introducdo de espécies invasoras que ameacam ecossistemas, habitats ou espécies. Adicionalmente, de acordo com a legislago nacional, preservar ¢ manter 0 conhecimento, 15 Ese ISSN: 1209-7594 - ESSN: 75-7214 hi ipflpeiodieossaude sp.gov br] a wt 200 inovagdes © praticas das comunidades locais indigenas (United Nations,1992, Artigo 8°, item j);estabelecer € manter programas para a educagao cientifica © técnica para o ‘reinamento em medidas para identificacéo, conservacdo ¢ Uso sustentavel da diversidade biolégica oferecendo apoio para os paises em desenvolvimento, ¢ oferecer apoio para pesquisa sobre a diversidade biolégica. (United Nations,1992, Artigo 12 a:b). Inclui tépicos relacionados a conservacao da diversidade biolégica nos programas educacionais no ambito nacional ¢ internacional United Nations, 1992, Artigo 13 al. Em nosso pais existe uma legislagdo para a protecao de ecossistemas ¢ culturas indigenas. 0 problema € sua imple- mentagao e fiscalizagao. 0 controle dos riscos envolvidos nos ‘organismos geneticamente modificados pela biotecnologia € seu impacto sobre a satide humana também demandariam uma agao maior por parte do Estado. 0 objetivo da Declaragaio dos principios das florestas era 0 manejo, a conservacdo € 0 desenvolvimento sustentvel das florestas e seus miltiplos usos: Os problemas € oportunidades do Florestamento devem ser examinados de maneira holistica e equilibrada dentro do contexto do meio-ambiente e desenvolvimento, levando em consideragdo as miltiplas fungées © usos da das mesmas, incluindo os usos tradicionais e stress econémico e social quando esses usos ficam limitados ou res- trites, bem como 0 potencial para 0 desenvolvimento que o ‘manejo sustentivel da floresta pode oferecer (United Nations, Anexo il, Preémbulo, 1992) Na época, as criticas se voltaram principalmente para a Declaragéo de Florestas. A opinido publica considerava que a destruiggo das florestas deveria ser impedida, mas 4 questo ficou diluida nos paises produtores de petréleo «¢ carvao (LAGO, 2013, p. 114). Ainda, sabemos que 0 desflo- restamento cresce ¢ as queimadas também. A Agenda 21 previa a implementacao de programas diante das economias em transicéo, com investimento bastante alto. Para que ocorresse 0 desenvolvimento sustentavel, havia necessidade de politicas piiblcas, manejo € administragao piiblica, Para que fossem atingidos os objetivos 6 Ese ISSN: 1809-75 fn ipflpeiodicossaude SSN: 2675-7214 ‘aoubel a cis vl7 200 propostos era necessério haver o controle de doencas trans- missiveis como célera ¢ maléria a partir do saneamento basico. Havia também objetivos especificas como erradicar poliomielite no ano 2000; acelerar a pesquisa para a melhoria das vacinas € 0 desenvolvimento de sistemas de satide piiblica; reduzir a vulnerabilidade ao HIV em mulheres € criangas, protecao € educacdo dos grupos. vulnerdveis (criangas,mulherese povosindigenas).Eraessencial aexisténcia de uma legislagao que permitisse implementar e regular esta agenda. Em relagdo & Agenda 21 é possivel observar que alguns dos objetivos foram atingidos em nosso pais, como a cerradicagao da poliomiclite, por exemplo. Contudo, se a baixa procura pela vacinacao para prevenir essa doenca atualmente, nao for revertida, poderemos comprometer esses resultados. A aceleragao no desenvolvimento de vacinas foi mostrada recentemente no caso da COVID-19, em varios paises como a China, Russia, Estados Unidos, india e no Brasil Dez anos depois da Rio 92, ocorreu em Johanesburgo @ Cipula Mundial sobre 0 Desenvolvimento Sustentavel (2002) cujo principal objetivo era elaborar um plano para implementar 0 que havia sido aprovado na Rio, 1992 0 diagndstico de 1992 foi corroborado, bem como as dificuldades relacionadas implementagéo do plano anterior. Percebeu-se também que as agendas globais de comércio, financiamento e meio ambiente estavam estreitamente relacionadas e que houve um fortalecimento da cooperagao entre os Estados (LAGO, 2013, pp. 15-16). Algumas consideragées Em primeiro lugar, & importante mencionar que as duas conferéncias que aniversariaram em 2022, tiveram um papel fundamental ao chamar a atengao para as questoes ambientais no ambito mundial A Conferéncia de Estocolmo (1972) detectou varios problemas e a relevancia da educago ambiental, contribuindo pata a produgéo de uma legislacao ambiental. O Relatorio Brundtland (1987), entre outros aspectos, trouxe a ideia de que desenvolvimento nao € incompativel com a sustentabilidade, Expds problemas como 0 desflorestamento Ese ISSN: 1209-7594 - ESSN: 75-7214 hi ipflpeiodieossaude sp.gov br] a wt 200 2 perda das espécies, antevendo suas consequéncias. Mas ‘também propés estratégias para soluciond-los ou, ao menos, mminimizé-los. Além isso, 0 desenvolvimento sustentével demanda uma aco conjunta do governo, sociedade civil € ‘cooperacao internacional, incluindo investimentos. ‘A Rio 92 que teve como foco o impacto das atividades socioecandmicas sobre 0 meio ambiente, teve como desdobramentos a produgao de documentos que davam varias atribuigdes aos Estados tendo em vista 0 desenvolvimento sustentavel. A preservago das culturas tradicionais, da biodiversidade, das florestas, enfatizando o papel da mulher € 40s jovens no processo estavam em destaque. Em relagao a preservagao das culturas tradicionais, temos a Lei n* 6001/1973 € 0 Artigo 231 da Constituicao da Repiiblica Federativa do Brasil que reconhecem os direitos. indigenas. No caso das. mulheres, destacamos ‘© papel de Rachel Carson © Gro Harlem Brundtland na pauta ambiental, mas podemos acrescentar todas as outras que vem se dedicando a essas questdes. Em relagdo aos outros aspecios, alguns resultados deixaram a desejar em rosso pais, principalmente no que diz respeito as florestas € 2 preservacao da biodiversidade. ‘A Agenda 21 viu a necessidade de politicas piiblicas e implementagao de programas como o controle das ‘doencas transmissive, o investimento em vacinas que como vimos no decorrer deste artigo tiveram alguns resultados positivos. Certamente a legislagdo ¢ a conscientizaco pelos ‘cursos na area ambiental, na formacao de profissionais ‘especializados que possam atuar diretamente nessas questOes contribuem, mas as dificuldades so muitas em re- Iago 20 cumprimento das metas propostas. Elas dizem respeito ao tempo necessario para se ter uma ideia do impacto que os investimentos tiveram para que posse haver mais investimentos ¢ a fisealizagio em relacdo 20 cumprimento da legislacdo. Sobretudo, preciso que ‘governo, sociedade civil, Academia e comunidade internacional colhem na mesma direcdo € trabalhem juntos para que se ossa minimizar a crise ambiental que vem se agravando, procurando obter o desenvolvimento econémico de modo asus ISSN: 1209-7694 ESSN: 275-7214 hii lperiodieos saude sp goubel a wt 200 sustentvel € a erradicagao da pobreza, o que permanece ainda um desideratum, Msc ISSN: 1209-7594 - ESSN: 75-7214 huiifiperiodieos saudesp.go4brl 17-23-2008, Referencias BRASIL. LEI N> 4771, de 15 de setembro de 1965. Cédigo Florestal. Disponivel em: ttps:/fwww2.camara.leg br/legin/fedlei/1960-1969/lei-4771-15-setembro- ~1965-369026-publicacavoriginal-1-pl.html. Acesso ‘em: 05/07/2022. ; BRASIL. LEI 6.001/1973 (LEI ORDINARIA). Dispée sobre o Estatuto do indio. Brasilia: 1973. Disponivel em http:f/winw.planalto.gov.briccivil_03/leis/L6001.htm, ‘Acesso em: 28/07/2021 BRASIL. 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