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Instituto Histérico e Geografico de Goids Revista do Instituto Historico e Geografico de Goias Goiania, 2010 Editora Kelps Copyright © 2010 by Instituto Histérico e Geogréfico de Goids Editora Kelps Rua 19 n* 100 — St. Marechal Rondon CEP 74,560-460 — Goiania — GO Fone: (62) 3211-1616 Fax: (62) 3211-1075 E-mail: kelps@kelps.com br homepage: wwwkelps.com br Comissio Técnica Carlos Augusto Tavares Diagramagdo e arte da capa Lena Castello Branco Ferreira de Freitas / Elizabeth Caldeira Brito Revisdo Dados Internacionais de Catalogagio na Publicacéo - CIP BIBLIOTECA MUNICIPAL MARIETTA TELLES MACHADO R349r Revista do Instituto Histérico e Geografico de Goids 7 Instituto Histérico e Geogréfico de Goi. n, 22 (2010) - Goiania : Kelps, 2010. 192 pil. 1 Historia - periédico. 2, Medicina - periédico. I Titulo 534/201 DU: 94(817.3)(05) DIREITOS RESERVADOS £ proibida a reprodugdo total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio, sem a autorizagao prévia e por escrito do autor, A violagao dos Direitos Autorais (Lei n° 9610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Cédigo Penal. Impresso no Brasil Printed in Brazil 2010 Sumario IM MEMORIAM Carlos Fernando Filgueiras de Magalhies - navegador da invengao Aidenor Aires Tia Babeeeee! (homenagem a Mary Yazigi) Haifa Yazigi DISCURSOS Discurso de recepcao na posse de sécios titulares e correspondentes... Ursulino Tavares Ledo Discurso na recep¢ao de novos sécios honoririos.. Ursulino Tavares Ledo Discurso para Ely Camargo ... Ursulino Tavares Leao Discurso de posse do sécio-titular Getulio Targino Lima.......31 I SIMPOSIO DE HISTORIOGRAFIA E SABER MEDICO O simbolismo do figado Heitor Rosa Sociabilidade moderna e politicas de satide (1920-1950) Noé Freire Sandes Joaquim de Almeida Leite de Moraes ~ 27° Presidente da Provincia de Goids (01.02.1881 A 09.12.1881)... Hélio Moreira Tortura e ética médica Nelson de Azevedo Paes Barreto Medicina e historiografia em Goiis . Lena Castello Branco Ferreira de Freitas Nascimento da medicina social e a doenga de Chagas .. Leandro Alves Martins de Menezes Patriménio cultural da satide em Goids: edificacdes e acervos... 115 Lena Castello Branco Ferreira de Freitas A importancia de se preservar os arquivos sobre a satide no Estado de Goia: Cristina de Cassia Pereira Moraes, Marta Rovery Souza; Rildo Bento de Souza e Lena C.B.F Freitas. TEMAS GERAIS Catereté ou catira: danga portuguesa... Humanismo panandino... Revista po InsttTuTo HisroRico # GroaRArico pe Goris ~ N° 22 A IMPORTANCIA DE SE PRESERVAR OS ARQUIVOS SOBRE A SAUDE NO ESTADO DE GOIAS Cristina de Cassia Pereira Moraes, Marta Rovery Souza; Rildo Bento de Souza e Lena C.B.F Freitas. modernizacio da sociedade nao atingiu ainda o trabalho do pesquisador no Brasil. Com raras excegdes, poucos so os arquivos organizados e o documento ainda é visto como um exemplar descartavel, se nao tiver pratica ou validade legal como instrumento de prova. Data de algumas décadas apenas a preocupacao das instituigdes com a salvaguarda de documentos, como condigao para a preservacao de sua meméria. Essa preocupacao tem possibilitado algumas experiéncias, como a criagao de centros de meméria ou laboratérios de pesquisas e/ou micleos de documentacio setorizados. Nessa tarefa, existem pessoas que procuram preservar acervos, encarando o documento como pega fundamental para a recuperagao de fatos, de modos de viver e de pensar - de histérias enfim - dos homens em uma determinada época e em um determinado lugar. Textuais, audiovisuais, cartogréficos ou iconograficos, os documentos constituem fatores de informagées unicas, que sio agrupadas, relacionadas e selecionadas pelo pesquisador, no seu trabalho de reconstrugao de realidades passadas. Nesse sentido, a historia sé se torna possivel pela existéncia de “tracos”, de Ee= no século XXI e parece que o sentido da 143 @ Revista Do Insrrruro Hist6Rtco & GroGRAPIco DE Goris - } “evidéncias’, ou documentos que, analisados 4 luz de determinados conceitos, possibilitam a construgao do conhecimento histérico. A preservagio de documentos é, assim, imprescindivel para a memoria e a histéria das sociedades. Eles possibilitam a recuperagao de identidades, quer de grupos, quer de individuos. Preservar nao significa apenas guardar, mas sim desenvolver uma atividade sistematizada de classificacao e descrigao que facilite a busca da informagao pelo usudrio. Ademais, memoria e histéria se completam. O historiador Jacques Le Goff afirma, em um de seus livros, que a “meméria é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos individuos e das sociedades de hoje.” Para nés, pesquisadores da Universidade Federal de Gois, participar de um projeto para inventariar acervos e resgatar informac6es sobre a satide insere-se, nesse movimento de busca constante da nossa identidade, como profissionais, e de luta pela recuperacao e preservacao de nossa meméria. Podemos observar que sé recentemente a_historiografia européia e a brasileira tém ampliado sua preocupacao com a satide. Os pesquisadores de histéria regional em Goids, comprometidos com a transformagao da sociedade, dao sinais de que ha muito a refletir e avangar, pois so poucos os trabalhos direcionados para o resgate da complexidade das multiplas experiéncias que compéem a tessitura da sociedade em estudos sobre a histéria da medicina e da satide. Esse debate e essa preocupacao devem significar mais do que um trabalho de inventario sobre uma documentagio histérica = sempre necessario, diga-se de passagem; é preciso reativar seus significados para ver a experiéncia histérica neles inscrita e, por esta via, identificar as possiveis linhas de forga que se projetaram para o presente. O que faz com que os pesquisadores/historiadores procurem cada vez mais compreender as diversas formas de atividades humanas em todas as suas manifestagdes e imbricagées, nas suas dinamicas contraditérias, buscando com isso novas tematicas. © 144 Revista Do InstrTuTo Hisrorico # GroaRArico pe Goris ~ N° 22 Dessa forma, acreditamos queamedida quenovos problemas sio colocados para os historiadores, emerge a constatagao de que a construgao da memoria se coloca como um campo de forcas. Na meméria, as relag6es de poder definem qual versao se quer preservar sobre as lutas que acontecem no social: a documenta¢ao preservada hoje podera, portanto, permitir multiplas construgées histéricas no futuro, 0 que certamente aumenta nossa responsabilidade de historiadores do presente. Partindo dessas preocupagées e da necessidade de insergao e engajamento nesse debate é que nos temos empenhado no projeto “Rede Brasil: Inventario Nacional do Patriménio Cultural da Sade: Edificag6es e Acervos” que inventaria, para recuperar e preservar, uma vasta documentagio produzida pelos diversos hospitais criados desde a antiga capital do Estado de Gois até a atual capital, Goiania. Nesse projeto, desenvolvido em convénio com a FIOCRUZ/ Casa de Oswaldo Cruz, dada a existéncia de poucos estudos e publicagoes sobre o tema, delimitamos os marcos espaciais da pesquisa, as instituigdes que preservaram sua documentagao, com informagdes relevantes sobre doentes, doengas e tratamentos; essa documentacao reveste-se de primordial importancia para os estudos da satide e da sociedade em que vivemos. Quanto a delimitacao cronoldgica, definimos trés etapas, a saber: Etapa I - 1727-1937. Da chegada dos bandeirantes e fundacao de Vila Boa de Goids (depois cidade de Goias) até a mudanga da capital para Goiania. Etapa II - 1937-1970. Da transferéncia da capital do Estado para Goiania (1937) até o inicio da década de 1970, quando a regiao vive os impactos da inauguracao de Brasilia e da criagao da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goias. Etapa III- a partir de 1970 - Estende-se aos dias atuais; Goiania converte-se em capital regional do Centro-Oeste e pdlo de assisténcia médico-hospitalar. Para o estudo do patriménio cultural da satide - edificagdes e acervos -privilegiamos as instituigdes — hospitais e congéneres - 145 @ Revista Do Insrrruro Hisr6Rtco & GroGRAPIco DE Gorks - } identificadas como relevantes, das quais se supunha fosse possivel conhecer o perfil e o papel que desempenharam no processo histérico.Para além disso, instituig6es médico-hospitalares e de formagao académica na rea da satide tém surgido em Goidnia, de forma acelerada; enquanto algumas se consolidam, outras rapidamente desaparecem, com a transitoriedade peculiar As regiGes de fronteira, onde 0 novo e o imprevisivel estao presentes a cada momento. Dada a contemporaneidade dos fatos e antevendo o legado histérico-cultural dessas instituig6es, concluimos ser esse momento de primordial importancia para pesquisé-las. Levando-se em consideragao tais premissas, as balizas temporais da pesquisa definiram-se entre 1826 - ano de criagdo do primeiro hospital da entao Provincia de Goids, Hospital de Caridade Sao Pedro de Alcantara na Cidade de Goias - e 1970, quando se conclui a primeira década pés-inauguracao da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goids e de Brasilia, marco do desenvolvimento do Centro-Oeste. Entendemos, outrossim, que os limites seriam flexibilizados no que diz respeito aos acervos arquivisticos, podendo recuar aos anos iniciais da ocupagao, no século XVIII, ou avangar até a década de 80 do século XX, para incluir a documentagao referente ao acidente com 0 césio radioativo, ocorrido em Goiania. No entanto, levando em consideracao o descaso governamental das ultimas décadas em relagdo ao patriménio cultural e a inexisténcia de uma politica publica de preservagao dos arquivos no Estado de Goids, pensamos ser oportuno e politicamente relevante discuti-la. Isso posto, poderiamos comegar com algumas indagagées: o que é de fato um acervo? Para que serve? Qual seria a melhor forma de torna-lo extensivo a sociedade? Ademais, é preciso desmistificar aquela idéia arraigada de que um acervo histérico é um lugar abarrotado de papéis velhos, com funcionarios zelosos e ranzinzas que atendem mal ao publico, com suas a¢ées voltadas, exclusivamente, para a conservacao daquilo que ja nao tem mais significado real para o hoje. e 146 Revista po InsttruTo Hisrorico # GroaRArico pe Goris ~ N° 22 Um acervo — conjunto de bens que integram um patriménio - antes de ser o lugar que protege o patriménio documental sob sua guarda, deve ser o lugar que fomenta, divulga e promove a pesquisa ea producao do conhecimento cientifico. E evidente que o acervo documental de um Centro de Documentagao é fundamental para que a andlise critica da realidade se efetive enquanto aco. Mais do que isso, porém, torna-se urgente uma atividade febril e constante que se entrecruze, no arrolar e organizar documentos e torna-los vivos e necessarios a explicitacao da realidade vivida. Estamos a propor, portanto, como uma forma de preservar os acervos sobre a satide em Goids, a existéncia de um Centro de Documentagao Digital e Informagao sobre a Satide. Essa proposta talvez seja vista como ato de desespero de um historiador “de papeis”; quem sabe, para alguns, este seja um tema desinteressante, uma questao distanciada do seu cotidiano mais imediato. Que tipo de documento interessa que esteja sob a guarda de um acervo digital?Responder a esta pergunta parece facil; na verdade, depois da revolugao provocada pela Escola dos Analles, na década de 1940 - que ampliou o leque de opgées dos pesquisadores relativamente aquilo que pode ser fundamental para a compreensao do objeto de pesquisa do historiador — as dificuldades so enormes. Se, antes, apenas os documentos oficiais eram fontes consideradas como vilidas; hoje nao podemos incidir em igual extremismo e aceitar todo e qualquer papel como documento. Se assim fizermos, ficaremos abarrotados ou sufocados por montanhas de documentos —o que, logicamente, nao seria razoavel cogitar. O que vai definir um Centro de Documentagao é, antes de tudo, a proposta de arquivar o que esta “por detras” dos documentos que compéem suas colegées, colocadas a disposi¢ao do publico. E, mais do que isso: depois de definido 0 publico ao qual vai servir 0 acervo, pressup6e-se que seja feita uma sele¢io dos documentos que sao imprescindiveis e necessdrios para a guarda.Assim, o proprio conceito de documento alarga-se para além do simples papel; podendo assumir formas miultiplas: a fotografia, os CDs e 147 @ Revista Do Insrrruro Hisr6Rtco & GroGRAPIco DE Gorks - } DVDs, as pegas arsenais fabricadas por grupos ou comunidades etnologicamente diferenciados das nossas e assim por diante. Nesse sentido, parece-nos claro a possibilidade da existéncia de acervos diversificados que possam abranger desde aqueles especificos e tradicionais, que preservam o “papel’, até aqueles que se utilizam de recentes multimidias. Sem querermos detalhar o respeito que um acervo deve merecer, seja ele de que tipo for, ou 0 principio de proveniéncia dos fundos ou colegdes que os compéem - que podem ser organizadas tecnicamente, de acordo com sua temitica, em séries — cremos ser de fundamental interesse apontarmos para a relevancia politica de um Centro de Documentagao Digital e Informagao sobre a Satide para a sociedade de hoje. Nossa sociedade atual nao pode prescindir dos inimeros recursos mididticos, posto que toda ago e reflexao sao volatizadas e, por isso, atomizadas frente ao novo. Nessa perspectiva, um acervo digital passa a ser o locus referencial dessa sociedade que precisa (re) conhecer-se nesse transformar-se tao fugaz. Se nao isso, sé lhe resta estar ai, no mero acontecer, como érfao do tempo, sem marcas, sem memiéria social, sem passado. E nessa lacuna aberta pela novidade, pelo moderno, que um Centro de Documental Digital se impde como referéncia e explicitagao da acao e relagao efetiva dos homens na histéria. Para além do resgate e da preservacao da documentagao “espalhada” pela regiao dos guayazes, acreditamos que a preservagao digital serviria para evitar que documentos de fundamental importancia como os do antigo Instituto Médico-Cirtirgico de Goiania, do Hospital Psiquiatrico Adauto Botelho, da Colénia Santa Marta, do Asilo Sao José, da Faculdade de Medicina, dentre outros, desaparecessem. Ademais, pretendemos criar 0 Centro de Documentagao Digital e Informagao sobre a Satide no Estado de Goids com o objetivo maior de se tornar um centro gerador de pesquisas, tendo como principio basico de sua existéncia, o resgate da documentagao dos hospitais publicos e particulares de nosso Estado que estao a e 148 Revista po Insttruro Hisrorico # GroaRArico pe Goris ~ N° 22 ser destruidos, conforme a tabela de temporalidade utilizada pelos mesmos, com descarte documental apés 30 anos. Nosso é projeto parte do sonho e do idealismo de um grupo de pesquisadores, docentes e discentes da Universidade Federal de Goids que participam do Projeto: Rede Brasil. Inventdrio Nacional do Patrimonio Cultural da Satide: Edificagées e Acervos. A partir da pesquisa realizada, preocupados com o resgate dos documentos, resolvemos propor a continuagao do projeto para, primeiramente, inventariarmos, catalogarmos e organizarmos a documentacao que ainda teima em existir, nos pordes e quartos de depésitos de nosocémios e clinicas e, também, discutir a relagao existente entre a preservacao arquivistica em midia digital, a umiversidade e a comunidade. Portanto, nosso objetivo, para além de um Inventario sobre a satide em nossas capitais — Goiania e Cidade de Goids - foi o de estabelecer intercambio de informagées referentes aos acervos, tendo em vista a formagao de rede cooperativa na drea do patriménio cultural e cientifico da satide, ao compartilhar a base de dados entre as instituicdes da Rede Brasil. 149 @

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