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Universidade Estadual do Ceará

Centro de Humanidades
Curso de História
Metodologia da Pesquisa História II
Inventário de Fontes

TRABALHO, MOBILIZAÇÃO E RENDA NO PRIMEIRO DISTRITO INDUSTRIAL


DO CEARÁ – MARACANAÚ. (1979 – 2002).

Willian do Nascimento Sampaio

Professor da disciplina: Erick Araújo


Professor Orientador: Samuel Carvalheira de Maupeou

Fortaleza
2017
1
Sumário
Apresentação ............................................................................................. 3
Fontes .........................................................................................................4
Planos de governos......................................................................................5
Documentos sobre a implantação do distrito industrial de Maracanaú.......10
Discursos e conferências.............................................................................12

Fontes estatísticas sobre a indústria, emprego e renda................................13

Entrevistas com os operários de Maracanaú...............................................20

Jornal sindical: Voz do Metalúrgico- jan.1992 a dez. 2002........................23

Livros primários..........................................................................................28

2
APRESENTAÇÃO

Este trabalho visa narrar, analisar e interpretar a história dos trabalhadores de


Maracanaú. O foco é ver a história da luta pela renda dos trabalhadores. Neste inventário
apresentamos as principais fontes consultadas, coletadas e analisadas.

Primeiro, temos os planos de governo coletadas na Universidade Federal do


Ceará. Esses planos permitem ver a visão do governo sobre o lugar e o papel dos
trabalhadores nas políticas industriais e no desenvolvimento do Estado.

Em segundo, elencamos os documentos, relatórios de implantação do Distrito


Industrial de Maracanaú. Tal como nos planos, buscamos observar o que esses documentos
revelam sobre os trabalhadores e seus problemas. No mesmo sentido, temos os discursos e
conferencias.

Contamos também com dois livros primários. São duas obras que revelam o
pensamento da classe patronal sobre a industrialização, trabalho e renda. Um dos livros
contém entrevistas com 4 industriais do D.I. de Maracanaú.

Para analisar os problemas com maior segurança, construímos e coletamos dados


e séries estatística sobre crescimento urbano do Ceará e Maracanaú, crescimento da indústria
no PIB, número de trabalhadores por setores de atividade, dados sobre as condições salarias
dos trabalhadores das industrias ao longo do tempo e outros dados.

As principais fontes para esse trabalho são as entrevistas com os trabalhadores


operários do D.I. e o jornal sindical A Voz do Metalúrgico do Sindicato dos Trabalhadores
Metalúrgico de Maracanaú. São as duas fontes que permitem contar a história da
industrialização, trabalho e renda com e a partir dos operários.

Perceba que em todas as fontes, o objetivo é o operário: o operário na visão das


produções do Estado, o operário na visão dos patrões e os operários na visão da própria classe
trabalhadora. São vários ângulos para se analisar, compreender e contar a história dos
trabalhadores e seus problemas, suas lutas e mobilizações pela renda.

3
FONTES

1- PLANOS DE GOVERNOS:

Em sentido lato, o planejamento pode ser considerado como a aplicação


sistemática do conhecimento humano para prever e avaliar cursos alternativos de ação, com
vistas à tomada de decisões adequadas e racionais que sirvam de base para ação futura.
Planejar é decidir antecipadamente o que deve ser feito, ou seja, um plano é uma linha de ação
preestabelecida (BARBOSA. 1987: 39).

No período de 1964 a 2002 os governos são marcados pela produção dos planos
de governo. Nesses planos eram realizados diagnósticos e definidos os objetivos para as
questões relativas ao estado. Entre essas questões está à industrialização, geração de emprego,
renda, etc.

Eu coletei e xeroquei todos os planos que preciso. Abaixo segue os endereços


onde eles foram consultados, nas bibliotecas da UFC.

Locais de consulta e coleta: Nas bibliotecas da Universidade Federal do Ceará.


Biblioteca de Ciências Humanas: Endereço: Av. da Universidade, 2683 - Bloco 4 - Benfica -
CEP 60020-970 - Fortaleza – CE; Biblioteca de Pós-Graduação em Economia: Endereço: Av.
da Universidade, 2700 - Benfica - 60020-180 - Fortaleza – CE; Biblioteca da Faculdade de
Economia, Administração, Atuária e Contabilidade: Endereço: Rua Marechal Deodoro,400
(1º andar) - Benfica - CEP 60020-060 - Fortaleza – CE; Biblioteca do Curso de Arquitetura:
Endereço: Av. da Universidade, 2890 - Benfica - CEP 60020-181 - Fortaleza – CE.

1.1- Plano I- Governo Virgílio Távora. PLAMEG II.1979-83. Diretriz geral.

O II Plano de Metas Governamentais (1979-83) foi o plano de governo de Virgílio


Tavorá em sua segunda gestão. Nesse documento são apresentados as diretrizes gerais quanto
à ação do governo.

Transcrições parciais:

No setor econômico, busco promover mudança radical no perfil da economia


do Ceará de sorte a torná-la menos dependente das periódicas irregularidades
climáticas, mediante maior participação no setor industrial e no incentivo ao

4
artesanato e ao turismo, diretrizes consubstanciadas na implantação do III
PÓLO INDUSTRIAL DO NORDESTE (CEARÁ, PLAMEG II. 1979: 3).

“As diretrizes a que me referi e os objetivos específicos que lhe são inerentes, em ultima
instância, tem por escopo único: a construção de UM NOVO CEARÁ, de um Ceará mais rico
e mais feliz” (CEARÁ, PLAMEG II. 1979: 3).

Comentários:

Notemos que o plano da ênfase na indústria e que o III Polo Industrial do Nordeste é
apontado como meio de mudar o perfil da economia, a construção de Um Novo Ceará. As
citações acima demonstram claramente as intenções do governo, sobretudo, por trata-se de
uma manifestação pública, um compromisso que se quer almejar. Assim, tais trechos
representam o pensamento geral da política industrial no inicio do recorte temporal deste
projeto, 1979. Documento importante para compreender o que se pretendia com a indústria.

1.2- Plano II- CEARÀ, Governador, 1983-87. Plano Estadual de Desenvolvimento


(PLANED). Fortaleza, BNB, 1983.

Esse documento é o plano de governo de Gonzaga Mota.

Transcrições parciais:

“A elevação do Ceará a um estágio superior de organização social depende, fundamentalmente, do


trabalho empreendido pelo seu povo. A melhoria da qualidade de vida do cearense se concretizará se
existir um esforço conjunto do poder e público e da comunidade” (PLANED. 1983: III).

“A despeito dos esforços desenvolvidos pelo Governo na década passada, no sentido de melhorar o
perfil de repartição de renda pessoal, observa-se, no Ceará, um agravamento na sua concentração"
(PLANED. 1983: 37).

Comentários:

Na primeira citação, observamos a preocupação do governo de conciliar os


diferentes agentes e classes sociais da sociedade cearense na busca de uma melhor sociedade.

5
Na segunda citação notamos que o novo governo reconhece o agravamento da concentração
de renda.

1.3- Plano III- TASSO, Governo. Plano de mudanças: juntos mudando o Ceará. 1987-
1991.

Esse é o primeiro plano de um governo democraticamente eleito, os empresários


do CIC foram bem recebidos pelo povo cearense, tendo ganhado as eleições de 1987 para o
governo um representante do grupo, Tasso. Os trabalhadores votaram, portanto, num
empresário, num industrial. O industrial no poder representa a consolidação do poder da
classe patronal e seu modo de ver e resolver os problemas do povo.

Transcrições parciais:

Uma economia fraca não pode dispor dos elementos necessários ao


cumprimento de suas funções sociais, nem criar empregos para atender às
demandas da população. O Governo do Ceará está firmemente empenhado
em promover a estruturação de uma base econômica forte, capaz de dar
sustentação às atividades econômicas rurais e urbanas, com o
desenvolvimento da mineração, da agricultura irrigada, da pequena e
microempresa, da média indústria e dos grandes empreendimentos
industriais. O fortalecimento da base econômica há de fazer-se concomitante
com a expansão do mercado interno, viabilizado a partir da incorporação de
grandes massas da população a níveis de renda mais elevados (Plano de
mudanças: 1987: 8).

“O programa do III Pólo Industrial do Nordeste, cujo objetivo principal consiste em gerar
emprego e renda em níveis que reduzam acentuadamente o quadro de pobreza da população,
obteve êxito apenas parcialmente” (Plano de mudanças: 1987: 115).

‘Programa de Apoio Infra-estrutural ao Desenvolvimento Industrial:


Sua metas mais importantes são:
- Ampliar em 400ha o Distrito Industrial de Fortaleza (DIF I);
- Desapropriação de 1000ha para a ampliação do DIF II (Caucaia), tendo em
vista a instalação da ZPE;
...
-Consolidação dos Distritos Industriais do Cariri e Sobral.
(Plano de mudanças: 1987: 121). ’
Comentários:

Observamos que a uma preocupação do novo governo com gerar emprego e renda
através, dentre outros, das indústrias, com o fim sempre de reduzir as desigualdades sociais.

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Ainda, na terceira citação notamos que os investimentos em áreas-parques fabris constituem a
ampliação e crescimento do segundo setor. Portanto, o crescimento da industria e da classe
operária é uma constante no recorte temporal.

1.4- Plano IV- CEARÀ, Governo do Estado do. Plano de desenvolvimento sustentável:
avançando nas mudanças: 1995-1998. Fortaleza, 1995.

Esse documento é o plano de governo do segundo governo de Tasso Jereissati.

Transcrições parciais:

“Daqui para frente surge mais uma etapa. Um grande salto qualitativo deve ser
dado tanto no âmbito da educação e saúde, como no do combate à pobreza e criação de
empregos para promover a redistribuição de renda de mais equitativa” (PDS: 1995:
apresentação).

“A linha de atuação governamental no tocante ao setor secundário direciona-se no


sentido de reverter o quadro de extrema pobreza que ainda coloca o Estado do Ceará na
condição de subdesenvolvido, cujos indicadores socioeconômicos estão a exigir ações
efetivas” (PDS: 1995: 74).

Impõe-se a execução de uma Política de Trabalho e Ação Social que


combata as causas e não apenas os sintomas decorrentes da exclusão
socioeconômica e cultural de parcela expressiva da população cearense. Para
ser efetivada, tal política defronta-se com a difícil tarefa de equacionar o
seguinte dilema: os indicadores sociais não evoluíram na mesma proporção
que os indicadores econômicos (PDS: 1995: 69).

“O setor industrial, por seu turno, vem ampliando sua contribuição na formação
do PIB, tendo aumentado a participação de 26,83%, em 1985, para 35,82% em 1994,
firmando-se como o setor mais dinâmico da economia cearense” (PDS. 1995: 23).

Comentários:

Nos planos de Tasso é notória a ênfase dada na preocupação com o meio


ambiente, alem de outras mudanças. É permanente a problema da desigualdade, sendo ainda
um dos principais objetivos plano. Além disso, esse plano traz a tona um reconhecimento
importante, de que a qualidade de vida do povo não se desenvolveu no mesmo ritmo que a
economia. Na ultima citação, constatamos que o período de 1985 a 1994 foi de crescimento
da Indústria e decréscimo da Agropecuária e dos Serviços. Esses dados nos levam a pensar
algumas questões. Por exemplo, é preciso ver até que ponto o crescimento das indústrias
7
representou, de fato, melhoria de vida do povo, dos trabalhadores. Ainda, é preciso
compreender porque os índices sociais não acompanham os econômicos e o porquê dessa falta
de sincronismo.

1.5- Plano V- CEARÀ, Governo do Estado do. Plano de desenvolvimento sustentável:


consolidando o novo Ceará: 1999-2002. Fortaleza, 2000.

Transcrições parciais:

“Cumpre destacar que o Ceará conseguiu externar uma imagem de Estado


moderno, aberto, atraente para a indústria”.

Atrair novos empreendimentos industriais de médio e grande portes,


complementar os elos da cadeia produtiva, [...], mediante a oferta de infraestrutura industrial,
da divulgação de oportunidades de investimentos e de uma política de incentivos fiscais
adequada” (PDS. 1998: 77).

“Promover o crescimento industrial no Estado, através da instalação de 25


minidistritos, propiciando a implantação e/ou ampliação de pequenas unidades fabris nos
municípios do interior”. (PDS. 1998: 78).

PARTICIPAÇÃO E PARCERIA: O processo de construção do


desenvolvimento no Estado somente poderá ser alcançado através de um
esforço conjunto do governo, da iniciativa privada e da sociedade. O cenário
para o Ceará pressupõe o trabalho harmônico, conjunto e integrado desses
diversos atores. (PLS. 2000: 24)

Comentários:

No ultimo governo de Tasso, os investimentos nas indústrias continua crescendo.


Na ultima citação, notamos a apelo para que aja uma cooperação entre as classes e/ou agentes
da industrialização. Essa solicitação é uma constante em todos os planos de governo aqui
analisados. Essa constante conclamação a união, harmonia, já denúncia seu contrário, o
conflito e a desarmonia. Por exemplo, a desarmonia entre o crescimento da economia e má
qualidade de vida do povo. De fato, é preciso investigar o processo de industrialização de
outros ângulos e ver como se deu as relações entre patrões e trabalhadores nesse período; se o
desenvolvimento da industrialização e da classe operária foi marcado por harmonia entre os
agentes ou por lutas e mobilizações.

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JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DESSAS FONTES E COMO ELAS
AJUDARÃO NA PESQUISA:

Mais do que informar o que aconteceu, os planos mostram aquilo que se desejava
fazer. Então, a partir do cruzamento com a realidade ocorrida, podemos observar o que deu
certo ou não nos planos e elaborar explicações para os êxitos e os fracassos. Essas fontes
abrangem uma serie muito ampla de metas e meios. Por isso, nosso objetivo é analisar
somente as justificativas para a indústria nesses planos.

Quando os planos falavam em indústria, falavam indiretamente do povo, dos


trabalhadores, pois esses planos foram um dos principais instrumentos de industrialização que
repercutiu na vida da população e economia do Ceará, a chamada política industrial.

No período de 1979 a 2002 esperava-se com a industrialização a geração de


emprego e renda, fixação do povo cearense em seu Estado, tornar o Ceará menos refém das
secas, equilíbrio econômico, implantação dos DIFs, urbanização e, sobretudo, redução das
desigualdades de renda e pobreza. Tudo isso é expresso através dessas fontes e nesse sentido,
elas nos ajudam a entender os caminhos que a sociedade pretendia percorrer para solucionar
seus problemas sociais e econômicos. Além disso, a escolha dessa fonte justifica-se por nos
ajudar a compreender o contexto em que se forma e se consolida a classe operária.

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2- DOCUMENTOS SOBRE A IMPLANTAÇÃO DO DISTRITO INDUSTRIAL DE
MARACANAÚ.

Esses documentos foram coletados no Arquivo Publico do Estado do Ceará. São


documentos relativos a políticas de industrialização do Ceará. A diferença é a escala.
Enquanto os planos de governo apresentam os diagnósticos e as intenções dos governos, esses
documentos tratam dessas intenções sendo colocadas em práticas. São relatórios de
implantação das indústrias, os distritos industriais, sobretudo, o primeiro Distrito Industrial do
Ceará em Maracanaú. É na implantação do D.I. de Maracanaú que recair o nosso enfoque
nessas fontes. Na medida em que se referem à implantação dos distritos industriais, esses
relatórios tratam sobre a geração de emprego, renda e as condições dos trabalhadores, etc.

O Arquivo Público tem a missão de “coletar, conservar e difundir a documentação


de caráter permanente produzida pela administração pública nas esferas do Executivo,
Legislativo e Judiciário, bem como por instituições públicas e privadas consideradas de
interesse público e social, visando preservar a história e memória do Estado”. Os documentos
que coletei foram fotografados e, agora, constituem o meu acervo pessoal.

Local de consulta/coleta: Arquivo Público do Estado do Ceará Rua Senador


Alencar, 348 – Centro CEP: 60030-050 - Fortaleza CE.

2.1- Relatórios- CEARÀ, G. E. Secretária de Indústria e Comércio. III Pólo Industrial do


Nordeste- Projeto: financiamento da expansão industrial. Fortaleza, 1979; CEARÀ, G. E.
Secretária de Indústria e Comércio. DIF: projeto de consolidação. 1980-8; Governo do
Ceará. SIC. III Pólo Industrial do Nordeste: Projeto de implantação de distritos industriais
no Ceará. Fortaleza, 1979; Grupo de trabalho interministerial. III Polo Industrial do
Nordeste: relatório Geral, 1979.

Transcrições parciais:

Assim é que o governo do Estado do Ceará, com base convênio celebrado


com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico 1, vem propor a esse
órgão, através do presente projeto, o financiamento da consolidação dos
Distritos Industriais de Fortaleza e Sobral e de implantação dos Mini-
Distritos de confecções e de calçados, em Fortaleza, e dos Distritos
Industriais do Cariri, Iguatu e Quixada. (SIC. III PIN: I.D.I-CE. 1979: 10).

1
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), segundo Octavio Ianni (1989) foi criado
em 1952, dentro de um contexto em que as ações do estado estavam voltadas para o estimulo e a
diversificação das atividades produtivas. Assim, o BNDE tinha “o objetivo de realizar operações que
tenham por fim o desenvolvimento da economia nacional” (Octavio Ianni. 1989: 42).

10
Observa-se grande concentração da população em alguns poucos municípios
onde as condições econômicas se apresentam mais promissoras. Com efeito,
pouco mais de um quarto da população reside na capital do estado e cerca de
42% residem nas micro-regiões de Fortaleza, Sobral, Iguatu e Cariri. A
excessiva concentração populacional na RMF tem contribuído sobremaneira
para elevar as necessidade de dispêndios em infraestrutura econômica e
social, afim de propiciar condições adequadas a vida para essas populações,
o que reconhecidamente não tem sido atingido. (GTI. 1979: 14).

A mão-de-obra liberada (em termos relativos) pelo setor primário não tem
encontrado condições satisfatórias de ocupação em atividades urbanas,
observando-se, no meio urbano, proliferação de atividades informais,
especialmente no setor de serviços, mas também no setor industrial, onde
ocorre baixos níveis de produtividade. Além disso, uma parcela
relativamente grande da população simplesmente não encontra oportunidade
de trabalho, permanecendo desempregada ou, de outra forma vinculando-se
a atividades marginais onde fica caracterizado o subemprego. (GTI. 1979:
15-16).

Comentários:

Esses relatórios revelam as condições de vida dos trabalhadores. Podemos


observar que o estudo do GTI foi sensível à situação do povo. Identifica-se o processo de
migração e que os trabalhadores procuravam regiões mais prosperas, aumentando nesses
polos de atração a demanda por serviços públicos, emprego, renda, moradia, etc.

JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DESSAS FONTES E COMO ELAS


AJUDARÃO NA PESQUISA:

Tais documentos são relevantes por registrar as condições dos trabalhadores


cearenses na medida em que se implantavam as indústrias. Assim, é possível utilizar tais
informações para se compreender os problemas dos trabalhadores.

3- DISCURSOS E CONFERÊNCIAS.

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Essa fonte foi coletada na biblioteca do Arquivo Público. Foi coletada e xerocada.
Esse documento é uma obra que reuni vários discursos de V. Távora. Existem vários
discursos de Tasso e outras figuras. Mas, por enquanto, me restringe a apenas está. Caso seja
necessária, na medida em que a pesquisa for tomando forma, poderei agregar outros
discursos.

Local de consulta/coleta: Arquivo Público do Estado do Ceará Rua Senador


Alencar, 348 – Centro CEP: 60030-050 - Fortaleza CE.

3.1- Virgílio Távora. Palavra e Ação: Discursos e conferencias de 1979 a 1982. Fortaleza-
CE, 1982.

Transcrições parciais:

Na medida em que as ações do Poder Público se intensificarem na direção


dos objetivos estabelecidos, decorrerão benefícios de ordem econômica e
social para todo o estado e haverá condições de utilização mais adequada das
potencialidades, geradas pelas próprias medidas que, em particular nos
últimos quinze anos, foram executadas pelos principais agentes do processo
de desenvolvimento do estado- o Governo e os empresários. (TÁVORA,
P.A.. 1979: 16).

O II PLAMEG objetiva alargar o mercado de trabalho nas cidades e no


campo e elevar os níveis de renda dos menos favorecidos. Isto é
indispensável, e que não continue a parecer simples figura de retórica a
afirmação, tantas vezes repetida, de que a meta principal do governo é o
homem. (TÁVORA, P.A.. 1979: 24).

Comentários:

Acima, temos o primeiro trecho, nota-se no discurso, afirmação pública do


governador, o lugar dos trabalhadores operários; dos três, não foi um dos principais agentes
da industrialização. Portanto já traçamos o primeiro aspecto do conflito entre as classes: a
Concepção de Participação Marginal dos trabalhadores na industrialização. No segundo
trecho, reforço um dado já conhecido, objetivo de gerar emprego e renda.

JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DESSA FONTE E COMO ELA


AJUDARÁ NA PESQUISA:

Esses discursos revelam outras informações e reforçam outras já conhecidas.


Portanto, é mais um meio de informação para a pesquisa.

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4- FONTES ESTATÍSTICAS SOBRE A INDÚSTRIA, EMPREGO E RENDA:

Trata-se de dados, séries estatísticas, sobre indústria, renda e trabalho ao longo do


tempo. E também outras tabelas que nos ajudam a compreender as modificações do período
sociais e econômicas do período. Dados, tabelas, sobre os principais temas abordados nesta
monografia: Crescimento da indústria, crescimento urbano do Ceará e de Maracanaú, o
número de trabalhadores por setor, dados sobre as desigualdades de rendas e, principalmente,
informações sobre as condições salariais dos operários. Tudo isso em séries históricas que
permitem observar a mudanças desses dados no tempo.

Local de consulta/coleta: Biblioteca do Museu da Indústria do Ceará: Rua Dr. João Moreira,
143 – Centro – Fortaleza – Ceará – CEP: 60030-000.

5.1- CADASTROS INDUSTRIAIS: Governo do Estado do Ceará. Secretária de Indústria e


Comércio. Cadastro Industrial do Estado do Ceará 1984. Patrocínio: FIEC, 1984; Governo
do Estado do Ceará. Secretária de Indústria e Comércio. Cadastro Industrial do Estado do
Ceará 1985. Patrocínio: FIEC, 1985; Governo do Estado do Ceará. Secretária de Indústria e
Comércio. Cadastro Industrial do Estado do Ceará. 1990-91. Patrocínio: FIEC, 1991;
Governo do Estado do Ceará. Secretária de Indústria e Comércio. Cadastro Industrial do
Estado do Ceará. 1992. Patrocínio: FIEC, SEBRAE, 1992.

5.2- Anuários: Dorian Sampaio. Anuário do Ceará. 1978/79; Dorian Sampaio. Anuário do
Ceará. 1994/95; Dorian Sampaio. Anuário do Ceará. 1996/97; Dorian Sampaio. Anuário
do Ceará. 1997/98; Dorian Sampaio. Anuário do Ceará. 2002/2003.

Transcrições ou tabelas, séries construídas:

TABELA 1: PIB relativo.

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PIB CEARÁ
Ano/números 1950 1960 1975 1980 1990 1993 1997
Agricultura 46.8 45.7 27.3 15.04 13.56 6.16 6.36
Indústria 8 8.7 23.8 25.49 25.64 35.35 38.07
Serviços 45.2 45.6 48.9 59.47 60.8 58.49 55.57
Total 100 100 100.0 100 100 100 100
Fontes: Diagnóstico do Ceará. 1964 e Anuário-Ce: 1950-1997/98.

TABELA 2:
População do Ceará: 1950-2000
Ano/números 1950 1960 1970 1980 1991 2001
Total 2695450 3337856 4361603 5380432 6660410 7430661
Rural 2015846 2213027 2581510 2502877 2455681 2115343
Urbano 679604 1124829 1780093 2877555 4204729 5315318
Fontes: Anuários-CE: 1981/1982-2002/2003.

TABELA 3:
População de Maracanaú: 1950-2000
Ano/números 1981 1991 2000
Total 37942 157151 179732
Rural 7019 741 562
Urbano 30923 156410 179170
Fonte: Anuário-CE. 1981/1982-2002/2003.

Comentários:

A primeira tabela mostra a evolução do PIB por setor, evidenciando que o setor
que mais cresceu no Ceará, na segunda metade do século XX, foi à indústria. A segunda e
terceira tabelas mostram as mudanças nos perfis populacionais do Ceará e Maracanaú. Temos
em conta que o crescimento industrial está diretamente ligado ao crescimento urbano. Se o
crescimento da indústria não foi determinante, foi pelo menos um dos principais fatores e em
meio século a economia e a característica demográfica do Estado mudou radicalmente. Tudo
isso refletiu na 3º tabela, que apresenta o enorme crescimento urbano de Maracanaú para onde
afluía o povo em busca de moradia e trabalho.

14
Tabela 4:
PEA/ setores do Ceará: 1950-1980
Ano/números 1950 1960 1970 1980
Total 820811 1042871 1255440 1717165
PEA Agricultura 608470 688353 749090 742221
PEA Industrial 58171 129637 163754 311447
PEA Serviços 154170 224881 342596 629076
Fonte: Anuário-CE: 1983/1984

Tabela 5:
População Ocupada, segundo Setores de Atividade no Ceará
1985 1990 1995 1998
SETORES
ABS % ABS % ABS % ABS %
Agrícola 943272 41.00% 828787 33.33% 1170780 38.51% 1081708 35.49%
Indústria 477017 20.74% 482401 19.40% 483797 15.91% 535315 17.56%
Comércio 218530 9.50% 297758 11.97% 375227 12.34% 385351 12.64%
Serviços 624728 27.16% 846702 34.05% 977013 32.14% 1012104 33.21%
Outros 36860 1.60% 31096 1.25% 33094 1.09% 33490 1.10%
Total 2300407 100.00% 2486744 100.00% 3039911 100.00% 3047968 100.00%
Fonte: coletada no Plano de Desenvolvimento Sustentável. 2000: 32- Tabela 11: fontes: IBGE; PNAD, 1985, 1990, 1995 e 1998.

Comentários:

As tabelas 4 e 5 são sobre o número de trabalhos por setores no Ceará ao longo do


tempo; denominada na primeira como População Economicamente Ativa (PEA) e na segunda
por Pessoas Ocupadas (PO). Ambas expressão a Força de trabalho que “é formada de pessoas
com 10 ou mais de idade, consideradas como População Economicamente Ativa (PEA), por
estarem ocupadas, ou na condição de desemprego, mas buscando oportunidade de ocupação”
(PDS. 2000: 29). Assim, a tabela 4 contém a PEA, com os ocupados e os desocupados que
procuram emprego. Na tabela 5, leva-se em conta apena os ocupados da PEA. Como existe
uma pequena disparidade e dispersão dos dados, foi preferível utilizar duas séries de fontes
distintas. Assim, temos maior segurança em analisar algumas informações importantes que
essas séries nos fornecem.

Observando as duas tabelas, a primeira informação é que o setor da indústria foi o


que mais cresceu (tabela 1) com sua participação no PIB e o que não apresentou nenhum
decréscimo de 1950 a 2000 nessa evolução, mas apesar disso, não foi o setor que mais

15
absorveu as ocupações, ao contrário, teve algumas oscilações e certo decréscimo, em relação
aos outros setores, de 1985, 20,74%, a 1998, 17,56%.

A agricultura só decresceu sua participação no PIB, mas ainda chegou em 1998


com 35,49% dos trabalhadores ocupados. Durante todo o período observado, a agricultura
continuou a absorver trabalhadores, havendo somente uma queda entre 1970 e 1980 em
decorrência da seca de 1979-1983.

O setor de serviços cresceu sua participação no PIB, apresentado uma pequena


queda na década de 1990. Ainda assim, o setor de serviços/comércio chegou em 1998 com
cerca de 45% da força de trabalhão ocupada.

As informações acima são importantes, pois nos ajudam a compreender o quão


dinâmico e complexo é o processo econômico. Sobre a industrialização, notamos que ela,
apesar de absorver menos trabalhadores, tem uma presença muito forte na economia. Esses
dados são globais, são os resultados macros. Vale buscar os outros lados ou os outros ângulos
dessas dinâmicas. É preciso analisar as classes de renda, ou simplesmente as rendas, os
salários dos trabalhadores em cada setor, sobretudo, nas indústrias.

Tabela 6:
RENDIMENTO MENSAL DA POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA POR SETOR DE ATIVIDADE- 1980
PEA (2)
CLASSES DE RENDA (1) TOTAL PRIMÁRIO SECUNDÁRIO TERCIÁRIO
Abs. % Abs. % Abs. % Abs. %
Até 1/2 SM 490846 29.1% 242159 32.6% 73254 23.5% 175433 27.6%
Mais de 1/2 a 1 SM 521455 30.9% 256045 34.5% 114414 36.7% 150996 23.8%
Mais de 1 a 2 SM 277585 16.4% 74926 10.1% 77041 24.7% 125618 19.8%
Mais de 2 a 3 SM 94722 5.6% 14723 2.0% 21591 6.9% 58408 9.2%
Mais de 3 a 5 SM 68024 4.0% 6459 0.9% 11622 3.7% 49943 7.9%
Mais de 5 a 10 SM 48444 2.9% 4003 0.5% 7469 2.4% 36972 5.8%
Mais de 10 a 20 SM 23383 1.4% 2303 0.3% 1879 0.6% 19201 3.0%
Mais de 20 SM 9501 0.6% 626.0 0.1% 1898 0.6% 6977 1.1%
Sem rendimento 145535 8.6% 135912.0 18.3% 1916 0.6% 7707 1.2%
Sem declaração 9249 0.5% 5065.0 0.7% 363 0.1% 3821 0.6%
TOTAL 1688744 100.0% 742221 100% 311447 100.0% 635076 100.0%
Fonte: Anuário-CE. D.Sampaio. 1983/84. p. 83. Quadro 40: Fonte: Tabulações Avançadas do Censo Demográfico-1980-IBGE. -
Notas: 1. Renda baseada em salário mínimo. - 2. Inclusive as pessoas procurando trabalho (34.421).

Tabela 7:

16
2002
PEA
Classes de renda SECUNDÁRIO
Abs. %
Até 1/2 SM 81969 20.4%
Mais de 1/2 a 1 SM 126830 31.5%
Mais de 1 a 2 SM 113629 28.2%
Mais de 2 a 5 SM 33677 8.4%
Mais de 5 a 10 SM 6327 1.6%
Mais de 10 SM 4989 1.2%
Sem rendimento 31871 7.9%
Sem declaração 2964 0.7%
Total 402256 100.0%
Fonte: Anuário do Ceará. 2002-2003:
Tabela 15.21

Comentários:

As tabelas 6 e 7 são complementares. Ambas tratam da PEA no Ceará por setor,


primeira de 1980 e a segunda relativa a 2002. A principal informação que inferimos é a
condição salarial dos operários. Em 1980 60,3% da classe operária ativa, tinha seus
rendimentos até um salário mínimo. Se considerarmos até 2 salários, temos 85% da classe
operária. Em 2002, verificamos que os operários que ganhavam até 1 salário mínimo
representavam 51,9% e até 2 salários mínimos 80,2%. Notamos que com o passar do tempo a
classe operário cresceu, mas os rendimentos da maioria dos trabalhadores permaneceram
entre 1 a 2 salários mínimos.

17
Gráfico 1: Fonte: IPECE. Síntese dos Indicadores Sociais (1992-2002/2003). Março /
2005

Gráfico 2: Fonte: IPECE. Síntese dos Indicadores Sociais (1992-2002/2003). Março /


2005

Comentários:
18
Essas duas últimas tabelas servem apenas para ilustrar o quadro social, geral, e
ainda preocupante em 2002. No final do recorte temporal. Levando em conta que todos os
planos de governo pretendiam resolver o problema da pobre e concentração de renda,
notamos que o século XX terminou com muito a se fazer e resolver. Esses gráficos fornecem
dados sobre a RMF onde se localiza Maracanaú.

JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DESSAS FONTES E COMO ELAS


AJUDARÃO NA PESQUISA:

As estatísticas oferecem dados sobre concentração de renda no Ceará, pobreza,


crescimento populacional, crescimento dos setores econômicos, crescimento da força de
trabalho por setores, informações sobre as rendas dos trabalhadores, sobretudo, da classe
operária que mais interessa nesta pesquisa. Tudo isso no tempo, assim podemos perceber as
mudanças e permanências. Essas fontes tratam-se de um suporte mínimo para e básico para se
compreender numa perspectiva global.

6- ENTREVISTAS COM OPERÁRIOS DE MARACANAÚ:

19
Vários são os operários que pode ser entrevistados. Por enquanto, temos apenas 3.
Abordamos na entrevista a história de vida desses trabalhadores. Abaixo, segue apenas alguns
trechos, de dois entrevistados, ambas as entrevistas realizadas em 2016:

1) Nome: Francisco de Assis Sampaio. Idade: 45. Data do nascimento: 29.9.1970.


Local do nascimento: Maranguape.

2) Nome: Antônio Fernandes Martins. Idade: 60. Data do nascimento: 17.03.1956.


Local do nascimento: Maranguape.

O foco da entrevista abaixo é o primeiro emprego nas fábricas de Maracanaú de


cada um dentro do recorte da pesquisa.

Transcrições parciais:

Entrevista 1: Operário Francisco: (chegou a Maracanaú em 1988 para morar com irmã que
tinha um mercadinho e em 15/10/1990 conseguiu o primeiro emprego. A entrevista abaixo se
refere ao primeiro emprego na industria de Maracanaú).

O seu salário como operador, ele era suficiente pra suprir as


necessidades da família, era justo?
“Era justo, até porque também eu tinha o meu controle. Graças a
Deus eu sempre tive o meu controle. Eu nunca reclamei, reclamo,
mas a gente reclamava porque ele nunca dava pra, não dava pra
luxar. A gente trabalhava só por sobrevivência. Mas pra luxar. Se
algum funcionário fizer uma entrevista com você e disser que salário
mínimo dar pra luxar ou deu a 10 ou 15 anos atrás, não, não dava.
Existia um controle, até porque as coisas eram mais em conta, ai
depois que veio o descontrole de inflação, subindo sem controle, é
claro que um salário mínimo não dar pra nada”. (Nota-se que a
inflação é recorrente na fala do entrevistado).

Então você classifica como justo e não dar pra luxar. E isso é justo?
“Não é justo, até porque eu acho que classe é uma classe. A classe
que ta acostumada com a humildade, não vai ligar pra luxo. O luxo
dele é ta tudo bem com o filho, é fazer um esforço pra que esse
salário dê pra comprar um vitamina pro filho, pra que dê pra comprar
uma roupinha pro filho, enfim, eu acho que o funcionário que é
considerado da classe pobre, ele trabalha porque precisa. Então, ele
tem que fazer o salário dele render de acordo com o custo de vida
dele...

20
Existia insegurança/dúvida quanto ao tempo de trabalho?2
“Essa segurança quem faz é o próprio funcionário. Se ele quer passar
muito tempo na empresa, a segurança é você não faltar nunca, se você
não faltar nunca você é bem visto. Se você é bem visto, existem
reuniões pra isso,- o entrevistado reproduz uma cena- ‘ah fulano, você,
ah Assis você quer crescer na empresa? Quero, quero crescer’. É tanto
que esse tipo de funcionário além de não faltar, ele ainda pede pra
fazer extra. Ou seja, ele quer crescer. Existe funcionário que comprou
casa trabalhando, eu sei que existiu isso. Outros que comprou terreno
e construiu. Já existiu outros que passou muito tempo, mas que nunca
teve nada, foi o meu caso, eu nunca consegui comprar nem uma
casa”.

Participou de algum movimento na época da Vicunha de 90 a 95?


“Quando eu entrei, se eu não me engano, foi em 93 ou acho que foi de
91 pra 92 que aconteceu um movimento sim, de greve e tinha um
carro lá fora, um carro do sindicato lá fora e um carro da empresa lá
dentro. Eu não cheguei a participar, até porque era o meu primeiro
trabalho. Eu queria fazer história e quando eu entrava a negada ficava
me chamando de covarde, enfim, babão, todos aqueles nomes de baixo
escalão que o funcionário chama um com o outro quando ele ta
entrando e não ta participando da greve. Eu dizia pra eles, - o
entrevistado reproduz a cena- ‘Rapaz, é o meu primeiro trabalho, eu
não posso fazer isso’ e eu entrava normalmente pra trabalhar. Foi um
escândalo meio cruel na época, tinha funcionário que chegou a
quebrar maquinário lá dentro, foi horrível, muito triste. Presenciei
muitos companheiros que saíram por justa causa na época porque esse
pessoal é descoberto todinho dentro da empresa, através de um
trabalho que ela faz sigiloso, e acaba chegando aos autores desse tipo
de evento que realizado dentro de empresa e eles acabam botando por
justa causa, ou seja, só quem perde é o funcionário”.

Entrevista 2: Operário Fernando. (O entrevistado mora em Maracanaú desde 1984. Mas seu
primeiro trabalho na fábrica da cidade foi em 1997. A entrevista abaixo se refere ao período
de 1997-2002)

Quais seriam as necessidades básicas que esse salário tinha de


cobrir?
“No caso. A necessidade básica só da casa. Eu não teria com esse
salário que eu inicie como operador. Se for só o salário né, porque a
hora extra e o adicional noturno você nunca deve contar como salário,
porque uma hora ele pode sair. Então só o salário mesmo cobria as
necessidades. Mas eu não teria, a não ser que eu juntasse uns dias, ter
um lazer né, porque era pouco e minha despesa sempre foi grande.
2
(Hobsbawm. Cidade, indústria e classe trabalhadora. In: Era do capital, p. 334-36: “Se um fator
dominava a vida dos trabalhadores no século XIX, esse fator era a insegurança”. “O nascimento de uma
criança, a velhice e a impossibilidade” da trabalhar poderia levar uma família a miséria. A questão busca
captar os tipos de insegurança ou mesmo o grau de incerteza sobre a garantia de trabalho).

21
Então, com esse meu primeiro salário de operador eu tinha dificuldade
se não fizesse hora extra. Por básico dava. Mas, digamos assim, se eu
quisesse fazer uma viagem pro interior, visitar minha família, só com
aquele salário, eu teria que cortar custos, ou seja, me privar de certas
coisas, pra poder conseguir uma viagem”.

Era justo o salário?


“Era. Porque é o seguinte...Ele era justo assim, aquele era o salário
que eu ganhava, mas se tornava injusto pra mim, porque eu, não só eu.
Você não pode julgar você, Eu não posso me elogiar, alguém ver o
meu trabalho e achar que eu merecia um salário mais digno pelo que
eu fazia, pela dedicação. Os meus companheiros reconhecia isso, mas
meus superiores não”.

Qual a importância das fabricas/indústrias?


(O entrevistado falou sobre a relação dual entre patrão e trabalhador)
“A fabrica é muito importante. Porque ela emprega. Nem o
empregado vive sem o empresário, nem o empresário vive sem o
empregado. É como um casamento. Embora não se unam, o
empresário e trabalhador geralmente eles não se unem, sempre olham
um pro outro atravessado. Dentro do empresariado há muita
hipocrisia, essa é a realidade. Mas na verdade nenhum vive sem o
outro. Então eu como trabalhador tenho bastante cuidado nas coisas
do empresário como se fosse minha, porque é dali que eu to tirando o
meu sustento”.

Comentários:

Com as perguntas adequadas, é possível obter informações riquíssimas com as


memórias desses trabalhadores. Informações sobre tudo em quanto: salários, greves, relações
com o sindicato, as relações com os patrões, o primeiro trabalho na fábrica, o significado do
trabalho, das indústrias, etc.

JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DESSA FONTE E COMO ELA


AJUDARÁ NA PESQUISA:

As entrevistas com os trabalhadores constitui fonte privilegiada para essa


pesquisa. As memórias dos trabalhadores trazem à tona as experiências de uma vida toda
dedicadas ao trabalho nas fábricas. Nosso foco é questionar é resgatar, registrar e analisar a
memórias dos trabalhadores a respeito dos salários: sobrevivência com o salário, as
campanhas de salários e suas participações ou não nas campanhas e greves, etc. Tudo isso,
permiti compreender a história dos trabalhadores, suas lutas por melhores rendas, na ótica do
operariado.

22
7- JORNAL SINDICAL: Voz do Metalúrgico- Jan.1992 a Dez. 2002

Esse jornal sindical foi coletado no Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de


Maracanaú. Vários documentos foram encontrados no acervo da entidade: fotografias e
vídeos com registros de solenidades; documentos sobre processos eleitorais, negociações
coletivas, acordos trabalhistas, atas e outros documentos jurídico-administrativos. Além,
claro, do jornal e os próprios sindicalistas e suas memórias. O jornal sindical foi fotografado
por mim com autorização do sindicato e, agora, constitui o meu acervo pessoal. O foco da
utilização do jornal nessa pesquisa é porque ele mostra a luta dos trabalhadores por melhores
rendas, sobretudo, as visões dos operários sobre sua condição salarial.

Outros periódicos poderão ser consultados, mas veremos essa possibilidade durante a
pesquisa. Encontrei um jornal sobre de Maracanaú, tem os periódicos dos patrões e tem outros
jornais sindicais. Outros jornais sindicais serão coletados esse ano, 2017, como o do Sindicato
do Trabalhadores têxteis de Maracanaú.

Local de consulta e coleta: Rua 13, Ν 10 – Conjunto Industrial – Maracanaú/CE. CEP:


61925.250.

Transcrições parciais/imagens:

Imagem 2: Ano I- Nº 2- Junho de 1992.

23
Imagem 3: Ano II- Nº4- Janeiro de 1993.

24
Imagem 4:

25
Imagem 5: Ano II- Nº 5- Março de 1993, página 1.

Comentários:

O jornal foi coletado de 1991 até 2002. São várias as edições. O jornal do
sindicato representa os trabalhadores e funciona como um meio de informar e denunciar os
problemas dos operários. Nas imagens acima observamos o recurso de imagens como forma
de chamar a atenção para o piso salarial e para que cada operário fique atento. São muitas
imagens no jornal, não só sobre salários, e elas merecem uma análise. Além de muita imagem,
tem muito texto. Tais textos expressão o pensamento do sindicato sobre a sociedade, sobre o
papel dos trabalhadores, sobre o desemprego, sobre os governos, sobre as políticas salariais e
tudo o quanto envolve a temática do trabalho e sociedade.

JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DESSA FONTE E COMO ELA


AJUDARÁ NA PESQUISA:

Notamos que através do jornal, o sindicato assume uma postura de não


passividade, pois se mobiliza e responde a tudo que afeta a vida do trabalhador e se posiciona

26
perante as ações, visões, do Estado e dos patrões. Além disso, o jornal fala muito sobre os
operários de Maracanaú: denúncia e registra as condições de trabalho e renda, e ao mesmo
tempo luta, negocia para mudar as situações injustas. Como o periódico trata de muitos
assuntos, para esta pesquisa focaremos nas informações sobre negociações e lutas por
melhores salários. Por isso e muito mais, está fonte é essencial para escrever a história, de
lutas, dos trabalhadores de Maracanaú.

27
8- LIVROS PRIMÁRIOS:

8.2- Francisco Jóse lima Matos, Sérgio V. Souza Alcântara, Wânia Cysne Dummar. Cenários
de uma política contemporânea. Fortaleza, Edições Fundação Demócrito Rocha, 1999.

Essa obra traz uma série de entrevistas com os industriais. São entrevistas feitas e
publicadas no ano de 1999. Selecionamos os que possuíram empresas no DIF, no recorte
temporal definindo:

1) Francisco de Assis Machado Neto (Dono da FIOTEX INDUSTRIAL S/A –


Maracanaú: fundada em 13/02/1985). (p. 227-231);

2) Francisco Antônio de Alcântara Macêdo (Foi presidente da AEDI (Associação


das empresas do Distrito Industrial. 1978-1993)). (p. 351-378);

3) Ednilton Gomes de Soárez (secretário da Fazenda no ultimo governo do Tasso).


(345-49).

4) Tasso Ribeiro Jereissati (governador do Ceará e possuía uma indústria do


Distrito Industrial de Maracanaú- FRUTOP: Produtora de Alimentos LTDA. Fundada em
01/01/1979. Tasso exercia a função de Diretor presidente).

Tal obra constitui acervo meu acervo pessoal.

Transcrições parciais:

- E a concentração de renda?
- Uma coisa decorre da outra, mas já menor. Hoje, a concentração de renda
em Fortaleza é menor; aqui e no interior do estado, são menores. Agora, é
lenta, e de novo volto ao mesmo chavão: depende da educação. Isso nós
levantamos todo ano, no Governo. A relação renda e anos de escolaridade é
a relação mais direta e explicita que existe: abaixo da linha de pobreza, 99%
de analfabetos; linha de pobreza, 80% de analfabetos, e vai subindo; tantos
anos de escolaridade, tantos anos... é linha direta, direta à proporção. Por
isso nós também estamos desenvolvendo em paralelo; temos de ganhar
tempo, nós temos que fazer infra-estrutura, temos que fazer alfabetização de
primeiro grau e educação profissional. Nós estamos com quarenta CVT’s
sendo montados ao mesmo tempo. Temos que fazer tudo e todas as coisas ao
mesmo tempo e para renda também; sem infraestrutura, sem educação básica
e sem ensino profissionalizante não tem de crescimento de renda.
- E aí resolveria o problema do desemprego?
- Ah, evidente. Resolver o problema do desemprego, nem a Alemanha
resolveu, mas a meta é minimizar o problemas do desemprego.
(Tasso: 1999: 169-170)

28
- Que políticas devem ser adotadas para o Brasil e o Ceará para o novo
milênio, principalmente, no que diz respeito à superação das desigualdades
sociais?
Precisamos de mudanças sérias, muito sérias, principalmente na área da
Educação, da Ciência e da tecnologia. Temos que ter coragem. Não basta
trazer para cá os braços e as pernas das indústrias porque a época da chaminé
passou [...] você vai mudar o social, se mudar a educação e incrementar o
conhecimento.
(Macêdo. 1999: 372-373).

- As políticas publicas desenvolvidas pelo governo do Estado nos últimos


doze anos mudaram o perfil sociopolítico e econômico do Ceará?
- Mudaram sim, talvez não tenham mudado nos parâmetros e nos níveis que
todos nós gostaríamos...
(Assis. 1999: 227).

Comentários:

Essas entrevistas trazem informações, as respostas dos empresários sobre algumas


questões que interessam a pesquisa: Trabalho, distribuição de rendas, etc. O mais importante,
é que nesse livro os industriais do Distrito de Maracanaú expõem suas visões sobre as causas
dos problemas sociais, desigualdades sociais, desemprego, etc., e apontam o que eles
entendem que seria a solução.

8.2- Instituto Euvaldo Lodi – CE. Avaliação da política Industrial do Ceará: uma
contribuição ao debate. Fortaleza: FIEC, 1983.

Tal texto é importante, pois representa a visão da classe patronal industrial sobre o
processo de industrialização e sobre vantagens de um estado com uma indústria forte. É
possível perceber uma preocupação com a geração de emprego, renda e, mesmo, miséria da
população. Logo, tal como nos planos de governo, os empresários demonstram nesse
documento uma sensibilidade aos problemas sociais e apontam a indústria como saída.

Transcrições parciais:

A opção pela indústria, adotada sem prejuízo do reconhecimento de que os


setores primário e terciário têm indispensáveis funções a cumprir, foi ditada
tanto pelas lições da história econômica, que colocam a expansão industrial
como fator básico na obtenção de índices mais rápidos de desenvolvimento,
como pela admissão da óbvia vulnerabilidade da economia agrícola cearense,
extremamente condicionada pela instabilidade do regime de chuvas e pobreza
dos solos ((FIEC-Instituto E. Lodi. 1983: 19).

29
Que Características a política industrial do Ceará deveria apresentar, quando
se propõe a mudar o quadro sócio-econômico do Estado? Ora, o ponto de
partida para assegurar eficiência a qualquer projeto de caráter sócio-
econômico é a compreensão das peculiaridades do agrupamento humano ou da
sociedade que se pretenda atingir. Nesse sentido, a dura realidade social do
Ceará deveria permear e influenciar profundamente os conceitos de política de
industrialização do Estado, que é costume considerar-se como extremamente
pobre e com poucas alternativas. Sabe-se, efetivamente, mesmo diante do
relativo esforço de desenvolvimento envidado nos últimos anos, o Estado do
Ceará apresenta quadro sócio-econômico dos mais graves. A estrutura
produtiva cearense continua evidenciando sinais de pouco dinamismo, cujas
causas fundamentais se encontram na rigidez de uma estrutura agrária
tradicional e retrógrada e no incipiente desempenho das atividades urbanas.
(FIEC-Instituto E. Lodi. 1983: 37).

Chega-se, aqui, ao ponto mais importante de todo o debate sobre a política de


industrialização cearense: a capacidade de geração de emprego das unidades
industriais que já surgiram e ainda surgirão, no bojo do III Pólo Industrial do
Nordeste. É o ponto em comum, identificado nos vários planos
governamentais que precederam o PLAMEG II, o reconhecimento da
imperiosa necessidade de criação de empregos no Estado, diante do grave
quadro de subemprego que se vem agravando ao longo dos anos, e do próprio
desemprego, igualmente preocupante (FIEC-Instituto E. Lodi. 1983: 50).

Nesse quadro, torna-se urgente reajusta, substancialmente, a política de


industrialização, tanto no país, como um todo, como no Ceará, em particular,
passando o problema de emprego a ser focalizado e tratado com prioridade
real e à base de metas estabelecidas com clareza. (FIEC-Instituto E. Lodi.
1983: 53).

O pleno êxito de m programa de desenvolvimento da indústria dependerá, com


certeza, da execução paralela de uma eficaz política agrária, bem como de
uma política de desenvolvimento de produção agrícola, capaz de suprir
alimento abundante e barato à população urbana e rural, prover matérias-
primas à indústria, reduzir ou racionalizar os fluxos migratórios do campo
para as cidades e ampliar mercados (FIEC-Instituto E. Lodi. 1983: 37).

Torna-se claro, portanto, que não se trata de estipular, simplesmente, que o


parque industrial de vê crescer, através da multiplicação das unidades
industriais. É imperioso que tais medidas sejam coadjuvadas por outras
tendentes a obter desempenho, da parte de outros setores relevantes,
compatível com as metas de industrialização (FIEC-Instituto E. Lodi. 1983:
37).

Comentários:

30
Levando em consideração os planos de governo, percebemos quanto o
pensamento do estado e sua política industrial reflete, é semelhante, a visão da iniciativa
privada, sobretudo, em relação ao almejado impacto social da industrialização na geração de
emprego, renda, equilíbrio econômico, redução das desigualdades e miséria. Observemos na
segunda citação o reconhecimento da pobreza pelo empresariado. No terceiro e quarto trechos
percebemos que na visão dos empresários o principal desafio das políticas industriais foi à
geração de empregos e preocupação da classe patronal com o subemprego e desemprego. No
quinto e sexto trecho notamos o reconhecimento dos empresários de que a industrialização
por si só não resolveria os problemas sociais do povo cearense.

JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DESSAS FONTES E COMO ELAS


AJUDARÃO NA PESQUISA:

Como vimos, são documentos que revelam o pensamento da classe patronal sobre
a industrialização, sobre o trambalho, sobre as rendas, e outros problemas sociais. Portanto,
são fontes que nos fornecem a visão dos industriais. Ora! A história da classe operária não
pode ser feita isolada. É preciso compreender as distinções entre patrões e operários
evidenciando e analisando as posições de ambos.

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