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rere [o(era rs (am 45% BD) ai X Ven © 1996, Bditora UNIJUL Rua do Comercio, 1364 Caixa Postal 560 98700-000 - Hui ~ Brasil - Fones: (0__55) 3332-0217 e (0__55) 3332-0612 Fax: (0__55) 3332-9100 RS editora@unijui.tche.br a edi¢do na Coleco Livros de Bolsa: 1996 Ja edigdo revisada ¢ ampliada na Colegdo Educagdo: 2001 ‘apa: Elias Ricardo Schissler Responsabilidade Editorial e Administrativa: Editora Unijut da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijui; ijui, RS) Catalogacao na Fonte Biblioteca Central UNIJUL F383e Ferreira, Liliana Soares Educagao & hist6ria/Liliana Soares Ferreira, 2.ed. revisada e ampliada -- Ijui : Ed. Unijui, [2001]. -- 216p. -- (Colecao educagao) ISBN 85.85866.28.4 1.Educac&o 2.Educacao - Histéria 3.Brasil 4,Politicas educacionais 5.Educador L.Titulo DU: 37(/81)(091) do sc NA DA pe un disciplina e 0 governo. O resultado seria formar e modelar a vontade do educando diante das presses que pudesse vir a sofrer, mantendo-se incorruptivel (Giles, 1985, p.76) Esses sao algumas das muitas contribuigdes dessa épo- ca para a formulagao dos caminhos e (des)caminhos da edu- cagao. Conhecé-los ¢ entendé-los pressupde a disponibili- zacao de dados que nos levam a ousadia, para além da repe- tigdo de modelos sacralizados e tidos como tinicas verdades. A EDUCAGAO NO PERIODO COLONIAL DA HISTORIA BRASILEIRA # preciso romper certas amarras que nos prendem a idéias ultrapassadas e recriar espacos para efetivas interagdes pe- dagogicas, cujas conseqiiéncias sejam produgées de sabe- A inclusdo do Brasil na Histéria acontece em meio a0 res cada vez mais efetivas. processo de expansao maritima portuguesa. A pretensdo lusa era descobrir novos mercados fornecedores de matéria-pri- ma, Portanto, a terra brasileira insere-se no mapa mundial como uma possibilidade de riquezas a mais para a metrépole portuguesa como comprovam varios trechos da Carta do es- crivao Caminha ao Rei. ‘Mas a terra em si é muito boa de ares, tdo frios, e tem- ‘peradios, como os de Entre-Douro e Minho, porque, nes- te tempo de agora, assim os achdvamos como os de la. Aguas so muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo aproveitd-la, dar-se-4 tudo por bem das Aguas que tem. Mas 0 methor fruto que nela se pode ‘fazer, me parece que serd salvar esta gente; ¢ esta deve ‘sera principal semente que Vossa Alteza nela deve lan- ar. (Caminha, 1998, p.55) Assim como ocorreu em vérias colénias americanas descobertas naquela época, no Brasil, havia o interesse em descobrir e carregar para a metrépole a maior quantidade spveagdo & nisrOxa ina Somes Ferien possivel de riquezas. A conquista da riqueza, no entanto, era ocultada sob objetivo mais nobre: a conversao de almas. Agin- do dessa forma, os colonizadores sentiam-se protegidos pe- las leis divinas ainda que cometessem a destruigéo do meio © causassem a dizimacao dos povos indigenas habitantes desta terra. A chegada ao Brasil ¢ a dificuldade, inicialmente, em descobrir tais riquezas, levaram ao abandono temporario das terras recém-descobertas. Exploraram, entao, 0 pau-brasil. Nao foi uma atividade duradoura, pois nao gerava as rique- zas esperadas se comparada ao comércio de especiarias. Com a faléncia desse tipo de comércio, os portugueses passaram @ envidar expedigdes de reconhecimento das terras. Essas expedigées fizeram um primeiro mapeamento das terras em nosso pais. $6 que, nessa época, apareceram por aqui expe- dicdes francesas. Isso obrigou Portugal a preocupar-se com @ protecdo das terras, passando a povoa-las e a investir nelas através de uma divisdo em capitanias hereditarias. Surgem os primeiros aldeamentos ¢ a economia passa a centrar-se na produgao agucareira. Define-se, entao, uma estrutura econémica assentada no latifiindio, no regime colonial e na escravidao (Freire, 1989, p.21). Com o primeiro governador-geral, Tomé de Souza, en- carregado de gerenciar a colonia e suas diversas capitanias chegam os primeiros jesuitas. Comega a histéria da educa- ao formal no Brasil, Vinham os retigiosos na armada do primeiro governa- dor-geral, Tomé de Souza, e em pouco tempo comeca- ram a exercer seu apostolado. Confessaram agente da armada e, na quarta dominga da Quadragésima daquele ‘ano, diziam sua primeira missa, O padre Nébrega pre- gava ao governador e seus homens, 0 padre Juan Azpicuelta Navarro, aos da terra. Ja ao irméo Vicente Rodrigues (ou Vicente Rijo) encarregara-se 0 ensino dos meninos, tanto da doutrina como de “ler e eserever"; neste trabalho seria seguido pelo irmao Diogo Jécome, na capitania de Ithéus, na qual fazia, segundo o padre Nobrega, “muito fruto em ensinar os mocos e escravos”; menos de um ano mais tarde, o padre Navarro estava em Porto Seguro, “ensinando a ler e fazer oragdo aos pequenos", (Chambouleyron, 1999, p.55) Os jesuitas, padres integrantes da recém-formada Com- panhia de Jesus ~ criada por Ignacio de Loyola, tinha o lema “Vence-te a ti mesmo € sacrifica-te pelo servigo da Igreja.” -, foram defensores de uma postura cristd catélica contra o pro- testantismo ¢ objetivavam manter 0s dogmas e crencas da Igreja Catélica, perturbada pela Reforma Protestante. Como se sabe, a Reforma Protestante preconizava a relacao Homem- Deus, tinha como base a fé € nao necessitava de que a Igreja fizesse 0 papel de intermediadora. Preconizava a necessida- de de utilizar a lingua nacional nos cultos, a simplificaao dos ritos, a utilizacao da Biblia como livro sagrado e a salva- go através da fé em Deus e nao pela realizacdo de obras. Cabe lembrar: 0 reconhecimento da Ordem dos Jesuitas pelo Papa deu-se nesse clima, como uma maneira a mais de re- cuperar 0 terreno perdido com a reforma luterana. Companhia, alids, era 0 termo adequado para nomear um pelotido de soldados de Cristo e da Igreja, que tinha pela frente a arriscada batalha de fazer recuar a inua- mucagdo @-susréwua o sdo protestante que se verificava no “mundo civiliza- do”, justamente nos seus pélos mais avangados, pondo em risco a hegemonia do catolicismo entre “os povos eleitos por Deus” para propagar seu nome e seus man- damentos, (Xavier, 1994, p.40) Para efetivar essa defesa utilizavam um proceso edu- cacional cujas bases estavam assentadas na busca da con- verso e na conquista espiritual. Manuel da Nobrega, Azpicuelta Navarro, Vicente Rodrigues ¢ José de Anchieta (s6 para alguns) foram os padres pioneiros desse empreendi- mento. A medida que eram fundadas escolas, eram transmi- tidos os valores cristéos e a cultura portuguesa, eram cria- das as condigses de colonizacdo ¢ abria-se espago para a agdo exploratéria da metrépole. Conforme Azevedo, os jesuitas néo estavam servindo apenas 4 obra da catequese, mas lancavam as bases da educacdo popu- lar e, espathando nas novas geragées a mesma fé, a mesma lingua eos mesmos costumes, comegavam a for- jar, na unidade espiritual, a unidade politica de uma nova patria. (Azevedo, 1976, p. 15) Inicialmente, a atividade educacional jesuitica cen- trou-se na catequese. Havia aquela grande concentracao de indigenas ateus ¢ era preciso torné-los cristéos, aumentan- do, assim, o quartel de servidores da {é catélica na Terra. Nesse mesmo esforco, incluia-se a educacdo dos colonos € seus descendentes. Esse duplo objetivo tinha como elemen- to comum a crenga no ensino da escrita ¢ da leitura como eondigio para o conhecimento dos textos e dogmas catéli- ln Sones Rein cos: “No aprendizado da doutrina, apostava-se principal- mente na sua memorizagéo, e os padres orgulhavam-se dos meninos que sabiam tudo de cor. Por isto, os jesuitas desenvolveram, principalmente, catecismos dialogados.” (Chambouleyron, 1999, p.63). A difusao da fé catélica atin- gia os indios, os senhores de engenho, os colonos, os escra- vos, de modo que passassem a considerar-se filhos da Com- panhia de Jesus. Conforme Xavier, 0s jesuitas deveriam cuidar da reprodugdo interna do contingente de sacerdotes necessdrio para a garantia da continuidade da obra. Sua tarefa educativa era ba- sicamente aculturar e converter “ignorantes” e “ingé- nus”, como os nativos, e criar uma atmosfera civiliza- da ¢ religiosa para os degredados e aventureiros que para aqui viessem. Isso constituia uma empreitada que exigia muita criatividade no que diz respeito aos méto- dos de agéo, considerada a heterogeneidade da cliente- la que tinham dliante de si. (Xavier, 1994, p.41) Um dos fatores a contribuir para o sucesso do trabalho de catequese desenvolvido pelos jesuitas foi a rapida apren- dizagem da lingua dos indigenas. Contam os historiadores: uma vez aprendida a lingua, foram criadas gramaticas, tex- tos e pequenas pecas de teatro utilizadas no trabalho de con- verso. Outro fator de grande importancia € a aco dos pa- dres, prioritariamente, sobre os curumins, os filhos indige- nas, j@ que os pais apresentavam-se arredios e desconfiados. Assim, através das criancas, eram infiltrados na comunida- de, os valores cristdos. Com esse afi, os missionarios desbra- mpvcago & HISTORIA varam o territério brasileiro e buscaram, em terras recéndi- tas, grupos de indios carecidos, na ética dos padres, de uma cultura cristd. Nessa busca, apresentavam-se como “solda- dos de Cristo”, marchando contra as condigdes da natureza, contra a falta de meios para a construcao de escolas-modelo ¢, sobretudo, contra a cultura nativa. Ao lado de cada igreja era construida uma escola, onde ensinavam a ler ¢ a escre- ver. Essa tarefa era facilitada devido & cultura e formacao educacional dos padres jesuitas, capazes de transitar facil- mente em grupos diferenciados, desde os indios com suas, linguagens, até os colonos ou mesmo os escravos. Na tentativa de dar conta dessas dificuldades, desen- volveram o sistema de missées — formas de recolhimento dos indigenas em grandes grupos, de modo a criar neles o espi- rito coletiv de exploragéo da natureza, 0 gosto pelo traba- Iho, a solidariedade, a produgao de riquezas associadas ao cultivo de habitos civilizados, o gosto pela musica, pela lei- tura e pela escrita, além da subserviéncia a Igreja. Todos os fatores, juntos, fizeram das missdes locais de grande prospe- ridade, tanto nas formas de educacdo ¢ convivio como nas riquezas. 0s indigenas néo aprendiam apenas uma nova lingua, uma nova interpretagdo da vida e da morte; nao ganha- vam apenas um novo deus, trazido de longe para reinar ‘com a pompa tipica do mundo de onde vinha. Pelo sa- cramento do batismo, operava-se um renascer que alte- rava pela base a vida cotidiana daquela populacdo na- tiva.e a sua propria compreensdo do significado da exis- téncia. Bra quando descobriam o “mal” em que haviam estado merguihados antes da salvagéo providencial por aqueles que, em troca dessa redengdo, ocupavam os seus espacos, materiais e espirituais. Era o comego, para os novos eristdos, de uma penitén: cia sem fim, pelas culpas descobertas, com a revelacdo do “bem”, com os abomindveis incestos, a nudez e as sombras do canibalismo que a todos cobria, culpados ou nao. (Xavier, 1994, p.42) Para além das vantagens desse sistema de aglomera- cdo indigena, as missdes, hd uma série de desvantagens. A maior delas é a fragilidade dos indios, desprovidos de sua liberdade no seu maior esconderijo diante do perigo: a sel- va. Estavam acuados, sob as ordens dos padres, sem liberda- de para a guerra. Por isso, eram facilmente aprisionados em grandes grupos por colons em busca de escravos. Assim, centralizada e artificial, a estrutura das missées desapare- ceu junto com a expulsdo dos jesuitas de todos os territorios portugueses. B importante salientar: havia, nessa época, um sistema unico de educacao para filhos de indigenas ¢ para os filhos de colonos. Com o tempo, o sistema se diversificou: para os indios, uma educagao voltada para a fé ¢ para o trabalho; para 0s colonos, uma educacao que se expandia para além dos rudimentos da leitura ¢ escrita, da escola elementar. A im- pressao que se tem ao ler sobre esse periodo é que, primeira- mente, os jesuitas pretendiam apenas instruir e promover a catequese, mas perceberam a possibilidade de lucros com a -mpucacto &- msroniA a educagdo, pois eram os tinicos educadores da época € con- tavam com o apoio real, entao fundaram escolas que incluis- sem 08 filhos dos colonos. Como a atividade educadora dos padres da Companhia alastrava-se rapidamente foi organizado um plano de estudo capaz de uniformizar a ago das escolas mantidas ¢ dirigidas pelos jesuitas, além de atender a diversidade de interesses ¢ de capacidades, aprendizado do portugués ¢ ensino da dou- trina crista. Ao plano foi dado o nome de Ratio Studiorum. De acordo com o Ratio Studiorum, o ensino jesuitico, apés o periodo de aprendizagem da leitura e da escrita, abran- gia os cursos de Letras (em nivel secundério), Filosofia ¢ Ciéncias (em nivel secundario), Teologia ¢ Ciéncias Sagra- das (em nivel superior). Nos colégios havia ainda a possibilidade de os alunos continuarem nos estudos. Além das escolas de ler, escrever e contar, na década de 1580, havia no Colégio de Pemambuco classes de gramética. No da Bahia, havia ioses de teologia, de casos de consciéncia (teologia mo- ral), um curso de artes e duas classes de humanida- des, No do Rio de Janeiro, uma ligdo de casos de cons- ciéncia e uma de gramética. (Chambouleyron, 1999, P79) Quanto a0 método (cf. Larroyo, 1974), utilizavam nao 86 a transmissao do conhecimento, mas a prelecdo (sinopse do que seria estudado), contenda (debate competitive entre 08 alunos), memorizacdo, expressdo (estimulo ao aluno para traduzir textos de uma lingua para outra, redacdo), imitacdo (incentivo a reproducdo do estilo e das tematicas de grandes autores classicos) ¢ teatro. Os jesuitas pretendiam uma es- pécie de aula, espago para os alunos serem interrogados constantemente e convidados a repetir 0 contetido apresen- tado pelo professor na prelecao, 0 método expositivo era dominante. As sabatinas, as tertilias, as disputas semanais e anuais, as recapitu- lag6es eram métodos funcamentais. Os exemplos con- cretos, acessiveis a gente simples, eram bem utiliza- dos. As festas, 0 teatro, a miisica, os recreios constitut- am meios para atrair e tornar a cultura, os padres e a religido simpaticos. (Tobias, 1972, p.87) Quanto a organizagao da escola (cf. Larroyo, 1974), 0 Ratio estabelecia a existéncia de um provincial (espécie de Delegado de Educacéo) para uma determinada regiéo com- preendendo casas e colégios da Companhia, um reitor (dire- tor do colégio), um prefeito de estudos (assessor do diretor € supervisor do colégio), os professores, os decurides (08 alu- nos com melhores notas, monitores) € os censores (alunos controladores da ordem e da disciplina, delatando quem nao respeitasse quaisquer normas). Percebe-se, portanto, 0 gran- de valor atribuido a hierarquia e @ divisao do poder. Nessa organizacdo, ninguém desrespeitava o superior, pois isso fa- zia parte das regras do grupo e as regras eram rigidamente obedecidas, sem excecdes, sem “jeitinho brasileiro”. As clas- ses eram organizadas através de estagios de desenvolvimen- to ea promogao de uma para outra se dava mediante a apren- pucacto 8; tusronta RB dizagem. Para tanto, o tempo era medido e se constituia em cinco horas de aulas distribuidas igualmente entre as varias reas do curriculo ¢ as tarefas escolares: memorizagao, te- mas etc (Larroyo, 1974) Dessa forma, o Ratio Studiorum era uma estratégia para garantir a organizacdo das atividades pedagégica da Compa- nhia e manté-las em acordo com uma filosofia educacional bem-definida, Ao mesmo tempo, ajudava na manutengao de uma hierarquia nas relagdes dentro da Escola. A organiza- 40 do plano e, conseqientemente, do sistema escolar Jesuitico se inspirou em elementos da cultura européia e sua finalidade era eminentemente prética, sendo fruto da expe- riéncia comum (Ribeiro, 1988, p.22). O resultado disso foi um ensino progressivo ¢ rigidamente construido de modo a associar a cultura classica & vivéncia dos preceitos cristaos, £ preciso reafirmar: a Companhia de Jesus tinha como preo- cupagao central a formagdo religiosa, considerada um con- tetido aprendido através da pratica de agdes cristas, bem como orientava a acdo dos jesuitas ¢ imprimia na sua acdo educativa a salvacéo do Homem para a glorificagao de Deus. Por isso, nao havia apenas a intencdo de inserir os educandos na escrita ¢ na matemética; havia, principalmente, a preo- cupacaio em aumentar o fildo de padres jesuitas. Nessa época, a educagdo femninina restringia-se ou ao trabalho de uma preceptora — no caso das familias ricas -, ou a algumas poucas escolas para mocas, ou a mera aprendiza- gem de boas maneiras e prendas domésticas. Dadas essas caracteristicas, as prescrigdes do Ratio e a formacao universitaria classica e muito bem-definida dos padres jesuitas, o ensino na colonia era, sem diividas, aris- tocratico e excluia analfabetos, pobres, negros ¢ mulheres. Paralelamente, 0 ensino néo permitia aos alunos questionar a realidade da colonia, dando-lhe como modelo de mundo civilizado 0 mundo europeu, enfim, conformava-se a politica colonial Uma das criticas feitas ao trabalho em educacdo dos jesuitas é a elitizagao do ensino, afinal os colégios jesuiticos foram instrumentos de formagao da elite colonial, sendo efe- tivamente educados os descendentes da elite colonial, en- quanto 0s indios foram apenas catequizados. Portanto, a for- magao da elite no Brasil colonial seré marcada por uma in- tensa rigidez e formalidade na forma de conceber a realida- de ¢ de pensar o futuro do pais. Paralelamente, os jesuitas, com sua proposta de educacao extremamente arraigada aos dogmas catélicos, a disciplina do corpo, a memorizacéo ¢ competicdo, contribufram para 0 fortalecimento da burgue- sia em formagao no pais e das classes dirigentes, além de favorecerem o aumento da diferenca entre “letrados” e anal- fabetos, a maioria da populacao. A cultura formal passa a ser vista como uma espécie de ornamento que 56 os privilegia- dos economicamente dispunham, assim como poderiam dis- por de qualquer outra mercadoria luxuosa, ‘Assim como a quantidade de escolas, 0 poder econd- mico dos padres aumentava. Aumentava, com isso, 0 poder sobre os senhores de engenho, influenciando suas decises mpucacdo & HISTORIA B politicas. A Companhia era acusada de estar voltada apenas para 0 reforco de seu pelotdo de padres e de priorizar 0 uso de outras linguas (o latim, principalmente) em detrimento da lingua nacional. Essas criticas espalharam-se pela cold- nia. Nessa mesma época, expandiam-se as reformas patroci- nadas pelos chamados déspotas esclarecidos. Entre esses, encontra-se 0 Marqués de Pombal, poderoso ministro do rei portugués, D. José I. Conforme Cotrim (1993, p.261), cons- ciente do atraso de seu pais em relagao aos demais paises, Pombal lancou-se A realizagao de reformas modernizantes. Na educacéo, Pombal queria desmantelar a Companhia de Jesus, considerada conservadora € motivo das criticas ante- riormente citadas, Essas motivagdes resultaram na expulsdo dos jesuitas do territério brasileiro. Quando expulsos, em 1759, os jesuitas nos legaram um ensino de cardter literdrio, verbalista, retérico, ivresco, memoristico, repetitivo, estimulando a emula- edo através de prémios e castigos, que se qualificava como humanista-cléssico. Enclausurandoos alunos em preceitos e preconceitos catélicos, inibiu-os de uma lei- tura do mundo real, tornando os cidadaos discri natérios, elites capazes de reproduzir “cristamente* a sociedade perversa dos contrastes e discrepancias dos que tudo sabem e podem e dos que a tudo se subme- tem. Inculearam a ideologia do pecado e das interdi- es do corpo. “Inauguraram” o analfabetismo no Bra- (Freire, 1989, p.41) A partir dai, Pombal tracou como novos objetivos educacionais: abrir o con- teticlo do ensino ds ciéncias experimentais, tornando-o mais prético e utilitdrio; despertar um maior ntimero de interessados no ensino superior; diminuir a influéncia da Igreja no setor educacional. (Cotrim, 1993, p.264) Porém, como a realidade bem-comprovou, 0 que acon- teceu, efetivamente, € que o ensino no Brasil, apés a expul- so dos jesuitas, continuou a ser organizado de forma idén- tica a da Companhia de Jesus, mostrando a ineficdcia e a inércia das chamadas reformas pombalinas. E preciso, no entanto, a percepedo de que as agdes em educacdo sempre tém uma motivacao filoséfica e social nem sempre ideal. Em se tratando das iniciativas educacionais dos jesuitas no Brasil, ha duas versdes percebidas como des- taques: se por um lado apresentou-se conservadora ¢ elitista, voltada basicamente para os interesses da Companhia de Jesus, por outro, constituiu-se em um primeiro sistema de educagao em nosso pais. Devido a essas caracteristicas, teve méritos e, com certeza, serviu (e serve, em alguns casos) de modelo para a organizacao do sistema educacional ao longo desses tltimos trezentos anos de histéria da educacao bra- sileira, mpucagio & sasréna

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