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NOTAS BIBLIOGRAFICAS res Nef— Histoire de la Musique — ed. Payot, Paris ‘Sachs —A short history of World Music — eq, pio8 (2) — Dobson, London — 3949-1 racteada Ey Dennis ) "Enciclopedia Universal Ilustrada Europeo-Americana — : de J Brisa — Volume XXXVII — Barcelona. cana — ed. Hijos (4) — Jean Lacroix — Les Musiciens Célébres —ed. Lucien M, Paris — 1946. a ‘azenod, (5) — Oscar jompson — Cyclopedia of Musi ick Dent & Sons, London — 1942. ic and Musicians — eq. (6) — Gabriele d’Annunzio — Il Piacere —ed. Trev: 7 pannus : , Mit (7) —Grande Enciclopédia Portugu leita ty Wane — 1889, guesa e Brasileira — Volume XVIII. (8) —F. Lopes Graga— A Misi MEO) ere cate ica Portuguesa € os seus Problemas — (9) — Diario de Noticias — Lisboa, 18/ o de 2 » 18/3/1943. (10) — Francis Grierson — La Vie fet les ‘Homies — ed. Figuia; - Figuitre, = 7 Pacis 11) — Paul Valéry — Fi . oo ty — Fragment sur Goethe —ed. Albin Michel, Paris 36 Ha, assim, alguns homens que fazem Pensat no que podeti songs ~ noe odert ser oO Mundo se a civilizagio e o espirito perfeitamente Ee £ ia un- dissem. As realidades fariam os idealismos mais sensatos. O espi . spi- ritual nobilitaria as acgoes. E talvez deixasse de notar-se aquele estranho contra entre a cultura dos homens e a conduta dos seus negécios ne tanto confrange quem as confronta. ° a Mas é possivel que civilizag4o e espirito sejam grandezas ijncomensuraveis. E até — quem sabe — pode bem ser que essa incompatibilidade constitua fundamento da prdpria vida (11). est4 na mesma. Sem orgulho nem arrogancia, na ij de sempre. Na condigao que se impés ie simp apagado de uma obra que € cara ao seu alto espiri seu grande coracao. E a mesma calma serena, a mesma seriedade profunda mesma bondade irradiante. ; , O Mestre conseguiu viver uma longa vida, no ambiente excitante da época, sem se deixar enervar, nem endurecer. Assistiu pacientemente ao rolar dos anos, ctiou uma toda numerosa de discipulos, educou o meio, fez escola, Atingiu ple. namente-o-seu objectivo. Pelo seu ideal sacrificou oportunidades de sucesso. Pottas ‘abertas no estrangeiro a uma triunfal carreira de virtuose, con. ‘serva-se em Portugal. Apontado para reger cursos num grande conservatério dos Estados Unidos, deixa-se ficar em Portugal. Em Portugal funda o seu lar, vive a sua bela vida. A “ Alegrias, tristezas, contrariedades, triunfos: tudo vai pas- gual Modéstig ie ©ONStrutoe to e dilecta do sando perante a impassibilidade inexoravel do destino. E Luiz Costa mantém-se brandamente firme, suavemente petsistente. Homem e Artista na mais perfeita unidade perante a Beleza eo Amor. As suas virtudes estao na base do cristianismo que todos aprendemos. Exercé-las de forma tao perfeita é que transcende as possibilidades do geral. $6 0 conseguem eleitos da Providén- cia, com o ptivilégio raro de ouvir d’Ela inspiracbes especiais, nao referidas na ética acessivel a toda a gente. 34 5 as agruras do precursor; ¢ venceu-as com a freu toda idad nerfeita dignidade. . 3 mais F re Luiz Costa continuou a obra de Domingos Bon- Mest le Si — o Bontempo portuense. E tem ¢ de Mo is al cee a missio da forma mais al levantada. iO ~ . . ump" aixonados pelo seu ideal, movidos pelo impulso Oi sitncia, tenazes, desinteressados. Portugal neces- da prop de gente deste quilate! sita Oy erande critico de arte que foi Manuel Ramos, espitito rez’, aio de principes, disse de Luiz Costa, h4 longos 2 met _ norte nado tem artista que se lhe compare. Como oie, professor € compositor é uma das mais es e incon- fundivets personalidades do nosso meio, nas ultimas trés décadas. Tem a adorac4o dos portuenses ¢ essa adoracao abrange o artista yras! eo gentleman». Passam agora as bodas de oiro do seu magistério e 0 nosso Mestre esta na mesma. Mantém integras as suas excelsas qualidades de educador: inteligéncia, proficiéncia, honestidade, petsisténcia. Nao se lhe sente rentincia de ideal, nem indiferenca de alma. Ainda sabe vibrar perante a beleza e a bondade, perante o que ¢ grande ou nobre. Nio importam, entao, cabelos brancos ou rugas. O tempo $0 actescenta quem sabe manter a frescura do espirito. Passaram cinquenta anos de magistério € 0 nosso Mestre 33 ; . ular, a obra de Mestre Lyi, jcanga0 POP tuguesa. Cosy sem dament® terra por fur Césat Franck, as suas melhores Produgée re : A mane jc. E, como as do velho organista q : © Santa 1a ida : ic autor, i surge” nservan-Ser em. vida do au no desconhecime, Clotilde. me icios- i dos patricios. estre Viana da M ; Parece ignorar-se que M ora admirasse a Jargueza da forma, 4 riqueza ap olen € a intensidade de © cio do Quinteto. Que o conjunto reronel executasse ande éxito, 0 Quarteto. Que as pegas rea ‘do fartos aplausos em Franga, na Bélgica tes Estados Unidos. » Nos Facto é que, em Portugal, nesta «florida alpendurada sob, o mar», incompreensivelmente, o grande piublico quase ri conhece a obra do compositor. es- Em compensa¢ao, inundam-nos diariamente com pegaio: produgées de sentimentalismo patoldgico e compleicio £4) es sem forma e de mau conceito. $80 amorta; zs : Supéem, provavelmente, que nao merecemos mais Nio sci se era faci d sera facil aos n l€ agora co. em lOvOS agora Cc mpreender, Luis Cons 0 alto significado da accao educadora de No eni €. em breve a tanto, taly | vi i a | Z seja posst el sintetiza-l. reves pal . 32 ficientes na aplicagao das nossas Possibilida ae Vapes . metos nder que tais meios se usem de maneia es cer oes: . pre uilfbrio de proporgées; que as obras de a feito femanent se elevem ao nivel da arte cl a sua da perfeicao final» (2). O temperamento profundamente honesto ides. Limito-me tética, com per- arte, seja qual for assica, no sentido de Luiz Costa res- de ao apelo do seu antigo professor. in ‘ 7 Pa , aa Em relacao 4 evolugao geral da musica, trilha a tnica senda de virtude. Partindo do romantismo em que foi criado, nsivamente o desenvolvimento. E assim co. reel . a aoe 6nio nacional com trepertorio de exc . : Sao «lieder», poemetos para piano, acompanha com- Nsegue enriquecer elentes produgées, sonatas de piano e corda, juntos de camara. Ouvimos esta noite algumas dessas pecas. con, E elas falarao 4 nossa sensibilidade melhor do que eu saberei fazé-lo. Sente-se depois de m. tarde, deRavel Mas sempre, e em todas, 31 encontramos Lyi, go Portuense, Orfeao : . sta rimeiros nomes do virtuosismo mundial, Jo com oS P com os violoncelistas Hekkin, * aggivamente sivam zu Cortot e Friedmann; com os janistas haz com os pia ; como cantor Albers; com os Casals; A nyie Senatra; ral Enesco. mont. . : Rosé, Zimmer € Chau em Londres, com Guilhermina § ost, . Em 1929 ox! da metrépole britanica, reportando-se E actitica ae onatas de Beethoven e de Brahms, f. 4 40 de s 5 gistral execu teligéncia, grande nobreza ¢ largo estilo de jor in ' sua super 50, bem como da sua sonoridade, «a mais encantador. tacao, be: pre possa conceber-se». itais do citals: Nos Fe! » colaborag' cm Toca suuces Violiniseas uartetos Uggia, a Ma- ala da inter. 4 que 56 os grandes génios, de Inspiracao sobre-humana, alcan- sam construir e impor formas definitivas na evolugio da Atte, Reformadores de menor craveira costumam ir longe de mais, - C Em vez de evolucao, conseguem tao somente extremismos, pre- cirios, insubsistentes, Cabe entao aos artistas Sensatos, com seu calmo equilibrio, temperat’ os exageros ¢ atingir as formas perduraveis do evolu. clonismo, mad Anci ; ini ado com as extravagancias do Jacobinismo artistico: — «Anar- quia nip ¢ liberdade, L onge de mim desanimar © emprego de 30 Ses ao grande mago de Bonn. My: ee ‘Schubert. n- Muitos outros a Brahms, Cho. Em 1920 apresenta-se em [ishoa, Viana da Mota, num grande festival dedicado a L; t de tocar 0 célebre concerto em li, Preenche toda ase ae Além do programa ¢ ouve uma das maiores Ovacdes da temporada tistica essencial da ma que a maneira a ~ ‘nica perfeita e bri- Ihante, a sua superior inten¢ao, representam qualidades que sé aos artistas na plena maturidade do talento é dado possuir q Em 1922 € 1923 voltou Luiz Costa ao S. Luts pata tocar com a orquestra do Maestro Pedro Blanch, priblico, maravilhado, reconhece que a caractey arte do pianista € a seriedade. E a critica afin sdbria e expressiva da sua Interpretagao, a téc artista que nao esquecera. » em O teatro enche-se de enorme assisténcia, Avida de ouvir ° c ; célebre » com brio ¢ pujangaradmiriveis, pre- miados com entusidsticos aplausos. Disse a critica: Luiz Costa teve razao em seguir na sua carreira o caminho dos gtandes mu- sicos seus modelos. Apesar de novo, conseguiu a mais invejdvel de todas as gl6rias para qualquer homem e sobretudo para um artista: fazer respeitar 0 seu nome. O entusiasmo recrudesceu com a superior interpretagio, dada no ano seguinte, ao concerto em sol de Beethoven, com rae vécnica eseupenida, excelente gradagao sonora e dicg4o impecavel. Colhe outra ovacao estrondosa. 29 frucm os prazeres supetiores que a interpretacig 1 sent. . : cons ixam perder a capacidade de execugio, 94 ainda d : Otros ae sfa. Mas esses mesmos, regressados § massq ma +. nao deslustram o esforgo educador de saprendet ; a dos ouvintes, c luc dos mantém o fundo de uma sélida ho. expectante t0% Costa. Porque me Luiz |, finalidade suprema do pensamento do ca educagao musica tantismo ¢ ust musical nes Mestre. Dissemos hé pouco que Luiz Costa, optando pelo ensino, pusera de banda a carreira de concertista, limitando-se a surgit em ptiblico com relativa raridade, quase tao somente pata satis. fagio ¢ proveito de seus alunos. Voltamos ao assunto, porque a faceta de virtuosismo do artista merece maiores teferéncias. Eneregue devotadamente ao professorado, Luiz Costa com- preende a necessidade de manter em boa forma a sua técnica, Aproveita todos os momentos dispontveis para os dedicar ao estudo, engrandecendo-se. Coloca as suas qualidades de virtuose ao servico da obra educadora empreendida. De vez em quando anuncia recitais, outras tantas demons- tragoes da sua capacidade artistica. Casas sempre cheias de con- correncia, cada vez mais numerosa e entusifstica. Fiel 20 culto beethoveniano, ‘ culto » consagra cerca de trinta desses 28 discf :xibics apridées, desde os principiantes aos adianeadce, Uae ee te macia na escolha das pegas, consoante as tendénciay de ee Paibico limitado As familias de todos, de complaccnee hn Kencia. O Mestre preside. Sempre de poucas palavns Rif vey ineerpretar-Ihe a sentenga na imutivel bondade da expredg De vez em quando um recital de P risonha. Os anos passam. Conseguem-se alguns Progressos. As conversas alargam-se, no tempo como nas intengdes, Percorre-se a historia da evolugao musical, da propria filoso- fia da musica. Acode-se as ligdes como quando se vai 4 missa: por necessi- dade espiritual. Mais anos ainda. A vida arrasta-nos pata outros lados. Cessou a aprendizagem. Fica a recordagao saudosa dum convivio encantador. Um reconhecimento inesquecivel se guarda no cora- g40. O Mestre ja nao é sé Mestre: é 0 bondoso e querido Amigo, respeitado, venerado, Luiz Costa formou alguns dos mais distintos pianistas do nosso Pais. Professores ou virtuoses de gtande nivel, a sua cele- bridade ultrapassa o limite acanhado das fronteiras. Sao valores da grande confraria universal da Musica. A fama do Mestre insigne alarga-se por seu intermédio. Outros discfpulos nao vao tao longe. Quedam-se pelo dile- 27 ia ilimitada, toda facil ¢ espontar Nea, tod, a Com uma paciénc’ atraente, industriava a ctianga no valor d, jos ¢ dos dedos. aS Notas, enino era tamanhinho ¢ nao suportava | ‘ongas idade, de um quarto ou mi letade insinuante e posicao das m, E como om rava-se consoante a na scssOes. cobi de scus honorarios. Depois, com a mesma inesgotavel tranquilidade, pa: . : , pas solfejo, aos exercicios elementates, As escalas lastidiosse oe ao i - £ ass: ia avancando zelosamente no desbravar do: im, S pri- a pouco e pouco, meiros passos. Mais tarde, disciplinado: i s os movimentos, obtid: » obtidas algum:; as facilidades na técnica, comegava a falar de interpretagao Longas explicagoes ¢ conversas, cheias de intuico superi ior, abriam insensivelmente o caminho do subjectivo Preocupagao constante domina o Mestre: valorizar : a perso- . oy . nalidade dos discfpulos. Cultiva-a por todas as maneiras. N : ‘as. Na os quer moldados uniformemente no mesmo cunho. Fal 1. intengao espiritual do autor 1 jae rt. Ensina as f6rmulas candni 5 las canénicas d: Vv inte a i erpretagao. Mas respeita, Ma medida. devida, 0 tacto: Encoment endado o estudo de uma peca, Luiz Costa ouve-a de pé e ao lon, 4 « Pe a ge, com profunda atengao. Depois enuncia os patos, corrige as falhas, manda repetir a execuc4o, na parte ! ; ou i no todo. Mas evita sentar-se ao piano Pretende que o disci- lade atraves da sua P ‘Op ‘la sen; ndi- vidual, 26 salas, tinha a sensagfo mal definida, mas grata e vantajosa, de encontrar ali, a todo 0 momento ¢ por todos os motives, algo de novo para mim, superiormente acolhedor ¢ infinitamente res, peitivel. Esse sentimento de veneragio estava tio profundamente enraizado na minha pequena pessoa que afastava qualquer ‘dein ae neelican eatieterces Tal emogao, mantida e acrescentada com o decorrer do tempo, incluo-a no numero das felizes memérias da minha infancia! Quando a idade me fez abranger mais largamente as coisas, comecei a ligar aqueles sentimentos 4 pessoa do Mestre e ao seu idade, de sdbria elegincia, de tem} honestidade toda compreensiva e bondosa. Os afazeres e ocupagées da vida, mesmo infantil, percorrem ciclo semanal periddico, com seu ritmo de euforia e desgraga. Todos nés temos trabalhos que preferimos e fainas que abor- recemos. O dia da ligao de piano marcava para mim a hora feliz da semana, aguardada com ansiedade. Quando chegava, era o mo- mento delicioso de fuga. Era o conto de fadas cativante, que o menino se nao cansava de ouvir... Ja dissemos que Luiz Costa, tomando o mester de professor, quis sujeitar-se a ensinar musica desde os elementos. 25 " . i! as Malis gratas ¢ m razeres mais pUuros, 8 Onsolacies, conduz aos P' igoes. idénci fer s dons que a Providéncia nos conferiu, mi. feito e penetrante (10). ue f i js maiores per e E, de todos 0' ica sera 0 ai ime, pet! i o mais su! lime, sica sera ) ‘o havia radio, nem cinema, a vida cotria mais ando na 7 7 Qu cuidar de coisas varias, que hoje se calma ¢ havia tempo pata gem um pouco de banda. - Era frequente a juventude completar a sua educacio, esty.- dando musica. . Os pais aplicavam zelosamente nessas despesas as disponibi- Iidades dos seus mealheiros, parcos e custosamente dotados. Nao eram despesas sumptudrias. Reputavam-se de boa sementeira, para valorizagao da fazenda mental dos meninos. Tive a boa sorte de pertencer ao ntimero desses beneficiados, Como recordo as primeiras licdes recebidas de Mestre Luiz Costa! : Foi em 1907. Eram na Rua Sa da Bandeira. Um segundo andar airoso, por cima da Escola Berlitz. Duas amplas salas ligadas por larga porta, sempre aberta. Ao fundo, o Bechstein de cauda. Retra- tos dos grandes mestres alemaes. A mascara de Beethoven. Al- gumas plasticas de Teixeira Lopes. Grandes estantes cheias de bons livros, metddicamente alinhados. Sempre que entrava no ambiente calmo e¢ austero daquelas 94 am solugdes © aplicam-nas per- Outros, pelo contrétio, estud. incitamentos. As vezes sem necessitarem de sistentemente, a palavra de orientagao, esquecida mesmo sem precisarem da bo: de quem a deveria dizer. A educagao musical portuguesa quase sé tem valido a acgao menitoria desses precursores, verdadeiros apéstolos auto-sacrifi- cados para quem todas as hossanas serio poucas. So eles parecem lembrat-se, com efeito, que a misica ele- vada e¢ inspirada esta na base da harmonia espiritual. Que a sua influéncia psicolégica é considerdvel, actuando sobre o pensa- mento, os sentimentos e as acgoes. Quando a forma é nobre e emotiva, a musica provoca su- blime perturbag4o no coracao humano, sé igualada pelas prédicas dos poetas divinos. Podem os muisicos medfocres desconhecer a filosofia univer- sal da musica. Mas quando subimos a grande senda de perfeicao que conduz ao vértice onde se encontram Bach, Beethoven e Wagner, podemos vislumbrar as grandes leis de emogio e de ins- pirag4o quase religiosa que explicam a influéncia da sua obra. Os trés Grandes compreenderam essas leis primordiais, mis- térios ocultos da musica, tanto tempo ignorados. Compreenderam a verdadeira relagao entre a misica e 0 espirito. Mais extensivamente, entre a Arte ea Moral. Uma sem outra nao podem existir. Tirando a vida os elementos etéreos ¢ estcticos, destréi-se a virtude mais poderosa da alma humana, 23 altruismo. Di preferéncia A — obsey educador. Precisamente aquela die ta, } exuberincia efervescente da nossa ie n lucro da carreira de concertante, pile " Jose a surgir cm ptiblico com telativa tatidade rand 7 = . : a satisfagao € proveito da coorte ctescen € banda, hm quase tao somente de scus discipulos. No _ Tem o est Faz do ensino u Num meio de q' pat musical, Luiz Costa é rote. ofo dos grandes construtores. m verdadeiro sacerdécio. uase geral indiferenga lanca uma escola nova. ; Laureado discipulo de gtandes mestres, vogando nas mais altas regioes da musica, sujeita-se a guiar aprendizagem das suas primeiras letras. / Um pais como 0 nosso, que, ate tarde, mostrou tio poucas tendéncias musicais sérias, necessita de educadores mais do que qualquer outro. 0 problemas, sera, basilarmente, um . Mas, como os restantes, s6 poder resolver-se com o esforgo de todos. Todos nés, no campo das nossas diversas actividades, pode- mos encontrar e encontramos faltas e deficiéncias. Alguns limitam-se a aponté-las, aos gritos, sem esbogar qualquer movimento construtivo, ical, como muitos outros dos nossos 22 Tem de fundar-se numa base mais ou menos distante, de cardcter estilistico, histérico ou tradicional, E por isso que os intérpretes, além de sentir, tem de saber. A faculdade interpretativa nao pode resultar exclusivamente de intuigao, mas também de instrugao. Ora Luiz Costa trouxe da Alemanha, apurada em alto grau, a virtude interpretativa. Aliada 4 seguranga firme da técnica executéria. As suas primeiras aparig6es perante o puiblico portugués logo © consagraram. O artista era diferente do que as nossas plateias estavam habituadas a ouvir. Ao novel Pianista oferecia o futuro a catreita de concer- tante, toda promissora de brilhos Pessoais e de triunfos, O contacto demorado com as maiores sumidades do meio artistico da Alemanha poderia abrir-lhe as primeiras facilidades. As virtudes pessoais fariam o resto. Luiz Costa voltaria repetida- mente ao estrangeiro, ou por [4 ficaria. Lembrando-se da P4tria quando a apetecesse para desfastio de férias ou pensasse saudoso na Familia. Setia-o caminho da gléria € da riqueza. ; Mas outro" taminho “havia.. Incomparivelmente mais mo- desto, todo de sactificio, desprendimento e desinteresse. Era necessdrio melhorar o ambiente musical. portuense, ele- var o seu nivel, descobrir e cultivar inclinagdes, ensinar e educar. . ’ . _ Oo Luiz Costa sente que seré essa a sua verdadeira vocacio. 21 ce ie ON i velho Liszt: Ja com outro pupilo “ lim, j Conrad, « a: Esudou ainds Conservatorio de Berlim, justamente con, fessor do ™ de Beethoven. pe ‘rprete de Ae cae maior intctf Bernardo Stavenhagen, Planista da cor siderade “ ; : Weimar, director da Real Academia de Mi cm ecom E finalmente cof Jimeister discipulo preferido de Liszt. IC, Kape! . wc de Muniqu dizer-se de Luiz Costa que, por sua li Pode assim aitistica, € eres VezeS'| ™ fir. Luiz Costa a Portugal com seus créditos be ‘ssou ro. Regre: a, técniicg fi ivo, cultura profund mados: elevado senso interpretativo, cu Oo haeresdaeeee enunciei oo ptimeiro lugar © sentido da interpretacio, qualidade mais saliente do virtuosismo de Luiz Costa. Creio que assim posso fazer ° maior elogio do artista, E impossivel haver petfeita objectividade fa execugio de uma pega. Porque a representagao grafica da musica é insu ciente para exprimir as subtilezas da Intengao do compositor, tprete. Com Entra fatalmente em jogo o complexo pessoal do inté: ulas, de uso consagrado pelo meio habil aplicagao de certas form € pela época; pois que a estética ea expressao musical tém variado considerdvelmente com 0 temp Tratando-se, como é 0 caso, de musica puramente instru- mental, 2 Interpretagao forna-se quase inteiramente subjectiva. 20 a 10. Veio ao mundo no seio de uma familia com acentuado gosto artistico. Obedecendo a atavismos ancestrais ou a impulsos pré- prios, nao sei, também sua Mae cultivava 0 piano. ; Vivendo no Porto, foi Luiz Costa discipulo de Moreira de Sd — nao podia deixar de ser — com ele aprendendo piano, vio- lino e viola. Como executante, colaborou na Orquestra Sinfénica que Moreira de Sé dirigiu, nomeadamente na primeira audi¢éo em Portugal da sinfonia «Patria» de Viana da Mota. No piano, desde logo seus méritos 0 fizeram ir mais longe. O romper do século ja 0 encontra ocupado a leccionar. Mas nao Ihe bastavam os conhecimentos adquiridos na terra natal. Desejava mais. As noticias que tinha do elevado nivel artistico da Alema- nha seduziam-no constantemente. Sentia forcas para progredir ¢ desejo de se aproximar da alta cultura daquele Pais. Para ali seguiu em 1905 e durante dois anos, em Berlim e em Munique, trabalhou com os gtandes mestres do piano. Foi seu professor Ferruccio Busoni, pensador e fildsofo de alta envergadura, senhor de uma técnica formidavel, cuida- dosamente dominada ao servigo da espiritualidade das suas inter- pretacdes. Como também Viana da Mota, o notdvel artista portugués, considerado no ntimero dos muisicos de mais elevada cultura, discipulo de Von Biilow e de Liszt. 19 = . . tiva que conduziram , accao constru 0 Paj, 3 leos de reacga US a ten, rinea. va da musica, 0 esforgo tripeiro pode log nuch cenga contempo' M No dominio a aliz ‘at-; feitamente 4 vontade, no Ultimo quartel de 1800, om a cadas tendéncias libertadoras do monopolismo musical italia " No, Ea Moreira de SA que ptincipalmente se deve a boa oh com toda uma grande vida de apostolado. Instrumentista, cha de orquestra, professor, conferencista, €sctitor © ctitico, “ houve actividade que satisfizesse 0 «petit caporal», su Com uma tenacidade contraditéria da sua aparéncia fi. Moreira de Sa funda consecutivamente, a partir de 1854." Sociedade de Quartetos, 0 Orfeao Portuense, a Socieda hea Musica de Camara e a Assoctagao Musical de Conce le Populares. Ttos E vence espléndidamente a partida, ultrapassando os lishoe tas de forma consideravel. Alarguei-me talvez um pouco excessivamente nestas cons)- deracées prévias, , , Podera Supor-se tenha pretendido exibir erudicio. Quando € certo apenas desejei preparar ambiente para melhor se poder apreciat, em todos os seus aspectos, a personalidade do Mestre que hoje homenageamos. Assim o tenha conseguido! Luiz Co: ; sta nasceu em : ; 2 infincis, u em 1879 e dedicou-se 4 miisica desde . século pa ; Na fiveratuta do P ssado, de manei sca, pode™ topar-se outras referencias de enfant nde do velho burgo portucalense, ‘wali . t : nis verenciam-se-lhe atributos prosaicos, de 56 Re i ‘ lidas activ: jai toe IS acy comerciaiss financeiras ou de industria, — tivida- des . es . renacidades ao engenho, a iniciativa, até & Senetosidade i, Mas quando se abordamy planos mais altos do intelec cesta q oO qa alma, foge-se a referéncias ou negam-se mesmo a. ‘ i Ss ge mediania- : ng Serao justas estas criticas? Nao saberei contesta-las. Mas impressiona conhecer-se qui essa mesma altura, o nosso burgo abrigava um escol valios de ensadotes € de artistas. Soares dos Reis, Silva Porto, Marques Oliveira, Teixeira Lopes, Oliveira Martins, Ramalho, Alberto dOliveira, Carolina Michaélis, Agostinho de Campos, acodem it: ; @ Mais oy menos Preciativas cn espi i “se lisonjas 4 logo 4 memoria. O proprio Ega, intimo de Resende, veio aqui buscar-lhe a irma para casar. E encontrou nela, com rata felicidade, «aquela mulher serena, inteligente, de caracter firme disfargado sob um cardcter_meigo, criatura ideal» que o ilustre escritor somente supusera possivel « nalgum romance inédito de Octave Feuillet». Talvaz o dito exprimisse apenas falta de convivio de socie- dade. Porque o Porto foi sempre avesso a familiaridades que exce- dam as paredes de seus zelosos lares. Fosse, porém, o que fosse, convita nao esquecet precisamente a esse fim de século devemos a formagio dos primeiros 17 gues dos italianismos galantes para as formas superiores da mu- ica pura (8). “ ae corte, fundou em 1822 uma Sociedade Filarmd- nica, que iniciou seus concertos na capital, com obras sinf6nicas ¢ de camara dos grandes mestres curopeus. / Criado o Conservatério, alguns anos mais tarde, confiaram- -lhe a direccao. E Bontempo, desse posto de comando, procurou transformar os métodos de ensino e apurar o sentido artistico. Mas no logrou criar verdadeira escola. Depois da sua morte, apenas alguns perseverantes procura- ram seguir-lhe a licao. Diversas agremiagées, inspiradas na Filarménica, continua- ram, com laboriosas intermiténcias, a sua actividade musical na capital do reino. E no Porto? Que se passava, entao, nesta mui leal e invicta cidade da Virgem Nossa Senhora? Anténio Nobre, o poeta do «livro mais triste que houve em Portugal», em carta enderegada a Alberto de Oliveira 4 roda de 1890, descreve o seu primeiro encontro com Eca de Queitoz. Na chancelaria do Consulado, meia hora de palestra final. Tocam apressados em Paris, em Coimbra e no Porto. Sobre esta nossa querida cidade, encontram-se com a mesma opiniao, sintética e definitiva: — «Jesus! que terra! verdadeiramente inabit4- vel!» (9). 16 represencativas capazes de contribuir Para a evolucio inui iste a miisic Nem qualquer sorte de continuidade histética 108 parce a €skor- gos reas ; lém do temperamento jé referi : A . in G Ja referido, andémos sempre ocupa- dos com outros cuidados. Conquista do solo aos moi : bica f . S Mottos, defesa das raias contra a cobica fraterna, expansio ultramarina, A Noss: : 4 ; : gente levou a ae tude. De Pouco fausto ou nenhum, E essa vida também nao é Propicia a cultura da misica, De modo que, em varios séculos de crénica, tio sdmente demos exibir uma quadra digna de mengao honrosa: a escola dos polifonistas de Evora e Vila Vicosa, nos séculos XVI e XVIL Foram 150 anos e boa tradicao, no estilo capela, em que bri- lham nomes de varios contrapontistas, com Duarte Lobo 3 cabeca (7). Fora disso, alguns compositores, um ou outro tedrico, tra balhando dentro das ideias da época, ou mesmo com atraso sobre elas: o Infante D, Pedro, Damiao de Géis, Heliodoro de Paiva, ELRei D. Joao IV, José Carlos de Seixas e Marcos Portugal. No século XVIII fomos invadidos pela miisica italiana, mais especialmente pela dpera napolitana. E ela dominou a nossa arte musical durante cerca de dois séculos. Nos ptincipios do século XIX a cultura era de geral pobreza e vulgaridade. Até que surgiu um homem de envergadura, Do- mingos Bontempo, compositor ¢ pianista de fama, culto ¢ via- Jado. Esse homem lancou-se 4 empresa de desviar o gosto portu- 15 hd longos anos, passei no estrangeiro, ouvi gi ha os portugueses, éramos sempre 91 “et Br es, nds, es que , algumas Vv pane pouco compreensivel. - isa pa A 5 A one i a entendé-la quando teparei que o Baul ng Vim oP afia e confundia com facilidade — ra sabido de geogt Nteitay era 5 latitudes. : . Creio, efectivamente, razenteira. na one de gente com os irmaos peninsulares, pode Rotar-se mesmo uma nitida diferenciagao. Menos exuberantes nas pala. yras como nos gestos e nas atitudes. Menos Propensos a extetio. rizacdo de sentimentos, pans agitados. Uma tendéncia fotte de sobriedade nos contém, num receio quase provinciang do Quando, que os, portugueses nao podem ter. “Se decoro ou do ridiculo. De ai uma tendéncia para o sombrio, para a melancolia, para a tristeza, para a lentidao, quer o ambiente seja de monta- nhas, quer de planuras. As tltimas décadas, em contacto mais frequente com gentes da estranya, teriam talvez modificado este feitio, mas nao muito. Suponho néo errar filiando nesse cardcter a falta de pro- pensao da grei lusitana para a misica. Podemos orgulhar-nos da literatura, da pincura e talvez mesmo da arquitectura nacionais. Nas attes musicais, estaremos em plano de inferioridade manifesta, Quase tudo nos falta, nesse capitulo, Nao tivemos figuras 14 Porque esses meios so caros. E no esto na ordem do dia. Os conceitos getais polarizaram-se no utilitarismo do ganho material. E 0 resto interessa muito menos. Ficam entao em campo os meios difusétios de nivel mediano ou primdrio. Mas esses, com sentido demagdgicamente sedutor das massas incultas, ou ainda, e simultaneamente, com mira no mesmo ganho de pectinia, fazem obra de reduzida valia, ou negativa. A descoberta do fondgrafo, sobretudo o seu aperfeigoamento ulterior, poderia ter auxiliado consideravelmente a difusio mu- sical e a educagao do gosto attistico. Mas o fondgrafo foi desbancado pela rédio. E esta, bem intencionada embora, alargou sem medida os hordrios. E assumiu por isso feicao de insacidvel devoradora de programas. Nao ha musica que Ihe bonde. Toda 4 tem de passar, a boa e a ma. Devendo satisfazer todos os gostos, tudo confunde e mistura em amélgama pouco ortodoxo. E tudo tem de se tepetir, repetir; repetir indefinidamente. A misica séria banaliza-se e a priméria dé-nos embaracos gastricos. Ouve-se a Missa em ré a jogar o bridge. O fado Ma- Ihoa opée-se As tentativas de concentra¢io ou leitura serena. Confiemos na Providéncia! Ela guiara, como sempre, os homens. Queiram eles esfor- $at-se por compreender os seus designios. «Todas as coisas tém seu tempo... Hi tempo de rasgar e tempo de coser». 13 ir ¢ aceitar a evolugao, conse, admiti : umano. . Fl ismo hi A si do inconform ¢ procurar distinguir .° Onn Aa “aboting 4 qu Z10. ‘uanto . Mas ht 4" dade do que for va 4 ye Peds, ue cem o tempo se encarregar4 le le, Aquile 4 ‘da vale, do que P Sar Wencig aty Temos de ral a na 10. do que istico do futu . fudio humoristico do | de conduzir a nobre © velha musi gau ressao ter ica a "A progt . se PY? re ene ee dignidade e de nob eza. ouera miisica ue a velha e nobre musica Ja Nao seja Susce A nao ser q' 5 “Ceptive] Iugéo. E que, na agenda do Destino, seus dia «. evolucio. de mais evo! S este. im contados. : dora consequéncia tou 53 x De qualquer maneira, assustadora q Fesultou jg e qui 7 x 1 rientagao geral. da ico o fa publico pouco ou nada sabe dos complexos to. hemes ue fervem na mente dos compositores. Nem de suas lem : 5 déncias ou intengdes. De forma que entre criadores @ Ouvintes ten Asi abru-se um abismo profundo, sem ptecedente, A Musica nova divorciou-se da sociedade (2) s As comodidades facilidades, trazidas pelo desenvolvimento industrial 4 vida moderna, nao contribuem Para a boa evolugio da misica, Embora Possa parecer patadoxo, 0. 5 meios sérios de difusao ¢ aperfeicoamento musical nao se desenvolvem, Porque o tempo est4 excessivamente tomado de trabalho, Porque 0 “nsago incita a preferip distracgies féceis, 12 expressivos, com Novos recursos sensiveis, com novos efeitos Nem por isso deixaremos de senti-la, desnotteada, em busca de rumo (4). Abandonada a

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