You are on page 1of 20

20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

CLASSES E MOVIMENTOS SOCIAIS


MODOS DE PRODUÇÃO, TRABALHO,
CLASSES SOCIAIS E LUTAS DE CLASSES

Claudilene Pereira de Souza

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 1/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 2/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

Introdução
Prezado aluno! Seja bem-vindo à disciplina de Classes e Movimentos Sociais!
Vamos iniciar esta primeira unidade abordando as principais categorias de análise que contribuirão para
entendermos os movimentos sociais na atualidade. Não há como compreender e analisar os movimentos
sociais, sem perpassar pelos conceitos fundamentais que nortearão o estudo desta disciplina em sua
totalidade.
Para isso é fundamental iniciar seus estudos analisando a origem e a evolução histó rica dos modos de
produção, da política, da propriedade privada e do Estado, bem como, as principais correntes teó ricas sobre o
Estado Moderno.
Você sabe quais foram principais modos de produção que existiram e existem até a atualidade no mundo
Ocidental? Para responder estas perguntas, você estudará nesta unidade os principais modos de produção no
mundo ocidental.
Você já se perguntou por que existem tantas desigualdades econô micas e sociais? Qual é a origem dessas
desigualdades? Para responder a estas e outras questõ es estudaremos a origem e o desenvolvimento da
propriedade privada, do Estado, das classes sociais, das lutas de classes, bem como as principais categorias
de análise que perpassam por esses temas.
Bons estudos!

1.1 O processo de trabalho


O trabalho enquanto atividade criadora do ser humano sobre a natureza é tão antigo quanto a raça humana e
ele representa um papel fundamental em qualquer modo de produção existente na sociedade. O trabalho
realizado pelo homem é o meio indispensável para assegurar a base econô mica e social de qualquer
sociedade.

Figura 1 - Evolução histó rica do processo de trabalho.


Fonte: Uncle Leo, Shutterstock, 2019.

Neste sentido, o ser humano é o elemento essencial das forças produtivas, uma vez que somente ele é capaz
de fazer a “ligação entre a natureza e a técnica e os instrumentos” (COSTA, 2005, p. 121) necessários para a
construção de qualquer objeto. A combinação desses elementos em um ú nico processo é chamado de forças

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 3/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

produtivas, ou seja, “a cada forma de organização das forças produtivas corresponde a uma determinada
forma de relação de produção” (COSTA, 2005, p. 121).

VOCÊ SABIA?
Relação de produção é a maneira pela qual os seres humanos se organizam para
realizar determinada atividade produtiva. Essas relações dizem respeito à s vá rias
formas “pelas quais sã o apropriados e distribuídos os elementos envolvidos no
processo de trabalho: as maté rias-primas, os instrumentos e a té cnica, os próprios
trabalhadores e o produto final.” Desse modo, as relações de produçã o podem ser
comunais, escravistas, servis ou capitalistas (COSTA, 2005, p. 121).

As forças produtivas e as relaçõ es de produção são as condiçõ es só cio-histó ricas de qualquer atividade
produtiva na sociedade. A maneira pela qual elas existem e como são reproduzidas em uma determinada
sociedade é o que Karl Marx denominou de “modo de produção” (COSTA, 2005, p. 121).
Assim, a partir deste momento, estudaremos os principais Modos de Produção do mundo Ocidental.

1.1.1 Modos de produção


A análise dos modos de produção é essencial para compreender o funcionamento econô mico, social e político
de uma determinada sociedade. Cada um destes modos de produção representa, para Marx, diferentes formas
de organização da propriedade, seja ela comunal ou privada e da exploração do ser humano pelo ser humano
(COSTA, 2005, p. 122).

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 4/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

Figura 2 - Comunidades Primitivas: os primeiros grupos humanos, a origem e desenvolvimento do processo


de trabalho.
Fonte: 5213P, Shutterstock, 2019.

• Comunidades Primitivas: também denominadas de comunismo


primitivo, foi o primeiro modo de produção existente na história
da humanidade. Eram formadas pelos primeiros grupos humanos,
que produziam o suficiente para sobreviver. Nessas comunidades,
não existia propriedade privada tampouco as relações de
exploração, a propriedade era comunal (coletiva), pertencente a
toda comunidade, e os resultados do trabalho eram repartidos
igualmente entre todos, praticando as relações de colaboração e
cooperação entre seus membros. Ao longo do tempo, através do
desenvolvimento do processo de trabalho, essas comunidades
começaram a conhecer e dominar cada vez mais a natureza,
produzindo o excedente econômico, ou seja, quando se produz
mais do que se necessita para sobreviver.

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 5/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

VOCÊ QUER VER?


O filme “A guerra do fogo” (1981), dirigido por Jeab Jacques Annaud, “se passa nos
tempos pré -históricos, em torno da descoberta do fogo. A tribo Ulam depois de vá rios
dias andando e enfrentando animais pré -históricos, eles encontram a tribo Ivakas, que
descobriu como fazer fogo. A crueldade e o rude conhecimento de ambas as tribos vã o
sendo revelados”. Saiba mais em: https://www.cineclick.com.br/a-guerra-do-fogo
(https://www.cineclick.com.br/a-guerra-do-fogo).

A produção de excedente começa a gerar a acumulação de bens, dando início à exploração do trabalho
humano, dividindo a sociedade entre os que produzem mercadorias e aqueles que se apropriam do trabalho
alheio, ocasionando, assim, o fim das comunidades primitivas, sendo substituída pelo modo de produção
escravista.

• Modo de produção Escravista ou Escravismo: o Escravismo se


desenvolveu no mundo Ocidental por volta de 3.000 a.C. e
perdurou até a queda do Império Romano no ano de 476 d.C.
Neste modo de produção, em função das guerras e da produção
do excedente, se inicia o processo de escravização de seres
humanos. Nesse período nasce a propriedade privada, dando
início à divisão da sociedade em classes sociais. A queda do
Império Romano significou o fim do Escravismo, dando origem a
um novo modo de produção, o Feudal.

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 6/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

Figura 3 - Modo de produção escravista (Antiguidade): trabalho escravo.


Fonte: Fonte: Bilha Golan, Shutterstock, 2019.

• Modo de Produção Feudal ou Feudalismo: o Feudalismo se


desenvolveu na Europa, na Idade Média, por volta do século XI e
sua estrutura econômica era baseada nos feudos e na agricultura.
A partir do século XIV se desenvolvem de novas relações
econômicas, a agricultura deixa de ser a principal atividade
econômica dando lugar às relações mercantis. Com o
desenvolvimento do mercantilismo, o modo de produção feudal
entra em declínio e o marco de sua derrocada é a Revolução
Francesa, em 1789, dando a origem de um novo modo de
produção: o capitalismo.

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 7/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

Figura 4 - Modo de Produção Capitalista: a exploração da força de trabalho.


Fonte: Fonte: Nuvolanevicata, Shutterstock, 2019.

• Modo de Produção Capitalista ou Capitalismo: no final do


século XVIII e início do século XIX, inicia-se a Revolução Industrial,
que é o marco da consolidação do capitalismo. Mesmo com
transformações que o capitalismo vem sofrendo nas suas
estruturas políticas, econômicas e sociais com o passar dos
séculos, este é o modo de produção que vigora até a atualidade.

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 8/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

VOCÊ QUER VER?

O filme “Tempos Modernos” (1936), dirigido por Charlie Chaplin, conta a história de
um “operá rio de uma linha de montagem, que testou uma “má quina revolucioná ria”
para evitar a hora do almoço, é levado à loucura pela ‘monotonia frené tica’ do seu
trabalho. Após um longo período em um sanatório ele fica curado, mas desempregado.
Ele deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra uma crise generalizada
e equivocadamente é preso como um agitador comunista, que liderava uma marcha de
operá rios em protesto. Simultaneamente uma jovem rouba comida para salvar suas
irmã s famintas, que ainda sã o bem garotas. Elas nã o tê m mã e e o pai delas está
desempregado, e, é morto em um conflito. A lei vai cuidar das órfã s, mas enquanto as
menores sã o levadas a jovem consegue escapar”. Saiba mais em:
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-1832/
(http://www.adorocinema.com/filmes/filme-1832/).

Assim, perceba que estudamos sobre os principais modos de produção, então, verifique um pouco mais sobre
o conhecimento que você adquiriu em relação a esse assunto.
Não há como compreender os movimentos sociais na contemporaneidade sem perpassar por algumas das
principais categorias de análise que levaram ao nascimento e desenvolvimento desses movimentos. A partir
de agora, então, estudaremos a origem da política e da propriedade privada.

1.2 A origem da política e da propriedade privada


A política pode ser compreendida como “manifestação dos conflitos sociais e dos interesses das classes
sociais que lutam entre si, dentro de uma determinada sociedade nem sempre existiu” (BUZETTO, 2004, p.
80), resultado do nascimento das desigualdades econô micas e sociais. De fato, são essas desigualdades que
irão causar a luta política entre as classes sociais, isto é, entre ricos e pobres. Portanto, a política enquanto
conflito entre as classes sociais têm sua origem com o surgimento da propriedade privada.
Com o nascimento da propriedade privada surgem os primeiros “conflitos sociais, que tem uma origem
econô mica”, pois a partir do momento que “um grupo de pessoas se apropria da terra e faz dela propriedade
particular, surge uma divisão na sociedade entre proprietários e não-proprietários dos meios de produção”
(BUZETTO, 2004, p. 80). Os indivíduos que não possuem propriedade são obrigados a trabalhar para aqueles
que as detêm, gerando a concentração de riquezas nas mãos de uma minoria da população.

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 9/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

Na atualidade, a política é apresentada como uma suposta igualdade, em que todos os cidadãos são iguais,
todos têm os mesmos direitos e deveres, todos têm liberdade para decidir sobre seu pró prio destino. Porém,
analisando a realidade, podemos afirmar que a política é “sinô nimo de conflito, disputa e luta entre as classes
sociais” (BUZETTO, 2004, p. 81).
Assim, a seguir, veremos sobre o surgimento, o desenvolvimento e as principais correntes teó ricas que
analisaram a questão do Estado.

1.2.1 Origem e desenvolvimento do Estado


Na Antiguidade, com o surgimento da propriedade privada, além da luta política entre as classes sociais, se
origina também um instrumento jurídico, que receberá o nome de Estado, instrumento esse que tem como
finalidade “criar leis para defender os interesses dos proprietários de terra, ou seja, do setor ou da classe que
tem o poder econô mico concentrado em suas mãos” (BUZETTO, 2004, p. 82). O Estado irá se desenvolver na
histó ria da humanidade juntamente com a propriedade privada e as inú meras formas de escravidão
(BUZETTO, 2004, p. 82).
Desde a Grécia Antiga, filó sofos como Platão (Atenas, 429-347 a.C.) e Aristó teles (Atenas, 384-322 a.C.) já se
preocupavam em compreender o Estado. Na Idade Média, no Renascimento, outro importante pensador que se
debruçou em analisar esse assunto foi Nicolau Maquiavel (Florença, 1469-1527), autor de “O Príncipe”
(1532).
No período mais atual, as principais teorias que abordam o Estado moderno foram elaboradas pelos
chamados contratualistas, entre o início do século XVII e final do século XVIII. Dentre os principais
contratualistas destacamos: Thomas Hobbes (Inglaterra 1588-1679), John Locke (Inglaterra, 1632-1704) e
Jean Jacques Rousseau (Suíça, 1712-1778).
Apesar de suas diferenças nas análises sobre a formação do Estado moderno, eles apresentam uma teoria de
Estado de caráter liberal, tendo como tema principal um consenso expresso através de um pacto ou contrato
social, “estabelecido entre os homens, sobre a autoridade e normas de convivência social” (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 22). Estas normas de convivência social seriam expressas por meios de leis, aos quais
todos os seres humanos teriam que “se submeter, renunciando à sua liberdade individual e natural”
(MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 22) e é por meio deste contrato social, isto é, deste pacto/acordo, entre
os homens que se constituiria o Estado moderno.

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 10/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

VOCÊ QUER LER?

“Reflexões críticas sobre política, é tica e cidadania” (2008), de Marcelo Buzetto,


publicado pela editora Terceira Margem, apresenta uma aná lise crítica sobre a origem
da propriedade privada, do Estado, da política e das classes sociais. Este artigo també m
se encontra disponível em: http://nelamsp.blogspot.com/2008/02/reflexes-crticas-
sobre-poltica-tica-e.html (http://nelamsp.blogspot.com/2008/02/reflexes-crticas-
sobre-poltica-tica-e.html).

As duas principais correntes de pensamento que se preocuparam em elaborar suas concepçõ es de Estado
moderno no pensamento político são: a liberal e a marxista.

• Concepção liberal: o pensamento liberal de Estado desconsidera


o desenvolvimento econômico e os interesses conflitantes entre as
classes sociais, desconsiderando também, as lutas de classes
como elementos principais e determinantes em uma sociedade
dividida em classes, como é o caso da sociedade capitalista. Para
os liberais, o Estado é visto como uma instituição neutra e
imparcial, que está “acima das classes sociais”, cuja principal
função é representar o bem-estar comum da maioria da
população independente da classe social à qual o cidadão
pertença. Nesta concepção, o Estado é compreendido como
instituição autônoma e seu desenvolvimento ocorre como algo
natural (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2011, p. 139-140).

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 11/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

Figura 5 - Desigualdades econô micas e sociais.


Fonte: Corlaffra, Shutterstock, 2019.

• Concepção marxista: para o pensamento marxista, o Estado


difunde uma concepção de suposta igualdade jurídica, mas, na
verdade, esta suposta igualdade jurídica não elimina em nenhum
momento as desigualdades econômicas e sociais. De acordo com
a teoria marxista, o Estado não é neutro e nem imparcial, ele
representa os interesses da classe dominante com o objetivo de
conservar e proteger a propriedade privada dos meios de
produção, um instrumento de dominação de uma classe sobre a
outra, que vai se manifestar através da coerção, da força e da
cooptação. Neste contexto, o Estado é uma instituição que está a
serviço do capital e da classe dominante, isto é, da classe
burguesa.
Deste modo, já vimos até aqui sobre as duas principais correntes de pensamento político que elaboraram suas
concepçõ es de Estado moderno, a liberal e a marxista. Verifique um pouco mais sobre o conhecimento que
você adquiriu em relação a esse assunto.
De fato, não podemos compreender o Estado apenas como um instrumento de dominação de uma
determinada classe sobre a outra, uma vez que é necessário considerar que, no processo de lutas entre as
classes sociais, existem muitas contradiçõ es, por isso, o Estado também deve ser entendido como uma esfera
de desenvolvimento e ampliação de direitos sociais e políticos conquistados historicamente pelo processo de
lutas da classe trabalhadora (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 143).

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 12/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

Figura 6 - Trabalhadores unidos lutando por seus direitos.


Fonte: Fonte: Uncle Leo, Shutterstock, 2019.

Apó s o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Estado continua cumprindo a sua função de
contribuir para a acumulação de capital, mas amplia suas características como um “Estado benfeitor” por
meio de sua “intervenção via serviços e políticas sociais – direitos políticos e sociais, a democracia, a
legislação trabalhista, as políticas e serviços sociais e assistenciais, entre outros” (MONTAÑ O; DURIGUETTO,
2011, p. 145).
Quando se fala da atuação do Estado como “benfeitor”, isto não significa que ele atua somente para atender aos
interesses do capital e da classe dominante, essas açõ es estatais são fruto da luta de classes, na qual a classe
trabalhadora pressiona a classe burguesa e o Estado para responder suas reivindicaçõ es e da sociedade em
geral.
Neste processo, repleto de contradiçõ es, em alguns momentos, o Estado se vê pressionado a incorporar
determinadas reivindicaçõ es dos trabalhadores com o objetivo de acabar com uma luta que tenha condiçõ es
de desestabilizar o sistema. Em outros momentos, o Estado se antecipa respondendo a determinadas
demandas da classe trabalhadora para evitar um possível conflito social, a exemplo da luta pela redução da
jornada de trabalho (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 145).
Deste modo, acabamos de estudar a origem, o desenvolvimento e as principais correntes teó ricas que se
debruçaram em compreender a questão do Estado. Para compreender os movimentos sociais na atualidade,
além das categorias de análise estudadas até o momento, é necessário compreender a origem e
desenvolvimento das classes sociais e das lutas de classes.

1.2.2 Classes sociais


Em toda e qualquer sociedade em que as relaçõ es de produção estejam baseadas na propriedade privada, tais
como escravismo, feudalismo e capitalismo, existem uma exacerbada divisão social do trabalho, promovidas
pelas relaçõ es de produção, que dividem os seres humanos em proprietários e não-proprietários dos
meios de produção. São estas relaçõ es que geram as desigualdesdes econô micas, políticas e sociais, por
isso, estas relaçãoes de produção é que constituem a para a formação das classes sociais.

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 13/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

Em toda sociedade na qual exista a propriedade privada, a classe explorada, dominada e subjugada, sempre
será formada, quantitativamente, pela maioria da população e a classe dominante, ou seja, a classe que
explora, sempre será, quantitativamente, formada pela minoria da população.
Na histó ria da humanidade, cuja estrutura esteja baseada na propriedade privada, sempre haverá duas classes
sociais fundamentais antagô nicas, isto é, duas classes opostas, que se contrapõ em.

• No Escravismo, as duas classes fundamentais eram: os amos


(proprietários de terras e escravos) e os escravos (não
proprietários), submetidos as mais diferentes formas de violência
e exploração da força de trabalho.
• No Feudalismo, as duas classes principais eram: os senhores
feudais (proprietários dos feudos, ou seja, das terras) e os servos
(não proprietários), que também eram super explorados dos pelos
senhores feudais.

Figura 7 - Classes sociais no capitalismo: proletariado x burguesia.


Fonte: Prazis Images, Shutterstock, 2019.

• No Capitalismo, as duas classes fundamentais são: a burguesia


(proprietária dos meios de produção, como: bancos, comércios,
terras e indústrias), que explora a força de trabalho com o objetivo
de obter o lucro e o proletariado/classe trabalhadora (não
proprietário) que, por não possuir os meios de produção, é
obrigado a vender sua força de trabalho em troca de um salário.

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 14/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

No capitalismo, a força de trabalho também se constitui em uma


mercadoria (MARX; ENGELS, 2012, p. 38).
Você aprendeu que, em qualquer sociedade em que sua estrutura esteja baseada na propriedade privada,
sempre haverá duas classes sociais fundamentais antagô nicas, isto é, duas classes opostas, que se
contrapõ em. Verifique seus conhecimentos em relação a este assunto.
As relaçõ es entre os indivíduos que possuem e os que não possuem os meios de produção provocam o
antagonismo, a oposição entre as classes sociais, originando a luta de classes.

Figura 8 - Protesto: classe trabalhadora em luta!


Fonte: Fonte: MicroOne, Shutterstock, 2019.

De acordo com Marx, estas classes são inconciliáveis porque têm interesses opostos. A burguesia tem como
objetivo preservar a propriedade privada dos meios de produção para obter o lucro, para isso, vai explorar o
trabalhador ao máximo. O trabalhador, por outro lado, irá lutar para que esta exploração diminua por meio de
melhores salários e condiçõ es de trabalho.
Não temos como falar das lutas que ocorrem entre as classes sociais antagô nicas, no caso da sociedade
capitalista, entre burguesia e proletariado, sem abordamos o processo denominado de formação da
consciência, uma vez que classes sociais, consciência de classe e lutas de classe são “dimensõ es de um
mesmo processo”, por isso, não podem ser analisadas separadamente (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p.
98).
A partir de agora veremos as três fases da formação da consciência, a saber: consciência social ou senso
comum; consciência reivindicató ria ou sindical e consciência de classe.

1.3 Processo de formação da consciência


A consciência é “determinada pela objetividade (a realidade) e a subjetividade (dos sujeitos que dela fazem
parte)” que se unem “em um ú nico processo” (MONTAÑ O e DURIGUETTO, 2011, p. 98), pois “a mera vivência
das pessoas sobre a(s) realidade(s) sociais determina um tipo de consciência, mas esta ú ltima pode se
desenvolver de diversas formas e níveis, em função do tipo de inserção e apreensão na/da realidade,
individual, grupal ou humano-genérica” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 98). É a vida cotidiana que irá
caracterizar a primeira forma de consciência, denominada de consciência social ou senso comum.

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 15/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

1.3.1 A primeira fase da consciência: consciência social ou senso


comum
A consciência individual é formada no dia a dia do indivíduo e, nesta primeira fase, o ser humano passa a ver
e a compreender o mundo a partir de suas necessidades particulares e imediatas (MONTAÑ O; DURIGUETTO,
2011, p. 99).
Segundo Montañ o e Duriguetto (2011, p. 101), Antonio Gramsci denomina esta primeira fase de senso
comum, que é “uma forma acrítica e rudimentar de conhecer o mundo”, ou seja, o indivíduo irá pensar a
realidade como algo já pronto e acabado, não vendo possibilidades de mudanças na realidade concreta, já que,
para ele, o mundo “sempre foi assim e sempre será”, não há como transformá-lo.

VOCÊ O CONHECE?
Antonio Gramsci (1891-1937) nasceu na Itá lia e foi um intelectual, jornalista e ativista
político, contribuindo para a fundaçã o do Partido Comunista da Itá lia. Em 1926 foi
preso na Itá lia por suas posições e ações políticas contra o governo de Mussolini, na
prisã o escreveu uma de suas obras mais importantes “Cadernos do Cá rcere” (1926).

Apó s abordarmos o primeiro momento do processo de formação da consciência, passaremos para a segunda
fase, denominada de consciência reivindicató ria ou sindical.

1.3.2 Segunda fase de formação da consciência: consciência


reivindicatória ou sindical
A consciência sindical atinge, no máximo, um nível reivindicató rio e, geralmente, se desenvolve nos
trabalhadores organizados em sindicatos, que ainda não adquiriram um conhecimento científico e crítico da
realidade. Nesse processo, irá se formar no trabalhador a consciência-em-si, o que antes era vivenciado
individualmente, passa a ser vivenciado coletivamente. A realidade passa a ser vista como algo comum e não
apenas como questõ es individuais (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 103).

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 16/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

Figura 9 - Figura 9 – Manifestaçõ es da classe trabalhadora: segunda fase do processo de formação da


consciência.
Fonte: Fonte: NTL Studio, Shutterstock, 2019.

Há outros movimentos sociais que realizam a luta reivindicató ria, tais como feminista, ambiental,
associaçõ es de moradores de bairros etc. Essas lutas são importantes, uma vez que, na prática, melhoram as
condiçõ es de vida das pessoas, porém, não têm como objetivo transformar a ordem capitalista vigente
(MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 103-104).

CASO
Nesta segunda fase de formaçã o da consciê ncia, os trabalhadores em sua “vida
cotidiana, na fá brica ou outros espaços coletivos, ao se relacionarem entre si e
constituírem grupos”, começam a identificar que passam por situações muito
parecidas em relaçã o à s suas condições de vida e de trabalho. Atravé s desta
percepçã o, esses trabalhadores podem vir a desenvolver uma identidade comum e
uma consciê ncia reivindicatória, gerando, assim, uma açã o de grupos reivindicatórios
(MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 103). O melhor exemplo de formaçã o da
consciê ncia sindical é a luta sindical na qual o trabalhador, organizado em sindicatos,
luta por melhores salá rios, manutençã o ou ampliaçã o dos direitos trabalhistas e
melhores condições de trabalho (MONTAÑ O e DURIGUETTO, 2011, p. 103). Na
prá tica, a luta sindical pode ocorrer por meio de greves e manifestações.

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 17/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

Entretanto, enquanto esses trabalhadores permanecerem no processo de consciência reivindicató ria sem
conseguir analisar em sua totalidade o processo de exploração que a sociedade capitalista lhes impõ e, não
irão conseguir transformar o sistema de exploração vigente (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 104).
De fato, a transição da “consciência reivindicató ria para a consciência da totalidade da realidade social”, é o
que Marx irá chamar de “transição da ‘classe em si’ a ‘classe para si’” (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p.
103-104).

1.3.3 Terceira fase da formação da consciência: consciência de classe


A consciência de classe desenvolve-se no processo de superação da visão imediatista, limitada e alienada da
vida cotidiana. É nesse processo que ocorrerá a transformação da consciência-em-si para uma consciência-
para-si, formando, assim, uma consciência de classe (MONTAÑ O; DURIGUETTO, 2011, p. 110).
A consciência de classe, diferentemente do senso comum e da consciência sindical, procura entender a
realidade em sua totalidade, pois “os interesses imediatos e individuais, ou até de grupos” (MONTAÑ O;
DURIGUETTO, 2011, p. 110), produzem espaços para os interesses políticos e sociais mais amplos, para os
interesses da classe trabalhadora como um todo. Assim, “a consciência de classe é inseparável da luta de
classes”, uma vez que ela é fundamental para se fazer a luta revolucionária, que caminhe para além das
reivindicaçõ es econô micas (MONTAÑ O e DURIGUETTO, 2011, p. 110).
Assim, estudamos sobre os três momentos do processo de formação da consciência, então, verifique um
pouco mais sobre o conhecimento que você adquiriu em relação a esse assunto.
Veremos a seguir outro importante conceito no que se refere à organização política das classes e as
configuraçõ es das lutas sociais no capitalismo. Esse conceito se refere à situação de classe a posição de
classe.

1.4 Organização política das classes e as configurações das


lutas sociais no capitalismo
O processo de desenvolvimento do capital e do capitalismo pelo mundo é profundamente desigual e
contraditó rio. O modo de produção capitalista se desenvolve com uma intensidade e velocidade diferentes em
cada região, país e em diferentes momentos histó ricos. Sendo assim, as classes sociais também sofrem
transformaçõ es, pois seu desenvolvimento em nível internacional também é desigual.
Em relação à classe trabalhadora existem muitas diferenças no que se refere às condiçõ es de vida, de trabalho
e de exploração da força de trabalho, por exemplo, existem trabalhadores com distintos padrõ es salariais,
níveis diferentes direitos trabalhistas assegurados, com diversos níveis de organização sindical.
A situação só cio-histó rica e econô mica de cada trabalhador é diferente, variando de região para região, de uma
categoria profissional para outra, de um setor da economia para outro, de um país para outro. Por exemplo, o
salário de um operador de máquinas, no Brasil, não é igual ao salário de um operador de máquinas na França,
assim como o salário de um engenheiro não é igual a de um trabalhador que atua comércio.
Em relação à classe burguesa, ela se divide em fraçõ es ou setores de classe, a saber, grande, média e pequena
burguesia, e atua também nas mais variadas atividades econô micas, tais como: burguesia industrial
(proprietária de indú strias); burguesia financeira (proprietária de bancos); burguesia comercial (proprietária
de comércio) e burguesia agrária (proprietária de terras). Independentemente da fração de classe à qual
pertença, elas formam uma ú nica classe, a burguesia, que tem como objetivo explorar a força de trabalho para
obter cada vez mais lucros.
Contudo, no processo da luta de classes, nem todo indivíduo irá defender os interesses da classe a qual
pertence, neste sentido, temos que compreender o que significa situação de classe e posição de classe.

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 18/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

1.4.1 Situação de classe


Situação de classe é a situação que o indivíduo ocupa no processo de produção. É uma situação concreta,
que está relacionada à condição do indivíduo na sociedade e na economia, ou seja, se o indivíduo detêm os
meios de produção, sua situação de classe é burguesa, porém, se o indivíduo não detém os meios de produção
e vende a sua força de trabalho em troca de um salário, sua situação de classe é proletária (BUZETTO, 2004, p.
83).

1.4.2 Posição de Classe


Posição de classe é a posição política assumida pelo indivíduo no processo da luta de classes, ou seja, é
quando este indivíduo, direta ou indiretamente, defende os interesses da outra classe e não da qual ele
pertence. Por exemplo, o indivíduo pode ter sua origem econô mica na classe trabalhadora, porém pode
defender os interesses da classe burguesa, ou ao contrário, o indivíduo pode ter sua origem econô mica na
classe burguesa e defender os interesses do proletariado (BUZETTO, 2004, p. 83).
Assim, você poderá perceber que esses dois elementos, situação de classe e posição de classe, estão
diretamente ligados às lutas de classes e ao processo de formação da consciência, que são fundamentais para
compreendermos as relaçõ es econô micas, políticas e sociais que envolvem o Estado Moderno e suas relaçõ es
com o modo de produção capitalista.

Conclusão
Concluímos a Unidade 1, na qual abordamos a origem e o desenvolvimento dos modos de produção, Estado,
classes sociais e lutas de classes. Agora você conhece as principais categorias de análise que envolve esses
assuntos.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• Aprender que o trabalho é tão antigo quanto a raça humana e que
ele que representa um papel fundamental em qualquer modo de
produção existente na sociedade, haja vista que o trabalho é o
meio indispensável para assegurar a base econômica e social de
toda e qualquer sociedade;
• Acompanhar a evolução histórica dos principais modos de
produção que existiram na sociedade ocidental: comunidades
primitivas, Escravismo, Feudalismo e Capitalismo;
• Aprender sobre a origem e desenvolvimento da política, da
propriedade privada, das classes sociais e do Estado;
• Identificar as duas principais correntes teóricas sobre o Estado
Moderno: liberal e marxista;
• Identificar as principais classes sociais a partir do nascimento da
propriedade privada: Escravismo (amos e escravos); Feudalismo

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 19/20
20/10/2023, 13:37 Classes e Movimentos Sociais

(senhores feudais e servos); Capitalismo (burguesia e


proletariado);
• Analisar as três fases do processo de formação da consciência:
consciência social ou senso comum; consciência sindical ou
reivindicatória; e consciência de classe;
• Comparar que o processo de organização política das classes
sociais no capitalismo, que envolve diretamente a luta de classes,
passa pela categoria de análise: posição de classe e situação de
classe.

Bibliografia
ABRAMIDES, Maria Beatriz, DURIGUETTO, Maria Lú cia. (Orgs.). Movimentos Sociais e Serviço Social: uma
relação necessária. São Paulo: Cortez, 2014.
ADORO CINEMA. Tempos Modernos. Filmes de Romance, [20--]. Disponível em:
(http://www.adorocinema.com/filmes/filme-1832/)http://www.adorocinema.com/filmes/filme-1832/
(http://www.adorocinema.com/filmes/filme-1832/). Acesso em: 17 dez. 2019.
BUZETTO, Marcelo. Reflexõ es críticas sobre política, ética e cidadania. In: Ética, cidadania e política. São
Paulo: Terceira Margem, 2004.
CINECLIK. A guerra do fogo. Filme, [20--]. Disponível em: (https://www.cineclick.com.br/a-guerra-do-
fogo)https://www.cineclick.com.br/a-guerra-do-fogo (https://www.cineclick.com.br/a-guerra-do-fogo).
Acesso em: 17 dez. 2019.
COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3. ed. São Paulo: Moderna,
2005.
GOHN, Maria da Gló ria. Novas teorias dos movimentos sociais. 4. ed. São Paulo: Ediçõ es Loyola, 2012.
MONTAÑ O, Carlos; DURIGUETTO, Maria Lú cia. Estado, classe e movimento social. 2. ed. São Paulo: Cortez,
2011. (Biblioteca Básica de Serviço Social - v. 5).

https://codely-fmu-content.s3.amazonaws.com/Moodle/EAD/Conteudo/SAU_CLAMSO_20/unidade_1/ebook/index.html 20/20

You might also like