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Ergonomia Caderno 004
Ergonomia Caderno 004
1. Introdução
Este texto tem como objetivo estabelecer um referencial que o oriente o posicionamento do
Programa de Ergonomia frente os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
(DORT), considerando em particular os casos emergenciais, decorrentes dos afastamentos
superiores a 15 dias, onde estabelecimento do nexo causal e está colocado no centro da
questão.
1º atendimento
Medicina do trabalho Clínicas em geral
Sim Não
Sim
Não
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Define-se como acidente do trabalho aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou
ainda pelo exercício do trabalho de segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional,
permanente ou temporária, que cause a morte, a perda ou a redução da capacidade para o trabalho. São
considerados acidentes do trabalho a doença profissional e a doença do trabalho. Equipara-se também ao
acidente do trabalho: o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído
diretamente para a ocorrência da lesão; certos acidentes sofridos pelo segurado no local e no horário de
trabalho; a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; e, o
acidente sofrido a serviço da empresa ou no trajeto entre a residência e o local de trabalho do segurado.
http://www.mpas.gov.br/12_01_03_01.htm.
Os procedimentos médico-periciais para o reconhecimento técnico do nexo causal entre a
doença e o trabalho, são estabelecidos pelo INSS2 . O INSS considera o Artigo 2o da
Resolução 1488/98 do CFM, o qual preconiza, para o estabelecimento do nexo causal entre
os transtornos de saúde e as atividades do trabalhador, além do exame clínico (físico e
mental) e os exames complementares, quando necessários, deve o médico considerar:
d) os dados epidemiológicos;
e) a literatura atualizada;
Além dos procedimentos estabelecidos pelo CFM, o INSS recomenda incluir nos
procedimentos e no raciocínio médico-pericial a resposta a dez questões.
c) Tipo de relação causal com o trabalho: o trabalho é causa necessária (Tipo I)?
Fator de risco contributivo de doença de etiologia multicausal (Tipo II)? Fator
desencadeante ou agravante de doença pré-existente (Tipo III)?
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O nexo técnico é definido pelo Artigo 337 do Decreto 3048 de 1999 e detalhado para os diferentes grupos
de doenças do CID 10, pela Resolução INSS/DC n. 10, de 23 de Dezembro de 1999, por meio do Protocolo
de Procedimentos Médico-Periciais.
d) No caso de doenças relacionadas com o trabalho, do tipo II, foram as outras
causas gerais, não ocupacionais, devidamente analisadas e, no caso concreto,
excluídas ou colocadas em hierarquia inferior às causas de natureza ocupacional?
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A Norma Técnica n. 606 de 19 de Agosto de 1998, do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS),
substitui outra de 1992. Essa norma possui duas seções. A Seção I trata de atualização clínica das Lesões por
Esforços Repetitivos (LER)/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) e foi elaborada
por uma comissão na qual participaram além de representantes do INSS, técnicos de centrais sindicais, do
Ministério da Saúde/Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, do Ministério do Trabalho e da
universidade. A Seção II trata dos procedimentos administrativos e periciais em DORT.
DOENÇAS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E DO TECIDO CONJUNTIVO, RELACIONADAS COM
O TRABALHO
(Grupo XIII da CID-10)
Outros transtornos articulares não classificados em • Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
outra parte: Dor Articular (M25.5) • Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro 22)
Síndrome Cervicobraquial (M53.1) • Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
• Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro 22)
Dorsalgia (M54.-): Cervicalgia (M54.2); Ciática • Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
(M54.3); Lumbago com Ciática (M54.4) • Ritmo de trabalho penoso (Z56.3)
• Condições difíceis de trabalho (Z56.5)
Sinovites e Tenossinovites (M65.-): Dedo em • Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
Gatilho (M65.3); Tenossinovite do Estilóide Radial • Ritmo de trabalho penoso (Z56.3)
(De Quervain) (M65.4); Outras Sinovites e • Condições difíceis de trabalho (Z56.5)
Tenossinovites (M65.8); Sinovites e
Tenossinovites, não especificadas (M65.9)
Transtornos dos tecidos moles relacionados com o • Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
uso, o uso excessivo e a pressão, de origem • Ritmo de trabalho penoso (Z56.3)
ocupacional (M70.-): Sinovite Crepitante Crônica • Condições difíceis de trabalho (Z56.5)
da mão e do punho (M70.0); Bursite da Mão
(M70.1); Bursite do Olécrano (M70.2); Outras
Bursites do Cotovelo (M70.3); Outras Bursites Pré-
rotulianas (M70.4); Outras Bursites do Joelho
(M70.5); Outros transtornos dos tecidos moles
relacionados com o uso, o uso excessivo e a
pressão (M70.8); Transtorno não especificado dos
tecidos moles, relacionados com o uso, o uso
excessivo e a pressão (M70.9).
Fibromatose da Fascia Palmar: “Contratura ou • Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
Moléstia de Dupuytren” (M72.0) • Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro 22)
Lesões do Ombro (M75.-): Capsulite Adesiva do • Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
Ombro (Ombro Congelado, Periartrite do Ombro) • Ritmo de trabalho penoso (Z56)
(M75.0); Síndrome do Manguito Rotatório ou • Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro 22)
Síndrome do Supraespinhoso (M75.1); Tendinite
Bicipital (M75.2); Tendinite Calcificante do
Ombro (M75.3); Bursite do Ombro (M75.5);
Outras Lesões do Ombro (M75.8); Lesões do
Ombro, não especificadas (M75.9)
Outras entesopatias (M77.-): Epicondilite Medial • Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
(M77.0); Epicondilite lateral (“Cotovelo de • Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro 22)
Tenista”); Mialgia (M79.1)
Outros transtornos especificados dos tecidos moles • Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
(M79.8) • Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro 22)
Osteomalácia do Adulto induzida por drogas • Cádmio ou seus compostos (X49.-)(Quadro 6)
(M83.5) • Fósforo e seus compostos (Sesquissulfeto de
Fósforo) (X49.-; Z57.5) (Quadro 12)
Fluorose do Esqueleto (M85.1) • Flúor e seus compostos tóxicos (X49.-; Z57.5)
(Quadro 11)
Osteonecrose (M87.-): Osteonecrose devida a • Fósforo e seus compostos (Sesquissulfeto de
drogas (M87.1); Outras Osteonecroses secundárias Fósforo) (X49.-; Z57.5) (Quadro 12)
(M87.3) • Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro 22)
• Radiações ionizantes (Z57.1) (Quadro 24)
Ostéolise (M89.5) (de falanges distais de • Cloreto de Vinila (X49.-; Z57.5)(Quadro 13)
quirodáctilos)
Osteonecrose no “Mal dos Caixões” (M90.3) • “Ar Comprimido” (W94.-; Z57.8) (Quadro 23)
Doença de Kienböck do Adulto (Osteo-condrose • Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro 22)
do Adulto do Semilunar do Carpo) (M93.1) e
outras Osteocondro-patias especificadas (M93.8)
Na portaria, DORT são conceituados como uma síndrome clínica, caracterizada por dor
crônica, acompanhada ou não por alterações objetivas e que se manifesta principalmente no
pescoço, cintura escapular e/ou membros superiores em decorrência do trabalho. São
patologias, manifestações ou síndromes patológicas que se instalam insidiosamente em
determinados segmentos do corpo, em conseqüência de trabalho realizado de forma
inadequada.
Assim considerado, o diagnóstico médico dos DORT assume uma perspectiva um pouco
diferente das doenças ocupacionais em geral. Sendo o diagnóstico eminentemente clínico,
particularmente nas fases iniciais dos DORT, onde os exames complementares do tipo
Radiografia, Ultra-sonografia, Ressonância Magnética, Cintilografia Óssea, Tomografia
computadorizada e Eletroneuromiografia são de pouco ajuda ao raciocínio médico, o nexo
técnico assume um papel de destaque. Para que fique claro considere os exemplos abaixo.
OCUPACIONAL
estabelecimento do nexo técnico.
Verifica que o sujeito realiza no trabalho posições forçadas, gestos repetitivos e vibrações
localizadas. O profissional faz um diagnóstico de DORT. O nexo causal ocupacional
ficou estabelecido.
O que distingue os dois casos, é que no segundo, o nexo técnico é parte indissociável do
diagnóstico. Nestes termos, frente à complexidade das DORT, o nexo técnico é
fundamental para suportar a decisão médica. Isto coloca em questão o esclarecimento do
que é o nexo técnico, tanto na perspectiva do INSS como do MTE.
Para considerar a questão do nexo técnico será tratado inicialmente do normalizado pelo
INSS, para quem, o nexo técnico4 responde à questão: A atividade profissional é capaz,
por si, de desencadear o processo? Ele define:
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somente será estabelecido caso a previsão de afastamento, no Laudo do Exame Médico (LEM) maior que 15
dias se confirme. Caso contrário, haverá apenas notificação. Destaca-se das definições do INSS:
a) o nexo técnico deve ser entendido como o vínculo entre a afecção de unidades motoras e
a existência de fatores ergonômicos de risco para desenvolvimento de DORT;
Na forma como estabelecido pelo INSS o nexo técnico é definido segundo critérios
epidemiológicos e ergonômicos e implica na prevenção e no desenvolvimento de ações
corretivas, os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do
Trabalho (SESMT) remetendo a questão para as Normas Regulamentadoras (NR) do MTE.
a) os fatores de risco são definidos com base em estudos empíricos ou epdemiológicos que,
numa situação específica, em dependência da sua importância relativa, podem assumir
papeis de condicionantes ou determinantes;
b) saber-se que o fator está presente significa reconhecer que ele atua no sentido do
aumento da probabilidade, sem contudo, estabelecer qual é o valor desta.
c) em ambos os casos eles podem ou não ser modificados, a partir da análise ergonômica
do trabalho e das ações decorrentes desta.
Num estudo conduzido por Burdorf & Monster, 1991, citado por Hagberg et al, 1995,
foram avaliadas duas populações de trabalhadores: 101 cravadores da indústria aeronáutica
e 76 trabalhadores manuais não expostos à vibração. O estudo foi conduzido por meio de
questionários, medidas de tempo e intensidade da exposição diária, por meio de
acelerômetros. O estudo verificou que 22% dos cravadores contra 11% dos outros
trabalhadores, apresentavam a síndrome do dedo branco. É fácil induzir do estudo que a
vibração é um fator de risco ou um perigo que constitui uma fonte de dano potencial para
a atividade dos cravadores.
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A NR7 estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e
instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional (PCMSO), com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus
trabalhadores, indicando, dentre os médicos dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e
Medicina do Trabalho – SES0MT, da empresa, um coordenador responsável pela execução do mesmo. Este
deverá ter caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao
trabalho, inclusive de natureza subclínica, além da constatação da existência de casos de doenças profissionais
ou danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores. O PCMSO deverá ser planejado e implantado com base nos
riscos à saúde dos trabalhadores, especialmente os identificados nas avaliações previstas nas demais NR.
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A NR9 estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e
instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
(PPRA), visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação,
reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que
venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos
naturais. Para efeito desta NR, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos
existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de
exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador.
A BS8800 conceitua risco como a combinação da probabilidade e conseqüência de
ocorrer um evento perigoso específico (acidente ou incidente). Um risco, então, sempre
tem dois elementos: a probabilidade de que um perigo possa ocorrer; e, as
conseqüências do evento perigoso. A norma estabelece para a avaliação de risco três
passos básicos: a) identificação dos perigos; b) estimar o risco, considerando a
probabilidade e a severidade; e, c) estabelecer o grau do risco.
Severidade
Probabilidade Levemente Prejudicial Prejudicial Extremamente Prejudicial
(1) (2) (3)
Altamente Improvável (1) Trivial Tolerável Moderado
Improvável (2) Tolerável Moderado Substancial
Provável (3) Moderado Substancial Intolerável
Considerando que, os três passos possam ter sido realizados, a abordagem do risco
estabelecer para cada nível as ações e o cronograma para o seu equacionamento. A tabela
abaixo, extraída do anexo D do guia da BS 8800, sugere os procedimentos.
Voltando à questão original, protocolos e check list podem nos ajudar a estabelecer a
resposta para a questão acerca do determinante da situação? A resposta é não. Quanto mais
refinado é um protocolo, mais específico ele se torna, isolando uma variável e detalhando a
sua análise. Se considerarmos uma situação de trabalho bastante recortada, uma linha de
montagem por exemplo, estes instrumentos seriam e são úteis para avaliar uma variável
isolada, pouco ou nada nos dizendo sobre o global da situação.
A dificuldade fundamental é que por mais detalhado que seja o instrumento de avaliação de
risco, a situação é uma só e os condicionantes não atuam de forma independente. No caso
das DORT em específico, a multicausalidade e a interdependência dos fatores indica que o
determinante está na situação e não num fator específico. Como tratar a questão do
nexo técnico?
Uma primeira questão a ser resolvida é o recorte a ser dado na investigação do nexo
técnico. No que pese que o mesmo tenha validade para um indivíduo o recorte para análise
deve ser a situação de trabalho, ou seja, deve-se evitar centrar a análise sobre o sujeito.
Isto é compreensível, primeiro porque, se analisamos o sujeito, sempre poderá restar a
dúvida se é a atividade que esta determinando a lesão ou é modo operatório específico que
o sujeito utiliza, o fator desencadeante da mesma. Analisando a situação, a dúvida não
pode se estabelecer. Segundo, porque deve evitar o julgamento de confiabilidade ou não do
sujeito durante a análise. Proceder tal julgamento no curso da análise do nexo técnico
significa jogar para fora de qualquer critério justificável o estabelecimento da relação
causal.
Isto posto vamos considerar a figura abaixo. Nela, os três círculos exteriores representam
dimensões necessárias para a definição do foco da análise da situação de trabalho.
Literatura
Epidemiologia
FOCO
Tarefa Percepção e
&
Fator de Risco Queixas
A confrontação dos dados colhidos nos três campos permite concluir a análise ou indica o
foco para análises mais aprofundadas. Como estabelecido na figura, tal construção passa
pela necessária articulação entre os serviços de Medicina do trabalho, Engenharia de
Segurança e Ergonomia. Construir esta articulação não é tarefa simples. Existe um
emaranhado de relacionamentos, com zonas de sobreposição e vazios, bem como,
deficiências terminológicas e conceituais que nublam e dificultam o entendimento e
equacionamento concomitante das questões. Este é o desafio.
Nexo
Causal
Tarefa Ações
Fatores de Risco Recursos
Ergonomia/Segurança Grupo Projeto
Situação de Trabalho