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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

FACULDADE DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO


CURSO JORNALISMO

GABRIELA BRASIL DA SILVA MARCIÃO


RAYANE GARCIA DE SOUZA

JORNALISMO AMBIENTAL NA AMAZÔNIA: PROJETO EXPERIMENTAL DE


PODCAST SOBRE O ASSASSINATO DE BRUNO PEREIRA E DOM PHILLIPS NO
VALE DO RIO JAVARI

MANAUS - AM
2023
GABRIELA BRASIL DA SILVA MARCIÃO
RAYANE GARCIA DE SOUZA

JORNALISMO AMBIENTAL NA AMAZÔNIA: PROJETO EXPERIMENTAL DE


PODCAST SOBRE O ASSASSINATO DE BRUNO PEREIRA E DOM PHILLIPS NO
VALE DO JAVARI

Relatório técnico apresentado ao curso de Jornalismo, da Faculdade de Informação e


Comunicação, da Universidade Federal do Amazonas, em cumprimento à exigência para
obtenção de grau em bacharel em Jornalismo.

Orientadora: Profª Drª Mirna Feitoza Pereira

MANAUS - AM

2023

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RESUMO

Este relatório apresenta o processo de criação, produção e edição do podcast “No Javari”, que
tem o intuito de debater como aconteceu a cobertura jornalística do assassinato do indigenista
brasileiro Bruno Pereira Araújo e do jornalista inglês Dominic Marc Philips, no Vale do rio
Javari, em Atalaia do Norte. As fontes que participaram deste projeto experimental são
jornalistas atuantes na especialidade do jornalismo ambiental, e jornalistas que cobriram o
homicídio. Também foram entrevistadas lideranças indígenas da União dos Povos Indígenas
do Vale do Javari (Univaja). Para a produção da pesquisa, foi utilizada a pesquisa
bibliográfica e qualitativa do tema, além de construção de roteiro. Este projeto experimental
busca trazer à tona os desafios e dilemas do jornalismo ambiental a partir do caso Bruno e
Dom que aconteceu há um ano na região.

Palavras-chave: Vale do rio Javari, Jornalismo Ambiental, Meio Ambiente, Amazônia

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ABSTRACT

This report presents the creation, production and editing process of the podcast “No Javari”,
which intends to discuss how the journalistic coverage of the murder of the brazilian
indigenist Bruno Pereira Araújo and the english journalist Dominic Marc Philips occurred, in
Vale do Rio Javari, located in Atalaia do Norte. The sources participating in this experimental
project are journalists specialized in the environmental field and journalists who covered the
homicide at the time. Indigenous leaders from the Union of Indigenous Peoples of Vale do
Javari (Univaja) were also interviewed. For the production of this research, bibliographical
and qualitative research of the theme was used, alongside the script making. This
experimental project seeks to bring out the challenges and dilemmas of environmental
journalism based on the Bruno and Dom case, which took place a year ago at the same region.

Key-words: Vale do Rio Javari, Environmental journalism, environment, Amazon

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 9
2 JUSTIFICATIVA 12
3 OBJETIVOS 13
3.1 Objetivo Geral 13
3.2 Objetivos Específicos 13
4 METODOLOGIA 13
5 REFERENCIAL TEÓRICO 15
5.2 O papel do jornalismo ambiental: na teoria e prática 15
5.2. A questão ambiental na Amazônia e no Vale do Javari
6 DESENVOLVIMENTO DO PODCAST 20
6.1 Entrevistas 21
6.2. Roteiro 26
6.3. Pré-Produção 27
6.4. Título e identidade visual 27
7 PRODUÇÃO 28
8 PÓS-PRODUÇÃO 29
8.1. Edição 29
CONSIDERAÇÕES FINAIS 30
FICHA TÉCNICA 31
ROTEIRO 31
REFERÊNCIAS 35

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Quando eu não era vítima das tentações deste mundo,
dedicava minhas noites a imaginar outros mundos. Um
pouco com a ajuda do vinho e outro tanto do mel verde.
Não há nada melhor do que imaginar outros mundos
para esquecer o quanto é doloroso este em que vivemos.
Pelo menos eu pensava assim naquele momento. Ainda
não compreendera que imaginando outros mundos,
acabamos por mudar também este nosso.

- Humberto Eco

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Dedico este projeto experimental a todos os jornalistas que persistem em acreditar que o
Jornalismo Ambiental é possível e defendem para seu desenvolvimento no Amazonas. A todos
os ribeirinhos, indígenas e populações tradicionais da Amazônia que atravessam uma luta
incansável contra o seu modo de vida por conta do pensamento político-econômico que
predomina no país. O jornalismo é serviço ao povo e caminha ao seu lado.

Rayane Garcia de Souza

Dedico este projeto experimental a todos aqueles que encaram o jornalismo como um
compromisso com a sociedade. Essa responsabilidade deve ser concreta e presume um olhar
mais crítico ao atual modo de produção e desenvolvimento que corrói e destrói vidas
humanas e de outros seres deste planeta. A luta é constante.

Gabriela Brasil da Silva Marcião

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família, de sangue e que ganhei ao longo dessa caminhada e
que posso chamar de amigos. Essa conquista só foi possível pelo apoio de cada um que me
incentivou quando as dificuldades chegaram, que me deram apoio emocional e financeiro e
que principalmente, acreditaram que a educação poderia mudar o meu futuro.

Agradeço principalmente a Gabriela, minha amiga de caminhada na faculdade, e minha irmã


de alma que topou construir esse projeto. Sem seu apoio diário a vida acadêmica teria sido
difícil. Obrigada por todos os desafios compartilhados ao longo destes cinco anos, você
marcou a minha vida para sempre.

Agradeço em especial à professora Mirna Feitoza que desde os primeiros períodos da


faculdade nos incentivou a olhar o mundo com um olhar mais crítico, em dedicarmos nossa
construção profissional aos ensinamentos teóricos e fazer do jornalismo um espaço de voz e
escuta a todos aqueles que precisam da comunicação como ferramenta de reivindicar uma
sociedade mais justa.

Aos professores que nos acompanharam nesta jornada acadêmica, toda admiração e gratidão.
Às experiências que a universidade pública nos permite. Elas formam profissionais mais
humanos e comprometidos com os princípios jornalísticos.

Ao meu companheiro, Mateus Rodrigues, minha gratidão por segurar a minha mão e por
todos os dias me fazer acreditar que sou capaz. Você foi essencial para que eu me mantivesse
focada nos estudos e me motivou para que esse sonho se concretizasse. Obrigada por entender
minha forma de ver o mundo.

Por fim, a minha base foi de mulheres que não soltaram a minha mão neste sonho, que me
escolheu desde os 12 anos. Ana Cristina Rodrigues, Valdenize Gomes, Neuza Almeida, sem
vocês nada disso seria possível. Sou eternamente por cada palavra, acolhimento e amor que
partilharam comigo. Ser mulher no mundo que vivemos hoje é muito desafiador, mas
obrigada por me instruírem a ser determinada, honesta, corajosa e estudiosa. Essa conquista é
nossa e espero orgulhá-las ainda mais. Meu amor eterno por vocês.

Rayane Garcia

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Agradeço primeiramente à minha amiga Rayane Garcia por ter me apresentado esse tema
lindo e por ter me convidado a construir este projeto. Só nós duas sabemos como foram estes
últimos meses. Saiba que nossa amizade é para toda a vida, e que você me mostrou a
verdadeira essência do jornalismo. Ao longo dos cinco anos, você mudou minha ótica sobre a
profissão que escolhi seguir. Muito obrigada.

Agradeço à minha família: minha mãe, Kelen Marcião, é o maior exemplo de força. Desde
pequena me ensinou o que é amor e me mostrou a infinidade de amar. Não nasci de você, mas
foi com você que cresci, sorri e me constitui como ser humano. Se eu escolhi o jornalismo,
com o amor pela leitura e escrita, e pelo dever social, com certeza foi me espelhando nesta
pedagoga batalhadora. Sou eternamente grata à senhora.

Também agradeço ao meu pai Robinson Marcião, com quem sei que posso contar para
qualquer coisa, amo muito o senhor. Agradeço à minha irmã e melhor amiga Maria Helena,
você é uma das pessoas mais especiais que eu conheço, com o coração e o olhar únicos.
Principalmente nestes últimos meses, você me deu forças imprescindíveis para concluir este
trabalho.

Agradeço ao meu companheiro de vida Wellington Peres. Nos momentos mais difíceis você
foi a minha base. Obrigada por ter o coração mais lindo e humano que conheço, e por me
deixar fazer parte da tua vida de forma tão intensa.

Agradeço à Universidade Federal do Amazonas (Ufam), local que construí a criticidade, onde
conheci pessoas incríveis e pude viver momentos de grande crescimento.

Agradeço em especial à minha orientadora, a professora e dra. Mirna Feitoza, por ter aceitado
caminhar comigo e com a Rayane nesta jornada acadêmica. Obrigada por nos guiar desde a
disciplina de Teorias da Comunicação, até o desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de
Curso.

Gabriela Brasil

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1. INTRODUÇÃO

Em 2022, o Amazonas foi palco de um conflito em território indígena que resultou nas mortes
de duas pessoas fortemente ligadas com a causa indígena e com a proteção ambiental. O
indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips foram assassinados na
região do Vale do Javari, localizado no extremo Oeste do Amazonas.

Antes da confirmação das mortes, foram empreendidas buscas após o sumiço de Bruno e
Dom, com o acompanhamento de diversos veículos de imprensa, desde o âmbito local e
nacional, até à cobertura internacional. Foi a partir da observação dos amplos enfoques
jornalísticos em relação ao caso dos assassinatos de Dom e Bruno, episódio cruel que expôs a
tensão e violência na região do Vale do Javari, na Amazônia, que surgiu o projeto
experimental “No Javari”, podcast composto por dois episódios com 20 minutos de duração.

Em particular, o projeto se guiou por inquietações a respeito das abordagens dos veículos de
comunicação do Amazonas em relação à cobertura ambiental sobre o caso Dom e Bruno.
Algumas empresas jornalísticas trataram apenas como mais um caso de investigação policial.
Apesar de ter sido um trágico evento, com o fato central o assassinato de duas pessoas, e por
essa razão, poder ser tratado a partir da cobertura do campo do jornalismo policial, o caso, na
verdade vai muito além por englobar outros elementos que compõem o conflito na região,
sendo necessário passar pela ótica do jornalismo ambiental. Neste sentido, surgem os
seguintes questionamentos: por que não houve uma apuração sistemática a partir dos preceitos
do jornalismo ambiental? O que é de fato jornalismo ambiental? Por que há a necessidade de
se fazer um jornalismo ambiental?

Primeiro, por se tratar do assassinato de dois agentes com adesão direta na defesa da
Amazônia. Há indícios de que Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos pelo crime
organizado instalado no Vale do Javari, e em outras regiões da Amazônia, a qual devastou e
tem destruído a fauna e flora local, seja para a venda ilegal de recursos naturais, ou para usar a
região como canal de escoamento de drogas. Segundo, se somam neste contexto as
populações indígenas da região, como os Marubo e Kanamari, que receberam apoio de Dom e
Bruno, e mantinham uma relação direta de lealdade com o indigenista. Ambos foram vítimas
da violência que tem assombrado os indígenas do Vale do Javari.

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O retrato da região é do emaranhado de vozes, interesses e conflitos, os quais pressionam por
um jornalismo crítico e investigativo para além da cobertura superficial. O projeto se baseia,
dessa forma, a partir das características do jornalismo ambiental, o qual assume a função de
prestador de serviço público, sem o véu da neutralidade, como tentam aparentar os veículos
midiáticos tradicionais. Dentro deste conceito, a objetividade e impessoalidade podem
minimizar o conflito existente. Por consequência, a responsabilidade com a sociedade acaba
fragilizada.

A Amazônia, historicamente, possui uma imensidão territorial perpassada por múltiplos


modos de vida, costumes, culturas e línguas. Dentro deste amplo espaço, eclodiram e ainda se
desdobram conflitos de interesse. Na América Latina e, com o olhar mais voltado para o
Brasil, os choques de conflito atravessaram a violência, a colonização, e o massacre de
populações negras e principalmente indígenas.

Atualmente, após séculos de violência, os povos indígenas, no Brasil, ainda resistem a ataques
diários, os quais minam a permanência dessas populações em territórios tradicionalmente
ocupados por indígenas. A luta pela legitimidade de viver em segurança e em condições que
respeitem a autodeterminação dos povos indígenas, ou seja, em assegurar o direito de ir e vir e
a liberdade de se organizar enquanto sociedade é constante na Amazônia.

Em relação ao Amazonas, Estado com a maior concentração de indígenas no país, com 168,7
mil autodeclarados, conforme o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), de 2010, os conflitos são de intenso acirramento. O relatório do Conselho Indigenista
Missionário (Cimi) apontou que cerca de 38 indígenas foram assassinados, em 2021, no
Amazonas. Esse número colocou o Estado entre as unidades federativas com o maior número
de assassinatos de indígenas.

Desde 1960, com os tratados internacionais, os quais visavam trazer a pauta ambiental para
debate, a especialidade do jornalismo tem crescido. Por um tempo, questões mais restritas aos
fenômenos climáticos foram os principais temas quando se falava nesse assunto. No entanto,
o jornalismo ambiental amplo, independente e crítico ultrapassa essa delimitação e envolve
tudo que está sobre a terra: a relação entre fauna, flora e ser humano. Com o passar dos anos
foi se ampliando o leque de abordagens.
O caso da morte de Bruno Araújo Pereira e Dominic Mark Phillips, o qual é tratado neste
trabalho experimental, aconteceu sobre o solo indígena onde vivem as etnias Marubo,

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Mayoruna/Matsés, Matis, Kulina Pano, Kanamari, Korubo, Tsohom Dyapá, área que enfrenta
um constante conflito com o narcotráfico, biopirataria e garimpo. Este cenário reflete o
abandono da região pelo Estado.
O caso hoje é investigado, tendo três pessoas presas apontadas como suspeitos do crime.
Segundo o depoimento de um deles, a causa da morte teria sido uma fotografia tirada por
Bruno, que possivelmente serviria de provas sobre os crimes ambientais que acontecem na
região.
As circunstâncias apontam para conflitos ambientais no centro da motivação dos dois
homicídios. Entretanto, a cobertura jornalística majoritária deu ênfase à abordagem própria de
uma editoria de polícia, destacando a crueldade do crime, mas sem contextualizar a
problemática em que as vítimas estavam inseridas, algo que deve ser tratado quando se faz
uma cobertura ambiental.
Um ano após os assassinatos, o volume de produções jornalísticas sobre os conflitos que
vivem a população do Rio Javari não tiveram a mesma proporção. A morte de um homem,
branco, inglês é o que fez com que o mundo olhasse aquela terra indígena antes mesmo do
objetivo que o trouxe à Amazônia: escrever sobre a limitada preocupação com os crimes que
acontecem na Amazônia e que impactam o mundo todo, ocultando dessa forma as lutas por
sobrevivência das etnias e defensores da causa contra os crimes que acontecem sobre o verde
da floresta.
Esse não foi o único conflito vivenciado na região desde 2022, apesar dos registros da
Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) não apontarem nenhuma morte no
município de Atalaia do Norte, desde 2021. A União dos Povos do Vale do Javari (Univaja)
denunciou pelo menos três ameaças aos indígenas da região desde novembro de 2022.
Atualmente, a editoria de polícia é a que mais tem interesse dos veículos pelo momento em
que o mundo vive de desinformação com a espetacularização das transgressões. O caso
levantado para o foco deste trabalho trata-se de um delito, mas as questões
políticosambientais que as motivaram necessitam de uma abordagem mais trabalhada na
especialidade ambiental.
Com o avanço tecnológico, o jornalismo tem ampliado as formas de se comunicar com a
população. Após a pandemia, os podcasts cresceram cerca 132%, segundo o Centro Regional
de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic). Os arquivos de
áudio disponibilizados nas plataformas foram ouvidos por cerca de 41 milhões de brasileiros.
O podcast explora o sentido humano que é a audição possibilitando ter acesso ao
conhecimento de uma forma diferenciada. Além disso, exige do criador do conteúdo uma
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forma diferente de se expressar. Além disso, os podcasts possibilitam com que as pessoas
consumam informações que são do seu interesse com praticidade, no trânsito, nos afazeres
domésticos, etc.

Ao longo dos anos, o jornalismo se apropriou do podcast e, por consequência, novos


caminhos e formas de contar história se abriram. Por muito tempo, o rádio foi o principal
meio de comunicação via áudio. Neste meio, o jornalismo abraçou a objetividade e a alta
rotatividade de informações. Como contraciclo, dentro do podcast, tem ganhado popularidade
o ‘jornalismo narrativo’, o qual trabalha com a contextualização dos fenômenos por meio de
uma extensa investigação.

2. JUSTIFICATIVA

Entre tantos casos de violência e conflitos na Amazônia, escolhemos amplificar as discussões


sobre a região do Vale do Javari e tentar entender quais caminhos são possíveis para abordar o
conflito a partir da transversalidade do jornalismo ambiental. Isto é, que extrapola apenas a
camada ambiental, ao se dirigir também para outros fenômenos que se conectam no local.

Uma das razões para priorizar o Vale do Javari se deu pela alta repercussão das mortes de
Bruno e Dom. Com o alto número de matérias locais sobre o caso, o padrão da cobertura no
Amazonas, assim como, quais foram os erros e acertos sob a ótica dos pressupostos do
jornalismo ambiental, foi facilmente mais interpretável. O projeto também escolheu o
assassinato de Dom e Bruno no Vale do Javari por ser um conflito que não se encerrou com as
mortes do indigenista e do jornalista. Após quase um ano da tragédia, populações indígenas
denunciam o pânico e medo diário causado por ameaças de caçadores, madeireiros e
traficantes.

Com os dois episódios, o projeto experimental vai partir do desaparecimento do indigenista


Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips no Vale do Javari, relembrando os primeiros passos
das investigações, a participação da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari
(UNIVAJA) nas buscas, até a confirmação das mortes. Já o segundo episódio dá luz a
situação atual no Vale do Javari, e traz uma reflexão sobre a atuação da imprensa desde o
assassinato de Dom e Bruno até os novos desdobramentos no Vale do Javari, como também
novas perspectivas de se fazer jornalismo ambiental.

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O podcast foi o formato escolhido para abordar o tema por ser um espaço com crescente
público, e por demandar de recursos acessíveis para a produção de conteúdo de qualidade.
Também pode ser encontrado com mais facilidade com a diversidade de plataformas no
mercado.

É neste terreno, que o “No Javari” nasceu para convidar o ouvinte a acompanhar e refletir
sobre o alarmante cenário no Vale do Javari, e sobre novas perspectivas de um jornalismo
ambiental como condutor de coberturas investigativas que dão voz às demandas sociais.

Isso porque, as pautas ambientais estão sendo debatidas com maior frequência nos últimos, na
política, na educação e na comunicação. No entanto, com o avanço do garimpo,
desmatamento, queimadas, se vê a necessidade de uma abordagem ainda mais efetiva para o
estímulo de uma consciência ambiental.

Nesse sentido, o jornalismo deve cumprir um papel fundamental em informar o que acontece
com o meio ambiente, suas causas, consequências e cobrar das autoridades competentes
respostas para as problemáticas porque é um problema que afeta a vida em sociedade.

3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral


Desenvolver uma série de podcasts para debater a cobertura jornalística das mortes de Bruno
Pereira e Dom Phillips no Vale do Rio Javari.

3. 2. Objetivos Específicos
● Discutir sobre os erros na cobertura ambiental do caso e seus impactos para a
sociedade.
● Abordar as perspectivas na cobertura do jornalismo ambiental.
● Experimentar as sonoridades Amazônicas no desenvolvimento da série, desde as
melodias produzidas por artistas locais até os sons da floresta e dos conflitos
ambientais.

4. METODOLOGIA

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A metodologia empregada para a execução do trabalho foi a pesquisa bibliográfica do
referencial teórico. Para que os objetivos da criação do projeto experimental fossem atingidos,
foi utilizada uma abordagem qualitativa com entrevistas de pessoas ligadas ao Vale do Javari,
no Amazonas, desde moradores da região até jornalistas que cobriram o caso de Dom e
Bruno. Outro requisito para a escolha dos convidados nas entrevistas foi a condição de
jornalista com experiência na cobertura ambiental na Amazônia.

Em relação ao formato e linguagem de cada episódio do podcast, utilizamos a metodologia de


análise crítica criada por Luiz Gongaza Motta (2013). Por meio dela é possível entender quais
são as técnicas empregadas no podcast “Projeto Humanos”, o qual é base da narrativa de
storytelling utilizada neste projeto experimental.

A comunicação narrativa é [...] a busca permanente da coerência requerida pela


organização da intriga (encadeamentos, sequências, etc) e pela expectativa
semântica e pragmática desencadeada pelo discurso narrativo (flashbacks,
suspenses, clímax, etc). Mas também pelos ingredientes da situação comunicativa
(quadro espaço-temporal, objetivos dos participantes, correlação de poder, etc) e
pelo contexto sociocultural (representações mentais, esteriótipos, modelos de mundo
e memória coletiva, etc) que os interlocutores trazem para o ato de falar (MOTTA,
2013, p. 20-21).

Durante a pesquisa foram escolhidas obras que conceituavam o que é jornalismo ambiental e
o podcast. A partir destes estudos, iniciou-se a construção do roteiro, escolha das fontes e a
execução do presente relatório.

Os podcasts “Projetos Humanos”, “Café da Manhã”, da Folha de São Paulo, “O Assunto”, da


Rede Globo, “A Mulher da Casa Abandonada”, da Folha de São Paulo, “Proteção e Território
Indígena do Vale do Javari” do Centro de Trabalho Indigenista serviram de inspiração para
criação do estilo e edição do produto.

O primeiro episódio é voltado ao desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips que


reflete a violência na região e à perspectiva de comunicadores e pessoas relacionadas às
buscas dos dois desaparecidos. Foram entrevistadas duas lideranças indígenas da União dos
Povos do Vale do Javari, as quais mantinham contato com a imprensa. A outra entrevistada
foi uma jornalista que cobriu o caso Dom e Bruno. A importância de ter esta fonte no

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primeiro episódio foi no sentido de abordar as dificuldades encontradas durante a apuração,
como a questão do financiamento para a cobertura, e a logística.
O segundo e último episódio refletirá sobre a cobertura ambiental do caso Dom e Bruno.
Além da jornalista que aparece no primeiro episódio, também foi convidada uma jovem
jornalista que cobre jornalismo ambiental na Amazônia. A partir do seu relato, é possível
pensar na nova geração de jornalistas que cobrem a área ambiental. Este segundo momento se
desdobrará na reflexão sobre o que houve na cobertura Dom e Bruno, com o objetivo de
ampliar a visão sobre os dilemas do jornalismo ambiental e caminhos para um jornalismo
ambiental crítico e contextualizado.
Este episódio será construído em uma perspectiva de futuro. O que podemos esperar da
cobertura jornalística ambiental na visão dos profissionais da área? Como é possível trazer
novos olhares daqueles que não são apenas fontes das notícias, mas são pessoas diretamente
afetadas pelos crimes ambientais, os quais atingem as minorias que vivem na Amazônia,
como os indígenas e ribeirinhos.
Também busca-se ampliar os debates sobre a visão que se tem do Amazonas, da Amazônia, e
do interesse pela notícia ambiental. É um projeto experimental propositivo, que visa
contribuir para que o jornalismo seja a ferramenta de informação para o mundo sobre o que é
na realidade uma pauta ambiental, e porque ela precisa de atenção.

5. REFERENCIAL TEÓRICO

5.1 O papel do jornalismo ambiental: na teoria e prática

Muito se debate o papel do jornalismo na questão ambiental, principalmente frente aos


desafios latentes relacionados às mudanças climáticas e seus efeitos, os quais são relacionados
a um futuro distante. No entanto, como defende (LOOSE, 2021), a discussão é urgente e
imprescindível no campo jornalístico, visto que as catástrofes ambientais já são sentidas em
diversos lugares do planeta e colocam em perigo múltiplas formas de vida.

Não há concepção humana ou ecológica que permita fechar os olhos aos danos que
modificam a vida no planeta em escala jamais vista, impossível de ser pensada de
forma fragmentada ao enfrentarmos o cenário que a humanidade costura em sua
agricultura e seus modos de produção de alimentos, na sua fome, pobreza e riqueza,
nas maneiras de exploração da vida em todas as suas manifestações, no acúmulo de

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resíduos, nas alterações do clima, em suas pressões e alterações na legislação de
proteção, nas migrações, nos deslocamentos forçados de povos originários, nas
catástrofes, nas doenças. (TOURINHO et al., 2018, p.70).

O desarranjo ambiental como resultado de um “[...] modo hegemônico de entendimento do


mundo” (LEFF, 2016, p. 25), mais especificamente fruto do sistema econômico capitalista, já
é uma realidade, e as consequências imediatas e palpáveis da exploração desenfreada dos
recursos naturais finitos são sentidas principalmente por populações mais vulneráveis. Ainda
assim, desastres ambientais já existentes acabam sendo deslocados como frutos diretos do
sistema econômico atual e encarados apenas como um episódio isolado.

Mesmo sendo um problema já conhecido por grande parte da população, a


complexidade e os graus de imprevisibilidade que compõem o fenômeno, assim
como a impalpabilidade de suas causas e a vastidão de seus efeitos, são
características que contribuem para que a sociedade ainda encare as MCs como uma
abstração – embora a realidade mostre a concretude das mortes, da destruição, das
perdas econômicas, da desumanização das vidas que são deslocadas, do sofrimento
sentido, sobretudo, pelas populações mais vulneráveis. (LOOSE, 2021, p.13).

Neste sentido, a partir a ótica do jornalismo ambiental, os jornalistas possuem o compromisso


de entender os perigos da crise climática, suas causas e consequências, como também
compreender a necessidade de um novo modelo de crescimento econômico que respeite as
formas de vida presentes no planeta (LOOSE, 2021).

Essa apreensão de diferentes caminhos para a reprodução da vida na terra para além do modo
de vida capitalista também perpassa por interesses de diferentes grupos, os quais estão em
conflito constante. Frente à complexa realidade, aspectos como criticidade e informação
qualificada a partir de uma extensa investigação devem estar presentes no ofício jornalístico, e
costumam estar na base do jornalismo ambiental, como defendem Girard et al. (2016).

“O Jornalismo Ambiental é considerado um espaço educativo, pois investe na


construção do conhecimento sobre os temas ambientais de forma a atingir a
pluralidade e a complexidade. A pluralidade satisfaz um preceito básico da
educação, que está relacionado a indicar as várias vozes, conceitos e aspectos que
devem ser levados em conta, colocados em diálogo, quando tratamos de
determinados temas relevantes para a coletividade. A complexidade, por sua vez, é
uma nova forma de compreensão que exige um olhar de consolidação dos
conhecimentos (e de suas “partes”), formando desta forma uma consciência de que a
natureza é, em si, complexa e sistêmica.” (MORAES; GIRARDI, 2016, p.17)

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Conforme Girard et al. (2012), não há uma formulação exata sobre o que é jornalismo
ambiental. Por não possuir uma definição imprecisa, sua prática acaba sendo prejudicada.
Uma das concepções existentes sobre jornalismo ambiental é aquela que o entende como o
tipo de jornalismo especializado em cobertura ambiental.

No entanto, a compreensão deste trabalho segue a definição de Girard et al. (2012), a qual
entende “que o jornalismo ambiental extrapola a ideia de ser uma cobertura centrada nos
assuntos de meio ambiente. A concepção é outra, independente, baseada na pluralidade de
vozes e na visão sistêmica, para além de uma cobertura factual ou programada”.

Muito além de uma cobertura ambiental, essa perspectiva assume o jornalismo ambiental
como sistêmico, ou seja, a cobertura precisa dar luz aos ao fenômeno central e aos diferentes
fenômenos que se entrelaçam ao redor dele, como também, dar espaço às múltiplas vozes. Por
essa razão, a pauta factual não consegue ser o suficiente para abarcar o retrato sistêmico de
uma conjuntura tão complexa (Girard et al., 2012).

Outra discussão que se abre ao se pensar em fazer jornalismo ambiental é a questão da


imparcialidade e da ideologia. Tourinho (2018) afirma que o jornalismo ambiental é uma
especialidade de causa e militante. Dentro do texto jornalístico ambiental, segundo Trigueiros
(2007) não há espaço para omissões, “não há terreno para neutralidade ao se falar de poluição,
do mesmo modo que nenhum jornalista defenderia a corrupção”.

Isso porque, Góes (2017, p. 80) aponta que a história do jornalismo perpassa pelo
favorecimento de interesses dominantes, das elites nacionais e internacionais, as quais,
conforme Porto-Gonçalves (2006), são um grupo pequeno que se beneficia da extração dos
recursos obtidos nos países historicamente explorados, como os localizados no Sul Global.

Além disso, o autor ressalta que são estes mesmos grupos restritos que se apresentam como
detentores de soluções para a “desordem ecológica global” por meio de empresários e
especialistas possuidores de um saber e conhecimento eurocêntrico. (LOOSE, 2021) afirma
que essa dinâmica histórica da colonialidade é baseada também na exploração ambiental e,
por essa razão, o jornalismo ambiental deve ser resultado da descolonização do saber, ou da
impulsão de uma racionalidade ambiental (LEFF, 2001).

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É em função dessa interface forte com a questão ambiental, na qual podemos dizer que o
jornalismo se transmuta para questões que vão além de sua própria lógica, incorporando
outras lentes para ver o mundo e compreendendo os limites impostos pelo pensamento
moderno no exercício da profissão, que a crítica colonial também emerge, seja porque a
natureza pode ser vista como um dos domínios da matriz colonial (MIGNOLO, 2017), seja
porque as relações entre sociedade e natureza, centro da discussão do JA, são permeadas de
processos que remontam à colonialidade. Acreditamos que salientar essa articulação possa
expandir e aprofundar os estudos em ambas as áreas. (LOOSE, 2021).

Quando se escolhe o ponto de vista do Sul, privilegiamos os saberes e as ações locais,


oriundos de uma vivência, e não simplesmente seguir as orientações do pensamento
eurocêntrico. Os estudos pós-coloniais podem ser caracterizados como aqueles que reúnem
produções teóricas advindas essencialmente das chamadas “zonas periféricas”, com o
propósito de revelar as ambivalências presentes no paradigma da modernidade (LEDA, 2015)

É neste contexto de conflitos de interesse que o jornalismo ambiental enfrenta muitas


dificuldades para sua execução. Para (JOHN, 2001) e (GIRARDI, 2012), os empecilhos para a
prática de um bom jornalismo ambiental não estão ligados somente às “boas intenções” dos
jornalistas. Isso porque há influencias econômicas que limitam como as notícias são
produzidas e entregues à população.

Para Girardi, Loose e Almeida da Silva (2018, p. 7), há alguns fatores necessários que
compõem a prática do jornalismo ambiental. São eles:

1) Ênfase na contextualização na tentativa de expor as relações entre causas e


consequências, assim como das articulações dos diferentes campos sociais; 2)
Pluralidade de vozes com o intuito de romper com a lógica de construção baseada no
pensamento único e dar visibilidade a um verdadeiro diálogo de saberes; 3)
Assimilação do saber ambiental, que envolve uma nova abordagem para a prática
jornalística. Leff (2001) aponta que o saber ambiental é um contraponto à
homogeneidade e à racionalidade dominante, presentes no jornalismo hoje; 4)
Cobertura sistêmica e próxima à realidade do leitor – além de ser frequente, a
produção jornalística ambiental deve permitir que as pessoas se sintam pertencentes
a esse problema a fim de tomar atitudes que modifiquem o contexto; 5)
Comprometimento com a qualificação da informação, ou seja, preocupação em
construir notícias que desvelam as conexões entre economia, política, cultura,

18
ambiente, etc., que nem sempre são visíveis, e indiquem soluções, saídas; e 6)
Responsabilidade com a mudança de pensamento – o JA tem como missão colaborar
para transformar o pensamento diante das injustiças e desigualdades ambientais que
nos cercam.

5.2. A questão ambiental na Amazônia e no Vale do Javari

Até 2013, o Brasil havia passado por um período de 12 anos de queda nos índices de
desmatamento. Apesar do crescimento demonstrado nos anos seguintes, percebeu-se que a
partir de 2018, durante o Governo de Michel Temer, até o fim do governo de Jair Bolsonaro,
em 2022, os números de destruição de área florestal se intensificaram ainda mais. Além disso,
os desmontes de políticas ambientais e os ataques aos povos originários também cresceram.

Segundo os dados do Terra Brasilis, plataforma de monitoramento criada pelo Instituto


Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o país fechou o ano de 2016 com um total de 4.639
km² de área desmatada, o ano de 2021 encerrou com 9.205 km². A falta de fiscalização, o
desmonte de órgãos de controle importantes como o Ibama, por exemplo, facilitaram esse
acontecimento.

No governo Bolsonaro a partir de 2019, o esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente com


a reforma Ministerial do então presidente Bolsonaro, a suspensão de recursos para ONGs que
faziam o processo de recuperação florestal, o corte de repasses para institutos importantes
para a fiscalização ambiental, como o Instituto Chico Mendes de Conservação e
Biodiversidade (ICMBio), o fim de projetos desenvolvidos pelo Fundo Amazônia se deram
somente no primeiro ano. Segundo Neto (2022), a partir as decisões ambientais tomadas pelo
ex-presidente, é possível identificar os impactos políticos ambientais e socioambientais.

É possível identificar cinco dimensões que sintetizam a sua política ambiental:


esvaziamento das competências de órgãos ligados à regulação e fiscalização
ambiental e extinção de instâncias organizacionais relacionadas ao meio ambiente;
perseguição a indivíduos e grupos com posicionamentos contrários ao governo na
pauta ambiental; exclusão de setores não governamentais da formulação de políticas
ambientais; retorno da obsessão pela questão Amazônica; e enfraquecimento do
envolvimento do país nos compromissos internacionais relacionados ao meio
ambiente. (NETO, 2022, p.73).

19
As consequências da escalada da omissão do governo de Jair Bolsonaro em relação às
políticas ambientais foram sentidas diretamente pelas populações que vivem na região
Amazônica, as quais, segundo Krenak (2020), são minorias esquecidas pelo poder público.

“Esta é a sub-humanidade: caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes. Existe, então,


uma humanidade que integra um clube seleto que não aceita novos sócios. É uma
camada mais rústica e orgânica, uma sub-humanidade, que fica agarrada na Terra.
Eu não me sinto parte dessa humanidade. Eu me sinto excluído dela”. (KRENAK,
2020, p.6).

As mudanças nas políticas públicas afetam diretamente a vida humana. Quando surge a
problemática da questão ambiental, é evocada pela população a ideia de futuro distante
afetado por esses eventos. No entanto, os efeitos climáticos e a violência nos biomas já são
visíveis.

O garimpo, por exemplo, já trouxe suas consequências para as Terras Indígenas Munduruku e
Sai Cinza no Pará. Cerca de 632 km de rios estão contaminados, segundo levantamento do
Greenpeace. Um estudo realizado pela Fiocruz, divulgado no mês de maio de 2023, apontou
que seis estados da Amazônia Legal estão com níveis de contaminação dos peixes por
mercúrio acima da média aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O problema é
tão grave que atinge diretamente a principal fonte de alimentação da população Amazônica.

“Apesar dos inúmeros benefícios associados ao consumo regular de peixes -


principal fonte de proteína para uma boa parcela da população amazônida - que
incluem a redução dos níveis de colesterol no sangue, a diminuição do risco de
infarto do miocárdio e a melhoria do desenvolvimento cognitivo -, a crescente
contaminação do pescado por metilmercúrio representa um alerta crítico para saúde
pública na Amazônia, além de uma ameaça à segurança alimentar na região.”
(BASTA et al., 2023, p.5).

Já o levantamento feito pelo Mapbiomas, lançado em 2022, revela que as áreas de


Comunidades Remanescentes de Quilombos (CRQ) e Terras Indígenas (Tis) correspondem
apenas a 1,4% da área desmatada. Significa dizer que os locais onde os povos tradicionais
habitam são terras mais preservadas. Por isso a importância de se observar aqueles que são os
defensores da floresta e os proteger também.

6. DESENVOLVIMENTO DO PODCAST

20
6.1 Entrevistas
As entrevistas com as fontes foram realizadas via plataforma de chamadas Zoom, na
modalidade paga, com o intuito de gravar entrevistas acima dos 40 minutos permitidos pelo
serviço gratuito. Com a gravação das reuniões, foram extraídos os áudios utilizados para a
composição do podcast. A ferramenta foi utilizada como forma de facilitar contato com as
fontes que estavam aqui em Manaus, mas também com as que se encontravam fora do Estado.
A duração de cada entrevista foi de 1h à 2h30 seguindo as perguntas descritas no roteiro.

Entrevista com Yura Marubo

21
Entrevista com Elaize Farias

Entrevista com Julie Pereira

22
Entrevista com Eliesio Marubo
● Roteiro das perguntas utilizadas nas entrevistas

ENTREVISTADOS BRIEFING PERGUNTAS DATAS


Elaíze Farias Jornalista 06/06/2023
1. Como foi a apuração da Amazônia Real desde o
dia do desaparecimento de Bruno Pereira e Dom
Phillips até o dia 16 de junho, data quando os corpos
foram encontrados? Quantas pessoas da equipe
participaram da apuração? Vocês estiveram presentes
na região por quanto tempo? Quais pessoas foram
entrevistadas?

2. Quais eram as sensações e sentimentos


presentes ao longo dos 11 dias do desaparecimento
de Dom e Bruno? Havia tensão e medo? Houve
ameaças? Houve um episódio marcante?

3. Quais foram os principais desafios durante a


cobertura do caso Bruno e Dom?

4. Qual a importância de realizar uma cobertura


jornalística “in loco”? Ela é essencial para uma boa
cobertura jornalística na área ambiental?

5. Como você avalia cobertura jornalística local,


nacional e internacional na época do desaparecimento
de Bruno e Dom? Quais foram os erros e acertos?

6. Alguns jornais locais trataram o


desaparecimento de Bruno e Dom como mais um
caso policial. Para você, há problema nesse tipo de

23
abordagem? Ela é limitante no que se refere à
contextualização?

7. Hoje, a região do Vale do Javari ainda possui


casos de violência. Como tem sido a apuração da
Amazônia Real? Você percebe que houve um
desinteresse da imprensa sobre a região?

8. Como você se aproximou do campo do


jornalismo ambiental?

9. De forma geral, diversas pesquisas definem o


jornalismo ambiental como um tipo de jornalismo
com múltiplas abordagens e matizes, ou seja, um
jornalismo contextualizado. Além disso, também
apontam o jornalismo ambiental como um campo do
jornalismo que não se prende ao mito da
imparcialidade. Você concorda com essas definições?
Para você, como podemos definir o jornalismo
ambiental?

10. Quais são os principais desafios de fazer


jornalismo ambiental no Amazonas? Você percebe
que muitos veículos locais não dão tanta prioridade à
área ambiental? Se sim, por que há esse desinteresse?

11. Para você, qual é a importância do jornalismo


ambiental? Quais são os caminhos para um
jornalismo mais crítico e investigativo no
Amazonas, e que mostre vozes e demandas das
populações locais?

Julie Pereira Jornalista 09/06/2023


1. Como surgiu o interesse em cobrir jornalismo
ambiental?

2. De forma geral, diversas pesquisas definem o


jornalismo ambiental como um tipo de
jornalismo com múltiplas abordagens e matizes,
ou seja, um jornalismo contextualizado. Além
disso, também apontam o jornalismo ambiental
como um campo do jornalismo que não se
prende ao mito da imparcialidade. Você
concorda com essas definições? Para você, como
podemos definir o jornalismo ambiental?

3. Quais são os desafios de fazer coleta de dados na


área ambiental?

4. Qual é o tipo de jornalismo ambiental que você


pratica?

5. Quais são os principais desafios de fazer


jornalismo ambiental no Amazonas? Você
percebe que muitos veículos locais não dão tanta
prioridade à área ambiental? Se sim, por que há
esse desinteresse?

24
6. Como você avalia a cobertura jornalística local,
nacional e internacional na época do
desaparecimento de Bruno e Dom? Quais foram
os erros e acertos?

7. Para você, qual é a importância do jornalismo


ambiental? Quais são os caminhos para um
jornalismo mais crítico e investigativo no
Amazonas, e que mostre vozes e demandas das
populações locais?

Eliesio Marubo Procurador 1. O senhor pode nos contar um pouco sobre as 11/06/2023
jurídico da características físicas do Vale do Javari? Como é a
Univaja extensão territorial? Quantas populações indígenas
moram na região?

2. O senhor nasceu em qual região do Vale do


Javari? Pode contar um pouco sobre sua trajetória
até entrar na Univaja?

3. Como surgiu a Univaja e qual é seu objetivo?

4. Há quanto tempo a violência tomou conta do


Vale do Javari? Quais são as comunidades indígenas
mais ameaçadas?

5. Podemos voltar no dia 5 de junho, quando Dom


e Bruno desapareceram? Quando foi a última vez
que o senhor falou com eles? A partir de que
momento o senhor percebeu que eles
desapareceram? Como foram realizadas as buscas?
Houve cooperação da polícia federal com a Univaja?
Como foi o dia que encontraram Dom e Bruno?

6. Narcotraficantes são suspeitos de matar Dom e


Bruno. Como esse tipo de crime foi ganhando força
na região?

7. Como está a região do Vale do Javari


atualmente?

Yura Marubo Assessor 1. O senhor pode nos contar um pouco sobre as 11/06/2023
jurídico da características físicas do Vale do Javari? Como é a
Univaja extensão territorial? Quantas populações indígenas
moram na região?

2. O senhor nasceu em qual região do Vale do


Javari? Pode contar um pouco sobre sua trajetória
até entrar na Univaja?

3. Como surgiu a Univaja e qual é seu objetivo?

4. Há quanto tempo a violência tomou conta do


Vale do Javari? Quais são as comunidades indígenas

25
mais ameaçadas?

5. Podemos voltar no dia 5 de junho, quando Dom


e Bruno desapareceram? Quando foi a última vez
que o senhor falou com eles? A partir de que
momento o senhor percebeu que eles
desapareceram? Como foram realizadas as buscas?
Houve cooperação da polícia federal com a Univaja?
Como foi o dia que encontraram Dom e Bruno?

6. Narcotraficantes são suspeitos de matar Dom e


Bruno. Como esse tipo de crime foi ganhando força
na região?

7. Como está a região do Vale do Javari


atualmente?
8. Qual o legado que Bruno Pereira deixa?

6.2. Roteiro
Como o projeto é em formato de áudio, buscou-se construir um roteiro com técnicas de
storytelling que pudessem Brvalorizar a narrativa a partir de técnicas que remetesse ao
ouvinte a sensação de estar “in loco”, na região Amazônica, cenário onde acontece a história
do podcast.
O primeiro episódio recontará o desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips no Vale do
Javari, por meio do relato dos entrevistados. O episódio explora os desafios da cobertura em
um local de difícil acesso, assim como reflete sobre a violência contra os defensores de pautas
indígenas e ambientais.
O segundo episódio problematiza de que forma foi repercutido o caso Dom e Bruno, o que é
jornalismo ambiental, e sobre a urgência da conscientização sobre a questão ambiental a partir
do jornalismo. As fontes foram jornalistas atuantes desta especialidade.
A sonoridade vai transmitir a ida deste podcast até às redações através de efeitos sonoros de
passos, portas se abrindo, o som de uma redação, que é onde encontramos essas pessoas que
têm lugar de fala. A segunda parte do podcats também reflete sobre o futuro do jornalismo
ambiental e a sua importância para as minorias que vivem na Amazônia. Por isso, a
sonoridade utilizará códigos que remetam aos ambientes onde as fontes ouvidas vivem e
trabalham. As fontes são lideranças indígenas da Univaja.

6.3. Pré-Produção

26
A produção do podcast “No Javari” se guiou, a princípio, por uma ampla pesquisa de
informações de materiais jornalísticos publicados no período em que o indigenista brasileiro
Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips desapareceram no Vale do Javari, a partir do
dia 5 de junho de 2022 até a identificação dos corpos no dia 16 de junho de 2022. Matérias
dos desdobramentos do caso como as investigações e o julgamento dos suspeitos do
assassinato também fizeram parte do arsenal de informações que embasaram o projeto
experimental. A partir das reportagens da imprensa independente e dos veículos de
comunicação hegemônicos, juntamente com o relato das entrevistas feitas pelas autoras da
pesquisa, foi possível remontar o trágico fato por meio de uma narrativa storytelling. Os
principais veículos independentes consultados pela pesquisa como forma de reunir
informações do caso foram a Amazônia Real e o Info Amazônia. Já os da imprensa
hegemônica foram: Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, CNN Brasil, BBC Brasil e G1.
Em relação à escolha do formato narrativo do podcast, foi definido o storytelling como forma
de trazer maior imersão ao fato. A partir da imersão, será construída uma maior aproximação
entre o ouvinte e a história, o que potencializa o interesse pelo fato narrado e pela reflexão
construída. As principais referências em histórias em formato storytelling foram as
temporadas do podcast “Projeto Humanos” como “O Caso Evandro” e “As Filhas da Guerra”.
O podcast narrativo da Folha de São Paulo “A Casa Abandonada” também embasou o projeto
experimental. Outros podcasts com formato mais jornalístico foram utilizados para ajudar na
condução das entrevistas.

6.4. Título e identidade visual

A definição do nome do podcast como “No Javari” foi feita levando em conta o espaço
geográfico onde ocorreu o crime que matou Bruno Pereira e Dom Phillips no chamado Vale
do Javari, localizado no estado do Amazonas. Neste sentido, ainda no primeiro contato com o
produto, o nome visa envolver o ouvinte com o local da tragédia, isto é, uma forma de vitrine
ou chamada à primeira vista para a reflexão sobre o conflito que causou a morte de pessoas
tão próximas da defesa da Amazônia e das comunidades que vivem na região.

O primeiro episódio, “Eu ouço a tua voz”, faz memória a música Kanamary preferida de
Bruno Pereira. Assim que a notícia do desaparecimento do indigenista e do jornalista veio à
tona, um vídeo onde Bruno canta a música "Wahanararai wahanararai/marinawa kinadih/hih
27
hih hih", que segundo o líder indígena Aldair Kanamary em entrevista ao jornal “O Globo”, a
letra conta a história de uma arara que dá de comer aos filhos. É uma música utilizada nos
rituais de ayahuasca em momentos de conexão com a família. Trazemos nesse episódio como
esse caso foi retratado e o que as duas vítimas deste triste homicídio queria relatar ao mundo
que acontecia em Atalaia do Norte.

O segundo episódio, “Nós salvaremos a Amazônia, é em referência ao livro que seria


publicado pelo jornalista Dom Phillips intitulado “Quem salvará a Amazônia?” onde ele iria
relatar o que viu durante sua pesquisa no Vale do Rio Javari e desmistificar o verde da
Amazônia e os crimes que acontecem nesta terra. Esse episódio também tem essa intenção de
mostrar a quem interessa o jornalismo ambiental e dar voz aqueles que são diretamente
afetados pelas intervenções no território amazônico. Há também a reflexão sobre o atual
cenário do Vale do Javari, onde comunidades indígenas contatadas ou isoladas ainda
continuam desprotegidas sem a presença dos órgãos de segurança do Estado. Com essa
lacuna, crimes ambientais e o narcotráfico se entrelaçam em ações que aterrorizam
populações locais com ameaças contra aqueles que buscam defender os interesses indígenas e
a proteção à Amazônia.

Para criar a identidade visual foi pensada uma estética que remete aos traços de adereços e
arte indígena dos povos que vivem no Vale do Javari. Também possui uma bússola apontando
para o Norte. Olhar essa região do país vem sendo o clamor de diversos segmentos que se
sentem esquecidos em diversos aspectos, como a falta de amparo do Governo às terras
indígenas, e o desinteresse dos veículos de comunicação em cobrir o local. O projeto busca
transmitir que o Norte existe e precisa ser ouvido.

7. PRODUÇÃO

Com a finalização do roteiro e das entrevistas, os passos seguintes foram as gravações das
narradoras, por meio da captação de gravadores de celulares. Para alcançar uma sonorização
limpa, de qualidade e sem ruídos, as gravações foram feitas em cômodos distantes da rua,
com janelas fechadas e em horários com menos movimentação nas ruas, entre às 22h e 00h.
Outro procedimento tomado durante as gravações foi o cuidado com a reverberação sonora
(eco). Para evitar esse problema, a captação sonora foi feita em cantos do cômodo, desta
forma o som se dissipa com mais facilidade entre os objetos do ambiente, ao contrário da
28
gravação no centro do cômodo, onde o som enfrenta mais obstáculos e, por consequência,
pode aparecer a reverberação.
Como a voz das narradoras é um dos principais elementos predominantes do podcast, foram
utilizados métodos vocais. Desta forma, o aquecimento da voz foi imprescindível para melhor
amplitude, articulação e qualidade da voz. A partir das aulas e materiais da disciplina de
Podcast da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), foram utilizados exercícios vocais
minutos antes das gravações, como a vibração dos lábios e da língua e leitura de trava línguas,
e alongamento do corpo para o relaxamento corporal. A forma e o ritmo da narração do
podcast “No Javari” se deu a partir de referências como o podcast “Projeto Humanos” e “A
Casa Abandonada”. No entanto, os podcasts exemplificados formaram apenas uma base de
como contar uma história, visto que o projeto experimental possui suas características
próprias, as quais exigem uma condução narrativa específica. Durante a gravação, também foi
utilizada uma linguagem em terceira pessoa, também identificada como o “narrador
onisciente”;

8. PÓS-PRODUÇÃO

8.1. Edição
A primeira parte da edição passou por cortes das partes mais importantes das entrevistas. O
recorte de trechos das entrevistas que contextualizam ou que se encaixam melhor na narrativa
do podcast “No Javari” foi necessário, visto a longa duração das conversas com as fontes, as
quais tiveram uma média de 1h. Além disso, o recorte foi o primeiro passo para dar maior
organização ao material coletado. Tanto o recorte como o restante da edição foram executados
no programa Audacity. A escolha do programa foi feita por sua fácil acessibilidade, e painel
intuitivo, além de oferecer pacote gratuito para não assinantes. Ao longo da edição, foram
usados sons de fundo da narrativa, que remetem à floresta amazônica, como barulhos de
pássaros, de insetos e de folhas pisadas. Em transições que remontam materiais jornalísticos
sobre o caso Dom e Bruno, foram resgatados vozes de jornalistas de veículos da imprensa que
contam trechos importantes da história.

29
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ideia formadora deste projeto surgiu a partir da inquietação sobre a cobertura dos veículos
de comunicação durante o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês
Dom Phillips. Desde o início do projeto, buscamos refletir sobre a necessidade de um
jornalismo mais crítico, e que contextualizasse de forma ampla todos os aspectos que
envolvem este caso tão complexo.
Percebemos ao longo da pesquisa bibliográfica e das entrevistas que o jornalismo possui um
leque de campos, cada qual com seu enfoque específico, mas é o jornalismo ambiental que
consegue dar conta dos diversos fenômenos que vão além de fatos isolados em certa região
geográfica. A crise ambiental, o homicídio, a vulnerabilidade das comunidades, e a lacuna
deixada pelo poder público são fenômenos conectados na Amazônia e em particular no Vale
do Javari.
É durante as entrevistas com as jornalistas que fica ainda mais claro a extensão do jornalismo
ambiental, o qual vai muito além de uma apuração restrita ao aspecto da natureza. Pensar no
jornalismo ambiental é permitir a possibilidade da construção de um jornalismo que trabalha
com o amanhã, com a preservação do planeta, e também é olhar para o agora: para as famílias
que já sofrem com os problemas ambientais.
A escolha do podcast como plataforma para a discussão e reflexão sobre o jornalismo
ambiental a partir do caso de Bruno e Dom foi ao encontro com a ideia central de
contextualização, um dos requisitos essenciais para se fazer jornalismo ambiental. Isso porque
o podcast tem se popularizado como um espaço com longo tempo de duração, algo necessário
quando se fala em explorar um assunto além do factual.
Durante a produção do roteiro sobre o caso Bruno e Dom, foi necessária a leitura de um
amplo material jornalístico de veículos de comunicação. A partir desse arcabouço de
informação, conseguimos compreender com mais detalhes o que aconteceu no Vale do Javari.
Somado ao relato das entrevistas, o podcast problematiza os desafios da cobertura jornalística
durante o desaparecimento do indigenista e do jornalista, assim como a perda do interesse da
imprensa pela atual situação no Vale do Javari.
Concluímos, a partir das entrevistas, que o interesse da imprensa na época do sumiço de Dom
e Bruno possui relação com o fato de que uma pessoa estrangeira acabou sendo morta. Outro
problema da cobertura jornalística da época passa por matérias pouco aprofundadas sobre o
conflito na região do Vale do Javari.

30
A música indígena entoada por Bruno Pereira, durante uma expedição na Amazônia, em
2019, ecoou nas nossas reflexões. Ela aparece nos primeiros segundos do podcast e traduz a
reflexão pretendida em nosso projeto: é preciso que a sensibilidade e a consciência pela
preservação da vida estejam alinhadas com os jornalistas, os quais possuem um compromisso
coletivo.

FICHA TÉCNICA
Título: No Javari
Gênero: Ambiental
País: Brasil
Ano: 2023
Duração do Episódio 1: 20
Duração do Episódio 2: 20
Produção: Gabriela Brasil e Rayane Garcia
Roteiro: Gabriela Brasil e Rayane Garcia

ROTEIRO

Episódio 1

Descrição Locução

Narração
Olá pessoal, meu nome é Gabriela Brasil. A música que você
acabou de ouvir se chama “Wahanararai” e foi cantada em
Katukina, língua do povo Kanamari. Este é o primeiro
episódio do podcast “No Javari”. Ao longo dele, eu e minha
colega Rayane Garcia vamos intercalar nossas vozes. Esta
abertura não nos faria sentido sem a presença da música
cantada pelo indigenista Bruno Pereira. Esperamos que no
decorrer da história, você entenda o motivo.

O que podemos dizer de imediato é que canção foi vocalizada


por Bruno durante uma expedição na região do Vale do Javari,

31
no Amazonas. O momento foi gravado no ano de 2019, e
acabou sendo compartilhado em todo o mundo em 2022. À
imprensa, Eliesio Marubo, procurador jurídico da Univaja
disse que naquela situação o grupo guiado por Bruno
composto por indígenas e não indígenas sentia a tensão da
expedição e a saudade da família. Para aliviar a aflição, Bruno
cantou a canção indígena.

Sonora Sonora de
Eliesio Marubo

Narração
No vídeo, é possível ver Bruno sentado sobre densa camada
de folhas, no meio da mata fechada. Ele sorri enquanto canta,
e outras pessoas do grupo também seguem o canto. A música
foi aprendida por Bruno Pereira, a partir de seu convívio
direto com os povos indígenas. A partir de uma relação
construída pela sensibilidade e pelo respeito a outro modo de
vida, o qual, entra em contraste com o modo de vida do
homem branco. É neste conflito, um conflito histórico
marcado por massacres e destruição, que Bruno Pereira
desapareceu, três anos após a expedição.

Som Sonorização da
Bruno cantando
a música
indígena

Narração
Também estava na expedição de 2019 o jornalista inglês Dom
Phillips. Com longa experiência em cobertura na Amazônia,
Dom colaborava para o jornal britânico The Guardian com
reportagens especiais sobre a crise ambiental e sobre as
comunidades da região. O amor pela Amazônia fez Dom
visitar diversas vezes o local. Ele e Bruno eram companheiros
da luta pela preservação da vida na floresta amazônica.
Porém, no dia 5 de junho de 2022, bruno e Dom sumiram pela
manhã. Eles foram vistos pela última vez com vida em uma

32
expedição pelo rio Itaquaí com destino ao município de
Atalaia do Norte, na região do Vale do Javari, no amazonas.

Sonora Trecho da entrevista com Eliesio Marubo


Sonora Eliesio
Marubo

Narração Este é o procurador jurídico da Univaja, Eliesio Marubo, o


mesmo que explicou há pouco tempo o significado da música
“Wahanararai”. A Univaja é uma organização localizada no
município de Atalaia do Norte, que foi criada em 2010 com o
objetivo de defender os direitos dos povos indígenas. Foi ela
que iniciou as buscas por Bruno e Dom assim que eles
sumiram, e foi ela quem acionou os órgãos de segurança. A
Univaja foi um dos principais atores durante as buscas.

Sonora Sonora Eliesio


Marubo

Sonora Sonora Yura


Marubo

Narração
Este é Yura Marubo, assessor jurídico da Univaja

Sonora Sonora Yura


Marubo

Som Som de floresta


Diferente de muitos casos de desaparecimento, violência e
ameaças que acontecem na Amazônia, o sumiço do
indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips
ganhou grande repercussão na imprensa nacional e
internacional.

Sonora Sonora de
veículos da
imprensa sobre

33
o
desapareciment
o de Bruno e
Dom

Sonora Sonora Elaíze


Farias

Narração
Na época, diversos jornalistas viajaram até a região do Vale
do Javari para acompanhar as buscas e ações dos órgãos de
segurança. Elaíze não conseguiu ir até o local do
desaparecimento. Naquele momento, ela participava de um
painel em Washington, nos Estados Unidos. Por possuir
muitas fontes na região, ela conseguiu acompanhar o caso. A
partir da entrevista com uma fonte indígena, a Amazônia Real
publicou no dia 7 de junho de 2022 a matéria “Bruno Pereira e
Dom Phillips foram vítimas de emboscada, denuncia
indígena”. O texto dividiu a opinião do público.

Sonora Sonora Elaize


Farias

Sonora Sonora Eliesio


Marubo

Sonora Sonora Eliesio


Marubo

Sonora Sonora
imprensa

Narração
No próximo episódio: Como está atualmente a região do Vale
do Javari um ano após a morte de Bruno e Dom? Como tem
sido a atuação do Governo Federal para combater a violência
local? A imprensa ainda repercute a região? Tudo isso no

34
segundo episódio do podcast “No Javari”

REFERÊNCIAS

GIRARDI, Ilza M. Tourinho; MASSIERER, Carine.; LOOSE, Eloisa Beling.; SCHWAAB,


Reges. Caminhos e descaminhos do Jornalismo Ambiental. São Bernardo do Campo:
Comunicação e Sociedade, 2012.

GIRARDI, Ilza M. Tourinho; LOOSE, Eloisa Beling; ALMEIDA DA SILVA, Jamille. O


jornalismo ambiental na concepção de quem o faz: estudo com jornalistas da América
Latina, Caribe, Portugal, Espanha e países africanos de língua portuguesa. Palmas: Aturá
Revista Pan-Amazônica de Comunicação, 2018.

HOLANDA, J. S. P.; KÄÄPÄ, P.; COSTA, L. M. Jornalismo ambiental: características e


interfaces de um campo em construção. Intercom, Rev. Bras. Ciênc. Comun., São Paulo, v.
45, e2022109, 2022. doi: https://doi.org/10.1590/1809-58442022109pt.

LOOSE, Eloisa. Jornalismo e mudanças climáticas desde o sul: os vínculos do jornalismo


não hegemônico com a colonialidade. 2021. 253f. Tese (Doutorado) – Faculdade de

35
Biblioteconomia e Comunicação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2021

MORAES, C. H. ; GIRARDI, I. M. T. Enlaces entre Educomunicação e Jornalismo


Ambiental: a mudança climática em questão. Educomunicação e diversidade: múltiplas
abordagens. São Paulo: ABPEducom, 2016.

NETO, Barnabé Lucas de Oliveira Da lama ao caos: o retrocesso da política e liderança


ambiental do Brasil sob o governo Bolsonaro. Paraíba: Novos Cadernos NAEA, 2022.

STEIGLEDER, Débora Gallas. A contribuição do processo educomunicativo aos princípios


do jornalismo ambiental: uma proposta de reflexão epistemológica a partir de experiência
com estudantes de ensino médio. Tese (Doutorado em Comunicação e Informação),
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2021.

KRENAK, Ailton Alves Lacerda. O amanhã não está à venda. São Paulo: Companhia das
Letras, 2020.

36

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