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CAPITULO 1 Neurociéncias: Passado, Presente e Futuro INTRODUGAO AS ORIGENS DAS NEUROCIENCIAS {A Visio do Encéfalo na Grécia Antiga {A Visio do Encéfalo durante o Império Romano {A Visio do Encétalo da Renascenga ao Século XIX {A Visto do Sistema Nervoso no Sécullo XIX ‘Nervos como Fios Localizagdo de Fungdes Especiicas em Diferentes Partes do Encéfalo A Evolugao do Sistema Nervoso ‘ONeurénio: A Unidad Funcional Bésica do Encéfalo AS NEUROCIENCIAS HOJE Nivels de Analise ‘Neurociéncias Moleculares Nourociéncias Celulares Neurociéncias de Sistemas ‘Neurociéncias Comportamentais Neurooiéncias Cognitivas Os Neurocientistas Veriicagao (© Uso de Animais na Pesquisa em Neurociéncias (0s Animals Bemn-estar dos Animais Direitos dos Animas © Custo da Ignorancia: Distirbios do Sistema Nervoso CONSIDERAGOES FINAIS INTRODUGAO Ohomem deve saber que de nenhum outro lugar, mas apenas do encéfalo, vem a alegria, o prazer,o riso ea diversi, o pesar e o luto,o desalento e a lamentagéo. E por meio dele, de uma maneira especial, nés adquirimos sabedoria e conheci- ‘mento, enxergamos € ouvimos, sabemos o que & justo e injusto, 0 que é bom e o que Eruim, 0 que é doce e 0 que & insipido... E pelo mesmo brgao nos tornamos loucos e delirantes, e medos e terrores nos assomibram... Todas essas coisas més temos de suportar quando o encéfalo nao estd sadio... Nese sentido, opino que é 0 encéfalo quem exerce o maior poder no homem. ~ Hipberaes, Da Doe Sagrada (Steulo TV AC) £E da natureza humana sermos curiosos a respeito de como vemos e ouvimos, do porque de algumas coisas serem prazerosas, enquanto outras nos magoam, do modo como nos movemos, raciocinamos, aprendemos, lembramos e esque- cemos, da natureza da raiva e daloucura. A pesquisa em neurociéncias esta des vvendando esses mistérios, eas conclusdes desses estudos sio o tema deste livro, ‘A palavra “neurociéncia” & jovem. A Society for Neuroscience*, uma asso- ciagio que congrega neurocientistas profissionais, foi fundada hé pouco tempo, em 1970. O estudo do encéfalo™, entretanto, é tao antigo quanto propria cién- cia, Historicamente, os neurocientistas que se devotaram & compreensio do sis- {ema nervoso vieram de diferentes disciplinas cientificas: medicina, biologia, psicologia, fisica, quimica e matemitica. A revolugao nas neurociéncias ocorreu quando esses cientistas perceberam que a melhor abordagem para a compreen so de como funciona o encéfalo vinha de um enfogue interdisciplinar, a com- binagdo de abordagens tradicionais visando produzir uma nova sintese, uma nova perspectiva. A maioria das pessoas envolvidas na investigagio cientifica do sistema nervoso considera-se, hoje, neurocientista. claro que, enquanto 0 curso que voce esté fazendo pode estar mais ligado ao departamento de psico logia ou de biologia de sua universidade e pode chamar-se de “psicobiologia’ ou “neurobiologia’, pode apostar que o seu professor € um neurocientista ‘A Society for Neuroscience é uma das maiores associagGes de cientistas e também uma das que mais rapidamente crescem***, Longe de ser muito espe- cializada, seu campo & tio amplo quanto das cigncias naturais, com 0 sis- tema nervoso servindo de denominador comum. Compreender como funciona © encéfalo requer conhecimento acerca de muitas coisas, desde a estrutura da molécula de agua até as propriedades elétricas ¢ quimicas do encéfalo ea razio pela qual o cio de Pavlov salivava quando uma campainha tocava. Este livro estuda o encéfalo a partir dessa perspectiva, que é bastante ampla. ‘Comecaremos nosso estudo com um breve passeio pelas neurociéncias. O que tém pensado os cientistas acerca do sistema nervoso ao longo dos anos? Quem sio os neurocientistas de hoje e como eles abordam o estudo do sistema nervoso? AS ORIGENS DAS NEUROCIENCIAS ‘Voce provavelmente jé sabe que o sistema nervoso ~ 0 encéfalo, a medula espi- hal ¢ os nervos do corpo ~ & crucial para a vida e permite que vocé sinta, se mova e pense, Como surgiu essa concepgio? 8. dT SN - Sociedade pra as Nearaciénci redid em Washington HN: deT. A expresso brain slic em Inglés, “encll” compreende ociehropropriamente sito (o poset), a mesenttil,o ceeben eo ronca ene, on sj, doo ques a0 rig da éraniana (ver Figur 7), No Bra, € comm trai se brain por “rbro qe esterases ‘surg em que ese decode terminoligco tolerivel sem textos de pecologi buna, ums vex ge principe trdages ments uperiorestém se no prosendal ie, no see "SON, deT No Brat existea SBNeC ~ Sociedade Brailes Se Nesroienciae¢ Comporamento, que € ums das que mais rescem no ol das sociedadescemifas de bloga experimental (wwwlesbe org brsboee) CAPITULO 1 Nouroct Ha evidéncias que sugerem que até mesmo nossos ancestrais pré-histi cos compreendiam que o encéfalo era vital para a vida. Registros arqueolégicos incluem muitos crénios de hominideos, datando de um milhao de anos atrés, ou ‘mais, e que apresentam sinais de traumatismo craniano fatal, provavelmente cau- sado por outros hominideos. Ha cerca de 7 mil anos, as pessoas jé perfuravam os cranios uns dos outros (um processo denominado trepanagao), evidentemente no com o objetivo de matar, mas de curar (Figura 1.1). Esses cranios mostram sinais de cicatrizacio pés-operatéria, indicando que esse procedimento tera sido executado em individuos vivos e néo em um ritual ocorrido pés-morte. Alguns individuos aparentemente sobreviveram a miitiplas cirurgias cranianas, Nao esté claro 0 que os cirurgides dessas épocas esperavam conseguir, embora se tenha especulado que esse procedimento poderia ser utilizado para tratar cefaleias ou transtornos mentais,talvez oferecendo aos maus espfritos uma rota de escape, Eseritos recuperados de médicos do Egito antigo, datando de quase 5 mil anos atrés, indicam que eles ja estavam bastante cientes de muitos dos sintomas de lesdes encefilicas, No entanto, também esta claro que, para eles, 0 coracao, € nao o encéfalo, era a sede do espirito e o repositério de memérias. De fato, enquanto o resto do corpo era cuidadosamente preservado para a vida apés a ‘morte, 0 encéfalo do morto era removido pelas narinas e jogado fora. O ponto de vista que sugeria ser 0 coracio a sede da consciéncia e do pensamento per- ‘maneceu até a época de Hipécrates. A Visao do Encéfalo na Grécia Antiga Considere a nogio de que as diferentes partes de seu corpo sio diferentes por: que servem a diferentes propésitos. As estruturas dos pés e das maos, por exem- plo, sio muito diferentes, pois realizam fungdes distintas: podemos andar sobre nossos pés e manipulamos objetos com nossas maos. Assim, parece haver uma clara correlasdo entre estrutura e fungio, Diferengas na aparéncia predizem dife- rengas na fungio. (© que podemos prever sobre a fungdo da cabega observando sua estrutura? Uma inspegio répida e poucos experiments (p. ex, fechar os olhos) revelam que a cabeca é especializada para perceber o ambiente com os olhos e ouvidos, onariz.ea lingua, Mesmo uma disseccio grosseira pode tracar os nervos a par- tir desses érgaos através do cranio, até entrarem no encéfalo. O que vocé pode concluir do encéfalo a partir dessas observacbes? Se sua resposta é que o encéfalo é 0 érgio das sensagées, ento voc’ chegoua ‘mesma conclusio de muitos eruditos gregos do século IV a.C. O mais influente deles foi Hipécrates (460-379 a.C.), o pai da medicina ocidental, que acreditava que o encéfalo nao apenas estava envolvido nas sensagdes, mas que seria a sede da inteligéncia Entretanto, essa visio no era universalmente aceita. O famoso filésofo sgrego Aristételes (384-322 a.C.) ateve-se firmemente & crenga de que 0 coracao era o centro do intelecto. Qual fungao Aristételes reservava para o encéfalo? Ele acreditava que o encéfalo era um radiador, cuja finalidade seria resfriar 0 san- gue que se superaquecia com o coragao que fervilhava. O temperamento racio- nal dos seres humanos era entio explicado pela grande capacidade de resfria- ‘mento do encéfalo A Visao do Encéfalo durante o Império Romano AA figura mais importante na medicina romana foi o escritor e médico grego Galeno (130-200 d.C.), que concordava com a ideia de Hipécrates sobre o encé- falo, Como médico dos gladiadores, ele provavelmente testemunhou as infeli- es consequéncias de lesGes cerebrais e da medula espinhal. Contudo, as opi- nides de Galeno acerca do encéfalo foram certamente mais influenciadas por suas muitas € cuidadosas dissecgdes de animais, A Figura 1.2 ilustra o encéfalo AFIGURA1.1 Evidencia de cirurgia encetalica pré- -historiea. Este erdno, de um homem FIGURA 1.7 ‘Subdiviséo anatémica bésica do sistema nervoso. O sis- tema nervoso consiste em duas divsées, 0 sistema nervaso central (SNC) @ 0 sistema nervoso periféico (SNP). O SNC cconsiste no encdfalo e na mecula espinnal. As trés partes Drncipais do encéiaio sAo: 0 cérebro, 0 cerebela #0 tronco ‘encatlco, O SNP consiste em nenvos o células nervosas que se stuam fora do encéfalo e da medula espinhal Labo temporal carbelo AFIGURA18 0s lobos do cérebro. Observe a pro- funda ‘issura de Syivius, dvicindo 0 060 frontal do lobo temporal eo sulco Centra, dudindo o lobo frontal do lob pavietal. 0 lobo occiptal situa-se na parte posterior do cérebro. Essas mar- ‘eas podem ser encontradas em todos (08 cbrabros do sores humanos, caitu.o+ Newcoéross Passo roanee reve ET Nervos como Fios. im 1751, Benjamin Franklin publicou um panfleto inti- tulado Experimentos ¢ Observacées em Eletricidade, que levou a uma nova com- preensio dos fen6menos elétricos. Na virada do século, ocientista italiano Luigi Galvani ¢ 0 bidlogo alemao Emil du Bois-Reymond haviam mostrado que os miisculos podiam ser movimentados quando os nervos eram estimulados ele- tricamente, e que o proprio encéfalo podia gerar eletrcidade. Essas descobertas finalmente derrubaram a nogio de que os nervos se comunicam com 0 encéfalo pelo movimento de fluidos. O novo conceito era de que os nervos eram como “fios” que conduzem sinais eétricos do e para 0 encéfalo. © problema nao resolvido era se os sinais responséveis pelo movimento nos ‘iisculos utilizavam os mesmos “fios” que registravam a sensagio na pele. Uma comunicasao bidirecional por meio dos fios era sugerida pela observacio de que, quando um nervo do corpo é cortado, geralmente existe a perda simulta- nea da sensibilidade e do movimento na regido afetada, Entretanto, também se sabia que em cada nervo do corpo ha muitos filamentos finos, ou fibras nervo- sas, cada um deles podendo servir como um “fio” individual, carregando infor- ‘magio em diferentes sentidos. Essa questio foi respondida por volta de 1810, por um médico escocés, Charles Bell, e um fisiologista francés, Francois Magendie. Um fato anatémico curioso € que, logo antes de se ligarem & medula espinhal, as fibras dividem-se em duas ramificagdes, ou raizes. A raiz dorsal entra na poreao posterior da medula espi- nnhal e a raiz ventral entra na medula mais anteriormente (Figura 1.9). Bell tes- tou a possbilidade de que essas duas raizes espinhais carregassem informagies em diferentes sentidos, cortando cada raiz separadamente e observando as con- sequéncias em animais experimentais, Ele observou que, cortando somente a5 raizes ventrais, havia paralisia muscular, Posteriormente, Magendie demonstrou que as raizes dorsais levavam informagies sensoriais para a medula espinhal. Bell Magendie concluiram que, em cada nervo, existia uma mistura de muitos “fos” alguns deles carregando informagio para o encéfalo e para a medula espinhal, ¢ 4 FIGURA1.9 Nervos espinhais e raizes nervosas ‘espinhais. Tirta um pares deneros eixam a medula espinal para ner vara pale @ os misculos. A secqao do "um nerve espinal promove a parda da ‘sensagao @ dos mavimentos na afetada do corpo. As foras sensoriais {que chegam (er vermetho) as fbras ‘motores que saem (em azu) 68 diver ‘em razes espinhais nos pontos em que ‘08 nervos se igam & medula espinha Boll © Magenaie obsorvaram que as ‘alzes ventas contém somente fibras ‘motores, © as raizes. doreas. contém ‘apenas fibras sensorals PARTE! Fundamertos ‘A FIGURA 1.10 Um mapa frenolégieo. De acordo com Gall ¢ seus sequidores, ateren- tes iragos do comportamento humana festaram relacionados com 0 tamanho de diferentes pares do cranio, Fonte: Carne @ O'Maley, 1968, Fig. 118) ‘A FIGURA 1.11 Paul Broca (1824-1880). Estudan- {do culdadosamente o encétalo de um hhomem que perdera a capacidade de falar depos de uma lesao. cerebral (Wer Figura 1.12), Broca convenceu- se de que diterentes fung6es podiam estar localzadas em cerentes partes {do cbrebro. (Fonte: Cacke ¢ O'Malley, 1968, Fig. 121.) outros levando informagio para os miisculos, Em cada fibra motora ou senso rial, a transmissio se dava exclusivamente em um tinico sentido. Os dois tipos de fibras aparecem unidos na maior parte da extensio do feixe, mas esto anatomi camente segregados quando entram ou saem da medula espinbal Localizagao de Fungées Especificas em Diferentes Partes do Encé- falo. Se diferentes fungdes estio localizadas em diferentes raizes espinhais, entio diferentes fungdes também poderiam estar localizadas em diferentes regides do encéfalo, Em 1811, Bell propés que a origem das fibras motoras era o cerebelo, ¢ 0 destino das fibras sensoriais era 0 cérebro, ‘Como se poderia testar essa proposta? Uma manera seria usar a mesma estra- tégia que Bell e Magendie utiizaram para identificar as fungdes das raizes espi- nhais: destruir essas partes do encéfalo e testar a ocorréncia de déficits motores e sensoriais. Essa abordagem, na qual partes do encéfalo sio sistematicamente destruldas para determinar sua fungio, é denominada método de ablagdo experi- ‘mental, Em 1823, 0 estimado fisiologista francés Marie-Jean-Pierre Flourens uti- lizou esse método em diferentes animais (sobretudo em péssaros) para mostrar que o cerebelo realmente tem um papel na coordenacio dos movimentos. Ele também concluiu que o cérebro estava envolvido na percepcio sensorial, como Bell e Galeno j4 haviam sugerido. Diferentemente de seus antecessores, porém, Flourens apoiou suas conclusdes em um s6lido embasamento experimental Eo que dizer a respeito das circunvolugdes na superficie do encefalo? Teriam clastambém diferentes fungdes? Essa ideia era iresistivel para um jovem estudante de medicina austriaco, chamado Franz Joseph Gall. Acreditando que as saligncias na superficie do cranio refletiam circunvolugdes na superficie do encéfalo, Gall propos, em 1809, que a propensio a certos tragos de personalidade, como a gene- rosidade, a discrigéo ou a destrutividade, podia estar relacionada com as dimen- ses da cabega (Figura 1.10). Para sustentar sua alegacio, Galle seus seguidores coletaram e mediram cuidadosamente o crinio de centenas de pessoas, represen tando uma grande variedade de tipos de personalidades, desde os muito talento s0s até criminosos psicopatas. Essa nova ‘cigncia’, que relacionava a estrutura da cabega com tragos de personalidade, foi chamada de frenologia. Embora as alega- 58es dos frenologistas nunca tenham sido levadas a sério pela comunidade cien- tifica, eles realmente tomaram a imaginasao popular da época. De fato, um livro texto de frenologia, publicado em 1827, vendeu mais de 100 mil cépias. Um dos criticos mais acirrados da frenologia foi Flourens, o mesmo homem. que havia demonstrado experimentalmente que 0 cerebelo € o cérebro reali- zavam diferentes fangdes. Suas criticas eram bem fundamentadas. Para come «an o formato do crinio no se correlaciona com o formato do encéfalo. Além disso, Flourens realizou ablagées experimentais, mostrando que determinados tracos nio estio isolados em porgdes do cérebro especificadas pela frenologia Flourens também defendia, contudo, que todas as regides do cérebro partici. pam igualmente de todas as fungoes cerebrais, uma concluséo que posterior- ‘mente se mostrou errénea. ‘A pessoa a quem é geralmente atribuido o mérito de influenciar a opiniao da comunidade cientifica em relacao ao estabelecimento da localizacio das fungdes cerebrais foi o neurologista francés Paul Broca (Figura 1.11). Broca foi apresen- {ado a um paciente que compreendia a linguagem, mas era incapaz.de falar. Ap6s a morte do paciente, em 1861, Broca examinou cuidadosamente o encéfalo deste e encontrou uma lesio no lobo frontal esquerdo (Figura 1.12). Com base nesse caso e em muitos outros casos semelhantes, Broca concluiu. que essa regio do cérebro humano era especificamente responsével pela produgo da fala, Experimentos consistentes realizados a seguir ofereceram suporte &ideia da localizasao das fungSes cerebrais em animais. Os fisiologistas alemaes Gustav Fritsch ¢ Eduard Hitzig mostraram, em 1870, que a aplicagio de uma pequena cAPiruL0 1 Nescobres: Pssaa, Peat Fro corrente elétrica em uma regido circunscrita da superficie cerebral exposta de um cio podia promover movimentos especificos. neurologista escocés David Ferrier repetiu esse experimento com macacos. Em 1881, ele mostrou que a remogo dessa mesma regido do cérebro causava paralisia muscular. Da mesma forma, o fisilogista alemao Hermann Munk, utilizando o método da ablacio experimental, apresentou evidéncias de que 0 lobo occipital do cérebro estava envolvido especificamente na visio. ‘Como veremos na Parte II deste livro, hoje sabemos que existe uma clara diviséo de trabalho no cérebro, com diferentes partes realizando fungées bem distintas, O mapa atual da divisio de fungdes cerebrais rivaliza mesmo com 0 mais elaborado dos mapas produzidos pelos frenologistas. A grande diferenca € que, a0 contririo dos frenologistas, os cientistas de hoje exigem evidéncias experimentais s6lidas antes de atribuir uma funcéo a uma porgao do encéfalo. Ainda assim, Gall parece ter tido, em parte, uma ideia geral correta. E natu- ral nos questionarmos por que Flourens, 0 pioneiro da localizagio das fun- bes cerebrais, foi levado a crer que o cérebro agia como um todo e nao podia ser subdividido. Esse talentoso experimentalista pode ter perdido a ocasiao de observar a localizagao cerebral por muitas diferentes raz6es, mas parece claro «que uma das razdes era seu desdenho visceral por Gall pela renologia. Ele nao podia concordar nem remotamente com Gall, a quem considerava um lunstico. Isso nos recorda que a ciéncia, para o melhor ou para o pior, era e ainda é um tema sujeito tanto aos dons quanto as fraquezas da natureza humana. ‘AEvoluedo do Sistema Nervoso. Em 1859, obidlogo inglés Charles Darwin (Figura 1.13) publicou A Origem das Espécies. Esse trabalho seminal articula uma teoria da evolucdo: cada espécie de organismo evoluiu de um ancestral comum. De acordo com essa teoria, as diferengas entre espécies surgem por um processo que Darwin denominou selegdo natural, Como resultado do meca- nismo de reprodusao, os tragos fisicos dos filhos algumas vezes sio diferentes dos tragos de seus pais. Se esses tragos assegurarem uma vantagem paraa sobre- vivencia, a propria prole apresentaré maior probabilidade de sobreviver e repro- duzir, assim aumentando as chances de que os tracos vantajosos sejam passa- dos para as proximas geragdes. Ao longo de varias geragdes, esse processo levou ao desenvolvimento de tracos que distinguem as espécies hoje: nadadeiras nas focas, patas nos cdes, maos nos guaxinins,e assim por diante, Essa simples com- preensio revolucionou a biologia. Hoje, evidéncias cientificas em muitos cam- pos, da antropologia A genética molecular, apoiam de forma esmagadora a teo- ria da evolugio pela selesao natural. Darwin incluiu 0 comportamento entre os tragos herdados que poderiam evoluir. Por exemplo, ele observou que muitas espécies de mamiferos apresen- tam as mesmas reagées quando amedrontadas: aumento das pupilas dos olhos, aumento dos batimentos cardiacos, piloerecio, Isso € verdadeiro para 0 ser hhumano assim como para o cio. Para Darwin, as similaridades nesse padrio de resposta indicavam que essas diferentes espécies evoluiram de um ancestral comum, que possufa o mesmo trago de comportamento, 0 qual era vantajoso, presumivelmente porque facilitava a fuga de predadores. Como 0 comporta- ‘mento reflete a atividade do sistema nervoso, podemos inferir que os mecanis- ‘mos encefélicos que formam a base dessa reagio de medo devem ser similares, se nio idénticos, entre as espécies. ‘A ideia de que o sistema nervoso de diferentes espécies evoluiu de ances- trais comuns e que, portanto, pode apresentar mecanismos comuns € 0 racional para relacionar os resultados em experimentos em animais com os realizados em setes humanos. Por exemplo, muitos dos detalhes da condugao do impulso elétrico ao longo de fibras nervosas foram descobertos primeiro na lula, mas hoje se sabe que se aplicam igualmente para seres humanos. Grande parte dos Sula cena 4 FIGURA1.12 (0 encéfalo que convenceu Broca da localizagio de fungées no cérebro, Esse 6 0 encélalo preservado de um ppaciente que perdeu a capacidade de falar antes de mores, om 1861. A lo- ‘slo que produziu esse défct est in- dicada no circu. (Fonte: Corsi 1891, Fig.l 4) A FIGURA 1.13 ‘Charles Darwin (1809-1882). Darwin rop8s a Teoria da Evolucto, expican {do que as espcies evaluemm por um pprocesso de selegto natural. Fonte: ‘Arquivo Bettman) PARTE Fundamentos Tem on (@) Encéfalo de macaco Som We ss (©) Encétalo de rato ae A FIGURA1.14 Diferentes especializagées enceflicas om macacos e ratos. (a) © ancétalo de un resus possi um geneo de visio bastante evoluide. A regio no quadro em destaqu informagées dos ohos. Quando essa regio ¢ seccionada e corada para que se possa vsual- 2arotecido melabolcamente ato, um mostica de “boas” aparece, Os neurnios derizo das bohas so especiaizados para a anise de cores no mundo visual.) O encétalo do um rato oss um senso ttl atamente evaludo na face. A regio no quadro em destaque recebein- formacéo das vbrssas. Quando essa regio 6 seccionada e corada para mostrar alocaizacéo {60s nourbnis, um mosaico de "bars" aparece. Gada bart 6 especialzado em recabersinais {60 uma Grea vbrissana face do rato. (As fotomicrografas so cortsia do br. SH.C. Hendy.) neurocientistas atuais usa modelos animais para examinar processos que eles querem compreender em seres humanos, Por exemplo, os ratos mostram claros sinais de dependéncia quimica se lhes for dada a chance de autoadministrarem cocaina repetidamente. Como consequeéncia, ratos sao excelentes modelos para estudos que visam compreender como as drogas psicoativas exercem seus efei tos sobre o sistema nervoso. Em contrapartida, muitos tragos comportamentais sao altamente especiali- zados para o ambiente (ou nicho) que uma espécie ocupa. Por exemplo, maca cos que saltam de galho em galho tm um sentido de visio muito apurado, a0 Passo que ratos andando furtivamente em tiineis subterrineos tém uma visio fraca, mas um tato altamente desenvolvido por meio de suas vibrissas. Essas adaptagdes se refletem na estrutura e nas fungdes do encéfalo de cada espécie Comparando as especializagées dos encéfalos de diferentes espécies, os neuro- cientistas foram capazes de identificar quais partes do encéfalo eram responsi- veis pelas diferentes fungdes comportamentais. Exemplos em macacos e ratos so mostrados na Figura 1.14 © Neurénio: A Unidade Funcional Basica do Encéfalo. O refinamento do microscépio no inicio do século XIX proporcionou aos cientistas sua pri- meira oportunidade de examinar tecidos animais em magnificages maiores. Em 1839, 0 zodlogo alemao Theodor Schwann propés aquilo que viria a ser conhecido como feoria celular: todos os tecidos sio compostos por unidades ‘microscépicas, denominadas células, Embora as células no encéfalo tenham sido identificadas e descritas, na poca ainda havia controversia ¢ era discutido se a “célula nervosa” individual CAPITULO 1 Nouroct tera de fato a unidade basica para a fungio encefilica, As células nervosas comu: ‘mente tém um determinado niimero de projegdes ou processos finos, que se estendem a partir de um corpo celular central (Figura 1.15). Inicialmente, os cientistas nao eram capazes de decidir se os processos de células diferentes se fundiam, como fazem os vasos sanguineos no sistema circulatério, Se eles se fundissem, o termo “rede nervosa” de células neurais conectadas poderia repre- sentar a unidade elementar da fungao encefilica, © Capitulo 2 apresenta uma breve histéria de como essa questo foi resol- vida. E suficiente dizer que, por volta de 1900, a célula nervosa individual, hoje chamada de neurénio, foi reconhecida como a unidade funcional bésica do sis- tema nervoso. AS NEUROCIENCIAS HOJE ‘A histéria moderna das neurociéncias ainda esta sendo escrita, e suas desco- bertas, até aqui, formam a base dest livro. Serao discutidas as descobertas mais recentes nos préximos capitulos. Antes, porém, veremos como a pesquisa em neurociéncias ¢ conduzida atualmente e a raz30 pela qual ela € tio importante para a sociedade. Niveis de Andlise A hist6ria demonstrou claramente que compreender como o encéfalo funciona um grande desafio. Para reduzir a complexidade do problema, os neurocien- tistas 0 fragmentaram em pedagos menores para uma andlise sistemsética expe- imental. Isso ¢ denominado abordagem reducionista, O tamanko da unidade de estudo define aquilo que é frequentemente denominado nivel de andlise. Em ordem ascendente de complexidade, esses niveis io: molecular, celular, de sistemas, comportamental e cognitivo. Neurociéncias Moleculares. O encéfalo tem sido considerado a mais com- plexa porgéo de matéria no universo, A matéria encefélica consiste em uma fantéstica variedade de moléculas, muitas das quais sio exclusivas do sistema nervoso, Essas diferentes moléculas tém diferentes papéis, os quais sio cruciais para a fungao do encétalo: mensageiros que permitem aos neurénios comuni- carem-se uns com os outros, sentinelas que controlam quais materiais podem entrar ou sair dos neurénios, guias que direcionam o crescimento neuronal, arquivistas de experiéncias passadas. O estudo do encéfalo nesse nivel mais ele ‘mentar é realizado pelas neurociéncias moleculares. Neurociéncias Celulares. © préximo nivel de anilise ¢ constituido pelas neurociéncias celulares, que abordam 0 estudo de como todas essas moléculas trabalham em conjunto para conferir aos neurénios* suas propriedades espe- ciais. Entre as perguntas formuladas nesse nivel temos: quantos diferentes tipos de neurénios existem e como eles diferem em suas fungées? Como 0s neurénios influenciam outros neurénios? Como os neurénios se interconectam durante o desenvolvimento fetal? Como os neurénios realizam as suas computacoes? Neurociéncias de Sistemas. Constelagdes de neurdnios formam circuitos complexos que realizam uma fungéo em comum, como a visio ou 0 movimento voluntario, Assim, podemos falar no “sistema visual” eno “sistema motor’, cada um possuindo seus préprios circuitos dentro do encéfalo, Nesse nivel de ané- lise, chamado de neurociéncias de sistemas, os neurocientistas estudam como diferentes circuitos neurais analisam a informagio sensorial, formam percep bes do mundo externo, tomam decisées e executam movimentos. *N, de Baseline, qo, junto com os neuénios, so dae principales elle no encflo (ver Capitulo 2) A FIGURA 1.15 Um desenho antigo de uma eélu- la nervosa. Publicado em 1865, este ‘desonho co anatomsta lomo Oto Doltre mostra uma eélula nervosa, ou neuro, © suas multas projegoes, de nominadas neuntos. Por um tempo, ‘eredtou-se que 08 neurtos de dere tes newénios pociam se fund, como 08 vvasos sanguineos do sistema cieulaté fo, Agora, sabomos que 08 neuSi0s ‘so entdades dstnta, que se comur nica ublzando sinas quimicos e olé tticos. Forte: Clarke © O'Matey, 1988, Fig, 16) Neurociéncias Comportamentais. Como os sistemas neurais trabalham juntos para produzir comportamentos integtados? Por exemplo, existe dife- rentes sistemas para executar diferentes formas de meméria? Onde, no encé- falo, agem as drogas que alteram a mente e qual éa contribuicdo normal desses sistemas para.a regulacéo do humor e do comportamento? Quais sistemas neu rais so responsiveis pelos comportamentos especificos de cada género? Onde slo criados os sonhos 0 que eles revelam? Essas sio questoes estudadas pelas neurociéncias comportamentais. Neurociéncias Cognitivas. Talvez o maior desafio das neurociéncias seja a compreensio dos mecanismos neurais responsiveis pelos niveis mais elevados de atividade mental humana, como a consciéncia, a imaginagio e a linguagem. Pesquisas nesse nivel, chamadas de neurociéncias cognitivas, estudam como a atividade do encéfalo cria a mente. Os Neurocientistas “Neurocientista’ é uma designacio que soa tio impressionante quanto “cientista espacial”. No entanto, todos nés, como voce, ja fomos estudantes um dia. Por algum motivo ~talvez porque quiséssemos saber a razo pela qual nossa visio era fraca, ou porque algum familiar tenha perdido a fala apds um acidente vascular encefilico (AVE) -, comecamos a compartilhar de um desejo de saber como fun ciona o encéfalo, Talvez vocé também venha a compartilhar conosco esse desejo. Ser um neurocientista é muito gratficante, mas néo é algo facil de alcan- sar; sio necessérios muitos anos de treinamento, Pode-se comegar ajudando a realizar pesquisas em um laboratério de pesquisa durante ou apés a faculdade e, entio, seguir para a pés-graduacio e obter um titulo de mestre ou doutor (ou ambos). Em geral, isso € seguido por anos de pds-doutorado, nos quais se aprendem novas técnicas ou maneiras de pensar, sob a supervisio de um neuro- cientistaestabelecido. Por fim, 0 "jovem” neurocientista esté pronto para iniciar seu trabalho em uma universidade, instituto ou hospital, ‘De maneira geral,a pesquisa em neurociéncias (assim como os neurocientistas) pode ser dividida em tréstipos: clinica, experimental” etedrica. A pesquisa clinica prineipalmente conduzida por médicos. As principais especialidades médicas dedicadas ao sistema nervoso humano sio: a neurologia, a psiquiatria, a neuro- cirurgia e a neuropatologia (Tabela 1.1). Muitos dos que conduzem as pesquisas clinicas continuam a tradigo de Broca, tentando deduzir as funges das varias regides do encéfalo a partir dos efeitos comportamentais de lesbes. Outros condu zem estudos para verificar 0s rscos ¢ 0s beneficios de novos tipos de tratamento Apesar do dbvio valor da pesquisa clinica, os fundamentos de todos os tra- tamentos médicos do sistema nervoso foram, e continuam sendo, baseados nas de Respectvamenterefrindo-se is ltcias aplicada (ella) eisea experinen TABELA 1.1 Especialidades Médicas Associadas ao Sistema Nervoso Espocialist Deseri Neurologista Um mécico treinado para dlagnosticare tratar de doenas do sistema nervoso Peiquiatra Um médico treinado para dagnosticare tratartranstornos {do humor @ do comportamento Neurocirurgido Um médico treinado para realizar cirurgia em encétalo @ ‘medula espinhal Neuropatologista _ Um médico ou outro profissional treinado para reconhecer as altragées no tecido nervoso que resultam de patologias, CAPITULO 1 Neuroct TABELA 1.2 Tipos de Neurocientistas Experi Tipo Deseri Neurobidiogo do desenvolvimento ‘Analisa 0 desenvolvimento ea maturagao do encéfalo Neurobid'ogo Usa o material genético dos neurénios para compreender molecular ‘8 estrutura@ a fungao das moléculas no encéfalo Neuroanstomista Estuda a estrutura do sistema nervoso Neuroquimico Estuda a quimica do sistema nervoso Neuroetéiogo Estuda as bases neurais de comportamentos animals, lespecifioos de cada espécie no seu habitat natural Examina 0s efeitos de farmacos sobre o sistema nervoso Mede a atvigade elética do sistema nervoso Estuda as bases biol6gicas do comportamento Neurofarmacologista Neurofisiologsta Psicobi6logo (Psicdlogo bio\6gico, Psicéioge fisilégico) Paicofsico ‘Avalia quantitativamente as capacidades de percepgio neurociéncias experimentais (ou bisicas), as quais podem ser realizadas por ‘médicos ou doutores em ciéncias, néo necessariamente formados em medicina ‘As abordagens experimentais utilizadas para se estudar 0 encéfalo sio tao amplas ue incluem quase qualquer metodologia concebivel. As neurociéncias sio alta- ‘mente interdisciplinares; expertise em uma determinada metodologia, contudo, pode diferenciar um neurocientista de outro, Desse modo, hé neuroanatomistas, «que usam microscépios sofisticados para tragar conexdes no encéfalo; newrofsio. Togistas, que utilizam eletrodos para avaliar a atividade elétrica no encéfalo; neu- rofarmacologistas, que utiizam farmacos para estudar a quimica da fungao ence- falica; neurobidlogos moleculares, que sondam 0 material genético dos neurénios, buscando informagées acerca da estrutura das moléculas no encéfalo;e assim por diante, A Tabela 1.2 lista alguns dos tipos de neurocientistas experiments. ‘A neurociéncia tedrica € uma disciplina relativamente jovem, na qual os pesquisadores utilizam ferramentas matemiticas e computacionais para com preender 0 encéfalo em todos os niveis de analise. Na tradi¢ao da fisica, os neu- rocientistastedricos tentam extrair um sentido das vastas quantidades de dados gerados pelos cientistas experimentalistas, com o objetivo de ajudar a focar os experimentos em questées de maior relevancia e estabelecer 0s principios mate- iticos da organizagao do sistema nervoso. O Processo Cientifico Neurocientistas de todas as disciplinas se esforgam para estabelecerfatos a res- peito do sistema nervoso. Independentemente do nivel de andlise que esco Tham, eles trabalham de acordo com 0 método cientfico, que consiste em qua. tro etapas essenciais: observacio, replicagao, interpretagio e verificacio. Observagao. As observagées sio geralmente realizadas durante experimen tos desenhados para {estar determinada hipstese. Bell, por exemplo, hipote- tizou que as raizes ventrais continham as fibras nervosas que controlavam os iisculos. Para testar essa ideia, ele realizou o experimento no qual seecionou essas fibras e observou se resultava alguma paralisia muscular ou nao. Outros tipos de observacio derivam de um atento olhar ao mundo a nosso redor, ou da introspecrio, ou de casos clinicos de seres humanos. Por exemplo, as observa bes cuidadosas de Broca o levaram a correlacionar uma lesio no lobo frontal esquerdo com a perda da capacidade de falar. Replicacdo. Qualquer observasio, seja experimental ou clinica, deve ser repli cada, Replicagao simplesmente quer dizer repetir 0 experimento em diferentes PARTE Fundamertos individuos ou fazer observacio similar em diferentes pacientes, tantas vezes quantas forem necessérias para se descartar a possibilidade de que o fato obser- vado tenha ocorrido apenas por acaso, Interpretago. Uma vez que o cientista acredite que a observacio ¢ correta, ele ‘interpreta. A interpretacio depende do estado de conhecimento (ou ignorincia) naquele momento histérico e das nogdes pré-coneebidas que o cientista tena. Asinterpretagées, portanto, nem sempre resistem ao teste do tempo. Por exemplo, no momento em que fez sua observasio, Flourens néo sabia que o cérebro de um pssaro era fundamentalmente diferente do de um mamifero, Assim, ele concluit erroneamente, a partir de ablagées experimentais em péssaros, que no existia a Tocalizagio de certas fungdes no eérebro de mamiferos. Além disso, como dis semos antes, seu profundo desprezo por Gall certamente influenciou essa inter: pretagio. A questio é que a interpretacio correta frequentemente nao é fita até muito tempo depois das observagves originais. De fato, grandes avangos as vezes ocorrem quando antigas observasées sio reinterpretadas sob uma nova luz. Verificagao. A tiltima etapa do processo cientifico é a verificagio. Essa etapa € distinta da replicagio que o pesquisador original realizou. A verificagio significa que a observasao ¢ suficientemente robusta para que qualquer cien tista competente, ao seguir precisamente os protocolos do observador original, poderé reproduzi-la. Em geral, uma verificagao bem-sucedida significa que a observagio é aceita como fato, Entretanto, nem todas as observacies podem ser verificadas, algumas vezes, devido a imprecises no artigo original ou a ‘uma replicagio insuficiente. Contudo, geralmente insucessos na verificagéo se devem a0 fato de que intimeras varidveis adicionais, como a temperatura ou a hora do dia, contribuiram para 0 resultado original. Assim, 0 processo de veri- ficagio, se afirmativo, estabelece novos fatos cientificos e, se negativo, sugere novas interpretagées para a observasio original Ccasionalmente, lemos na imprensa leigao relato de algum caso de “fraude cientifica’. Os pesquisadores precisam competir duramente por fundos de pes quisa limitados e sofrem consideravel pressio para “publicar ou morrer’. Por conveniéncia, uns poucos pesquisadores publicaram “observages” que, de fato, nunca foram feitas. Esses casos de fraude, porém, sio raros, gracas @ propria natureza do método cientifico. Em pouco tempo, outros cientistas percebem que sio incapazes de verificar a observagio fraudulenta e questionam como ela pode ter sido feita. © fato de este livro ter sido preenchido com tanto conhe- cimento acerca do sistema nervoso testemunha o valor do processo cientifico. O Uso de Animais na Pesquisa em Neurociéncias A maior parte do que sabemos sobre o sistema nervoso ver de experimen- tos realizados com animais. Na maioria dos casos, os animais sio mortos para que o encéfalo possa ser examinado pela neuroanatomia, neurofisiologia e/ou neuroquimica. O fato de que os animais sao sacrificados para 0 conhecimento hhumano levanta questdes a respeito da ética da pesquisa com animais, Os Animais. Inicialmente, coloquemos o assunto em perspectiva histérica ‘Ao longo da histdria, os seres humanos consideraram os animais € os seus pro- dutos como fontes renovaveis de recursos que podem ser utilizados para ali mento, vestimenta, transporte, recreacio, esporte ¢ companhia. Os animais utilizados para pesquisa, educagao e testes foram sempre uma pequena fragio daqueles utilizados para outros propésitos. Nos Estados Unidos, por exemplo, 0 riimero de animais utilizados em todos os tipos de pesquisa biomédica & muito pequeno, se comparado a0 niimero de animais mortos para servirem de ali ‘mento, O nimero usado especificamente para a pesquisa em neurociéncias, por suia vez, € muito menor. CAPITULO 1 Neuroct Experimentos em neurociéncias sio conduzidos utilizando varias espécies diferentes, desde caramujos até macacos. Em geral, aescolha da espécie é ditada pela questio sob investigagio, o nivel de anélise € o grau em que 0 conheci- mento a ser gerado pode ser relacionado com seres humanos. Via de regra, quanto mais basico for o processo sob investigagio, mais distante poderd ser 0 animal escolhido em sua relagéo evolutiva com seres humanos. Assim, experi- ‘mentos que buscam compreender a base molecular da condugao do impulso nervoso podem ser realizados em uma espécie tio distinta de nés quanto a lula. Por outro lado, compreender as bases neurais do movimento ¢ dos distuirbios de percepgio em seres humanos requer experimentos em espécies mais préximas de nds, como 0 macaco, Hoje, mais da metade dos animais uilizados para pes- quisa nas neurociéncias sio roedores - ratos ou camundongos -, criados espe- cificamente para esse propésito. Bem-estar dos Animais. No mundo desenvolvido, a maioria dos adultos instruidos se preocupa com o bem-estar dos animais. Os neurocientistas com partilham dessa preocupagio e trabalham para garantir que os animais sejam bem tratados. sociedade, contudo, nem sempre valorizou o bem-estar dos animais, como se reflete em algumas das priticas cientificas do passado. Por exemplo, nos seus experimentos do inicio do século XIX, Magendie utilizou filhotes de cachorro sem anestesia (tendo sido posteriormente criticado por essa pritica pelo seu rival cientifico, Bell). Felizmente, uma maior consciéncia da importncia do bem-estar dos animais levou a melhorias significaivas na ‘maneira como sao tratados os animais na pesquisa biomédica. Hoje, os neurocientistas aceitam certas responsabilidades morais pelos ani mais experimentais: 1, Animais sio utilizados somente para experimentos necessérios, que possibi litem avangos no conhecimento do sistema nervoso. 2. Todos os procedimentos necessirios para minimizar a dor eo estresse expe- rimentados pelo animal (uso de anestésicos, analgésicos, etc.) sio realizados. 3. Todas as possiveis alternativas ao uso de animais so consideradas. (© cumprimento desse cddigo de ética é monitorado de diferentes manei ras, Primeiro, as propostas de pesquisa devem passar previamente por um crivo realizado pelo Institutional Animal Care and Use Comitee (IACUC)*, 0 que é obrigatério por lei federal nos Estados Uniddos"*. Os membros dessa comissio incluem um veterinario, cientistas de outras disciplinas e representantes leigos da comunidade. Apés passar pela revisio do IACUG, as propostas sio avalia: das quanto a0 mérito cientifico por um grupo de neurocientistas reconheci dos. Esse passo garante que somente aqueles projetos que valham a pena sejam realizados. Entio, quando os neurocientistas submetem suas observasées para publicaco em periddicos especializados, 0s artigos sio cuidadosamente revise dos por outros neurocientistas para avaliacao tanto do mérito cientifico quanto dos cuidados para com o bem-estar animal. Problemas com qualquer um des ses itens podem levar & rejeigio do trabalho, 0 que, por sua vez, pode acarretar «a perda do financiamento para aquele projeto de pesquisa. Além desses proce: ddimentos de monitoramento, leis federais estabelecem normas estritas para os cuidados e 0 acondicionamento de animais de laboratério. Direitos dos Animais. A maioria das pessoas aceita a necessidade da expe- rimentagéo em animais para 0 avango do conhecimento, desde que seja reali zada de maneira cuidadosa e com o devido respeito ao bem-estar animal. Entre- tanto, uma minoria ruidosa e bastante violenta quer a aboligio total do uso de *N. de No Bra, Comisso e ca no Uo de Animals de Experimenta (CEVA, “°N- de T No Bras ales Arouca, de de outubro de 208, ambi estabelce esas mess brigades. PARTE! Fundamertos > FIGURA1.16 Nossa divida para com a pesquisa fem animals, Este carter contra-argu- mmerta 25 propostas de atvistas cos ‘retos dos animals, conscientizando © publico dos Denefcios da pesgu- 2 om animais. Fonte: Foundation for Biomecieal Research) animais para propésitos humanos, incluindo a experimentagao. Essas pessoas apoiam uma posigio filos6fica, frequentemente denominada direitos animais. De acordo com esse modo de pensar, os animais tém os mesmos direitos legais e morais que os seres humanos. Se vocé ama os animais, é possivel que simpatize com esse ponto de vista, Considere, porém, as seguintes questies: vocé seria capaz de privar-se € & sua familia de procedimentos médicos que foram desenvolvidos usando animais? ‘A morte de um camundongo é equivalente & morte de um ser humano? ‘Ter tum animal de estimagao seria a mesma coisa que a escravidio? Comer carne seria 0 equivalente moral do assassinato? Vocé acha que é eticamente incorreto matar um porco para salvar uma crianga? Controlar a populagio de roedores nos esgotos ou de baratas em sua casa equivale moralmente ao Holocausto? Sea sua resposta é nao para alguma destas questées, entdo vocé nao se encaixa na filosofia dos direitos dos animais. Bem-estar animal - uma preocupacio que todas as pessoas responsiveis compartilham ~ nao deve ser confundido com “direitos dos animais” Ativistas dos direitos dos animais tém combatido intensamente a pesquisa com animais, algumas vezes com sucesso alarmante. Eles tém manipulado a opiniao publica com repetidas alegagdes de crueldade nos experimentos com animais, que sao distorcidas de forma grosseira ou simplesmente falsa. Vanda- lismo tem sido praticado em laboratérios, destruindo anos de dados cientifi- cos obtidos com muito trabalho e centenas de milhares de délares em equipa :mentos (pagos pelos contribuintes). Com ameacas de violencia, eles tém levado muitos pesquisadores a abandonar a ciéncia, Sto os Recentement, uma ténica cing aperieigoda em anima foi ilizada para remover um tumor maligno do enefalo de uma garotinha Perdemos alguns animais de eboratri, Contudo, vj o que nés salvamas CAPITULO 1 Neuro TABELA 1.3 _Alguns dos Principais Distirbios do Sistema Nervoso Deena Descrigao Doenga de Alzheimer Doenga dagenerativa progressiva do encéialo, caracteizada or deméncia e sempre fatal Autism Um cistarbio que surge no inicio da infanc'a, caracterizado or prejuzos na comiinicagao © nas interages socials © comportamentes restrtivos e repetitives Parasia cerebral Um alstirbio motor causado por lesdo cerebral antes, durante ou logo apés 0 nascimento Depressiéo Grave transtomo do humor, caracterizado por ins6nia, perda ‘do apetite e sentimento de abatimento Epilepsia Condigo caractarizada por distirbios periédicos da alvidade eldrica cerebral, que podem levar a convulsées, perda da consciénciae aatirbios sensoriais, Esclerose miltiola _Doenga progressiva que afeta a condugao nervosa, caracterizada por episédios de fraqueza, perda de coordenagio o distro da fala Doenga de Parkinson Doenca progressiva do encéfalo que leva a dificuldade er Iniciar movimentos voluntarios Esquizotrenia Grave transtome psicético, caractei2ado por lusbes, alucinagées ¢ comportamento bizarro Lest espinhal Perda da seneibiidade e dos movimentes, devide a uma, Testo traumétiea na medula espinhal ‘Acidente vascular Pera da fungo encefélica, causada por interrupgao do ‘ecefaico suprimento sanguine, geralmente levando a deficit sensorial, motor ou cognitive permanente Felizmente, isso est mudando, Gracas ao esforgo de um razoavel nimero de pessoas, cientistas € nao cientistas essas falsas alegagdes dos extremistas tém sido expostas, eos beneficios para a humanidade das pesquisas com animais ttm sido ‘mostrados (Figura 1.16). Considerando-se o elevado custo, em termos de sofri- ‘mento humano, resultante de distirbios do sistema nervoso, os neurocientstas assumiram a posigio de que é nossa responsabilidade usar, de maneira sdbia, todos os recursos que a natureza proporciona, incluindo os animais, para obter 0 conhecimento de como o encéfalo funciona na sade e na doenga, © Custo da Ignordncia: Disturbios do Sistema Nervoso ‘A moderna pesquisa em neurociéncias ¢ cara, mas o custo da ignorancia acerca do funcionamento do encéfalo é muito maior. A Tabela 1.3 lista alguns dos dis- tuirbios que afetam o sistema nervoso. F provavel que sua familia tenha sofrido © impacto de uma ou mais dessas doen¢as. Analisaremos algumas delas, a fim de verficar seus efeitos sobre a sociedade. ‘A doenca de Alzheimer e a doenca de Parkinson sio ambas caracteriza das por degeneracio progressiva de determinados neurénios no encéfalo ‘A doenga de Parkinson, que resulta em um prejuizo incapacitante do movimento voluntario, aeta atualmente mais de 500 mil norte-americanos*. A doenca de Alzheimer leva a deméncia, um estado de confusio caracterizado pela perda da capacidade de aprender novas informagdes e de recordar conhecime tos previamente adquiridos. Estima-se que a deméncia afete 18% das pessoas acima de 85 anos**. O nimero de norte-americanos com deméncia totaliza mais de 4 milhdes. De fato, € reconhecido, hoje, que a deméncia nao é um des- "Dados do National Intute of Newrogsal Disorders and Stroke, stads Unidos "Parkinson Di Backgrounder’ 8 e outubro de 2008 "Dados do Departamento de Se Serigas humana dos Fstados Unidos, Agta Americana de Pe ies Qualdage om Saide Pobica,“Apronmadamente Sk dos eos rls am mai iron ogitvs" Margo de 201 fecho inevitivel do envelhecimento, como se acreditava anteriormente, mas um sinal de uma doenga encefilica. A doenga de Alzheimer progride sem piedade, roubando de suas vitimas primeiro suas mentes, depois o controle sobre as fun Ges bisicas corporais e, por fim, suas vidas; a doenga é sempre fatal. Nos Esta- dos Unidos, o custo anual para os cuidados de pessoas com deméncia é maior que 100 bilhées de délares, e continua crescendo a uma velocidade alarmante. ‘A depressio e a esquizofrenia sio transtornos do humor e do pensamento. A depressio € caracterizada por sentimentos esmagadores de derrota, baixa autoes timae culpa. Mais de 30 milhées de norte-americanos irio, em algum momento de suas vidas, experimentar um episédio de depressio maior. A depressio & a princi- pal causa de suicidio, com mais de 30 mil mortes a cada ano nos Estados Unidos’ A-esquizofrenia é um transtorno psicético grave, caracterizado por delirios, alucinagdes e comportamento anormal. Em geral, a doenga inicia no comego da vida produtiva — adolescéncia e comego da vida adulta -, podendo persistir por {oda a vida. Mais de 2 milhdes de norte-americanos sofrem de esquizofrenia © Instituto Nacional de Saiide Mental dos Estados Unidos (NIMH) estima que transtornos mentais, como a depressio e a esquizofrenia, custam aos Estados Unidos mais de 150 bilhdes de délares por ano. acidente vascular encefilico (AVE) & a quarta causa de morte nos Estados Unidos. As vitimas de AVE que nao vao ao dbito, mais de meio milhio de pessoas a cada ano, tém grande probabilidade de ficarem permanentemente incapacita: ddas. O custo anual do AVE nos Estados Unidos € de 54 bilhdes de délares™. ‘A dependéncia de lcool ou de drogas afeta quase todas as familias nos Estados Unidos. © custo, em termos de tratamento, perda de salérios e outras consequencias excedem 0s 600 bilhies de délares por ano". Esses poucos exemplos ilustram apenas a superficie do problema. Mais norte-americanos sto hospitalizados com distirbios neuroldgicos ¢ transtor- nos mentais do que com qualquer outro grupo importante de doen¢as,incluindo doengas cardiacas e cancer. Os custos econdmicos das disfungdes encefélicas sio enormes, mas perdem importincia se comparados com o custo emocional que atinge as vitimas e suas familias. A prevencao e 0 tratamento das doencas mentais requerem a compre ensio da fungio normal do encéfalo, e esse conhecimento basico € o escopo das neurociéncias. A pesquisa em neurociéncias ja contribuiu para o desenvol: vimento de tratamentos efetivamente melhores para a doenca de Parkinson, para a depressdo e para a esquizofrenia. Novas estratégias estio sendo testadas para se recuperar neurdnios que estio morrendo em pacientes com a doenca de Alzheimer e naqueles que sofreram AVE. Grande progresso tem sido alean- sado na compreensao de como as drogas ¢ o alcool afetam o encéfalo e como evam a dependéncia. O material deste livro demonstra que se sabe muito sobre a funcio do encéfalo, No entanto, o que sabemos ¢ insignificante se comparado quilo que ainda temos de aprender. CONSIDERAGOES FINAIS [As fundagbes historicas das neurociéncias foram langadas por muitas pessoas, a0 longo de muitas geragdes. Hoje, homens e mulheres estio trabalhando em todos os niveis de analise, utlizando todos os tipos de tecnologia para trazer alguma luz. ao estudo do encéfalo, Os frutos desse trabalho formam a base deste livro. “Dado do nstto Nacional de Sade Mental dos Estados Unidos. “Se ‘vento 27 6 setembr de 2010 "AstocingSo Amerina do Corsi, “mpact of Stoke (Stroke Stati 1 de malo de 2012, ***Dados dos Iaiitos Nicionsis de Sade doe Estados Unidos Insti Nacional de Abaco de Dros, Estados Unidos. “DrugFacs: Understanding Drug Abuse and Addiction Margo de 2011, inthe US Staite and Pre CAPITULO 1 Nouroct objetivo das neurociéncias é compreender como o sistema nervoso fun: ciona. Muitas percepgdes importantes podem ser adquiridas a partir de um “ponto de vista” externo ao cérebro ¢ & propria cabeca, Uma vex que a atividade cerebral se reflete no comportamento, registros comportamentais cuidadosos nos informam acerca das capacidades e limitagoes da funcio encefilica. Mode- Jos de computador que reproduzem as propriedades computacionais do encé- falo podem ajudar a compreender como essas propriedades se desenvolveram. Do escalpo, podemos medir ondas cerebrais que nos dizem algo a respeito da ati- vidade elétrica de diferentes partes do encéfalo durante diversos estados compor- tamentais. Novas técnicas computadorizadas de neuroimagem permitem aos pes quisadores examinarem a estrutura do encéfalo vivo, dentro do cranio. Utilizando métodos ainda mais sofisticados de imagem, estamos comegando a ver quais as diferentes regides do encéfalo humano que se tornam ativas em diferentes condi: Ges. Entretanto, nenhum desses métodos nao invasivos, velhos ou novos, &capaz de substituir experimentos com o tecido cerebral viv. Néo podemos compreen- der sinais detectados de modo remoto se nao formos capazes de saber como eles so gerados e 0 que significam, Para compreendermos como o encéfalo funciona, precisamos abrir a cabeca ¢ examinar o que hé ali dentro ~ do ponto de vista da neuroanatomia, da neurofisiologia e da neuroquimica (0 desenvolvimento atual das neurociéncias é verdadeiramente fascinante ¢ gera grandes esperangas de que, em breve, tenhamos novos tratamentos para uma grande parte dos distirbios do sistema nervoso, que debilitam e incapaci tam milhdes de pessoas todos os anos. Apesar dos progressos durante as tlt- mas décadas ¢ os séculos que as precederam, contudo, ainda existe um longo caminho a percorrer antes que possamos compreender completamente como 0 encéfalo realiza suas impressionantes faganhas. Isso, porém, éa parte divertida de ser um neurocientista: uma vex que nossa ignorancia a respeito das funges do encéfalo é tio vasta, uma nova descoberta surpreendente nos espreita prati camente a cada volta do caminho. Kei QUESTOES PARA REVISAO 41. O que sio os ventriculos encefilicos e quis fungSes foram atribuidas a cles ao longo dos anos? 2. Que experimento Bell relizou para demonstrar gue os nervos do corpo contém uma mistura de bras sensoriais emotorast 8. Quai fungées o experimento de Flourens sugeriu para océrebro eo cerebelo? 4. Qual significado do termo modelo animal? 5. Uma regito do cérebro € chamada de drea de Broca. Que fungio vocé acha que esta regio realiza e por qué? 6. Quais sio os diferentes niveis de anise na pesquisa em neurociencias? Quais questBes os pesquisadores tentam responder ‘em cada um dessesnives? ‘Quaissio a etapas do método cientifico? Descreva cada uma delas. <=} LEITURAS ADICIONAIS ‘Allman JM, 1999, Evolving Brains. New York: Scientific Crick E 1994. The Astonishing Hypothesis: The Scientific ‘American Library Search for the Soul. New York: Macmillan. Clarke E, O'Malley C. 1968. The Human Brain and Spinal Finger S. 1994. Origins of Neuroscience. New York: Oxford Cord, 2a ed. Los Angeles: University of California Press. ‘Univesity Press. Corsi Bed. 1991, The Enchanted Loom, New York: Oxford Glickstein M, 2014, Neuroscience: A Historical Introduction. University Press ‘Cambridge, MA: MIT Press,

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