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15 MINUTOS

NEWTON SCHEUFLER
Coordenador da Casa da Mão
Coordenador da TV Universitária
Professor da disciplina “Elementos de Estética e Comunicação”
Do Curso de Comunicação Social da UCB

“A Pop Art expressa não a criatividade do povo,


e sim a não-criatividade da massa.”
(Giullio Carlo Argan)

“A incapacidade da crítica em reconhecer o valor


da pintura impressionista, quando ela surgiu, gerou nos críticos
futuros um complexo de culpa e uma intimidação tal que, hoje, tudo o que
se anuncia como novidade a crítica se sente obrigada a aprovar.”
(Ferreira Gullar)

Segundo Giullio Carlo Argan, em seu célebre tratado sobre a Arte Moderna, “a Arte Pop
nasce na Inglaterra com Hamilton e Kitay e, posteriormente, na década de 60”, assola os
Estados Unidos. O grande crítico italiano descreve-a como uma concepção “não utópica, e
até mesmo desalentada e passiva, da realidade social”.

Desconforto individual, individualismo, desesperança e sociedade de consumo, confundem-


se nas manifestações da arte pop. A face torpe do capitalismo e a dimensão grotesca da Arte
Moderna estão nela presentes. Mas... quem sou eu para falar de ícones da cultura
contemporânea como Jasper Johns, Roy Lichtenstein, Andy Warhol ou Robert
Rauchensberg? Sequer saboreei meus 15 minutos de fama. Sou um simples professor de
uma jovem Universidade localizada em terras brasileiras centro-ocidentais, sou também um
pintor (inclusive de paredes) desconhecido. Tenho um estômago muito fraco, deteriorado
pelo café e pelo cigarro [dois prazeres imensuráveis], suporto com muita dificuldade certas
manifestações artísticas, em outras palavras: simplesmente não consigo “engulir” a arte pop
e tudo o que ela representa. O que neste momento escrevo, se dá mais por um desejo de
atender à solicitação de algumas alunas que, com aquele olhar característico de estudante
desesperado diante das obrigações/atividades/prazeres da academia, pediam minha
contribuição no preenchimento de um espaço gráfico no Jornal Laboratório – Este
Arte&Fato – de seu curso de Comunicação Social. Bem sei que a desimportância do que
tenho a dizer sequer corresponde às exigências da tarefa, mas não tive coragem de
decepcionar aquele olhinhos assustados.

Na impossibilidade de livrar-me da cultura “norte-americana”, resigno-me tentando


aproveitar alguns tesouros que chegam das terras setentrionais. Ouço jazz, blues, rock’n roll
– aprecio sobremodo, vejam que paradoxal, Velvet Underground, a banda que fazia a trilha
sonora da “Fábrica”, espécie de atelier/boate/refúgio que Andy Warhol montou em Nova
York. Adoro Bukowski e acho os tênis Nike extremamente confortáveis. Confesso que do
Mac Donalds aceito apenas as batatas fritas e, mesmo assim, imediatamente após terem
sido fritas. Também aprecio cigarros Malboro e Coca-Cola, fazer o quê?! Mas a arte pop é
mesmo, para usar uma expressão acadêmica, “de lascar”. Como professor de estética tenho
a obrigação de compreender o movimento, ainda que não tenha sido exatamente um
movimento, e de explicar a meus alunos a importância referencial, para nossos tempos
[pós-modernos????] da obra, p.ex., de Andrew Warhola (o nome de batismo de Andy
Warhol), contudo, pessoalmente, considero aquelas manifestações “artísiticas”, que
ocorreram nos EUA na década de 60, lamentáveis, tristes, angustiantes, oportunistas,
medíocres, pobres, grotescas, nada mais do que um amontoado de lixo cultural – feito com
lixo cultural – que nos é imposto, assim como os seriados de TV e uma boa parte dos filmes
roliudianos.

A mostra de arte pop, que neste momento infecta o Centro Cultural Banco do Brasil serve
apenas para confirmar minhas impressões. A sensação de que alguém lá do norte nos
considera acríticosimbecisterceiromundistascucarachos é muito forte. Toda pompa e
circunstância midiática que eleva a exposição de Warhol e Haring à condição de grande
evento cultural, faz-me sentir um tolo. Acho que estou ficando velho e ranzinza, mas, ainda
não, cego. Sou daqueles que buscam um sentido propedêutico para a arte, daqueles que
acreditam na possibilidade de uma educação estética do homem, sou daqueles que ainda
tentam compreender Kant, Hegel, Goethe, Schiller e Nietzsche e Baudelaire e Guimarães
Rosa. Tenho olhos por demais sensíveis – e vejam que não saudosistas – para gostar do que
vi. Se pudesse dar um conselho a meus alunos diria: - Vá à mostra, veja tudo atentamente e
depois vomite no hall de entrada. Mais tarde, para aliviar seu espírito vá até o Conjunto
Cultural da Caixa lembrar de sua infância com a Mônica e o Cebolinha.

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