You are on page 1of 12
DESCRICAO E USO DE UM APARELHO PARA O ESTUDO DA DINAMICA DA ROTACAO* ROBERTO HESSEL Departamento de Fisica, Instituto de Geociéneias e Cééncias Exatas UNESP, Rio Cano, SP 1. INTRODUCKO Para estudar a dinamica da translacgao o PSSC utiliza carri- a). nho e marcador de tempo Esses Instrumentos, simples e eficien- tes, permitem, por exemplo, estabelecer a 2? lei de Newton ou estu- dar a conservacgao da quantidade de movimento de um sistema em coli- sdes numa Gnica dimensdo. De forma andloga o texto avancado do PSSC (Advanced Topics Supplement) emprega discos e pecas de formatos di- versos, que podem girar em torno de um eixo, e novamente o marcador de tempo para estudar a dinadmica da rotacao!?), Neste trabalho descrevemos uma montagem para estudar a dina mica da rotag3o, semelhante dquela descrita no PSSC Avancado e mos- tramos como vem sendo utilizada por nés para auxiliar na introdugso dos conceitos de torque, momento de inércia e momento angular. A principal diferenca entre nossa montagem e a descrita pelo PSSC Avan gado esta na forma de utilizar o marcador de tempo e na sequéncia de experiéncias adotada que, segundo nos parece, mostra mais nitidamen te a correspondéncia entre as grandezas utilizadas para estudar a di namica da transla¢do e aquelas para estudar a dindmica da rotacao. 2. DESCRICAO DA MONTAGEM © arranjo experimental estd mostrado nas figuras lae Ib. So bree prato (B) (Fig. 1a) podemos apoiar discos (0) ou pecas de for matos diversos. (0s discos sao de ago e tém aproximadamente 1,2kg, 21cm de didmetro e 4,4mm de espessura). Sobre o(s) mesmo(s) vio as polias (E) com 20, 30,..., 60mm de diametro e todo o conjunto € mantido fixo as custas de uma borboleta (F). 0 eixo no qual a pe fas estao montadas gira suavemente devido & presenca dos rolamentos (G). Do prato B saem duas hastes metdlicas em cujas extremidades (C), diametralmente opostas, sao inseridos Tmas cilfndricos, cuja fun “Taabatho ginanciado peta Comissio de Projetos Especiais da UNESP. 21 Switch” ~ PARA A RESISTENCIA RB (a) PARA O “REED swiTcH™ (Fig lo) Disco DE CARBONO ITA (b) Fig. 1 - Arranjo experimental. (a) Parte mecdnica. (b) Parte elé- trica. 22 ¢30 € ativar um “reed switch" normalmente aberto (NA). Um reed switch NA* € uma pequena chave de laminas encapsuladas feitas de material ferromagnético ¢ mantidas separadas (Fig. 2a). Quando um [mi passa pela extremidade de uma das laminas, elas se juntam magneticamente ea chave se fecha (Fig. 2b). INyOLUCRO De VioRO f | Fig. 2 - 0 "reed switch". (a) Normalmente aberto. (b) Fechado, 0 MARCADOR DE TEMPO 0 marcador de tempo utilizado (M na ig. 1b) € um pouco di- ferente daquele descrito no PSSC, pois éa mentado por um transfor mador com safda de 9 volts em vez de pilhas. Essencialmente consiste en uma lamina de serra com um parafuso em sua extremidade, que martela um disco de carbono, sob o qual passa continuamente uma fita de papel (Fig. 3) LL ep Fig. 3 - 0 marcador de tempo. ese *“Podem ser encontnados em varias casas de material eletrinico na Rua Santa Efigénia no centro de Sao Paulo. 23 0 nacleo do eletrofma atrai a lamina de serra toda vez que & atravessado por um pulso de corrente. Isto acontece a uma frequen cia de 60 Hz, em virtude da presenca do diodo D em série com a bo~ bina do marcador (sem o diodo a lamina seria atrafda 120 vezes por segundo). Como consequéncia aparecerao sobre a Fita de papel 60 mar cas por segundo. A intensidade dessas marcas dependerd do valor da resisténcia R (dado por um potencidmetro de 50 ohms). Enquanto as laminas encapsuladas do "reed switch" (Fig. 1a) estiverem separadas (chave aberta) R limitard a corrente que atravessa a bo na do mar cador € as marcas sobre a fita serdo mais fracas; quando elas se jun tarem (chave fechada) sob a agao do fma, a resisténcia sera desati- vada ¢ as marcas sobre a Fita passarao a ser mais intensas®), A re sisténcia R deve ser ajustada de modo que seja conseguido um bom contraste entre as marcas mais claras e as mais escuras. As experi@ncias sao realizadas por dois alunos. Um deles gi rao conjunto aplicando um torque adequado através de um dinamdme- tro, enquanto o outro puxa a fita, continuamente, atraves de um mar cador, Toda vez que o Ima passar pelo "reed" surgiréo marcas escu- ras sobre a fita; no resto do tempo as marcas aparecerao mais cla- ras. Assim, & medida que o disco gira, a fita val registrando os in tervalos de tempo correspondentes a cada deslocamento angular de 7 radianos (Fig. 4). Fig. 4 = Aspecto de uma fita., 8 tiques, no caso, € 0 tempo que o dis co leva para girar We pi radianos. 0 DINAMOMETRO 0 dinamdmetro foi construfdo com uma mola de constante elas tica 22N/m e um tubo de PVC de 1/2 polegada, com a forma indicada na Fig. 5. Sobre uma das bordas do cocho (Fig. 5) fizemos seis marcas, separadas de 3cm uma da outra, de tal forma que a corresponda & posigao de repouso da mola, a 2% & forcga unitaria e assim por dian- 24 te. A forma deste dinamémetro permite observar mais facilmente se a distensao da mola se mantém aproximadamente constante durante a realizacao do experimento. Fig. 5 - 0 dinamémetro. 3. A SEQUENCTA EXPERIMENTAL ADOTADA SB SEER SE APERTMENTAL ADOTADA EXPERTENCIA 1: ACELERACAO ANGULAR CONSTANTE A Fimalidade desta experiéncia é, principalmente, familiari zar o estudante com o equipamento. A partir dela ver icard que u- ma forca constante, atuando tangencialmente numa das polias, impri me a-um disco uma aceleracao angular constante. (Temos observado que € possivel manter a forca razoavelmente constante pelo menos duran- te 3 ou 4 giros completos do disco). Procedimento experimental Inicialmente, com o marcador de tempo ligado, o estudante mo vimenta o imi em torno do “reed” até descobrir a posicao em que & contece o desligamento da chave. Feito isso mantém o {ma contra um aparador (bloco de madeira) numa posicao imediatamente anterior ao Ponto em que houve o desligamento da chave. Com uma das maos puxao dinamémetro e com a outra retira o bloco de madeira que liberard o ima. Enquanto isso seu colega puxa a fita através do marcador. Ado tando este procedimento teremos garantia, a menos de um pequeno er- FO, que o tempo comecaraé a ser contado a partir do instante em que © movimento se inic A Fig. 6 mostra o aspecto que tera a fita a POS uma corrida. A etapa seguinte é obter, a partir dos dados extrafdos da fita, grdficos do deslocamento angular 8 contra t*, que no caso serdo retas passando (ou quase) pela origem, conforme ilustra a Fig. 7. A aceleracao angular procurada (¢) sera o dobro da inclinacao da reta. 25 1+ 30 TIQUES 148 TIQUES (2) (Bs) Fig. 6 - Pedago de uma fita correspondente a uma corrida. 0 conjun to maior de marcas escuras corresponde ao tempo que o [ma permaneceu encostado no aparador de madeira, uma vez liga do o marcador de tempo. 2 DISCOS | as FORGA * 04 Unid POLIA DE 60 mm @ (red) Fig. 7 - Dependéncia entre o deslocamento angular e o tempo, quando tres discos sao acelerados 4s custas de uma forga de quat unidades, atuando tangencialmente na polia de 60mm ded metro. lero EXPERIENCIA 2: ACELERACAO ANGULAR E TORQUE Com esta experiéncia pretendemos mostrar qual é o agente res ponsavel pela aceleracao angular. A experiéncia é dividida em duas partes. Na primeira, um disco é acelerado por forcas variando de | a 5 unidades e atuando no barbante enralado sempre numa mesma polia. Na segunda parte uma mesma forca é aplicada sucessivamente nas po- 26 lias de 20,30, ..., 60mm de didmetro. Resultados tfpicos estao re presentados nos graficos das figuras Ba e Bb. A partir destes g icos © aluno & levado a concluir que, Fi xado o nimero de discos, i) $ & proporcional & forga (F), quando se utiliza sempre a mesma polia, e ii) ¢ @ proporcional ao didmetro da polia e, portanto, a0 raio (r), quando se aplica sempre a mesma for ca. De i) e ii) pode concluir, finalmente, que o © ror (Tanto na 12 quanto na 2 parte, comecamos o experimento escolhendo um torque unitdrio. Se esse torque for muito maior que o torque mi nimo necessario para movimentar o(s) disco(s), as retas passarao pra ticamente pela origem; € o que aconteceu na Fig. 8. Caso contrarlo as retas poderao passar a direita da origem, o que nao invalida, en tretanto, a conclusao final). Com isso mostramos que o agente responsadvel pela aceleracao angular € 0 produto rF que é definido como o torque (Tt). Resumindo: rer EXPERIENCIA 3: ACELERACAO ANGULAR E MOMENTO DE INERCIA Com esta experiéncia pretendemos responder a questao: Que grandeza, na rotacao, faz o mesmo papel da massa inercial na trans- ago? Para auxiliar na resposta lembramos aos alunos, seguindo o esse!) tramos para acelerar um corpo numa certa direcao, na qual nao esteja , que a massa inercial & uma medida da dificuldade que encon sujeito a qualquer vinculo. Na rotacdo, da mesma forma, podemos de finir o momento de inércia como uma medida da dificuldade que encon tramos para girar um corpo em torno de um eixo pré-fixado. Para que percebam que momento de inércia e massa inercial sao coisas distin- tas, mostramos que dois discos de mesma massa, mas de dimensdes di- ferentes, adquirem aceleracoes diferentes, quando submetidos a tor- ques iguais. Admitimos, também, que momentos de inércia se adicio- nam da mesma forma que massas inerciais, isto &, admitimos que dois discos idénticos tém, em relagao a um eixo dado, o dobro do momento de inércia que tem um disco. Para estabelecer a relagao entre a aceleracao angular (¢) e © momento de inércia (1) pedimos que, seguindo o procedimento da ex periéncia 1, acelerem sucessivamente conjuntos de 1,2,...,5 dis- cos idénticos, aplicando sempre um mesmo torque. Como a aceleracao angular © 0 momento de inércia obedecem a alguma relacao inversa ten 27 biscos : 01 POLIA DE 30 mm S = {s o1scos | 03 FORGA 04 Unidades B (rod / 07) 20 30 “0 DIAMETRO (mm) (b) Fig. 8 - Dependéncia entre a aceleragao angular (a) de um disco e¢ a forca, quando atua na polia de 30mm de didmetro e (b) de trés discos e 0 diametro da polia, quando uma forga de qua tro unidades atua tangencialmente na polia. 28 tamos um grafico (o mais simples) de 1/¢ contra o numero de discos (por que nao fazer $ contra 1/n? de discos?). A Fig. 9 mostra um resultado tfpico. Fig. 9 - Dependéncia entre a aceleracao angular eo nimero de discos. Se 0 aparelho, sem os discos, nao tivesse um momento de Inér. cia proprio a reta passaria pela origem. A partir deste fato pode- mos concluir que 1/$ = n@ de discos e, portanto, que ¢= I/l. Reu- nindo este resultado com o obtido na Exp. 2 ($= 1) conclufmos, fi- nalmente, que ¢=t/I e, se for escolhido um sistema de unidades conveniente, a relacao entre as trés grandezas sera escrita como Tie. EXPERIENCIA 4: DE QUE DEPENDE 17 Na experiéncia anterior, o aluno ja percebeu que o momento de Ercia de um corpo rigido em relacgao a um elxo depende da forma co mo sua massa esté distribuida em torno do eixo. Logo, o momento de inércia de uma particula deve depender do quanto ela esta distante do eixo de rotacao. Comegamos, entdo, com um elemento de massa dm a uma distan cia rf do eixo. Hantendo r constante, 1*Am pois momentos de inér 29 cla se adicionam como massas Inerciats. Mantendo Am constante, In- vestigamos a dependéncia entre | er medindo as aceleracées angu- lares de um pequeno bloco de latdo, colocado em diferentes pontos de uma barra fixa no prato do aparelho (na verdade, utilizamos duas mas sas colocadas em posicdes simétricas em relacao ao eixo de rotagao) . Em seguida, obtemos um grafico de 1/$ contra r*. A figura 10 mos tra um resultado tipico. 800 r® (em) Fig. 10 - Dependéncia entre a aceleracao angular de um elemento de massa Am e sua distancia ao eixo de rotacao. Se o aparelho, uma vez exclufdo o elemento de massa Am, nao tives- se um momento de inércia proprio a reta passaria pela origem, dal po dermos dizer que 1/¢=r?. Como, para um torque constante, eet, conclufmos que 1«r?, esta forma o momento de inércia do elemen to dm a uma distancia ¢ do eixo sera proporcional & r2.Am. EXPERIENCIA 5: MOMENTO ANGULAR Podemos associar a um corpo rfgido, glrando em torno de um eixo fixo, alguma grandeza andloga ao momento linear? Se isto for PossTvel, por analogia com a definigao de momento linear, deverd ser ‘gual a lw .e deverd se conservar, se o torque externo resultante atuando no sistema for nulo. Seja,,entéo, L= lw a nova grandeza, 30 denominada momento angular. A experiéncia mais simples que podemos idealizar para veri- ficar a conservagao do momento angular é equivalente a Exp. 111-9 do pssc(>), em que um tijolo € deixado calr sobre um carrinhe em covi. mento. $6 que agora delxamos cair um disco sobre um outro que est girando, fixo no prato B 3s custas de um pino (Fig. 11), © medimos as velocidades angulares do conjunto antes © apés a colisio. Calcu Jando © momento angular do sistema antes e apés a colisio saberemos se houve conservacao (o momento de inércia do conjunto sem discos po de ser incluido nos cdlculos, pois & conhecido como uma fragao do oy mento de inércia de um dos discos, a partir do grafico da Fig. 9). Nos testes que efetuamos @ diferenca entre os momentos angulares fi nal_e inicial do sistema no chega (em geral) a 2% do momento angu- lar Intcial, Para velocidades grandes a diferenga & menor que 1%. UE ELLZZZZZZL NA 11 - Arranjo experimental para uma experiéncia de colisao. 4. DISCUSSAO FINAL | A Finalidade das experiéncias deseritas € introduzir os con seitos basicos de dindmica das rotagdes para que o professor nas au las de teoria tenha condigdes de desenvolver formalmente o assunto com mais proveito. Se conseguirmos isto o objetivo teré sido atin- gido. A sequéncia adotada nao pretende esgotar o tema, mesmo porque 2 maquina idealizada nao permite isso. Ela nao se presta, por exem plo, para explorar a natureza vetorial do momento angular e do tor- que. Em nossa escola a programacao do laboratério tem sido feita em colaboracao com o professor de teoria que, em algumas ocasioes, fem participado como um elemento a mais da equipe. As trés primei- ras experiéncias ji foram testadas em 1982 © as duas restantes em 1983. Este primeiro teste nos mostrou que é possivel Programar as trés primeiras para duas sessdes de laboratério (de 4h cada una, sen 31 do que uma hora em cada sessao é reservada para discussdes). Para cumprir toda a sequéncia esta previsto um total de trés sessdes de laboratorio. Um fato digno de nota € que a montagem em si e o funcionamen to de seus diversos componentes tém despertado grande interesse nos alunos, que levantam questdes ou tentam aplicar a maquina em outras situacgdes. Outro fato positive é que, mesmo sem muito esforco, os resultados obtidos sao bons, de modo que nao é preciso "forgar" as respostas; os alunos, de maneira geral, saem satisfeitos pelo fato de terem participado de uma experiéncia que "deu certo". E se o re- sultado n3o é aquele esperado, toda a experiéncia pode ser repetida rapidamente. Para finalizar, resta dizer que esta maquina pode também ser usada para medir momentos de inércia, conduzindo a resultados com um erro maximo de 10%. Agradecemos a Comissdo de Projetos Especiais da UNESP pela ajuda financeira recebida e ao aluno Carlos H. Bonadio, que construiu os protétipos e ajudou a testa-los, pela dedicacgdo e empenho demons trados. Agradecemos, também, aos professores Roberto N. Domingos e Gilson Coutinho Jr., por se disporem a testar os aparelhos com seus alunos, e ao Prof. Dr. Alfredo P.N.R. Galedo pelas discusses iteis que manteve conosco durante toda a fase da elaboracao deste artigo. Se n3o fossem essas colaboracées, o projeto nao teria sido levado a cabo. REFERENCIAS (1) PSSC (Physical Science Study Committee) - FI 1967, parte !I1, p. 160-186. (2) PSSC - Physics: Advanced Topics Supplement. Boston, D.C. Heath and Company, 1966, p. 153-6. (3) HESSEL, R. - "Novas aplicagoes para o marcador de tempo do PSSC'". Rev. Ens. Fis., 3(2), 1981, p. 26-38. (4) Ref. 1, p. 17-20. (5) Ref. 1, p. 177-8. jo Paulo, EDART, 32

You might also like