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SINOPSE SOBRE A GEOLOGIA DO PARANA Sergio Luiz Thomaz* RESUMO: Os trabalhos versando sobre os eventos geolégicos do Brasil Meridional fundamentam-se em pesquisas desenvolvidas por empresas, universidades e centros de pesquisa em geral. Essa gama de informacées permitiu um conhecimento dos eventos geolégicos ocorridos na Bacia do Parana e em dreas aquém desta fei¢do estru- tural. O relat@e visa a apresentacdo do panorama geral da geo-histéria no 4mbito dos limites do Estado do Paranda, através da sumarizacao da litoestratigrafia ordenada cronologicamente, e dos fatores que possibilitam uma visdo das caracteristicas paleo- ambientais. O texto trata dos fenédmenos ocorridos ao longo do Eon Criptozéico, durante o Pré-Cambriano, e em seguida do Eon Fanerozédico, incluindo os aconte- cimentos ocorridos nas eras Paleozdica, Mesozdica e Cenozdica. Dessa forma, séo referenciadas as diversas formag6es pertencentes aos grupos Parana, Itararé, Guatd e Passa Dois, do Paleozdico; Sdo Bento, do Mesozéico e as formacées Cenozéicas. PALAVRAS-CHAVE: Geocronologia do Parané, litoestratigrafia do Paran4, Geologia. INTRODUGAO: Para as ciéncias da Terra nado existem barreiras geograficas ou pol/ticas, significando que as informagées de cunho geolégico, aqui relatadas, nao se restringem somente ao Estado do Parana, possuindo uma amplitude que ultrapassa em muito as nossas fronteiras. A superficie do Estado pode ser separada em duas por¢cdes, determinadas pela presenca de rochas muito antigas ou pela ocorréncia de rochas mais novas. Estas Ultimas acham-se inseridas no contexto de uma das grandes bacias paleozdicas brasi- leiras — a Bacia do Parana. (Fig. 1). Desde longa data, pesquisadores vinculados a empresas, universidades, etc., vém efetuando estudos com a finalidade de desvendar os fatos ligados 4 geo- historia desta por¢do do Brasil Meridional. * Professor do Depto. de Geografia da Universidade Estadual de Maringé - Area de Geologia 76 Bol. de Geogratia. UEM — Ano 2 —n.o 2 — jan. 1984 Destaque-se que a literatura é variada e extensa, tanto especifica como geral. Estes fatores demonstram o trabalho continuo e progressivo dos pesquisadores que, no transcurso do tempo, procuram determinar as causas condicionantes dos eventos ocorridos no passado geoldgico e que, mais objetivamente, relacionam-se com o Estado do Paranda. Assim, 0 objetivo desta sinopse é 0 de sintetizar, globalmente, as evidéncias geolégicas que sao observadas no dmbito do territério paranaense, possibilitando aos iniciantes nesta importante geociéncia, a visualizagdo mais direta e simplificada daquilo que Os cerca ou que sera objeto de sua drea de atuacdo. 32 PLamaLro 28 PLanaLto te PLaNaLTO SERRA GERAL "Se RmINNA™ SERRA 00 MAR Dominie om supertie de | Dominio om aches paleensicns AciA SEDMENTAR 00 PARANA Figura 4 1. EON CRIPTOZOICO Se atribuirmos 4 Terra uma idade de 4,5 bilhdes de anos e se verificarmos que a vida se originou em torno de 600 milhdes de anos, podemos dividir 0 tempo em duas fragdes. Com base nesse critério obtemos, assim, a maior unidade geocronoldgica que éo EON. © longo espaco de tempo, cuja duracdo corresponderia a 3,9 bilhées de anos, em que a vida é obscura e nao registrada, recebeu a denominacdo de EON CRIP- TOZOICO. Apesar da grande amplitude desse tempo, pouco se sabe sobre os fendme- nos af ocorridos. Corresponde a maior concentragao de rochas, distribufdas por vastas reas da crosta terrestre e que E. Suess denominou de ESCUDO. Os escudos compre- endem os primeiros nticleos de rochas emersas que afloraram nos primérdios da for- macdo da litosfera. Sdo as dreas estaveis que, em ntimero de sete, distribuem-se sobre o globo terrestre: 7 Escudo Escandinavo — Escudo Siberiano — Escudo Canadense — Escudo Guianense — Escudo Brasileiro — Escudo Sul-Africano — Escuto Patag6nico. A auséncia de fésseis das rochas criptozéicas torna invidvel os estudos de correla¢do, uma vez que os mesmos constituem os instrumentos mais eficientes, quando se pretende verificar a similaridade entre camadas rochosas geograficamente afastadas entre si. Sem a possiblidade de correlacdo, as formacGes rochosas nao pas- sam de fragmentos esparsos, semelhantes a documentos que registram somente a hist6éria geolégica local. Este fator foi, também, responsavel por denominagées como: Era Proterozdica e Era Arqueozéica (inclusive suas divis6es), introduzidas na literatura geolégica mas, atualmente, desprezadas em favor do termo PRE-CAMBRIANO. No Estado do Parana, os terrenos pré-cambrianos ocorrem numa faixa da porcdo leste do Estado’, coincidente com o Primeiro Planalto ou Planalto de Curitiba, a Serra do Mar e alguns nucleos emergentes na regido da Planicie Costeira onde rochas magmaticas e metamérficas aparecem com maior freqiiéncia, intercalando algumas exposi¢des de rochas sedimentares. Os ciclos orogénicos, que se manifestaram no Pré-Cambriano em escala mundial, provavelmente, tiveram reflexos na drea paranaense, podendo ser interpre- tados como segue, embora as observagGes feitas nas diversas partes do mundo nao autorizem o estabelecimento de correlacdes. ‘4.1. PRE-CAMBRIANO: Para facilidade de compreensdo, informalmente, utilizam-se as denomi- nagdes Pré-Cambriano Médio e Pré-Cambriano Superior afim de situar em ordem cronolégica, os eventos geoldgicos seguintes: Pré-Cambriano Médio: Corresponde ao complexo cristalino, um conjunto de rochas magmiticas, sobre as quais sucedem-se as seqiiéncias de camadas oriundas da atividade erosiva exercida sobre as mesmas, no decorrer deste tempo. Sdo as menos estudadas na coluna geoldgica do Estado do Parané. Na regio Leste do Estado do Parané, as intrusdes de magmas graniticos teriam originado uma cadeia de montanhas (Bigarella, 1954). Pré-Cambriano Superior: Com base nos trabalhos de Fuck et alii (1971), as seqiiéncias rochosas desta idade sucedem-se através de rochas metamédrficas e sedimentares metamorfisadas, permitindo 0 estabelecimento de formacées. Temos, assim, a Formagdo Setuva composta de quartzitos, micaxistos, paragnaisses e metabasitos com quartzitos ferruginosos, assentada sobre o embasamen- to através de uma discordancia. 1 Para o Leste do Estado do Parana, adota-se a coluna proposta por Fuck, R.A., Marini, O.J., Trein, E. & Muratori, A. (1971), publicada nos Anais do XXV Congreso Brasileiro de Geo- logia, Soc. Bras. Geol., S40 Paulo. 78 Vem a seguir, o Grupo Acungui formado pelas seguintes unidades: a) Formacdo Capiru — depositada em ambiente de 4guas rasas e agitadas, sob condi- ges climaticas provavelmente quentes e Umidas. Litologicamente, mostra marmores dolomiticos, quartzitos e filitos. Estromatdlitos j4 foram encontrados nesta forma- cdo que tem uma espessura em torno de 2.000 metros. b) Formagdo Itaiacoca — Mesma condi¢do deposicional que a anterior, salientando, no entanto, que as estruturas estromatol iticas so diferentes. Como formadora des- te tipo de estrutura Almeida descreveu a Collenia itapevensis, uma espécie de alga cianoficea. Méarmores dolomiticos, quartzitos e filitos constituem a fei¢do litolégica da Forma- go Itaiacoca, que possui uma grande importancia geoeconémica, por ser portadora de grandes jazidas de talco. Estes depésitos localizam-se nos municipios de Ponta Grossa e Castro. Formagao Votuverava — Provavelmente o ambiente neritico tenha tido o sitio de- posicional dos metassedimentos clasticos finos, quartzitos e marmores que com- pdem a litologia desta unidade. Z d) Formagao Agua Clara — calcoxistos, calcdrios, filitos e quartzitos, compéem esta formacdo. Estromatélitos sugerem ambiente subaquatico de dguas rasas. Uma superficie discordante determina os contatos inferior e superior de cada uma destas formagées. Ainda dentro de Pré-Cambriano Superior, capeando o Grupo Acungui, temos a ocorréncia de granitos, cuja idade absoluta atingiu 600 milhGes de anos, coincidindo com o término do Eon Criptozédico. ¢| 2. EON FANEROZOICO A enorme quantidade de fdésseis — evidéncias diretas da presenca e vida em tempos pretéritos — é a caracter{stica fundamental desta grande unidade geo- cronolégica. E o tempo da vida manifesta, registrada. As rochas com contetido fos- silffero possibilitam as correlagdes. A amplitude da distribuic&o geogréfica dos orga- nismos, permite a visualizagdo da extensdo lateral do dom/nio de um determinado ambiente. As seqiiéncias rochosas existentes nessas hoje afastadas dreas continen- tais possuem estratos contendo representantes da flora e fauna similares. Em vista disto, o Principio do Atualismo pode ser aplicado em toda a sua extensdo, em todo o seu fundamento. Pela correlacdo verifica-se que América do Sul, Africa, Madagascar, India, Australia e Antdrtida fizeram parte de um conjunto continental situado ao sul do equador: 0 GONDWANA. Assim, a existéncia de um supercontinente deixa o reino da fantasia para se tornar realidade. 79 Com base na vida que floresceu, desenvolvendo-se através dos tempos, o Eon Fanerozéico foi dividido em parcelas temporais mais restritas, denominadas ERAS que, comportando outras subdivisées — Perfodo, Epoca, Idade, Aamues — per- mitiu a composi¢éo da Coluna Geoldigica Padrdo, cuja correspondéncia litoestrati- grafica, cronologicamente disposta, 6 mostrada no Quadro 1. QUADRO 1 — Geocronologia e Litoestratigrafia no Parané, até o final da era mesozdica. ‘GEOCRONOLOGIA UTOESTRATIGRAFIA Tou ena] —reniooo | _eroca TDABE Fommacro. ‘enuro | Surenanuro [Sennions————} soot Fe emi cement a meres ‘. SKOBENTO. ° 1 | seta F eats [eae A mice [ear N fans raat oat ‘ |_Swomior — |razaniane & Permione Medio. |kurgurian GUATA z = rueanko 6 trie [peeine aiikine c a a o|, ester a 2 eo Fon rm Pawan . = < | vivo Fite — E one awaniano EMAASAMENTO 2 $ 2.1, Era Paleozéica Corresponde a era priméria, de ocorréncia de vida antiga. Compreende os seguintes perfodos geolégicos: Cambriano — Ordoviciano — Siluriano — Devoniano — Carbonifero — Permiano. A duracdo desta era é estimada em 370 milhées de anos. No Estado do Parané, os terrenos paleozdicos, integrantes da seqiiéncia sedimentar da Bacia do Parana, estendem-se através do Segundo Planalto ou Planalto dos Campos Gerais a partir da “‘Serrinha’’, localmente, denominada Serra Sao Luiz do Puruné, escarpa divisdria entre este planalto e o Planalto de Curitiba. Sdo as rochas mais estudadas e sua historia data do Devoniano. Anteriores a esse periodo e posicionadas em razdo de datacdes radiomé- tricas, encontramos, na faixa leste, algumas formagées rochosas de ocorréncia genera- lizada sobre a superficie, nao se distribuindo uniformemente. Segundo Fuck et alii (1971), a coluna geolégica do leste paranaense seria constitufda, litoestratigraficamente, como segue: a) Formagao Camarinha, ocorrendo a oeste de Curitiba, no sopé da escarpa da Forma- cdo Furnas; é formada na base por siltitos, e por conglomerados na parte superior. Apresenta dobramentos e falhamentos, e sua espessura atingiria os 3000 metros. Provavelmente, sua idade seria cambriana. b) Grupo Castro, litologicamente apresentando riolitos, andesitos e rochas sedimenta- res, dispostas em camadas n&o dobradas mas deformadas por falhamentos. Estaria Posicionada no Ordoviciano, face 4 datacdo radiométrica obtida na Universidade de So Paulo. c) Formagao Guaratubinha, determinada pela ocorréncia de rochas vulcdnicas e sedi- mentares. Nestas Ultimas terfamos arcésios, conglomerados, siltitos e argilitos. Sua exposi¢ao é restrita a regido sudeste de Curitiba. d) Formagao tapé, restrita em superficie 4 drea de Castro. Sua litologia é caracterizada pela presenca de depdsitos ruddceos (paraconglomerados) contendo fenoclastos de granitos, gnaisses e quartzitos. Sob 0 ponto de vista orogénico, durante o Ordoviciano algumas intrusdes de magmas 4cidos originaram quartzos-pérfiros. Essas ocorréncias estariam relaciona- das a revolugo taconiana que pode ter afetado o Grupo Acungui, j4 mencionado no cap/tulo relativo ao Pré-cambriano, Assim, até ser iniciada a deposi¢do das rochas devonianas, toda a superficie ocupada pelo Estado do Parana sofreu intensa a¢do erosiva tratando-se de uma 4rea emersa em processo de peneplanizacao. 81 2.1.1. Per Neste ponto inicia-se a historia do Paleozdico na bacia do Parana e, conse- qientemente, na por¢éo do Estado do Paranda, desde a escarpa da Serrinha, até a calha do Rio Parana?. (Fig. 1). Sobre a superficie peneplanizada pré-devoniana depositaram-se os arenitos esbranqui¢ados, de granulometria média a grosseira, intercalando arenitos contendo alguns seixos. Mostram estratificagao cruzada e depdsitos residuais de canais, aspectos que indicam um ambiente fluvial para este pacote sedimentar denominado Formacaéo Furnas. lo Devoniano Uma impresséo vermiforme (Roualthia furnai Lange) sem valor para a determinacdo de idade ou ambiente deposicional tem sido, até o momento, o Unico registro fossilifero desta unidade litoestratigrafica ndo descartando-se, todavia, a pos- sibilidade da presenca de icnofésseis. Na geomorfologia do Estado do Paranda, o arenito Furnas tem uma signifi- cativa importancia, pois a area de sua ocorréncia é caracterizada por mesetas com as bordas escalonadas e muitos cérregos do tipo lageado originando, em alguns trechos, profundos “‘canyons”’. Movimentos epirogenéticos negativos ocasionaram a invasio do mar devoniano cujos sedimentos, apds a litificac¢do, foram denominados por Oliveira, em 1912, como Formagao Ponta Grossa. Esta unidade apresenta folhelhos argilosos e silticos comportando-se como uma jazida fossilffera, dada 4 grande quantidade de fésseis de que é portadora. Os representantes da fauna e flora marinha atestam as condigdes depo- sionais da Formacgéo Ponta Grossa, podendo ser interpretada como de ambiente marinho neritico em condi¢des de clima frio, sendo este Ultimo aspecto inferido face 4 ocorréncia de seixos pingados. - A revolugao acadiana — sincrénica 4 deposicéo das Formacées Furnas e Ponta Grossa — parece nao ter afetado os terrenos devonianos do Estado do Para- na. Estas duas unidades litoestratigraficas foram reunidas no Grupo Paranda. 2.1.2. Periodo Carbonifero Apés o Devoniano, o mar regrediu e, durante quase todo o Perfodo Car- bonifero, a area esteve sujeita 4 erosdo ou a ndo deposicdo de material sedimentar. Essa peneplanicie recebeu sedimentacdo apenas ao final do Carbon/fero Superior. 2 Para a seqiiéncia sedimentar a partir da Serra Séo Luiz do Puruna em diregdo a calha do Rio Parané, adota-se a litoestratigrafia proposta por Schneider, R.L., MuhImann, H., Tommasi, E., Medeiros, R.A., Daemon, R.F. & Nogueira, A. A. (1974), publicada em Anais do XXVIII Congresso Brasileiro de Geologia, SBG, Porto Alegre — RS. 82 No Estado do Parana, a Formacao Campo do Tenente é 0 registro desse tempo. E constitufda, predominantemente, de argilito castanho/avermelhado e, secun- dariamente, de material de origem glacial como ritmitos, diamictitos e arenitos. Na érea da Colénia Witmarsum (BR-376, km 53/54) foram observadas estrias glaciais, gravadas no arenito Furnas. O contetido paleontolégico restringe-se a palinomorfos. Os depésitos, com evidéncias de um clima glacial, testemunham um perfodo em que © gelo avancou sobre a drea na forma de inlandsis. Esses depésitos continentais glaciais sdo representados por conglomerados, arenitos fluvio-glaciais, glaciais lacustres, e ou- tros. Como registro da deposi¢ao fluvio-glacial temos os arenitos de Vila Velha, situa- dos no Municipio de Ponta Grossa. A literatura indica para a regido norte do Estado, quatro a cinco avancos Pprincipais, enquanto que para o sul, quatro avangos com fases interestadiais frias. 2.1.3. Periodo Permiano O inicio do ciclo deposicional deste perfodo é continental, caracterizado pela sedimentagdo fluvial da Formacdo Mafra. Na base desta unidade litoestratigrdfica encontramos arenitos finos sele- cionados, com estratificagdo cruzada acanalada, indicadores das condi¢des ambientais ja referidas. A presenca de diamictitos sugere influéncias glaciais na 4rea fonte do material. Uma transgresséo marinha, inicia, gradativamente, a deposi¢ao de sedi- mentos caracteristicos desse tipo de ambiente, determinagdo paleoambiental eviden- ciada pela presenca de braquidpodos e moluscos fésseis. Saliente-se que também ja se observam restos de plantas continentais. Logo apés a regressdo que expés a drea 4 denuda¢do, um novo avango do mar depositou material que evidencia um ambiente marinho entremeado por influén- cias glaciais, determinadas pela grande quantidade de material carreado para a bacia por acdo de geleiras. Este pacote sedimentar foi designado por Schneider et alii (1974), como Formagao Rio do Sul. Diversos leitos fossiliferos pertencentes a esta formacao sdo conhecidos no Estado do Parand. E 0 caso das Camadas Guaratina e do Horizonte Fossil {fero de Teixeira Soares. Este ultimo comporta os leitos fésseis de Baitaca, Rio d’Areia e Pas- sinho. As formagées Campo do Tenente, Mafra e Rio do Sul foram reunidas no Grupo Itararé. Na continuagéo do Permiano, a superficie hoje ocupada pelo Estado do Parand evoluiu do ambiente marinho com algumas influéncias glaciais, para condicdes deltaicas. Assim, apds 0 término da deposicao do Grupo Itararé encontramos uma seqiéncia de sedimentitos denominada Formac&o Rio Bonito que, na sua porcdo basal, arenosa, com caracter/sticas deposicionais flivio-deltaicas, compéem o Membro 83 Triunfo. Intermediariamente, siltitos e carbonatos compreendem o Membro Paraguacu cujos carbonatos afloram na regido de Siqueira Campos, Norte Pioneiro do Estado do Parana. O ambiente deposicional deste pacote é deltaico. No topo da seqiiéncia, sob a denominagdéo de Membro Siderdépolis, encontramos as jazidas de carvao originadas em lagunas e mangues, caracteristicas do ambiente marinho litoraneo. Em seguida, toda a 4rea sofreu subsidéncia, quando uma transgressdo ma- rinha possibilitou a deposigao de siltitos e arenitos finos, que se assentaram sob aguas rasas, abaixo do nivel de ado das ondas. Esse pacote sedimentar recebeu a denomina- cao de Formacao Palermo. Seu contetido fossilifero restringe-se a troncos vegetais. A grande extensdo e uniformidade apresentada pela Formagdo Palermo indicam-nos uma fase de relativa calma na Bacia do Parana. As formagées Rio Bonito e Palermo foram reunidas no Grupo Guatéa. Inicia-se uma subsidéncia gradual determinando uma transgresséo marinha que, com pequenas interrupgées relativas a rapidas regress6es, condiciona a deposicao. dos sedimentitos correspondentes a trés formacées: Irati, Serra Alta e Teresina. A primeira, a Formacao Irati, consiste de folhetos argilosos e argilitos cinza escuros pirobetuminosos e calcdrios, indicativos ambientais de um mar fechado. O contetdo fossilffero da Formacdo Irati é determinado pela presencga do réptil Mesosaurus brasiliensis Mc Gregor, além de peixes, crustaceos e insetos. No Estado do Parana, esta formacéo apresenta uma longa faixa de aflo- ramentos, com sua principal ocorréncia na regidéo de Séo Mateus do Sul, considerada a segunda maior reserva de “xisto betuminoso” do mundo, explorada pela Superin- tendéncia de Industrializago do Xisto (PETROBRAS/SIX). Segue-se a Formacéo Serra Alta, cujos sedimentos foram depositados em ambiente marinho raso, de dguas calmas, mostrando folhetos argilosos escuros na base, passando para lentes de calcdrio e folhelhos argilosos cinza esverdeados, com estrutura do tipo “flaser’’. Sio comuns troncos de madeira fossilizados. Na seqiiéncia temos a Formacao Teresina, cuja litologia e conteddo fos- silifero denotam um ambiente marinho em condigées de 4guas mais profundas, evo- Juindo para mar mais raso e de aguas agitadas, dominado por marés. Marcas de res- secamento, banco de coquinas e estromatdlitos evidenciam as condicées citadas. Seu contetido fossilifero caracteristico relaciona-se 4 presenca de Pinzonella, género de conchas adaptadas 4 vida em lagos ou estudrios. Ao final da deposi¢gdo da Formacao Teresina ja se manifestam evidéncias de uma continentalidade. O mar que havia dominado durante o transcorrer do Paleo- 26ico vai regredindo, expondo a superficie 4 condi¢do de drea emersa. A Formacio Rio do Rasto, que praticamente fecha a historia da Era Paleo- zdica, mostra a passagem do ambiente marinho em sua porcdo basal (Membro Serrinha) Para o ambiente continental em sua parte superior (Membro Morro Pelado), em condi- g6es climaticas altamente oxidantes. Os corpos arenosos com estratificacdéo cruzada acanalada indicam deposicéo em ambiente fluvial. Nesta formacdo, em afloramento 84 localizado no km 286 da Rodovia do Café (Serra do Cadeado), onde se observa a presenca de um paleocanal, foram encontrados restos de peixes e de um anfibio, sendo que este Ultimo foi descrito por Barberena (1980) como pertencente ao género Australerpeton. Uma discordancia erosiva marca a passagem da Era Paleozéica para a Era Mesoz6ica. 2.2. Era Mesozdica Esta era teve duracdo de 160 milhdes de anos sendo dividida em trés periodos: Tridssico, Jurdssico e Cretaceo. Foi caracterizada por um extenso deserto e uma intensa atividade de vulcanismo, no sul do Brasil. No mesoz6ico, ter-se-ia iniciado 0 processo de rompimento e afastamento das partes que compunham o Continente de Gondwana: América do Sul, Africa, Ma- dagascar, India, Australia e Antartida. Surgia, assim, um espaco intercontinental, preenchido pelas 4guas do Panthalassa, originando o atual Oceano Atlantico (vide Teoria da Deriva Continental, A. Wegener). Como ja foi mencionado no capitulo anterior, com o desaparecimento do mar ao final do Paleozéico, a dérea passou 4 condi¢éo de emersa seguindo-se um longo tempo de denudacdo envolvendo todo o Tridssico e parte do Jurassico. Em outras pala- vras, encerrando-se a fase talassocratica passamos ao dominio geocratico. As condigdes climaticas, oxidantes persistiram durante a deposi¢do dos arenitos esbranquicados, amarelados, avermelhados, de granulometria variando de médio a muito fina, com algumas intercalagdes de finas camadas de argilitos e siltitos, compondo a denominada Formacao Pirambdia. As estruturas cruzadas acanaladas (espinha-de-peixe), facilmente observaveis nos afloramentos situados no inicio da subida da Serra da Esperanca, proximidades de Guarapuava, sugerem deposi¢éo em ambiente continental fluvial. A idade da Formagao Pirambéia corresponderia 4 passagem do Jurdssico Médio (Cal- loviano) para o Jurassico Superior (Oxfordiano). As condigées climaticas tendiam para uma aridez mais pronunciada e, apés um intervalo que ocasionou a erosdo da parte superior da Formacao Pirambéia, 0 am- biente desértico evoluiu sobre a paleossuperficie que dominava a paisagem. Esse exten- so deserto cobriu quase todo o sul do Brasil e o material rochoso resultante dessas condig&es recebeu a denominacdo de Formacao Botucatu. No Estado do Parana, mui- tos afloramentos na 4rea do Terceiro Planalto mostram as estratificagées cruzadas de grande porte — paleodunas — como evidéncias diretas da deposigdo edlica. Na base dessa formagao, niveis de arenitos contendo seixos determinam fases torrenciais — reg — na evolugdo do ambiente. A espessura da Formagdo Botucatu é varidvel mas no ultrapassa 100 metros. Trata-se do principal aquifero da Bacia do Parand e, em termos de datagao, corresponde ao Jurdssico Superior. No Cretaéceo Inferior, 0 sul do Brasil foi palco da maior atividade de vulca- nismo de fissura sobre a superficie terrestre. A grande efusdo de magmas basicos ori 85 nou um espesso pacote de basaltos atingindo, em algumas areas, 32 derrames sucessivos com espessura em torno de 50 metros cada um. A ocorréncia de arenitos intercalados mostra a persisténcia da atividade edlica marginando a drea, sob 0 dominio de um clima drido. White, em 1908 designou esse portentoso conjunto de rochas como For- macao Serra Geral. No Estado do Paranda, a Formacdo Serra Geral aparece no reverso da escar- Pa que separa o Segundo Planalto do Terceiro Planalto. Como resultado da meteoriza- ¢o sofrida, no Norte do Parané, os basaltos originaram um solo bastante fértil deno- minado “terra roxa”. Segundo estudos desenvolvidos, a idade fornecida pela radiometria indica valores entre 120 e 130 milhdes de anos para estes derrames, o que os posiciona no Cretdéceo Inferior, salientando que no Jurdssico Superior j4 houveram derrames pre- cursores. Na regido noroeste do Estado do Parana, assentada sobre os basaltos Serra Geral, encontramos a Formagdo Caiud, litoestratigraficamente, constitufda por arenitos vermelho-arroxeados, altamente fridve m algumas areas apresentam estruturas cruzadas acanaladas evidenciando condicées deposicionais fluviais, e em outras mostram estruturas cruzadas de grande porte, caracteristicamente, edlicas. No primeiro caso temos afloramentos nas imediacdes de Mandaguacu e, no segundo, as margens do Rio Paran4, no Municipio de Terra Rica. A idade provavel para a Formagao Caiud, denominacdo proposta por Washburne (1930), é o Cretéceo Superior. A area do Arenito Caiud corresponde a cerca de 70 mil quilémetros qua- drados, estando sujeita a uma freqiiéncia de fendmenos erosivos determinados pela Presenca de grandes vossorocas. 2.3. Era Cenozéica A Bacia de Curitiba, localizada no centro-sul do Primeiro Planalto, apre- senta as principais feicdes representativas deste tempo geolégico. Sobre um embasa- mento constituido por gnaisses (provavelmente a Formacdo Setuva (vide item sobre o Pré-Cambriano), sob condigées climdticas semi-dridas, 0 desenvolvimento de leques aluviais permitiu a deposicado de argilitos, contendo freqiientes graéos de quartzo e feldspato. Esta litologia foi designada como Formagdéo Guabirotuba por Bigarella & Salamuni (1962). Sobre a Formaga4o Guabirotuba, acham-se assentados os sedimentos mais recentes, resultantes da acdo dos rios que drenam a bacia, correspondendo a depésitos de varzea. Idéntico processo ambiental pode ser observado nas demais regides do Estado, onde verifica-se que a atividade fluvial aparece como o processo erosivo dominante, manifestando-se através dos indmeros cursos de 4gua que, desgastando 86 as partes altas, transportando o material e, eventualmente, colmatando as depress6es, seguem o transcurso normal de modelar o relevo. Os aspectos mais evidentes estdo relacionados aos depésitos de turfa como, por exemplo, nas planicies de inundaco dos rios Tibagi (proximidades de Ponta Grossa) e Alonzo (munic/pios de Faxinal e Grandes Rios). Também a drea da planicie costeira apresenta sedimentagdo correspon- dente ao Cenozédico, tal como os sedimentos de restingas, e os depdsitos de origem fluvial, lagunar e coluvial. Bigarella, Salamuni & Marques Filho, (1957) nomearam os sedimentitos continentais que ocorrem junto 4 BR-277, de idade terciaria, como Formagéo Ale- xandra. Tratam-se de arenitos contendo alguns seixos passando para material sfltico- argiloso, originados de uma “planicie gradacional inclinada em dire¢do ao mar e formada numa época em que seu nivel estava mais baixo que o atual, durante o Pleis- toceno”’. BIBLIOGRAFIA: BARBERENA M. C. CORREIA, N. R. & AUMOND, J. J. Contribuigdo 4 Estratigra- fia do Grupo Passa Dois na Serra do Cadeado (Nordeste do Parand, Brasil), Rev. Bras. Geociéncias vol. 10, publ. 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RAR MS a 5 Afloramento da Formagéo Pirambéia. Rodovia Ponta Grossa/Guarapuava (PR)

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