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Pontifícia Universidade

Católica do Paraná
Curso de Direito

PERÍODO/ TURNO
10º B - NOTURNO

NOME DO ALUNO
WALMIR PACHECO CORDEIRO

PROFESSOR
OKSANDRO OSDIVAL GONÇALVES

DIREITO
TDE - DIREITO ECONÔMICO

NOME DO TRABALHO
RELATORIO - INCENTIVOS FISCAIS À INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA COMO ESTÍMULO AO DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO: O CASO DAS START-UPS

Local, (dia /mês/ ano)


CURITIBA, 17/11/2016
INCENTIVOS FISCAIS À INOVAÇÃO TECNOLÓGICA COMO ESTÍMULO AO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: O CASO DAS STARTUPS

1. Introdução

No modo de produção capitalista, adotando-se como marco histórico


referencial a Revolução Industrial do século XVIII, é fácil perceber que a
utilização do conhecimento científico foi responsável pelo surgimento de
importantes inovações tecnológicas, que provocaram o aumento da produção e
da produtividade

Os agentes econômicos privados desempenham importante papel para


o surgimento de inovações tecnológicas, pois esse fenômeno é essencial para
sua própria sobrevivência em um mercado altamente competitivo. O Estado
pode estabelecer condições e estímulos próprios aos investimentos para que
os empresários os aproveitem, reorganizando os fatores de produção no nível
da empresa. Isso pode ser feito através da concessão de incentivos fiscais com
objetivo de direcionar o comportamento dos agentes privados para que estes
adotem condutas conformadoras dos objetivos estatais.

O presente artigo tem por objetivo analisar o Projeto de Lei no 321, de


agosto de 2012, e o Projeto de Lei n° 54, de fevereiro de 2014, ambos
originários do Senado Federal.

2. O papel do estado no estímulo à inovação tecnológica

Segundo Schumpeter, o fenômeno do desenvolvimento econômico


reside na combinação de novos recursos produtivos. Há cinco fontes de
inovação: (I) a introdução de um novo bem ou de uma nova qualidade de um
bem; (II) a introdução de um novo método de produção; (III) a abertura de um
novo mercado; (IV) a conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-
primas ou de bens semimanufaturados; e (V) o estabelecimento de uma nova
organização de qualquer indústria, com a criação ou a ruptura de uma posição
de monopólio.
Segundo Clayton M. Christensen, um dos maiores expoentes no estudo
sobre inovação da atualidade, essas são as inovações disruptivas, que trazem
ao mercado uma proposição de valor diversa daquela até então existente,
inserindo no mercado produtos, geralmente, mais simples de usar e mais
baratos.
Schumpeter vê o desenvolvimento econômico como um processo de
destruição e reconstrução a partir do processo de inovação. Assim, uma
determinada fase do desenvolvimento é substituída por outra que destrói as
estruturas anteriores e propõe novas que, quando aceitas, passam a ditar o
processo desenvolvimentista.
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 218, cuidou de enunciar que
cabe ao Estado incentivar o desenvolvimento científico, a pesquisa e a
capacitação tecnológica, com vistas a promover o bem público e o
desenvolvimento do sistema produtivo. O mesmo objetivo pode ser encontrado
em outros momentos do texto constitucional, a exemplo da educação (BRASIL,
1988, art. 207, § 2°; art. 214, V) e da saúde (BRASIL, 1988, art. 200, inc. V),
dentre outros.
No intuito de atender a esses objetivos, o Governo Federal vem
construindo políticas públicas para estimular a inovação e o desenvolvimento
tecnológico na economia. Um exemplo desta iniciativa é a Lei no 10.973, de 2
de dezembro de 2004, conhecida como Lei da Inovação, que criou
mecanismos de incentivo à inovação e às pesquisas científica e tecnológica no
âmbito produtivo, bem como a Lei no 11.196, de 21 de novembro de 2005,
conhecida como Lei do Bem.

3. A importância do estímulo aos pequenos negócios: o Programa Startup


Brasil
Os pequenos negócios possuem grande importância socioeconômica
para o país, contribuindo significativamente para a geração de emprego e
renda.
Esses pequenos empreendimentos podem auxiliar na concretização de
diversos valores caros ao texto constitucional.
Reconhecendo a importância estratégica dos pequenos negócios, a
Constituição Federal, em seu art. 179, destina tratamento jurídico diferenciado
às microempresas e às empresas de pequeno porte, com escopo de incentivá-
las através da simplificação, redução ou eliminação das obrigações
administrativas, tributárias previdenciárias e creditícias.
Esse tratamento constitucional diferenciado aos pequenos negócios visa
garantir a manutenção do próprio equilíbrio concorrencial.
Para realizar esses objetivos, uma das principais ações do TI Maior se
concretiza através do Programa Startup Brasil, promovido pelo Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI.
De acordo com o último Edital lançado, cujas inscrições se encerraram
em outubro de 2014, para os projetos selecionados, o programa dispôs de
recursos da ordem de 20 milhões de reais, sendo metade deste valor para o
ano de 2014 e o restante para o ano de 2015.
As aceleradoras oferecem uma série de serviços, com duração de três a
doze meses, dentre eles, infraestrutura, atividades de mentoria, acesso a
potenciais investidores e clientes, capacitação e consultorias, fatores que
podem ser combinados de formas diferentes por cada aceleradora. Esses
agentes têm foco e condições de investimento singulares, que poderão variar
de R$ 20 mil a R$ 150 mil.
Além disso, o Programa Startup Brasil pode colaborar para realizar
simultaneamente dois objetivos constitucionais: (I) a promoção aos pequenos
empreendimentos; e (II) o estímulo à inovação e ao desenvolvimento científico.
Essas medidas, ao serem implementadas, tendem a conduzir a outros
resultados perseguidos pela ordem constitucional, como o desenvolvimento
nacional e a redução das desigualdades sociais e regionais.

4. A tributação extrafiscal como instrumento para direcionar condutas

Ocorre que, mesmo sob a égide de um Estado cuja principal fonte de


financiamento reside na tributação das relações econômicas privadas, os
tributos não devem ser vistos apenas pela perspectiva arrecadatória.
O Estado pode valer-se de normas tributárias para estimular
determinada atividade econômica ou até mesmo dissuadir condutas
indesejáveis, sendo lícito aos agentes decidirem se adotam ou não a conduta
pretendida pelo Estado.
A esse fenômeno se denomina extrafiscalidade, que cria uma
perspectiva diferenciada de intervenção do Estado na ordem econômica
porque, através do tributo, o Estado consegue incentivar ou desincentivar
certas atividades econômicas, bem como influir no processo de escolhas feitas
pelos agentes econômicos.
Valendo-se da mesma técnica, mas com objetivo inverso, o Estado
majora a imposição tributária de produtos nocivos como o álcool e o cigarro,
objetivando torná-los mais caros para dissuadir os indivíduos de consumi-los,
em prol da proteção da saúde4. Quando isso ocorre, percebe-se que, no
primeiro caso, o Estado proporcionou uma vantagem que não decorre do livre
funcionamento do mercado e, na segunda hipótese, fez com que o destinatário
da norma tributária incorresse em custos cuja origem também não reside no
funcionamento do livre mercado.
Ao atuar dessa forma, o Estado condiciona, externamente, a atividade
econômica privada, sem assumir a posição de agente econômico.
Assim, manifesta-se a extrafiscalidade, que pode ser compreendida
como aquelas normas que, embora façam parte do Direito Fiscal, não tem por
finalidade dominante a consecução de receitas para o Estado, mas objetivam
realizar determinada finalidade econômica ou social.
A tributação pode funcionar como instrumento para direcionar condutas
e, ao fazê-lo, pode ser útil na implementação dos objetivos e valores
perseguidos pelo ordenamento jurídico. É nessa perspectiva que são
analisados os Projetos de Lei no 321/2012 e no 54/2014, os quais se propõem
a promover o incentivo à inovação tecnológica.

5. O Projeto de Lei no 321/2012: o incentivo fiscal aos empreendedores

O conceito de start-up tem sido utilizado para definir pequenos negócios


inovadores atuantes no setor tecnológico, em geral com poucos funcionários.
Segundo a Associação Brasileira de Start-ups, trata-se de “uma empresa de
base tecnológica, com um modelo de negócios repetível e escalável, que
possui elementos de inovação e trabalha em condições de extrema incerteza”
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE STARTUPS, 2014).
Ainda é pequeno o grau de inovação nas indústrias brasileiras. Segundo
a última Pesquisa Industrial de Inovação (PINTEC, 2011), promovida pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, apenas 35,6% das
indústrias implantaram processos novos ou aprimorados. Esse cenário
desfavorável denuncia a necessidade de uma agenda estatal voltada à
promoção da inovação tecnológica. Nessa linha, no ano de 2012, o Senador
José Agripino apresentou junto ao Senado Federal o Projeto de Lei no
321/2012 (BRASIL, 2012), que dispõe sobre o Sistema de Tratamento Especial
a Novas Empresas de Tecnologia – SISTENET.
A empresa, enquanto atividade, é algo diferente do sujeito de direito que
a explora, isto é, o empresário. Da maneira como foi redigido o projeto, o art. 2°
pode levar à conclusão de que a empresa se confunde com a pessoa jurídica,
o que juridicamente não é correto. Por isso, em nome da boa técnica
legislativa, seria mais adequado definir o termo start-up a partir das atividades
por ela desenvolvidas.
Posteriormente, o art. 3º°estabelece que a start-up cujas atividades se
enquadrem na definição dada pelo art. 2° poderá optar por aderir ao Sistema
de Tratamento Especial a Novas Empresas de Tecnologia - SISTENET pelo
prazo de dois anos, prorrogável por mais dois anos.
O regime tributário diferenciado pode colaborar também para mitigar o
alto índice de falência das pequenas empresas, na maioria das vezes em seus
primeiros anos de existência.
Embora no ordenamento jurídico já existem mecanismos destinados a
favorecer os pequenos negócios, tais como a Lei Complementar no 123, de 14
de dezembro de 2006, Lei do Simples Nacional, que confere tratamento
tributário diferenciado e favorecido às microempresas e às empresas de
pequeno porte, o projeto de lei destina-se especificamente àquelas empresas
com baixíssimo faturamento. No caso do mencionado projeto de lei, o incentivo
concedido é legítimo, porquanto seu fundamento repousa na Constituição
Federal, que além de outorgar tratamento jurídico diferenciando aos pequenos
negócios, visa fomentar a inovação tecnológica.
6. O Projeto de Lei no 54/2014: o incentivo fiscal aos investidores

Além do projeto de lei já analisado, o Senador José Agripino apresentou,


no ano de 2014, o Projeto de Lei no 54/2014 para votação junto ao Senado
Federal (BRASIL, 2014). Em fase mais embrionária de tramitação, a proposta
pretende alterar a Lei n°. 9.250, de 26 de dezembro de 1995, que trata do
imposto de renda das pessoas físicas, para incluir em seu art. 8°, inc. II, a
alínea j, para permitir a dedução da base de cálculo do imposto de renda,
parcela dos valores investidos na integralização de capital social em
sociedades empresárias start-ups.
Segundo a legislação do imposto de renda, as possibilidades de
dedução da base de cálculo estão limitadas às despesas com dependentes,
saúde, educação, previdência oficial ou privada e pensão alimentícia, assim
como, doações destinadas a incentivar determinadas atividades, a exemplo do
que ocorre com a Lei n°. 8.313, de 23 de dezembro de 1991, Lei de incentivo à
cultura. Assim, quando da declaração de ajuste anual do imposto sobre a renda
da pessoa física, a dedução da base de cálculo sobre a qual incide a alíquota
pode significar a redução do valor da exação.
Como esse tipo de investimento pressupõe a assunção de um risco, na
medida em que há menos garantia do retorno do capital aportado, é comum
que esses pequenos negócios encontrem grande dificuldade na captação de
recursos para o financiamento de suas ideias. No entanto, a aprovação do
projeto pode colaborar para mitigar essa circunstância. Isso porque,
considerando-se que os agentes econômicos são racionais e visam maximizar
o resultado de suas atividades, a possibilidade de diminuir o valor da exação
aliada à contrapartida em participação acionária poderá atrair o capital dos
chamados investidores anjos.
Outra ressalva deve ser feita com relação ao item 4 da alínea j, cuja
redação prevê a necessidade de que a start-up em que for investido o recurso
seja selecionada por ato do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior.
Merece atenção, também, o § 5o da alínea j, que prevê que a dedução
da base de cálculo está limitada a 20% do valor integralizado, não podendo
ultrapassar R$ 80 mil por ano-calendário, considerando todos os investimentos,
ainda que a participação envolva mais de uma Start-Up. Tais limites poderiam
ser majorados, em especial o percentual dedutível,
Revela-se bastante importante a iniciativa do projeto de lei em direção à
instalação de um ambiente mais propício à inovação tecnológica no âmbito das
pequenas empresas nascentes de base tecnológica. Além disso, a sistemática
de deduzir da base de cálculo não é complexa, o Fisco favorece a melhor
compreensão e implementação prática das regras tributárias.

7. Conclusão
A eclosão de inovações tecnológicas não depende apenas do agente
produtivo, mas de uma conjugação de fatores necessários a estabelecer um
ambiente propício ao processo inovativo.
O Programa Start-up Brasil, que visa subvencionar pequenos
empreendimentos de base tecnológica, que podem ser ainda mais estimulados
com uma tributação menos onerosa para o setor.
Além de possibilitar um regime tributário diferenciado para
empreendedores com boas ideias, conforme estabelecido no Projeto de Lei n°.
321/2012, também estabelece uma sistemática de atração do capital privado
para essas start-ups nos termos do Projeto de Lei no 54/2014. Por isso, a
aprovação desses projetos de lei, ambos fundados na extrafiscalidade dos
tributos, pode ser uma forma eficiente de estímulo à inovação tecnológica.
É necessário promover uma reforma tributária profunda, que seja capaz
de descomplicar o sistema tributário e, simultaneamente, torná-lo mais justo,

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