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oartor2018 Uso do terri agricutura no Rio Grande do Norte: materidades @ esuturas Confins Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia 34 | 2018 Néimero 34 Dossié Cartografias ambientais do Rio Grande do Norte Uso do territorio e agricultura no Rio Grande do Norte: materialidades e estruturas Lusage du femoire et de agriculture dans le Rio Grande do Norte: matérialités et structures Use of the territory and agriculture in the Rio Grande do Norte State: materiaities and structures CELSO DoNIZETE LOCATEL, Résumés Portugués Francais English As atividades agricolas, assim como os circuitos espaciais de produg#o que se constituem a partir elas, sio de grande importancia para a dinamica econémica nacional e para o contexto econdmico do estado do Rio Grande do Norte (RN). No caso do RN, as atividades agropecuarias contribuiam com 3,4% do PIB estadual, em 2016, além de ocupar mais de 30% da populagdo economicamente ativa, Para se eompreender o uso agricola do terrtério potiguar faz-se necessério considerar os sistemas de engenharia que vertebram o territério, assim como os eircuitos espaciais de producio agricolas nele estruturados. Considerando essa afirmativa, tem-se como objetivo analisar 0 uso do territorio a partir dos principais circuitos espaciais de produgio agricola no estado, Tevando em consideragio a densidade técnica dessa alividade e a seletividade em relagio aos lugares. Com esse trabalho péde-se constatar que a maior densidade téenica empregada em atividades agricalas no RN esti presente nos circuitos espaciais de produedo de frutas tropicais para a exportacao e no de cana de agicar. Os circuitos espaciais de produgio de géneros alimenticios voltados para o mercado interno como milho, mandioca ¢ feijio apresentam reducio de drea cultivada e baixo nivel técnico, Constatou-se também que a baixa pluviosidade caracteristiea do clima semiérido no é fator determinante para a baixa produtividade dos circuitos mais tradicionais de alimentos, mas sim a baixa densidade técnica, Les activités agricoles, ainsi que les circuits spatiaux de production qui sont constitués partir elles, sont ts importants pour la dynamique économique nationale et pour le contexte économique de 'ftat du Rio Grande do Norte. Dans le cas de I'tat, les activités agricoles ont contribué pour 3,4 % au Produit Intérieur Brut de 'Etat, en 2016, en plus d'occuper plus de 30 % de Ja population économiquement active, Dans ce sens, pour comprendre I'usage agricole du territoire hitps:ourals.openeationorgfcontns/ 12842 ane oartor2018 Uso do terri agricutura no Rio Grande do Norte: materidades @ esuturas «potiguar», il faut considérer ls systémes dingénierie qui structurent le terstore, aussi bien que les, cireuits spatiaux de production agricoles en eux-mémes. En faisant cette affirmation, on a pour de but dans'ce travail d'analyser Tusage du terrtoire & partir des principaux circuits spatiaux de production agricole dans Itat, également en prenant en compte la densité technique de cette Activité et la slectivité en rapport aux endevits. Par conséquent, ila été possible de constater que la plus grande densité technique employée dans des activités agrioles dans Etat est présente dans les circuits spatiaux de la production de fruits tropicaux pour exportation et en ce qui concerne A celui Gola canne é suere, Les ciruitsspatiaux de production de nourrture tournés vers le marché interne comme le mais, le manioe et les haricots présentent une réduction des superficiescultivées et un bas niveau technique. Ila été aussi veifié que la caractéristique de basse pluviosité du climat semi-aride nest pas le facteur dézsif pour la basse productivité des circuits les plus traditionnels de produits alimentaires, mais que c'est la basse densité technique The agricultural activities, as well as the spatial circuits of production that are constituted from ‘them, are of great importance for the national economic dynamics and, also, for the economic context of the state of Rio Grande do Norte. In the case of RN the agricultural activities contributed with 3,4 % of the state GDP in 2016, besides occupying more than 30 % of the economically active population. In order to understand the agricultural use of the potiguar territory itis necessary to consider the engineering systems that sustain the territory, as well asthe agricultural spatial circuits of production formed based on them, Considering that statement, the purpose of this work is to analyze the use of the territory from the main spatial circuits of agricultural production in the state, taking into account the technical density of that activity and the selectivity in relation to the places. ‘With this work it can be verified that the largest employed technical density in agricultural activities in the RN is present in the tropical spatial circuits of fruits production for the export and of sugarcane. The spatial circuits of production of nutritious goods aiming the domestic market as ‘corn, eassava and beans present a reduced cultivated area and low technical level. It was also ‘observed that the low rainfall, a characteristic ofthe semiarid climate, is not a decisive factor for the low productivity of the most traditional foods ciruits, but the low technical density is. Entrées d’index Index de mots-clé Notte. Index by keywords : use ofthe territory, spatial cireult of production, agriculture, Rio Grande do Notte. Index géographique : Rio Grande do Norte Indice de palavras-chaves : uso do tervtérlo, eieuito espacial de produgio, agricultura, Rio Grande do Norte, sage du tervitoire, circuit spatial de production, agriculture, Rio Grande do Texte intégral icher Fimage Crédits : Hervé Théry 2015 A atividade agricola é uma das atividades mais antigas desenvolvidas pelo homem e, historicamente, foi de fundamental importincia para a estruturagdo da sociedade, assim como do proprio territério. Essa atividade econdmica acumula diferentes tempos historicos, pois nela coexistem téenicas de periodos distintos, fato evidenciado pelo emprego de ferramentas, de formas de fazer e de maquinas e equipamentos, que foram incorporados ao processo produtivo em diversos momentos. Assim, verifica-se o emprego simultineo da enxada manual com méquinas automatizadas que utilizam o Sistema de Posicionamento Global (GPS) e so empregadas na “agricultura de preciso”, bem como relagoes de trabalho assalariadas sistemas de parceria, os quais se assemelham ao itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 2g oartor2018 Uso do terri agricutura no Rio Grande do Norte: materidades @ esuturas sistema servil da Europa Medieval, o que possibilita identificar diferentes niveis téenieos, varidvel relacionada a diferenciagao dos lugares. Na historia econémica brasileira, até a década de 1930, a agricultura figurava como a atividade econémica de maior importincia. No periodo atwal, essa atividade continua tendo papel de destaque na economia e na dinémica social brasileira. O setor denominado de agronegécio representava 20% da econdmica nacional, em 2016, contribuindo com R$ 1.253.112 milhes para o Produto Interno Bruto (PIB) (Cepea/Esalq, 2017), Cabe destacar que 0 PIB do agronegécio se refere ao produto gerado em todas as etapas dos circuitos espaciais de produgao, desde a produgdo de insumos para a agropecuéria, a produgao priméria (propriamente agricola), até as atividades que processam ¢ distribuem os produtos para o consumo final. Quando se considera apenas a produgio agropecuaria, 0 valor agregado ao PIB nacional pelo setor é de 4,95%. © PIB do Rio Grande do Norte corresponde & aproximadamente 1% do PIB nacional, sendo que a populagao do estado representa 1,7% da populagio brasileira (IBGE, 2017). J 1 produgGo agropecuéria contribui com 3,4% do PIB estadual e representa apenas 0,34% do valor da produgdo da agropecuéria nacional. Porém, as atividades agropecuarias geram 17.362 empregos formais, o que equivale a 2,96% do total desse tipo de emprego no estado (MTE, 2016). Além dos empregos formais, as atividades agropecudrias geram a ocupagao de aproximadamente 171.000 pessoas (trabalho familiar) e mais 26.000 empregos informais (IBGE, 2006), que corresponde a aproximadamente 33% da mao de obra ocupada no estado, nesse periodo. Do ponto de vista econdmico, as atividades agropecuérias nfo apresentam tanta expressividade quando consideradas no contexto nacional. Porém, do ponto de vista social, essas atividades garantem a reprodugio social de mais de 30% da populago economicamente ativa do estado entre ocupagio, empregos formais e informais; um indice muito superior & média nacional. Diante da realidade apresentada, tem como objetivo analisar o uso do territério a partir dos principais citeuitos espaciais de produgio agricola no RN, levando em consideragao a densidade técnica dessa atividade e a seletividade em relagao aos lugares. Para o desenvolvimento da pesquisa partiu-se da materialidade de alguns circuitos espaciais produtivos agricolas estruturados no estado como do melo, da cana de agiicar, da castanha de caju, da mandioca, do milho e do feijio. Assim, buscando construir um panorama dessas atividades agricolas, foram levantados dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), tanto do Censo Agropecuério, como da Produgao Agricola Municipal. Também foram utilizados dados da base RAIS/CAGED do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os dados foram tratados, organizados e representados cartograficamente, para faclitar a andlise pretendida, Esse artigo est estruturado em trés segdes, além dessa introdugao e das consideragies finais. Na primeira realiza-se uma breve discussio sobre o nivel téenico ¢ a estrutura produtiva agricola disponivel no estado. A segunda parte est dedicada apresentagio de algumas caracteristicas dos circuitos espaciais de produgio das principais atividades agricolas. Na terceira, busca-se estabelecer uma relagio entre 0 baixo indice pluviométrico, a técnica e a pritica agricola no estado, Territorio Potiguar e Agricultura: Nivel Técnico e Estrutura Produtiva © territério potiguar, logo, uma fragio do territério entendido como totalidade, apresenta um conjunto de objetos técnicos e recursos naturais que possibilitam a realizacdo de atividades agricolas, tanto para a producao de géneros alimenticios, voltados a0 mercado interno, matérias primas para o setor agroenergético, como produtos para a exportagdo, porém com especificidades quando comparado a outras fragdes do territério nacional. itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 ang oartor2018 ° Uso do terri ¢ grcuitura no Rio Grande do Norte: materilidades ¢ esruturas Os sistemas de engenharia disponiveis nessa frago do territério so compostos por unidades de processamento de matérias primas agricolas — as agroindiistrias -, um complexo sistema de transporte, com rodovias que interligam areas de produgdo com outros modais de transporte como os portos € o aeroporto, e um conjunto de barragens € de pogos essenciais para o fornecimento de gua para a produgio agricola e agroindustrial (Mapa 1). Ainda compdem os sistemas de engenharia as unidades de produgéo e Aistribuigio de energia elétriea — parques edlicos e termoelétricas ~ € uma vasta rede de transmissao de eletricidade interligada ao sistema nacional, fundamental para o sistema produtivo atual. Do mesmo modo, as caracterfsticas naturais como solo, recursos hfdricos ¢ clima propiciam a realizagao das atividades agricolas tipicas de areas tropicais, ainda que © clima semiérido predominante na maior parte do estado imponha a necessidade de sistemas téenicos mais complexos, em especial de irrigacio. ‘Mapa 1 ~ Rio Grande do Norte: Sistemas de Engenharia de Transporte e Hi romp senting sin yaar con Fonte: ANA, 2008; GPRM, 2012; IBGE, 2008 o 200. As téenicas que dao sustentacio para a realizagao de atividades agricolas no terri potiguar nao possuem a mesma temporalidade e « essas técnicas se efetivam em relagées coneretas, relagées materiais ou néo, que presidem a elas, 0 que nos conduz sem dificuldade & nogao de modo de produgao e de relagées de produgao » (Santos, 2013: 57) Nesse sentido, a dindmica dos lugares e territorial, relacionada & produgdo agropecuéria do estado, esté atrelada a logica da dindmica econémica do pais. Assim como no cenério nacional, o territério potiguar se configura em fungao da sua historia, das normas, dos sistemas de engenharia, da cireulagao, das infraestruturas, das instituigGes, dos circuitos espaciais de produgao, dos movimentos da populagio, bem como das ages contra-hegeménicas produzidas pelas dindmicas dos sujeitos que permanecem na uta didria pela sua reprodugio social. Ou seja, em funcio da base ‘material existente somada a atividade humana evidenciam-se as contradigGes da dindmica territorial e os contedidos inerentes a essa fragio do territario, 0 processo de configuracao do territério é permeado pela técnica, que assume um papel de destaque para a agdo do homem no territério, tal como de produtora do proprio territério (Santos, 1996), © que torna sua difusio cada vez mais irreversivel. Nessa perspectiva, a agricultura no territério potiguar esta permeada por diferentes niveis ‘téenicos, influenciados pelos interesses de agentes sociais distintos, de lugares diversos e forgas dispares, cooperando ou disputando entre si, 0 que demonstra que « 0 novo itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 ang oartor2018 8 “ w Uso do terri ¢ grcuitura no Rio Grande do Norte: materilidades ¢ esruturas funcionamento do territério se dé pelas verticalidades ¢ horizontalidades » (Santos, 2005: 138). Essa nova dinamica territorial traz em si a reestruturagio produtiva, que 6 decorrente do periodo histérico atual, nominado como periodo técnico-cientifico-informacional (Santos, 1996), que se inicia apds a Segunda Guerra, Nesse perfodo, a realidade brasileira, potiguar, passa a apresentar uma estreita relagdo entre a técnica, a ciéncia e a informagao, que so, no seu cerne, globais. © que se observa sobre a estrutura produtiva da agricultura potiguar, em consondncia com 0 que ocorre no contexto nacional, é que as téenicas, a produgio cientifiea ¢ a informagéo apresentam maior densidade na porgdes centro-sul do pafs, que se tornam mais atrativas e, dessa forma, mais subjugadas a agentes econdmicos globais, numa dinamica fortemente marcada por politicas de empresas multinacionais, que se instalam rnos lugares e agem de forma hegemdnica, levando a reestruturagio produtiva e a novas Givisdes territoriais do trabalho em locais centrais, bem como em_periféricos, fragmentando o territirio e especializando-o em atividades produtivas exogenas, o que 0 torna um reduto produtivo do mundo globalizado, em detrimento da organizacio local anterior (Silveira, 2013), Nessa perspectiva, para compreender o nivel téenico da agricultura norte-rio-grandense € preciso considerar as principais mudancas na configuraco e no uso do territério com atividades agricolas, a partir dos novos contetidos e sistemas téenicos constituidos de ciéneias ¢ informagao. Até o inicio dos anos de 1980, a agricultura potiguar estava baseada na produgio de cana-de-agticar, sobretudo no litoral oriental; na pecudria extensiva, que ocupava boa parte do semiérido do estado; e em uma agricultura voltada para o autoconsumo, a qual se estabelecia principalmente no Agreste do estado; além do cultivo de algodao, castanha de caju e o extrativismo vegetal. Todas essas préticas dispunham de niveis téenicos de baixa complexidade e, por conseguinte, pouca expressividade produtiva (Locatel e Lima, 2016). Contudo, a partir da déeada de 1990, a agricultura no Rio Grande do Norte vem sendo impulsionada, haja vista os investimentos recebidos, os maiores niveis produtivos € 0 aumento do consumo produtivo agricola. Tal transformagio se da pelo rearranjo de fatores econdmicos, politicos e sociais que se caracterizam pela efetivagio no territario de sistemas téenicos, imbuidos de ciéncia e informagio. Notoriamente, esse rearranjo nfo considera a organizagio local anterior, pelo contrério, ele se sobrepoe. preciso considerar ainda que, mesmo havendo avangos, a expressividade da atividade agricola no territério potiguar ainda é incipiente, quando comparada com o cenério nacional, ao mesmo tempo em que se observa a subutilizagio de recursos como solo, égua emo de obra familia, devido ao baixo nivel ténico, em especial na produgao voltada para ‘6 mereado interno de alimentos. Todavia, em consondneia com 0 que ocorre no resto do pais, o nivel técnico da agricultura no RN se da de forma heterogénea, privilegiando os agentes hegeménicos, em sua maioria empresérios brasileiros estrangeiros, que implementam suas reas produtivas e lavouras em locais de densidade técnica elevada, destacando-se, no caso potiguar, a cana-de-agticar no litoral oriental e a fruticultura no Vale do Acu, com a banana, e na Regio Oeste, em especial em Baraiina e Mossoré, com 0 melo. A atuagdo do Estado ¢ um fator central para a reestruturagao produtiva e consequente arranjo desigual desses processos no territ6rio potiguar, pois, em se tratando dos projetos de irtigacio, «a SUDENE, criada para promover o desenvolvimento do Nordeste, dentre os seus objetivos, almejava a modemizagao da base técnica da produgao agricola e para tanto privilegiou os projetos de irigacao[.., apolou a construcao de grandes perimetros irrigados na regio Nordeste, estando um deles situado no Vale do Agu no Rio Grande do Norte, A Batragem Armando Ribeiro Ganealves, que foi concluida ‘em 1983, em consonancia com as ages pontuais da “politica de agudagam” do DNOGS » (Lima, 2018: 131). itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 sit@ oartor2018 4 Uso do terri agricutura no Rio Grande do Norte: materidades @ esuturas Esses megaprojetos possibilitaram 0 uso de diferentes formas de irrigagao pelas empresas agricolas multinacionais instaladas na regiio do Baixo Agu, a saber, em terras «que antes eram usadas para agricultura de autoconsumo e que acabaram sendo compradas 1 pregos irris6rios ou tomadas por grilagem. Com essa nova infraestrutura instalada, houve uma diversificagio das téenicas utilizadas para irrigagZo dos cultivos, passando a ser utilizados métodos como: aspersdo por pivd central; superficie em suleo; além de gotejamento e microaspersdo. Dentre essas a mais utilizada é a aspersiio, sendo que o uso do pivé central para essa técnica é pontual, em fungao do alto custo de implantacao, restringindo-se aos muniefpios de Telmo Marinho, produtor de abacaxi; Macatba ¢ Arés, produtores de cana-de-agiicar; e Ipanguacu, produtor de banana 0 uso de irrigagao por suleos ocorre principalmente no Seridé Potiguar, nos municipios de Cruzeta e Caic6, onde a produgio de milho forrageiro predomina, Ja as técnicas de gotejamento e microaspersio concentram-se no municipio de Baratina, voltado também para 2 produgio de melao e, devido a intensificagao do uso dessa técnica nesse local, hé a instalagdo de empresas especializadas em irrigacdo localizada. Contudo, considerando que somente 6.756 estabelecimentos rurais potiguares utilizam algum sistema de irrigaglo, que esse montante equivale a apenas 8,1% da quantidade de unidades agricolas do estado e que isso representa pouco mais de 4% dos estabelecimentos rurais que utilizam irrigagio no Nordeste ¢ somente 2% do Ambito nacional, percebe-se que 0 RN nao possui clevado uso dessa técnica agricola, demonstrando assim uma seletividade, evidenciada pela densidade de uso nos muniefpios do Baixo Agu e a rarefagio em muniefpios distante de reservatério de 4gua de grande porte, Além de inovagies no uso da égua e no cultivo de frutas tropicais, é possivel observar mudangas nas técnicas empregadas para produgdo de mandioca, sobretudo no Agreste Potiguar, haja vista que o cultivo da mandioca no RN esté modificando sua base técnica com a intengao de maximizar a produgo, coexistindo, dessa maneira, a preocupagao com a qualidade do produto, agora industrializado, ¢ as tradicionais casas de farinha que ‘mantém a produgao artesanal (Salvador, 2009). Esse fato observado quando se analisa que, durante os anos 1980, comega a se incorporar na produgao da farinha de mandioca novas tecnologias e légicas capitalistas nas relagGes de trabalho. Nessa perspectiva, a mandioca passa a ser produzida com uso de ‘maquinérios e fertilizantes quimicos e processada em casas de farinha que dispoem de instrumentos téenicos movidos a energia elétrica (Lima, 2015) e com a intencionalidade de comercializagio e ndo mais de autoconsumo (Salvador, 2009). Outra cultura, que no estado apresenta elevado contetido cientifico-informacional & a castanha-de-caju, através da produgo de cajueiros que dio frutos de tamanho padronizado em quantidade consideravelmente maior que o natural ¢ de melhor qualidade, com uso de biotecnologia. Vale salientar que esse nivel de técnica produtiva coexiste com técnicas precarias para 0 processamento da castanha feito, na maioria das vvezes, em instalagdes também precérias. Essas diferencas de niveis técnicos presentes no territério potiguar, portanto, podem ser notadas nao apenas quando comparados diferentes municipios, mas dentro das mesmas localidades ou unidades produtivas. Um exemplo desta {ltima situagdo so as usinas de cana-de-agicar do estado, que empregam maquinérios de elevado nivel cientifico- informacional e mao de obra barata, temporaria ¢ com baixissima profissionalizagao. ‘Um diltimo fator a ser considerado é a financeirizagao das atividades agricolas no estado, que se distribui de forma dispar e com relativa inexpressividade no cenario regional ¢ nacional. A titulo de exemplo, considerando-se os recursos disponiveis para 0 crédito do Programa de Estimulo a Agropecuiria Sustentvel (PRODUSA), 0 RN obteve apenas 0,11%, ou seja, R$ 3.326.000,00 do total de R$ 2.893.151.000,00 de recursos a serem investidos nas outras porgdes do territério nacional, dificultando, portanto, a incorporagio de capitais fixos e semifixos como: méquinas, equipamentos, obras de irrigacdo, drenagem, manejo do solo ¢ a modernizagao do processo produtivo. itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 ag oartor2018 a 2 Uso do terri agricutura no Rio Grande do Norte: materidades @ esuturas ‘Todo o conjunto de fatores até aqui citados contribui para a diferenciagio do nivel téenico que as atividades agricolas utilizam em territério potiguar (Cartograma 1), de forma que se acentuam as disparidades entre realidades locais, submetidas a logicas globais ow nacionais e influenciadas pelo grau de densidade ou rarefagio de téenicas. Gartograma 1 — Rio Grande do Norte: densidade técnica da agricultura, 2006 Fonte: Lina. 2015 Assim, é possfvel pereeber que a agricultura potiguar se comporta da mesma forma que © modelo produtivo da agropecuéria nacional, no qual se prioriza a produgio de lavouras que atendam aos interesses de agentes hegemdnicos, com financiamentos do Estado que fogem da logica social e buscam atender a interesses do mercado, destinando a produgdo dos cultivos aos consumidores externos (nacionais ou internacionais) e pouea atengdo para a produgéo de alimentos que atendam ao consumo local ou regional, como se pode observar na segao posterior. Circuitos Espaciais de Produgao Agricola eo Uso do Territorio Potiguar Até a década de 1980, as atividades agrfcolas desenvolvidas no Rio Grande do Norte podem ser consideradas tradicionais, do ponto de vista do nivel téenico apresentado pelos diferentes circuitos espaciais de produgao. Porém, seguindo a tendéncia nacional de incorporagao crescente de inovagGes téenicas, no que concerne aos aspectos quimicos, mecinicos bioldgicos, na agricultura potiguar desencadeou-se um proceso de reestruturagio produtiva, pautado no pacote tecnologico da “Revolugdo Verde”, base do que se convencionou denominar de “moderniza¢ao da agricultura”. Analisando o uso agricola do territério no RN, no periodo de 1985 a 2015, a partir dos circuitos espaciais de produgdo mais expressivos, percebe-se que as atividades agricolas tradicionais nfo apresentaram redugdo de area plantada, num primeiro momento, em decorréneia da implantagdo € expansio dos cireuitos produtivos de frutas tropieais, voltados para mereados mundiais. No entanto, no timo periodo analisado verifica-se ‘uma reducio acentuada desses cultivos, mas sem a expansao dos circuitos inseridos na logica dos mereados mundiais sobre tais éreas. ‘A partir da implantagao dos circuitos de produgio de frutas tropicais e da criagio de equipamentos que compée o sistema de engenbaria irrigante, verifica-se no estado uma redefinigao de uso agricola do territério, com a utilizagio de reas para a produgio de ‘mercadorias voltadas para a mercado externo, que antes destinava-se a pecuéria extensiva. A produgao de melo no RN itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 me oartor2018 = 8 Uso do terri agricutura no Rio Grande do Norte: materidades @ esuturas © melao, assim como outras commodities produzidas no RN, esté inserido num contexto produtivo de maior eseala, a saber: 0 do abastecimento de mereados externos, ‘que exigem niveis sanitarios ¢ de qualidade bem mais elevados que o mercado brasileio. s protocolos que tem que ser empregados no processo produtivo agricola e pés-colheita exige niveis técnicos elevados, consequentemente, maior inversio de capital, o que dificulta a participagao dos agricultores eamponeses descapitalizados. A partir de uma andlise dos dados do IBGE, percebe-se que o circuito produtivo do ‘meld apresenta, na etapa da produgdo agricola propriamente dita, uma variagio de 1.740,29% na érea cultivada entre os anos de 1985 & 1995, © que representa wm aumento de 1.189 hectares, em 1985, para 21.881 hectares em 1995. Posteriormente, em 2006, a produgéo do melo apresentou uma queda dréstica, com uma redugdo de 83,10% em telagéo a década anterior, diminuindo para 3.698 hectares de area plantada. No iiltimo periodo analisado, no ano de 2015, 0 cultivo do melo recupera a sua producio, com uma variagio de 169,3% em relagdo ao ano de 2006, atingindo 9.959 hectares de drea plantada. Comparando-se o ano inicial de anélise (1985) em relaco ao ano mais recente (2015), vé- se uma variagdo da produgio positiva de 737.5%, apresentando nesse contexto 0 ano de 1995 como pice do uso de area para o cultivo dessa fruta. ‘Ao representar cartograficamente os dados de area cultivada com melo, nota-se algumas mudangas na sua dinamica quanto ao uso do territério. © meléo que, historicamente, se concentrou no Oeste Potiguar, apresentou em 1995, ano de sua maior rea ocupada, uma difuséo para além da regiéo Oeste, chegando a se instalar em grande parte na regio do Serid6 (Mapa 2). Todavia, frente a légica do agronegécio, a ampliagao das técnicas de irrigagdo na regio Oeste, bem como a concorréncia estabelecida entre os produtores, o meldo perde primazia da producdo no Seridé e volta a se concentrar na regio Oeste em 2006, onde se observa a intensificagio da sua producio em 2015, dada a atuagdo das grandes empresas nos principais municipios dessa regido, como Mossoré, ‘Tibau, Baraiina, Carnatibas, Agu e Governador Dix-Sept Rosado, com uma produgio voltada principalmente para a exportagdo (Andrade, 2013). ‘Mapa 2 ~ Rio Grande do Norte: area plantada com melo - 1985 a 2015, Fonte: IBGE, 1985, 1995, 2006, 2016, A produgao da cana-de-agucar no RN itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 oartor2018 28 Uso do terri agricutura no Rio Grande do Norte: materidades @ esuturas No que diz respeito ao circuito espacial da produgao de cana-de-aciicar, apesar da sua presenga desde o periodo colonial no territério potignar, algumas variagdes quanto a sua rea de produgao so bastantes perceptiveis nos periodos analisados. Entre os anos de 1985 e 1995, a cana-de-agticar apresenta uma variagio de 34,54% na érea cultivada, o que representa um aumento de 50.071 hectares, em 1995, para 67.368 hectares, em 1995, de rea plantada. Jé no ano de 2006 a érea cultivada de cana apresentou redugdo de 43,94% em relagio ao periodo anterior, chegando a 37.768 hectares de rea plantada. Em 2015, ‘timo periodo analisado, a cana-de-agiicar recupera as reas utilizadas para o seu cultivo, com aumento de 57,49% em relagdo ao ano de 2006, totalizando uma érea de 59.481 hectares. No geral, entre 1985 a 2015, a variagio da area destinada a plantagao da cana-de- agiicar foi de apenas 18,7%, dado 0 contexto historico dessa produgao, possibilitando coexistir usos e téenicas tradicionais e modernos. Quanto a distribuigo espacial dessa produgio, o circuito produtivo da cana sempre apresentou uma expressiva concentracao na faixa litordnea do estado, acentuando-se em 2015. Nesse contexto, ao analisarmos 0 Mapa 3, entre os anos de 1985 ¢ 1995, a area de produgo da cana se apresentava bastante dispersa no territ6rio potiguar, tendo ainda um cultivo tradicional, destinado a produgio artesanal de rapadura e melago, além da utilizagdo da cana para alimentagéo animal, prineipalmente na regio Oeste do estado. Frente aos periodos de secas prolongadas, em 2006, a 4rea plantada com cana reduz expressivamente no interior do estado e passa a se concentrar nitidamente no Litoral oriental, sobretudo na porgio sul. Essa concentragao espacial da produgao de cana de agiicar, mais expressiva ainda em 2015, ocorreu devido a especializagio produtiva desencadeada pela presenca de importantes empresas, como 0 grupo BIOSEV que comprou a Usina Estivas, localizada no municipio de Arés (RN), ea implementagio de ‘técnicas mais modernas de cultivo voltada para a produgio de agicar e Aleool a fim de abastecer 0 mercado nacional, além da produgao de eletricidade a partir da biomassa da ps A produgao da castanha de caju no RN itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 ang oartor2018 8 2» “ Uso do terri agricutura no Rio Grande do Norte: materidades @ esuturas Jano que concerne ao cireuito espacial da produgao de castanha de caju, este apresenta ‘uma alta variagio quanto a érea destinada a plantagio, possuindo ja em 1995 uma érea cultivada de 81.571 hectares, resultado de uma politica do Governo do estado de incentivo & cajucultura. No ano de 2006, a area plantada com cajueiros atinge a menor expressividade, com uma redugio significativa de 64,90% em relacio a 1995, totalizando apenas 28.635 hectares destinados para esse fim, fato decorrente da crise apresentada por essa atividade produtiva, devido a estruturagdo desse circuito produtivo no estado do Ceara, baseado em téenicas mais sofisticadas de cultivo, com variedades de plantas mais produtivas. Neste cenério, somente em 2015, apés a implementagao de politicas piblicas voltadas para a revitalizagéo da cajucultura potiguar, a area plantada apresenta uma variagao de 335.7%, chegando a 96.120 hectares destinados ao cultivo, tendo o pice de sua producio fem relagio aos periodos anteriores. Tomando por base a variacao total, entre 1995 € 2015, ‘a drea plantada para a produgio de castanha de caju apresentou aumento de 17,8%, dada a elevagio da sua produgio, com variedades genéticas de cajueiros mais produtivas, pelo uso da bioteenologia, bem como a insergdo desse produto na pauta de exportagdo, que contribui diretamente para a expressiva recuperacdo desse circuito espacial de producao, sem aumentar muito a érea plantada, Representando cartograficamente os dados da cajucultura (Mapa 4), percebe-se que em 1995 0 cultivo do caju apresentava uma concentragio, com destaque para a regido Oeste do RN, dado o carater extrativista da produgao e as técnicas rudimentares que se faziam presentes entre os agricultores. J no ano de 2006, tanto a producio quanto a area plantada apresentam uma reduco no estado, dada as recorrentes secas e a incidéncia de raga nos pomares de cajueiro. Frente a essa redugio, altos investimentos piblicos foram feitos com o intuito de melhorar as técnicas de plantio do cajueiro, indo desde a implementagio de téenieas de preparo do solo, adubagdo, controle de pragas, ervas daninhas e de irrigagao, até o melhoramento genético, com o uso de clones, inserindo um contetido cientifico-informacional, que permitiu alta produtividade em algumas regides, resultados verificados ano de 2015. Fonte: IBGE, 1985, 1995, 2006, 2016, Assim, dentre as regides do estado, destaca-se o Oeste potiguar, tendo os municipios de Serra do Mel, Severiano Melo ¢ Mossoré, ¢ 0 municipio de Lagoa Nova, no Seridé, como itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 oartor2018 «® Uso do terri agricutura no Rio Grande do Norte: materidades @ esuturas produtores de destaque, apresentando melhor qualidade, investimento no cultivo e nivel ‘téenico mais elevado, voltado para o desenvolvimento do cajueiro-ando-precoce. Todavia, verifica-se algumas coexisténcias na producio da castanha de caju, na qual percebe-se diferentes niveis técnicos, néo s6 na regifio Oeste, mas também na regio Central e Leste, indo desde instalagdes precérias, quanto A produgo, & condigéo do produtor e a rea colhida, até relagGes de trabalho mal remuneradas e dependéncia das condigdes fisico- naturais (Lima e Locatel, 2017). A produgao da banana no RN O circuito espacial de produgao de banana no estado apresenta caracteristicas similares a0 do melo, como alto nivel técnico, grande quantidade de capital investido e voltado para 0 mercado externo. Seguindo a légica de produgio de frutas tropicais para a exportaco, o circuito produtivo da banana, apresenta gradativo aumento ao longo das Aécadas analisadas, sendo que entre 1985 a 1995, ocorreu uma significativa variagio de (961,2% na érea cultivada, o que representa um aumento de 245 hectares, em 1985, para 2,600 hectares, em 1995. No ano de 2006, a Area cultivada da banana continuou aumentando, tendo uma variagdo de 27,8% em relagao a década anterior, chegando a uma rea de 3.325 hectares, No ano de 2015 foi registrado mais aumento, o que representou, em relagéo a 2006, uma variagio de 63% na area destinada ao cultivo dessa fruta, atingindo o total de 5.421 hectares de area plantada. Em termos comparativos, a0 analisarmos a érea destinada a produgdo do ano de 1985 a 2015, nota-se uma variagio bastante positiva de 2.112,6%, o que faz do Rio Grande do Norte um importante estado no contexto do circuito produtivo da banana. Em termos espaciais, ao analisarmos Mapa 5, percebe-se que, apesar do aumento ‘quantitativo na érea de produgio da banana, ocorre a concentrago dessa produgéo em certas Areas, intensificando 0 uso do territério dentro de uma légica do grande capital. Dessa maneira, entre os anos de 1985 a 1995, percebemos uma difusdo do cultivo da banana por todo o territério potiguar, com uma produgéo caracterizada pelo sistema de sequeiro, sem irrigagio. Contudo, a partir de 2006, dado os incentivos financeiros e toda infraestrutura implantada pelo Estado, os quais favoreceram a instalagio de empresas de capital internacionais, por conseguinte, do trabalho assalariado e de téenicas modernas de produgio, a banana passa a figurar dentro da logica exportadora das frutas tropicais do Rio Grande do Norte, sendo possivel perceber uma concentracio territorial gradativa na regio do Baixo Acu ¢ no norte do Litoral Leste potiguar. Essa tendéneia se consolida no ano de 2015, no Vale do Agu, com destaque para os municipios de Alto do Rodrigues ¢ Ipanguagu, assim como Touros, no Litoral Oriental Mapa 5 ~ Rio Grande do Norte: drea pl com itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 wn9 oartor2018 “ 4 Uso do terri agricutura no Rio Grande do Norte: materaidades e estruturas Fonte: IBGE, 1985, 1995, 2006, 2015, A produgao da mandioca no RN Observando os mémeros dos cireuitos produtivos referentes a produtos mais tradicionais, em relagdo a mandioca, em 1985, existia um total de 42.869 hectares de érea plantada com este tipo de cultivo, por conseguinte, em 1995, houve um deeréscimo de 41,13% dessa Area, reduzindo a area cultivada com mandioca para 25.236 hectares. Em 2006, a producio da mandioca continuou apresentando quedas no total da érea cultivada, registrando uma redugio de 18,41%, totalizando apenas 20.589 hectares de rea plantada. Mais tarde, no ano de 2105, o cultivo da mandioca continuou apresentando declinio em sua érea plantada, com uma queda de 27,5% em relagdo ao ano de 2006, restando um total de 14.924 hectares de area plantada no estado. No panorama geral dos periodos analisados, observar-se que do ano inicial (1985) em relagao ao dltimo ano analisado (2015) a produgio da mandioca teve sua érea reduzida em 65,2%. ‘Ao visualizar os dados das dreas destinadas ao plantio da mandioca no RN (Mapa 6), verifica-se que a produgao desse tubérculo foi se concentrando no Agreste Potiguar, que se firmou como a regido de maior destaque em todo o periodo analisado, seguida pela regio do Serid6, mais especificamente o municipio de Serra de Santana, e a regifio do Alto Oeste, que registou a maior redugo de érea cultivada entreigg5 e 2006. Apesar da reducio da rea destina ao cultivo de mandioca no estado, essa atividade ganhou seu maior destaque em 2015 na regio do Alto Oeste e Central. Contudo, vale ressaltar que a atividade mandioqueira, a partir de 1995, comegou a ineorporar novas teenologias ao processo produtivo a fim de dinamizar a produgio das casas da farinha, além da instalago de agroindistrias processadores, reconfigurando esse circuito espacial de produgéo, sob logica da reprodugio ampliada do capital, com incorporagao de capital fixo e de trabalho assalariado, ‘Mapa 6 — Rio Grande do Norte: érea plantada com mandioca - 1985 a 2015 itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 oartor2018 4 “7 Uso do terri agricutura no Rio Grande do Norte: materaidades e estruturas Fonte: IBGE, 1985, 1995, 2006, 2015, A produgao do milho no RN Além do cireuito de mandioca, ressalta-se o cireuito espacial de produgao de milho com caracteristica téenicas mais tradicionais. Considerando os dados do IBGE, é notério a grande queda na produgao ao longo das décadas analisadas, tendo uma diminuigao total de 70,1% na sua area plantada, entre os anos de 1985 € 2015. No decorrer do primero periodo, de 1985 a 1995, a area plantada decresceu 9,39%, diminuindo de 143.754 para 130.256 hectares. No ano de 2006, o milho continuou apresentando redugio em relagio a década anterior, desta vez com queda de 28,3% diminuindo a rea plantada para 93.326 hectares. Jé na dltima década da anilise, em 2015, este apresentou um declinio de produgio abrupto em relagio a 2006, com uma variagdo negativa de 54%, diminuindo frea plantada para 42.915 hectares. O declinio do tiltimo periodo analisado foi potencializado pela estiagem prolongada a partir do ano de 2009. ‘A partir do Mapa 7, onde esto representados os dados das areas plantadas de milho, consegue-se pereeber as mudangas ocorridas no uso do territério para essa atividade a0 longo das décadas. O milho tem éreas utilizadas para cultivo em quase todos os municipios no ano de 1985. Nos perfodos seguintes, de 1995 e 2006, pereebe-se que 0 milho continua em grande parte do estado, mas dessa vez com menos éreas de cultivos € tendo um maior destaque para a regio Oeste, seguida pela regidio do Seridé. No tiltimo perfodo, em 2015, nota-se que se mantém as mesmas dreas de destaque, porém com ‘menores produgoes em relagdo a anos anteriores. fs importante evideneiar que o cultivo do milho ¢ realizado, predominantemente, por agricultores que esto desarticulados com 0 ‘mereado internacional, mas continuam a prética desse cultivo buscando garantir 0 autoconsumo e também o abastecimento do mercado interno com o excedente da produgio. Tratam-se de produtores descapitalizados, que dispéem de baixo nivel técnico, inclusive com pouco uso de sistemas de irrigagio. Percebe-se que ha uma concentragao da produgio no Oeste do estado, coincidindo com a area de producio de melio, o que evidencia o uso compartilhado de equipamentos de irrigacio entre esses dois cultivos. ‘Mapa 7 — Rio Grande do Norto: droa plantada com milho — 1985 a 2015 itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 oartor2018 4“ 4 Uso do terri e agricutura no Rio Grande do Norte: materiaidades @ esuturas Fonte: IBGE, 1985, 1995, 2006, 2015, A produgao do feijao no RN © cireuito espacial de produgao de feijo caracteriza-se por ser © que apresenta nivel téenico mais elementar. A produgio desse alimento dé-se predominantemente nas pequenas unidades de produgao e se destina ao autoconsumo e venda do excedente em feiras-livres e pequenos mercados. A variedade mais plantada é a vigna unguiculata, ou feifao de corda, que é muito perecivel, quando comparada a outras variedades. Ao analisar os dados do IBGE, constata-se que esse cereal seguiu a tendéncia dos cultivos tradicionais no estado, com acentuada reducio da drea plantada. Porém, entre 1995 ¢ 2006, foi registrado aumento de 35,64% da area plantada, que passou de 124.896 para 169.413 hectares, em uma década. No periodo seguinte, no ano de 2015, houve uma queda significativa dessa produgo em relagdo a 2006, sofrendo um decréscimo de 74,2% €, dessa forma, atingindo uma érea cultivada de apenas 43.712 hectares. Entre 1995 € 2015, ‘ocorreu uma reducdo de 72,1% de dreas cultivadas com feijao. Quando esses dados sdo analisados espacialmente (Mapa 8), compreende-se que no periodo entre 1995 © 2006, a produgio de feijao esté configurada de forma difusa no territério potiguar, evidenciando que nfo houve concorréncia entre as lavouras alimenticias para 0 mercado interno e as lavouras destinadas & exportago com destaque para o Alto Oeste e o Agreste Potiguar. No periodo final de andlise (2015), apesar de ter sua produgio reduzida pelas recorrentes estiagem, com reduco da pluviosidade média dado 0 seu cardter tradicional de produgao, o eultivo do feijao ganha destaque na Regio este, prineipalmente no municipio de Mossoré, ‘Mapa 8 - Rio Grande do Norte: area plantada com 985 a 2015 itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 oartor2018 5 = Uso do terri © agricutura no Rio Grande do Norte: materaidades @ estruturas eae ea asa Fonte: IBGE, 1985, 1995, 2006, 2015, Agricultura e Pluviosidade: Limite ou Mito? ‘Ao buscar-se evidenciar os usos do territ6rio potiguar a partir de diferentes lavouras, constata-se que alguns circuitos produtivos vo se concentrando em determinadas areas pela incorporagéo da técnica, de ciéncia e de informagio ao territério voltada para 0 desenvolvimento especifico de algumas cireuitos produtivos, como do caju, da cana-de- agicar e do meldo, enquanto outros circuitos mantém-se dispersos por todo o territério potiguar, por ter um caréter tradicional e serem realizados principalmente por agricultores camponeses descapitalizados, cuja produgdo volta-se para o autoconsumo € para o abastecimento dos mercados locais e regionais. Nesse segundo grupo destacam-se o milho, a mandioca e 0 feijao, sendo que seus cultivos sao facilitados pelos sistemas de cengenharias presentes no territério assim como pela estrutura fundidria ¢ pelas relagdes de produgao predominantes no campo potiguar (trabalho familiar). Entretanto, apesar dos diversos niveis téenicos observados na agricultura, coexistindo no territério potiguar, ha ainda uma dependéncia dessas lavouras das condigGes climaticas locais. A producéo agricola apresenta uma relagio direta com as areas de maior precipitagdo do territério potiguar, fazendo com que os periodos mais chuvosos sejam os periodos de maior produc dessas lavouras. Isso significa dizer que os cultivos modernos, além de todo aparato técnico implementado pelo estado para o seu desenvolvimento, iri se beneficiar dessas areas de melhor condigéo climética, ficando para a agricultura tradicional as éreas de maior escassez de recursos hfdricos, além de maior degradacéo ambiental ¢ tamanho reduzido das propriedades Fica evidente no Mapa 9, ao se sobrepor reas cultivadas em relagio ao total dos estabelecimentos rurais sobre a quantidade de precipitagio nos anos de 1995 ¢ 2015. Assim, observa-se na regio Leste, Agreste e do Alto Oeste potiguar um aumento da area cultivada, assim como indice pluviométrico mais elevado. & sabido também que essas regides sofreram com perfodos de seca recorrentes. No entanto, o nivel técnico ja instalado nessas fragGes do territério suprem o déficit hidrieo nos periodos de seca, fazendo prosperar os circuitos espaciais de produgao que possuem maior densidade técnica e de capital. itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 oartor2018 Uso do terri agricutura no Rio Grande do Norte: materidades @ esuturas Mapa 9 = Ri . is icipt ' aumoag 4 7 agenda ee os oy © ro1%-20% = anon Amacyeres @ 201%-20% Proce anabewn @ sorn_sn Fonle: IBGE, 1995 © 2015, EMPARN, 1995 e 2014 58 Em contraponto a essas Areas de destaque, a regio Central apresenta uma rarefagio historica quanto ao desenvolvimento das lavouras, por ser uma regio de maior vvulnerabilidade as variagSes climaticas, o que afeta diretamente a produgio agricola desde de 1995. A escassez. da precipitacao potencializa o fendmeno da desertificagio, o que redu, inclusive, a capacidade produtiva das culturas tradicionais, fazendo com que no s6 1 dgua seja um desafio a ser superado, mas também o nivel de degradacdo ambiental, 0 qual deve ser corrigido com téenicas especificas voltadas para a convivéneia com 0 semiérido, Consideragées finais itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 oartor2018 st 6 Uso do terri ¢ grcuitura no Rio Grande do Norte: materilidades ¢ esruturas Quando se observa os prineipais circuitos espaciais agricolas no RN eonstata-se que: i) a produgio de frutas, como o melo ¢ a banana, segue a légica da internacionalizagio da agricultura, seja pela forte presenca de capital estrangeiro utilizado em alguma etapa da produgio on por essa atividade estar voltada para o mercado mundial; fi) a produgio de abacaxi vem se estruturando na mesma légica dos outros circuitos produtivos de frutas irrigadas; ii) o cireuito produtivo da castanha de eaju, mesmo sendo tradicional no estado, a partir dos anos 2000 vem sendo reestruturado, com a incorporagdo crescente de inovagdes técnicas e de sua insergao na logica do mercado global; iv) o circuito produtivo da cana-de-agiicar passou por um proceso de reestruturagéo com a participagéo de grandes conglomerados empresariais, inclusive de origem internacional, incorporando mais téenica, ciéncia e informagio ao proceso produtivo, além de passar a produzir cenergia elétrica utilizando como fonte priméria a biomassa da cana; v) os circuitos espaciais de produgio mais tradicionais como do milho, da mandioca e do feijio no apresentaram melhorias no nivel téenico e continuam estruturados a partir da logica da produgio de excedentes voltada para os mercados locais ¢ regionais; vi) os circuitos produtivos de frutas, mesmo nos perfodos de secas prolongadas, apresentaram expanso da area cultiva, enquanto que os circuitos mais tradicionais apresentaram redugdo, em especial nos periodos de maior eseassez de chuvas. Observando a quantidade de terras utilizadas para a produgao agricola no estado e comparando com a pluviosidade em periodo diferentes, constou-se que algumas caracteristicas ambientais, associadas ao baixo nivel téenico empregado no produgéo agricola, justificam a perda de primazia das regides Central, do Seridé e parte da regio este, na materializagao de alguns circuitos espaciais de produgio, permanecendo apenas 0s cultivos de caréter tradicional, o que coloca sérios obstéculos a serem superados quanto a0 uso do territério para fins agricolas no RN. Tudo isso evidencia que ndo é a escassez hidrica o problema da agricultura potiguar, e sim o baixo nivel téenico e a falta de politicas especificas para o contexto social e ambiental de parte do territério do estado. Bibliographie Andrade, A. A. de, 0 uso do terrtério pela fruticultura irrigada no Rio Grande do Norte: uma andlise ‘a partir do cireuito espacial de produtivo do melio (Cucumis Melo L.), Natal, 2013, Dissertagio de ‘mestrado (Mestrado em Geografia) - Centro de Ciéneias Exatas e da Terra, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Cepea/Esal. << PIB do Agronegécio Brasileiro». ~—‘Disponivel em: <*chttps://www.cepes.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx>. Acesso em 0g fev. 2018. Tge. « Censo Agropeewirio 2006 ». Disponivel em: , Aeess0 em 05 out. 2017, Tbge. « —Estimativa. «de Populaco (2017). ——Disponfvel «em . Acesso em 05 out. 2017 Ibge. « Produgdo Agricola Municipal 1985 a 2015 |». —Disponivel en: . Acesso em 11 ‘ago.2017. Tdema, « Anudrio Estatistico do Rio Grande do Norte ». Anuicio Estatistico do RN, Natal, v. 37, . 1-606, 2010. Lima, F. L. S. de. Territério, Técnica e Agricultura no Rio Grande do Norte. Natal, 2015. 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S. « Agronegécio e poder politico: politicas agricolas e o exercicio do poder no Brasil». Revista Sociedade e Territério, Natal, v. 2, 2016, p. 42-65. Ministério do Trabalho e Emprego, « Bases Estatisticas RAIS e CAGED, 2016 ». Disponivel em: . Acesso em 07 fev. 2018. Salvador, D. S.C. « O territorio usado e 0 uso atual do territério do Agreste Potiguar ». Revista Holos, Ano 25, V. 2, 2009, Santos, M.A natureza do espaco: téenica e tempo. Razéo e emogéio. Sto Paulo, Edusp, 1996. Santos, M. Da Totalidade ao Lugar. Sao Paulo: Editora da Universidade de S20 Paulo, 2005. Santos, M. Técnica, espaco, tempo: globalizagdo e meio téenico-cientfico-informacional. $20 Paulo: EDUSP, 2008. Silveira, M. L. « © territério em pedagos ». In: ENANPUR, 2013. Disponivel em: . Acesto em 20 de junho de 2017. Notes 1A agricultura de precisio esta associada a estratégias de gestio que utilizam a tecnologia da informagio para o recolhimento e anélise de dados a fim de apolar decisies relacionadas & agricultura, Estes sistemas informatizados também se destinam a aumentar a eficicia e a eficiéncia da produgdo em uma area especifica ou em toda a propriedade, além de buscar maiores ganhos com ‘inimizagio simultdnea dos eustos de produgio e impactos ambientais por atividades agrieolas e pecusirias, embora o sistema por si s6 ndo implica necessariamente uma produgo ambientalmente amigavel (Locatel e Chaparro, 2004, 5/p) Table des illustrations ‘Titre Mapa — Rio Grande do Norte: Sistemas de Engenharia de Transport © * 1) _® Crédits Fonte: ANA, 2008; CPRM, 2012; IBGE, 2008 e 2010 IRI. http:ljournals.openesition orglconfins/docannexesimagel12942/img-1 jpg Fichier imagelipeg, 700k tre Carlograma 1 ~ Rio Grande do Norte: densidade técnica da agricultura, 2008 BEA exes Fone tia. 201 URL iileurss open onraldoneseinage 22mg ip Fichier image/jpeg, 304k Titre eps Rlo Grade do Nats: splat com melo — 108592045 PAR cveaine Fons BCE, 195, 085,206, 2015 URL ip:leunal oprealion oonldoanexainage 22g pg Fichier image/jpeg, 696k Tire Mapa Rlo rade do Nate: rea plniade am candi 185 @ gox Te Ae , Crédits Fonte: IBGE, 1985, 1995, 2006, 2015. ++ URI itp:sjoumals openedition orgiconfins/docannexelimagel'2942/img-4 jpg Fichier imagelpeg, 104k Titre Mapa 4— Rio Grande do Nott: érea plantada com cajueiros - 1985 a 2015, ©" credits Fonte: IBGE, 1985, 1995, 2006, 2015. 5 “1 URL. httpiljourals.openediion orgicontins/éocannexelimage!12942Img-5 jpg Fichier imagefpeg, 548k ~ 9% Titre Mapa 5 — Rio Grande do Norte: érea plantada com banana — 1985 a 2015 _** + Crédits Fonte: IBGE, 1985, 1995, 2006, 2015, * URL hitp:ljoumals.openedition orgiconfins/docannexelimagel2042/img-6 jpg hitps:oumals.openeation orgiconfins!12942 rene oartor2018 Uso do tert agreutura no Rio Grande do Norte: materaldades «extras Fichier imagelpeg, 63¢k ‘Titre Mapa 6 - Rio Grande do Noro: rea plantada com mandioca ~ 1985 a 2015 ~ #8 4 crédits Fonte: IBGE, 1985, 1995, 2006, 2015. © =2 5) URL http:zjournals openesition.org/confins/decannexelimage!12942/img-7 jpg Fichier image/jpeg, 680k ‘Titre Mapa 7 - Rio Grande do Noto: rea plantada com milo ~ 4986 a 2016 PR IR credits Forte: BCE, 1985, 1995, 2006, 2015 FRI GR, potouals. openetonorconns/docannerehmagel 294mg ipa Fichier image/jpeg, 648k ‘Titre Mapa 8 - Rio Grande do Noto: dea plantada com fej - 1985 a 2015 PE PR Credits Fonte: IBGE, 1985, 1995, 2006, 2018. PS -1__URL, httpuljounals.openedition orglcanfins/docannexelimagel12942img-9 jpg Fichier image/jpeg, 364k Mapa 9 - Rio Grande do Nore: dreaculivada por municipios @ puviosidade Ber TP 1995 02018 Gage (Site Forts: BG, 195 02016. VPARW, 10950204 = URL _http:tjoumals.openesition orgiconfins/docannexe/image/12942/img-10 jpg ©" Fichier imagefipeg, 413k Pour citer cet article Référence dectronique Celso Donizete Locatel, « Uso do teritério e agricutura no Rio Grande do Norte: materiaidades & estruturas », Confins [En ligne], 34 | 2018, mis en ligne le 07 avril 2018, consult le 09 octobre 2018. URL: hitps/journals.openedition orgiconfins/12942 ; DOI : 10.4000/confins.12942 Auteur Celso Donizete Locatel Universidade Federal do Rio Grande do Norte, celsolocatel@gmail.com Articles du méme auteur A dimensio geografica de politicas publicas: o Programa de Aquisicao de Alimentos (PAA) © a Politica Nacional de Economia Solidéria (ECOSOL) no Rio Grande do Norte [Texte intéora Para dans Confins, 34 | 2018 Droits d'auteur @OS0) Conins = Revue franco-brésilenne de ggograpris est mis & ispostion selon es temes de la licence Creative Commons Attribution - Pas d'Uilisation Commerciale - Partage dans les Mémes Conditions 4.0 International itps:oumals.openeationorgiconfins!12942 t9n9

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