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WISC-III Escala de Inteligéncia de Wechsler para Criangas - III Manual J _ David Wechsler Investigacao e Publicacgdes Psicologicas Titulo Original: WISC-III, Wechsler Intelligence Scale for Children - Third Edition, Adaptacao Portuguesa: Mario Simoes: Fac. de Psicologia e Ciéncias da Educacio, UC. Anténio Menezes Rocha e Carla Ferreira; Departamento de Investigacao e Publicacdes Psicologicas, CEGOC-TEA. A redaccao deste Manual foi realizada por Mario Simdes e Carla Ferreira. A adaptacao portuguesa da WPPSER foi co-financiada pela CEGOC-TEA e pela Fundacao para a Ciencia e Tecnologia (PRAXIS/PCSH/PSI/C/91/96), Copyright © 1992, 1991 by The Psychological Corporation, U.S.A Copyright da adaptacao portuguesa © 2003 by CEGOC-TEA, Lisboa, Portugal. Traduzido e adaptado com autorizacao. Todos os direitos reservados. Proibida a reproducao total ou parcial, sob qualquer forma ou meio, nomeadamente fatocopia. As infracgdes serao penalizadas nos termos da Iegislagao em vigor Impresso em Portugal. ISBN: 972-8817-00-2 Deposite legal, 198663/03 indice Geral indice Geral Lista de Tabelas ... Lista de Figuras Prefacio.. Capitulo 1. Introdugio ........ Natureza da Escala Concepgao de inteligéncia . O nascimento e a evolugao das Escalas de Inteligéncia de Wechsler ., Nos Estados Unidos Em Portugal ... Elaboragaéo da WISC-III... Organizacao da Escala .. Aplicabilidade da WISC-II Reteste . : 5 Diagnéstico de deficiéncia mental ., Diagnostico de dificuldades de aprendizagem Diagndstico de sobredotacao Diagnéstico neuropsicolégice Qualificacao dos utilizadores......... Capitulo 2. Adaptacao e afericdo portuguesas Modificacdes e estudos exploratorios realizados em Portugal coma WISC-M Afericdo portuguesa 0. i Procedimento de recolha de dados Descricdo da amostra de afericao Derivacao dos resultados brutos Derivacao dos resultados padronizados Constru¢ao das tabelas de QIs ¢ de indices Factoriais Interpretacdo dos QIs e dos Indices Factoriais im vii iv___WISC-il Capitulo 3. Consideragées gerais de administracao e cotacao Principios basicos para a utilizacao da WISC-III Idades de aplicacao ...... Procedimentos estandard Tempo de administracao Condigoes fisicas de administracao Manuseamento dos materiais de teste ., Relacao e motivacao , Administracao a sujeitos que apresentam défices motores ou sensoriai: Administracao da WISC-IIL Sequéncia de apresentacao dos subtestes Critérios de inicio e de interrupcao dos subtestes Cronometragem .. an Aprendizagem da tarefa ..... Repeticao de itens e aprofundamento de respostas Cotacao das respostas Na WISCHIIL .....cs:ninnnmnnin Consideracoes relativas a cotacoes especificas .. Preenchimento da Folha de Registo .. Calculo da idade cronolégica do sujeito Registo das respostas e das pontuacoes Calculo dos resultados padronizados, Qls, Indices Factoriais e idades-teste Precisao no registo dos resultado: Capitulo 4. Propriedades estatisticas da Escala... Fidelidade Coeficientes de fidelidade Erro-padrao da medida e intervalos de confianca .. Estabilidade teste-reteste Acordo interavaliadores Resumo da fidelidade ,, Diferencas entre Qls ou entre [Indices Factoriais Significancia das diferengas entre QIs ou entre Indices Factoriais 5 Frequéncia das diferengas entre Qls ou entre Indices Factoriais Diferencas entre o resultado de cada subteste e a média de resultados em conjuntos de subtestes , indice Geral Significancia das diferencas entre o resultado de cada subteste ea média de resultados em conjuntos de subtestes ..... 78 Frequéncia das diferencas entre o resultado de cada subteste ea média de resultados em conjuntos de subtestes 78 Diferengas entre resultados padronizados nos subtestes ... 79 Signiticancia das diterencas entre os resultados padronizados nos subtestes 79 Frequéncia da dispersao dos resultados entre subtestes 80 Diferencas entre Memoria de Digitos em sentido directo © Memoria de Digitos em sentido inverso...... 80 Conclusao 81 Capitulo 5. Validade........ = 83 Inserctinelages erie oe wibiebtes was escalas compésitas. 84 Anilises factorial 85 Anilises factoriais exploratérias 86 Anilises factoriais confirmatérias . 92 Implicacoes praticas 95 Estudos comparativos ... 96 Correlacao com a WISC........ 97 Cortelacao com a WPPSI-R 101 Cortelacio com as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven 102 Correlacao com os resultados escolares 103 Estudos com populacoes especiais . 104 Deficiéncia mental 104 Dificuldades de aprendizagem 106 Inteligéncia superior 109 Conclusao va Capitulo 6. Instrugdes para a administracao e cotacgao 13 1. Completamento de Gravur 113 2. Informacao .... 3. Codigo... |. Semelhaneas Disposicao ce Gravuras Aritmética Cubos........ Moo vi WISC-II1 8. Vocabulario 174 9. Composigao de Objectos . 10. Compreensao .. 11, Pesquisa de Simbolos 12, Meméria de Digitos .. 13. Labirintos Anexo A, Tabelas de conversao..... Anexo B, Tabelas de diferengas significativas, de frequéncias, de dispersao e de intercorrelacdes Anexo C. Lista de colaboradores Referéncias bibliograficas 0 ST lista de Tabelas Tabela 1, Lista dos subtestes que constitaem a WISC-IIL Tabela 2. Deserigdo dos subtestes que constituem a WISC-IIT Tabela 3. Indices construidos a partir de andlises factoriais . Tabela4.. Estudo dos itens na versao portuguesa da subescala Verbal . Tabela 5. Organizacgao dos grupos normatives em fungao da idade ,, Tabela 6. Distribuicao da amostra em funcao das yariaveis Idade ¢ Sexo Tabela 7. Distribuicao da amostra em fungao da escolaridade _. Tabela 8. Distribuigao da amostra em funcao da Tipologia de Areas Urbanas an i iia Tabela 9. Distribuigdo da amostra em funcao da regiao geogratica |... Tabela 10. Distribuigdo da amostra em fungao da zona geografica Tabela 11. Distribux Tabela 12, Médias ¢ desvios-padrao dos somatorios de resultados padronizados das subescalas Verbal, de Realizacao ¢ da Escala Completa, por grupo etario , Tabela 13. Correspondéncia entre Qls ou Indices Factoriais, desvios-padrao em relagao a média e percentis Tabela 14, Classificagao dos niveis de inteligéncia Tabela 15. Ordem recomendada para a administragao dos subtestes,_ 10 da amostra em fungao do grupo profissional do pai Tabela 16, Resumo dos critérios de administracdo dos subtestes Tabela 17. Coeficientes de fidelidade dos subtestes, QIs e indices Factoriais, por grupo etério Tabela 18. Erro-padrao da medida dos subtestes, Qs ¢ Indices Factoriais, por grupo etério, Tabela 19. Coeficientes de estabilidade dos subtestes, Qls e Indices Factoriais, para a faixa etaria dos 6 aos 7 anos (n=74) Tabela 20. Coeficientes de estabilidade dos subtestes, Qls e Indic Factoriais, para a faixa etaria dos 10 aos 11 anos (n=77) Tabela 21. Coeficientes de estabilidade dos subtestes, Qs e Indices Factoriais, para a faixa etaria dos 14 aos 15 anos (n=44) Tabela 22. Saturacoes factoriais para uma solucao de dois factores, por sub-amostras ¢ total 2 30 38 45 66 68 vill WISC-t Tabela 23. Saturacoes factoriais, obtidas através do metodo "maxima verosimilhanga" com rotagao onrimax, para o Factor 1: Compreensao Verbal Sauer 89 Tabela 24. Salifeigoes factoriais, obtidas através ae fitetode “maxima yerosimilhanca" com rotagao varimax, para 0 Factor 2; Organizacao Perceptiva., 90 Tabela 25. Saturacoes factoriais, obtidas através do método "maxima verosimilhanca" com rotacéo varimay, para 0 Factor 3: Velocidade de Processamento 90 Tabela 26. Estatisticas de ajustamento para a anilise factorial confirmatoria (EQS) dos treze subteste: Om Tabela 27. Organizacdo dos Indices Factoriais oF cs % ‘Tabela 28. Médias, desvios-padrao e correlacgdes entre os a resultados nos subtestes e Ols na WISC-III] ena WISC weenie OB Tahela 29. Médias, desvios-padrao e correlagées entre os resultados nos subtestes e QIs na WISC-III e na WPPSLR . 102 Tabela 30. Correlacdes entre os resultados nos Qls e indices Factoriais da WISC-III e os resultados das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven .. 103 “Tapela Ht: Validade concorrénite: Comelagoes entire os resultados nos Qls ¢ Indices Factoriais da WISC-III e as classificagoes escolares atribuidas pelos professores (2°, 4°, 6 9° anos; N=154) oo een seman 108 Tabela 32. Validade preditiva: Correlagdes entre os ja desemipeldiea na WISC-II e as classificagdes escolares atribuidas pelos professores, com um intervalo de 18 meses (n=93) Tabela 33. Médias, desvios-padrao e amplitude dos Qls e Indices Factoriais da WISC-III, em criangas e adolescentes 104 com deficiéncia mental Tabela 34. Médias, desvios-padrao e amplitude dos Qls e Indices Factoriais da WISC-III, em criangas com dificuldades de aprendizagem e num grupo de controlo 107 Tabela 35. Médias, desvios-padrao e amplitude dos QIs e thdines. Factoriais da WISC-III, em criancas com inteligéncia superior , 109 Tabela 36, Conversao de resultados brutos em resultados padronizados, por grupo normativo 3 cm 259 Tabela 37. Conversao da soma dos. resultados padtonbeadlae ex em Ql: Subescala Verbal oo... cssssisiecn pamimemainaccs SBD lista de Tabelas Tabela 38, Conversio da soma dos resultados padronizados em Ql: Subescala de Realizagao Tabela 39, Conversao da soma dos resultados padronizados em QI Escala Completa . Tabela 40, Conversdo da soma dos resultados padtonizados em indice Factorial: Compreensao Verbal Tabela 41. Conyersao da soma dos resultados padronizados em Indice Factorial: Organizacao Perceptiva . 286 Tabela 42. Conversao da soma dos resultados padronizados em Indice Factorial: Velocidade de Processamento ,, TTabela 43, Caleulo proporcional das somas dos resultados padronizados para as subescalas Verbal e de Realizacao .. ee Tabela 44. Conversao de resultados brutos em idade-teste .,........... 289 ‘Tabela 45. Diferencas minimas, estatisticamente significativas, entre Qls e entre Indices Factoriais, aos niveis de significancia .15 e .05 Tabela 46. Frequéncia das diferencas entre o av eo QiRe entre os indices Factoriais , 21 292 Tabela 47. Diferencas minimas, estatisticamente a sliguiticativ ‘as, entre o resultado padronizado de cada subteste e a média dos subtestes de cada escala e diferencas obtidas por varias percentagens da amostra de afericao ........ cee (OB Tabela 48. Diferencas minimas, entre resultados padronizadioy, estatisticamente significativas a um nivel de significancia de 15 297 ‘Tabela 49. Diferencas minimas, entre resultados padronizados, estatisticamente significativas a um nivel de significancia de 05 298 ‘Tabela 50. Percentagens acumuladas da dispersao intersubtestes (scatter), para as varias escalas da WISC-III (amostra de afericao).... Tabela 51. Percentagens acumuladas para a série de algarismos 299 memorizada (sentido directo e sentido inverso), por grupo etario Tabela 52. Percentagens acumuladas da diferenca entre os valores maximos de Memoria de Digitos sentido directo ¢ Memoria 300 301 de Digitos sentido inyerso, por grupo etario ‘Tabela 53. Intercorrelacoes entre subtestes e entre subtestes e as escalas compésitas, por grupo etario x WISC-II Figura 1. Figura 2 Figura 3. Figura 4. Figura 5, Figura 6. Figura 7. lista de Figuras Sugestdo de disposigao do sujeito, examinador e do material Exemplo de aplicacao na sequéncia inversa: o item de inicio © o item precedente foram realizados com sucesso Exemplo de aplicagao na sequéncia inversa: o item de inicio foi realizado com sucesso, mas houve fracasso no item seguinte e no precedente .... Buenigle ddaplicici xia Seqnénela inunsea. houve Bacaand no item de inicio Exemplo de respostas a um item verbal Exemplo do calculo da idade cronolégica Exemplo de uma Pagina Resumo preenchida 33 40 41 42 52 56 60) Frefacio A primeira Escala de Inteligéncia de David Wechsler, a W-B (Wechsler = Bellevue) foi publicada em 1939. Tratava-se de uma Escala para adultos composta pelos dois tipos de provas, verbais e de realizacao, que iriam carac- terizar todas as Escalas de Wechsler que viriam a ser publicadas, posteriormente. A WISC (Weehsler [ntelligence Scale for Children) surge em 1949 com uma estru- tura de provas semelhante as da W-B, mas destinava-se a sujeitos dos 5 aos 15 anos, A necessidade de actualizagao da WISC Jevou o autor a fazer uma primeira revisao da prova em 1974, dando origem a WISC-R. A terceira versao da Escala ou WISC-III foi realizada em 1991 por uma equipa coordenada pelo Dr. Aurélio Prifitera e constituida por yarios inyestigadores e consultores, nomeadamente, o Dr. Jerome Doppelt e o Dr, David Herman cuja experiéncia prévia de trabalho com David Wechsler contribuiu para assegurar a abordagem caracteristica da avaliacao da inteligéncia das Escalas de Wechsler. A adaptacao portuguesa da WISC-III & 0 resultado de um trabalho de equipa, iniciado em 1999. O Departamento de Investigacao © Publicacoes Psicologicas da CEGOC solicitou a Psychological Corporation a cessao dos direitos de ada-ptagdo da WISC-III para a populacdo portuguesa. A par da autorizagao fai-nos dito que o Prof. Mario Simoes da Faculdade de Psicologia e Ciéncias da Educagao da Universidade de Coimbra estava também interessado na adaptacao da prova e sugeriram-nos que talvez uma uniao de esforgos fosse util para ambas as partes. E foi o que fizemos. Unimos entusiasmo, dedicacao, competéncias diversas e complementares e produzimos, finalmente, um trabalho que nos orgulha a todos e que auguramos de grande utilidade para 08 Psicologos Clinicos e Educacionais. A afericdo da WISC-III foi feita a partir de uma amostra estratificada de 1354 sujeitos com idades compreendidas entre os 6 e os 16 anos © representativa da populacao portuguesa nas varidveis: idade, sexo, nivel escolar, meio de residéncia e localizagao geografica, para além do nivel socioeconémico que, embora tenha sido analisado q posteriori, yerificou-se ser representativo da populacao portuguesa Do Minho ao Algarve, passando pelos Acores, do interior ao litoral, das zonas urbanas as rurais, durante mais de um ano, varias equipas de Psicélogos, devidamente treinados, desenyolveram tm trabalho de aplicacdes individuais da prova, rigorosamente controlado. Este trabalho singular de parceria, levado a cabo por uma empresa, a CEGOC, © uma Instituicao Universitaria, a Faculdade de Psicologia e de Ciéncias da Educacao da Universidade de Coimbra, 56 vem provar as virtualidades da colaboragao entre a Universidade e a Empresa, f xii_ WIS A adaptagado Portuguesa da WISC-III vem substituir a adaptagao da WISC efectuada pelo Prof. Ferreira Marques em 1970, e representa um avanco muila significative em relagao as duas versoes anteriores da escala, a WISC e a WISC-R. As modificacoes abrangem desde a actualizacao dos itens dos subtestes Verbais e dos materiais dos subtestes de Realizacao até 4 analise factorial reali- zada com os resultados, A maior novidade, no entanto, reside na possibilidade de analisar os resultados a luz de trés Indices Pactoriais, que complementam a informagao retirada a partir dos Qls Verbal, de Realizagao e da Escala Completa, sendo eles: Compreensao Verbal, Organizacao Perceptiva e Velocidade de Processamento. As modificacoes introduzidas, relativamente 4 WISCR, sé vieram tornar a prova mais atraente para o sujeito avaliado e de facil e pratica utilizagao para 0 psicdlogo, permitindo elaborar um trabalho clinico mais discriminativo e enriquecido. Para melhor compreender este instrumento de avaliagdo, nao queremos deixar de sublinhar dois aspectos sobre o seu autor, A colossal obra de Dayid Wechsler é fruto, por um lado, da sua vasta experiéncia clinica e dos seus profundos conhecimentos estatisticos e, por outro, da sua postura perante a avaliagao psicolégica que, segundo ele, devera ir para além da estrita informacao obtida através dos resultados nos testes. Apesar das virtualidades ténicas ¢ explo- ratrias que a Escala possui (¢ possui muitas), se nao houver um trabalho clinico baseado na profunda compreensao do sujeito, e na informacao complementar proporcionada pela sua historia individual, familiar, social e cultural, a avaliagao aparecera incompleta ou poderd até constituir um elemento perturbador e dar origem a decisdes erradas e de graves consequéncias para o sujeito avaliado. Ea arte clinica do psicdlogo associada ao rigor tecnico dos dados praporcionados pela Escala que, em conjunto, poderao constituir um poderoso meio de diagnds- tico e de aconselhamento. A adaptacao portuguesa da WISC-III s6 foi possivel gragas 4 competéncia ea dedicacao de uma equipa cujo entusiasmo nao esmoreceu ao longo de varios anos. Queremos destacar aqui 0 trabalho central do Prof. Mario R. Simoes, que fez a tradugao e adaptacao do capitulo de administracao e cotacao, os estudos exploratorios realizadios com versdes preliminares da Escala, as investigacoes no ambito da andlise dos itens, a elaboragao da versao portuguesa da Escala, © treino dos psicélogos que recolheram os protocolos © os cotaram, algumas das pesquisas relativas a precisao (estabilidade teste-reteste e acordo interava- liadores) ¢ os estudos de validade. Oexigente trabalho estatistico, que suporta o rigor da informagao e permite con- fiar na exactidao dos dados obtidos através desta Escala, ¢ da responsabilidade da Dr Carla Ferreira e do Prof. Agustin Cordero. A primeira teve todo um trabalho arduo relacionado com os estudos estatisticos nomeadamente 0s conducentes @ claboracao das normas e das tabelas de conversio dos resul- tados e os estudos no Ambito da precisdo (consisténcia interna e erro-padrao Prefacio da medida). © segundo colocou a nossa disposicdo algo que resultou extrema- mente util, a saber, a vasta experiéncia e a sabedoria que adquiriu ao longo de uma vida dedicada ao ensino e a investigacao e onde sobressai o trabalho de adaptagao das Escalas de Wechsler a populagao espanhola. Varias outras pessoas deram, de uma forma ou outra, 0 seu valioso contribute para a concretizacio deste projecto, Neste sentido, gostariamos de agradecer aos Professores Maria Joao Seabra Santos, Marcelino Pereira, Cristina P. Albuquerque e Leandro S. Almeida, bem como a todas as outras pessoas cujos nomes constam do Anexo C deste Manual. A toda a equipa de trabalho 6 nosso profundo agradecimento. Queremos, finalmente, agradecer tanto as instituigdes educativas que facilitaram © nosso trabalho de investigacao, como as criangas e aos jovens que, genero- samente, participaram na realizacao das provas que serviram de base a aferigéo portuguesa da WISC-III. Antonio Menezes Rocha Director do projecto de afericao da WISC-III Lisboa, 5 de Mato de 2003 CAPITULO 1 Introducao Natureza da Escala A WISC-III corresponde 4 terceira edigao da versio americana da Escala de Inteligéncia de Wechsler para Criancas. A primeira versio da WISC surgiu em 1949, sendo editada em Portugal em 1970. A WISC-III é um instrumento clinico de administracao individual, que avalia ainteligéncia de sujeitos com idades compreendidas entre os 6 anos e os 16 anos e 11 meses. Ainda que mantenha as caracteristicas estruturais da WISC e da WISC-R, a WISC-III apresenta algumas novidades, designadamente, nos materiais, nos contetidas e nos procedimentos de administragao, para além de incluir um novo subteste designado por Pesquisa de Simbolos, que permite avaliar uma faceta distinta da inteligéncia. A semelhanca de todas as escalas de inteligéncia de Wechsler, a WISC-III ¢ constituida por varios subtestes, cada um deles avaliando um aspecto diferente da inteligéncia. Em termos de analise dos resultados, 4 semelhanga do que acontece nos casos da WISC © da WISC-R (escala nao aferida para a populacio portuguesa), © desempenho dos sujeitos pode ser sintetizado em trés resultados compdsitos, identificados como QI Verbal, QI de Realizacao e QI da Escala Completa. A analise destes resultados permite ao psicdlogo determinar a qualidade do desempenho do individuo relativamente a um conjunto de aptiddes intelec- tuais. Para alem destas trés escalas, a WISC-III na sua versao portuguesa per- mite, ainda, obter tres indices complementares, identificados a partir de analises factoriais dos resultados no conjunto de subtestes. Estes indices, designados de “Indices Factoriais", correspondem aos seguintes resultados compdsitos: Compreensao Verbal, Organizagao Perceptiva e Velocidade de Processamento, Cada um destes aspectos sera objecto de unv desenvolvimento mais pormeno- rizado ao longo do Manual. 2 Wisc-til Concepcao de inteligancia A inteligencia pode manifestar-se de diversas formas e 6, por esta raza, que Wechsler nao a concebeu como uma aptidao particular, mas sim como um todo, mais propriamente como "a capacidade global do individuo para actuar finali- zadamente, pensar racionalmente e proceder com eficiéncia em relagao ao meio" (Wechsler, 1944) Mantendo-se fiéis ao conceito de inteligencia proposto por Wechsler, os sub- testes da WISC-III foram seleccionados de forma a abranger um leque diversi- ficado de aptiddes mentais, reflectindo desta forma o funcionamento intelectual global do individu. Os subtestes fazem apelo a varias facetas da inteligéncia, como é o caso do raciocinio abstracto, da memoria, de determinadas capacidades perceptivas, etc, Em termos culturais, estas aptiddes sao valorizadas em diferentes graus, surgindo frequentemente associadas a comportamentos, geral e consensualmente, designados como "inteligentes". Contudo, nenhum subteste reflecte a totalidade dos comportamentos inteligentes. Por exemplo, um subteste podera invocar as capacidades perceptivas do sujeito, mas nao 0 seu raciocinio abstracto; um outro podera apelar a informacoes especificas, mas nao 4 percepcao de relaces espaciais, etc. A WISC-III, tal como todas as escalas de inteligéneia desenvolvidas por Wechsler, explora o funcionamento intelectual nos seus diferentes aspectos, apresentando, para esse efeito, subtestes bastante diversificados, Esta multipli- cidade de tarefas oferece ads sujeitos a possibilidade de evidenciarem melhor as suas capacidades. Neste sentido, torna-se importante especificar quais as repercussoes do conceito de inteligéncia proposto por Wechsler, no desenvolvimento das escalas de inteligéncia. Com efeito, os resultados obtidos numa escala de inteligéncia representam o sucesso do individuo num determinado conjunto de tarefas, mas isso nao significa que estas sejam as Unicas a cumprir este caracter avaliativo. Por exemplo, o subteste Meméria de Digitos da WISC-III reflecte a capacidade de memorizagao do sujeito. Para avaliar esta mesma aptidao, foi elaborado © subtesie Frases Memorizadas, que faz parte da Escala de Inteligéncia de Wechsler para a Idade Pré-Escolar e Primaria (WPPSI, Wechsler, 1967) ¢ da Escala de Inteligéncia de Wechsler para a Idade Pré-Escolar ¢ Primaria - Edicao Revista (WPPSI-R, Wechsler, 1989), Da mesma forma, na WISC-III, as duas versdes do subteste Codigo, que se destinam a dois grupos de idades distintos, avaliam precisamente a mesma aptidao, verificando-se o mesmo para 0 subteste Infrodugdo Pesquisa de Simbolos que, tal como referido anteriormente, representa lima novidade desta edigao. Convem salientar que a concepgao de inteligéncia como un todo nae significa que se verifigue um desenvolvimento homogéneo das capacidades/aptidoes que Ihe estao inerentes. De facto, a experiéncia mostra que os sujeitos podem obter, simultaneamente, resultados elevados e@ resultados reduzidos em subtestes distintos, 0 que evidencia um desenvolvimento diferenciaco ao nivel das suas aptiddes intelectuais e, por isso, esse mesmo desenvolvimento resultaré em padrdes de desempenho bastante diversificados Por outro lado, nado podemos exigir que o conjunto de tarefas, estandardizadas © apresentadas na WISC-III, compreenda todos 0s aspectos relacionados com a inteligéncia de um individuo, Embora as aptidoes intelectuais que constam desta Escala possam ser consideradas como determinantes essenciais de um comportamente inteligente, existem outros factores de natureza nao intelectiva, que desempenham um papel influente na expressao das aptiddes intelectuais. Sao exemplos de factores nao intelectivos os tracos de personalidade, as atitudes e determinadas caracteristicas tais como a consciéncia do objectivo, o entu- siasmo, a dependéncia/independéncia, a impulsividade, a ansiedade e a perse- veranca Ainda que estes factores nao sejam avaliados directamente a partir de medidas estandardizadas da aptidao intelectual, influenciam o sucesso do individuo nestas medidas, assim come a sua eficacia na yida quotidiana ea sua atitude face as exigencias do mundo exterior Para sublinhar a importancia que Wechsler atribuia a estes factores naa intelec- tivos, Matarazzo (1972, 1990) salienta a necessidade de se considerar a historia de vida do individuo, em termos de enquadramento social) e historial médico, de repertorio linguistico € cultural, como fazendo parte do processo de avaliacao. Varias investigagdes tem colocado em evidencia as possiveis ligagdes entre 0 comportamento obseryado durante a administragao da WISC-III e os resul- tados alcangados pelo sujeito nesta prova de inteligéncia (Glutting & Oakland, 1993; Glutting, Youngstrom, Oakland & Watkins, 1996; Glutting, Robins & Lancey, 1997; Kaufman, Kaufman, Dougherty & Tuttle, 1994; Kaufman & Kaufman, 1995; Maller, Konold & Glutting, 1998; Oakland & Glutting, 1998). Tais resultados sublinham a necessidade de se considerar, em toda a avaliagado da inteligéncia, outros factores, para além das aptidoes intelectuais ou cognitivas Ao adoptar a concepcao de inteligéncia de Wechsler, para quem a aptidao intelectual é apenas um dos aspectos da inteligéncia, o examinador devera ter 0 cuidado de distinguir, no momento da interpretacao, entre os resultados dlos sub:estes ou dos Qls, por um lado, ea inteligencia por outro (ver Wechsler, 1950, 1971, para uma discussao pormenorizada acerca deste assunto).

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