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nal em SAUDE PEM er-To) CAP - Brasil Catalogagio na Publicasto Camara Brasileira do Liveo, SP. Copyright © 2003 ROBE Baltorial [Nenhumma parte dest pubicagio podert ser produzda, gandada plo sistema rina ot tansmitida de gua ger iodo por qualquer outro meio, sca exe etrnico, ‘mecinico, ou de fotocspa, de gravagio ou outos, Sem Prévia astorzagio esctta pla editor. 2003 PRODUGAOEDITORIAL Diete Responsive arto Bad altraghe Poe Geico fr Corsaro “Ane Finale Cape Rel ioral Lae ISBN 5-7563135. ROBE ol us Suns Ine, 267 (1221-010 - Si Pao SP ‘aks (XI 2202187 » 3316620 2220882 Apresentacao Ete livro tem por objetivo relatar cexperiéncias de vida comuns a0 universo do protisional de saide no que se refere a0 ‘aampo emocional. Prope questbes para reflexio ¢ discussio e pode ser utlizado como um complemen sds de Bioctica, Etica Profesional e Psicologia dos cursos da Area da Said A idéia em exrevé-o surgiv ao eler anotages que hava guardado naguce “ca tinho do armério", Pade entio recordar (dar cor novamente) a um processo pelo {qual passe: o de ter que amadurecet ripi do demais para uma jovem, dante do so frimento e das conquistas dos tants sees, hhumanos que passaram por minha hiseria de vida quer nos estigios do curso de gr ‘duagio em Enfermagem, quer em minha ‘experiencia profissional como enfermeia, (Os escritos aqui contides nfo io ssomente direcionasos a0s colegas da Stea dda saide que partlham de muitas exper: ncias semelhantes ou aos estadantes, mas também ao pablico em geral como intuito de revelar «que a trabalhar nesta tea mo nos leva 3 “frieza frente 0sofrimento alheio" Plo contrtio, quanto mais ude acompanhat as batahas vencidas e perdidas contra a deny mame panos psa ca seer endo a bandeira das profes da Sea da satie serem tidas como pertencentes rea de cigncias Ihumanas, 01 melhor, fazendo parte das profissGes hhumanistas (no confundir com humanititias). No hh dvida para mim, de que o foco central de nosso fazer profissional é o ser humano, como afirma tam- ‘ema brihante eorsta de enfermagem Martha Rogers um dos anjos da guarda que encontrei durante este ‘clo vital. Assim, nosso objetivo maior é prestarocui- ‘dado cientifico 20 ser humano, 0 que inci o cuidado ‘emocional, Afinal, como disse Dra. Wanda de Aguiar Horta um ser humano aro ¢ uma enfermeira no sen= tido pleno da paavra ~ “ser enfermeiro é ser gente que cuida de gene”, Pois bem... quem € ssa gente ? Quem So esss pessoas que cuidam e sio cuidadas ? Como clas se senter desempenhando esses dois paps? Espero que o eitor fa uma letura eritica deste trabalho, a fim de opinar sobre ele e também como foema de refer (volar para si mesmo) sobre as expe- riéncis parlhadas. ‘Os casos aqui relatados sio veriics, porém os noms fram alterados para proteger as pessoas envol= vidas. Obrigada, Ana Cristina Apresentacao ‘ocuIDADO DO EMOCIONAL EM ENFERMAGEM ‘Profi Dr. Ana Critna de ‘Que bom poder estar com yoots em mais uma ceigio deste livro que vem agora ampliadae revista em sn edigio anterior ‘Num papo com 0 editor resolveu-e modificaro ‘nome para O Cuidado do Emocional em Satie, visto termos reeebido sta sugestio de outros profisionais dda ite que pretendem utiliza-o em cursos de gradua- ‘0 € pat-graduagio de administragio hospital, nu- trigio, medicna, fsioterapia, terapia ocupacional,psi- cologia hospital € outtos. “Tivemos a grat surpresa de tera primeira edi- «50 eagotada em menos de seis meses de seu langamen- fo, tendo oliva sido lido por profissonais de toda a Seca da sade, além de ter despertado ointeresse tam. ‘bém dos lege. ‘Agui nesta ego acescentamos alguns capi Js que esperamos seam tes iqucles que se propuse: ram cuidar do emocional anto de st proprios quanto dos sereshumanos de quem irio cuidar. Procuramos manter o formato litersio original, ‘1 sei, reflexes baseadas em casos verdcos em line _Buagem entre o romance ¢ 0 cemtfico, com 0 intito denio cansaroletore trazer este a oportunidade de ‘experenciar emogies o mais reais possveis sem pie- ice Boa lisura ! vi ‘Todas nbs, enfeemeiras, emos onosso“can- tino” de recordagbes profssionais. Si situasbes, _momentos vivénciastnicas, que senso forem dor ‘cumentadase organizadas de uma maneia cuida- dlosa, como a Ana Cristina o fer nesta obra, passa- ‘am desapercebidas ¢ certamente valorizadas em Ambitos restrios uma tnica pessoa, apenas a que vivenciou a experiacia, Prefacio Assim, adiferenga est, na maneira como uti lizamos esta recordagies em nessocotidiano pro fission Em nio sendo documentadas edivulgadas, estas nosis vivénciasdeixam de er objeto de cons trugio de novos saberes e de novas maneiras de compreender “elhos problemas, prjudicando 0 desenvolvimento dos “saberesfundamentas™ pee- conizaos por Morin (2000) como necssiios para se ensinar no préximo séclo Dente estes saberes, hi que se destacar os aque tém uma relagio direta com o que a autora procura explicit. Assim, “os prineipios do co- rnhecimento pertinente” apresentam-se em gran- dedestaque no primeiro texto, "percceroimperep- sie, que nos raz um context, a mltidimensio~ nalidadee a complexidade das elag6es interpesso- tis agregadas 0" valor das pequenas coisas (0 “ensinar a condigio humana”, nto po- dé ocorrer sem que se aprenda a wire olhar de Jorma difrencada para os medose ansedades pres ‘tes em contextos especticos ¢cotdianos. ‘Comprecndera identidade terrena” apre- sentada por Mota, fazendo uso do texto “quando amore chega” a miscriabuonana” e* malignida- tde-nm conto final”, n08 leva iemediatarente e con Seqjientemente a entificar como “enfrentar as incertezas", “ensinar a compreensio” ca ques- od ca do ner amano" engant um pressuposto de processo de viver a vida E estas ‘concepgies so sem dividaalguma, essenciais para ‘o proceso do cuidar na atualidade, ‘Assim, compreender significado do que esta ‘bra nos tra2 no cenério do cotdiano da sade & fazer dela um instramento de paz, solidariedade © amore garantir uma pitica pedagdicainovadora MORIN, E. Os sete saberes necessirios & cedueagio do futuro. Sio Paulo, Cortez Editoras Brasilia, UNESCO, 2000. “Tara Iwanow Giancarlo trons tae Gout Indice 1- Perceber 0 imperceptvel TE Aprendera ouvir. IL-0 othar~ expressfo que muito diz TV - Quando a morte chega V Os nossos medos VE- A miséeia humana VIT-A importinca do toque. VITE- Um cont para refleio IX- Acscolha certs X- O skimo desejo eo “poder da fe" X1- 0 auto-cuidado emocional XII Trabalho em equipe: um privilégio! XIII Malignidade um conto inal Bibliografa Indcada 105 2 ry G p Perceber b © imperceptivel ‘ Capitate 1 ‘Um dos primeiros alertas que recebemos du ante 0s cursos da ea da sade €0de estarmos ater tos a tudo 0 que ocorte 4 nossa volta, ou seit, que utilizemos todos os nossossentidos para desenvolver uma visio perifrcae observarmos sistematicamente ‘ambiente eos pacientes com 0 intuito de promover 4 melhor € mais segura asisténcia possvel a0 ser ut Assim, aprendemos registrar tudo'0 que ocor- re no ambiente de trabalho anotando procedimentos realizado como paciente, evoluindo set estado de sai de nos proatusios ¢ pascando verbalmente aos cole- ‘go plantio das inrrcoeréncas de nosso period junto 0 doente, “Maitas vezes, porém, deixamos de perceber aqui que foge 8 rotinae aos procedimentos ténicos {que envolvem a assistncia a0 ser humana, coma se suas necessidades emocionais no fizessem parte do planejamento da assstenciae & promogio do conforto ese individ, Denomiaopercberoimperepee” ae de remo enter fe nso apa pate eke. Poso Torco ergo que dente av ons da sade 2 ntzmager prc cnc a rea a sade (pepsi emer odo demas. Quanto sea Se adn ence ba oi vidos com wn don, camer a a> ‘Simic sus neces so ta is es Spretna pos poston, poems pales ola. recs in tn po Fr ect spe roe deea0s fur por aro moan dente medo dese ce {ote co malo deter um er human qu ee € esa nemoqto qu ormamor em nosso Ego pars ao protegermen at panes” da vida ia ‘pam des asd quant wm ecicen- cesimpe tanh pe ser inpotnte ps gm gue ‘se Wamao ¢ como poten deter om descn- feo purr ura capesiosnmis, O segue dita uma gaps ds pssimas onde Specie no na Ss O prber doer et imonu camino dao que tava prs qe Coe ctang finiment esc Ambososeaos os Shs ume imporane eam ar liad (profasona deste pus slsgar oma asita- BEE gan: a aia, Sages craves io hentai quads pretence restau boa ‘Seen una queso de rer em ns apace cna cters meg de ti (© valor das pequeninas coisas (nao tao ‘pequeninas) LAcstavaaquete paciente... “Seu Pedro”. “Tao fraco.. tio magro... uma expresso de dor. pele amareloresverdead.. cor do final. cincer aquele tipo de visio que incomoda a gente {que € gente). Sofrimento vivo, vampirado plo cer que se alimenta do pouco que anda rsa ‘Chaguel mas pero eum odor terive invadin impregnou minhas narnas: fe ! Hl, com os obs fechados uma expresso de profindo wofiment, desconfortoe depress, pare ‘ano suport appa situs. ‘Chamei um dor colega te equipe de enferma- gem perguncioporgut de odor to fortes ex vita 6 pacientererbendo um banho no lio, “Ee est com sul pct vodo lad. As exes «sem pelo abdomen, eo estilo, plas nega, pelo oreo. Nio temo No di pe dar um banho no chuveir * eno tem frga pi fear sea” CCheguci ao lado do eto: “01. Como vai” Ele dea wm soso meio forgadoe disse (€ 0 hilto também era impregnado pelo cheiro de ‘xcrementohumano):"e.mais ov menos.” “0 senhor i tomou banho hoje” af (uma expresso tristonha aparece) jf sim. Agora hépowea.” “Tela san forma de falar me parece que fo foi algo qu tenha the dado confor.” *-E.quc ee ban. .com exes paninhos, sabe? a minha nega va vie me vista dag ats horas En queria estar bonito pars ela.” “0 senhor quer tomar um banho 2” “Ah. no aan. Para the dizer a verdad, ‘ra tudo oque ev queria. Um BANHO MESMO, de serdae = 6 6 “Mina cabes fico a mil por hora. Pensamen- tos movendo-se em todas as direyGes, vasculhando a ‘quimiea cerebral na busca de wma resposta “Mas. od Eu nfo consgo me levantay em Bia ent.” “E ese o seu deseo? Um bunho de verdade, com muita gos e tudo 0 mais” le Cano quecusut plete minha eg.” ‘Nao ive dvs gue uma mac um bald, cologuei um rou- pa de Centro Cinirgico um ssbonete Bem eheiroso © fui denfermara. "Que tal um banho DE VERDADE? Ofere- {0 servigo completo, com direto a desodorante¢ pet- Fame no final. Vamos nessa?” ‘Chamei dois anlar de efermagem,colocs ‘mos pacente na maca entre no bale cm macs erode. "Eu enchia o bade com {gua morninha “man- ddava bala” O pacente ia; fede completa estam- pa no rst. Fezespitodo ado, banheto molhado, [As idas agora, 1 entanto, eram dos dos “Tana felciade por wma coisa aparentemente ‘to pequena- 0 poder tomar um banho “Quando no havia mas resquicioalgum dain- comoda presenga defers, 0 que sobron fi um odor de sabonete no corpo aquecio pela Agua tepid emilagrosamente curador; ‘epois de lvarmos 0 coepo a alma; depos de uma higiene oral que eliminow o ‘odor anterior e melhoroa © amor interior depois de um bom esguicho de desodorante¢ dd um sorriso tunfante; ‘depois de um perfume barat, mas que dew a cle um rato, juntamente com umn pijama nove. ‘Voltamos para 0 quarto. ‘~-Sabe de uma coisa? Foi 2 melhor coisa que me aconteceu nesses iltimos meses. Eu no pod agerar mas. senor pr cham pe, por padre chegou quase que juntamente com a ntge ‘A esposa do paciemte 0 tratava com tanto cati- ‘nho que nio hi como descrever. Foi uma cena ines- ‘quecivelmente bonita. ‘= Eentio, néga “Tow bonito ?” Como sempre, meu négo”. ‘Ble entio pediu que eu fies e que, juntamente ‘com a esposa eo pade, acompanhaste 3 ungio dos en- fermos (que antigamente chamava-se extrema unio). ‘Demos as mos no final ¢ reeamos. O sorrso ‘em seu rosto era acompanhado por uma expressio de pa, harmoni eflicidade. Quase que se podia palpar ro arta sensagdes. Ele se despedia de nés © pedi para ficar com a "sua nega’ ‘Nio demorounem mais trinta minvtos para que cle se despedisse dessa vida. Seu coragio parou de ba- ter. Sua “néga” permaneceu a seu lado, de mos dadas com ele. Por serum caso terminal, no foi tentada rea- simagio, Foi uma morte muito harmonios. “<"N6s vamos nos encontrar de novo” disse a esposa, com os olhos cheios de Higrimas, mantendo ‘uma expresso tranquil confiante ‘Complewou: “quando se ama, nfo acaba nun- a. para sempre” ‘Cobsimos 0 rosto do paciente com o lengol e clase ” Detodasasmortes que presence ato momen: to,esa foi mas tangle harmonioa. encom horas que penso nas "pequems gran- des ois” bah. Sedge ms rio ae emo aquest de perceber 0 inpecepie, to ess ome inswmento de trabalho quando se pretend ‘Eeempenta ung ono o see human ? "Sica ‘Aservigo de quem estamos 0 hospital traba- thando ? Teo menos foi marailhoso perebero eso deta a equip pa reir odin par tar 4 a6 de Waldemie Como acabou a isa a nosagradece, be jou a fice de cada um dos que evar no quarto na toca (um méioresideme, uma aur de enferma- {em cen), despedius for embora, num paso lento € arstado pelo cortedos em meio escuriio da no te, A mie de Waldemir si ates dela e penguntou se ‘no queria it com ea para a peso onde estavam hos- Dsaos. Ela lise que no Havia um daibus de vole fm quatro hora aia volar ‘Sua miss esta cumpeia, Nada mais ina a fazer aqui. ‘A lta coisa que vi foi a porta do elevadoe fechando-se¢ aguele rox fore, com muitas mp3, ‘moreno, marcado pelo sol que ocastigou pelos anos a fo de abana oa. Um soso fore, a0 mesmo m temp, seguro de i expres, mcigne ceo de Si ice no signin de Des, Ura ise ie! Enfermeira, min ain: gras contd sos other vermethos, Mie corando bun Fete toincviel “Aone vn gra exer. Ma um dow anjr queen em men = inno? ‘Questées para reflexdo e estudo; exercicio Procure esrudar o que vem a ser observaso siste- ‘miicaeasistemdtica - Byercite “perecber o imperceptive” agugando 0 ‘que poce caprar pelos Srios dos sentidos: ob- Serve atentamente as pessoas ma rua, no dnibus, normed; prod peer lg ferente como uma traqueostomia, uma sindrome, um térax abaulado, se ua expressio fsiondica nda alge cmocionsl somo angista, ansiedade, ia, desesperanga, alegria€ fssim por dante. Perecba mais atentamente 0s2- bbor do que come, os odores do ambiente, Pro- ‘cue ouvir mais atentamente 0s sons. - Disouta quai as necesiades humanas emocionais afeachs de “eu” Pedro ¢ Waldemic Proponha di- ‘agnosticos de enfermagem para cada cs0erespec= tivasintervengGes de enfermagem (para estxlan- ‘tes de graduagio em enfermagem cenfermeios) Aprender a ouvir Cope 'Nés seres humanos adoramos contarhistrias, principalmente as nossas vitérias econquistas ou quan ‘dosnossentimos injurtigados. Gostamos muito que nos ‘ougam, mas nos esquecemos de uma rega bisa: € neces snber ni para gue pasamosser ours. ‘Mita vezes 0s alunos do eurso de graduagio ‘da deca da aide perguntam “o que dizer a.um pacien- tee ele me falar de Seussentimentos ?” ‘Naoh uma regra inca, muito menos uma sni- ce espectica para cada pergunta que a pesoas nos faze, ‘mas i algo que polemos fazer: rma eclenteouvints. ‘Para ouvir, no entanto, é preciso interagi. Essa Jnteragio pode se dar por um olhar de “estou te ouvin- do", de compreensio (mas cuidado para no passar ‘compaiado do tipo “pobre coitado” pode ser que nso jude muito) complementado por um leve toque no ‘ombro ou no brago, se perceber que 0 toque fi per rmitido.Verbalze, se necesirio um “se precisar de um. par de ouvidos, conte comigo”e,acima de tl, aga {que 0 seu coragio diz (© casode Dona Eunice a seguir itustra comoas vezes no énecesscio dizer nada, mas ouvir € estar a0 lado do ser humano quando ele precisa de apoio, Dona Eunice = ae ees Tateaeeie —ooeee ea oe me Se aoe os Seapine a peg ee re Sesaumee es openlist =a ua ———— —a ‘no sanitivio naquela mana que, realmente, o resulta- dodo exame revelara um tipo de cincer aleamente agree sivo einvasivo. O progndstico de vida era bastante rim para Dona Eunice Continue ali, sentada,segurando sua mao, sem dice nada, Nio poderia dizer nem que no, nem que sim... Mas, intuf que o melhor a fazer seria apenas fear al Passaram-setrnta minutos ¢ chegou o café da ‘manhi, Othe para Dona Eunice, dei de ombros ¢ aba El pareceu comprcender o que eu quis dizer, Levantou-se,readquiiu aquelapostura de mu ther forte e decides e disse: * Pos... a vida continua "Bla pode me vencer nesta batalha, mas eu vou ser um Aelcios ediflinimigo durante a guerra” ‘Dona Eunice vives por mais trés anos 20 lado de seus filhos e marido, Disseram-me anos mais tard, «que ea tou até o fim sem munca perder aalivez ‘Uma lgio de vida? Questées parareflexioeestudo; exercicios: ~Tente durante uma semana ouvir mais do que falar « discuta com seus colegas como foi esta exper + Lea textos sobre “entrevista”, que podem ser en- contrados nos livros de Semiologia, Exame Clini © (isco) ede Psicologia (entrevista de ajuda). O olhar~ expresso que muito diz (© Cuidado Emocional prestado a0 er humano depende muitas vezes do captar da expressio de um olhar deste drigido anés ou a0 ambiente. O olharali- ado & expresso facial, a um gesto om & expresso cor oral pod trazer dados importantes no direcionamento ser dado no cuidsdo a0 ser humane, (Os casos a seguir vio falar de olhares diferentes «em termos de significado e que direcionaram o cid doa ser prestado no imbito emocional de manera dis No primeiro eso, 0 olhar de medo e ansiedade «de um paciente sob restrigio sca alertou que algo es ‘ava errado no cuidado a ele dispensado. No segundo, ‘© olhar de desespero diante da inevtivel morte cha. ‘mou a atensio para que se permanecesse a0 lado do paciente até que, 20 se sentir confortado pela presenga de alguém este olhar pasou aser dealivio No terceino «280, 0fato de oar dretamente nos olhos de uma se ‘hora que se setia apenas um objeto decorativo a mais ‘numa sala de cirurgia p6de proporcionar ihe a sensa- a 0 de ser humana 20 invés de pereeberse como um. pedago de matéiainertee impensante Restigio Reso otro iad ma esd side parame een econo de pacts talon Soto objetivo ds wei promgero pc, cv ee se macho ou tenovs sons ¢ Areosialertiarete Data foo aaa tires dos ago, permas tx do pace 00 Pe fea um dene seen So corpo, eam ens, fava spray “Aer € algo impressions para 0 kigo aque, muita Wes exces da sepine fms Rodunver! Amaru cl todo Qe alae” "Xe €algoimportate ps0 profs aque mints eee "Ags ema estilo Cen vt ida eam e po reno mntero wre ca onda de alimentos" "hres € algo etmod prs sgn sizem fis Some nas en expressed seg oma = Oka! Agrs poo ar men ps wae poral omega Tm ter ess considera inci vou frum prc do senor Desconiceid oto 2" ramosnacriemars-mesainorca ssn son gemaasecn aon poses peuroligecs Tor or cinco om sae Pep cm ees ns cour hoy ‘Boab gue han sl iene rigs om scope cenm decom ocesi Por etre acetals qe eva fo Ge ego S porama enprnoc bem cig ‘Quatro deses pacientes sinham um nome nas Plaques de identifica pendurads nos lease est- tam com um arpeco miso pékimo ds normaldade ‘Um dees, no entan lem de tare os dees “sco sthecido” maple, estava todo cei de sondase5o- rose totalmente rertringid (mice, ptr abome) ‘No planio nos passa: * No Leito 29 estamos com o Se. Desconheci- do, que ex sendo mantidoresringide por esta mui to agtadoe conto” ‘tharos pars 0 Se. Desconhecido.. Sa apa- sncia io era bem ade uma pessoa confuse agitada tmas. mais de angus que qualquer outa cos. Daas alunos ita cuidar do Se Desconhecido, camo todos miguel enfermaria, Chegamos eater marae drgrme com meus alunos pars oto 29. © Se Desconbecido. Ele olhow para ads ¢tentou (em vo) mee as mos, nquano os olhos nos fiavam bem aberos. De sua boca nio sia nenhum som, apesar dele abi fe chara boca como se exivese tentando falar Sev aspect era meio danteco: pele gorduros, pegsjosy sonda nasogistrica colocada hi muitos das, Hesbrangugadaecomo aesvo meio soko, misurado om sore restos de cola no nari sonda veil sem fag adequada,waconando aurea inicio de scars ras egies sacra cexcapula sos restingias-além ds mars, com vas de faa crepe (ola um lo ‘de gaze na palma das mos e eno erole-se uma faba tas mio, fomando uma lv). ‘Ab retrarmosas “luas, vio um odor que em brea hem de pero alte zed. Bsava core pac ete neuroldpico sta muito, Sem vento, formar sc colnias de Fangos e bactéris eo odor que se sente to retirar a lavas € bem nauseante (mas. somente ‘ocorre odor nesse caso, sea restrigio no for ocada “spas sie de femme dear ‘Umaluno comenta:*- Professor... recisamos mesmo manter esas luvas”” "Bu respondo: *- Se minha intuigio estiver cor- eta, no vamos precsar nem das sondas”. Como assim?” * Grcio que 0 St. Desconhecido no est agita- do nem confuro, Parece que ee esti mesmo € queren ‘dose comunicar. Veja que ainsi foi na regio fonto- lateral. Ele pode estar tendo problemas com a fla © ‘com a interpretagso da linguagem”. Por dentro, meu peasamento foi o seguinte: Seri que NINGUEM pensou nisso antes?” Jantamente com os alunos, fi removendo as restrigdes, enquanto conversava com 0 Se. Desconhe ‘ido: * 0 Sr. Esti no Hospital X, hoje ¢ ia tal do ins tal, foi operado da eabesa porque sofrew um aci> dente e Formos um codgulo de sangue dentro dela. O St Ficou desacondado por uns dias e agora est se re~ ‘cuperandoda operasio, Precsamos saber o seu nome”. le entio fez sins com as mos. Foi entio que percebemos que ni haviaagiacio, mas tentativa de comunicagio. ‘Sua mio foi entio, dietamente em diregio 4 sonda no narz. Imediatamente aseguramos:* -Nao ! [No pode tear” le fer um gesto de negativa com a cabega e de “ealma? com as mios. Sotsi mio diteta ele comoua jponta do nara (imagine o que € ter coceita no nariz€ Ino ter como cogi-o 2). A seguir, mostrou que nio cestava conseguindo falar. ‘Meus pensamentos rerumbavam: “confuso agitado, heim ? Hump! CChegou entio 0 desjjum para os quatro ou- tr0s pacientes... Os olhinhos do Sr. Desconhecido bri- Iharam (¢ para el veio a famigerada deta por sonda) "0 Sr Esti com fore?” Ele fez um movimen- to de positivo com a cabesa Fale! com a enfermeirs da clinica, sta com o residente, 0 residente com 0 asistentee muitos “en tes" depos, foros avtorizados a tentaralimentar 0 Se. Desconhecido por boea (isso depois da enfermeira _qusse ter tido um ataque cardfco a0 constatar que sol ‘amos restrigio do “leita 29”) “Vamos verse senhor consegue se alimentar por boca. Vamos de vagar, esti bem ? Seder certo, ¥t- ‘mos rtrar este monte de sondas. Bem... 0 final do plantio, o St. Desconhecido cxtava sentado f1uma eadeira, comendo sozinho seu lalmogo, sem sond a bexign, sem sonda no nari2 © ‘com 0 mais importante: UM NOME. O Se. Deseo- nhecido passow a ser 0 Sr. Antonio (apesar disso no fazer a menor diferenga para alguns, j que ele coos _mgava a sero “pacente do eto 29", mest} ev fico ci pensando: um homem higido, ex cetuandorse as sequelas da cirurgia, tas como: 2inca- pacidade para falar ea incisio no couro cabeludo, € ‘que estava al. todo rstringio, sem identdadee for- ‘mando lceras de decibito 3 toa, que poderiam levar semanas e a meres para fecha ! [Em questo de poucas horas era outra pessoa, ‘totalmente ciferente da “coisa quase mana totalmente restringida roeulada de conus ¢ agitada” que ns fencontriramos anteriormente, Agora estava ative, €O= ‘ado, se auto-cuidando e escrevendo suas mensagens ‘num bloco de papéis que Ihe aranjames. 3 2 sso afirmar que o teorno de “seu” Antonio 3 ‘consciéncia nfo era questo de 24 horas, mas ocorrera [ni muito mais tempo. ‘Chentre née, aqui vi um segredinbo: ele escre= ‘yeu na folha que Ihe demos para se comunicarconoseo: “faz tés dias que venho vivendo no inferno eninguém sme deu owvidos?. Talvez tena sido isso ! Como al- ‘guém ia he“ ouvides” se ele no podia falar Ora! {favor norar que esa fase € iia - hehehe). Restrigio,.. E pensar que ela serve para “prote- ger opaciente™* Humanizando o Adeus Era mais um dia de plantio numa das UTIs do Pronto Socorro. Como sempre, inimeros indviduos ‘concentravam-se ali ou soffendo, ou tratando os que ‘soffem ¢, consequentemente, submetendo-sea um ato ‘rau de ansiedade, pincipalmente frente 4 more ine- ‘itvel de alguns Hi aqueles que nada soffem, no entant. Prin- cipalmente aquees que coasideram o perigo una roti= fa, og aqueles que se preocupam em prolongar a vida a qualquer custo, independentemente da dignidade dos sere humanos que se encontram deitados sobre as ca- ‘Assim que entrei ta UTI reparei num senhor ‘com cerea de 65 anos, magro, lid, cabelosralos ¢ ‘scros, bigodinho bem aparado. Pareceusme aquele ‘ipo de sueito bom e inapaz de fizer mala uma mos ‘a. Eledenotavaem suzexpresso fisiondmica um medo {quase que incontolivele olbos que expressavam: “ ‘Mas por que é que eu estou aqui? Sempre fui um cara ‘hom, nunea fie mala inguém ¢ agora estou aqui sae do agredido com esses baulhos, imagens, skier tos, tos, ize, enfim, muita coisa ncomodas¢ que func iveram algo a ver comigo Somente peo seu lh, 20 cra oo med, pce “ouvir ses pensamento: "= Socoreo! Me 3 {Ex estou com medo c estou soznho, sem er com {quem compartihar sss desgradiver eneags Fag agua cosa Bn aguno mas Bu vou exci ‘Sem vida, aquee los me peiam socorr «, através de empata pode pereeberastagio do me Semethante qu estava ai deitado ‘Aprotime-me del, coloqoci sua mio ene as rminhas ede *-O que hi? Poo shdarem sigur coisa?" ele responded *- Sim, ev esto. (oma ig ‘ma comegou a s formar o canto de ses oho). om medo. Me diga a velade. Bu nS0extou ber, 0 €7' Eu poso morte 4 qualquer momento e et sito {ue iso vai acontecee ‘Oc para‘o monitor cardiac econstatet uma rave arvitmiaeardiaca, Dei um out olhada nas ano- "agg da papeleta mas uma ver, conirmourae oes tao muito grave do cidado& minha fen, Com cer tera cee entrar em parada cardacaem breve ‘ela segunda vezem minha vida como enfermei 13,sent anecssidade de ulizar a epictalidade como tm apoio, Segre mais fememente 4 mio do pacionte ‘disse: "O senhor€ rligioso Ele respond que era ‘atin cena, complete “=O senhornio ext mit bem. Gost de ezarum pouco mentalmente ? As ve 2s ajuda um pouconeses momentos mas ifs, Vou ‘ermancccr aqui ao se lado enquanto 30, cer?” Ele asentu com a cabesa, dew um sor fe chou osoos, azzndo suas pecs confistes partic resa quem ce devera drigi-se no momento -o Criador. ‘Olhei para 0 monitor e notei que, apesar da arvitmia ainda estar grave, 0 nimero de batimentos ‘ardlacos diminuira a parimetos quase normais le eno abrit os olbos, apertou ainda mais mina mio e disse: "- Muito obrigado. Eu s6 nfo que- fia ir sozinko (seus olhos no pediam mais socorro sia expressio era de alivio e calma) Jé vou embora, ‘minha filha. Que Deus te abengoe.”.Fechou os olhos€ centrou em parada cardiac, Iimediatamente a meat (apelido dado nesse lo- ‘al equipe de sate a0 reanimar paradas) entrow em ‘slo, Ea, porém, permaneci ali, de mios dadas como paciente Ele abriu mais uma vex 0s olhos e recebi nova~ mente a mensagem do olhar: Eu jé vou. Estou bem. Fique tranguila” (enquanco isso a snat batalhava con- ‘ra. inimigo morte, fazendo tremenda parafernili). 'Nés dois-enfermeirae pacente -estivamos num mundo & parte do real, numa verdadeita ¢ efetiva ineragio, A swat podera “gastar toda a muniglo” que ‘de nada adiatara, pois aguele senor j aceitarac de- tidira irae dessa dimensio. Eew sabia disso e resol, entio, participar de sva decisio permanecendo ali, ineragindo com ee. Incrvel! Foi a forma mais verbal de comunica- «lo no-verbal de que f paticipe Estivamos tranquilos dentro de toda uma inteanguilidade externa, TFzeram o diabo para reanimar este homem ! Ele me deu uma piscadinha (jéentubado, For do, sondado, estragado, estropiado, ercocterado) ¢ pa- rot definitivamente. ‘Quando isso aconteceu, saf de nosso mundo particular olhei pars aaa - que ainda tentava,em vio, Irazero paciente vida material -e disse: *-Nio dian” 12 continuar. Be jis foi e nfo volar Sai dali convicta de que © meu amigo estava ‘muito bem, mas no mais por aqui ‘A at ficou anita com minha ainade ! Com certezaimaginaram que eu falhara em atende & para- da cardaca, pois, alm de fica ali em fase mada, ainda tivera a coragem de fcar de maocinbas dadas como bo- ‘mem, enguanta ele exava morro, ois é, pela primeira ver eu send integralmente ‘© que € uma ier ean. * £ téo simples... Fianna uma masectomia (reir de uma " la olhou para mim ¢ respondeu: *- Voce no ‘ouviu no plantio ? Eu estou plipueiease peripaguaca; soa causa de “enchesio” de todo 0 pessoal de enfer- imagem, da enfermaris, dos médicos..” Eu disse: *- ‘Ors, voed noes em seus melhores dis, mesmo, Voce ‘tem todos os motivos para solctar 2 gente, © 96s ‘xtamon aqui para isso, no €” la somente olhou para mim com o cantinho dos olhose depois os fechou sem responder. Eu daria mil tost6es pelos seus pensamentos. ‘As vezes os pacientes recebem maus cuidados de alguns elementos da equipe de sade e nada dizem, ‘com medo de serem mais maltratados ainda, Io € 2 realidade. Anti-étco seria omitie este fato € no denuncitlo, HA pessoas que jamais deveriam entrar ‘num hospital para tabalhar neles. Quase sempre sio individvos que sofrem repressio em seus ambientes familiares e que projetam seus problemas nos pacien- tes, numa atitade arrogante, despatica e de superiori- dade de mas fortes sobe mais fracos. lnfelimente, 2 maioriadesesindividuoso faz conscientemente. Creio que aja alguma especie de sadsmo nessas atiudes. Percebi entdo que, com certeza, teria que con- entrar ali uma porcentaigem maior dos meus uid ‘dos naquele plantio, Para minha felicdade, no sentido de fazer cumprir essa necesidade, o planta estava ex- tremamente clmo. A jovem paciente acordou assustada pela primei- ra vers LI horas da noite. Ouvi seus gritos angustia- dos (estava sentada no balcSo préximo& sua enferma- ‘ia, pois prssenti que, a qualquer momento, i880 po dria acontecer) efi até seu leito, Els olhou pri mim e disse: *- Cristina, ev vou! smorer ess noite, use disso. Bu no quero morte sozi- ‘ha. Bea comigo, pelo amor de Deus Por enquanto,e 6 tou morrendo mesmo é de melo Eu respond que ficara al tedoo tempo que me forse posse "Fai buscar as papeletas para passar um t350 i dicando a data do dia seguinte(rotina das enfermeiras to plantio notarno). ‘Sente-me a0 seu lado, Eu também podia sentir gps auc vida eta press por apenas um fino de esperanga. Fu riscando as papeletas e, de tepente, Sent um aperto de mio. Eri a paciente que pegara ‘minha mo, numa atirude de quem busca apoio numa batalha quate perdida. Correspondi ao aperto de mio ‘continue ali, sentada ase lado. ‘A aproximadamente cada 40 minutos ou uma hora, minha pacientinha (vejam a sensagio de posse {que a gente acaba desenvolvendo: minha pacentinha !) acordava nom sobresit. Quando isso ocorria eu cxtava ale dizia:*- Cala... estou aqui com vor? Voct ‘no esti sozinha”, E enti, trocava com ela um suave perio de mio. Percebi que, 4 medida que a garota seatiu que ‘io esava sozinha, acalmou-s. a 2 Li pelas 3 horas da madrugada, ela abtiu no- ‘vamente os olhos sem gritar ou denotar qualquer tipo de ansiedade, Olhou para mim, deu um sorrso ¢dis- se: = Obrigada, Voce realmente nio me deixou sozi- tha, Agora ev no tenho mais medo. Acho que et “rou entendendo melhor isso tudo... Somente o que acontece agora é uma sensagio de paz. Obrigada. Eu Info vou esquecer isso nunca, Faga sempre isso e diga a0s seus colegas para fazerem o mesmo” (novamente ‘ui esta frase em minha vida profssional). “Ainda com uma expressio de tranguilidade © confort, fechot os olhos novamente, dew um sorti= 0, apertou minha mio bem forte €, 208 poucos, o aperto de mio foi-setornando cada vez mais aco até {que sua mio, i inert, repousou sobre olengo.. Ten- tei palpar sua pulsagio, mas seu coragio nio batia Deve entio o morte serum ato isolado ? Creio {que nio, Patilhar com ourrem o momento da morte ‘es sentimentos resultantes dessa passagem é como partlhar qualquer outro fato histrico em nossa vi= das, como o cisamento, obatismo, a circuncsio, (© que nos custa “perder” um poueo de tempo (Gerd que é perda de tempo?) 20 lado do ser humano A beira da morte e que nio quer enfrentar essa situa $0 sozinho ? "Nao, morrer no € um ato isolado. Sem morte no hi via, ¢ sem vida no hd morte. Sio extremos muito préximos. ‘Voce jé parow para pensar que desde que nas- ccemos comesamos a morrer? Nio? Sim? Entio pense nisso ¢ reflia novamente: morrer deve ser um ato isolado ?” Questées parareflexio eestudo; =O texto deixa uma questo para reflexio: morrer deve serum ato isolado? = Amore é para voet 0 fim ou 0 comeso ? Ela é considerada por voe® um feacasso da equipe de satide? Relitaediseuta com ses colegas + Procure pesquisa as diferentes formas de preparae ‘0 corpo ¢ como a morte &encarada nas diversas culturas (sugestdes: cltura italiana, i cals gs japon, "am pb PESO, Sila cme Apc So Ps ie SaCATS, 8 “6 Os nossos medos # [No capitulo anterior comentei que 0 cuidado ‘mocional tambsém necesita ser dado ao cuidador. Agu vou abordar um pouco dos nossos meds... 0s medos, aque passamos 20 tabalharmos sobre uma navalha ‘que lidamos com a vida dos seres humans e com © public. Pr vezes tentamos ser absolutamente profs: ‘onais€ nos esquecemos que também sofiemos a ag50 ‘continua de agentes estressores, que nos levam a Hos descompensa quando menos esperamos. ‘Aribuo grande parte dos casos de descompen- sagio emocional de prfissionas da satide aesse estesse continuo eausado pela proximidade da condigio do- cenca, pelos ambiente txicos que as institu de a= de encerram com sa filta de recarsas humanos € ma teriis adequados e pela fala de suport psicoléigico a «esses profissionais(corroborada por autores que et dam o estresse eo burneut em profisionais da said). ‘Assim, abordo neste capitulo alguns casos em ‘que ocstresse nos leva i descompensasio, 2 sofer vio- 46 lencia horizontal ¢ uma estorinha sobre quatro ima: INCOMPET, INVEJ, MEDODETUD ANTIQUAD. Eu diria metmo que este capitulo € de- dicado como um todo aos recém-formados e aqucles ‘que, por serem cratvos,acreditarem na Enfermagem «em outras profissdes da rea da sate como uma c= facia cheta de possibildades e quererem faze a dife- renga para melhorar a qualidade da assstncia presta- cla 20 paciente-cliente, acabam sendo hostlizados. Espero que est seja um estimulo para que eles continuem se esforgando em mudar para melhor nos- '8 profissio com mais instrumentos para lidar com as “pancadas emocionais" que a vida nos di ‘Segure-se mundo... Anova Florence Nightingale chegou! Finalmente eu me formei. O mundo estava ali ‘minha frente. Abram alas que a nova Florence [Nightingale chegow I! ‘Comecei a trabalhar num grande hospital e me senti muito exctada com a ida de colocar em pritica ‘os quatro anos de formagio académica. Eu sempre ‘confci em mim porgue escolhi a careira de enfermei- ra desde crianga eestva fazendo exatamente aquilo que ‘eu queria de minha vida ‘Logo no primeiro dia, no entanto, level a pris mira chacoalhada da vida e por um motivo absurd ‘mente ban ‘Um pacientehaviasaido de ala é praxe fizer limpeza de unidade (ou terminal como se diz em al- ‘guns lugares). Perpuntei ao membeo da equipe de en- fermagem excalado para este lito se ele hava feito a limperae ele confirmou ter realizado 0 procedimento. ‘Ao pasar o plano ~estvaperfeito!~ a enfermeina da tae perguntou se hava sido feta limpera..ev ole ‘novamente para coafirmar com oauxiare ele fez um _meneio postivo com a cabess, Ea eno disse com fi ‘meza:*- SIM, fo feta” Bl foi até 0 lito € passou 0 ded ra grade defo a pavio~ eee ficou cheio de poci- ‘a... Como olhat feliz de quem encontra wma fal, 2 encarregada da tarde disse: “ISSO € mpeaa de unidade £2 esoltou um sorrisnho idnico, Quase morrimas es pond com aparente alma: *- Desculpe-me... pense que fivese sido fet “Minha coega segui com seu séquito para rece- ber plantio em outra al Eu me vi al prada, humilha- da, desprovida de qualquer reagso diante do fato deter sido Go idiota em nio verfca seo servigo hava sido realizado. ‘Mas. sabem o que docu mais ? Nio foi tanto 0 cro, Eu até chamei oaunlar edise see que devera ter ‘me contado que no hava feito atl da limpeza, Eu teria pasado no plano ou tera fcado um pouco mais para fazé-la eu mesma. Ele respondeu que tnha medo de di- er que nio hava cumprido com sua tarefs. Deixe-o ‘wanquilo quanto a isso mas pedi que fose since una préxima vez em que algo parecido acontecese ‘O que doen mais foto fitode ter sido humilhada por alguém que é seu par, ou sea, por OUTRA EN- FERMEIRA e ma frente de profisionais de categorias diversas. A iso se chama viokacia horizontal, falta de ‘ica. e uma desconcertante constarago de que forgamos a eterna desunio de nossa profissio em favor da Ihegemonia mica ede overa profess recsava cuidae do meu emocionl Espeeiacolega terminar de reeeber 0 plantio e solicit um minuto de seu tempo para conversa. Ela ‘espondeu: “OK, UM minuto”; eolhou para o regio. Entrei numa sala vaza, fecheia porte disse: “= Como vocd se sentra sindo chamada 8 atengio a frente de ” tenn sa prime pasagem de plato? Pos cu {ig cue eal sate vox tem asd poi SEC ot cnou coment gos Seige vou aprender rinocom voce Nao ent un tgp do conhecinet> {roc tem Wont er poe er aproveado 20 {Eo parame ensmralg me charando depos a as Sepem de plano me nosano que + tnpera no ieee eta parsguecuprenise sche tov ch pusapem de pans. Obsigada por me rs tags pr fv il nemo ode ua ane tare nnd espa nes separa aoe “Ni peo diz qoe cease demon rd ian do gure © mnprtans ere agra e Suara un tempo pansies pad abr me Boro gus, quandos oni comer com elem. Tio rams amigas mss pers a a casos sang angie simplemente dear” (Sole mals ovens qu ep cos de ase cecum og tio ms eerzanos porque ap ‘anos denice igen plo sbi one deior “verse hora de nos desnoscarmose veneer nossos propor mes, oi profssiona que taba Tram emp «que gore dei par otro cr tment pest ua san pinpamente ono Soma Ge mtor quad do qu ages qo cos Ceram 3 enferager a ona gues acme So owaciomor afundador na banaldade © nos anor no Geneon Psiquiatra Haviamos chegado a0 teror...0 temivel est gio.em Psiquiata Nas fculdads sempre ocorre’o que chamamos de “passagem de plantio", ou sea, as colegas que jé passaram por um determinado campo de estigio nos ‘contam 0 que acontece al, como so as docentes, que to de pacts psol de enfeager aos eo fentar.Eldgio que hoje sei que “quem conta um con- ‘to aumenta um ponto”. Mas, na época, i famos para 0 ‘extigio com “todas as dicas” em mente. ‘O estigio de Psguiata - em particular -tinha a fama de ser exreamentetaumtic,princpalmente para aguels que fossem ficar ns unidades femininas. Nas rmaseulinas, 0 rsco de levarse um tapa oa apanhar des pacientes internados era minim, mas nas feminias. ‘Adivinhem ? Foi parar numa unidade feminina, A paciente que escolhi para desenvolver 0 que se denomina “relacionamento terapéutico” era uma decoradora,diferenciada, linda moga e com diagndst- co de esquizofrenia catatonica. O dificil dese encarae 0 cstigio nesta unidade era o fato de pertencer a uma ‘universidade e muitos dos pacientes inteenados eram pessoas que, como nés, eram estudantes universititios ‘com os quis, inclusive, jé haviamos convivido pelo campus, Tniciei observando © comportamento de “Mariana, Els fcava umas diss horas parada, olhando para o nada e depois arancava suas roupas ecomeava a “voar” (batia 0s bragos como se estivesse voundo) pelo corredor rindo, Parva depois de uns minutos © Fecomesava seu ritual "Na hora de comer, olhavao prato , dependen- ddo do que via, fazia uma expressio de nojo,senia-se mal evomitava. Apés sai correndo refeit6rioafora “Fenteiniciar otal “relacionamentoterapeutico”” la, com movimentos absolutamente lentos, virava sua ‘abe para mim ¢fieava li com aquele olhar parado, °

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